ARTIGO Cooperativismo e sua relevância socioeconômica “Cooperativismo é sinônimo de boa sociedade”. (Robert Shiller, prêmio Nobel de Economia/2013) RUMOS Dados extraídos do 1º censo cooperativo global, coordenado por Dave Grace & Associates/EUA, entre 2013 e 2014, e divulgado durante a 2ª Cúpula Mundial do Cooperativismo, em Quebec, Canadá, em 9 de outubro de 2014. * ÊNIO MEINEN Advogado, pós-graduado em direito e em gestão estratégica de pessoas. É diretor de operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob). Divulgação As organizações cooperativas são responsáveis por mais de 100 milhões de empregos ao redor do mundo (segundo a Aliança Cooperativa Internacional) e reúnem ativos da ordem de US$ 20 trilhões*. No Brasil, há aproximadamente 15 milhões de cooperados. As riquezas produzidas pelas 10 mil cooperativas em atividade, que empregam mais de 500 mil trabalhadores (sendo 361 mil apenas no sistema OCB), representam algo como 10% do PIB nacional. Seus produtos são exportados para uma centena e meia de países e, em 2015, geraram divisas superiores a US$ 5 bilhões anuais. No setor agropecuário, a economia cooperativa alcança praticamente 50% da produção do país, e na área da saúde suplementar, responde por mais de 30% de todos os planos de assistência médico-odontológica. No âmbito do mercado financeiro, as cooperativas já atuam na metade dos municípios brasileiros e sua rede de atendimento se expande aceleradamente. Esse segmento do cooperativismo assume quatro papéis importantes em seu mercado de atuação, a saber: - o primeiro deles é o de promover a inclusão bancária, levando produtos e serviços de natureza financeira às pessoas físicas e pequenos empreendedores desassistidos pelos agentes tradicionais. Cumpre essa função tanto pela presença em comunidades remotas onde não há agências bancárias (cerca de 10% das localidades brasileiras), como também pela oferta de um leque maior de serviços aos menos favorecidos economicamente, respeitando as suas características. Com isso, também contribui para a democratização do acesso ao crédito, a redução das diferenças sociais e a melhoria da autoestima da população mais humilde; - o segundo, fomentar o desenvolvimento local e regional, notadamente pela retenção e reinversão nas comunidades de origem dos recursos por elas gerados, promovendo, desse modo, um círculo socioeconômico virtuoso; - o terceiro, entregar para os donos/beneficiários um amplo e eclético portfólio de produtos e serviços financeiros, adaptados às suas necessidades, a preços justos – um dos alvos centrais das ações de educação financeira que vêm sendo promovidas pelo governo –, com atendimento diferenciado. As cooperativas devem ser “o” modelo de suitability para o mercado financeiro, orientando-se pela máxima “foco DO associado” (em substituição ao foco “NO cliente”); - por fim, como decorrência do cumprimento dos propósitos anteriores, agregar qualidade aos serviços do sistema financeiro nacional, influenciando positivamente os agentes bancários, sobretudo como balizador de preço e atendimento, trazendo, assim, benefícios para toda a sociedade. Complementarmente, em razão de sua especialidade no campo das finanças pessoais e de seu compromisso institucional, as instituições financeiras cooperativas, mais recentemente, vêm acentuando a dedicação às atividades de consultoria e educação financeira propriamente dita para os cooperados. Em suma, independentemente do semento, as cooperativas podem – e devem – continuar contribuindo de maneira relevante (melhor, inclusive, do que qualquer iniciativa organizacional) para a construção de um ecossistema mais justo, saudável e sustentável. Há de se reconhecer, contudo, que o protagonismo cooperativista pode ser bem maior, no Brasil e em todo o mundo. A sua repercussão encontra-se aquém do seu verdadeiro potencial, já que ainda prevalece, com larga hegemonia, o modelo empresarial baseado na exploração do capital e na transferência e concentração de renda. 37