UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL NO OLHAR DOS PAIS Marieli Piardi Piva IJUÍ/RS 2014 1 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL NO OLHAR DOS PAIS Marieli Piardi Piva Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Educação Física da UNIJUIuniversidade regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, requisito parcial para obtenção do titulo de licenciatura em Educação Física. Orientadora: Profª. Ms. Cléia Inês Rigon Dorneles Ijuí/RS 2014 2 Dedico este trabalho aos meus pais, por sempre estarem ao meu lado, me apoiando e acreditando nos meus sonhos. 3 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, pela força е coragem durante esta trajetória, não somente nestes anos como universitária, mas que em todos os momentos é o maior mestre que alguém pode ter. Aos meus pais o meu mais sincero agradecimento. Vocês são os responsáveis por este momento tão marcante em minha vida. Muito obrigada por todo amor, dedicação, compreensão, carinho, apoio e esforço que me fez mais forte, fazendo entender que sou capaz de ir mais além. A todos os professores do curso de Educação Física da UNIJUI que fizeram parte da minha trajetória acadêmica. Em especial à minha orientadora, Profa. Ms. Cléia Inês Rigon Dorneles, a quem agradeço a colaboração, paciência e atenção ao longo do desenvolvimento deste trabalho. A todos os meus colegas, por todo o aprendizado, convivência, diversão, que tanto auxiliou em meu amadurecimento. Em especial a Roberta, Cristiane, Marcele e o Rodrigo a onde morramos junto por esse tempo de faculdade. Aos pais do 3º ano, direção e professores da Escola Municipal de Ensino Fundamental João Munari, de Tupanci do Sul/RS, pela disponibilidade ao longo desta pesquisa. 4 RESUMO Historicamente a Educação Física vem sendo considerada como uma disciplina que serve como “passatempo”, onde os alunos tem a oportunidade de jogar e brincar. No entanto, é necessário romper com essa concepção, tendo em vista que esse componente curricular é muito importante no processo de desenvolvimento infantil, trabalhando além do movimento, questões relacionadas à corporeidade e à aprendizagem global. Partindo desse pressuposto, e dos problemas enfrentados pela Educação Física especialmente nos anos iniciais, este estudo busca discutir a importância desse componente curricular a partir do ponto de vista das famílias, pois são os pais que podem perceber as mudanças no desenvolvimento das crianças a partir da prática de atividades físicas coordenadas e orientadas na escola. Desse modo, o objetivo deste estudo foi verificar a percepção dos pais sobre a importância da Educação Física nas séries iniciais do ensino fundamental. A pesquisa caracterizou-se como de campo, do tipo estudo de caso, realizado a partir de pesquisa exploratória de natureza qualitativa. O contexto de estudo foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental João Munari, localizada no município de Tupanci do Sul/RS. A amostra foi representada pela totalidade de pais da turma do 3º ano do Ensino Fundamental, o que correspondeu a 17 pais. A coleta de dados foi realizada a partir da aplicação de um questionário de perguntas abertas, fechadas e de múltipla escolha. Os resultados apontaram que os pais tem conhecimento sobre a representatividade da Educação Física na vida dos filhos, considerando-a uma área importante no processo de aprendizagem global, uma vez que estimula o desenvolvimento de habilidades e saberes que influenciam outras áreas do conhecimento. Para os pais, a Educação Física nos anos iniciais colabora para a apropriação de competências corporais, auxiliando na socialização, na disciplina, na obediência às regras e no respeito, o que é, segundo eles, fundamental para as crianças pequenas. Ressalta-se que nem todos os pais tem conhecimento sobre a obrigatoriedade da Educação Física nos primeiros anos da escolarização, mas acreditam ser necessária a presença do professor de Educação Física na condução das aulas tendo em vista sua formação adequada para trabalhar o desenvolvimento motor, físico e cognitivo das crianças. Palavras-chaves: Educação Física. Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Família. Aprendizagem escolar. Desenvolvimento. 5 ABSTRACT Historically the Physical Education has been considered as a discipline that serves as "pastime", where the students have the opportunity to play and to play. However, it is necessary to break with that conception, tends in view that that component curricular is very important in the process of infantile development, working besides the movement, subjects related to the embodiment and to the global learning. Leaving of that presupposition, and of the problems faced by the Physical Education especially in the initial years, this study search to discuss the importance of that component curricular starting from the point of view of the families, because they are the parents that can notice the changes in the children's development starting from the practice of activities physical coordinates and guided at the school. This way, the objective of this study was to verify the parents' perception on the importance of the Physical Education in the initial series of the fundamental teaching. The research was characterized as of field, of the type case study, accomplished starting from exploratory research of qualitative nature. The study context was the Escola Municipal de Ensino Fundamental João Munari, located in the district of Tupanci do Sul/RS. the sample was represented by the parents' of the group of the 3rd year of the Fundamental Teaching totality, what corresponded to 17 parents. The collection of data was accomplished starting from the application of a questionnaire of questions open, closed and of multiple choice. The results pointed that the parents have knowledge on the representativeness of the Physical Education in the children's life, considering it an important area in the process of global learning, once it stimulates the development of abilities and you know that they influence other areas of the knowledge. For the parents, the Physical Education in the initial years collaborates for the appropriation of corporal competences, aiding in the socialization, in the discipline, in the obedience to the rules and in the respect, what is, according to them, fundamental for the small children. It is stood out that nor all of the parents have knowledge on the compulsory nature of the Physical Education in the first years of the education, but they believe to be necessary the teacher's of Physical Education presence in the transport of the classes tends in view appropriate formation to work the children's development motor, physical and cognitive. Keywords: Physical Education. Years Initial Fundamental Teaching. Family. School Learning. Development. 6 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Gênero ................................................................................................................. 37 Quadro 2 - Idade .................................................................................................................... 37 Quadro 3 - Estado civil .......................................................................................................... 37 Quadro 4 - Profissão do pai ................................................................................................... 38 Quadro 5 - Número de filhos ................................................................................................. 38 Quadro 6 - Número de filhos matriculados na escola ........................................................... 38 Quadro 7 - Escolaridade ........................................................................................................ 38 Quadro 8 - Acompanhamento da vida escolar do filho ......................................................... 39 Quadro 9 - Satisfação com relação à educação recebida pela escola .................................... 39 Quadro 10 - Nível de importância da escola na vida do filho ................................................. 39 Quadro 11 - Costume de ajudar os filhos nos trabalhos escolares .......................................... 40 Quadro 12 - Frequência em que auxilia filho nas atividades escolares ................................... 40 Quadro 13 - Nível de participação das atividades e eventos da escola ................................... 40 Quadro 14 - Avaliação da relação com a escola ...................................................................... 40 Quadro 15 - Percepção quanto a participação na vida escola do filho .................................... 40 Quadro 16 - Importância da Educação Física para a educação do filho.................................. 42 Quadro 17 - Benefícios que a Educação Física traz ao desenvolvimento infantil .................. 42 Quadro 18 - Percepção quanto a influência da Educação Física nas outras disciplinas .......... 43 Quadro 19 - Participação dos filhos nas aulas de Educação Física ......................................... 43 Quadro 20 - Nível de satisfação quanto às aulas de Educação Física ..................................... 43 Quadro 21 - Percepção sobre a contribuição da Educação Física na aprendizagem dos filhos .................................................................................................................... 43 Quadro 22 - Atividades que os filhos mais gostam nas aulas de Educação Física.................. 44 Quadro 23 - Percepção quanto ao espaço, estrutura e recursos da escola para as aulas de Educação Física ................................................................................................... 44 Quadro 24 - Atividades que os pais acham que devem ser desenvolvidas nas aulas de Educação Física ................................................................................................... 44 Quadro 25 - Conhecimento dos pais sobre a obrigatoriedade da Educação Física nos anos iniciais do Ensino Fundamental .......................................................................... 45 Quadro 26 - Percepção sobre atuação de professor de Educação Física nos anos iniciais...... 45 Quadro 27 - Aprendizagens mais importantes que a Educação Física pode ensinar às crianças ................................................................................................................ 45 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - O modelo de teia global ........................................................................................... 21 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9 1 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................... 11 1.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A INFÂNCIA .................................................................. 11 1.1.1 Recorte histórico da educação na infância ................................................................. 11 1.1.2 Recorte histórico do atendimento e proteção à infância ........................................... 12 1.1.3 Desenvolvimento da criança na fase escolar ............................................................... 14 1.2 EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR .................................................................................. 21 1.2.1 Metodologia e planejamento do ensino da Educação Física na escola ..................... 24 1.3 EDUCAÇÃO FÍSICA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL ..................................... 27 1.4 EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ANOS INICIAIS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS......... 30 2 METODOLOGIA DA PESQUISA ............................................................................. 34 2.1 TIPO DE PESQUISA ..................................................................................................... 34 2.2 UNIVERSO/POPULAÇÃO E AMOSTRA/SUJEITOS ................................................ 35 2.3 PROCEDIMENTOS DA COLETA DE DADOS........................................................... 35 2.4 INSTRUMENTO ............................................................................................................ 35 2.5 CUIDADOS ÉTICOS ..................................................................................................... 36 2.6 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE ............................................................................... 36 3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ....................................... 37 3.1 CATEGORIA I - DADOS PESSOAIS ........................................................................... 37 3.2 CATEGORIA II - PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA VIDA ESCOLAR DE SEUS FILHOS ........................................................................................................................... 39 3.3 CATEGORIA III - IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA VIDA ESCOLAR DE SEUS FILHOS .......................................................................................................... 42 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 50 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 52 ANEXOS ................................................................................................................................. 55 ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ........................ 56 ANEXO B – QUESTIONÁRIO AOS PAIS ............................................................................ 57 9 INTRODUÇÃO A Educação Física (EDF) é um componente curricular muito importante no processo de formação das crianças. Nesse sentido, torna-se relevante que escola e famílias lancem novos olhares e analisem a realidade da EDF como forma de ampliar seu papel no desenvolvimento infantil, garantindo uma educação de qualidade que alia a cultura corporal de movimento às demais competências e habilidades necessárias ao processo de aprendizagem. O aprender na EDF escolar está fundamentado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996, alterada pela Lei nº 12.796/2013), em seu artigo nº 26, § 3º, destaca a Educação Física como componente curricular da educação básica da seguinte forma: “A Educação Física integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da educação básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar sendo facultativa nos cursos noturnos”. No entanto, o que se observa nas escolas, principalmente na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, é que não é dado o devido espaço à Educação Física, bem como não se exige a presença de professor especialista da área, o que ocorre, geralmente, somente a partir do 3º ciclo (5ª/6ª séries). Historicamente a Educação Física vem sendo considerada como uma disciplina que serve como “passatempo”, onde os alunos tem a oportunidade de jogar e brincar. No entanto, é necessário romper com essa concepção, tendo em vista que esse componente curricular é muito importante no processo de desenvolvimento infantil, trabalhando além do movimento, questões relacionadas à corporeidade e à aprendizagem global. Partindo desse pressuposto, e dos problemas enfrentados pela Educação Física especialmente nos anos iniciais, este estudo busca discutir a importância desse componente curricular a partir do ponto de vista das famílias, pois são os pais que podem perceber as mudanças no desenvolvimento das crianças a partir da prática de atividades físicas coordenadas e orientadas na escola. Considerando que, desde os primeiros anos, a Educação Física deve estar presente no processo de ensino, trabalhando os aspectos corporais, cognitivos, afetivos e sociais da criança, por meio da construção de habilidades e competências diversificadas e que busquem 10 promover o desenvolvimento integral, acredita-se na necessidade de discutir a importância desse componente curricular e de como os pais observam os benefícios que essa prática traz às crianças. Com base nessa problematização, define-se como problema de pesquisa: Qual a percepção dos pais sobre a importância da Educação Física nas séries iniciais do ensino fundamental? Tendo em vista este problema de pesquisa, define-se como objetivo geral verificar a percepção dos pais sobre a importância da Educação Física nas séries iniciais do ensino fundamental. Os objetivos específicos são: descrever as características da Educação Física nos anos iniciais; ressaltar os benefícios da Educação Física para a criança; investigar junto aos pais sobre a representatividade da Educação Física para as crianças dos anos iniciais; destacar sobre a necessidade da prática da Educação Física nos anos iniciais. Justificamos a realização deste estudo, tendo em vista a representatividade da Educação Física na infância e pelo fato de que nos anos iniciais, mesmo não sendo obrigatório este componente curricular nem a presença do profissional de Educação Física, destaca-se como fundamental a vivência da Educação Física. Além disso, justifica-se pela necessidade de conhecer a opinião dos pais sobre a Educação Física nos anos iniciais, tendo em vista que eles percebem as necessidades das crianças com relação ao movimento e o quanto sua prática pode trazer benefícios para o dia-a-dia e desenvolvimento de seus filhos. Esta pesquisa está organizada em três capítulos. No primeiro capítulo apresenta-se a revisão da literatura, destacando o embasamento teórico do estudo, que inclui algumas considerações sobre infância e desenvolvimento infantil, conceitos e características da EDF escolar e da EDF nos anos iniciais do Ensino Fundamental. No segundo capítulo é definida a metodologia do estudo, destacando os procedimentos metodológicos utilizados para o desenvolvimento da pesquisa junto às famílias. No terceiro capítulo apresentam-se os resultados, fazendo-se a discussão dos mesmos a partir da confrontação com a teoria. Por fim, apresentam-se as considerações finais do estudo e as referências bibliográficas utilizadas para sua elaboração. 11 1 REVISÃO DA LITERATURA Neste capítulo apresenta-se a revisão da literatura, destacando o que os autores apresentam acerca de temáticas relevantes ao estudo, como infância, Educação Física escolar, desenvolvimento infantil, e Educação Física nos anos iniciais do Ensino Fundamental. 1.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A INFÂNCIA 1.1.1 Recorte histórico da educação na infância As discussões acerca da infância remontam ao início da civilização. De acordo com Pinheiro (2007), somente com a era moderna surgiu a ideia de infância como uma fase do desenvolvimento humano com características distintas. Nesse sentido, a educação para a infância também foi se transformando ao longo da história. Somente a partir da reinvenção da escola pela civilização europeia, é que a infância começou a ter importância (POSTMAN, 1999 apud PINHEIRO, 2007). Inicialmente a esse processo as crianças eram consideradas adultos em miniatura. No século XVII a burguesia passou a usar a palavra ‘infância’ no sentido moderno, sendo neste período que a criança ganhou espaço na família e maior preocupação com sua educação, distinguindo-as do mundo adulto (ARIÉS, 2006). Contudo, segundo Pinheiro (2007), somente no final do século XIX e início do XX, ocorre uma expansão de experiências pedagógicas inovadoras para a educação da infância. A criança começa de certa forma, a ganhar espaço na consciência social, buscando afastá-la de um meio social permissivo e degradante faziam parte de um projeto progressista ou civilizatório. Depois da Primeira Guerra Mundial, ocorreu um momento significativo de debates e discussões em torno do cuidado, preservação e preparação da infância; e após a Segunda Guerra Mundial, houve um movimento diferenciado de valorização e aumento do atendimento escolar à criança, que assumiu um caráter de assistência social devido à ênfase do trabalho da mulher (PINHEIRO, 2007). 12 1.1.2 Recorte histórico do atendimento e proteção à infância Da mesma forma que o processo educacional voltado para as crianças, o sistema de atendimento e proteção à infância foi evoluindo ao longo do tempo. Sobre isso cumpre destacar: Na sociedade medieval, que tomamos como ponto de partida, o sentimento de infância não existia – o que não quer dizer que as crianças fossem negligenciadas, abandonadas ou desprezadas. O sentimento de infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade do que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem. Essa consciência não existia. Por esta razão, assim que a criança tinha condições de viver sem a solicitude constante de sua mãe ou de sua ama, ela ingressava na sociedade dos adultos e não se distinguia mais destes [...] (ARIÉS, 2006, p. 99). Na perspectiva, de Ariès (2006), o primeiro sentimento da infância, caracterizado pela "paparicação" surgiu no meio familiar, na companhia de crianças pequenas. O segundo ao contrário, proveio de uma fonte externa da família, dos eclesiásticos, ou dos homens da lei, raros até o séc. XVI, preocupados com as disciplinas e as moralidades dos costumes. Esses moralistas haviam se tornado sensíveis ao fenômeno outrora negligenciado da infância, mas recusavam-se a considerar as crianças como brinquedos encantadores, pois viam nelas, frágeis criaturas de Deus que era preciso ao mesmo tempo, preservar e disciplinar. Esse sentimento, por sua vez, passou para a vida familiar. No século XVIII, encontra-se na família esses elementos antigos associados a um elemento novo: a preocupação com a higiene e a saúde física, não que esse cuidado fosse desconhecido, mas tratava-se apenas os doentes e não havia interesse pelo corpo dos que gozavam de boa saúde. Essas mudanças foram importantes sendo que a partir daí tudo o que se referia às crianças e à família tornara-se um assunto sério e digno de atenção. Foi assim que a infância assumiu um lugar central dentro da família (ARIÉS, 2006). O processo pelo qual a criança e o adolescente consagraram-se como sujeitos de direito foi longo, partindo da estrita esfera da propriedade privada para a esfera do Estado e do direito internacional, protegidos por conferências, convenções e tratados (BIDARRA; OLIVEIRA, 2008). No Brasil, a proteção da infância somente foi consolidada a partir da Constituição Federal de 1988. Simões (2009) salienta que no Brasil colonial e imperial, a proteção de crianças e adolescentes tinha caráter assistencialista ou de benesse, de sentido caridoso, 13 atribuída a entidades da igreja e irmandades. Entre os séculos XVI e XIX, as crianças negras escravas, ao chegar da África ou nascidas aqui, eram separadas de seus pais, ficando a cargo de outros negros ou trabalhavam no campo ou em outros ofícios. Em 1726 cria-se a primeira roda dos expostos (sistema das rodas), em Salvador, instalada nas casas de famílias abastadas, conventos, santas casas e instituições públicas para receber recém-nascidos abandonados sem identificação. Com o aumento do número de crianças abandonadas, principalmente negras e mulatas, a Lei do Ventre Livre (1871) passou a proteger os filhos de escravos. Contudo, o assistencialismo das elites começou a tornar-se cada vez mais precário, sendo que o processo de urbanização e industrialização se aliava a falta de políticas públicas para a infância (SIMÕES, 2009). Em 1924, a partir da proclamação da primeira Carta dos Direitos Universais da Criança, os Estados foram chamados a criar ou aperfeiçoar suas políticas públicas e responsabilidades pela assistência e proteção à infância necessitada. No Brasil, essa política expressou-se no Código Civil de 1916. Em 1927 começou a vigorar o Código de Menores que excluiu o sistema das rodas e criou instituições que admitissem os menores abandonados. Em 1964 foi criada a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM) e as Fundações Estaduais do Bem-Estar do Menor (FEBEMs) cuja pretensão era passar do modelo correcional-repressivo para um modelo assistencialista (SIMÕES, 2009). Contudo, apenas no final dos anos 1970, com o início do processo de democratização, iniciaram-se movimentos de reforma institucional em prol da concepção integral e universal da criança e do adolescente como sujeitos de direitos. Assim, a década de 1980 foi marcada por intensas transformações sociais e políticas, sendo o Brasil cenário de inúmeras discussões e movimentos democráticos que foram decisivos na elaboração de instrumentos legais que marcaram o rumo da nação. Vários setores da sociedade civil ligados à realidade vivenciada por crianças e adolescentes foram destaque na luta pela consolidação dos direitos dessa população, denunciando as falhas do sistema de intervenção do Estado que denominada as crianças e adolescentes de “menores” e buscaram a partir daí promover uma política baseada na esfera da garantia de direitos para esse segmento populacional (BIDARRA; OLIVEIRA, 2008). No que diz respeito aos direitos e a proteção das crianças e adolescentes, o art. 227 da Constituição de 1988 enfatiza: 14 Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. A partir dos preceitos constitucionais, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990), também surgiu com a finalidade de proteger a infância brasileira. O ECA institui os direitos fundamentais e as medidas preventivas, socioeducativas e protetivas que objetivam assegurá-los. Estabelece as linhas de ação da política de atendimento, como as políticas e programas sociais, serviços de prevenção, entidades de atendimento, medidas de proteção e organização pública (SIMÕES, 2009, p. 219). Segundo Pinheiro (2007), de acordo com a legislação brasileira, são consideradas “crianças”, as pessoas com até 12 anos incompletos; e a “infância” o período que vai desde o nascimento até aproximadamente o décimo-segundo ano da pessoa. As crianças que estão na faixa dos 3 aos 5 anos de idade, começam a desenvolver os aspectos básicos de independência e responsabilidade, e podem, provavelmente, estar próximas de iniciar sua vida escolar. Elas começam a aprender certos padrões de comportamento e gradualmente vão percebendo o que é permitido ou proibido fazer com os objetos e com as pessoas que estão ao seu redor. O período dos 5 aos 9 anos, é aquele em que o desenvolvimento psicológico da criança é mais destacado. Ela continua crescendo aos poucos fisicamente, mas, sobretudo, amadurece emocionalmente e mentalmente. Obrigatoriamente, a partir dos 6 ou 7 anos, elas devem ingressar na escola regular. A criança já tem consciência das regras básicas da sociedade; diminui a importância máxima, que ela, até então, tinha para com os pais e outros membros da família, e passa a dar maior ênfase aos amigos e professores. 1.1.3 Desenvolvimento da criança na fase escolar Buscando compreender as características do desenvolvimento infantil, destaca-se a concepção de quatro teóricos que retratam bem esse processo: Wallon, Piaget, Vygotsky e Corsaro. Segundo Galvão (2000), na visão de Wallon, a criança é essencialmente emocional e gradualmente vai constituindo-se em um ser sócio-cognitivo. O autor estudou a criança contextualizada, como uma realidade viva e total no conjunto de seus comportamentos, suas 15 condições de existência. Wallon argumenta que as trocas relacionais da criança com os outros são fundamentais para o desenvolvimento da pessoa. As crianças nascem imersas em um mundo cultural e simbólico, no qual ficarão envolvidas em um "sincretismo subjetivo", por pelo menos três anos. Durante esse período, de completa indiferenciação entre a criança e o ambiente humano, sua compreensão das coisas dependerá dos outros, que darão às suas ações e movimentos formato e expressão. Antes do surgimento da linguagem falada, as crianças comunicam-se e constituem-se como sujeitos com significado, através da ação e interpretação do meio entre humanos, construindo suas próprias emoções, que é seu primeiro sistema de comunicação expressiva. Estes processos comunicativos-expressivos acontecem em trocas sociais como a imitação. Imitando, a criança desdobra, lentamente, a nova capacidade que está a construir (pela participação do outro ela se diferenciará dos outros) formando sua subjetividade. Pela imitação, a criança expressa seus desejos de participar e se diferenciar dos outros constituindo-se em sujeito próprio (GALVÃO, 2000). Wallon propõe estágios de desenvolvimento, assim como Piaget, porém, ele não é adepto da ideia de que a criança cresce de maneira linear. O desenvolvimento humano tem momentos de crise, isto é, uma criança ou um adulto não são capazes de se desenvolver sem conflitos. A criança se desenvolve com seus conflitos internos e, para ele, cada estágio estabelece uma forma específica de interação com o outro, é um desenvolvimento conflituoso (FELIPE, 1998). No início do desenvolvimento existe uma preponderância do biológico e após o social adquire maior força. Assim como Vygotsky, Wallon acredita que o social é imprescindível. A cultura e a linguagem fornecem ao pensamento os elementos para evoluir, sofisticar. A parte cognitiva social é muito flexível, não existindo linearidade no desenvolvimento, sendo este descontínuo e, por isso, sofre crises, rupturas, conflitos, retrocessos, como um movimento que tende ao crescimento (GALVÃO, 2000). De acordo com Galvão (2000), no primeiro ano de vida, a criança interage com o meio regida pela afetividade, isto é, o estágio impulsivo-emocional, definido pela simbiose afetiva da criança em seu meio social. A criança começa a negociar, com seu mundo sócio-afetivo, os significados próprios, via expressões tônicas. As emoções intermediam sua relação com o mundo. 16 Do estágio sensório-motor ao projetivo (1 a 3 anos), predominam as atividades de investigação, exploração e conhecimento do mundo social e físico. No estágio sensóriomotor, permanece a subordinação a um sincretismo subjetivo (a lógica da criança ainda não está presente). Neste estágio predominam as relações cognitivas da criança com o meio. Wallon identifica o sincretismo como sendo a principal característica do pensamento infantil. Os fenômenos típicos do pensamento sincrético são: fabulação, contradição, tautologia e elisão (GALVÃO, 2000). Na gênese da representação, que emerge da imitação motora-gestual ou motricidade emocional, as ações da criança não mais precisarão ter origem na ação do outro, ela vai “desprender-se” do outro, podendo voltar-se para a imitação de cenas e acontecimentos, tornando-se habilitada à representação da realidade. Este salto qualitativo da passagem do ato imitativo concreto e a representação é chamado de simulacro. No simulacro, que é a imitação em ato, forma-se uma ponte entre formas concretas de significar e representar e níveis semióticos de representação. Essa é a forma pela qual a criança se desloca da inteligência prática ou das situações para a inteligência verbal ou representativa (GALVÃO, 2000). Dos 3 aos 6 anos, no estágio personalístico, aparece a imitação inteligente, a qual constrói os significados diferenciados que a criança dá para a própria ação. Nessa fase, a criança está voltada novamente para si própria. Para isso, a criança coloca-se em oposição ao outro num mecanismo de diferenciar-se. A criança, mediada pela fala e pelo domínio do “meu/minha”, faz com que as ideias atinjam o sentimento de propriedade das coisas. A tarefa central é o processo de formação da personalidade. Aos 6 anos a criança passa ao estágio categorial trazendo avanços na inteligência. No estágio da adolescência, a criança volta-se a questões pessoais, morais, predominando a afetividade. É nesse estágio que se intensifica a realização das diferenciações necessárias à redução do sincretismo do pensamento. Esta redução do sincretismo e o estabelecimento da função categorial dependem do meio cultural no qual está inserida a criança (GALVÃO, 2000). Por fim, Felipe (1998) destaca o estágio categorial (6 anos) que segundo Wallon é onde a criança dirige seu interesse para o conhecimento e conquista do mundo exterior, em função do progresso intelectual que conseguiu conquistar até então. Desta forma, ela imprime às suas relações com o meio uma maior visibilidade do aspecto cognitivo. De acordo com Felipe (1998), Wallon propôs o estudo integrado do desenvolvimento infantil, contemplando os aspectos da afetividade, motricidade e inteligência. Para ele o desenvolvimento da inteligência depende das experiências oferecidas pelo meio e do grau de 17 apropriação que o sujeito faz delas. Nesse sentido, os aspectos físicos do espaço, as pessoas próximas, a linguagem, bem como os conhecimentos presentes na cultura contribuem efetivamente para formar o contexto de desenvolvimento. Para Piaget o comportamento do ser humano não é inato, nem resultado de condicionamentos. Para ele o comportamento é construído numa interação entre o meio e o indivíduo. Conforme a teoria piagetiana o desenvolvimento se dá a partir da maturação, experiência, transmissão social e equilibração. Piaget distingue aprendizagem de maturação, destacando que a maturação é baseada exclusivamente em processos fisiológicos e distingue aprendizagem de conhecimento, pois, para ele, o conhecimento se define pela soma de coordenações que, tendo passado por um lento processo de desenvolvimento, encontram-se disponíveis para o organismo em determinado estágio. Já o conceito de aprendizagem, em sentido estrito, está diretamente vinculado às aquisições que decorrem fundamentalmente, das contribuições provenientes do meio externo. Desta forma, Piaget diferencia, também, a aprendizagem do processo de equilibração que regula o desenvolvimento dos esquemas operativos de acordo com as contribuições internas ao organismo. Toda a aprendizagem pressupõe a utilização de mecanismos não aprendidos, ou seja, pressupõe a utilização de um sistema lógico (ou pré-lógico) capaz de organização as novas informações. Este sistema encontra-se, justamente, no terreno da equilibração (PALANGANA, 1994, p. 69). Por isso, aprendizagem e desenvolvimento são processos resultantes da formação contínua de esquemas, adaptações e organizações. O desenvolvimento da inteligência se dá a partir do modo como a criança pensa e vê o mundo e como ela pensa sobre sua ação sobre o mundo. Ele não é linear, mas sim por saltos, por rupturas e os estágios representam uma lógica da inteligência que será superada radicalmente por um estágio superior apresentando outra lógica do conhecimento (PALANGANA, 1994). Resumindo os estágios do desenvolvimento de Piaget, cumpre destacar: A primeira fase era a da função semiótica (cerca de 1 ½ a 2 anos) que, com a subjetivação da imitação em imagens e a aquisição da linguagem, permite a condensação das ações sucessivas em representações simultâneas. A segunda grande fase é a do início das operações concretas que, ao coordenar as antecipações e as retroações, chegam a uma reversibilidade suscetível de traçar retrospectivamente o curso do tempo e garantir a conservação dos pontos de partida. Mas se se pode, neste particular, falar-se já de uma mobilidade conquistada sobre a duração, ela permanece ligada a ações e manipulações que em si são sucessivas, pois que se trata de fato de operações que continuam concretas, isto é, que recaem sobre objetos e as transformações reais. As operações formais assinalam, por outro lado, uma terceira etapa em que o conhecimento ultrapassa o próprio real para inserir-se no possível e para relacionar diretamente o possível ao necessário sem a mediação indispensável do concreto (PIAGET, 1973, p. 47-48). 18 Esses estágios evidenciam o trabalho de Piaget em identificar como se forma e evolui o desenvolvimento humano. São aspectos muito importantes para que se conheça melhor como é o processo de transformação de nossas estruturas e como ocorre a aquisição do conhecimento e da aprendizagem. Piaget (1987) destaca que nos primeiros meses de vida há a tendência para a repetição de comportamentos e para a utilização de objetos externos, em vista dessa repetição. Após, o sujeito evolui para a fase das reações circulares secundárias e só por volta dos nove meses, Piaget considera que iniciam-se as ações inteligentes, sendo a inteligência definida como a busca intencional de meios para atingir um fim. Nos estágios mais avançados a inteligência vai evoluindo de acordo com o desenvolvimento cognitivo que se torna formal a partir da adolescência. Na concepção de Vygotsky o funcionamento psicológico estrutura-se a partir das relações sociais estabelecidas entre o indivíduo e o mundo exterior. Tais relações ocorrem dentro de um contexto histórico e social, onde a cultura desempenha um papel fundamental, fornecendo ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade (FELIPE, 1998). Percebe-se que para Vygotsky, a principal característica do desenvolvimento cognitivo resulta da interação entre a criança e as pessoas com quem mantém contato regulares. É por isso que ele estabelece uma relação estreita entre o jogo e a aprendizagem, atribuindo-lhe uma grande importância. “O desenvolvimento está intimamente relacionado ao contexto sóciocultural em que a pessoa se insere e se processa de forma dinâmica (e dialética) através de rupturas e desequilíbrios provocadores de contínuas reorganizações por parte do indivíduo.” (REGO, 2000, p.58). O desenvolvimento do ser humano está baseado no aprendizado que, para Vygotsky, sempre envolve interferência, direta ou indireta, de outros indivíduos e a reconstrução pessoal da experiência e dos significados. Ele dedicou-se a estudar as chamadas funções psicológicas superiores ou processos mentais superiores, isto é, aquelas funções mentais mais complexas, típicas do ser humano, que envolvem o controle consciente do comportamento, como percepção, atenção e memória, que não estão presentes no ser humano desde o seu nascimento (as outras funções psíquicas elementares são aquelas que representam os mecanismos mentais mais simples como as ações reflexas, as reações automáticas ou os processos de associação simples) (REGO, 2000). 19 Um dos conceitos de Vygotsky é o conceito de mediação. Ele substitui a idéia do simples estímulo-resposta, como proposta de aprendizagem, pela idéia de um ato mais complexo, o ato mediado. A mediação seria um processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação, ou seja, a relação deixa de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento. A mediação se caracteriza como a relação de homem com o mundo e com outros homens, é de fundamental importância justamente porque é através deste processo que as funções psicológicas superiores, especificamente humanas, se desenvolvem. Para Vygotsky há dois elementos básicos responsáveis por essa mediação: o instrumento, que tem a função de regular as ações sobre os objetos e o signo, que regula as ações sobre o psiquismo das pessoas. (REGO, 2000, p. 50). O entendimento desse elemento mediador na relação organismo-meio vem provar que a relação mais importante do homem com o mundo não é a relação direta e sim a relação mediada. E são as funções psicológicas superiores que organizam essa relação entre o homem e o mundo real, através dos mediadores chamados instrumentos e signos. Convém lembrar também que o principal conceito da teoria de Vygotsky é o de Zona de Desenvolvimento Proximal, que ele define como a diferença entre o desenvolvimento atual da criança e o nível que atinge quando resolve problemas com auxílio, o que leva à conseqüência de que as crianças podem fazer mais do que conseguiriam fazer por si sós. Sobre isso, Felipe (1998) ressalta que Vygotsky observa que a criança apresenta em seu processo de desenvolvimento um nível que ele chamou de real e outro potencial. O nível de desenvolvimento real refere-se a etapas já alcançadas pela criança, isto é, a coisas que ela já consegue fazer sozinha, sem a ajuda de outras pessoas. Já o nível de desenvolvimento potencial diz respeito à capacidade de desempenhar tarefas com a ajuda de outros. Há atividades que a criança não é capaz de realizar sozinha, mas poderá conseguir caso alguém lhe dê explicações. Assim a zona de desenvolvimento proximal consiste na distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial. Além disso, é fundamental destacar que na concepção de Vygotsky (1998) o uso da linguagem como instrumento de pensamento supõe um processo de internalização da linguagem, que ocorre de forma gradual, completando-se em fases mais avançadas da aquisição da linguagem. Para ele, primeiro a criança utiliza a fala socializada, para se comunicar. Só mais tarde é que passará a usá-la como instrumento de pensamento, com a função de adaptação social. 20 Conforme ressalta Rego (2000, p.59) as características humanas proporcionam a concepção do desenvolvimento como processo. “O desenvolvimento está intimamente relacionado ao contexto sócio-cultural em que a pessoa se insere e se processa de forma dinâmica (e dialética) através de rupturas e desequilíbrios provocados de contínuas reorganizações por parte do indivíduo.” Contrapondo-se a todas essas teorias, Corsaro (2011) destaca que muitas teorias de desenvolvimento infantil concentram-se na criança isolada. Essas teorias adotam uma visão linear do processo de desenvolvimento. Na visão linear, supõe-se que a criança deva passar por um período preparatório na infância antes de poder evoluir para um adulto socialmente competente. Nessa perspectiva, o período da infância consiste em um conjunto de estágios de desenvolvimento em que habilidades cognitivas, emoções e conhecimentos são adquiridos na preparação para a vida adulta. A maioria dessas teorias era baseada em visões deriva das de uma concepção comportamentalista do desenvolvimento infantil que têm sido severamente contestadas pela ascensão do construtivismo contemporâneo na psicologia do desenvolvimento. Representado pela teoria cognitiva de desenvolvimento de Piaget e pela abordagem sociocultural de Vygotsky, o construtivismo destaca o papel ativo da criança em seu desenvolvimento e sua eventual participação no mundo adulto. Embora as teorias construtivistas do desenvolvimento humano individual forneçam à sociologia uma lente para reorientar as imagens de crianças como agentes ativos, essas teorias até recentemente focalizaram principalmente o desenvolvimento de resultados, e falharam na consideração da complexidade da estrutura social e das atividades coletivas das crianças (CORSARO, 2011, p. 40). Corsaro (2011) apresenta o modelo de teia global que destaca a noção de reprodução interpretativa abrangendo as características produtivas e reprodutivas da criança ao longo do seu desenvolvimento. A chave é utilizar um modelo que inclui a reprodução interpretativa como uma espiral em que as crianças produzem e participam de uma série de culturas de pares incorporadas. O modelo da teia (Figura 1) apresenta os braços ou raios do modelo representam uma faixa de locais ou campos que compõem diversas instituições sociais (familiares, econômicas, culturais, educacionais, políticas, ocupacionais, comunitárias e religiosas). Os campos ilustram os diversos locais em que o comportamento ou interação institucional ocorre. Por exemplo, a interação familiar acontece em uma ampla variedade de locais reais, como a casa, o carro da família, parques de bairro e reuniões subsequentes da família, como casamentos, funerais e assim por diante, enquanto atividades educativas se dão em salas de aula, bibliotecas, ginásios, salas de prática de música e muitos outros locais. É 21 importante observar que esses campos institucionais (os raios da teia) existem como estruturas estáveis, mas em mudança, nas quais as crianças tecerão suas teias. Informações culturais fluem para todas as partes da teia ao longo desses raios. Figura 1 - O modelo de teia global Fonte: Corsaro (2011, p. 38) 1.2 EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR A Educação Física é um componente curricular importante e que na escola, assume um lugar de destaque por trabalhar com o corpo, o movimento, a cultura e a expressão do indivíduo numa perspectiva de grupo e de contexto social (ETCHEPARE et al, 2003). Pensar a presença da Educação Física na escola pressupõe a compreensão de que ela é construída na e, ao mesmo tempo, construtora da cultura escolar. Isso exige que seus professores estejam plenamente envolvidos com o projeto pedagógico da escola em que atuam, sensíveis ao diálogo crítico com a realidade social e com as crianças, com suas necessidades e seus interesses, e sempre atentos à dimensão cultural das práticas corporais de movimento (DEBORTOLI et al, 2002, p. 94). 22 Com base nessa consideração evidencia-se que a Educação Física precisa estar relacionada à realidade escolar, fazendo parte do cotidiano e da pratica pedagógica, como forma de auxiliar os alunos a perceberem-se como sujeitos que se movimentam, que possuem uma cultura corporal e que vivem em sociedade. Por isso, ao trabalhar com o corpo e o movimento, a Educação Física contribui para a promoção da cultura corporal, ao mesmo tempo em que interage com a dimensão cognitiva do indivíduo. Sobre isso, é importante observar o que diz Gonçalves (1994, p. 176): A Educação Física, lidando com a corporeidade e movimento, não tem diante de si um corpo simplesmente biológico, que seria um instrumento da alma, nem apenas um feixe de reações a estímulos externos ou internos, mas a exterioridade visível de uma unidade que se esconde e se revela no gesto e nas palavras. Conceber a corporeidade integrada na unidade do homem significa resgatar o sentido do sensível e do corpóreo na vida humana. A práxis humana se efetiva porque o homem é um ser corpóreo, que possui necessidades materiais e espirituais. Sua relação com o mundo não é simplesmente a relação de uma consciência que pensa o mundo, sem deixar-se tocar, mas é a relação de um ser engajado no mundo – que tem emoções, que ama, que odeia, que tem fome, que tem dor, que vive a solidão, a amizade, o desprezo etc., enfim, um ser que sente (GONÇALVES, 1994, p. 176). Dessa forma, a Educação Física, com o compromisso de dar um lugar ao corpo-sujeito na aprendizagem, tem como pretensão auxiliar no desenvolvimento integral, discutindo e mudando a ideia dos corpos rígidos e fixos para a noção de corpos intelectualizados que acumulam conhecimentos. Além disso, representa em si a relação entre o lúdico e o corporal em um processo ativo e criativo do movimento, que se constrói com decisão e intencionalidade (SILVA; GUIMARÃES, 2002). A partir dessa característica cumpre compreender o objetivo da Educação Física na escola, salientando que: A Educação Física enquanto componente curricular da Educação básica deve assumir então uma outra tarefa: introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir do jogo, do esporte, das atividades rítmicas e dança, das ginásticas e práticas de aptidão física, em benefício da qualidade da vida. [...] Para isso, não basta aprender habilidades motoras e desenvolver capacidades físicas, aprendizagem esta necessária, mas não suficiente. Se o aluno aprende os fundamentos técnicos e táticos de um esporte coletivo, precisa também aprender a organizar-se socialmente para praticá-lo, precisa compreender as regras como um elemento que torna o jogo possível (portanto é preciso também que aprenda a interpretar e aplicar as regras por si próprio), aprender a respeitar o adversário como um companheiro e não um inimigo, pois sem ele não há competição esportiva. É tarefa da Educação Física preparar o aluno para ser um praticante lúcido e ativo, que incorpore o esporte e os demais componentes da cultura corporal em sua vida, para deles tirar o melhor proveito possível (BETTI; ZULIANI, 2002, p. 75). 23 Observa-se que a Educação Física escolar tem a finalidade de contribuir para o desenvolvimento integral, aliando a cultura corporal de movimento, as habilidades motoras, o esporte, o lúdico e a convivência e respeito mútuos. “A Educação Física é a prática pedagógica que tem tematizado elementos da esfera da cultura corporal/movimento” (BRACHT, 1997, p. 35). Assim, tendo em vista os objetivos e a importância da Educação Física, acredita-se que ela caracteriza-se como uma área do conhecimento fundamental desde os primeiros anos por envolver a educação pelo movimento, relacionando corpo e mente. Salienta-se que a Educação Física “deve desenvolver a consciência da importância do movimento humano, suas causas e objetivos, e criar condições para que o aluno possa vivenciar o movimento de diferentes formas, tendo cada uma um significado e uma relação com seu cotidiano” (ETCHEPARE et al, 2003, p. 60). Conforme Mattos e Neira (1999, p. 21), a educação pelo movimento “visa conjugar os fenômenos motores, intelectuais e afetivos, garantindo ao homem melhores possibilidades na aquisição instrumental e cognitiva, bem como, na formação de sua personalidade”. Já João Batista Freire (1997, p. 47) salienta que “na educação pelo movimento, o movimento é um instrumento facilitador da aprendizagem de conteúdos ligados ao aspecto cognitivo”. Ele é um meio de aquisição e desenvolvimento de objetivos educacionais de ensino, como psicomotricidade, cognição e afetividade, por exemplo. Diante dessa consideração fica a certeza de que a Educação Física não pode ser pensada de maneira isolada, nem seus alunos e professores tratados à margem do processo educativo que organiza os sentidos e significados socioculturais da instituição escolar. Ao contrário, é necessário refletir que a Educação Física pressupõe pensar a escola como instituição historicamente situada e que vive hoje um rico e tenso processo de ressignificação de sua função política e social (DEBORTOLI et al, 2002). Além disso, a Educação Física na escola não pode ser considerada apenas um passatempo para os alunos, argumentando que esse componente curricular atua diretamente no tempo de lazer para que as crianças liberem energia depois de tantas horas de imobilidade da sala de aula (DEVIDE, 2008). Importante considerar que atualmente há uma ênfase na imobilidade infantil dentro e fora da escola, sendo que esta deve ser uma preocupação, pois torna as crianças cada vez mais incompetentes do ponto de vista motor, num período em que a ação corporal deveria 24 predominar sobre a ação mental e a criança deveria ser uma especialista em brinquedo e movimento. Assim, torna-se importante dar maior significado às experiências motoras que a criança constrói na escola, as quais auxiliarão nas aquisições cognitivas e sociais e ampliarão a aprendizagem das diversas áreas do conhecimento (DEVIDE, 2008). Com base nessa importância, destaca-se a necessidade de discutir algumas características da metodologia e do planejamento do ensino da Educação Física, com a finalidade de compreender os pressupostos que permeiam a prática pedagógica e constroem esse componente curricular no ambiente escolar. 1.2.1 Metodologia e planejamento do ensino da Educação Física na escola A metodologia de trabalho é uma dimensão especial no contexto de qualquer atividade pedagógica. Para Kunz (1998), a transformação do agir pedagógico na Educação Física escolar torna-se necessária quando a intenção é propor mudanças. Percebe-se que, a cada dia, a Educação Física tem se tornado uma disciplina técnica, exigindo performances físicas, utilizando, como objetivos, as concepções do esporte competitivo de alto nível. A ênfase no esporte não permite a existência das várias funções do movimento, entre elas as funções comunicativas e expressivas, que auxiliam no processo ensino-aprendizagem da criança. As regras do esporte institucionalizado, dentro das aulas, adaptam os indivíduos, ou seja, os alunos e professores são submetidos ao sistema de ambição de rendimento esportivo, onde não aparecem oportunidades para uma reflexão crítica das ações da aula. (HILDEBRANDT-STRAMANN (2003). Dentre as concepções metodológicas para as aulas de Educação Física, pode-se destacar a concepção crítico-emancipatória e a concepção das aulas abertas, esta última bastante interessante, com foco à participação do aluno no planejamento e execução das atividades didático-pedagógicas e dos projetos interdisciplinares. Segundo Kunz (1998), a concepção de aulas abertas em Educação Física considera a possibilidade de co-decisão nos níveis de planejamento, objetivos, conteúdos e formas de transmissão e comunicação no ensino. Os participantes da aula possuem imagens e dão suas dimensões de sentido para as coisas que ali acontecem e vão acontecer. Esse sentido tem origem nas experiências e vivências do cotidiano. É importante saber a dimensão de sentido que cada indivíduo dá às coisas, quando se quer entender um problema e resolvê-lo. Mas o 25 que tem acontecido na Educação Física é um excesso de tecnicismo nos conteúdos, o qual não permite vir à tona o conjunto de significados que os alunos têm sobre as ações e os temas da aula. Isso tem acontecido porque, para o professor, é cômodo entender o quadro mental dos alunos quando estes são submetidos a um referencial conhecido que é o esporte competitivo de alto nível. O esporte possui regras, normas e ações predeterminadas, que decidem sobre o andamento da aula de Educação Física escolar. Destaca ainda Kunz (1998), que nas aulas abertas de Educação Física, planejar significa pensar, refletir e analisar o conceito de movimento no esporte e do mundo do movimento. Planejar nessa concepção, obedece o princípio da flexibilidade, com possibilidades de vários caminhos e experiências. Com a ideia diretriz de educação para a capacidade de ação, a aula de Educação Física se configura como um sistema de ação aberto. O professor abdica de um planejamento rígido e do monopólio das decisões, oferecendo um espaço para as ações e decisões. Os alunos têm oportunidades de trazer para a aula, imaginações, ideias e interesses, em relação a movimento, jogos, esporte e brincadeiras, participando do planejamento e da construção da aula. Hildebrandt-Stramann (2003) destaca algumas metodologias de ensino para as aulas de Educação Física que merecem ser analisadas. Dentre essas metodologias destaque para as aulas orientadas no professor, onde ele é o centro da configuração da aula e as aulas orientadas no aluno, onde o professor abandona seu monopólio sobre o planejamento e a decisão e oferece aos alunos espaços de ação e decisão. Há também as aulas orientadas no produto, ou seja, dirigida para um melhoramento do movimento técnico, das capacidades táticas e do nível da capacidade específico-esportivo. Já as aulas orientadas nas metas definidas é construída para conseguir objetivos de aprendizagem bem definidos, que são formulados como atitudes motoras que os alunos devem realizar. Hildebrandt-Stramann (2003) salienta também a metodologia que envolve a orientação no processo. Nessas aulas o andamento das ações está no centro do interesse didático, tratando-se das diversas maneiras para aprender e fazer esporte, das possibilidades diversas para resolver problemas motores e sociais dos alunos e do professor e, com isso, da ação autônoma e social dos alunos. Por sua vez, as aulas orientadas nos problemas tem origem numa situação problemática, levando os alunos a criar, experimentar e avaliar conjuntamente e com a ajuda do professor as várias possibilidades de solução. As aulas orientadas na intenção racionalista são aquelas que envolvem o planejamento, organização e orientação rigorosa das ações, tendo um objetivo definido, tanto no âmbito motor quanto tático e físico. 26 Por fim, as aulas orientadas na comunicação são aquelas que tem um interesse didático na comunicação entre os alunos e o professor, sobre o sentido do esporte, e, ao mesmo tempo, sobre os objetivos, conteúdos e formas da aula. A partir dessa metodologia, o mais importante é a interação de alunos e professor. Ao analisar qual concepção de aula de Educação Física deve fazer parte do cotidiano da escola e do compromisso do professor. Pode-se dar à essa disciplina um espaço mais amplo no contexto escolar, tendo em vista que muitas vezes esse componente curricular é visto como pouco importante, que serve apenas para que os alunos brinquem e se movimentem, sem nenhum fim pedagógico, o que é um grande equívoco. Para superar essa condição, além da reflexão e escolha da proposta metodológica para o ensino da Educação Física, é fundamental planejar o processo de ensino. Conforme Mattos e Neira (1999) planejar é preparar bem a ação, acompanhando-a para confirmar ou corrigir o decidido; é estruturar uma linha de ação. Portanto, as ações planejadas devem ser contínuas, precisam ser revistas e novamente planejadas. As fases do planejamento são a preparação do plano (antes da ação) – estudo, preparo e análise; o acompanhamento da ação (durante a ação) – verificação das ações; e a revisão crítica dos resultados (depois da ação) – análise das decisões tomadas. Essas são necessárias em todas as fases do planejamento (MATTOS; NEIRA, 1999). Segundo os autores acima citados para um bom planejamento é importante: conhecer o aluno concreto, o conteúdo que ensina, os procedimentos básicos e coerentes com a natureza dos conteúdos, os procedimentos de avaliação que avaliem o atingimento dos objetivos, o valor da interação professor-aluno, a dimensão social do trabalho do professor na sala de aula (MATTOS; NEIRA, 1999). Especialmente no âmbito do planejamento da Educação Física, deve-se evidenciar os objetivos de ensino: [...] os objetivos da Educação Física precisam de interpretação e esclarecimento para serem completamente significativos ao professor. Esse é um processo essencial, porque os objetivos somente são valiosos enquanto que se refletem em programas específicos na sala de aula, no pátio ou nas quadras de jogos. Na medida em que o professor tem a percepção clara dos reais objetivos da Educação Física e se acha identificado com eles, estabelecendo a presença dos mesmos como referenciais do seu cotidiano, o trabalho torna-se cooperativo e de forte afiliação e para isso deve considerar os aspectos cognitivos, afetivos-sociais e psicomotores a serem desenvolvidos na faixa etária que está sendo atendida (MATTOS; NEIRA, 1999, p. 83). 27 Por isso, com um planejamento bem fundamentado e objetivos possíveis de serem alcançados, o professor de Educação Física terá condições de desenvolver um excelente trabalho com os alunos, favorecendo o desenvolvimento da corporeidade e a promoção da aprendizagem integral da criança. 1.3 EDUCAÇÃO FÍSICA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL A Educação Física como área do conhecimento que age diretamente sobre a dimensão motora atua também na área cognitiva, afetiva e social, estimulando e promovendo o desenvolvimento da criança por meio da vivência corporal, cultural e lúdica (PICOLLO, 1995). Nesse processo de desenvolvimento que abrange a motricidade, a emoção e o pensamento, a Educação Física assume um lugar de destaque, tendo em vista que atua diretamente sobre o movimento. O movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana. As crianças se movimentam desde que nascem, adquirindo cada vez maior controle sobre seu próprio corpo e se apropriando cada vez mais das possibilidades de interação com o mundo. Engatinham, caminham, manuseiam objetos, correm, saltam, brincam sozinhas ou em grupo, com objetos ou brinquedos, experimentando sempre novas maneiras de utilizar seu corpo e seu movimento. Ao movimentar-se, as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. O movimento humano, portanto, é mais do que simples deslocamento do corpo no espaço: constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente humano (BRASIL, 1998, p. 15). Nesse sentido, cumpre destacar a importância da educação para o movimento e da educação do movimento. Desse modo, Freire (1997) ressalta que a educação para o movimento envolve atividades motoras, físicas e recreativas cuja finalidade é ampliar e desenvolver a motricidade geral do educando. A educação para o movimento alia o ensino e o aperfeiçoamento das habilidades e capacidades físicas, centralizando-se no movimento. A educação do movimento envolve um processo de aprendizagem mais amplo, cujo objetivo é proporcionar ao aluno o desenvolvimento psicomotor e cognitivo, aliando aprendizagem e corporeidade. A educação do movimento, desde os primeiros anos, deve compreender a realização de atividades que visam o desenvolvimento das habilidades motoras (correr, saltar, 28 arremessar, empurrar, puxar, balançar, balancear, subir, descer, andar), da capacidade física (agilidade, destreza, velocidade, velocidade de reação) e das qualidades físicas (força, resistência muscular localizada, resistência aeróbica e resistência anaeróbica). Portanto, a educação do movimento deve priorizar o aspecto motor na formação do educando, enfatizando assim as características psicológicas e fisiológicas dos alunos. Cumpre salientar que habilidade motora, de acordo com Gallahue e Ozmun (2001) consiste em uma série de movimentos realizados com precisão e exatidão. Já a capacidade física está relacionada com atributos treináveis do organismo e que são adaptáveis e que por isso envolvem uma qualidade física. A capacidade física relaciona-se a competência ou qualidade do indivíduo relacionada ao seu desempenho físico. Todo movimento corporal da criança contribui para seu desenvolvimento. As maneiras de andar, correr, arremessar, saltar resultam das interações sociais e da relação dos homens com o meio; são movimentos cujos significados têm sido construídos em função das diferentes necessidades, interesses e possibilidades corporais humanas presentes nas diferentes culturas. Dessa forma, diferentes manifestações dessa linguagem foram surgindo, como a dança, o jogo, as brincadeiras, as práticas esportivas, etc., nas quais se faz uso de diferentes gestos, posturas e expressões corporais com intencionalidade. Ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos, as crianças também se apropriam do repertório da cultura corporal na qual estão inseridas (BRASIL, 1998). Ao longo de seu desenvolvimento a criança vai assumindo uma outra postura com relação ao seu próprio movimento, fazendo descobertas e adquirindo novas habilidades. É por isso que as crianças em idade escolar devem ser estimuladas às formas básicas do movimento (andar, correr, saltar, rolar, lançar, trepar, tracionar, empurrar, girar, etc.), pois as crianças bem trabalhadas neste sentido terão as etapas seguintes bem sólidas, bases motrizes da puberdade e adolescência, ajudando o educando a crescer e vencer, sem crises (PICOLLO, 1995). Na educação do movimento cumpre destacar a importância do trabalho a partir das habilidades locomotoras, manipulativas e estabilizadoras. Para Gallahue e Ozmun (2001), as habilidades locomotoras são aquelas nas quais o corpo é transportado em uma direção vertical ou horizontal de um ponto para o outro. Atividades como andar, correr, saltar, saltitar são consideradas movimentos locomotores fundamentais. Quando essas habilidades fundamentais tornam-se elaboradas e mais profundamente refinadas, podem ser aplicadas a esportes específicos. 29 Já as habilidades manipulativas abrangem movimentos grossos e finos. A manipulação motora grossa refere-se aos movimentos que envolvem dar força a objetos ou receber força dos objetos. Arremessar, receber, chutar, agarrar e rebater são consideradas habilidades motoras fundamentais manipulativas grossas. As habilidades manipulativas do esporte são uma elaboração com um aprofundado refinamento destas habilidades básicas. Por sua vez, a manipulação motora fina refere-se às atividades se segurar objetos, que enfatizam o controle motor, a precisão e exatidão do movimento. Amarrar os sapatos, colorir, cortar com tesoura são exemplos de habilidades motoras fundamentais manipulativas finas. Arco e flecha e jogar dardos têm aspectos motores finos e são atividades que requerem habilidades motoras finas especializadas (GALLAHUE; OZMUN, 2001). Por fim, Gallahue e Ozmun (2001) destaca as habilidades estabilizadoras que constituem a base para as outras habilidades locomotoras e manipulativas porque todo o movimento envolve um elemento de equilíbrio. As habilidades motoras de equilíbrio, às vezes referidas como habilidades não-locomotoras são aquelas que permanecem no lugar, mas se move ao redor de seu eixo horizontal ou vertical. Há tarefas de equilíbrio dinâmico nas quais o objetivo é obter ou manter o equilíbrio contra a força da gravidade. Os movimentos estabilizadores envolvem qualquer movimento no qual algum grau de equilíbrio é necessário, tais como: girar, virar-se, empurrar, puxar; qualquer movimento que tenha como objetivo obter e manter o equilíbrio em relação a força da gravidade e movimentos axiais e posturas invertidas. Segundo Curtiss (1988) as crianças terão grande benefício em seu desenvolvimento se puderem criar, aprender e descobrir através do movimento o que o seu corpo lhe possibilita fazer. E, além disso, o controle sobre o próprio corpo traz para a criança satisfação emocional. Ainda conforme a autora, o andar, o correr, o arremessar, o saltar não são movimentos naturais, mas resultado das relações sociais. Então, a ação humana não se traduz em simples gestos instintivos, tendo como determinantes somente fatores biológicos herdados. Todas as ações humanas são intencionais. Por isso, segundo Curtiss (1988), os movimentos vão sendo incorporados ao comportamento humano, constituindo assim a cultura corporal. Desta forma, movimento e corporeidade não podem ser pensados separadamente; eles são indissociáveis. Para Piccolo (1995) um programa de Educação Física deve levar em consideração a contribuição de cada atividade de seu conteúdo com a formação do ser humano e deve dar as condições para que o aluno desenvolva todas as suas habilidades. Cabe aos professores que atuam diretamente com os anos iniciais considerar que: 30 Todas as atividades realizadas com as crianças serão significativas quando, os conteúdos que se deseja trabalhar visam o desenvolvimento da criança, através de sua evolução e desafios a serem vencidas. Pela participação e envolvimento do aluno no processo educacional, através de ações planejadas será possível assegurar o seu desenvolvimento funcional tendo em conta possibilidades de ajudar a criança em sua afetividade, a expandir-se e a equilibrar-se através da relação com o ambiente vivenciado (BRANDL NETO, 1996, p. 65). Nessa perspectiva, é possível perceber a importância da Educação Física na promoção do desenvolvimento da criança, cabendo ao professor um papel fundamental no planejamento e realização de aulas que contemplem diversas atividades, auxiliando os alunos, desde os anos iniciais, no desenvolvimento de habilidades e competências. 1.4 EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ANOS INICIAIS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, para que a criança possa vivenciar, construir e ampliar seu movimento devem ser trabalhadas atividades que promovam os aspectos psicomotores, ou seja, o esquema corporal e a estrutura espaço-temporal. Além disso, a ludicidade deve ser uma das principais ferramentas de ensino, tendo em vista a necessidade que a criança tem em brincar e socializar através do lúdico (MATTOS; NEIRA, 1999). Para as crianças pequenas é fundamental enfocar o desenvolvimento motor, juntamente com dança, folclore, teatro, brincadeiras, jogos e outros. As experiências vivenciadas pela Educação Física escolar devem ser ministradas com uma didática específica para cada faixa etária, grau, série, e nível de ensino e, além disso, deve-se levar em consideração que o corpo e a mente não podem ser trabalhados em etapas diferentes. Assim, a Educação Física deve ser orientada no sentido de satisfazer os dois propósitos fundamentais: o corpo e a mente, em seu meio social. Dessa forma, a Educação Física deve, progressiva e cuidadosamente, conduzir o aluno a uma reflexão crítica que o leve à autonomia no usufruto da cultura corporal de movimento (BETTI; ZULIANI, 2002). Portanto, esse é um processo que possui fases, com objetivos específicos, que respeitam os níveis de desenvolvimento e as características e interesses dos alunos: 31 Na primeira fase do Ensino Fundamental (1º a 3º/4º anos), é preciso levar em conta que a atividade corporal é um elemento fundamental da vida infantil, e que uma adequada e diversificada estimulação psicomotora guarda estreitas relações com o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da criança; deve-se privilegiar o desenvolvimento das habilidades motoras básicas, jogos e brincadeiras de variados tipos e atividades de autotestagem. A partir do 4º/5º anos do Ensino Fundamental, deve-se promover a iniciação nas formas culturais do esporte, das atividades rítmicas/dança e das ginásticas. É importante considerar que, nessa fase, a aprendizagem de uma habilidade técnica deve ser secundária em relação à concretização de um ambiente e de um estado de espírito lúdico e prazeroso, e levar em conta o potencial psicomotor dos alunos (BETTI; ZULIANI, 2002, p. 76). Por isso, desde os primeiros anos, a Educação Física deve estar presente no processo de ensino, trabalhando os aspectos corporais, cognitivos, afetivos e sociais da criança, por meio da construção de habilidades e competências diversificadas e que busquem promover o desenvolvimento integral. Desse modo, é importante compreender que: O papel da Educação Física deve cumprir dois objetivos fundamentais na pré-escola e séries iniciais que é: proporcionar o desenvolvimento das potencialidades da criança e, consequentemente, auxiliar outras aprendizagens. Ela deve nortear também suas atividades com a finalidade de proporcionar a aprendizagem das crianças em um ou vários esportes, criando hábitos da atividade física, como meio de conservar a saúde física e mental, e buscar o equilíbrio socioafetivo (BRANDL NETO, 1996, p. 58). A educação do movimento, desde os primeiros anos, deve compreender a realização de atividades motoras que visam o desenvolvimento das habilidades motoras (correr, saltar, arremessar, empurrar, puxar, balançar, balancear, subir, descer, andar), da capacidade física (agilidade, destreza, velocidade, velocidade de reação) e das qualidades físicas (força, resistência muscular localizada, resistência aeróbica e anaeróbica) (FREIRE, 1997). Tudo isso, aliado aos conteúdos curriculares e integrado com as outras disciplinas, num esforço coletivo e globalizante para que a criança tenha maiores e melhores condições de aprendizagem. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), os conteúdos da Educação Física devem ser trabalhados de maneira equilibrada e adequada, não se tratando de uma estrutura estática ou inflexível, mas sim de uma forma de organizar o conjunto de conhecimentos abordados. O documento enfatiza três blocos: esportes, jogos, lutas e ginástica; atividades rítmicas e expressivas e conhecimento sobre o corpo. Os três blocos articulam-se entre si, têm vários conteúdos em comum, mas guardam especificidades. Esses 32 blocos podem ser a base para o desenvolvimento dos projetos interdisciplinares, na integração com os saberes de outras disciplinas (BRASIL, 1997). Na perspectiva dos Parâmetros Curriculares de Educação Física, Neira (2003) ressalta que articulados aos eixos temáticos distribuem-se os elementos pertencentes às dimensões cognitivas, psicomotoras e afetivo-sociais do comportamento humano. A utilização de conteúdos de diferentes potencialidades do indivíduo desenvolverá simultaneamente conhecimentos relativos aos fatos, conceitos, princípios e capacidades cognitivas, como memorização, classificação, quantificação e outros, o que se chama de conteúdos conceituais; os fazeres, que nas atividades motoras preenchem-se na fase motora fundamental, como o correr, saltar, saltitar, rolar, equilibrar-se em uma superfície, arremessar, receber, rebater, etc., são chamados aqui de procedimentais, e, da mesma forma, as normas, os valores, o trabalho em grupo, a cooperação, o respeito a si e aos outros, são denominados de atitudinais. Conforme o autor, os conhecimentos dos conceitos, dos procedimentos e das atitudes compõem juntamente com os eixos temáticos, os objetivos das atividades dessa proposta, desencadeando, assim, a integração entre saber, saber fazer e ser, tão necessária aos processos de desenvolvimento humano (NEIRA, 2003). Todos os conteúdos acima considerados apontam para uma série de relações com outras áreas do conhecimento, não ficando estáticos apenas à Educação Física e ao movimento, mas sim, podendo desenvolver, em conjunto com outros saberes, diversas competências, habilidades e conhecimentos. Outro ponto fundamental que precisa ser analisado quando se fala em Educação Física para crianças é a necessidade de dar ênfase à ludicidade: Ao organizar a Educação Física para e com as crianças, precisamos, também, levar em consideração que o brincar é uma linguagem fundamental na infância, podendo se constituir em uma forma singular de produção e apropriação do conhecimento, em suas múltiplas dimensões. Inserir essa reflexão sobre o brincar nos processos de construção da cultura e produção do conhecimento significa buscar na linguagem sua plena possibilidade emancipadora, o que implica a descoberta de formas de expressão que possam ir além do recurso da palavra e se materializarem como gesto – sentido ampliado da palavra, que inclui o corpo e a memória como elementos da experiência humana de coletivamente dar significado ao mundo (DEBORTOLI et al, 2002, p. 103). Nessa perspectiva, observa-se que a Educação Física na infância precisa ser desenvolvida de forma dinâmica, considerando os avanços motores, as necessidades de 33 socialização e afetivas, bem como de expressão e cultura corporal, favorecendo o desenvolvimento do corpo e a construção de relações e de conhecimento de mundo para a criança. Contudo, pesquisa realizada por Darido (2001), mostrou que dentre os problemas enfrentados pela Educação Física nos anos iniciais estão o fato de que a maioria dos professores desenvolve suas aulas a partir de suas experiências anteriores na escola com as aulas de Educação Física e a formação inicial realizada no magistério (nível médio) ou no ensino superior, parecem não garantir qualidade de ensino, na medida em que as práticas mais comuns se resumem a oferecer uma bola para os alunos. Os alunos do 1º ao 4º ano, por sua vez, experimentam bastante prazer com as aulas de Educação Física, mas em função da influência da mídia já tem propensão à prática de esportes de competição. Já os professores especialistas da área admitem que as professoras de sala sabem sobre o papel que a Educação Física tem neste nível de ensino, e tem consciência de que são melhores preparados para atuarem com a disciplina na escola, além de admitirem que a Educação Física pode auxiliar na melhoria do rendimento da aprendizagem em outras áreas. Outro estudo desenvolvido por Etchepare et al (2003) também verificou que a grande maioria dos professores que trabalham Educação Física nas séries iniciais possui formação de Magistério e/ou Pedagogia. Além disso, a pesquisa mostrou que muitas escolas consideram desnecessária a presença de professores formados em Educação Física para orientar a prática de atividades físicas com crianças pré-escolares e dos primeiros ciclos escolares. Assim, muitos são os problemas enfrentados pela Educação Física no contexto dos anos iniciais, sendo que além do caráter não obrigatório, não há exigência da atuação de um professor da área para o trabalho com as crianças. Portanto, verifica-se a necessidade de refletir sobre Educação Física como componente curricular fundamental aos anos iniciais que contribui para o desenvolvimento da criança, e que deve ser trabalhado a partir de princípios metodológicos coerentes e da presença de profissional docente especializado. 34 2 METODOLOGIA DA PESQUISA Neste capítulo destaca-se a metodologia da pesquisa, considerando as características do estudo, o universo de pesquisa, a amostra de participantes, os instrumentos de coleta e os procedimentos de análise dos resultados. 2.1 TIPO DE PESQUISA Esta pesquisa caracterizou-se como de campo, do tipo estudo de caso, realizado a partir de pesquisa exploratória de natureza qualitativa. De acordo com Gil (2009), a pesquisa de campo procura o aprofundamento de questões propostas a partir de características da população pesquisada, segundo determinadas variáveis. Estuda um único grupo ou comunidade em termos de sua estrutura social, ressaltando a interação entre seus componentes. Já o estudo de caso, conforme Gil (2009, p. 54) “consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento”. Assim, optou-se pela abordagem exploratória que tem como objetivo: [...] proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo explícito [...]. Na maioria dos casos, essas pesquisas envolvem: (a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e (c) análise de exemplos que estimulem a compreensão (GIL, 2009, p.41). Além disso, a pesquisa caracterizou-se como qualitativa, ou seja, busca descrever a complexidade de determinado problema e a interação de certas variáveis, compreendendo e classificando os processos dinâmicos e suas particularidades. A pesquisa qualitativa envolve “a redução dos dados, a categorização desses dados, sua interpretação e a redação do relatório” (GIL, 2009, p. 133). 35 2.2 UNIVERSO/POPULAÇÃO E AMOSTRA/SUJEITOS Numa pesquisa de campo, segundo Gil (2009), os levantamentos abrangem um universo de elementos tão grande que se torna impossível considerá-los em sua totalidade. Por essa razão, o mais frequente é trabalhar com uma amostra, ou seja, com uma pequena parte dos elementos que compõem o universo. Assim, para esta pesquisa, o contexto de estudo foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental João Munari, localizada no município de Tupanci do Sul/RS. O universo diz respeito a todos os pais dos alunos dos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 4º ano) e a amostra, será composta por 17 pais de alunos da turma do 3º ano, selecionados de forma intencional pela pesquisadora, considerando questões de acessibilidade e disponibilidade. 2.3 PROCEDIMENTOS DA COLETA DE DADOS Inicialmente foram escolhidos os pais/mães que fizeram parte da amostra, ou seja, a turma do 3º ano. Em seguida foi contatado com cada um deles sobre a disponibilidade de participarem da pesquisa. A partir da aceitação dos pais, os mesmos receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A) para ser preenchido e entregue à pesquisadora. Num segundo momento, os pais receberam um questionário para ser respondido e devolvido em data previamente estabelecida. Os pais não serão identificados no questionário, garantindo o anonimato de sua participação. 2.4 INSTRUMENTO A coleta de dados foi realizada a partir da aplicação de um questionário de perguntas abertas, fechadas e de múltipla escolha. Conforme Gil (2009), o questionário é um instrumento de coleta de dados constituído por uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador. As perguntas fechadas são aquelas em que o informante escolhe sua resposta entre duas opções, por exemplo, sim ou não. As de múltipla escolha são perguntas fechadas, mas que apresentam uma série de 36 possíveis respostas, abrangendo várias facetas do mesmo assunto. Já as abertas são perguntas onde o pesquisado deverá responder com as suas palavras. O instrumento de coleta de dados é apresentado no Anexo B. 2.5 CUIDADOS ÉTICOS Tendo em vista que esta pesquisa envolveu a participação de seres humanos nos termos da Resolução nº 196/1996, do Conselho Nacional de Saúde, o mesmo foi apresentado ao Comitê de Ética da UNIJUÍ. Além disso, os participantes preencheram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A). 2.6 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE Tendo em vista que a pesquisa é qualitativa, a análise dos dados foi desenvolvida a partir de categorização. “A categorização consiste na organização dos dados de forma que o pesquisador consiga tomar decisões e tirar conclusões a partir deles” (GIL, 2009, p. 134). Nesta pesquisa os dados foram organizados em quadros e de forma descritiva, considerando os dados coletados junto aos pais. A análise e interpretação foram desenvolvidas com base no referencial teórico. Foram elaboradas três categorias de análise: a categoria I analisou os dados pessoais dos sujeitos da pesquisa; a categoria II analisou a participação dos pais na vida escolar de seus filhos; e a última categoria III analisou a importância da Educação Física na vida escolar de seus filhos. A seguir a apresentação e discussão dos resultados em cada uma das categorias de análise. 37 3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Neste capítulo dá-se ênfase aos dados coletados por meio da pesquisa com os pais, buscando analisar e discutir dos mesmos tendo como base a literatura. 3.1 CATEGORIA I - DADOS PESSOAIS A primeira categoria de análise é a dos dados pessoais considerando gênero, idade, estado civil, profissão do pai, número de filhos, número de filhos matriculados na escola em análise e nível de escolaridade. Quadro 1 - Gênero Gênero Feminino Masculino Número de respostas 14 3 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Quadro 2 - Idade Idade 20-25 anos 26-30 anos 31-35 anos 36-40 anos 41 anos ou + Número de respostas 0 3 4 4 6 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Quadro 3 - Estado civil Estado civil Casado Solteiro Viúvo Amasiado Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Número de respostas 12 0 1 4 38 Quadro 4 - Profissão do pai Profissão (pai) Agricultor Servidor público Engenheiro agrônomo Autônomo Aposentado Número de respostas 11 3 1 1 1 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Quadro 5 - Número de filhos Número de filhos 1 2 3 4 5 ou mais Número de respostas 3 8 5 0 1 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Quadro 6 - Número de filhos matriculados na escola Número de filhos que estudam na escola 1 2 3 4 5 ou mais Número de respostas 15 2 0 0 0 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Quadro 7 - Escolaridade Escolaridade Não estudou Ensino Fundamental incompleto Ensino Fundamental completo Ensino Médio incompleto Ensino Médio completo Ensino Superior incompleto Ensino Superior completo Pós-Graduação Número de respostas 2 1 1 1 7 1 2 2 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Em relação à primeira categoria de análise - dados pessoais - participaram da pesquisa 17 familiares, sendo maioria mulheres, com idade entre os 20 e 41 anos, casadas, cujos maridos desempenham atividades como agricultor, servidor público, engenheiro entre outros. A maioria das famílias pesquisadas tem entre 1 a 3 filhos, sendo somente uma com 5 filhos. A 39 maioria dos filhos estuda na escola em que foi realizada a pesquisa. Quanto à escolaridade somente dois são analfabetos, pois não estudaram, sete tem ensino médio completo, 2 tem ensino superior completo e dois são pós-graduados. 3.2 CATEGORIA II - PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA VIDA ESCOLAR DE SEUS FILHOS A segunda categoria diz respeito à questões referentes à participação dos pais na vida escolar dos filhos. Quadro 8 - Acompanhamento da vida escolar do filho Acompanha vida escolar do filho Sim Não Às vezes Número de respostas 16 0 1 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Quadro 9 - Satisfação com relação à educação recebida pela escola Está satisfeito com a educação que o filho recebe na escola Sim Não Por quê? Ele entende o conteúdo e fica tranquilo Meu filho está se desenvolvendo Ele está aprendendo A educação poderia ser melhor Além de adquirir conhecimento, recebe lições de vida, de educação e de valores humanos Há preocupação e responsabilidade dos envolvidos para com a educação das crianças Porque é na escola que a criança se torna pessoa ou cidadão. Número de respostas 17 0 1 4 2 1 1 2 1 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Quadro 10 - Nível de importância da escola na vida do filho Grau de importância que a escola tem na vida do filho Pouco importante Importante Muito importante Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Número de respostas 0 1 16 40 Quadro 11 - Costume de ajudar os filhos nos trabalhos escolares Costuma ajudar os filhos nos trabalhos escolares Sim Não Às vezes Número de respostas 14 0 3 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Quadro 12 - Frequência em que auxilia filho nas atividades escolares Com que frequência costuma auxiliar o filho na realização dos Número de respostas trabalhos de caso ou outras atividades escolares Todos os dias 12 Uma ou duas vezes por semana 5 Duas ou três vezes por ano letivo 0 Nunca 0 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Quadro 13 - Nível de participação das atividades e eventos da escola Participa das atividades e eventos organizados pela escola Número de respostas Sim 12 Não 1 Às vezes 4 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Quadro 14 - Avaliação da relação com a escola Como é sua relação com a escola Regular Boa Ótima Excelente Número de respostas 0 9 7 1 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Quadro 15 - Percepção quanto a participação na vida escola do filho Como você considera a sua participação na vida escolar de seu Número de respostas filho Regular 2 Boa 9 Ótima 4 Excelente 2 Por quê? Tenho outros filhos que também requerem minha atenção 1 Acompanho as atividades escolares 5 Acho que poderia participar mais 4 Porque aumenta os laços entre pais e filhos 1 Me preocupo com o rendimento, as notas, exigindo disciplina e 1 pesquisa Fonte: Dados da Pesquisa (2014) 41 Na segunda categoria de análise - participação dos pais na vida escolar de seus filhos, a maioria das famílias tem o hábito de acompanhar a vida escolar de seus filhos. Apenas uma família diz participar às vezes, ou seja, que este hábito não é uma rotina. Pinheiro (2007) ressalta que a responsabilidade pelo desenvolvimento da criança é da família, sendo que à escola cabe compartilhar esse desafio, buscando auxiliar no processo. Para a autora, a escola tem também a sua parcela de contribuição no desenvolvimento da criança, que além da aquisição de conhecimentos, atualmente deve reunir esforços para a formação de um indivíduo crítico e agente de transformação, na visão de um ambiente propulsor para o aparecimento de ideias novas, valores e crenças. Conforme os dados coletados, os pais estão satisfeitos com a educação que seus filhos recebem na escola e percebem o desenvolvimento de seus filhos. A minoria diz que o ensino poderia ser melhor. Destacam que é na escola que recebem lições de vida, educação e valores humanos, depositando a responsabilidade na escola por ser o lugar em que as crianças se tornam cidadãos. Quanto ao grau de importância que a escola tem na vida de seus filhos todos acham importante e muito importante. Costumam ajudar diariamente seus filhos nos trabalhos escolares, sendo que apenas duas famílias ajudam às vezes ou uma ou duas vezes na semana. Importante ressaltar o que destaca Pinheiro (2007) sobre a tarefa de casa, considerada como uma atividade pedagógica estruturada e proposta pelos professores como norma escolar, destinada ao trabalho dos alunos fora do horário regular das aulas, e também como forma de relacionar o ambiente familiar ao trabalho desenvolvido em sala de aula. Para a autora, essa atividade também está relacionada com a realidade familiar, pois muitas vezes o aluno não tem o acompanhamento dos pais no desenvolvimento desta tarefa. Para Corsaro (2011) o papel da família e das rotinas familiares é muito representativo no processo de desenvolvimento infantil. É a partir do equilíbrio e do suporte familiar que a criança tem condições de socializar e conviver de forma mais dinâmica com seus pares, vivenciando experiências e construindo conhecimentos. Os pais, em sua maioria, participam das atividades e eventos organizados pela escola. Apenas uma família não participa, mas todas destacam que se relacionam otimamente bem com a escola. 42 As famílias consideram a sua participação na vida escolar de seus filhos boa porque acompanham as atividades escolares. Alguns consideram que deveriam participar mais, demonstrando estar preocupados com o rendimento escolar. Pinheiro (2007) acredita que a boa relação família-escola é fundamental desde os primeiros anos da escolarização das crianças, sendo que essa parceria não se constrói somente pelo motivo de que ambas as instituições tenham interesses comuns na tarefa de educar. É necessário que a família e a escola mantenham entre si uma relação de cooperação com vistas à melhoria permanente da qualidade do ensino. 3.3 CATEGORIA III - IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA VIDA ESCOLAR DE SEUS FILHOS A terceira categoria de análise retrata a importância da Educação Física na vida escolar dos filhos, a partir da percepção das famílias pesquisadas. Quadro 16 - Importância da Educação Física para a educação do filho Na sua opinião, a Educação Física é importante para a Número de respostas educação de seu filho Sim 17 Não 0 Por quê? Com os jogos eles aprendem regras e também disciplina 2 Ajuda no seu desenvolvimento físico e intelectual. 6 A integração entre corpo e mente é fundamental para o bom 3 desenvolvimento da criança, e isso inclui atividades físicas. É um momento de prazer 1 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Quadro 17 - Benefícios que a Educação Física traz ao desenvolvimento infantil Que benefícios você acredita que a Educação Física traz para o Número de respostas desenvolvimento das crianças Aprendem desde cedo a importância do esporte para ter saúde e que 2 tem que se alimentar bem para poder brincar União dos alunos nas atividades 1 Desenvolve a coordenação motora e bem estar 5 Influencia a socialização e eleva a autoestima 2 Saúde, expressão, equilíbrio físico e mental 3 Bom relacionamento com colegas e disciplina 1 Ajuda no desenvolvimento físico, raciocínio e convívio social 4 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) 43 Quadro 18 - Percepção quanto a influência da Educação Física nas outras disciplinas Número de respostas Na sua opinião, as atividades práticas realizadas nas aulas de Educação Física ajudam seu filho a aprender mais nas outras disciplinas Sim 17 Não 0 Por quê? Ajuda, porque às vezes só o fato de saírem da sala de aula já ajuda a 1 se distraírem e voltarem melhor para retomar as atividades. Aprende a desenvolver mais a atenção nos movimento e ficar mais 2 atento nas atividades Sim, porque pode se relacionar com todas as áreas do conhecimento 2 É bom para a educação e desenvolvimento integral 5 Quando bem aplicadas, funcionam de modo disciplinar 1 Oportunizam explorar habilidades básicas, estimulando para a 1 aprendizagem global. Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Quadro 19 - Participação dos filhos nas aulas de Educação Física Seu(ua) filho(a) participa das aulas de Educação Física Sim Não Número de respostas 17 0 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Quadro 20 - Nível de satisfação quanto às aulas de Educação Física Na sua opinião, seus filhos estão satisfeitos com as aulas de Educação Física Muito satisfeito Pouco satisfeito Insatisfeito Não sei, desconheço Número de respostas 17 0 0 0 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Quadro 21 - Percepção sobre a contribuição da Educação Física na aprendizagem dos filhos De que maneira a Educação Física pode contribuir na Número de respostas aprendizagem de seus filhos Com os jogos educativos 6 Através da participação em competições esportivas 5 Auxiliando na socialização, disciplina, respeito ao colega e suas 17 individualidades Aperfeiçoando habilidades esportivas 4 Através do estímulo a psicomotricidade 6 Ensinando a elaborar estratégias e tomada de decisão 14 Não contribui na aprendizagem de meus filhos 0 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) 44 Quadro 22 - Atividades que os filhos mais gostam nas aulas de Educação Física Número de respostas O que seu filho mais gosta de fazer nas aulas de Educação Física Brincar de pega-pega 2 Jogar futebol 14 Corridas 2 Disputas 1 Brincadeiras 9 Jogar vôlei 2 Atividades em grupo 1 Exercícios físicos 1 Jogos diversos 1 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Quadro 23 - Percepção quanto ao espaço, estrutura e recursos da escola para as aulas de Educação Física No seu ponto de vista, a escola conta com estrutura, espaço Número de respostas físico e recursos adequados para a prática das aulas de Educação Física Sim 10 Não 7 1 Por quê? Espaço físico pequeno 4 Dias chuvosos tem que se deslocar até o ginásio. 4 Estrutura inadequada tanto na escola quanto no ginásio 1 A escola está próxima do ginásio 2 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Quadro 24 - Atividades que os pais acham que devem ser desenvolvidas nas aulas de Educação Física Quais atividades você acha que devem ser desenvolvidas nas Número de respostas aulas de Educação com crianças dos anos iniciais Corrida 2 Salto em distância 1 Voleibol 1 Futebol 1 Ginástica 1 Jogos diversos 4 Atividades lúdicas (brincadeiras e jogos) 5 Basquete 1 Atividades de coordenação motora 2 Jogos educativos 2 Atividades em equipe 3 Atividades de socialização 3 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) 45 Quadro 25 - Conhecimento dos pais sobre a obrigatoriedade da Educação Física nos anos iniciais do Ensino Fundamental As aulas de Educação Física nos anos iniciais do Ensino Número de respostas Fundamental são obrigatórias pela legislação Sim 7 Não 0 Não tenho conhecimento 10 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Quadro 26 - Percepção sobre atuação de professor de Educação Física nos anos iniciais Na sua opinião, a escola deve ter um professor de Educação Número de respostas Física trabalhando nos anos iniciais Sim 17 Não 0 Justificativas Para que as aulas sejam dirigidas de forma adequada à idade deles. 2 Com certeza, pois haverá mais desenvolvimento nas crianças desde 3 os anos iniciais. Porque as crianças vão começas a gostar desde cedo de praticar 1 exercícios físicos e saber a maneira correta de executá-los. Pela necessidade de qualificação para trabalhar com as crianças 2 pequenas. Pois as séries iniciais são a base de toda a vida escolar 2 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) Quadro 27 - Aprendizagens mais importantes que a Educação Física pode ensinar às crianças Descreva as aprendizagens mais importantes que a Educação Número de respostas Física pode ensinar ao seu filho Disciplina 4 Obedecer regras 5 Dar a vez 2 Conhecer jogos ou outras atividades 1 Jogos interativos 2 Jogos educativos (xadrez, quebra-cabeças) 3 Raciocínio lógico 3 Socialização 4 Interação 2 Gosto pelo esporte 2 Esquema corporal 1 Noção de espaço-tempo 1 Equilíbrio 1 Coordenação motora 1 Lateralidade 1 Respeito 6 Amizade 1 Trabalho em grupo 1 Fonte: Dados da Pesquisa (2014) 46 Com relação à categoria III - importância da Educação Física na vida escolar de seus filhos, observa-se que a maioria dos pais destaca a Educação Física como importante na educação dos filhos, tendo em vista que por meio dela aprendem regras, disciplina, integrando desenvolvimento físico e intelectual, além de ser um momento de integração e prazer. Os pais relevam que a Educação Física traz inúmeros benefícios ao desenvolvimento das crianças, aprendendo a importância do esporte para a saúde, além de ampliar a coordenação motora, a autoestima e a socialização. Esses resultados são semelhantes aos encontrados por Beggiato (2009) onde os pais de alunos destacaram que a Educação Física auxilia na promoção de aspectos relacionados ao condicionamento físico, além de questões relativas ao trabalho em equipe e a socialização, mencionando sua importância no desenvolvimento de demais dimensões humanas como as atitudinais e emocionais. Todos os pesquisados destacaram estar satisfeitos com as aulas de Educação Física que os filhos recebem na escola, e que essas aulas ajudam as crianças a aprender mais em outras disciplinas, uma vez que ampliam a atenção, relacionam outras áreas do conhecimento, exploram habilidades e estimulam a aprendizagem global. Sobre isso cumpre destacar o que afirma Devide (2008) ao referir-se que o desenvolvimento de aspectos motores e cognitivos isoladamente contribui para o desenvolvimento potencial do aluno e sua aprendizagem escolar. Assim, aquisições cognitivas e sociais podem ser mais significativas para os alunos, se puderem experimentar, através de seu corpo, a matemática, o português, os estudos sociais, as ciências, ao invés destes conhecimentos serem apresentados de forma abstrata e ininteligível aos alunos. Segundo os pais pesquisados, as aulas de Educação Física contribuem para a aprendizagem de seus filhos tendo em vista que utilizam-se de jogos educativos, auxiliando a socialização, disciplina e respeito, ensinam a elaborar estratégias, estimulam a psicomotricidade e aperfeiçoam habilidades esportivas. Para os pais o que os filhos mais gostam nas aulas são o jogo de futebol, as brincadeiras, o jogo de vôlei, as corridas e os exercícios e jogos diversos. Quanto ao espaço físico, observa-se que 10 pais acreditam que a escola conta com boa estrutura para a prática da Educação Física, e 7 pais acham que não é a ideal uma vez que o espaço é pequeno, havendo a necessidade de deslocamento para o ginásio em dias de chuva. 47 Sobre as atividades que devem ser desenvolvidas nas aulas de Educação Física para as crianças dos anos iniciais, os pais destacam: atividades lúdicas envolvendo jogos e brincadeiras, atividades em equipe, atividades de socialização e de coordenação, jogos educativos, corridas, jogos desportivos e ginástica. Gallahue e Ozmun (2001) colocam que a fase da infância que vai dos 2 aos 6 anos representa um período ideal para a criança se desenvolver e refinar grande número de tarefas motoras; nesta fase, brincar é o que as crianças pequenas mais fazem, e através disso elas tomam consciência do próprio corpo e de suas capacidades motoras. Ainda segundo os autores, na infância posterior, que vai dos 6 aos 10 anos, as crianças, nos anos de escola elementar, são geralmente felizes, estáveis e ávidas por assumir responsabilidades. Nesta fase a escola muitas vezes é o espaço onde, pela primeira vez, as crianças vivem situações de grupo e não são mais o centro das atenções. Desta forma um ambiente que faça a criança participar de atividades físicas vigorosas vai ajudar muito a promover o desenvolvimento psicomotor. A maioria dos pais não tem conhecimento sobre a obrigatoriedade da Educação Física nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Sobre essa questão Debortoli et al (2002) destaca que o fato de que os ordenamentos legais promulgados para a educação escolar, ou seja, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996, e as Diretrizes Curriculares Nacionais do Conselho Nacional de Educação, de 1997 e 1998, desestabilizaram de forma significativa a presença da Educação Física na escola, naquilo que apontam para a autonomia das instituições escolares na organização de seus projetos político pedagógicos. Não se trata de um “fim de sua obrigatoriedade” conforme tem sido anunciado na mídia educativa ou por segmentos corporativistas. Mas a exigência posta desde então é a de que a presença da Educação Física na escola precisa ser qualificada, sistematizada e realizada como parte indissociável da escolarização básica, considerando-se aí que a escola tem uma dinâmica cultural específica e é nela que a educação física é constituída como disciplina. Rompendo com essa concepção, Debortoli et al (2002) ressaltam que a Educação Física, como área do conhecimento escolar, realiza sua prática pedagógica tendo como objeto de ensino a cultura corporal de movimento e, nessa condição, e em integração com os diferentes conhecimentos e práticas escolares, cabe o compromisso de garantir o direito de acesso à riqueza dos temas e conteúdos de ensino da Educação Física, especialmente sua partilha, reinvenção e reconstrução coletiva. 48 Na pesquisa realizada com os pais, todos foram unânimes ao afirmarem que a escola deve ter um professor formado em Educação Física para o trabalho da disciplina nas séries iniciais, pois ele terá a qualificação necessária para o trabalho, dirigindo as atividades de forma correta e buscando ampliar o desenvolvimento psicomotor das crianças. Com relação à presença ou não do professor especialista de Educação Física nos anos iniciais do Ensino Fundamental, Devide (2008) salienta a existência de duas correntes. Uma defende a inclusão de um especialista na área que, à parte do trabalho feito na sala de aula pelo professor-regente, seria responsável pela EF. Outra defende a permanência do quadro atual, argumentando que o contato com um único professor é mais adequado ao aluno neste grau de ensino, evitando o risco de fragmentação do conhecimento. No contexto da educação pública brasileira, a solução menos onerosa para o governo vem sendo utilizada e a EF vem sendo excluída simbolicamente do currículo, através da inexistência do seu representante: o professor licenciado pleno. Numa mesma perspectiva, Etchepare et al (2003) esclarecem que a falta de profissionais qualificados para trabalhar a cultura corporal de movimento desde as séries iniciais faz com que os alunos que ingressam na quinta série só queiram jogar bola, pois para eles Educação Física é isso. Devido a estes fatos encontramos alunos nas séries finais do Ensino Fundamental com inúmeros entraves em motricidade fina e ampla. Nesse sentido, acredita-se que o professor de Educação Física é o profissional mais preparado para trabalhar o desenvolvimento físico e motor da criança, pois possui maior embasamento, tanto teórico quanto prático, para trabalhar com a Educação Física nas séries iniciais e ainda é capaz de reconhecer melhor os objetivos de cada prática, o que muitas vezes não acontece com o professor de classe, que aplica exercícios sem saber claramente onde quer chegar (ETCHEPARE et al, 2003). Para os pais pesquisados, as aprendizagens mais importantes que a Educação Física pode ensinar aos filhos são: respeito, obediência às regras, socialização, raciocínio lógico, disciplina, interação, conhecimento corporal, entre outros. Verifica-se que essas respostas estão relacionadas a aspectos de desenvolvimento humano e não apenas relacionados ao esporte como elemento principal da Educação Física. Esses resultados são semelhantes aos encontrados por Beggiato (2009) em seu estudo, onde os pais destacaram conceitos relacionados à formação do ser humano entre atribuições 49 da Educação Física, tais como: adquirir responsabilidades, postura, conviver com as diferenças, lidar com os fracassos, valores da educação, iniciativa, entre outros. Nesse sentido, as representações dos pais à respeito da Educação Física escolar contemplam as diferentes possibilidades que a disciplina pode assumir dentro do universo de uma escola, abordando aspectos biológicos, sociais e humanísticos do desenvolvimento humano (BEGGIATO, 2009). 50 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo teve como objetivo principal verificar a percepção dos pais sobre a importância da Educação Física nas séries iniciais do ensino fundamental. Buscando descrever as características da Educação Física nos anos iniciais foi possível perceber que neste nível de ensino, a Educação Física ainda enfrenta inúmeros desafios no contexto escolar, desde a falta de recursos e infraestrutura para sua prática, até problemas de planejamento, organização e metodologia que podem interferir na qualidade do ensino. Visando ressaltar os benefícios da Educação Física para a criança evidenciou-se que essa área do conhecimento auxilia na educação do movimento, sendo fundamental para que a criança tenha condições de se desenvolver de forma plena, não podendo ficar de fora do contexto escolar desde os primeiros anos. A Educação Física trabalha a integração entre corpo e cognição, ampliando as competências e habilidades motoras, sociais e psíquicas da criança tão importantes em seu processo de desenvolvimento. Ao investigar junto aos pais sobre a representatividade da Educação Física para as crianças dos anos iniciais percebeu-se que no contexto analisado a disciplina é vista de forma positiva, uma vez que as famílias têm consciência da importância da prática da Educação Física para o desenvolvimento das crianças. Desse modo, ao destacar sobre a necessidade da prática da Educação Física nos anos iniciais ressaltou-se a relevância do debate acerca da obrigatoriedade da disciplina nas primeiras séries, contrapondo-se às correntes que não acham necessária a atuação de um professor especialista nos anos iniciais. Assim, esclareceu-se a importância da Educação Física realizada a partir de objetivos coerentes, de acordo com um planejamento curricular e pedagógico capaz de auxiliar as crianças na construção de saberes e na vivência de experiências corporais necessárias ao seu desenvolvimento. Enfim, ao responder o problema de pesquisa, pode-se ressaltar que a percepção dos pais sobre a importância da Educação Física nas séries iniciais do ensino fundamental é positiva. Com base na pesquisa, pode-se evidenciar que os pais percebem essa disciplina como fundamental no processo de ensino desde as primeiras séries, ajudando na construção de conhecimentos e habilidades que influenciam a aprendizagem em outras disciplinas, além 51 de promover o desenvolvimento de aspectos físicos, sociais e humanísticos entre as crianças, que serão importantes ao longo de sua vida. Nesse sentido, importante salientar que a Educação Física assume um papel muito representativo no contexto dos anos iniciais, pois atua especificamente sobre o movimento, ampliando e reforçando a capacidade de aprendizagem e cognição das crianças. Sendo um princípio universal reconhecido a Educação Física contribui, efetivamente, para a promoção das habilidades infantis, estimulando as crianças a evoluírem seus movimentos e, consequentemente, sua capacidade de aprender, se relacionar e interagir com o mundo. A realização deste estudo foi muito relevante para a formação acadêmica, tendo em vista que promoveu no processo de pesquisa a análise e a relação da teoria com a prática. Esse tipo de construção é importante para que nós como futuros profissionais tenhamos maiores conhecimentos acerca das questões que cercam a Educação Física escolar, destacando a necessidade de permanente pesquisa e discussão. Espera-se que os resultados possam ser compartilhados junto à comunidade escolar pesquisa, com a finalidade de melhorar a prática da Educação Física na escola. Além disso, espera-se que as informações trazidas neste estudo possam servir de base para outras pesquisas na área, ampliando ainda mais a discussão acerca da importância da Educação Física nos anos iniciais do Ensino Fundamental e a necessidade da família e escola estarem juntas no processo de ensino e aprendizagem das crianças. 52 REFERÊNCIAS ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006. BEGGIATO, Claudson Lincoln. A importância da educação física na percepção de uma comunidade escolar. Dissertação de Mestrado. Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2009. BETTI, Mauro; ZULIANI, Luiz Roberto. Educação física escolar: uma proposta de diretrizes pedagógicas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 1, n. 1, p. 73-81, 2002. BIDARRA, Zelimar Soares; OLIVEIRA, Luciana Vargas Netto. Infância e adolescência: o processo de reconhecimento e de garantia de direitos fundamentais. 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Em caso de dúvida você pode procurar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ). INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA: Título do Projeto: A importância da Educação Física nos anos iniciais do ensino fundamental no olhar dos pais Pesquisador Responsável: Marieli Piardi Piva (Acadêmica de Educação Física/UNIJUÍ) Telefone para contato (inclusive ligações a cobrar): 54 8429-7091 ou 54 8429-4705 Objetivo: Verificar a percepção dos pais sobre a importância da Educação Física nas séries iniciais do ensino fundamental. Procedimentos: Pesquisa de campo (exploratória, qualitativa, estudo de caso) com aplicação de um questionário aos pais de alunos dos anos iniciais da Escola Municipal de Ensino Fundamental João Munari, localizada no município de Tupanci do Sul/RS (turma do 3º ano). Benefícios da pesquisa: Percepção acerca da importância da Educação Física no desenvolvimento infantil e discussão sobre processos de mudança de sua prática nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Esclarecimento sobre participação: A pesquisa será desenvolvida no segundo semestre de 2013, sendo que sua participação será apenas responder as perguntas da entrevista, garantindo todo o sigilo e direito de retirar o consentimento a qualquer tempo. Nome e Assinatura do pesquisador: ____________________________________________ CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO Eu,_____________________________________________________________________, RG n.º_____________________, abaixo assinado, concordo em participar do estudo acima discriminado, como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido pelo pesquisador _______________________________________ sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve à qualquer penalidade. Local e data _______________________________________________________________ Nome e Assinatura do sujeito ou responsável: ____________________________________ Presenciamos a solicitação de consentimento, esclarecimentos sobre a pesquisa e aceite do sujeito em participar Testemunhas (não ligadas à equipe de pesquisadores): Nome: ________________________________ Assinatura: _________________________ Nome: ________________________________ Assinatura: _________________________ 57 ANEXO B – QUESTIONÁRIO AOS PAIS Esta pesquisa tem como objetivo verificar a percepção dos pais sobre a importância da Educação Física nas séries iniciais do ensino fundamental, fazendo parte das atividades acadêmicas no Curso de Educação Física da UNIJUI. Desde já agradeço a sua participação e garanto anonimato de suas respostas, solicitando sinceridade em sua colaboração. Muito Obrigada Marieli Piardi Piva – Acadêmica I – DADOS PESSOAIS 1- Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino 2- Idade: ( ) 20-25 anos ( ) 31-35 anos ( ( ) 26-30 anos ) 36-40 anos ( ) 41 anos ou + 3- Estado civil: ( ) Casado ( ) Solteiro ( ) Viúvo ( ) Amasiado 4- Profissão do marido: ________________________________________________________ 5- Número de filhos:__________________________________________________________ 6- Numero de filhos que estudam nesta escola:______________________________________ 7- Grau de escolaridade: ( ) Não estudou ( ) Ensino Fundamental incompleto ( ) Ensino Fundamental completo ( ) Ensino Médio incompleto ( ) Ensino Médio completo ( ) Ensino Superior incompleto ( ) Ensino Superior completo ( ) Outros:_________________________________________________________________ II – PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA VIDA ESCOLAR DE SEUS FILHOS 1- Você acompanha a vida escolar de seu filho? ( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes 2- Encontra-se satisfeito com a educação que o seu filho recebe na escola? ( ) Sim ( ) Não Por quê?____________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 3- Qual o grau de importância que a escola tem na vida de seu filho? ( ) Pouco importante ( ) Importante ( ) Muito importante 58 4- Costuma ajudar os seus filhos nos trabalhos escolares? ( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes 5- Com que frequência costuma auxiliar o seu filho na realização dos trabalhos de casa ou outras atividades escolares? ( ) Todos os dias ( ) Uma ou duas vezes por semana ( ) Duas ou três vezes por ano letivo ( ) Nunca 6- Você participa das atividades e eventos organizados pela escola? ( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes 7- Como é sua relação com a escola? ( ) Regular ( ) Boa ( ) Ótima ( ) Excelente 8- Como você considera a sua participação na vida escolar de seus filhos? ( ) Regular ( ) Boa ( ) Ótima ( ) Excelente Por quê?____________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ III – IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FISICA NA VIDA ESCOLAR DE SEUS FILHOS 1- Na sua opinião, a Educação Física é importante para a educação de seus filhos? ( ) Sim ( ) Não Por quê?____________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 2- Que benefícios você acredita que a Educação Física traz para o desenvolvimento das crianças? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 3- Na sua opinião as atividades prática realizada nas aulas Educação Física ajuda seu filho aprender mais nas outras disciplinas? ( ) Sim ( ) Não Por quê?____________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 4- Seu(sua) filho(a) participa das aulas de Educação Física? ( ) Sim ( ) Não 5- Na sua opinião seus filhos estão satisfeito com as aulas de Educação Física? ( ) Muito satisfeito ( ) Pouco satisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Não sei desconheço 59 6- De que maneira a educação física pode contribuir na aprendizagem de seus filhos? Marque 3 (três) alternativas que você considera mais relevantes. ( ) Com os jogos educativos ( ) Através da participação em competições esportivas ( ) Auxiliando na socialização, disciplina, respeito ao colega e suas individualidades ( ) Aperfeiçoando habilidades esportivas ( ) Através do estímulo a psicomotricidade ( ) Ensinando a elaborar estratégias e tomada de decisão ( ) Não contribui na aprendizagem de meus filhos 7- O que ele(a) mais gosta de fazer nas aulas de Educação Física ? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 8- No seu ponto de vista, a escola conta com estrutura, espaço físico e recursos adequados para a prática das aulas de Educação Física? ( ) Sim ( ) Não Justifique a sua resposta? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 9- Quais as atividades que você acha, que ser desenvolvidas nas aulas de Educação Física com as crianças dos anos iniciais na escola? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 10- As aulas de Educação Física nos anos iniciais do Ensino Fundamental são obrigatórias pela legislação? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não tenho conhecimento ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 11- Na sua opinião a escola deve ter um professor de Educação Física trabalhando nos anos iniciais? ( ) Sim ( ) Não Justifique a sua resposta? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 12- Descreva as aprendizagens mais importantes que a Educação Física pode ensinar para seu filho: ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________