Pedra no meio do caminho

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Pedra no meio do caminho
Seg, 12 de Janeiro de 2009 15:37 -
" No meio do caminho tinha uma pedra; tinha uma pedra no meio do caminho; tinha uma pedra
no meio do caminho; tinha uma pedra". Essa é uma das mais belas obras de um de nossos
maiores poetas, Carlos Drummond de Andrade: No meio do Caminho. Mas, se esse texto for
lido por lábios médicos poderemos estar frente a uma das patologias mais dolorosas que
afligem os seres humanos; a calculose ou litíase renal, popularmente conhecida como pedra
nos rins. É uma doença bastante comum, com uma incidência em torno de 3% da população, e
com grande taxa de recorrência. A doença é duas vezes mais comum em homens e seu pico
de incidência ocorre entre os 20 e 40 anos de idade.
O cálculo renal é uma massa dura formada por cristais que se separam da urina e se unem
para formar pedras. Sob condições normais de equilíbrio (homeostase), a urina contém
substâncias que previnem a formação dos cristais. Entretanto, essas substâncias inibidoras
podem se tornar insuficientes causando a formação dos cálculos.
A formação de cálculos é um processo biológico complexo, ainda pouco conhecido, apesar dos
consideráveis avanços já realizados. Hoje, constata-se que mudanças nos regimes
alimentares, promovidas pela industrialização dos alimentos, mais ricos em proteínas, sal e
hidratos de carbono, aumentaram a formação. Todo o indivíduo produtor de cálculos tem
envolvimento com um ou mais desses fatores:
- Epidemiológicos (herança, idade, sexo, cor, ambiente, tipo de dieta)
- Anormalidades urinárias (urina saturada de sais, volume diminuído e alterações do pH)
- Ausência ou desequilíbrio de fatores inibidores da formação de cálculos (citrato, magnésio,
pirofosfato, glicosaminoglicans, nefrocalcina, proteína de Tam Horsfall)
- Alterações metabólicas (excesso ou falta de alguns sais orgânicos)
- Alterações anatômicas e urodinâmicas (fluxo urinário)
- Infecções urinárias
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As anormalidades da composição urinária têm, no volume urinário diminuído, o principal fator
na formação de cálculos. Fruto de uma hidratação inadequada, esta pode ser a única alteração
encontrada em alguns portadores de litíase. O volume urinário permanentemente inferior a um
litro ocorre por maus hábitos alimentares ou por situações ambientais como clima muito seco,
atividades profissionais em ambientes secos (como aviões) que favorecem a supersaturação
urinária de sais formadores de cálculos.
CARACTERÍSTICAS - Os cálculos podem conter várias combinações de elementos químicos,
mas a mais comum contém cálcio em combinação com oxalato ou fosfato (que estão presentes
em uma dieta normal e fazem parte dos ossos e músculos). Esses cálculos representam 75%
de todos os cálculos renais.
A calculose pode ser assintomática, reconhecida somente em exames ocasionais. Na maioria
das vezes apresenta-se com manifestação de dor (cólica) e hematúria (sangue na urina). Por
vezes, os cálculos podem obstruir a via urinária. A cólica renal é, sem dúvidas, o sintoma mais
agudo e de dor severa, que pode requerer tratamento com analgésicos potentes.
Geralmente, a cólica está associada a náuseas, vômitos, agitação e inicia-se quase sempre na
região lombar, irradiando para a fossa ilíaca (virilha), testículos ou vagina. No sedimento
urinário, pode-se observar sangue que, associado à dor em cólica, nos faz pensar na
passagem de um cálculo. A investigação clínica, na fase aguda, inclui além do exame físico e
do exame comum de urina (Urina 1), um raio X simples de abdômen e uma ultrassonografia
abdominal.
A ingestão de grande quantidade de líquidos (de dois a três litros/dia), preferencialmente água,
é o principal item do tratamento visando reduzir a concentração e supersaturação dos cristais
urinários e diminuir a formação de cálculos. É medida de tratamento e de prevenção. O ideal é
suprimir a recorrência e evitar que os cálculos existentes cresçam.
Para as pessoas com maior propensão para formar cálculos de oxalato de cálcio (o mais
comum), a redução da ingestão de certos alimentos pode ser indicada. Esses alimentos
incluem: chocolate, café, refrigerantes com cola, nozes, beterraba, espinafre, morango e chá.
Mas é importante checar seu médico antes de qualquer retirada ou redução na ingestão de
alimentos.
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Um clássico estudo coordenado pela Universidade de Harvard, o Nurses' Health Study, que
avaliou 92 mil enfermeiras durante um período de 12 anos, não observou correlação entre a
ingestão maior de cálcio com a formação de cálculos renais. Parece que a ingestão de cafeína
em excesso é sim prejudicial, pois leva a maiores índices de desidratação.
Como os cálculos têm origem diversa e, freqüentemente, coexistem com outras patologias, é
impossível haver um só esquema terapêutico. Por isso, o tratamento é diversificado e
prolongado, requerendo o comprometimento permanente do paciente com medidas de
mudança no estilo de vida.
O importante é impedirmos que o quadro evolua para insuficiência renal por obstrução crônica
desse rim. Após seis meses de tratamento, deve-se repetir a seqüência de exames para avaliar
a eficiência da ação terapêutica. A revisão é fundamental para ajustar as medidas usadas no
controle da recorrência e estimular o paciente na continuidade do tratamento.
Cálculos maiores de sete milímetros não saem espontaneamente sendo, por isso, necessária a
intervenção do urologista para a retirada do cálculo através de métodos cirúrgicos diretos,
endoscópicos ou extra-corpóreos (litotripsia).
Agora, se a pedra no caminho não for um cálculo, faça como Fernando Pessoa: "Pedras no
caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo." Saúde a todos!
O urologista Mário Henrique Elias de Mattos, da clínica Med Center, em São Bernardo, conta
que pedra no rim é um dos problemas mais frequentes com que tem de lidar.
"Está entre os três ou quatro motivos que mais trazem pacientes para o meu consultório", conta
Mattos. "É uma doença de jovens. A faixa etária entre 20 e 40 anos é onde está o pico de
incidência."
Mas mesmo com tantos pacientes, os fatores que levam aos cálculos renais ainda não são
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completamente conhecidos. "Boa parte dos motivos ainda não conseguimos estabelecer. Às
vezes são disturbios de metabolismo e podem ser fatores genéticos. Mas há pacientes que não
têm histórico familiar e nem apresentam sinais de problemas metabólicos. Ou seja, deve existir
mecanismos que ainda não conhecemos."
Segundo Mattos, há duas possibilidades de se descobrir o cálculo renal. A primeira são os
chamados incidentais, quando as pedras são encontradas por exames não relacionados, como
ultrassons ou radiografias. A outra possibilidade é a mais desagradável: o principal sintoma é a
dor nas costas, muito intensa acompanhada de náusea.
"Muita gente pensa que a dor surge quando a pedra ainda está dentro do rim, mas ela
acontece quando o cálculo está descendo para a bexiga", revela o urologista. "Quando as
pedrinhas se deslocam e entopem o caninho entre o rim e a bexiga, o rim se destende com o
acúmulo de urina."
Os tamanhos dessas pedras, assim como a sua estrutura química, variam. "Existem desde os
milimétricos até os cálculos coraliformes, ou seja, na forma de um coral, que ocupam o rim
inteirinho", conta Mattos, avisando que esses não são casos raros. No entanto, o urologista diz
que é mais comum ter mais do que um cálculo - três ou quatro - e de tamanho pequeno, com
menos de um centímetro de largura.
Fonte Original
http://www.dgabc.com.br/default.asp?pt=colunas&pg=colunadetalhe&col=29&men=1038
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