Embolização da Artéria Brônquica

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Grupo Técnico de Auditoria em Saúde
Parecer do
Grupo Técnico de
Auditoria em Saúde
3 9 /2 0 0 9
Belo Horizonte
Dezembro de 2009
Tema: Embolização da Artéria Brônquica para
Tratamento de Hemoptise Maciça.
Grupo Técnico de Auditoria em Saúde
Autoras:
Lélia Maria de Almeida Carvalho
Christiane Guilherme Bretas
Izabel Cristina Alves Mendonça
Marcos de Bastos
Silvana Márcia Bruschi Kelles
Bibliotecária: Rosana Velloso Montanari
Instituições parceiras:
Associação dos Hospitais de Minas Gerais – AHMG
Associação Médica de Minas Gerais – AMMG
Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais – IPSEMG
Federação Interfederativa das Unimeds do Estado de Minas Gerais
Federação Nacional das Cooperativas Médicas – FENCOM
Contato: [email protected]
Grupo Técnico de Auditoria em Saúde
RESUMO
Embolização seletiva é um procedimento minimamente invasivo, feito por acesso
percutâneo à árvore vascular, seguido por cateterismo seletivo e embolização do
órgão-alvo. Permite tratar hemorragias de diversas causas, tumores benignos e
malignos, plaquetopenia, além de facilitar intervenções cirúrgicas quando indicado.
Como vantagem, possui baixo risco de complicações, sendo que o paciente se
recupera mais rapidamente, quando comparado à intervenção cirúrgica.
A hemoptise maciça, definida como perda de sangue entre 300 e 600 mL em 24
horas, é uma condição grave, que geralmente leva à morte por asfixia caso não seja
prontamente atendida.
As causas mais comuns de hemoptise maciça são carcinoma broncogênico e
doenças inflamatórias crônicas do pulmão como bronquiectasia, fibrose cística,
aspergilose e tuberculose.
Estudos relatam que tanto o tratamento clínico quanto o cirúrgico da hemoptise
maciça são geralmente pouco efetivos e com alta taxa de mortalidade.
A embolização, como intervenção de urgência para o controle de casos agudos e
graves, está estabelecida desde 1973 e apresenta alta taxa de sucesso inicial (95%)
no controle do sangramento agudo, com baixos índices de morbidade e mortalidade.
A embolização da artéria brônquica está indicada para tratamento da hemoptise
aguda maciça (entre 300 e 600 mL) por diversas causas.
OBS: As Embolizações Percutâneas são procedimentos que constam no ROL da Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Por existir uma regulamentação sobre a liberação dos
códigos, não fizemos avaliação de eficácia e efetividade.
Esta revisão teve como objetivo exclusivo estabelecer critérios de indicação para estes
procedimentos. Fica a ressalva que os estudos encontrados para estabelecimento destes
critérios foram, em sua maioria, trabalhos de fraca evidência científica: relatos de casos, série
de casos, revisões narrativas e opinião de especialistas em forma de protocolos de utilização.
Grupo Técnico de Auditoria em Saúde
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO.................................................................................................5
1.1 Questão clínica................................................................................................ 5
1.2 Aspectos epidemiológicos................................................................................5
1.3 Descrição do medicamento avaliado e alternativas terapêuticas.....................5
2
MÉTODO..........................................................................................................5
3
RESULTADOS................................................................................................ 6
4
CONSIDERAÇÕES .........................................................................................8
5
RECOMENDAÇÕES.......................................................................................9
REFERÊNCIAS..............................................................................................10
ANEXOS........................................................................................................11
5
1
INTRODUÇÃO
1.1 Questão clínica
Quais os critérios de indicação para embolização da artéria brônquica?
1.2 Aspectos Epidemiológicos e clínicos.
Embolização seletiva é um procedimento minimamente invasivo, feito por acesso
percutâneo à árvore vascular, seguido por cateterismo seletivo e embolização do
órgão-alvo permitindo tratar hemorragias de diversas causas, tumores benignos e
malignos, plaquetopenia, além de facilitar intervenções cirúrgicas quando indicado.
Como vantagem, possui baixo risco de complicações, sendo que o paciente
recupera-se mais rapidamente se comparado à intervenção cirúrgica.
Quando um vaso necessita embolização, as coils (micromolas) são os agentes de
escolha. As micromolas (aço inoxidável, platina ou titânio) estão disponíveis em
grande variedade de formas e tamanhos. Outros agentes também utilizados são as
partículas polivinilacoólicas (PVA), esponja de gelatina absorvível (Gelfoam) e
microesferas de trisacryl (Emboesferas)1.
A embolização da artéria brônquica é realizada em pacientes com quadro de
hemoptise maciça, definida como quadro de perda de 300 a 600 mL de sangue por
um período de 24 horas1. A etiologia é variada incluindo bronquiectasia, fibrose
cística, neoplasia, sarcoidose, tuberculose e outras infecções1, 2. Nestes casos a
broncoscopia é primeiramente realizada para localizar o local do sangramento e
para proceder à cauterização. De forma geral, tanto o tratamento clínico quanto o
cirúrgico não são efetivos em casos de hemoptise maciça, com taxas de mortalidade
variando entre 35 e 100%1,2. Geralmente a causa do óbito é a asfixia e não pela
perda de sangue. A embolização tem uma taxa de sucesso inicial de 95% com
menos morbidade e mortalidade1.
2
MÉTODO
2.1 Base de dados e estratégia de busca
Biblioteca Cochrane. PubMed via Medline.
6
3 RESULTADOS
Artigo de revisão2 relata que embolização da artéria brônquica (EAB) está
estabelecida no tratamento da hemoptise maciça desde 1973. Os autores definem
como hemoptise maciça a expectoração de sangue que pode variar de 100 mL até
1000 mL por um período de 24 horas, sendo que o critério mais adotado é a perda
em torno de 300-600 mL por dia. As causas mais comuns são carcinoma
broncogênico e doenças inflamatórias crônicas do pulmão devido a bronquiectasia,
fibrose cística ou aspergilose. Outras causas incluem abscesso pulmonar,
pneumonia, bronquite crônica, fibrose pulmonar intersticial, pneumoconiose,
aneurisma de artéria pulmonar (aneurisma de Rasmussen), anomalias congênitas
ou vasculares, fístulas aorto-brônquica, aneurisma roto de aorta ou aneurisma roto
de artéria brônquica.
O sítio da hemoptise maciça vem geralmente da circulação brônquica (90% dos
casos) e raramente da circulação pulmonar (5%)2. O diagnóstico inclui radiografia,
broncoscopia e tomografia do tórax. Vários estudos já demonstraram a efetividade
da EAB no controle da hemoptise maciça. O follow-up de curto prazo (1 dia até 1
mês) indicou uma taxa de não-recorrência de 73% -98%. Entretanto, a taxa de
sucesso em longo prazo não é favorável, demonstrando taxas de recorrência de
10%-52% de 1 até 46 meses. As causas de recorrência são: recanalização dos
vasos embolizados, embolização incompleta, revascularização pela circulação
colateral, tratamento inadequado da doença de base. As complicações mais comuns
são dor torácica com prevalência de 24%-91% e disfagia devido a embolização do
ramo esofágico da artéria brônquica com prevalência entre 0,7%-18%. Os autores
concluíram que a EAB é um procedimento efetivo e seguro no tratamento da
hemoptise maciça.
7
Estudos
3
Park HS 2007
Tipo de Estudo
População
Desfechos
Resultados
Série de casos.
Retrospectivo.
Abril de 2002 até
Março de 2005.
Sucesso técnico resultado imediato
avaliado pela
angiografia.
100%
Sucesso clínico resolução da
hemoptise após 30
dias.
15 pacientes (79%)
N=19 pacientes
portadores de câncer
pulmonar primário com
hemoptise,
submetidos à
embolização da artéria
brônquica.
Comentários do autor: A embolização para tratamento de hemoptise em pacientes com câncer
primário de pulmão é uma modalidade terapêutica eficaz e segura. O estudo apresentou limitações
como amostra pequena, retrospectivo, não comparativo e com follow-up pequeno.
Tipo de Estudo
População
Estudos
4
Barben J 2002
Série de casos.
Retrospectivo, através
de levantamento de
prontuário.
De Janeiro de 1985
até Dezembro de
1999.
N= 23 pacientes
portadores de Fibrose
Cística, com idade
média de 16,8 anos
(variando de 7 até 19
anos), com quadro de
hemoptise, foram
submetidos à 38
Embolizações da
Artéria Brônquica
(EAB).
Desfechos
Resultados
Sucesso imediato
(sem sangramento
recorrente após 24
horas).
36 de 38 EABs (95%).
Necessidade de mais
de uma EAB.
11 pacientes (55%), com tempo
médio entre a primeira e a
segunda embolização de 4
meses (variando de 5 até 61
meses).
Sobrevida média após
a primeira EAB.
84 meses, com follow-up médio
de 61 meses, variando entre 5
dias e 169 meses.
Comentários do autor: EAB apresenta uma alta taxa de sucesso para controle de sangramento em
curto prazo; entretanto, mais da metade dos pacientes necessitaram de uma segunda embolização
após um período de acompanhamento mais prolongado.
8
Tipo de Estudo
População
Estudos
5
Goh PYT 2002
Série de casos
retrospectiva de 1993
até 1999.
N= 103 pacientes com
hemoptise de
moderada a grave
submetidos a
embolização.
Follow-up médio foi de
9,4 meses (variando
de 1 até 66 meses).
Desfechos
Resultados
Taxa de insucesso
(caso o paciente
necessitasse de
cirurgia para controle
do sangramento
apesar da
embolização, ou se o
paciente morresse
devido a hemoptise).
19 de 103 embolizações
(18,4%), sendo que destas:
11/19 pacientes (58%) necessitaram de cirurgia.
8/19 pacientes (42%) óbito.
Taxa de sucesso
global (controle da
hemoptise).
84 de 103 pacientes (81,6%).
Necessidade de
repetir a embolização,
geralmente atribuída à
recanalização.
16 de 103 pacientes
(15,5%)verificar se foram
excluídos os óbitos
Comentário do autor: embolização é um procedimento efetivo no tratamento da hemoptise
moderada a grave.,.Comente sobre a alta taxa de mortalidade...
4. CONSIDERAÇÕES:
A hemoptise maciça, definida como perda de sangue entre 300 e 600 ml em 24
horas1,2,5, é uma condição grave, que geralmente leva à morte por asfixia, caso não
seja prontamente atendida1.
As causas mais comuns são carcinoma broncogênico e doenças inflamatórias
crônicas do pulmão2,3 como bronquiectasia, fibrose cística2,4, aspergilose2 e
tuberculose5.
Estudos relatam que tanto o tratamento clínico quanto cirúrgico da hemoptise
maciça são geralmente pouco efetivos e com alta taxa de mortalidade1,2,5.
A embolização, como intervenção de urgência para o controle de casos agudos e
graves está estabelecida desde 19732 e apresenta alta taxa de sucesso inicial (95%)
no controle do sangramento agudo, com baixos índices de morbidade e
mortalidade1,2.
Em curto prazo os trabalhos apresentaram altas taxas de sucesso no controle do
sangramento agudo2,3,4,5. Entretanto, o índice de recidiva é alto em longo prazo,
9
geralmente devido a recanalização dos vasos embolizados2,4,5.
Não existem estudos randomizados para comparação da embolização com outras
abordagens. Do ponto de vista de análise de literatura, sua indicação baseia-se em
séries de casos com seguimento curto ou de médio prazo.
Trata-se de doença com alta taxa de mortalidade. As opções para o tratamento da
hemoptise maciça são pouco efetivas (descrição também de relatos de casos).
Apesar da baixa qualidade dos estudos envolvendo essa técnica, os resultados são
favoráveis e consistentes.
5. RECOMENDAÇÃO:
A embolização da artéria brônquica está indicada para tratamento de sangramento
agudo maciço (entre 300 e 600 ml) secundário à hemoptise por diversas causas.
OBS: As Embolizações Percutâneas são procedimentos que constam no ROL da Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Por existir uma regulamentação sobre a liberação dos
códigos, não fizemos avaliação de eficácia e efetividade.
Esta revisão teve como objetivo exclusivo estabelecer critérios de indicação para estes
procedimentos. Fica a ressalva que os estudos encontrados para estabelecimento destes
critérios foram, em sua maioria, trabalhos de fraca evidência científica: relatos de casos, série
de casos, revisões narrativas e opinião de especialistas em forma de protocolos de utilização.
10
REFERÊNCIAS
1. Turner JH, Ray Jr., CE. Embolization, hemorrhage. Acesso em: 28 dez. 2009.
Disponível em: http://emedicine.medscape.com/article/419511-overview.
2 . Yoon W, Kim JK, Kim YH, Chung TW, Kang HK. Bronchial and nonbronchial
systemic artery embolization for life-threatening hemoptysis:
a comprehensive review. RadioGraphics 2002; 22:1395–409.
3. Park HS, Kim YI, Kim HY, Zo JI, Lee JH, Lee JS. Bronchial artery and
systemic artery embolization in the management of primary lung cancer
patients with hemoptysis. Cardiovasc
Intervent Radiol 2007; 30(4): 638-43.
4. Barben J, Robertson D, Olinsky A, Ditchfield M. Bronchial artery embolization
for hemoptysis in young patients with cystic fibrosis. Radiology 2002; 224:
124-30.
5. Goh PYT, Lin M, Teo N, Wong DES. Embolization for hemoptysis: a six –year
review. Cardiovasc Intervent Radiol 2002; 25(1): 17-25.
11
ANEXO 1
Resumo do Processo de Solicitação:
Tecnologias:
Embolização da artéria brônquica.
Indicações:
Tratamento das hemoptises maciças.
Caracterização da tecnologia
Embolização seletiva é um procedimento minimamente invasivo feito por acesso
percutâneo à árvore vascular seguido por cateterismo seletivo e embolização do
órgão-alvo permitindo tratar hemorragias de diversas causas, tumores benignos e
malignos, plaquetopenia, além de facilitar intervenções cirúrgicas quando indicado.
Como vantagem possui baixo risco de complicações, sendo de mais rápida
recuperação se comparado à intervenção cirúrgica.
Dados do processo
Solicitante Dr. Gustavo de Moraes Ramalho em 07/04/2009 sob o protocolo 157394.
Hemodinamicista do Hospital Monte Sinai de Juiz de Fora.
12
ANEXO 2
LEITURA COMPLEMENTAR - AGENTES EMBÓLICOS
Autor: Nestor Hugo Kisilevzky
Especialista em Radiologia Intervencionista
[email protected]
De forma geral, qualquer material que seja biocompatível e biotolerável pode ser
utilizado como agente embólico. Ao longo dos anos varias empresas de produtos
médicos produziram numerosos tipos de insumos para serem utilizados como
agentes embólicos. Os “embolizantes” podem ser agrupados de várias maneiras:
pelas suas características físicas, pelo tempo de duração da oclusão que provocam,
pelo nível de oclusão que provocam (proximal ou distal), pela facilidade do seu
manuseio, pelo tipo de condutor que requerem (cateter regular ou microcateter), pelo
seu custo e disponibilidade.
Características físicas:
•
Agentes particulados (gelfoam, Polivinil-Alcool PVA, microesferas);
•
Espirais metálicas (de aço inox, de platina, de tungstênio) com ou sem fibras,
com controle de liberação ou de liberação livre;
•
Fluidos (álcool, histoacryl, Onyx, Glubran, outros esclerosantes);
•
Balões destacáveis e cateteres com balão de oclusão (tipo Fogarty).
Com exceção dos fluidos esclerosantes, os agentes embólicos agem provocando
obstrução mecânica e a ativação da agregação das plaquetas e dos mecanismos de
coagulação próprios do paciente. Portanto, há que se considerar que as alterações
da coagulação bem como a trombocitopenia podem sempre comprometer a eficácia
da embolização.
Tempo de oclusão: Existem agentes que provocam oclusão temporária (cateter
com balão de oclusão), agentes reabsorvíveis que provocam uma oclusão de curta
duração (partículas de gelfoam) e agentes que provocam oclusão permanente (PVA,
coils, balões, fluidos e esclerosantes em geral, etc.).
13
Nível de oclusão: Este é um aspecto fundamental da emboloterapia e é um dos
fatores que mais influencia a escolha do agente embólico. O objetivo pode ser
embolizar o vaso a nível capilar, como acontece em geral com os tumores,
malformações arteriovenosas (MAVs) ou fístulas AV ou pode-se pretender uma
embolização de ramos principais como no trauma de lesões arteriais. É necessário
que se tenha sempre em mente que a utilização de fluidos ou partículas muito
pequenas pode provocar duas complicações que devem ser evitadas: a isquemia e
necrose de tecidos fora do alvo da embolização e a passagem do agente embólico
para o sistema venoso com conseqüente embolização pulmonar.
Tipo de condutor: Os microcateteres são um exemplo da evolução tecnológica que
a indústria promoveu na área de emboloterapia. Na atualidade, há mais de 40 tipos
diferentes de microcateteres. A vantagem dessa ferramenta é que os cateteres
permitem alcançar áreas cada vez mais distantes da anatomia vascular humana.
Isto tem sido desenvolvido principalmente na área de neurorradiologia em virtude da
extensa rede vascular do sistema nervoso central que condiciona a necessidade de
chegar bem próximo da lesão (cateterismo superseletivo) com intuito de se evitar a
embolização fora do alvo. Os microcateteres são fundamentais para acesso por
tortuosidades acentuadas e irregularidades dos vasos e para lidar com variações
anatômicas. Por terem um diâmetro, em relação aos cateteres regulares, eles
ocupam menos espaço dentro da luz vascular, portanto, possibilitam um fluxo maior
nesta área o que deve ser considerado na escolha do agente embólico. Pode-se
dizer que, em geral, os microcateteres provocam menos espasmo em alguns
territórios vasculares quando comparados aos cateteres angiográficos regulares.
Muitos casos de embolização não poderiam ser realizados sem os microcateteres.
Há agentes embólicos para serem utilizados com cateteres regulares e outros
específicos para serem usados somente com microcateteres.
Facilidade para manuseio: alguns agentes são de utilização muitos simples,
principalmente quando o objetivo é fazer uma embolização não seletiva; é o caso
dos cateteres com balão de oclusão, do gelfoam ou alguns tipos de espirais. Há
outros agentes que requerem um manuseio mais cuidadoso como, por exemplo, a
utilização de histoacryl, onyx, álcool, balões destacáveis e espirais do tipo GDC,
hidrocoils ou similares.
14
Tipos de Agentes Embólicos
Gelfoam: É uma esponja gelatinosa, não tóxica, comumente utilizada para
hemostasia em cirurgias. Este material funciona ativando a agregação plaquetária e
a cascada da coagulação. Adicionalmente, induz a inflamação da parede vascular. O
Gelfoam é vendido na forma de placas de diferentes tamanhos e espessuras; como
embolizante pode ser utilizado com várias técnicas: injetado através do cateter, em
partículas ou fragmentos cortados com tesoura com tamanho de 1 ou 2mm que são
misturados numa solução com contraste e injetados através do cateter pela força
hidrostática gerada por uma seringa pequena (1 – 3cc); em tampones ou torpedos
de dimensões maiores que são colocados no bico da seringa ou no próprio cateter
para sua injeção; ou fragmentos maiores misturados com contraste através de um
sistema de duas seringas e uma chave de três vias até se obter uma pasta
homogênea. É um agente re-absorvível que provoca oclusão temporária,
possibilitando a re-canalização ao redor 3-6 semanas. Isto tem vantagem em
situações onde se requer uma oclusão vascular temporária com preservação da
vascularização original. É o caso de situações como o trauma pélvico, a hemorragia
pós-parto, o priapismo ou hemorragia digestiva decorrente de doença péptica. A
injeção de Gelfoam deve ser realizada sob pressão constante para evitar que aja
refluxo e eventualmente, migração do material para vasos que não sejam o alvo.
Embora o Gelfoam seja injetado comumente através de cateteres regulares 4 ou 5F,
pode também ser injetado através de microcateteres. Isto requer a preparação
adequada de fragmentos bem pequenos e tempo mais prolongado para a injeção.
Fragmentos de Esponja Hemostática
Gelfoam (Figura1)
15
Polivinil-Alcool (PVA): é um polímero derivado do petróleo parecido com o PVC,
que produz oclusão vascular permanente. O PVA causa obstrução mecânica direta e
induz uma reação de tipo corpo estranho e formação de tecido de granulação.
Embora considerado com um agente que provoca embolização permanente sabe-se
que com o tempo (meses ou anos) existe recanalização de vasos embolizados com
PVA. É comercializado em forma de partículas secas com tamanho de 50 a 2000
mícra, o que permite a sua adequação para diferentes situações clínicas. Este
agente é injetado através de cateter em forma de suspensão. As partículas são
misturadas com solução salina e contraste numa cuba ou através de duas seringas
e uma chave de três vias. O PVA clássico é obtido raspando placas ou blocos de
material plástico inerte. O material resultante é passado por diversas peneiras para
separação das partículas por tamanho. As partículas de PVA assim obtidas têm
forma irregular e tendência de flocular em solução. Por isto costumam provocar
acúmulos ou grumos nos vasos e como conseqüência, obstrução mais proximal do
que o desejado. Pode também provocar entupimento de cateteres, principalmente
de microcateteres com diâmetro interno reduzido (0,018 –0,021). Para evitar isto é
aconselhável que antes de injetar pelo cateter, o PVA seja agitado em sua
suspensão para se obter uma solução uniforme. Como qualquer material
particulado, quanto maior sua diluição, maior será a facilidade de injeção. O PVA é
mais utilizado para embolização de tumores (fígado, rim, mioma, meningiomas,
glomus, etc), lesões brônquicas, epistaxe ou para devascularização pré-operatória
de outras lesões. Recentemente algumas companhias como a Boston Scientific e a
Terumo lançaram no mercado um PVA esférico que tem as mesmas propriedades
do PVA clássico, mas com a vantagem de ter uma forma regular.
Partículas de PVA (Figura 2)
16
Embosferas de gelatina: são esferas calibradas com precisão, hidrofílicas, não reabsorvíveis fabricadas de um co-polímero acrílico conectado de forma cruzada com
gelatina.
Isto
outorga
à
partícula
uma
importante
característica:
sua
compressibilidade e recuperação da forma; isto é, pode ser injetada através de
microcateteres adquirindo uma forma cilíndrica e quando liberada na luz vascular
recupera rapidamente a sua forma esférica. As esferas são comercializadas no
Brasil em vidros contendo 2cc de esferas diluídas em 3cc de solução salina e com
calibres variáveis de 150 a 1200 mícra. Há recomendação para diluir cada vidro de
esferas com 3 a 5cc de contraste. As esferas devem permanecer pelo menos 5
minutos em contato com o contraste para aumentar o seu poder de flutuação. Por
suas características físicas (forma regular e compressibilidade) a esfera consegue
tamponar distalmente o leito vascular, portanto, uma boa escolha do tamanho é
fundamental para evitar uma embolização fora do alvo. Outra característica que
deve ser considerada é que a esfera costuma sofrer uma re-distribuição após
obstruir o leito vascular. Assim, antes de dar por concluída uma embolização com
esferas calibradas recomenda-se esperar 5 minutos e fazer um novo controle
angiográfico para verificar se o nível da embolização ficou mantido. As embosferas
são utilizadas para embolizar mioma uterino, tumores de fígado e tumores
hipervascularizados em geral.
Esferas calibradas de gelatina (Figura 3)
Espirais Metálicas: conhecidas também como “coils” , foram idealizadas na década
de 70 por Gianturco, Anderson e Wallace. Consistem em fragmentos de fio guia de
17
aço inox ao qual foi adicionado fibras de lã. Ao longo dos anos sofreram numerosas
modificações sendo que na atualidade há coils construídos de diversos metais e
quase todos os tamanhos de 2 a 30 mm e com fibras de seda, poliéster ou dacron
tecidas ao coil para aumentar sua trombogenicidade. Os coils são comercializados
dentro de estojos ou bainhas metálicas cilíndricas que se adaptam ao extremo do
cateter. Há várias configurações: cilíndrica, cônica, espiralada, etc. Os coils
produzem oclusão focal e permanente mantendo integra a porção distal do vaso. A
oclusão provocada pelo coil se assemelha à produzida por uma ligadura cirúrgica. O
tamanho da espiral deve corresponder, com precisão, ao tamanho do vaso que será
embolizado; isto porque uma espiral de tamanho menor irá migrar distalmente e uma
espiral de tamanho maior provocará a retração do cateter com liberação do coil fora
da área desejada. Os coils de tamanho maior que o vaso não poderão também
adquirir a sua configuração pré-determinada, reduzindo assim sua eficácia
trombogênica. Em geral existem coils para serem introduzidos através de cateteres
regulares com luz interna de 0,035 ou 0,038 polegadas e outros produzidos para se
utilizar com microcateteres e com diâmetro do fio de 0,018 polegadas. Os coils
podem ser introduzidos através de dois sistemas diferentes: empurrados por um fio
guia de diâmetro similar (0,035 ou 0,018) ou empurrados pela força hidrostática de
uma seringa. A utilização de espirais implica necessariamente que a ponta do
cateter esteja posicionada exatamente no local onde se deseja interromper o fluxo.
Uma desvantagem dos coils é a possível recanalização do vaso embolizado. Para
evitar isto é recomendável a colocação de vários tamanhos diferentes de coils na
forma de ninho e assim produzir um êmbolo compacto. Alguns coils como os
Nester® e Tornado® (ambos da Cook) podem ajudar neste sentido. Esses coils têm
uma configuração espiralada (Nester®) ou helicoidal (Tornado®) que permitem um
tamponamento denso de vários outros coils introduzidos na seqüência. Coils
compatíveis com microcateteres têm sido disponibilizado por varias empresas. Além
dos Tornado® (Cook), existem os Vortx® (Boston Scientific) que são mais duros e
geralmente mais úteis como primeiro coil. Também existem os Trufill® (Cordis). A
necessidade da segurança nas embolizações de neurorradiologia trouxe ao mercado
os coils com controle de liberação. Estes coils estão unidos a uma guia introdutora e
somente se separam desta através de um mecanismo de liberação acionado pelo
operador quando estão na posição correta. Na atualidade existem também, espirais
metálicas com controle de liberação mecânica para utilização no território periférico.
18
Essas espirais são fabricadas e comercializadas no Brasil pela empresa Braile
Biomédica. As espirais metálicas são freqüentemente utilizadas para ocluir lesões
vasculares decorrentes de traumas, aneurismas, fístulas AV pulmonar, etc.
Diferentes tipos de espirais Metálicas (Figura 4)
Balões: Os balões destacáveis de Serbinenko® e Debrun® são minúsculas bolsas
de látex, que são adaptadas à ponta de um microcatéter próprio. Estas bolsas, ainda
vazias, são levadas até o local a ser ocluído na ponta do seu cateter, por dentro de
um cateter guia geralmente de calibre 6 ou 7F.. São, então, insufladas com
contraste, e, a seguir, destacadas por outro catéter telescopado que desliza sobre o
primeiro (técnica de Debrun). O balão tem uma válvula que impede a sua deflação
quando se desprende. Balões causam oclusão mecânica com formação de trombos
proximal e distalmente ao balão. As vantagens deste material incluem sua precisão
para liberação e a possibilidade de retirada. A desvantagem é que o balão pode se
desprender acidentalmente causando embolização fora do alvo. Esses balões são
os dispositivos mais adequados para o fechamento das fístulas AV com alto fluxo.
Balão Destacável de Látex (Figura 5)
Cateteres de oclusão: são cateteres de dupla via que têm um balão de látex no seu
19
extremo, portanto, diferentes dos cateteres para angioplastia. A sua via central
facilita a correta e rápida colocação sob fio guia. São muito úteis para testes de
oclusão sem risco de desprendimento acidental do balão. Também podem ser
salvadores como tamponamento temporário em situações de hemorragias agudas
como
no
trauma
acidental,
perfuração
de
vasos
durante
procedimentos
endovasculares, durante o parto em pacientes com alterações placentárias (placenta
prévia), etc. Outra utilidade é o seu uso para evitar refluxo de substanciais
quimioterápicas ou esclerosantes.
Cateteres com balão de oclusão (Fig. 6)
Substâncias esclerosantes: o Álcool absoluto é o esclerosante mais utilizado como
agente embólico. O álcool age por desnaturação e precipitação de proteínas e
destruição do endotélio o que resulta em trombose e oclusão vascular definitiva. A
oclusão vascular ocorre desde a artéria principal até o capilar. Em geral os
esclerosantes são extremamente tóxicos e devem ser usados com cuidado. O
grande desafio quando se utiliza este fluído é controlar a sua difusão. A sua injeção
pode ser feita através de um balão de oclusão para evitar refluxo para o vaso
portador. O álcool absoluto tem sido muito usado para produzir ablação renal em
pacientes com tumores ou hipertensão, em programa de hemodiálise. Outra
aplicação que tem ganhado muitos adeptos é o tratamento de malformações AV.
Outras substancias esclerosantes incluem: sotradecol (tetradecil sulfato de sódio)
glicose hipertônica, contraste quente, oleato de etanolamina e etilene vinil álcool. A
ação da glicose hipertônica a 50% se deve à sua hipertonicidade em relação ao
território vascular, onde é injetada. A eficácia dos esclerosantes é maior no sistema
venoso, por isso são preferidos no tratamento das varizes esofagianas e das
microvarizes periféricas. O etilene-vinil álcool (Onyx®) é um novo esclerosante fluido
que consiste num polímero misturado com metrizimide ou tântalo em uma base de
dimetil sufoxide (DMSO). O material pode ser injetado através do cateter e em
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contato com o sangue o DMSO difunde para fora da solução permitindo que o
polímero de etilene-vinil álcool precipite com formação de uma massa esponjosa que
age com embolo compacto provocando oclusão mecânica direta. Uma vantagem do
Onyx® é que, por não ser uma substancia adesiva, não há risco de colar o cateter.
O seu uso esta restrito a embolização de aneurismas cerebrais e malformações.
Formação da massa de Ônix quando injetado através do cateter (Fig. 7)
Substâncias adesivas: A mais utilizada é o Histoacryl® (B. Braun). Trata-se de
substância que é injetada sob a forma líquida e se polimeriza e endurece quando
entra em contato com soluções iônicas (soro, sangue) Para retardar o tempo de
polimerização, o Histoacryl® é misturado com lipiodol em concentrações variáveis
de 1:2 (1 de histoacryl® 2 de Lipiodol = 33%) até 1:5. O tempo de polimerização
depende da concentração desta mistura. A utilização de histoacryl® demanda
numerosos cuidados. Para começar, nenhum material como agulhas, seringas ou
torneiras que tenham estado em contato com soro devem ficar no campo de trabalho
para evitar que aja polimerização precoce. O cateter por onde será injetada a
mistura deve ser intensamente lavado com solução de glicose 5 ou 10 %. A
distancia que o histoacryl® irá alcançar dentro da circulação após injetado é um
evento complexo que depende a concentração e viscosidade da mistura com
lipiodol, da velocidade do fluxo do vaso e da técnica de injeção. O histoacryl® tem
sido bastante utilizado para embolizar malformações AV, pseudoaneurismas,
arcadas vasculares e varizes esofagianas. Outra substancia adesiva utilizada para
embolização é o Glubran® (Ciclomed). É um monômero derivado do cyanoacrilato,
com características adesivas semelhantes ao Histoacryl®, porém mais homogêneo e
com capacidade de difusão mais compacta. A maneira de usá-la é semelhante ao
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Histoacryl®.
Tubo contendo 0,5 ml de Histoacryl (azul) e
ampola de Lipiodol para diluição (Fig.8)
Condutores de Agentes Embólicos
Para a correta técnica de embolização, além da escolha do agente embólico, há o
cuidado com a decisão do tipo de cateter que irá conduzir e liberar este agente.
Existem basicamente dois tipos de cateteres: os regulares para realizar angiografias
e os microcateteres. A diferença entre eles é o seu calibre. Os cateteres regulares
se apresentam com calibre superior a 4F (3F = 1mm) enquanto os microcateteres
apresentam diâmetro igual ou inferior a 3F (1mm). Os cateteres regulares de
angiografia podem ser construídos de diferentes tipos de material plástico e podem
apresentar várias formas, tamanhos e configurações para se adequar à anatomia
vascular de cada região.
Diferentes configurações dos cateteres regulares de angiografia (9)
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É importante a certeza de que o agente embólico escolhido será depositado no
ponto alvo através do cateter que se pretende utilizar. Partículas grandes de
Gelfoam ou PVA podem rapidamente ocluir a luz reduzida de alguns microcateteres.
Quando se pretende usar espirais (coils) metálicas deve-se lembrar de não devem
ser usados cateteres com furo distal lateral para evitar que a espiral saia pelo lado
ou fique preso ao cateter. Cateteres de poliuretana são em geral incompatíveis com
o uso de espirais metálicas já que o coeficiente de ficção é muito alto e a espiral
pode ficar presa dentro do cateter. Cateteres hidrofílicos e microcateteres devem ser
permanentemente lavados com soro para minimizar a fricção tanto quanto possível.
A lavagem irá também diminuir a chance de oclusão do cateter por material
embólico. Quando se pretende usar coils, é importante inicialmente passar a guia
que ira empurrar os coils para comprovar a assertividade da configuração do cateter.
Se o cateter não estiver numa posição estável poderá se deslocar
durante a
passagem do coil podendo provocar a sua migração ou embolização fora do alvo. O
mesmo deve ser considerado quando se pretende a injeção de micro coils através
de microcateteres em posição instável. É importante sempre usar introdutores
vasculares quando se realiza uma embolização. Assim, se houver entupimento, o
cateter poderá ser retirado sem perder o acesso vascular. Quando se comprova
entupimento do cateter o mesmo deve ser retirado do vaso. A tentativa de
desentupimento brusco de um cateter com material embólico no seu interior torna
imprevisível o destino deste material. A obstrução da luz de alguns microcateteres
no seu extremo distal pode provocar certa dilatação quando se injeta sob pressão
para tentar desobstruí-lo. Isto pode ser causa de lesão vascular indesejada.
Os microcateteres e microguias são ferramentas que a evolução tecnológica
produziu para emboloterapia e profissionais que empregam estas técnicas devem ter
intimidade absoluta com o seu uso e manuseio. De forma geral existem dois tipos de
microcacteteres: o fluxo dependente e os hidrofílicos de baixo perfil. Os
microcateteres fluxo dependente são de uso quase exclusivo da neurorradiologia.
Estes microcateteres são construídos com um corpo trançado com arame (braided)
e uma ponta mole sem trançado (unbraided) de cumprimento variável. Isto permite
que sejam conduzidos dentro de vasos com calibre reduzido e com tortuosidade
acentuada. O seu diâmetro interno é também reduzido geralmente variando entre
0,011 e 0,013 polegadas (279 – 330 mícra) que pode colapsar quando o cateter
passa por curvaturas acentuadas. Estes microcateteres podem ser empregados
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para injetar partículas menores de 300 mícra (bem diluídas) e fluídos (histoacryl®).
Exemplos de cateteres fluxo dependente são: Spinnaker Elite® 1,5 e 1,8
(Target/Boston Scientific), UltraFlow HPC® (MTI) e Magic® 1,8 – 1,5 e 1,2 (Balt). Os
microcateteres hidrofílicos de baixo perfil são mais úteis para embolização no
território extra-craniano. Construídos em material hidrofílico, têm um trançado de
arame (brained) em todo o seu cumprimento. Isto lhes confere maior navegabilidade
dentro dos vasos evitando a redução da sua luz em curvaturas e tortuosidades
abruptas. O extremo distal do microcateter varia de 2,4 a 3 F (<1mm) o que os torna
passíveis de serem introduzidos por dentro de cateteres regulares 5F. O seu
diâmetro interno pode variar de 0,015 a 0,028 polegadas. (veja quadro) O diâmetro
interno é um grande diferencial, não somente para facilitar a liberação de material
embólico, mas também para possibilitar a injeção de contraste em suficiente
quantidade, ritmo e pressão para realizar um estudo angiográfico. Exemplos de
microcateteres hidrofílicos são: Turbo Tracker®, Renegade®, Excelsior®, Excel®
(Target/Boston Scientific) Transit®, Rapid Transit®, Prowler® (Cordis), Microferr®
(Cook), Embocath® (Biosphere Medical), Reabar® (MTI).
Microcateter para emboloterapia (10)
Alguns Microcateteres disponíveis
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Referência:
1 - http://www.embolution.com.br/emboloterapia/emboloterapia.html. Último acesso
em 11/01/2010.
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