Perfil dos Trabalhadores Informais Urbanos Relacionados aos Trabalhadores da Construção Civil na Cidade de São José dos Campos - SP. ¹Silva, Rafael Lúcio da. ¹Altobeli, Paula Lage Mila ni. Orientador Prof. Mestre. ¹Ribeiro, Gilson dos Anjos ¹Universidade do Vale do Paraíba: UNIVAP/ Faculdade de Educação, curso de Geografia, Jardim Aquarius – São José dos Campos - SP. e-mail: [email protected] [email protected] Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo traçar o perfil socioeconômico dos trabalhadores informais da construção civil na cidade de São José dos Campos - SP. Nas últimas décadas a construção civil tem configurado o espaço urbano em São José dos Campos, transformando não só a paisagem, mas modificando as relações sociais em função de um mercado de trabalho cada vez mais segregador, que intensifica através desta atividade o contingente de trabalhadores que se inserem na informalidade. Este segmento caminha paralelo à economia formal e, na sua grande maioria, caracteriza a realidade da pobreza urbana desestruturada pela falta de emprego, pelo aumento da violência e pelo difícil acesso as Políticas Públicas, devido à ingerência do Estado. Esta parcela da população excluída encontra-se na informalidade devido às características desta atividade que são: Baixo nível de escolaridade, sendo a maioria migrantes, que encontram no trabalho informal a sua única fonte de renda. Palavras-chave: Construção Civil, Trabalho Informal, Economia. Área do Conhecimento: Geografia Introdução O mercado de trabalho brasileiro expandiu-se significativamente com a implantação da indústria no país nas últimas quatro décadas. Se na década de cinqüenta do século vinte, a economia brasileira restringia-se à atividade industrial, no momento atual há uma diversidade de atividades econômicas e moderno parque industrial, exigente no que se refere à qualificação e salários, com um número maior de empregos diversificados. A industrialização brasileira foi fortemente acompanhada por um acelerado processo de urbanização, mais precisamente, nas décadas de 1940 e 1950. Somado a este processo de industrialização ocorreu também o êxodo rural, o qual trouxe um grande contingente de pessoas expulsas do campo para as cidades brasileiras com a perspectiva de conseguir trabalho e qualidade de vida. Nesse contexto migratório, aqueles que não conseguiam entrar no mercado de trabalho formal acabavam encontrando alternativas profissionais no chamado subemprego. A partir dos anos 1990, com o surgimento de novas tecnologias e sua incorporação ao processo produtivo industrial e no setor de serviços, um número de trabalhadores sem capacitação profissional adequada, não consegue se fixar no mercado profissional formal, por não atender as novas exigências do mercado, formando uma nova classe de excluídos. Neste sentido, a discussão presente neste artigo gira em torno dos trabalhadores informais da construção civil, aqueles que não possuem registro em carteira. Metodologia O trabalho de pesquisa seguiu uma metodologia descritiva e exploratória, que tem como objetivo principal a descrição das características de uma determinada população, aqui denominada de trabalhadores informais ligados à construção civil. Para atingir os objetivos propostos foi utilizada a técnica de coleta de dados utilizando-se como amostra a aplicação de um formulário para 51 trabalhadores em forma de entrevista, com 26 questões, sendo 05 abertas e 21 fechadas e anotações extras em forma de diário. O número de entrevistados está relacionado ao grau de dificuldade de acesso a estes trabalhadores que não são quantificados pelo Poder Público Municipal. Resultados O crescimento econômico da cidade de São José dos Campos, localizada no Estado de São Paulo, segue o modelo tradicional de industrialização e urbanização ocorridas no Brasil: uma cidade de XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 médio porte, com quase 600 mil habitantes, localizada entre as duas maiores metrópoles do País, São Paulo e Rio de Janeiro, considerada um dos maiores pólos tecnológicos do Brasil. Como toda cidade que passou por este processo, os problemas urbanos são inúmeros. Os trabalhadores da construção civil sempre estiveram presentes neste contexto da construção do espaço urbano em São José dos Campos. Esta análise discute as causas que levaram estes trabalhadores a informalidade, tendo em vista que houve um aumento de construtoras na cidade, nas quais eles poderiam estar registrados, inseridos no mercado formal. Para melhor compreender esta realidade, foi traçado o perfil socioeconômico desta categoria de trabalhadores inseridos na informalidade, facilitando a análise em relação aos motivos que os levaram a se encaixar neste tipo de trabalho. Os trabalhadores informais da construção civil não possuem registro em carteira, trabalham por conta própria. Dos 51 entrevistados, todos são do sexo masculino, característica ainda comum neste tipo de atividade por ser um serviço que exige além da força, habilidades ainda comuns ao sexo masculino. GRAU DE INSTRUÇÃO % Estrutura Etária % Analfabetos 7,84 20 a 25 anos 19,6 1º grau 27,46 26 a 30 anos 17,7 incompleto 1º grau 19,60 31 a 35 anos 17,7 completo 2º grau 3,92 36 a 40 anos 5,8 incompleto 2º grau 39,22 41 a 45 anos 17,7 completo 3º grau 0,0 46 a 50anos 9,9 incompleto 3º grau 1,9 51 a 55 anos 11,6 completo Tabela 1.0 – Grau de Instrução/Estrutura Etária. De acordo com a tabela 1.0, o grau de instrução dos trabalhadores da construção civil é baixo, embora o nível de exigência em relação ao grau de instrução para esta atividade não seja tão importante, mas sim a habilidade. Apesar de terem a opção de acesso ao trabalho formal pelas empreiteiras, 60,78% dos entrevistados disseram que o desemprego é a principal causa de estarem na informalidade, 23,52% consideram ter mais liberdade ao trabalharem por conta própria e 19,60% responderam que preferem trabalhar na informalidade por ganharem mais. Diante dos dados, é importante que seja analisado dois aspectos: a atual fase do capitalismo que exige uma mão de obra cada vez mais especializada e um nível de instrução elevado, contribui para o aumento da dificuldade desses trabalhadores no acesso ao mercado formal em outras áreas. Para estes trabalhadores da construção civil a busca por novas e melhores oportunidades de emprego se torna cada vez mais difícil, por outro lado à razão destes trabalhadores não ingressarem no mercado formal na mesma atividade, está relacionada ao fato de 7,84 serem analfabetos, portanto, a dificuldade de ingresso no trabalho formal no mesmo setor. Quando perguntado se já trabalharam alguma vez registrados, 88,24% dos entrevistados responderam que sim, e 11,76% responderam que não. Ao verificar os setores em que trabalharam constatou-se que: 33,33% trabalharam na construção civil, 29,42% na indústria, 13,73% no comércio e 23,52% em outras atividades. . PROCEDÊNCIA % Região Nordeste 23,5 Região Sul 7,8 São Paulo 13,7 Minas Gerais 13,7 Cidades do Vale do Paraíba 3,9 São José dos Campos 35,5 Outros 1,9 Tabela 2.0 – Procedência Em relação à procedência constatou-se que 64,5% dos trabalhadores entrevistados são de outras regiões do Brasil, isto revela uma das características da informalidade nos países subdesenvolvidos, nos quais o processo de industrialização acelerado paralelamente à urbanização vem reduzindo, mas ainda continuam nas cidades de médio porte como São José dos Campos. Apesar da porcentagem de pessoas procedentes de outras áreas, o número de trabalhadores informais da construção civil de São José dos Campos é alto decorrente do baixo nível de instrução dessas pessoas. A atividade industrial assume o papel de comando na produção espacial (CARLOS, 1990). A indústria articula e subordina outras parcelas do espaço, pois, tanto o mercado de matérias-primas e auxiliares, quanto o mercado de destino dos produtos, necessariamente ultrapassa o nível espacial local, causando assim o deslocamento da população rural para a cidade. A atração que a cidade moderna, desenvolvida, exerce sobre as populações rurais e cidades de pequeno porte, é fruto da expectativa por melhores condições de XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 vida, já que esta oferece uma melhor infraestrutura para tal anseio. Os migrantes, ao se instalarem na cidade de São José dos Campos, provocaram um verdadeiro aumento no suprimento de força de trabalho com baixa qualificação, instalando-se assim uma grande diferença entre o custo da mão-de-obra qualificada e não qualificada, limitado pela legislação trabalhista e pelo salário mínimo. Portanto, a relação entre a população pesquisada, predominantemente formada por jovens, e o fato de estarem na informalidade através da construção civil, passa pela necessidade de se manter economicamente e pela busca da sobrevivência, relação esta que é confirmada quando verificado que 76,47% têm nesta atividade a única fonte de renda. Em relação à renda na atividade exercida por eles, 66,66% dos trabalhadores informais entrevistados, afirmaram que ganham de um a dois salários mínimos por mês, na sua maioria migrantes, o que revela que além do baixo nível de instrução a habilidade em trabalhar nesta atividade ainda não foi desenvolvida, o que dificulta também o ingresso no trabalho formal. Dos entrevistados 31,38%, recebem de três a cinco salários mínimos e 1,96%, recebem de seis a oito salários mínimos, nesta subcategoria estão inseridos os trabalhadores com habilidades mais específicas como: gesseiros, eletricistas e encanadores. Quando perguntado sobre quanto tempo encontram-se na informalidade, 23,53%, responderam que está a menos de um ano, 31,39% encontram-se de um a cinco anos, 19,60% está de cinco a dez anos, 5,88% está de onze a quinze anos, e 9,80% encontram-se na informalidade de quinze a vinte anos. O principal motivo entre os que estão na informalidade há menos tempo está relacionado ao desemprego, já que 88,24% já trabalharam registrados. Isto vem confirmar a afirmação feita por Ribeiro (2001), que há expulsão dos trabalhadores do emprego formal por falta de formação e baixo nível de instrução. Discussão A partir da década de 1980, o tema trabalho informal passou a constar na literatura especializada e várias causas foram levantadas como causadoras da expansão da informalidade, tais como: o reflexo do desemprego, ou a não inclusão da mão-de-obra em outro setor da economia formal. Nos últimos anos tem-se discutido muito este assunto, desde sua conceituação e o modo como ele se definiria na economia. Entre os nomes empregados, podemse citar: economia invisível, paralela, escondida, subterrânea, oculta, imersa, secundária, ilegal, não oficial ou criptoeconomia (criptos-radical grego que significa escondido, oculto, secreto). Keith Hart in Jakobsen, (2000) definiu economia informal como economia invisível, caracterizando-a como modelo duplo de renda da força de trabalho urbana, baseado na diferença entre emprego assalariado e auto-emprego, a partir de pesquisa realizada em Gana e Quênia, países da África. Esta foi a primeira vez que esta definição aparecia nos relatórios de Programa Mundial de Emprego. O conceito informalidade foi atribuído aos indivíduos autônomos. Paulo Sandroni (1989) definiu economia informal como parte da economia que abrange pequenas unidades dedicadas à produção ou a venda de mercadorias ou produção de serviço. Essas unidades não são constituídas de acordo com as leis vigentes, não recolhem impostos, não mantêm uma contabilidade de suas atividades, utiliza-se de mão-de-obra familiar e seus eventuais salários não são registrados. Para o PREALC (Programa Regional de Empregos para América Latina e Caribe), a economia informal é caracterizada como subemprego, abrangendo os trabalhadores excluídos dos setores da economia moderna, o que caracteriza a pobreza urbana de um país quanto ao crescimento econômico que não corresponde ao crescimento de empregos. Este setor tem crescido, em conseqüência do desemprego ou da não absorção da mão-de-obra. Dan Bawey, in Jakobsen, (2000), aborda a economia informal como transações que estão à margem dos processos formais de distribuição e comercialização; é a parte da economia urbana que não sofre controles oficiais, ou seja, não faz uso da legislação. Ney Prado (1991) conceitua mercado informal como "conjunto de atividades econômicas que o estado de necessidade social ou busca de lucros ilícitos leva a que sejam realizadas informalmente, de modo que não são detectadas, nem consideradas nas contas nacionais”. De acordo com o artigo da revista Mercado de Trabalho - Conjuntura e Análise, por Lauro Ramos e José Guilherme, setor informal inclui os trabalhadores sem carteira assinada e autônomos. O conceito do IBGE sobre o setor informal urbano é o mesmo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), compreendendo “toda atividade em que não há distinção entre o núcleo familiar e o negócio”. O setor informal é formado pelos trabalhadores que trabalham “por conta própria”, ou seja, autônomos, e também pelos empregados sem carteira de trabalho assinada e pelos empregados domésticos. É o contrário do setor formal, considerado o conjunto dos empregados com carteira de trabalho assinada pelo empregador. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 Um outro ponto que está em discussão aqui é o comércio ilícito de drogas, que tem uma verdadeira relação com o trabalho informal. Segundo Milton Santos (1990), o circuito inferior da economia pode ser entendido com vista aos interesses do circuito superior, como oportunidade de apropriação do trabalho desprotegido e intensivo; como forma de burlar leis e a fiscalização instituída e, constituir redes produtivas e comerciais em diferentes escalas geográficas. Conclusão O objetivo desse artigo foi discutir uma categoria de trabalho informal que está vinculada à construção civil no espaço urbano, quanto ao perfil socioeconômico em uma cidade de tamanho médio, como São José dos Campos, que tem os mesmos problemas das grandes cidades do Brasil. De acordo com o PREALC, conceito já citado aqui, estes trabalhadores estão excluídos dos setores da economia formal, situação esta que caracteriza a pobreza urbana de um país. A exclusão se dá, por não acompanhar a revolução técno-científica e o modelo de educação pública que o país oferece, não prepara para estes jovens um ambiente de oportunidades para obterem uma boa formação profissional. Estes trabalhadores se encaixam na informalidade por vários fatores como os já definidos na literatura: não têm carteira registrada e o rendimento é baixo. Em relação ao processo de urbanização brasileira, eles se encaixam no modelo de cidades que sofreram as grandes transformações em conseqüência do processo acelerado de industrialização e por serem prestadores de serviços necessários a este espaço. A relação dessa informalidade com as empreiteiras são os contratos determinados, o que não justifica o registro em carteira, para os trabalhadores informais desta categoria, isto garante o emprego por alguns meses e muitos preferem esta forma de trabalho. Observou-se neste ramo de atividade o trabalho familiar, pois em muitos locais encontram-se pais, irmãos e/ou parentes trabalhando juntos. A migração é um dos principais fatores da informalidade, prova disso é que foi constatado que dos migrantes, 23,5% são nordestinos, o que representa a maioria dos que buscam no Estado de São Paulo melhores salários e melhores condições de vida. Com a pesquisa realizada, observou-se que essa qualidade de vida não é alcançada, pois fica claro o baixo salário pago a esses trabalhadores que optam por ficar nessa atividade por não conseguirem emprego em outros segmentos de trabalho devido o baixo nível de instrução e qualificação, e também por sempre haver emprego nesta área com o avanço da construção civil na região de São José dos Campos. O salário destes trabalhadores é baixo, cobrindo apenas os gastos com as necessidades básicas, situação esta que faz com que muitos deles adquiram seus bens também através da informalidade, e esta realidade é fortalecida devido ao novo padrão de consumo da sociedade, e as exigências de um mundo moderno e globalizado. Estes trabalhadores não têm seguridade social, além da falta de benefícios a segurança e estabilidade socioeconômica, está atrelada ao comportamento do mercado da construção civil. Referências - ANTUNES, R. Adeus ao Trabalho. 4º. ed. São Paulo; Cortez, 1997. - CACCIAMALI, M.C. 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