ESTABELECIMENTO DE LEGUMINOSAS ARBUSTIVAS EM

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ESTABELECIMENTO DE LEGUMINOSAS
ARBUSTIVAS EM CONSÓRCIO COM PASTAGENS
DE B. DECUMBENS Stapf.
Gabriel Santana da Silva1, José Carlos Batista Dubeux Jr2,5, Vanessa Sabrina Melo3, Mário de Andrade Lira Júnior2,5,
Gislayne Veruska Camelo do Nascimento6, Francisco Araújo Machado3, Mário de Andrade Lira4

Introdução
A maioria dos sistemas de produção de bovinos, em países
de região tropical, utiliza pastagens para oferta de alimento
para os animais, no entanto, estas pastagens são em sua
maioria constituídas apenas por gramíneas, estabelecidas
através do uso de práticas que acarretam prejuízos ambientais
com conseqüente comprometimento da sustentabilidade da
pecuária bovina.
De acordo com o IBGE [1] as pastagens ocupam 174
milhões de hectares no Brasil, e segundo diversos autores
mais de 50 % destas áreas estão em algum grau de
degradação) [2 e 3].
A recuperação de pastagens através da aplicação de
fertilizantes nitrogenados pode tornar-se inviável devido a
seus altos custos. Deste modo, a introdução de leguminosas
com capacidade de fixar nitrogênio surge como uma
alternativa para o fornecimento de N ao sistema solo-plantaanimal, além de aumentar a capacidade de suporte, melhorar
o valor nutritivo da forragem e ampliar a estação de pastejo,
refletindo positivamente na produção de carne e/ou leite [4].
De acordo com Carvalho et al. [5] nos sistemas
agroflorestais pecuários ou silvi-agropastoris, as árvores e
arbustos são componentes da pastagem e contribuem para
alimentação e bem-estar dos animais em pastejo, além de
prestar serviços ambientais através da ciclagem da sua
serrapilheira acumulada sobre o solo e da fixação do
nitrogênio, quando se trata de uma leguminosa.
Segundo Andrade et al [6] embora haja potencial de uso
desses sistemas, é necessário que se conheçam aspectos
relacionados aos conceitos, características e classificação dos
sistemas agroflorestais, as interações entre árvores e demais
componentes do sistema, noções sobre planejamento,
implantação e manejo de sistemas agroflorestais. Diante do
exposto, a proposta deste trabalho é relatar o
desenvolvimento inicial de leguminosas arbustivas de
potencial forrageiro adaptadas as condições edafoclimáticas
da Zona da Mata Norte de Pernambuco através do consórcio
com pastos de gramíneas.
Material e métodos
O experimento foi realizado na Estação Experimental de
Itambé, pertencente ao Instituto Agronômico de Pernambuco
(IPA), localizada na Zona da Mata Norte de PE (07°25’ S e
35°06’ W). A altitude é de 190 m acima do nível do mar,
com precipitação pluvial média de 1300 mm anuais, 70 %
dos quais ocorrendo entre março e julho. A temperatura
média anual é de 25,1°C. O tipo climático é sub-úmido
megatérmico, segundo a classificação de Thornthwaite [7].
O experimento avaliou a introdução de leguminosas
arbustivas em pastos de Brachiaria decumbens. Baseado em
estudos prévios na mesma área e em resultados de literatura,
as leguminosas escolhidas foram o sabiá (Mimosa
caesalpiniifolia Benth.), leucena [Leucaena leucocephala
(Lam.) de Wit], mororó [Bauhinia cheilantha (Bong) Steud],
e gliricídia [Gliricidia sepium (Jacq.) Kunth ex Walp].
As plantas foram multiplicadas mediante a preparação de
mudas, as plântulas foram inoculadas com solução de
inoculante
específico proveniente
da
EMBRAPA
Agrobiologia, exceto o mororó, que foi inoculado com um
inoculante “genérico”. O preparo das mudas foi realizado em
casa de vegetação.
O transplantio foi realizado em meados do período
chuvoso da região, 21 de julho de 2008, quando as mudas
apresentavam desenvolvimento satisfatório, em média de 1215 cm. O plantio das leguminosas arbustivas foi realizado em
fileiras duplas, com espaçamento de 10 m x 1,0 m x 0,5 m.
Cada parcela mede 660 m2 (33 m x 20 m), com três filas
duplas de leguminosa por parcela (Figura1). Os tratamentos
experimentais consistem, além das diferentes associações
gramínea/leguminosa, de dois tratamentos adicionais com
parcela exclusiva da gramínea (Brachiaria decumbens),
sendo um tratamento a gramínea exclusiva sem adubação e o
outro formado pela gramínea adubada com 60 kg N/ha/ano.
Esses tratamentos adicionais visam comparar as parcelas
consorciadas com as de gramíneas exclusivas com relação
aos aspectos de ciclagem de nutrientes. Todas as parcelas
foram adubadas com P e K de acordo com recomendações
baseadas na análise de solo. O delineamento adotado foi o
de bloco ao acaso.
As avaliações foram realizadas a cada 28 dias e foram
avaliadas as seguintes variável-resposta: stand da
leguminosa, altura da leguminosa, persistência da
leguminosa, cobertura do solo, massa de forragem da
gramínea, bem como a composição botânica da pastagem.
O stand de leguminosas foi determinado por meio da
contagem de total das plantas dentro das fileiras duplas. A
altura das plantas média das plantas foi estimada pela
medição de 10 indivíduos, escolhidos ao acaso em cada
fileira dupla, com uso de trena. A composição botânica da
pastagem foi realizada usando o método do peso seco
escalonado (Mannetje e Haydock, 1963). A cobertura do solo
foi realizada mediante a observação de 40 quadrantes de 0,25
m2.
Resultados e Discussões
Os dados obtidos até o momento são parciais, não tendo
sido possível realizar análise estatística dos resultados.
1. Aluno da Graduação em Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, PE. Bolsista do programa PIBIC CNPq/UFRPE. E-mail:
[email protected]
2. Professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. Dom Manoel de Medeiros, S/N, CEP: 52171-030,Tel.: (0xx81)3320-6551, Dois Irmãos, Recife – PE.
3. Aluno do Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia, UFRPE/UFC/UFPB
4. Pesquisador do IPA
5. Bolsista CNPq.
6. Aluna da Pós Graduação em Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, PE. Bolsista do CNPq/UFRPE.
Todavia, resultados médios da avaliação da pastagem de
Brachiaria decumbens onde foram implantadas as
leguminosas arbustivas estão expressos nas Figuras 2 e 3.
Observa-se na Figura 2 que a cobertura média do solo na área
avaliada foi de 70 %. Vale salientar que as leguminosas
foram cultivadas em filas duplas espaçadas de 10,0 m x 1,0 m
x 0,5 m, logo, nas filas duplas devido ao cultivo e aplicação
de herbicidas houve maior área de solo descoberto quando
comparado com a área adjacente de Brachiaria.
Na Figura 3 estão expressos os resultados de composição
botânica da área cultivada com Brachiaria decumbens. Como
era de se esperar, a maior parte da pastagem é composta por
Brachiaria decumbens (87%), havendo uma pequena
proporção (1%) de Brachiaria humidicola. Um fato
importante a destacar, no entanto, é a presença de 12% de
leguminosas herbáceas na área, com o Calopogonium
mucunoides representando 8% da composição botânica total
e o Desmodium, 4%.
As Figuras 4 e 5 apresentam informações relativas ao stand
e evolução da altura das leguminosas estabelecidas na área,
respectivamente. Apesar de não ter sido realizada análise
estatística, a Gliricídia destaca-se em relação às outras
leguminosas em relação ao stand, tendo, as outras espécies
apresentado valores semelhantes. Um ponto importante a
destacar é que em todas as avaliações e para todas as
espécies, o stand é maior que 70% do inicialmente planejado,
demonstrando a eficiência no método escolhido para
estabelecer as leguminosas em área já existente de Brachiaria
decumbens.
Com relação à evolução da altura da planta, observa-se
que as plantas de Mororó apresentaram um crescimento mais
lento que as outras espécies avaliadas, que por sua vez
apresentaram resultados semelhantes para a altura da planta.
Além de possíveis diferenças nas taxas de crescimento,
diferentes estratégias de alocação de biomassa podem resultar
em crescimento diferenciado para parte aérea e raiz.
A contribuição das leguminosas em sistemas de produção
agrícola se destina a manutenção e elevação do nível da
fertilidade do solo, com a adição de nitrogênio ao sistema, e
auxiliar o controle de pragas e moléstias, no controle da
erosão do solo, e na manutenção de áreas de descanso. Em
regiões com limitações ambientais, as leguminosas
contribuem efetivamente para a produção agrícola e
sustentam os sistemas de pastejo dentro da filosofia do baixo
insumo [8].
Em um ecossistema com estação seca definida estimou-se
que associações de gramínea-leguminosa, onde a leguminosa
participa com 30 a 50% do total de forragem disponível, a
fixação de nitrogênio esteve entre 50 a 100 kg/ha ao ano [9].
Entretanto, a quantidade fixada depende do desenvolvimento
e da proporção de leguminosa na área, da fertilidade do solo
e de efeitos climáticos. Segundo os mesmos autores, uma
parte do nitrogênio fixado em pastagens consorciadas tornase disponível para as gramíneas, principalmente através da
decomposição de resíduos das plantas leguminosas e dos
excrementos dos animais em pastejo.
Implicações
A identificação e adequação de leguminosas arbustivas nos
sistemas de produção é ainda um desafio. Até o momento se
podem observar diferenças no crescimento da parte aérea das
leguminosas, com o Mororó apresentando menor taxa de
crescimento. A Gliricídia também se destaca em relação ao
stand, tendo apresentado a menor mortalidade de plantas.
Referências
[1] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
- IBGE [2007]. Censo Agropecuário de 1995-1996.
Disponível
em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuar
ia/censoagro/brasil/tabela1brasil.htm. Acesso em: 28/5/2007.
[2] DIAS-FILHO, M. B. Degradação de pastagens: processos,
causas e estratégias de recuparação. 2a Ed. Belém:
Embrapa Amazônia Oriental, 2005. 173 p.
[3] DIAS-FILHO, M. B. & ANDRADE, C. M. S de. Pastagens no
ecossistema
do
trópico
úmido.
In:
SIMPÓSIO
SOBRE PASTAGENS
NOS
ECOSSISTEMAS
BRASILEIROS, 2, 2005, Goiânia, Anais…Goiânia: SBZ.
2005. p. 95-104.
[4] DUBEUX JÚNIOR, J. C.B.; LIRA, M. de A.; SANTOS M. V. F.
dos et al. Fluxo de nutrientes em ecossistemas de pastagens:
impactos no ambiente e na produtividade. In: PEDREIRA, C.
G. S.; MOURA, J. C.; SILVA, S. C. da et al. Simpósio sobre o
manejo de pastagem – As pastagens e o meio ambiente, 23,
2006. Anais... Piracicaba: FEALQ, 2006. p. 439-506.
[5] CARVALHO, M. M.; XAVIER, D. F.; ALVIM, M. J. Uso de
leguminosas arbóreas na recuperação e sustentabilidade de
pastagens cultivadas. In: CARVALHO, M. M.; ALVIM, M.
J.; CARNEIRO, J. C. Sistemas agroflorestais pecuários:
opções de sustentabilidade para áreas tropicais e
subtropicais. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite; Brasília:
FAO, 2001. p.189–204.
[6] ANDRADE, C.M.S. de; GARCIA, R.; COUTO, L.; PEREIRA,
O.G. Desempenho de seis gramíneas solteiras ou consorciadas
com o Stylosanthes guianensis cv. Mineirão e eucalipto em
sistemas silvipastoril. Revista Brasileira de zootecnia, v.32,
p.1845-1850, 2003 (supl.2)
[7] ENCARNAÇÃO, C. R. F. da. Observações meteorológicas e tipo
climáticos das unidades experimentais da Empresa IPA.
Recife: Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária,
1980. Paginação irregular.
[8] MARASCHIN, G.E. 1996. Produção de carne a pasto. In:
SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 13, 1996,
Piracicaba. Anais... Piracicaba:FEALQ, 1996. p.243-274.
[9] CADISCH, G.; SYLVESTER-BRADLEY, R.; NÖSBERGER, J.
15N based estimation of nitrogen fixation of eight tropical
forage legumes at two levels of P:K supply. Field Crops
Research, v.22, n.3, p.181-194, 1989.
1m
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Leuc ena
S tand (% )
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Mororó
G liricídia
S abiá
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dez /08
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fev/09
Meses
5m
Figura 4. “Stand” de leguminosas arbustivas consorciadas em
pastagens de Brachiaria decumbens Stapf.
33 m
Figura 1. Detalhe da parcela de leguminosas
consorciadas com Brachiaria decumbens.
arbustivas
80
70
60
70,7
Altura (m)
C obertura do s olo (% )
70,9
70,5
70,5
70,3
Leucena
50
Mororó
40
Gliricídia
30
Sabiá
20
10
70,1
69,9
0
69,7
nov/08
69,7
dez/08
jan/09
Meses
fev/09
69,5
S etembro
Outubro
Figura 2. Cobertura do solo em pastagens de Brachiaria decumbens
Stapf. consorciadas com diferentes leguminosas arbustivas; média de
24 unidades experimentais.
C ompos iç ão botânic a média
8%
4%
1%
A
B
C
D
87%
Figura 3. Composição botânica de pastagens de Brachiaria
decumbens Stapf.; A = Brachiaria decumbens; B = Brachiaria
humidicola; C = Calopogonium mucunoides; D = Desmodium sp.
Figura 5. Evolução da altura de plantas de leguminosas arbustivas
consorciadas em pastagens de Brachiaria decumbens Stapf.
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