A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL E A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO: A EXPERIÊNCIA DE SÃO JOÃO DEL-REI LETÍCIA MARIA DE PAIVA1 Resumo: Este ensaio bibliográfico é resultado inicial de uma pesquisa de Mestrado, que pretende investigar a produção do espaço urbano da cidade de São João Del-Rei (MG), e cujo objeto de estudo é a Habitação de Interesse Social. Tem por objetivo refletir sobre os impactos dos atuais programas habitacionais no espaço urbano. Aborda as origens do déficit habitacional no país. Apresenta um breve panorama da Política Habitacional e seus impactos na dinâmica espacial. Discute a problemática habitacional no contexto local. Por fim, ressalta que a análise das políticas de habitação implantadas em São João Del-Rei, permite compreender em parte, a dinâmica da produção capitalista do espaço nesta cidade, e o atual processo de urbanização brasileiro. Palavras-chave: Habitação de Interesse Social, Política Habitacional, Espaço Urbano, São João Del-Rei. Abstract: This bibliographic essay is the initial result of a Master's research, which intends to investigate the production of urban space in the city of São João Del-Rei (MG), and whose object of study is the Social Housing. It aims to reflect about the impact of current housing programs in urban areas. Addresses the origins of the housing deficit in the country. Provides a brief overview of the Housing Policy and its impact on spatial dynamics. Discusses the housing problem in the local context. Finally, it emphasizes that the analysis of housing policies implanted in São João Del-Rei, allows us to understand in part, the dynamic of capitalist production of space in this city, and the current Brazilian urbanization process. Key-words: Social Housing, Housing Policy, Urban Space, São João Del-Rei 1 – Introdução Este trabalho apresenta algumas constatações preliminares de uma pesquisa de Mestrado em desenvolvimento, que busca compreender a dinâmica urbana de São João Del-Rei, cidade de pequeno porte, tendo como enfoque a Habitação de Interesse Social. Almeida (2015) ressalta que as cidades brasileiras se formaram inseridas no modo capitalista de produção, e que o espaço urbano reflete uma contradição fundamental, que se expõe claramente no contexto espacial: o conflito de interesses entre o capital e o social. 1 - Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de São João Del-Rei. E-mail de contato: [email protected] 638 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Esse processo se dá por diferentes sujeitos sociais. No âmbito habitacional, objeto desse estudo, destaca-se o papel do Estado e dos promotores imobiliários. Conforme Corrêa (2002) a ação desses sujeitos esta diretamente relacionada ao preço da terra e se faz de modo desigual, criando e reforçando a segregação. Considerando-se a produção formal do espaço de interesse social em São João Del-Rei, observa-se a ocorrência de fenômenos como expansão urbana e suas decorrentes dinâmicas de dispersão e fragmentação socioespacial. Diante disso, parte-se da premissa de que na cidade está em curso à mesma (re) produção espacial contraditória que vem sendo disseminada pelo território nacional, e que é marcada por desigualdades espaciais. Assim nota-se a importância de se compreender as contradições existentes em São João Del-Rei, perante a produção capitalista do espaço urbano e a Política de Habitação de Interesse Social. Trabalha-se com a hipótese de que esta seja uma das principais ações que ocasionam o processo de dispersão urbana local. A partir dessa problemática, e partindo-se da perspectiva do Materialismo Histórico e Dialético, o itinerário proposto nesse texto pretende inicialmente, abordar as origens do déficit habitacional brasileiro, bem como um breve panorama da Política Habitacional. Em seguida, será apresentada uma análise crítica dos impactos da atual produção de conjuntos habitacionais na dinâmica espacial urbana. Por último discute-se a problemática habitacional no contexto de São João Del-Rei. 2 – Origens do déficit habitacional brasileiro O processo de urbanização brasileiro se apresenta diretamente vinculado ao desenvolvimento econômico do país. Segundo Santos (2008), inicialmente esse processo direcionava-se à geração de cidades apoiadas economicamente na agricultura e na mineração. Somente após os anos de 1940-1950, impulsionado por forças econômicas, e pelo desenvolvimento industrial, é que esse fenômeno ocorre de forma acelerada. Observa-se então, uma nova configuração espacial caracterizada pelo crescimento populacional das cidades e seu posterior adensamento. De acordo com Cota (2010), as cidades se formaram inseridas no modo capitalista de produção. 639 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Essas contradições se materializaram no espaço urbano e se tornaram ainda mais evidentes com o aumento do déficit habitacional. Deste modo a urbanização brasileira foi conduzida pelos interesses do capital, baseada na concentração de renda e acarretando sérios problemas para as cidades, tais como as desigualdades socioespaciais. O conceito de déficit habitacional está diretamente relacionado à deficiência de estoque de moradias, seja por necessidade de substituição de moradias precárias, seja pela existência de mais de uma família habitando a mesma unidade. Inclui-se ainda a moradia em imóveis e locais com fins não residenciais e o ônus excessivo com aluguel. (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2015, p.18). O déficit habitacional brasileiro, segundo a Fundação João Pinheiro (2015), foi estimado em 5,430 milhões de moradias em 2012, dos quais 85,9% estão localizados nas áreas urbanas. Conforme Borges (2011) o direito a moradia, segundo a lógica capitalista de produção, torna-se uma mercadoria. O fato de que parcela da população das cidades encontra-se excluída do mercado formal de aquisição de habitação é consequência da desigual distribuição territorial de rendas e da atribuição de um alto valor de troca agregado à moradia. Diante disso, fica evidente a subordinação da política habitacional aos interesses da reprodução das relações capitalistas de produção, o que segundo Lima (2011) está acima das próprias necessidades de se superar o déficit habitacional das camadas populares gerados pelo processo de urbanização brasileiro. A seguir será apresentado um breve panorama da política habitacional brasileira e seus desdobramentos frente o enfrentamento do déficit habitacional. 3 – Breve panorama da política habitacional brasileira A produção da Habitação de Interesse Social no Brasil pode ser vista como produto do contexto histórico, econômico e tecnológico. A seguir será apresentada a evolução das políticas estabelecidas pelos governos em diferentes épocas e serão esclarecidas as principais tendências atuais. 640 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Segundo Bonduki (2011) as iniciativas tomadas pelos governos da República Velha (1889-1930) no sentido de produzir habitação ou de regulamentar o mercado de locação residencial são praticamente nulas. Assim sendo, o Estado privilegiava a produção privada e recusava a intervenção direta no âmbito da construção de casas. Com o crescimento das taxas de urbanização a partir de 1930, também cresceu a pressão sobre o Estado pelo equacionamento do problema habitacional. Conforme Ferreira (2009), a intervenção do Estado na área habitacional inicia-se com a criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP). Os IAP mostraram significativos resultados quantitativos e qualitativos, os conjuntos habitacionais produzidos apresentavam qualidade espacial e eram bem inseridos na malha urbana. Contudo, os mesmos não conseguiram reduzir de forma contundente o déficit habitacional brasileiro. “No governo Dutra, em 1946,foi criada a Fundação da Casa Popular uma resposta do Estado à crise da habitação no pós-guerra, cujo objetivo era a produção de moradia para a população de baixa renda”. (MELO, 1990, p.44). Bonduki (2011) salienta que a carência de recursos e desarticulação com outros órgãos que tratavam da temática habitacional mostram que, a intervenção dos governos do período por meio da Fundação da Casa Popular foi pulverizada e longe de construir efetivamente uma política. Buscando responder a crescente demanda habitacional na década de 60 é criado o Banco Nacional de Habitação (BNH). De acordo com Cardoso (2008) o BNH criou um sistema de financiamento que permitiu a captação de recursos apoiado no Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS), chegando a atingir um montante significativo para o investimento habitacional. Entretanto, deixou como herança a visão de que a política habitacional referese tão somente a construção de conjuntos e reafirmou a dependência dos governos locais em relação à iniciativa do governo federal. Com a extinção desse órgão a partir da década de 80 houve um vácuo com relação às políticas habitacionais “Já em 1994 o governo Itamar Franco lançou os programas “Habitar Brasil” e “Morar Município”, mas os montantes de investimento ficaram aquém das expectativas devido à restrição de gastos gerada pelo Plano Real.” (CARDOSO, 2008, p.4). 641 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Segundo Ferreira (2009) os programas criados pelo governo Fernando Henrique Cardoso a partir de 1995, foram a Carta de Crédito Individual e a Carta de Crédito Associativa, e o Pró-Moradia, que visava à urbanização de áreas precárias, voltado ao setor público. Em 1999 foi criado também o Programa de Arrendamento Residencial que possibilitou a construção de diversas unidades habitacionais em todo território nacional. Contudo, a implementação destes programas não atingiu a diminuição do déficit habitacional especialmente para os setores de baixa renda, pois os financiamentos voltaram-se para as faixas de renda acima de cinco salários mínimos. Conforme Maricato (1998) a política desse período não promoveu a democratização do acesso a moradia, mas sim combinou interesses clientelistas de governantes, com os de proprietários fundiários e do capital imobiliário. De acordo com Oliveira (2011), em 2007 no governo Lula, foi proposto o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) abrangendo as áreas de energia, rodovias, portos, saneamento e habitação. Com a implantação do PAC surgiu em março de 2009 o Programa Minha Casa Minha Vida, integrado ao Plano Nacional de Habitação e operacionalizado pela Caixa Econômica Federal. Seu objetivo é facilitar a aquisição da casa própria pelas famílias com renda mensal entre zero e dez salários mínimos. Comparativamente ao BNH o programa traz segundo Arantes e Fix (2009) um maior foco no atendimento do déficit habitacional de baixa renda, e a extensão da oferta privada de moradias para todas as faixas de renda. Contudo, foi mantida a construção de grandes conjuntos periféricos, bem como o padrão de segregação social. Analisando-se as mudanças na concepção e na intervenção do poder publico no setor de habitação, a última década apresenta conquistas significativas com aumento expressivo de investimentos, entretanto, os avanços não foram acompanhados de transformações efetivas na função social das cidades, seja em grandes centros ou nas regiões interioranas. No próximo tópico propõe-se discutir os impactos da política habitacional na produção espacial urbana. 642 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 4 – Impactos da política habitacional no espaço urbano Segundo Borges (2011), a produção do espaço urbano no âmbito do capitalismo, constitui-se como um dos condicionantes de reprodução desse sistema, assumindo um papel determinante na configuração social e espacial das cidades. Para Corrêa (2002) o espaço urbano é produzido por agentes concretos que atuam sobre o espaço, movidos pela reprodução do processo de acumulação do capital. Esse fenômeno ocorre incessantemente pela reorganização espacial através de processos espaciais, e por meio da criação de novas áreas periféricas. Considerando-se o a produção da cidade, por meio da habitação social, notase que a mesma foi direcionada para o interesse do capital imobiliário. Ferreira (2013) afirma que a habitação tornou-se um bem cujo acesso é seletivo, um dos mais significativos sintomas da desigualdade e que deturpa o sentido e significado da cidade, transformando-a em mercadoria. “É relevante compreender a ação do Estado, na produção de moradias que tem no atendimento ou não da demanda um instrumento político importante, para assegurar seu controle sobre o espaço e como garantia de reprodução ampliada do capital”. (COSTA; OLIVEIRA, 2007, p.37). Outros agentes que atuam na dinâmica espacial urbana vinculada a provisão de moradias, são os agentes imobiliários. Conforme Boni (2009) sua atuação baseia-se na constante transformação da divisão socioespacial, produzindo a obsolescência de determinados espaços e abrindo novas fronteiras de valorização. Assim sendo, reforça-se a segregação, visto que se produzem áreas valorizadas, inacessíveis à maioria da população. Dessa forma, quais seriam, então, os efeitos da atuação desses agentes nos processos de (re) produção espacial? Levando-se em consideração os impactos da lógica capitalista de construção espacial, o que se nota é a crescente expansão urbana em direção a áreas periféricas, o que segundo Monte-Mór (2003) é denominado expansão extensiva. A cidade se expande de forma contraditória, sendo sua estrutura um produto de crescentes desigualdades que são materializadas no espaço urbano. 643 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO De acordo com Leal e Silva (2011) esse processo é decorrente da ineficiência do poder publico em assegurar o direito à cidade, da ausência de políticas que visem amenizar as problemáticas sociais, sobretudo o acesso à terra urbana, e do favorecimento dos interesses do capital privado. Outro impacto da política habitacional e da ação de seus agentes no espaço urbano é a segregação socioespacial. Os conjuntos habitacionais devido a não regulamentação fundiária nas cidades localizam-se em áreas isoladas, desvinculadas do contexto urbano-espacial. Júnior (2010) afirma que o padrão de moradia reflete o processo de desigualdade no espaço urbano. A segregação urbana expressa não apenas a espacialização das diferenças sociais da cidade, mas também a segmentação do espaço urbano, na medida em que barreiras dificultam o acesso e o direito à cidade. Estes foram alguns dos aspectos que condicionam a atual dinâmica territorial das cidades brasileiras e que já não se limita apenas aos grandes centros urbanos. A seguir será discutida a problemática habitacional no contexto de São João DelRei. 5- Análises preliminares da produção habitacional em São João Del-Rei A cidade de São João Del-Rei localiza-se na Região do Campo das Vertentes no estado de Minas Gerais. Possui cerca de 85.000 habitantes, sendo o setor de comércio e serviços a principal fonte da economia local. (IBGE, 2010). Levando em consideração a problemática habitacional na cidade, constata-se que o déficit habitacional segundo o Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS) ,lançado em 2010, situa-se em torno de 5.000 moradias. Visando reduzir esse déficit, o município vem recebendo investimentos e conjuntos habitacionais estão sendo edificados mediante a atuação do Estado e do mercado imobiliário. Pode-se citar o Conjunto Marechal Cyro do Espírito Santo Cardoso e o Conjunto Dom Lucas Moreira Neves, ambos produzidos pelo governo estadual por meio da COHAB-MG e os Conjuntos Risoleta Neves I e II vinculados ao Programa Minha Casa Minha Vida. Salienta-se que a análise das transformações urbanas na cidade leva em consideração a construção desses conjuntos. 644 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Observa-se em São João Del-Rei uma tendência de produção do espaço marcada pela extensão do tecido urbano e pela descontinuidade em relação a áreas já implantadas, reforçando o caráter disperso e fragmentado da cidade, fruto, inclusive, dos interesses dos agentes produtores do espaço urbano em momento recente. Nota-se que na cidade esse processo é histórico, sendo anteriormente determinado pela ação do Estado, ou por sua omissão e mais recentemente pela atuação do mercado imobiliário. O Estatuto da Cidade (2001) apresenta uma gama de instrumentos que possibilitam regulamentar uma propensa equidade na distribuição de serviços sobre o solo urbano. Dentre esses instrumentos está a instituição de Zonas de Especial Interesse Social (ZEIS). Com relação a esse instrumento urbanístico deve-se destacar que na cidade de São João Del-Rei o Plano Diretor Municipal, aprovado em 2006, não prevê áreas destinadas as Zonas Especiais de Interesse Social, deixando a escolha da localização dos projetos residenciais de interesse social a cargo de quem irá produzi-los. A cidade não possui instrumento legal de controle das formas de ocupação em seu território sendo aplicadas efetivamente, elas apenas são citadas no Plano Diretor Municipal (2006). A princípio, a expansão urbana é resultado da ação dos agentes produtores do espaço e não de medidas vinculadas ao planejamento e ordenamento territorial. Na ausência de outra legislação municipal que oriente sobre o local adequado para a implantação de empreendimentos de caráter social, o poder público utilizouse do Plano Local de Habitação de Interesse Social (2010), para a delimitação de áreas de reserva para a produção de Habitação de Interesse Social. As áreas selecionadas apresentam características opostas àquelas consideradas essenciais para a garantia do direito a cidade, ou seja, a produção de moradias em áreas mais centrais, integradas à malha urbana, equipadas e providas de infraestrutura e serviços urbanos. Além disso, no caso dos conjuntos habitacionais edificados recentemente na cidade, a inserção segregadora no espaço urbano é reforçada, já que os mesmos localizam-se em áreas predominantemente residenciais, afastadas do centro da 645 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO cidade, apresentando problemas quanto à oferta de infraestrutura urbana, serviços e de qualidade espacial. É de extrema importância que os programas habitacionais estejam associados a uma política fundiária que iniba o exacerbado processo de especulação e valorização do solo urbano. No caso de São João Del-Rei isso poderia ser evitado caso o Plano Diretor Municipal previsse a criação de ZEIS e se os instrumentos urbanísticos estabelecidos no Estatuto da Cidade fossem aplicados. Daí reside à necessidade de se pensar em soluções de planejamento urbano e regional próprios para os casos das cidades pequenas, neste período em que se evidencia a construção de novas interações socioespaciais que por sua vez, influenciam na produção desigual do espaço. 6-Conclusões Desde o inicio do processo de urbanização o déficit habitacional se tornou um problema estrutural grave, apesar de terem se realizado ao longo da historia diversas políticas públicas a fim de minimizar o problema, nenhuma delas conseguiu ainda solucionar os fatores causadores do mesmo, como a acentuada desigualdade social vigente. A moradia edificada através dos empreendimentos financiados com recursos públicos para as classes de baixa renda é uma das formas mais marcantes de produção da cidade atualmente, caracterizada pela incorporação de áreas geralmente extensas e pela transformação extremamente rápida da paisagem urbana, que, geralmente, contribui para a segregação. Esses aspectos também foram identificados em São João Del-Rei, objeto dessa análise. Desse modo, pode-se concluir que as lógicas de interesse na produção do espaço urbano são semelhantes em todas as cidades, indiferente do seu porte territorial ou populacional. O presente trabalho apresentou ainda análises iniciais de uma pesquisa em andamento, cujo intuito foi buscar a compreensão da produção do espaço urbano por meio da ação da política habitacional na cidade de São João Del Rei. Partiu-se da premissa de que na cidade está em curso à mesma (re) produção espacial 646 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO contraditória que vem sendo disseminada pelo território nacional, e que é marcada por desigualdades espaciais. A partir dos estudos teóricos realizados constataram-se como resultados iniciais, os processos que resultam na atual forma de produção do espaço nesse contexto, em especial os fenômenos de dispersão urbana e segregação socioespacial. Não obstante, objetiva-se refletir, na fase final da pesquisa, sobre as formas de controle/orientação quanto ao crescimento da cidade, partindo-se do atual quadro habitacional no município, subsidiando ações de planejamento e gestão territoriais, com a proposição de diretrizes urbanísticas. Além disso, acredita-se que esse ensaio, bem como a posterior pesquisa, possibilitará uma análise crítica acerca da Habitação de Interesse Social, sob a ótica da produção capitalista do espaço. Considera-se que as notas preliminares aqui apontadas são importantes para direcionar o andamento da pesquisa ao permitir compreender, em parte, a dinâmica de transformação em curso nesta cidade e também proporcionar a troca de experiências a partir das reflexões das transformações urbanas nas cidades de pequeno porte, e o que elas representam diante do atual quadro de urbanização brasileiro. 7-Referências ALMEIDA, Reginaldo Magalhães de. Breves considerações sobre a (re) produção capitalista do espaço urbano na visão de Henri Lefebvre e Lewis Mumford. In: XVI ENAMPUR, Belo Horizonte, 2015. Anais.... Belo Horizonte: XVI Enampur, 2015.p.117. Disponível em:< http://xvienanpur.com.br/anais/?wpfbdl=618 >Acesso em: 28 de junho de 2015. ARANTES, Pedro. Fiori; FIX, Mariana. Como o governo Lula pretende resolver o problema da habitação. In: Caros Amigos, 2009. Disponível em: < http:// caros amigos.terra.com.br >Acesso em 17 de junho de 2015. BONDUKI, Nabil. Origens da habitação social no Brasil: arquitetura moderna, lei do inquilinato e difusão da casa própria. 6.ed.São Paulo: Estação Liberdade,2011. 647 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO BONI, Melissa Passamani. Desigualdade sócio-espacial e distribuição dos recursos públicos na cidade de Vitória- ES. Dissertação (Mestrado em Planejamento Regional). Programa de Mestrado em Planejamento Regional e Gestão de Cidades. Universidade Cândido Menezes, Campo dos Goytacazes, 2009. BORGES, Viviane Florindo. (Re) produzindo lugares: reflexões sobre os programas habitacionais de interesse social em comunidades do município de São Leopoldo/RS. Dissertação (Mestrado em Geografia). Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011. BRASIL. Estatuto da Cidade: Lei n °10.257. 10 de julho de 2001. Estabelece diretrizes gerais da política urbana, 2001. CARDOSO, Lúcio Adauto. Política Habitacional no Brasil: balanço e perspectiva. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2008. Disponível em:< http:// www. observatoriodasmetropoles.net/ > Acesso em: 12 de junho de 2015. CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São Paulo: Editora Ática, 2002. COTA, Daniela Abritta. A parceria público-privada na política urbana brasileira recente: reflexões a partir da análise das operações urbanas em Belo Horizonte. Tese (Doutorado em Geografia). Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010. FERREIRA, Cristina Pereira de Paiva. Desigualdades socioespaciais: produção do espaço e Política Habitacional de Interesse Social em Parnamirim/RN. Dissertação (Mestrado em Geografia). Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2013. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Déficit Habitacional no Brasil 2011-2012. Belo Horizonte, 2015. IBGE. Indicadores sociais municipais. Brasília, 2010. JÚNIOR, Orlando Moreira. Produção do espaço, reprodução social da moradia e desigualdades sócio-espaciais em cidades pequenas paulistas. In: XVI ENCONTRO 648 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO NACIONAL DE GEÓGRAFOS, Porto Alegre, 2010. Anais... Porto Alegre: XVI Encontro Nacional de Geógrafos, 2010.p.1-11. Disponível em: < http:// www. agb. org.br evento / download . php?idTrabalho=2907 >Acesso em: 30 de junho de 2015. LEAL, Gerisse Quintino; SILVA, Cristóvão Henrique Ribeiro. Ideologia, segregação e fragmentação territorial: o caso dos conjuntos habitacionais populares em Três Lagoas – MS. In: Revista Discente Expressões Geográficas, nº 07, ano VII, Florianópolis, 2011. Disponível em:< http://www.pdfio.net/k-7932430.html> Acesso em: 18 de maio de 2015. LIMA, Zélia. Brito. A questão da habitação. In: VIII ENCONTRO BAIANO DE GEOGRAFIA, Vitória da Conquista, 2011. Anais... Vitória da Conquista: VIII Encontro Baiano de Geografia, 2011.p.1-13. Disponível em: http:// www. uesb. br/eventos/ebg/anais/2b.pdf> Acesso em: 24 de junho de 2015. MARICATO Ermínia. Habitação e Cidade. 7. ed. São Paulo: Atual, 1997. MONTE-MÓR, Roberto Luís. A urbanização brasileira: padrões e tendências recentes. In: CASTRIOTA, Leonardo Barci. (org.). Urbanização Brasileira: redescobertas. Belo Horizonte: C/Arte, 2003. OLIVEIRA, Cirlei Terezinha Teixeira. A implementação de políticas públicas habitacionais: o caso do Programa de Subsídio a Habitação de Interesse Social (PSH) no Rio Grande do Sul. Monografia (Graduação em Ciências Sociais). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011. SANTOS, Milton. Manual de Geografia Urbana. 3. ed. São Paulo: Edusp, 2008. SÃO JOÃO DEL REI, Prefeitura Municipal de. Lei nº 4.068 de 13 de novembro de 2006. Institui o Plano Diretor Participativo do Município de São João Del Rei. 2006. SÃO JOÃO DEL REI, Prefeitura Municipal de. Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS), 2010. Arquivo digital. 649