Sumário 12 Momento Angular 12.1 Introdução 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12.2 Momento Angular de Uma Partícula 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 12.2.1 Partícula percorrendo uma reta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 12.2.2 Partícula percorrendo um círculo 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12.3 Momento Angular de um Corpo Rígido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 12.4 Conservação do Momento Angular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 12.5 Impulso Angular 19 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . i Capítulo 12 Momento Angular 12.1 Introdução Elétrons, núcleons e moléculas - rodas, engrenagens e polias - planetas, estrelas e galáxias - tudo gira. O que faz uma roda girar? Uma vez girando, o que a faz parar? Um torque exercido sobre a roda acarreta uma variação em sua velocidade angular. Uma vez em movimento, a roda tende a continuar girando. Os torques devido ao atrito nos mancais e a resitência do ar reduzem a velocidade da roda, levando-a parar. O fato de que a roda tende a continuar girando evidencia a existência de momento associado ao movimento rotacional - o momento angular. 12.2 Momento Angular de Uma Partícula A cada grandeza rotacional existe uma grandeza análoga referente ao movimento de translação de uma partícula. A grandeza rotacional análoga ao momento linear p⃗ é o momento angular, ⃗l ⃗ . A conservação do momento linear foi estabelecida utilizando as leis de Newton. Da mesma ou L forma, as leis de Newton conduzem a outro princípio de conservação - o princípio de conservação do momento angular. A força aplicada a uma partícula de massa m produz uma variação da velocidade, d⃗v /dt, e escrevemos, F⃗ = m d⃗v /dt. Essa força produz um torque sobre a partícula localizada a uma distância r da origem O, Fig.(12.1), de um referencial inercial. Escrevemos d d⃗r d⃗v = (⃗r × m ⃗v ) − × m ⃗v . ⃗τ = ⃗r × m dt dt dt O último termo é nulo, pois d⃗r/dt = ⃗v e o produto vetorial com o vetor m ⃗v é igual a zero. Dessa forma a expressão acima se torna ⃗τ = ⃗r × m d⃗v d = (⃗r × m ⃗v ). dt dt 1 2 Cap. 12. ⃗τ = Momento Angular d⃗ L. dt (12.1) ⃗ denido como sendo o vetor momento angular. O termo ⃗r × m ⃗v foi substituída pelo vetor L ⃗ com p⃗ (o momento linear) é análoga à relação que liga o A relação do momento angular L ⃗ torque com a força, ⃗τ = ⃗r × F . ⃗ ≡ ⃗r × p⃗ = ⃗r × m⃗v L (12.2) e dizemos que o momento angular de uma partícula em relação a um ponto de referência 0, é igual ⃗r da partícula medido a partir de 0, pelo momento p⃗ da partícula. A dimensão do momento angular em SI é kg.m2 /s. O módulo L do momento angular é ao produto vetorial do vetor posição linear L = r p senϕ, onde ϕ é o ângulo entre ⃗r e p⃗. A direção do vetor momento angular é perpendicular ao plano formado por ⃗r e p⃗ e o seu sentido pode ser determinado pela regra da mão direita. No caso ⃗ aponta na direção Z. apresentado na Fig.(12.1) o L Figura 12.1: Uma partícula de massa m move no plano angular da partícula em relação um eixo é vetores posição da partícula p⃗. ⃗ = ⃗r × p⃗ L x y. O momento perpendicular aos ⃗r em relação ao eixo e ao vetor momento linear 12.2. 3 Momento Angular de Uma Partícula Quando uma força resultante F⃗ atua sobre uma partícula, sua velocidade e seu momento linear variam, de modo que seu momento angular também pode variar. Derivando a Eq.(12.2) em relação ao tempo e usando a regra de um produto, obtemos: ⃗ dL d⃗r d⃗v = × m⃗v + ⃗r × m = ⃗v × m⃗v + ⃗r × m⃗a dt dt dt O primeiro termo é zero porque contém o produto vetorial do vetor ⃗v por ele mesmo. No segundo termo temos a força resultante F⃗ (= m⃗a) e obtemos ⃗ dL dt = ⃗r × F⃗ = ⃗τ . (12.3) A taxa de variação do momento angular de uma partícula é igual ao torque da força resultante que atua sobre ela. Usaremos a Eq.(12.2) para encontrar o momento angular total de uma partícula que move em linha reta e num círculo. 12.2.1 Partícula percorrendo uma reta Uma partícula mesmo movendo em uma trajetória retilínea possui momento angular. A Fig.(12.2) mostra uma partícula no plano XY movendo-se em linha reta paralela ao eixo X. O vetor ⃗r é o vetor posição em relação a um eixo de rotação que passa pelo O num referencial inercial. O seu momento linear é p⃗ = m ⃗v e o momento angular, L = m v r⊥ . A distância r⊥ = r senϕ é aquela da trajetória da partícula ao eixo X e é constante. O vetor ⃗r varia continuamente em sua posição porque a sua direção, ângulo ϕ, do vetor ⃗r varia, no caso r cresce e ϕ decresce mantendo o produto constante. Pela equação Eq.(12.2), o módulo do momento angular da partícula em relação ao eixo que passa pela origem O é L = r p senϕ = m v r⊥ , (12.4) Se a velocidade da partícula é constante, seu momento angular é constante; de outro modo, varia ⃗ para a partícula na Fig.(12.2) aponta no com o tempo. Pela regra da mão direita, o vetor L sentido −k̂ (vetor entrando na página). Mostramos aqui que existe momento angular mesmo se a partícula não estivesse movendo em uma trajetória circular. A variação da posição angular (não necessariamente uma volta completa) aparece no ângulo ϕ em relação ao eixo deslocado da trajetória da partícula. 4 Cap. 12. Momento Angular Figura 12.2: Uma partícula no plano XY movendo-se em linha reta paralela ao eixo-X. Qual é o momento angular, em relação à origem, de uma partícula de 40, 0 kg , no instante em que sua posição é ⃗r = −3, 50î + 1, 50 ĵ , em metros, e sua velociade vetorial é ⃗v = 2, 00 î − 6, 00 ĵ , em metros por segundo? Exemplo Solução Calculamos 1: Utilizamos a denição do momento angular de uma partícula apresentada na Eq.(12.2). ⃗ = m ⃗r × ⃗v = 40, 0(−3, 5î + 1, 50 ĵ) × (2, 00 î − 6, 00 ĵ) L = 40, 0[(3, 5)(6, 0) − (1, 5)(2, 0)]k̂ = 40(21 − 3) = (40)(18) = 720 ⃗ = 7, 20 × 102 k̂ (kg.m2 /s). L O vetor momento angular aponta na direção Z negativo e é constante, consequentemente, o torque é nulo. 12.2.2 Partícula percorrendo um círculo Caso simples e importante a considerar é o de uma partícula percorrendo um círculo de raio r, Fig.(12.3). Determina-se o momento angular em relação ao centro do círculo por onde passa o eixo de rotação. Como a velocidade ⃗v é perpendicular ao vetor posição ⃗r, logo pela Eq.(12.2), L = r p = r m v. (12.5) O sentido do vetor momento angular pode ser determinado utilizando a regra de mão direita entre os vetores ⃗r e p⃗ da Fig.(12.3). Os vetores ⃗r e p⃗ estão contidos no plano XY, signica que 12.2. 5 Momento Angular de Uma Partícula Figura 12.3: Partícula em movimento circular no plano XY. O seu o momento angular em relação à origem 0 é ⃗ = mr2 ω k̂ . L ⃗ se dispõe ao longo do eixo z e aponta para +k̂ (ou −k̂ se o movimento da partícula é horário). L Dessa forma, escreve-se o momento angular, na forma vetorial, como ⃗ = m r2 ω k̂ = I ω L ⃗. (12.6) ⃗ eω Foi utilizado a relação v = r ω , onde ω é a velocidae angular da partícula. Observe que L ⃗ são 2 paralelos e a grandeza m r é a inércia rotacional da partícula em relação ao eixo z . Uma conta de 72 g desliza sem atrito em um arame circular orientado verticalmente, de 0, 90 m de raio, Fig.(12.4). (a) Se a conta é liberada do repouso em θ0 = 0, 93 rad, qual é seu vetor momento angular em relação ao centro do círculo no instante em que ela cruza o eixo X ? (b) Calcule, na mesma situação, a variação do momento angular. (c) Comente os movimentos acelerado e desacelerado que a conta realiza enquanto ela se deloca descendo e subindo pelo arame circular, pelos lados esquerdo e direito da gura. Exemplo 2: Um corpo colocado livremente numa posição vertical tende a se mover para baixo sob a ação de uma força - a força gravitacional. Este corpo, a conta, move ao longo do arame circular de raio r = 0, 90 m que será a sua linha de trajetória em torno do eixo que passa pelo centro do círculo em O. Em cada instante de seu movimento, a força gravitacional produz um torque em relação ao eixo. A posição inicial em graus é 53, 3o . O momento angular é calculado utilizando-se ⃗ O = m ⃗r × ⃗v . a Eq.(12.2):L (a) Quando a conta passa pelo eixo X , os vetores ⃗ r e ⃗v são perpendiculares e o momento angular resulta em Solução ⃗ O = −r m v k̂. L A velocidade é obtida utilizando a lei da conservação da energia: 6 Cap. 12. Momento Angular √ m v2 = m g h0 = m g r senθ0 ⇒ v = 2 g r senθ0 . 2 √ O valor encontrado é v = 2 (10, 0) (0, 90) sen(0, 93) = 3, 80 m/s. O momento angular é calculado cujo valor é ⃗ O = −0, 25 k̂ (kg m2 /s). L O vetor momento angular aponta para dentro da página. (b) A variação do momento angular é o torque devido a força aplicada sobre o corpo, no caso, é a força gravitacional. Quando a conta passa pelo eixo X , os vetores ⃗r e a força gravitacional estão perpendiculares entre si e resulta em ⃗ dL = ⃗τO = ⃗r × m ⃗g = −r m g k̂ = −0, 65 k̂ N m. dt ⃗ são paralelos, signica que o movimento de rotação é acelerado. Como os vetores ⃗τO e L (c) O movimento acelerado acontece também quando a conta desce no arame pelo lado esquerdo da gura. Usando a regra da mão direita para os produtos ⃗r × m⃗g e ⃗r × m⃗v , encontramos que o ⃗ . O movimento é desacelerado sentido de ⃗τ é o sentido positivo do eixo Z , o mesmo que o de L ⃗ aponta em direção +k̂ (rotação em sentido antiquando a conta sobe no lado direito. O vetor L horário) e o sentido do vetor torque é o sentido negativo do eixo Z , −k̂ . Quando a conta sobe no lado esquerdo, os sentidos dos vetores se alternam e o movimento é desacelerado também. Figura 12.4: Uma conta desliza sem atrito em um arame circular orientado verticalmente. 12.3. 12.3 7 Momento Angular de um Corpo Rígido Momento Angular de um Corpo Rígido Um corpo rígido gira em torno do eixo z Considera-se o corpo rígido constituído de n partículas, cada uma delas de massa mi na posição ⃗ri em relação à origem O, e que se desloca com a velocidade escalar ⃗v i = ri ω , Fig.(12.5). O seu momento angular é ⃗ i = mi ri2 ω L ⃗. (12.7) Figura 12.5: O elemento de massa de um corpo rígido gira ao redor de um eixo e o momento angular ⃗ L do corpo rígido em relação ao eixo está na mesma direção da velocidade angular ω ⃗. O momento angular deste corpo é a soma dos momentos angulares das partículas individuais: ∑ ⃗i ⃗ = L L (12.8) Se o corpo rígido gira em torno de um eixo de simetria que passa pelo seu centro de massa, o momento angular é ⃗ = ( ∑ mi r 2 ) ω ⃗ L i ⃗ = Iω (12.9) A Eq.(12.9) vale tanto para o corpo que esteja girando em torno de um eixo de simetria que passa pelo seu centro de massa como para o corpo em rotação em torno de um eixo que é paralelo àquele que passa pelo centro de massa de um corpo, Fig.(12.6). Neste caso utilizamos o teorema de eixos paralelos para expressar a inercia rotacional em relação ao eixo em O′ . De acordo com este teorema, a inércia rotacional I ′ em torno do eixo z ′ é I ′ = Icm + m d2 , 8 Cap. 12. Momento Angular onde m é a massa total do corpo. Multiplicando cada elemento por ω ⃗ , obtemos I ′ω ⃗ = Icm ω ⃗ + m d2 ω ⃗. Figura 12.6: (a)Elemento de massa, como partícula, de um corpo rígido e o seu momento angular em relação à origem. A grandeza I ′ ω ⃗ é o momento angular em relação ao eixo em O′ , enquanto Icm ω ⃗ é o momento 2 angular em relação ao eixo passando pelo centro de massa. A grandeza m d ω ⃗ é o momento angular de um corpo rígido como uma partícula de massa m que gira com velocidade angular ω num círculo de raio d em torno do eixo em O′ . A Eq.(12.9) é reescrita como ⃗ =L ⃗ cm + ⃗rcm × m ⃗vcm . L (12.10) A variação do momento angular para uma partícula, Eq.(12.8), é extendida para um corpo rígido considerando constituído de n−partículas, dessa forma escrevemos como ∑ ∑ dL ⃗ ⃗i d ∑⃗ dL = ( Li ) = (12.11) τ⃗i = dt dt dt Nesta equação a soma dos torques pode incluir tanto os torques internos como os devidos às forças externas ao sistema. As forças internas entre as duas partículas atuam paralelamente à reta que as une, e satisfazem a terceira lei de Newton, logo a soma dos torques internos é nula, ∑ ⃗τext = ⃗ dL dt (12.12) 12.3. 9 Momento Angular de um Corpo Rígido Figura 12.7: (b) O corpo gira em torno de um eixo deslocado do centro de massa do corpo. Esta é igual a Eq.(12.3) obtida para uma partícula. A taxa de variação do momento angular de um sistema é igual ao torque resultante que atua sobre o sistema em virtude das forças externas. No exemplo a seguir é apresentado quatro métodos de resoluções ao mesmo problema. A Fig.(12.8a) mostra dois corpos unidos um o leve e inextensível passando por uma polia xa ao teto. Consideramos a polia de raio R e massa m e não há atrito em seu eixo. Os corpos de massas m1 e m2 ( m2 > m1 ) se movem com aceleração linear a, a partir do repouso, no sentido indicado na gura. A corda não desliza sobre a superfície da polia. Encontrar a expressão para a aceleração linear dos dois corpos. Exemplo 3: Como o corpo m2 possui maior massa, então ele desce e outro sobe com a mesma aceleração em módulo, uma vez que a corda é inextensível. Todos os pontos da corda e da borda da polia possuem a mesma velocidade linear v e vale a relação v = R ω , onde ω é a velocidade angular da polia. Do mesmo modo, entre as acelerações linear e angular, a = R α. Solução Primeiro Método Aplicaremos para esta análise: as equações dinâmicas de movimento dos corpos como partículas sob uma força resultante (segunda lei de Newton de translação); e a polia como um corpo rígido sob um torque resultante. A polia gira no sentido horário e os vetores das 10 Cap. 12. Momento Angular grandezas de rotação têm direção entrando no plano da gura, −k̂ . Aqui separamos os corpos em três partes conforme os diagramas de forças construídos, Fig.(12.8b). O vetor torque atuando sobre a polia em seu eixo de rotação é ⃗τ = ⃗τ1 +⃗τ2 , onde os índices 1 e 2 se referem às contribuições das forças T1 e T2 exercidas pela corda nas bordas direita e esquerda da polia. A força gravitacional exercidad pela Terra sobre a polia, m g e a força de reação exercida pelo eixo sobre a polia passam pelo eixo de rotação e, portanto, não produzem torque. As expressões escalares de torque e de movimento dos corpos são T1 R − T2 R = −I α =⇒ (T2 − T1 )R = I α, T1 − m1 g = m1 a; T2 − m2 g = −m2 a. (12.13) (12.14) O sinal negativo se refere ao sentido negativo de orientação dos vetores. As acelerações angular da polia e translacional dos corpos são relacionados por a = R α. Usando esta relação e operando as Eqs.(12.13) e (12.14), obtemos a expressão para a aceleração translacional: a= m2 − m1 )g . m1 + m2 + I/R2 (12.15) As tensões na corda e a reação R se obtem pelas expressões T1 = m1 (g + a), T2 = m2 (g − a), R = T1 + T2 + m g. (12.16) (12.17) Segundo Método O princípio de conservação da energia é utilizado. Considera-se que os corpos se movem verticalmente a uma distância h, m1 para cima e m2 para baixo. Considera-se, na posição inicial dos corpos, a referência de energia potencial nula e energia cinética, também, nula por que os corpos iniciam o movimento do repouso. Destas considerações escrevemos m1 g h − m1 g h + m1 v 2 m1 v 2 I ω 2 + + = 0. 2 2 2 (12.18) A velocidade angular da polia se relaciona com a velocidade linear de um ponto da borda deste corpo por ω = v/R. Usando esta relação e a Eq.(12.18) para expressar v 2 como [ ] (m2 − m1 )g 2 v =2 h. (12.19) m1 + m2 + I/R2 Esta expressão é a conhecida equação de Torricelli, onde o termo entre colchetes é a aceleração dos corpos. Deste modo a= (m2 − m1 )g . m1 + m2 + I/R2 (12.20) 12.3. Momento Angular de um Corpo Rígido Figura 12.8: Exemplo 3: 11 (a) Dois corpos e uma polia (máquina de Atwood). (b) Diagrama de forças envolvidas no sistema. é a expressão anteriomente obtida, Eq.(12.15). Terceiro Método Nesta análise identicamos a polia e os corpos como um sistema não isolado, Fig.(12.8a), sujeito ao torque externo devido à força gravitacional sobre os corpos. A ∑ equação , ⃗τext = Is α ⃗ , é utilizada, onde Is é a inércia rotacional do sistema composto por polia e dois corpos. Escrevemos m1 g R − m2 g R = −Is α. (12.21) Consideramos os corpos na borda da polia, então I s = I + m1 R 2 + m2 R 2 e usando α = a/R, obtemos da expressão acima, Eq.(12.21), para a aceleração escalar de translação a. Quarto Método Neste último método, com as mesmas considerações do terceiro método, utilizamos a Eq.(12.12), ou seja, o momento angular. O sentido de movimento dos corpos é horário e escrevemos o momento angular com sinal negativo: L = −m1 v R − m2 v R − I v/R = −(m1 + m2 + I/R2 ) R V. Aplicando a derivada, temos dL = −(m1 + m2 + I/R2 ) R a. dt 12 Cap. 12. Momento Angular A Eq.(12.12 se torna m1 g R − m2 g R = −(m1 + m2 + I/R2 ) R a (12.22) e a expressão para aceleração a é obtida. Pretendeu-se mostrar neste exemplo, a máquina de Atwood, já conhecida nas aplicações das Leis Newton, como os conceitos de torque e momento angular são utilizados e suas expressões relacionadas. Nos dois primeiros métodos foram utilizadas as equações de movimento e da energia que são de fácil entendimento. Nos dois últimos métodos, o aluno deve anotar, analisar com cuidado as expressões de torque aplicado, a inércia rotacional do sistema e o momento angular. Observações Um contrapeso de massa m é preso a um cabo leve que é enrolado em torno de uma polia, Fig.(12.9). A polia é um aro no de raio R e massa M . Os raios da polia têm massa desprezível. (a) Qual é o módulo do torque resultante sobre o sistema em torno do eixo da polia? (b) Quando o contrapeso tem uma velocidade escalar v , a polia tem uma velocidade angular ω = v/R. Determine o módulo do momento angular total em torno do eixo da polia. (c) ⃗ , calcule a aceleração do contrapeso. Utilizando o resultado da parte (b) e ⃗τ = dL/dt Exemplo 4: Quando o sistema é liberado, a esfera m cai e a polia gira no sentido anti-horário. Este problema é semelhante ao da máquina de Atwood que resolvemos utilizando,separadamente, as equações de movimento dos corpos sob a ação das forças externas, tensão e força gravitacional. Aqui a abordagem é diferente visto que utilizaremos o momento angular. Identicamos a esfera e polia como um único sistema não isolado, sujeito ao torque externo devido a força gravitacional sobre a esfera. Calculamos o momento angular em relação ao eixo da polia da esfera em movimento de translação (como uma partícula) e o da polia em rotação pura ( aro de momento de inércia I = M R2 ). A esfera tem uma velocidade escalar v , então o momento angular da esfera é m v R. No mesmo instante, todos os pontos no aro da polia também se movem com a velocidade escalar v e a relação com a velocidade angular ω é v = R ω , então o momento angular da polia é I ω = M v R. Solução Figura 12.9: Exemplo 4: Polia e contrapeso. (a) Trataremos o torque externo total sobre o sistema em torno do eixo da polia. A força gravi- tacional sobre a polia e a reação normal do eixo sobre a polia não contribuem com o torque por 12.4. 13 Conservação do Momento Angular que as linhas de ação destas duas forças passam pelo eixo, ou seja, o braço de momento é zero. A força gravitacional m ⃗g que age sobre a esfera produz um torque cujo módulo é m g R. Aqui R é o braço de momento da força em torno do eixo. O torque externo resultante em torno do eixo da polia é ∑ τext = m g R . (b) O momento angular total do sistema é L = m v R + M v R = (m + M )v R. (c) Substituindo esta expressão e o torque externo resultante na equação 12.12, escrevemos mgR = d dv [(m + M )v R] = (m + M )R dt dt Como dv/dt = a, obtemos a expressão para a: a= Observações mg . m+M : Ao expressar o torque resultante em relação ao eixo da polia, não incluimos as forças que o cabo exerce sobre os corpos porque elas são forças internas ao sistema considerado. Em vez disso, analisamos o sistema como um todo. Se a polia for muito leve, M << m, então a ≈ g e se comporta como se não existisse a polia. Por outro lado, se M >> m, então a ≈ 0 signica que a força gravitacional m g não é suciente para mover (girar) a polia. 12.4 Conservação do Momento Angular Quando não há torque externo resultante agindo sobre o sistema, a Eq.(12.12) resulta em ⃗ dL dt A Eq.(12.23) é a ⃗ = constante. = 0, =⇒ L lei da conservação do momento angular (12.23) e diz que: Se o torque externo resultante que atua sobre um sistema é igual a zero, então o momento ⃗ do sistema permanece constante. L Podemos aplicar esta lei ao corpo isolado, o qual gira em torno do eixo, dito eixo de rotação. Suponha que o corpo inicialmente rígido de alguma forma redistribua sua massa em relação a esse angular 14 Cap. 12. Momento Angular eixo de rotação, variando seu momento de inércia em torno desse eixo. Uma vez que o momento angular do corpo não pode mudar, escrevemos essa lei de conservação como If ωf = Ii ωi . ω (12.24) Aqui os índices i e f se referem aos valores do momento de inércia I e da velocidade angular . antes e depois da redistribuição de massa Um disco de md = 2, 0 kg e de raio desprezível se move a vdi = 3, 0 m/s e atinge uma haste de ms = 1, 0 kg e d = 4, 0 m de comprimento que está sobre uma superfície horizontal de gelo, portanto sem atrito, como mostra a vista de cima na Fig.(12.10a). O disco colide perpendicularmente a haste na sua extremidade. Considere que a colisão é elástica. O momento de inércia da haste em torno do seu centro de massa é I = 1, 33 kg m2 . (a) Explicar por que as grandezas momentos linear e angular e energia cinética do sistema é constante. (b) Encontre as velocidades linear do disco vdf , linear da haste vs e angular da haste ω após a colisão. Exemplo 5: Ignora-se o som produzido na colisão e como não há atrito entre as superfícies dos corpos envolvidos, então o disco e a haste formam um sistema isolado em termos de momento linear e momento angular. Por outro lado a colisão é elástica, logo a energia é constante. (b) Escrevemos as equações das três grandezas que se conservam: o momento linear, Solução (a) md vdf + ms vs = md vdi ; (12.25) o momento angular com sinal de rotação no sentido horário, −r md vdf − I ω = −r md vdi ; (12.26) e r = d/2 e a energia cinética antes e após a colisão se conserva: 2 2 md vdf ms vs2 I ω 2 md vdi + + = . 2 2 2 2 (12.27) As três equações possuem as três incógnitas do problema. Manipulando-as algebricamente, encontramos vs = 2vdi = 1, 3 m/s; 1 + ms /md + r2 ms /I ω= r m s vs = 2, 0 rad/s; I vdf = vdi − ms vs = 2, 3 m/s. md 12.4. Conservação do Momento Angular 15 Figura 12.10: Vista de cima de um disco colidindo com uma haste. (a) Antes da colisão, o disco colide perpendicularmente com a haste. Após a colisão (b) a haste gira e translada para a direita. Observações Este é um exemplo em que as três grandezas envolvidas no fenômeno de co- lisão entre os corpos rígidos se conservam. O aluno deve se acostumar a expressar as respostas literalmente e somente depois utilizar os valores numéricos. Por exemplo, mostre que vdf ≈ −vdi se ms >> md . Na vista de cima, Fig.(12.11), quatro hastes nas e uniformes, cada uma com massa M e comprimento d = 0, 50 m, estão rigidamente conectadas a um eixo vertical formando uma roleta. A roleta gira em sentido horário em torno do eixo, o qual está preso ao piso, com módulo da velocidade angular inicial ωi = 2, 0 rad/s. Uma bola de argila de massa m = M/3 e velocidade inicial vi = 12 m/s é lançada ao longo da trajetória mostrada, θ = 60o , e se gruda na extremidade de um das hastes. (a) Discuta sobre a conservação ou a não das seguintes grandezas: o momento linear, a energia cinética e o momento angular do sistema. (b) Qual é a velocidade angular após a colisão , ωf , do sistema bola-roleta? Exemplo 6: A colisão é totalmente inelástica (argila gruda na haste), logo a energia cinética do sistema não se conserva. O momento linear total não é conservado, pois durante a colisão uma força externa atua sobre a roleta no ligamento do eixo com o piso. Esta a força evita que a roleta se desloque sobre o piso ao ser atingido pela bola de argila. As forças que agem sobre as hastes são a força de reação da superfície horizontal sobre a haste e a força gravitacional que se cancelam e a força de atrito é nula. Portanto, o torque externo total é nulo e o momento angular total do ⃗ , em torno do eixo que passa pelo pino é conservado. As forças envolvidas na colisão sistema, L produzem apenas torques internos que se cncelam e a força que atua no eixo de rotação possui braço de momento da força nulo. (b) Usando a lei de conservação do momento angular, escrevemos Solução (a) Lrol,f + Lb,f = Lrol,i + Lb,i . 16 Cap. 12. Momento Angular Figura 12.11: Uma vista de cima de quatro hastes rigidamente conectadas girando livremente em torno do eixo central e a trajetória da bola de argila. onde os índices i e f denotam os instantes antes e após a colisão da bola de argila com a haste. Cada termo é apresentado a seguir. Primeiramente, pode-se considerar que o eixo de rotação se localiza na extremidade das quatro hastes que se unem cuja inércia rotacional do conjunto é IO = 4(M d2 /3). Pode-se, ainda, supor que a roleta é formada por duas hastes de massa 2M e comprimento 2 d cada. Nesse caso, o eixo de rotação passa pelo centro da nova haste formada e a inércia rotacional do conjunto é IO = 2 2 M (2 d)2 M d2 =4 . 12 3 A roleta inicailmente gira no sentido horário, ou sentido negativo (ω ⃗ = −ωi k̂ ): 4 Lrol,i = −Io ωi = − M d2 ωi , 3 4 Lrol,f = Io ωf = M d2 ωf ; 3 (12.28) A bola, sendo uma partícula, expressamos como Lb,i = m d vi cos 60o , Lb,f = m d2 ωf . (12.29) Substituindo-as na equação acima, obtemos a expressão da velocidade angular: ωf = 1 (−4 d ωi + vi cos 60o ) 5d O valor numérico é obtido: ωf = 0, 8 rad/s. (12.30) 12.4. Conservação do Momento Angular 17 O sistema bola mais a roleta gira no sentido anti-horário. Exemplo 7: Um carrossel de raio R está girando com velocidade angular ωo , no sentido horário, em torno de um eixo vertical que passa pelo centro do carrossel e sem atrito. Uma criança corre numa linha reta tangente à borda da plataforma, com velocidade vc e pula na borda do carrossel, conforme a Fig.(12.12). (a) Quais grandezas se conservam: momento linear, momento angular e energia cinética? Explicar a resposta. (b) Qual a velocidade angular que adquire o carrossel? (b) Uma vez a criança no carrossel, ela caminha em linha radial (em direção ao centro da plataforma). Calcular a nova velocidade angular que adquire o carrossel. Quando a criança pula no carrossel, provoca um impulso linear (∆ p) na direção tangente à borda do carrossel. Em resposta a esse impulso linear, o eixo do carrossel responde em forma de uma força (F = ∆p/∆t), impedindo que o carrossel tenha o movimento de translação. Dessa forma, o momento linear não se conserva. A energia cinética não se conserva uma vez que a colisão entre a criança e o carrossel é uma colisão totalmente inelástica. Não existe atrito no eixo do carrossel e, consequentemente, não há torque no eixo. Concluímos que o momento angular se conserva em relação ao eixo que passa pelo eixo do carrossel. (b) Momento angular inicial: Li = −I ω0 + mR vc . Solução (a) O momento angular após a criança pular no carrossel: Lf = (m R2 + I)ωf . (12.31) Pela conservação do momento angular, Lf = Li , obtemos m R v c − I ω0 (12.32) m R2 + I a velocidade angular do carrossel, notadamente menor do que ω0 . (c) O momento de inércia da criança é nulo quando ela chega no centro do carrossel. Escrevemos a nova expressão para a conservação do momento angular, ωf = I ωcc = (m R2 + I) ωf e encontramos (12.33) m R vc − I ω 0 (m R2 + I) = ωf . I I Foi utilizada a expressão de ωf dada pela Eq.(12.32). Verica-se a velocidade angular do sistema, criança no centro, é maior do que quando ela estava na borda. Obs. Explicação sobre a energia cinética antes e depois de a criança caminhar para o centro do carrossel. Quando a criança está na borda do carrossel: ωcc = Kborda = (m R2 + I) ωf2 Ii ωf2 = 2 2 18 Cap. 12. Momento Angular Quando a criança está no centro do carrossel: Kcentro = 2 I ωcc I (m R2 + I)2 2 = ωf 2 2 I2 Kcentro = (m R2 + I) Kborda . I Verica-se que a energica cinética do sistema aumenta quando a criança caminha para o centro do carrossel. A criança realiza trabalho ao se mover para o centro do carrossel (eixo de rotação). Essa energia cinética extra provem do trabalho realizado pela criança. O trabalho é positivo, pois a força de atrito entre a criança e a superfície do carrossel, em direção ao eixo de rotação, é a reação da força impulsiva dos pés sobre a superfície do carrossel e o deslocamento é em direção ao centro. Essa energia é, em parte, proveniente da energia potencial química do corpo da criança. O sistema é isolado em termos de energia, mas um processo de tranasformação dentro do sistema converte a energia potencial ( energia interna) em cinética. Figura 12.12: Carrossel girando no sentido horário e a menina pula na borda da plataforma . Um professor de física está sentado em um banco giratório em torno de um eixo vertical sem atrito com velocidade angular ωi , Fig.(12.13). O professor tem os braços distentidos e segura um haltere em cada mão, de modo que o momento de inércia do sistema (professor, assento e halteres) é Ii . Ele puxa rapidamente os halteres para si, de modo que o momento de inércia nal do sistema é um terço do momento de inércia inicial: If = Ii /3. (a) Qual é sua velocidade angular nal? (b) Compare as energias cinéticas nal e inicial do sistema. Despreze o torque devido ao atrito no eixo do banco durante o intervalo de tempo no qual o momento de inércia do sistema varia. (c) Qual é a origem do aumento ou da dimuição da energia cinética do sistema? Exemplo 8: 12.5. 19 Impulso Angular Como o torque devido ao atrito no eixo do banco é desprezível e não há torques externos sobre o sistema, logo seu momento angular é conservado: Ii Ii ωi = If ωf = ωf . 3 Resolvendo em relação a ωf temos: ωf = 3 ωi . Solução (a) Verica-se que a conservação do momento angular exige o aumento da velocidade angular, seja o mesmo que a diminuição do momento de inércia. (b) A energia cinética nal do sistema é: 1 1 Ii Kf = If ωf2 = ( )(3ωi )2 2 2 3 1 = 3( Ii ωi2 ) = 3 Ki . 2 Assim, a energia cinética do sistema aumenta. (c) O aumento da energia cinética, ou seja, variação positiva dessa energia, ∆ K > 0, é igual ao trabalho (positivo) realizado pelo professor ao aproximar os halteres ao seu tronco. A força aplicada pelo professor sobre os alteres é radial e centrípeta. O trabalho realizado é positivo porque o deslocamenteo é, também, radialmente em direção ao centro (eixo de rotação). Figura 12.13: Professor em um banco giratório. 12.5 Impulso Angular Quando um torque τ atua num corpo de momento de inércia I constante, durante o tempo t1 a t2 , a velocidade angular varia de ω1 a ω2 , escrevemos dω τ =Iα=I , dt ∫ ∫ t2 ω2 τ (t) dt = t1 ω1 I dω = I ω2 − I ω1 = ∆ L (12.34) 20 Cap. 12. A integração de torque no tempo durante o qual ele atua é chamado torque, denotado por Jθ : ∫ t2 Jθ = τ (t) dt = ∆ L. Momento Angular impulso angular do (12.35) t1 Esta grandeza é o análogo rotacional do impulso linear de uma força. A Eq.(12.35) arma que o impulso angular que atua sobre um corpo é igual à variação no seu momento angular em relação ao mesmo eixo. Um grande torque que atua apenas durante um curto intervalo de tempo é chamado torque impulsivo. Uma força dependente do tempo, F (t), atua num intervalo de tempo muito pequeno, sobre um corpo rígido que possui momento de inércia I, Fig.(12.14). Mostre que ∫ τ dt =< F > b∆t = I(ωf − ωi ) Exemplo 9: onde b é o braço do momento da força; < F > é o valor médio da força durante este intervalo de tempo; ωi (ωf ) é a ∫velocidade angular imediatamente antes (após) da aplicação (remoção ) da força. ( A quantidade τ dt denomina-se impulso angular que corresponde a uma grandeza linear análoga denominado impulso linear.) Figura 12.14: Força intervalo de tempo. Solução F (t) age sobre um corpo rígido num curto 12.5. 21 Impulso Angular Seja ⃗τ = ⃗ dL dt e fazendo a integração no tempo ∫ ∫ ⃗ =L ⃗f − L ⃗ i = I(⃗ωf − ω ⃗τ dt = dL ⃗ i ). (12.36) ∫ ⃗ impulso angular e é igual à variação do momento angular. Um corpo rígido Denomina-se Ldt é submetido a uma força que varia com o tempo: ⃗τ = ⃗r × F⃗ (t) ou τ = r F senθ. Seja b = r senθ o braço do torque. Escrevemos ∫ ∫ τ dt = ∫ b F (t) dt = b F (t) dt = b < F > dt onde < F > é o valor médio da força no intervalo de tempo ∆ t, tempo de duração da ação da força F (t). Temos τ =I e escrevemos ∫ ∫ τ dt = dω dt dω I dt = I dt ∫ dω = I(ωf − ωi ). Finalmente, I(ωf − ωi ) = b < F > dt. q.e.d