Voltar MADEIRA arquitetura e engenharia nº 14 artigo 4 Métodos para Determinação do Valor Característico da Resistência à Compressão Paralela às Fibras da Madeira Edna Moura Pinto, Universidade de São Paulo, Interunidades em Ciência e Engenharia de Materiais, São Carlos, SP. E-mail: [email protected] Mariano Martinez Espinosa, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)- Instituto de Ciências de Exatas e da Terra (ICET - Departamento de Estatística), Cuiabá, MT. E-mail: [email protected] Carlito Calil Junior, Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos, Departamento de Engenharia de Estruturas, São Carlos, SP. E-mail: [email protected] Resumo: Os métodos para determinação dos valores característicos por meio da teoria de probabilidade, dada pela Norma Brasileira de Projeto de Estruturas NBR 7190 (1997)(1) pressupõe a condição de normalidade dos dados analisados, fazendo-se necessária a verificação dos dados, bem como a existência de um tamanho amostral grande ( n > 30) e um coeficiente de variação de 18% para o cálculo adequado do valor. No entanto, a teoria dos percentis se apresentou como uma alternativa para a determinação empírica deste valor quando tais pressupostos não são satisfeitos pelo conjunto de dados, desconsiderando até mesmo a sua distribuição, Martinez e Calil (2000)(4). Este trabalho tem por finalidade realizar um estudo comparativo entre o valor característico obtido por meio da teoria de percentis para dados agrupados e pelos métodos da determinação direta dados pela referida Norma. Para esta inquirição foram utilizados dados de ensaios experimentais realizados no Laboratório de Madeiras e Estruturas de Madeira (LaMEM/SET/EESC/USP) com uma espécie do gênero Eucalyptus (grandis) constatando a melhor adequação dos resultados a partir da utilização do método dos percentis. Palavras-chave: Madeira, norma, valor característico, estatística descritiva, inferência estatística. Abstract: The methods for determination of the characteristic values by means of the theory of probability, given for the Brazilian Timber Structure Design NBR 7190 (1997)(1) estimates the condition of normality of the analyzed data, making the size of sample making necessary the verification of such hypothesis and possible transformation of the data for the adequate calculation of the value in the case of the distributions to be asymmetrical, as presented by Martinez e Calil (2000)(4).This indicated the theory of the percentiles as an alternative for the empirical determination of this value without having that to consider the distribution of the data. In this way this work has for purpose to carry through a comparative study enters the characteristic value gotten by means of the theory of percentiles and for the method of the direct determination data for the related standard. With the purpose of this inquiry they will be used given of experimental assays carried through in the Laboratory of timber and wood structures (LaMEM/SET/EESC/USP) with one species of the Eucalyptus grandis. Keywords: timber, standard, characteristic value, descriptive statistics, statistics inference. MADEIRA: arquitetura e engenharia, quadrimestral, setembro a dezembro, 2004, ISSN 1806-6097 1. Introdução A utilização do valor característico para a determinação da resistência da madeira proporcionou um grande avanço na determinação da segurança para o dimensionamento estrutural de madeira. Este valor obtido de dados experimentais são determinados por meio de expressões fornecidas pela NBR 7190 (1997)(1), fazendo uso de métodos probabilísticos. No entanto, o tamanho da amostra, bem como a variabilidade e a distribuição dos dados podem interferir na correta determinação deste valor. Neste sentido, este trabalho tem por objetivo realizar um estudo comparativo entre os métodos utilizados para determinação do valor característico propostos pela NBR 7190 (1997)(1) e o método da teoria dos percentis para dados agrupados, Martinez e Calil (2000)(4), a fim de constatar situações onde a suposição de normalidade dos dados não seja adequada. 2. Fundamentação teórica Para determinação do valor característico foi utilizada a teoria de probabilidade apresentada pela NBR 7190 (1997)(1) e a teoria dos percentis para dados agrupados, Martinez e Calil (2000)(4), considerando um exemplo com dados agrupados em classes, com um tamanho de amostragem maior que 30 ( n > 30). 2.1 Métodos propostos pela NBR 7190 Empregam-se dois métodos: 2.1.1) O método probabilístico O método probabilístico proposto pela NBR 7190(1) para determinar o valor característico supõe que os dados tenham uma distribuição normal com n grande ( n > 30) e coeficiente de variação de 18%. Portanto, para a determinação deste valor é necessário primeiramente verificar se os dados se adequam a uma distribuição normal, Martinez e Calil (2000)(4). Se os dados se aderem a esta distribuição, a eq. (1) pode ser utilizada; caso contrário deve ser feita uma transformação adequada dos dados ou utilizar distribuições assimétricas, Martinez et al (2003)(3). Cabe ressaltar que para utilização da eq. (1), não é necessário agrupar os dados em classes. f c 0, k = y − 1,64 × s , (1) onde: f c 0, k é o valor característico de resistência à compressão paralela às fibras; y é o valor médio da resistência; s é o desvio padrão; 1,64 valor obtido da tabela de distribuição normal padronizada considerando uma probabilidade de 5%. 2.1.2 O método do Estimador Estatístico A determinação do valor característico das propriedades da madeira por este método, utiliza a eq. (2) onde os resultados devem ser colocados em ordem crescente x1 ≤ x 2 ≤ ... ≤ x n desprezando-se o valor mais alto se o número de corpos de prova for ímpar, não se tomando para f c 0, k valor inferior a x1 , nem a 0,7 do valor médio x m , NBR 7190 (1997)(1). MADEIRA: arquitetura e engenharia, quadrimestral, setembro a dezembro, 2004, ISSN 1806-6097 f c 0, k f c 0,1 + f c 0, 2 + ... + f c , 0 n −1 2 = 2× − f c ,0 n × 1,1 , 2 n −1 2 (2) onde: f c 0, k é o valor característico de resistência a compressão paralela; n é o número de observações; f c , 0,i são valores de resistência a compressão, para i = 1,..., n . 2.2 Método dos Percentis para dados agrupados É determinado pela seguinte expressão Martinez et al (2004)(2): Pp = LIR p + (np − Fi −1 ) W, fi (3) onde: LIR P é o limite inferior real da classe do percentil; n é o número de observações; p é a percentagem desejada; Fi −1 é a freqüência acumulada da classe que precede à classe do percentil; f i é a freqüência observada da classe do percentil; W é a amplitude de classe. Observa-se que para determinar o valor característico por meio da eq. (3) é necessário agrupar os dados em classes, em uma distribuição de freqüências. Deve-se portanto utilizar uma amostra grande ( n > 30). 3. Materiais e Métodos Para este estudo, realizado no Laboratório de Madeiras e de Estruturas de Madeira (LaMEM) do Departamento de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo/USP, foi empregada a máquina universal Amsler para realização dos ensaios de compressão, com a finalidade de determinar os valores de resistência da madeira. Os corpos-de-prova para ensaios de compressão paralela as fibras foram retirados com as seguintes dimensões: 5,0 x 5,0 x 15,00 cm em conformidade com a NBR 7190 (1997)(1), como ilustram as fig. 1 e 2. O método de amostragem aleatório simples foi utilizado na seleção dos corpos-de-prova, de onde foram extraídos ao azar 100 corpos de prova, Martinez et al (2000)(5). Os procedimentos experimentais foram baseados na NBR 7190 (1997)(1) e os resultados apresentados foram ajustados para o teor de umidade de 12%. MADEIRA: arquitetura e engenharia, quadrimestral, setembro a dezembro, 2004, ISSN 1806-6097 F Figura 1 – Dimensões do corpo de prova para ensaio de compressão paralela às fibras. F Figura 2- Arranjo de ensaio para compressão paralela às fibras, com instrumentação baseada em relógios comparadores. 4. Resultados e Discussões Na tab. 1 são apresentados os resultados de ensaios de compressão paralela às fibras referente 100 corpos de prova de madeira de E. grandis. 4.1 Exemplo Utiliza resultados de ensaios para caracterização mínima por compressão paralela às fibras de madeira das espécies de Eucaliptus grandis, realizados no Laboratório de Madeira e de Estruturas de Madeira do Departamento de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos. Tabela 1 - Resistência a compressão paralela às fibra (fc0) de 100 corpos de prova de madeira da espécis E. grandis, ensaiados no LaMEM/SET/EESC/USP, em 2000. 24,5 29,1 31,5 33,7 25,7 29,1 32,2 33,8 26,0 29,1 32,2 34,0 27,2 29,6 32,4 34,1 27,4 30,4 32,6 34,3 28,2 30,6 32,6 34,6 28,5 30,9 32,7 34,9 28,8 31,1 32,7 35,8 28,9 31,1 33,2 36,1 28,9 31,2 33,5 36,1 (4) Fonte: Martinez e Calil (2000) . 36,2 36,3 36,5 36,6 36,7 36,7 36,8 37,2 37,2 37,4 37,6 37,8 38,5 38,7 39,5 40,2 40,3 40,8 41,1 41,2 41,1 42,1 42,1 42,2 42,3 42,6 43,3 43,4 43,6 44,8 44,9 45,2 45,8 46,3 46,8 47,1 47,5 47,7 48,3 48,5 48,9 49,3 49,7 49,8 52,0 52,1 52,3 54,1 55,6 57,2 57,5 58,6 60,3 62,1 63,1 64,4 66,1 67,2 68,5 71,1 A média ( y ), a variância ( s 2 ), o desvio padrão ( s ) e o coeficiente de variação para os dados não agrupados da tab. 3, são apresentados a seguir: y = 40,68MPa s2=115,86 s=10,76 CV=26,5% Na fig. 3 é apresentado o histograma dos dados da tab. 1. MADEIRA: arquitetura e engenharia, quadrimestral, setembro a dezembro, 2004, ISSN 1806-6097 25 Porcentagem 20 15 10 5 0 30 40 50 Resistência 60 70 Figura 3 – Histograma de distribuição dos dados de resistência para os valores da tab. 1. a) O valor característico da resistência à compressão paralela às fibras, determinado pela eq. (1), para os dados não agrupados da tab. 1 é: f c 0, k = 40,68 − 1,64 ×10,76 = 23,3 MPa Observe que os dados da tab. 1 são assimétricos à direita, como podemos constatar por meio do histograma apresentado pela fig. 3. A assimetria à direita é mostrada quando existe maior concentração das freqüências à esquerda, isso indica que os dados não têm uma distribuição normal. Portanto o valor obtido de 23,3 MPa não é correto, uma vez que a eq. (1) supõe uma simetria dos dados. Além disso, o valor do coeficiente de variação para este exemplo indica uma grande variabilidade dos dados, observe que este valor de CV=26,5% é superior aos 18 % indicado pela NBR 7190(1), o que indica que a utilização da eq. (2), neste caso, conduziria a resultados inadequados. b) O valor característico da resistência a compressão paralela às fibras determinado segundo a eq. (2), dada pela NBR 7190(1): f c 0,k 24 , 5 25 , 7 37 , 2 + + L + − 37,4 × 1,1 = 29,77 MPa = 2× 100 −1 2 Deve-se considerar que o valor para f c 0, k não deve ser inferior a x1 , nem a 0,7 do valor médio x m , respectivamente 24,5 MPa e 28,5 MPa. c) O valor característico da resistência à compressão paralela às fibras determinado pela teoria dos percentis, segundo a eq. (3), utilizando a tab. 2 é dado por: 100 × 0,05 − 0 f c 0, k =P = 5% 24,8 + × 6,6 = 26,5 MPa. 20 MADEIRA: arquitetura e engenharia, quadrimestral, setembro a dezembro, 2004, ISSN 1806-6097 Tabela 2- Distribuição de freqüência para os resultados de ensaios de resistência à compressão paralela às fibra (fc0) de 100 corpos de prova de madeira da espécie E. grandis, ensaiados no LaMEM/SET/EESC/USP, em 2000. Classes fi Freqüência [24,8;31,4) [31,4;38,0) [38,0;44,6) [44,6;51,2) [51,2;57,8) [57,8;64,4) [64,4;71,0) [71,0;77,6) Total 20,0 32,0 17,0 15,0 7,0 4,0 4,0 1,0 100,0 fr mi Ponto Fi Freqüência relativa 0,20 0,32 0,17 0,15 0,07 0,04 0,04 0,01 1,00 médio da classe 28,1 34,7 41,3 47,9 55,5 61,1 67,7 74,3 Freqüência acumulada 20 52 69 84 91 95 99 100 mi − y (mi − y ) 2 f i -12,58 -5,98 0,62 7,22 14,82 20,42 27,02 33,62 3165,13 1144,33 6,53 781,92 1537,42 1667,90 2920,32 1130,30 12353,85 5. Conclusões Podemos concluir com este trabalho que a eq. (3), equação dos percentis, se apresenta mais adequada para determinação do valor característico em distribuições assimétricas, como é comum em dados obtidos em ensaios com madeira. Nestes casos a aplicação da eq. (1) deve seguir as recomendações de Martinez e Calil (2000)(4). O uso da eq. (2) proposta pela NBR 7190 para os exemplos considerados apresentou um erro não conservador de até 12%. 6. Agradecimentos Os autores agradecem à Capes e a FAPESP pelo apoio financeiro direcionado à esta pesquisa. 7. Referências bibliográficas (1) Associação Brasileira de Normas Técnicas (1997). NBR 7190 – Projeto de estruturas de madeira. Rio de Janeiro. (2) MARTÍNEZ, E. M.; LOUZADA, F. N.; GALVÃO, B.; CALIL, C. J. (2004). Estatística geral com aplicações à engenharia. Livro aceito para publicação na Editora Atlas S.A., em processo final de produção editorial. São Paulo-SP. (3) MARTÍNEZ, E. M.; CALIL, C. J.; ROCCO LAHR, F. A. (2003). Métodos Paramétricos e nãoParamétricos para Determinar o Valor Característico em Resultados de ensaios de Madeira. Artigo submetido à publicação na Revista SCIENTIA FORESTALIS. (4) MARTÍNEZ, M. E.; CALIL, C. J. (2000) Determinação do valor característico da resistência da madeira: distribuições de probabilidades simétricas e assimétricas. Revista Madeira: Arquitetura e Engenharia. Ano 1, n. 2/ ISSN: 1516-2850, p.25-30, mai/ago, . (5) MARTÍNEZ, M. E.; CALIL, C. J.; SALES, A. (2000) Um método de mustreo para la determinación de las propiedades físicas y mecánicas de la madera. Revista Madeira: Madera Ciência y Tecnologia, v.2, n.1, p. 5-20. ISSN: 01717-3644, 2000c. MADEIRA: arquitetura e engenharia, quadrimestral, setembro a dezembro, 2004, ISSN 1806-6097