A Sexualidade na Escola: Concepção e Práticas na Educação Infantil Paulo Marcio Coutinho Passos (FURNE - PB) [email protected] Djanira Tavares (FURNE – PB) [email protected] Resumo: A presente pesquisa, intitulada de A sexualidade na escola: Concepção e Práticas na Educação Infantil, tem como objetivo principal captar o olhar do professor sobre a Orientação Sexual. Esta pesquisa foi realizada numa instituição particular da cidade de Campina Grande-PB, localizada na zona urbana. A amostra dos dados foi constituída por um grupo de quatro professores, sendo 03 do sexo feminino e um do sexo masculino todos graduados em Pedagogia. O estudo foi desenvolvido através de questionário e a análise dos dados ocorreu com fins de investigar como os mestres enfrentam a questão em sala de aula. Chegamos à constatação através desses dados, que o professor ainda relaciona sexualidade à questão da procriação e do sexo; que possuem pouco embasamento e conhecimento sobre Orientação Sexual; mesmo sabendo da importância do assunto, observa-se que o mesmo não é discutido nem estudado na escola, haja vista os educadores não receberem nenhuma formação ou preparação para trabalhar com as crianças sobre sexualidade. Sabemos que na sociedade esse tema freqüentemente é tratado como assunto proibido e constrangedor. Todavia, hoje em dia, tem estado presente em quase todos os lugares por onde passamos. Embora estejamos no século da informação, da globalização, é incontestável a necessidade do educador trabalhar junto às crianças, auxiliando-os e permitindo que elas desenvolvam sua sexualidade de forma saudável e prazerosa. Palavras Chaves: Criança, Educador, Sexualidade Infantil. Sexuality in Schools: Conception and Practices in Early Childhood Education Abstract This research, titled Sexuality in Schools: Conception and Practices in Early Childhood Education, has as main objective to capture the teacher look on Sexual Orientation. This research was carried a private institution of Campina Grande-PB, in downtown. The sample data consisted of a group of four teachers of both sexes, all graduate in Pedagogy. The study was conducted by questionnaire and data analysis occurred for purposes of investigating how the masters deal the question in the classroom. In The observation by these data, the teacher also relates to the issue of sexuality procreation and sex, who have little foundation and knowledge about Sexual Orientation; knowing the importance of the subject, there is that it is not discussed or studied in school, given the educators receive no training or preparation for working with children about sexuality. We know that this theme in society is often treated as a forbidden subject and embarrassing. However, today, has been present in almost all places where passed. Although we are in the century of information, globalization, disputed the need for educators working with children, helping them and allowing them to develop their sexuality in order healthy and pleasant. Key-words: Child, Educator, Child sexuality. 1 Introdução Cada vez mais cedo, as crianças recebem doses altas de erotização, dos mais variados meios. Como conseqüência, mais cedo ou mais tarde, as crianças começam a nos fazer perguntas sobre o sexo. Essa situação é inevitável. Muita gente cresceu aprendendo que sexo era uma coisa feia e suja. Por essa razão, o melhor era não falar a respeito ou, caso alguma pergunta surgisse, dizer que esse assunto não era para criança. A escola deve propor atividades que visem atender à curiosidade natural dos alunos e, ainda, ajudá-los no desenvolvimento de uma sexualidade saudável. Afinal de contas, o sexo faz parte da vida de todo mundo, é fonte de prazer, saúde e é muito importante para a felicidade de muitos. Além do mais, o aprendizado de valores, como respeito, o companheirismo e a solidariedade, começam na infância. Diante disso, os educadores precisam estar devidamente preparados e bem resolvidos sexualmente para lidar com questões relativas a esse assunto e, ao mesmo tempo, incluir a questão na proposta curricular e desenvolver atividades adequadas com seus alunos, para que os mesmos tenham um bom desenvolvimento nos aspectos referentes à sexualidade. Diante da relevância do tema nos propomos a captar o olhar do professor sobre a Orientação Sexual na escola. Ademais, a Orientação Sexual constitui-se numa das prioridades do processo educativo, tendo em vista o desenvolvimento técnico-cientifico e as mudanças sócio-culturais da sociedade contemporânea. O desenvolvimento humano com relação à sexualidade acontece gradualmente e é indicado pelo contato físico, ou seja, quando os bebês são segurados, afagados e acariciados. A partir daí, a capacidade erótica do ser humano se desenvolve. Atualmente, vários fatores contribuem para o afloramento e o desperta da sexualidade de crianças e adolescentes, como podemos destacar: as cenas sexuais mostradas na TV e a erotização da programação infantil. A discussão sobre a inclusão da Orientação Sexual no currículo escolar, bem como sua prática, é uma questão que vem sendo debatida desde a década de 70 e se intensificou na década de 80, em virtude da preocupação com o risco da contaminação pelo HIV (vírus da AIDS) entre jovens e adolescentes e com o crescimento de gravidez na adolescência. Essa questão parece mudar quando em 1997 o MEC lança os PCN‟s do Ensino Fundamental que incluem a Orientação Sexual no currículo das escolas como tema transversal. No entanto, verifica-se certa resistência por parte das escolas em incluir essa temática em suas propostas pedagógicas. Ao tratar o tema Orientação Sexual, buscamos considerar a sexualidade como algo inerente à vida, que se expressa desde cedo no ser humano e contribui para o seu desenvolvimento global. A ausência dessa abordagem tanto na família, na igreja, como na escola gera dúvidas e conflitos, que acabam levando ao bloqueio da sexualidade adulta. Se não há conversa em casa e nem na escola, é na rua que elas e eles provavelmente vão mesmo buscar matar a curiosidade. Por isso, é necessário incluir a Orientação Sexual nos currículos escolares, pois só assim as crianças e os adolescentes conhecerão as verdades, os mitos e as mentiras sobre sexo, sexualidade, métodos contraceptivos, DST‟s e tudo o que ainda pode ser entendido como tabu para pais e os próprios professores. 2 A Construção da Sexualidade na Percepção de Gênero Os professores precisam reconhecer a importância das questões de gênero e trabalhar essas questões em sala de aula, pois só assim conseguiremos mudar essa sociedade desigual e injusta, principalmente em se tratando das relações entre meninos/meninas e entre homens/mulheres. Pois ainda é muito forte o entendimento de que a educação dos filhos é de competência e responsabilidade das mulheres, inclusive a educação sexual. Isso fica bem claro nas reuniões de pais promovidas pelas escolas, nas quais a maior proporção de participantes é, na realidade, de mães. O modo como a escola é organizada, as atividades de limpeza, cozinha e educação que são realizadas por mulheres, as brincadeiras infantis e as atividades pedagógicas que separam meninos e meninas ou que valorizam determinadas características como sendo femininas ou masculinas, os livros didáticos e as histórias de príncipes encantados (contadas nas séries iniciais com a idéia de uma princesa indefesa que será salva por um cavalheiro valente), e as demais situações do cotidiano escolar, contribuem para as crianças formarem um perfil estereotipado de masculino e feminino, e o acompanhará por toda vida escolar e adulta. O professor precisa melhorar o seu olhar para o currículo, mas é necessário entender que o currículo é um artefato de gênero, ou seja, uma construção de aprendizagem que envolvesse tanto as questões masculinas como femininas. Para colocar em prática a construção de crianças, adultos, mas abertos a diferenças\diversidades. Acerca desta construção comenta Neckel ...a escolha dos materiais e livros didáticos sobre o assunto precisa passar por uma análise criteriosa, pois muitos deles apresentam uma argumentação cristalizada e essencialista em relação à sexualidade, principalmente no que se refere às relações de gênero, contribuindo assim para a manutenção das desigualdades entre homens e mulheres, bem como entre os diferentes grupos sociais. (2003, p.123) Acredita-se que o maior desafio do professor é fazer com que os alunos, não só reconheçam as desigualdades que caracterizam as relações sexuais, sociais, afetivas e de trabalho entre homens e mulheres, mas também reconheçam e reflitam sobre as relações intrínsecas de poder/dominação e submissão que estão por trás dessas desigualdades, com suas idéias e valores. Ademais, se faz necessário reforçar a importância que a compreensão dos professores tem para o trabalho de Orientação Sexual, porque grande parte do nosso aprendizado ocorre através de inter-relações humanas. Os PCN‟s destacam que, na discussão sobre as relações de gênero, deve-se “combater relações autoritárias, questionar a rigidez dos padrões de conduta estabelecidos para homens e mulheres a apontar para a sua transformação”. (Brasil, 1997, p.144). Sendo assim, as relações de gênero são construídas socialmente, com conseqüências passiveis de transformações e mudanças, cabendo a nós, adultos e, principalmente aos educadores, ajudar as crianças a desenvolverem uma percepção mais saudável da sexualidade e a se relacionarem da forma mais equilibrada possível. Isso implica romper com a reprodução desse modelo de podersubmissão, da supremacia de um sexo sobre o outro, implícita nos papéis sexuais, iniciando a mudança por nós mesmos. Acredita-se que ser homem, ser mulher ou simplesmente, ser diferente desse padrão estabelecido pela sociedade, não significa ser melhor ou pior do que ninguém, mas ter capacidades e características próprias que nos fazem seres únicos e especiais. Sabe-se que a família é o primeiro educador da criança, é através dos pais que elas tem contato com o mundo, e cabe aos pais transmitir as primeiras noções de relacionamento e educação, que contribuirá para a formação e desenvolvimento pessoal e social da criança. Segundo Basso (apud. Andrade, 1998, p.525) “é na família que a criança recebe as primeiras informações e as mensagens verbais e não verbais transmitidos em relação ao exercício da sexualidade.” Diante disso, a orientação sexual é realizada pelos pais de uma maneira natural, ou seja, informal e espontânea. Por isso, Mattos afirma: “a família é o modelo emocional, que o bebê aprenderá através da observação, reciprocidade das relações e da imitação dos familiares e que permitirá mais tarde, o seu relacionamento com o mundo.” (apud. Andrade, 1998, p.526). Se não há conversa em casa, será na rua que crianças e adolescentes provavelmente irão buscar informações para sanar suas curiosidades em relação ao sexo, à sexualidade. Crianças e adolescentes querem e precisam falar sobre sexo, métodos contraceptivos, DSTs e sobre tudo o que ainda pode ser entendido como tabu para pais e professores. A família deve ser o primeiro educador. Todo esse esfacelamento das famílias – as pessoas hoje não têm tempo para compartilhar as experiências de vida – principalmente quando a questão é relacionada à sexualidade das crianças e dos adolescentes. As informações que eles recebem através de campanhas, da mídia de um modo geral, são informações soltas. É preciso que, em casa e na escola, as informações sejam completas e direcionadas a cada faixa etária, de forma que as dúvidas destes sejam esclarecidas com segurança e veracidade. Essa é uma função familiar, mas muitos pais encontraram e encontrarão dificuldades, preconceitos, receios e, principalmente, despreparo para assumir essa tarefa. Isso acontece devido, a maioria dos pais teve uma educação rígida, reprimida e não sabe conversar sobre essa temática com seus filhos, pois nunca tiveram uma orientação sexual. E, por esse motivo, acaba transferindo essa responsabilidade para a escola. A sexualidade está escondida em todos os lugares e isso não é diferente no ambiente escolar, basta um olhar mais atento para perceber essa realidade. Cabe à escola transmitir conhecimento, informação sobre o tema educando o indivíduo ao desenvolvimento da solidariedade, da responsabilidade, e do respeito às diferenças que existem entre os indivíduos. Segundo Andrade (1998, p. 526), “esses objetivos nem sempre são atingidos, especialmente em se tratando de um tema tão polêmico quanto à educação sexual”. A orientação sexual deveria ser transmitida pela escola de uma maneira formal e sistematizada, desde a inclusão da criança (educação infantil) na escola. O ideal seria a família e a instituição escolar trabalharem em conjunto para transmitir e desenvolver uma sexualidade sadia. Diante disso, os PCN‟s compreendem que a ação da escola é o complemento à educação dada pela família. Havendo essa junção entre a escola e a família, a sociedade é a única beneficiada, pois todos nós somos encarregados, querendo ou não, de tratar da educação da sexualidade de nossos alunos/as e de nossos filhos/as. Considerando que somos todos arrastados nesse processo, é possível concluir que, para se exercer a função de educador ou orientador sexual, não é necessário ter o diploma de professor, ou ter o conhecimento profissional da área de saúde e ciências biológicas. “O preparo para tratar das questões relacionadas à sexualidade tem pouco a ver com a formação acadêmica do educador e muito a ver com a postura frente à sexualidade” (Oliveira, 1998, p.101). Além do mais, é preciso lembrar que os pais são os principais educadores sexuais das crianças e, que o professor não pode julgar como certa ou errada a educação que cada família oferece, mas sim, complementá-la. Nesse sentido, deveria existir uma parceria entre a escola e os pais, ou seja, estes devem ser informados sobre o projeto e objetivos do trabalho de orientação sexual e que enfatiza não somente a dimensão biológica, mas psíquica e sóciocultural. De acordo com os PCN‟s, as escolas que trabalham com Orientação Sexual tiveram resultados satisfatórios com relação ao aumento do rendimento escolar, pois diminuiu a preocupação e tensão com questões ligadas a sexualidade e, conseqüentemente aumentou a solidariedade e o respeito entre os alunos e professores. Já para as crianças (educação infantil) relatem as informações corretas ajudam a diminuir a angústia e agitação em sala de aula (apud. Sampaio, 2005, p.14). A escola que pretende incluir a orientação sexual nos seus currículos deve analisar de forma crítica a sua visão em relação à sexualidade. Pois ainda hoje, os conteúdos escolares retratam o sexo como sendo apenas um componente biológico-reprodutor. Esses conceitos estão claramente expostos nos currículos, livros didáticos e muitas vezes nas falas dos professores. Isso devido ao pouco conhecimento que o professor de educação infantil tem sobre a sexualidade e gênero. Oliveira diz que a sexualidade deve ser vista de uma forma “pluridimensional”, porque ela é construída em diversos contextos: “o biológico, o familiar e o social” (1998, p.103). Ademais, se faz necessário que a escola compreenda que a questão da sexualidade, no cotidiano escolar, é muito mais ampla, pois também envolve a formação de identidades sexuais e gênero. Diante disso Louro (1997) ressalta que: As identidades não se instalam no sujeito a partir de uma determinada idade e de forma irremediável. As identidades devem ser compreendidas como plurais, múltiplas: identidades que se transformam, que não são fixas ou permanentes. As intituições escolares ainda estão muito preocupadas em uniformizar os seus discentes na tentativa de eliminar possíveis diferenças. Tal preocupação está presente também em relação à sexualidade. Trabalhar com o tema Sexualidade não é fácil, nossa sociedade, existem muitos preconceitos em diferentes aspectos culturais, nos quais temos que levar em conta, não podemos simplesmente impor conceitos repletos de modernismo sem que nos preocupemos com os efeitos que causarão à criança. O educador pode tratar questões de sexualidade com os alunos de forma simples e natural, mas, para isso acontecer, os educadores precisam estar devidamente preparados e, ao mesmo tempo, incluir a questão na proposta curricular, desenvolvendo atividades adequadas com a faixa etária dos alunos. Diante disso Meyer destaca que: Que os educadores e educadoras precisam estar em constante processo de atualização, para que possam ter a possibilidade de assumir atitudes e posições reflexivas em relação às situações que acontecem cotidianamente nos espaços educacionais em relação a gênero, à sexualidade, à raça, etnia, dentre outros. (2004, p.39). As crianças por volta dos quatros anos estão na fase das perguntas, dos porquês e o educador como os pais precisam ter paciência, para lidar com isso. De acordo com Belini (2003), as perguntas das crianças devem ser respondidas na medida em que surgem, dizendo sempre a verdade e esclarecendo somente o que foi perguntado. Em sala de aula, as crianças que já manifestaram curiosidade pela questão sexual escutarão com mais atenção do que as outras. As que não se interessaram pela atividade não deverão ser forçadas a ouvir. Se o educador não souber a resposta ou achar que precisa de um tempo para isso, deve dizer francamente que vai procurar saber a resposta e depois volta a falar com eles (crianças), fazer isso é melhor do que enrolá-las. Para Andrade (1998), a sexualidade deveria receber a mesma atenção, cuidado e estímulo que recebem os outros conteúdos escolares. Ademais, estaríamos agindo de forma coerente e construtiva, enriquecendo uma função que, como cita Mary Calderone, “envolve aprendizado, reflexão, planejamento, adiamento, desenvolvimento de valores morais e tomada de decisões” (apud. Andrade, 1998, p. 526). Para desenvolver um trabalho voltado para a sexualidade o educador deve ter a consciência que a sexualidade faz parte do processo de desenvolvimento das crianças e que as curiosidades e descobertas constituem esse processo, que não passa de uma construção histórica e social do próprio corpo. De acordo com os PCN‟s, é fundamental que exista confiança e respeito na relação aluno professor, pois essa relação contribuirá para o professor expressar e respeitar os valores, crenças e opiniões dos seus alunos e ao mesmo tempo não impor os seus próprios conceitos. Os PCN‟s funcionam como o ponto norteador para o desenvolvimento educacional que trata sobre o tema Sexualidade, dando-lhe grande importância, apontando uma forma de inclusão do mesmo no currículo da Educação Infantil e Fundamental, valorizando o respeito mútuo entre o professor e aluno. O educador da Educação Infantil deve integrar as atividades relacionadas a sexualidade no dia-a-dia da escola, pois é importante que os conteúdos de sexualidade estejam interligados com os demais conteúdos curriculares, essa é a proposta apresentada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. As manifestações da sexualidade infantil acontecem na sala de aula, através de brincadeiras, jogos e piadas, cabendo ao professor aproveitar essas oportunidades para intervir e desenvolver atividades relacionadas à orientação sexual de maneira natural e espontânea. Mas, segundo Ribeiro (1999, p.173), o professor deve ter uma “metodologia especifica”. O momento mais adequado para iniciar a Orientação Sexual deve ser indicado pela própria criança, a partir do momento que sentir necessidade de saber algo, ele perguntará. Quando a criança começa a descobrir a sexualidade, ela se satisfaz olhando os irmãos e os pais, sem roupa. E quando isso não acontece em casa, será na escola. Nesse caso o professor pode oferecer desenhos ou bonecos em que apareçam os órgãos sexuais. Obras de artes que mostram corpos nus também constituem um rico material; livros com ensinamentos sobre o corpo humano também poderão auxiliar na construção da identidade sexual da criança. Já no relacionamento da sexualidade e identidade pessoal da criança é preciso explicar para eles que, antes mesmo de nascerem, os meninos e meninas têm semelhanças e diferenças físicas. O nosso corpo é um indicador do sexo a que pertencemos, isto é, se somos mulher ou homem. É preciso respeitar as diferenças físicas que existem entre homens e mulheres, mas os direitos e deveres são iguais para ambos. A sexualidade é um dos aspectos da identidade pessoal e social de cada um, isso construirá a personalidade do indivíduo e essa identidade será construída á partir do meio social em que a criança está inserida. 3 O Olhar do Professor A referente pesquisa foi realizada com o objetivo de captar o olhar do professor sobre a orientação sexual na escola. Esta pesquisa foi realizada numa instituição particular da cidade de Campina Grande-PB, localizada na zona urbana. A amostra dos dados foi constituída por um grupo de quatro professores, sendo 03 do sexo feminino e um do sexo masculino todos formados em Pedagogia. . Este estudo, de natureza qualitativa, nos possibilitou compreender o fenômeno estudado em seu contexto, uma vez que, o comportamento humano é significativamente influenciado pelo contexto em que está inserido. Desse modo, pudemos entender um pouco do processo no qual as pessoas constroem significados. Segundo Minayo (1999, p. 21), “a abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações médias e estatísticas”. Os dados obtidos particularmente nos questionários foram avaliados através da análise temática, que consiste em uma das modalidades da análise de conteúdo. Para Bardin (1977, p.105), a análise temática objetiva desvendar o que está por trás das palavras sobre as quais se debruça, e assim “descobrir os „núcleos de sentido‟ que compõem a comunicação e cuja presença ou freqüência de aparição pode significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido". Estas concepções foram categorizadas da seguinte forma: Qual a sua definição de Sexualidade? Existe algum trabalho de orientação sexual na escola que você trabalha? Você concorda com a inclusão da orientação sexual nos currículos escolares? Porquê ? Já participou de algum treinamento ou capacitação para tal? Qual? Quais as suas reações diante das manifestações da sexualidade infantil em sala de aula? Qual sua visão acerca da diversidade sexual? - Qual a sua definição de Sexualidade? Ao serem perguntadas sobre a definição do que significa sexualidade, os entrevistados, de um modo geral, associam a sexualidade ao ato sexual e aos órgãos sexuais. Demonstram essa visão em vários momentos da entrevista. E assim se expressam: Um meio de propagação da espécie. (S3) Conjunto de todos os sexos, conforme ao que pertence, sendo distintos. (S2) - Existe algum trabalho de orientação sexual na escola que você trabalha? (S1 Sim) (S2 Não) (S3 Não) (S4 Não) Nas falas dos entrevistados fica evidente que não existe o trabalho de Orientação Sexual na escola pesquisada. Apesar da sexualidade está presente na vida de todos nós, entretanto, nas escolas ainda nega-se, omite-se essa questão tão importante e natural que merece ser refletida pelos professores, pois ainda hoje perdura a desinformação, e o conhecimento dos tempos antigos que o sexo, a sexualidade não era coisa de criança. Concordo com Oliveira (1998), quando ele propõe a realização sistemática de reuniões entre professores para refletir, discutir as situações de sala de aula, que envolvem os conteúdos referentes à sexualidade das crianças. - Você concorda com a inclusão da Orientação Sexual nos currículos escolares? Quer seja numa aula de matemática, português, artes ou educação física, o que importa é que o corpo e suas manifestações de sexualidade não sejam ignorados neste processo. Nesse sentido, os entrevistados esclarecem, em seus depoimentos a relevância do tema no curriculo. Sim concordo. Pois a temática sexualidade é de suma importância no ambiente escolar. Porém, muitos jovens estão iniciando sua vida sexual precocimente, aumentando a incidência de gravidez endesejada entre os adolescentes e com o risco da infecção pelo HIV- “virus da AIDS” entre os jovens. Sendo assim, acredito que essa temática deveria ser tratada no curriculo como disciplina obrigatória e não como: Tema Transversal!. (S1) Sim. Podemos orientar os alunos de forma que não seja antecipada, e que eles possam se descobrir aos pucos e tirando todas as dúvidas. (S2) Sim. Pois a sexualidade está de forma direta/indireta inclusa em nosso desenvolvimento como ser humano. (S4) O educador reconhece a impotância e a necessidade de incluir a Orientação Sexual nos curriculos escolares, principalmente pelas manifestações apresentadas pelas crianças em sala de aula, pela polêmica e tabu que o tema representa. De acordo com os PCN‟s a implantação de Orientação Sexual nas escolas “contribui para o bem-estar das crianças e dos jovens na vivência de sua sexualidade atual e futura.” (Brasil, 2001, p.115) Infelizmente essa realidade não existe na maioria das escolas brasileiras e campinenses, o que é uma pena disperdiçar uma temática tão importante como essa para o desenvolvimento social e emocional das crianças. - Já participou de algum treinamento ou capacitação para tal ? Qual ? Como vimos anteriormente, os sujeitos desta pesquisa enfatizaram a importância de se incluir a Orientação Sexual nos curriclos, pois este é fundamental no processo de ensinoaprendizagem e no desenvolvimento emocional e psicosocial da criança. Mas é lamentável que os educadores nunca tiveram a oportunidade de participar de treinamentos ou capacitações sobre sexualidade infantil. O que sabem é baseado em curiosidades de revistas e troca de informações com os colegas, ou na leitura de livros que só traduz o biológico. Cabe a escola proporcionar curso de formação ao seu corpo docente, capacitando-o para que possa desenvolver em sala de aula, um trabalho de Orientação Sexual, de forma segura e eficiente. Podemos observar isso nas respostas apresentas pelos educadores: Nunca participei de nenhum treinamento sobre o tema. Mas procuro ler acerca do assunto. Uma atitude que me facilita em agir em determinadas situações na sala de aula. (S1) (S2 Não) (S3 Não (S4 Não) Analisando estes discursos, constatamos que não existem momentos para se trabalhar com a sexualidade, ela está presente, ativa, é participante de todo o processo educativo. Mas os educadores não estão aptos a trabalhar e nem tão pouco preparados para lidar com a questão da sexualidade, as curiosidades e as descobertas do corpo em sala de aula. O corpo é sinônimo de prazer, desejos, sonhos e experiências. Para que possamos estimular em nossas crianças uma sexualidade bem resolvida e com menos tabus. Num primeiro momento devemos buscar informações que possam nos orientar para lidarmos bem com o assunto e depois, falar com os pequenos de forma aberta e descomplicada, deixando a criança à vontade quando a curiosidade surgir, na certeza de que, através da disponibilidade e da informação as coisas acontecem. - Quais as suas reações diante das manifestações da sexualidade infantil em sala de aula? As manifestações da sexualidade infantil é inerente a qualquer criança e sua demostração será particular a cada uma, sendo que aos educadores cabe conhecê-la, respeitá-la, conduzí-la de forma adequada, sem estimulação nem repressão e tendo sempre em mente uma autorefleção de sua própria sexualidade. È importante que a criança conheça o seu corpo e saiba cuidar dele,que desde pequena aprenda a se proteger e a respeitar o corpo do outro. Por isso as manifestações da sexualidade são fundamentais nesse processo da descoberta. Segundo Ribeiro (2009) “o erotismo tem suas bases na infância.” È fundamental que o educador seja natural com relação a sexualidade, pois somos nós, adultos quem construimos essa visão distorcida, feia, suja, errada do corpo e da sexualidade. Assim sendo os entrevistados se expressam com relação as manifestações da sexualidade. De natureza natural, pois sabemos que a manifestação da sexualidade afloram em todas as faixas etárias do ego, reclamar, ignorar, reprimir são atos errônios, pois esse é um assunto que interessa tanto a familia como a escola. Enfim, procuro me posicionar de forma correta, tratando de maneira natural ! (S1) Tento explicar de forma discreta, justificando que o tal assunto terá o seu tempo certo. (S2) Há principio observar a situação e de acordo com o fato orientálos, não apenas agir de forma repressora. (S3) Tento agir da forma mais natural possivel, conversando com a criança em particular ( se possivel), que: aquele ato é prazeroso, nos satisfaz, porém é um momento intimo e não público. (S4) - Qual sua visão acerca da diversidade sexual? É preciso respeitar as diferenças, podemos destacar isso nos depoimentos dados pelos professores. A minha visão acerca da diversidade sexual e de tratar o tema de maneira consciente, de aceitar o outro com suas diferenças, de abrir uma reflexão permanente sobre o assunto entre os educandos. Enfim, a escola deve ter seu papel definido sobre como trabalhar a temática de forma significativa, tratando o tem junto aos valores da familia. (S1) Apesar de não apoiar, respeito e cada um tem o direito de fazer o que quer da vida. (S2). Todo ser humano tem o livre acesso a escolha, mas que seja de forma preventiva. (S3). Eu particularmente respeito, pois cada ser tem sua opinião e escolha própria. (S4). 4 Considerações Finais Tendo em vista que a sexualidade está presente em quase todos os lugares por onde passamos, vemos a necessidade de incluir a Orientação Sexual na escola e propiciar uma prática pedagógica desafiadora, uma forma de pensar no intuito de sanar o problema. Pois tudo isso é decorrência de um reflexo que é enaltecido pelas relações sociais ao longo do tempo e reforçado pelas práticas que constituem as instituições tais como: família, escola e igreja, etc. Por isso, concluímos que não podemos tratar dos estereótipos socialmente construídos apenas com desejo de diminuí-los. Importa proporcionar aos seguimentos da instituição, principalmente aos professores (as), uma leitura crítica da realidade com subsídios necessários para refletir a respeito das ações, atitudes e comportamento escolar, objetivando entrever nesse processo formas de construir uma sexualidade com menos preconceito e mais confiança nas capacidades que ambos os sexos possuem. Por isso é tão gritante a omissão dos educadores em relação a essa questão, pois não foram trabalhados para explorarem a sua própria sexualidade e nem tiveram a orientação sexual dos seus pais, como irão passar essa temática tão delicada e difícil de se falar. Confirmamos que a construção da sexualidade tem tudo a ver com a formação do ser humano nos diferentes contextos sociais, nos quais foi se inserindo ao longo de sua vida. Todos, sem exceção contribuíram de forma eficaz ou não para a legitimação da percepção que todos apresentam atualmente. Refletindo esse contexto mediante a análise confirmada, verificamos e chegamos à conclusão de que, não devemos permitir que a sexualidade ainda fosse tratada como semvergonhice, algo feio, sujo, ou mesmo pecado, devemos sim, lutarmos em favor das transformações no sentido de compreender que a sexualidade é algo natural e prazeroso e que não devemos sentir culpa ou ter vergonha de perguntar. A noção de que a sexualidade é algo inerente a vida, deve ser compreendida pelos educadores e que as crianças também fazem parte desse processo da construção da sexualidade. È importante perceber que a sexualidade é diferente em cada etapa do desenvolvimento humano e que cada um reagi de maneira diferente em relação a essas descobertas do corpo. O sexo é relativo ao fato natural, biológico da diferença física entre o homem e a mulher, ou seja, no popular, o sexo é entendido como a relação sexual e os órgãos genitais. Enquanto que a sexualidade é o modo próprio como cada pessoa vive, o fato de ser sexuado em masculino e feminino. Portanto, a sexualidade é uma categoria existencial subjetiva, muito distante de órgãos ou funções biológicas. Ao definir sexualidade como sendo o modo pessoal de viver, o fato de ser sexuado, compreende a existência de diferentes modos de fazê-lo. Uma sexualidade, vivida com prazer e equilíbrio, é uma sexualidade vivenciada de forma saudável, fonte de gratificação e realização pessoal. Ao contrário da sexualidade vivida de forma conflituosa e tensa, com problemas de insatisfação, frustração, desequilíbrio etc. Neste último caso, temos como exemplos, pessoas que não aceitam o sexo, rejeitam sua condição sexual, em síntese, não aceitam ou rejeitam o seu modo próprio de ser e viver como sexuado. Para que possamos estimular em nossas crianças uma sexualidade mais bem resolvida e com menos tabus, devemos num primeiro momento buscar informações que possam nos orientar para lidarmos bem com o assunto, e depois, falar com os pequenos de forma aberta e descomplicada, deixando a criança à vontade quando a curiosidade surgir. No decorrer da análise percebemos que a Orientação Sexual não é discutida e nem estudada pela escola, haja visto que os educadores não recebem nenhuma preparação para trabalhar com as crianças sobre a sexualidade. Confirmamos que o currículo opera de forma, que internaliza as velhas identidades cristalizando como se fossem fixas e unificadas, revelando nesse processo a má formação dos educadores quanto á questão da inclusão da Orientação Sexual nos currículos. Tal modelo reflete no processo de ensino por falta de qualificação pertinente ao tema abordado para desmistificar a sexualidade infantil presente no contexto escolar e fora dele. Tentando amenizar a falta de informação de grande parte dos educadores, propõe-se que a escola inclua em seu curriculo a referida temática e ofereça cursos de formação ao seu corpo docente, capacitando-o para que possa desenvolver em sala de aula, um trabalho de Orientação Sexual, de forma segura e eficiente. O professor precisa melhorar o seu olhar para o currículo, mas é necessário entender que o currículo é um artefato de gênero, ou seja, uma construção de aprendizagem que envolvesse tanto as questões masculinas como femininas. Para colocar em prática a construção de crianças, adultos, mas abertos a diferenças\diversidades. Ademais, fica evidente que não existe regras pra trabalhar a questão da sexualidade infantil, tudo vai aconteçendo no dia a dia em sala de aula, na convivência, na descoberta e curiosidades dos alunos. Muitos de nós viemos de uma educação repressora, em que tudo era proibido, feio, sujo, pecado, sei que não é fácil mudar, trabalhar valores, conceitos que não estamos acostumados, mas é necessário a mudança, para construir uma sociedade de cidadões conscientes com sua sexualidade e com a do próximo, além das questões de valores, respeito, solidariedade. 5 Referências ANDRADE, Heloisa Helena Siqueira Monteiro, Sexualidade na Infância e na Adolescência – Orientação. Medsi, 1998 ARRUDA, Maria do Socorro Araújo, O diabo entrou na igreja: carnavalização do sagrado em “CHARIVARI”, de Lourdes Ramalho. 2009 BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. 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