AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO CURRICULAR DO ENSINO MÉDIO NO ESTADO DO PIAUÍ: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA Germaine Elshout de Aguiar – Universidade Federal do Piauí – UFPI A elaboração de diretrizes ou referenciais curriculares, embora teoricamente bastante fundamentada, remete a diversas dificuldades quando da sua implementação, pois apenas desempenham o papel de orientar, enquanto entendemos que a prática é o fator determinante do processo educativo. Neste sentido, buscamos, por meio de uma pesquisa iniciada em 2009, verificar de que forma a nova proposta curricular para o ensino médio do estado do Piauí, organizada por técnicos das Universidades Federal – UFPI e Estadual – UESPI, contratados pela Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Piauí – SEDUC, foi inserida nas instituições de ensino, pois não há, primordialmente, a preocupação com as questões fundamentais sobre o acompanhamento da práxis de escolarização, o que se evidencia com a ausência, até o momento, da aplicação de qualquer instrumento para avaliar este processo. Assim sendo, pretendemos, com o presente texto, contextualizar tanto a concepção de currículo, quanto a de avaliação de desenvolvimento curricular, que embasará a investigação in loco. Palavras-chave: Currículo; Ensino Médio; Avaliação curricular 1 CURRÍCULO: CONCEITOS E PERSPECTIVAS O currículo1 foi reconhecido como área do conhecimento educacional no início do século XX com as publicações de Dewey (The absolute curriculum, 1900) Bobbit (The curriculum, 1918) e Tyler (How to make a curriculum, 1924). Inicialmente, no campo de estudo relacionado ao currículo podem ser observadas duas grandes tendências, que dominaram até o início dos anos setenta do século XX, sendo uma voltada para a elaboração curricular que se centralizasse nos interesses e esforços do aluno (Dewey e Kilpatrick - escolanovismo) e outra que priorizasse a construção científica para desenvolver aspectos da personalidade adulta, então considerados desejados (Bobbit – tecnicismo). O currículo desempenha papel fundamental, a despeito de, geralmente, ser visto dentro de uma perspectiva mais tradicional, como sendo, basicamente, o planejamento de ensino2 , representando o “alicerce do ensino”. Tem como finalidade subsidiar o professor 1 A origem da palavra currículo – currere, do latim – significa carreira, caminho, jornada, percurso, dentre outros, e surge pela primeira vez na Inglaterra, em 1663, no dicionário Oxford, com o sentido de disciplina. 2 Esta concepção ainda predomina entre o corpo docente da rede pública estadual no Piauí, conforme verificado durante a experiência de ministrar as disciplinas Prática de Ensino de Línguas Estrangeiras, o que significa dizer que, para os professores, existe apenas o currículo formal, ou seja, eles têm dificuldades para na sua prática cotidiana na sala de aula, servindo de parâmetro para as suas diversas atividades, e, dessa maneira, deve despertar nos alunos o interesse pela disciplina, por meio da escolha de uma metodologia adequada com técnicas e atividades que atinjam os objetivos estabelecidos, levando, teoricamente, à aprendizagem concreta. Esta visão, mais tecnicista, predomina até a década setenta do século XX, quando, segundo Schwab (1978, p. 287) afirmou que: A área curricular está moribunda. Por seus atuais métodos e princípios, é incapaz de continuar o trabalho e contribuir de modo significativo para o avanço da educação. Ela necessita de novos princípios que irão gerar uma nova visão sobre o caráter e variedade dos seus problemas. Ela precisa de métodos novos e apropriados a uma avaliação dos problemas. Este período é caracterizado, como explicam Moreira e Silva, por um sentimento de crise (1998, p.13) na sociedade americana, que levou a questionar o significado e sentido de vida, e, consequentemente, o papel da escola. A tendência curricular dominante acabou sendo rejeitada por vários autores, inconformados com a injustiça e com a desigualdade social, que desejam construir uma escola e um currículo afinados com os interesses dos grupos oprimidos. Não obstante Tyler já ter mencionado em 1947 a necessidade de uma teoria curricular, com a qual Pacheco concorda ao explicar que (...) o desenvolvimento do currículo sem uma teoria tem fatais resultados e uma teoria do currículo sem o desenvolvimento nega o fim último da teoria (2001, pgs. 22-23), somente cerca de 30 anos após surgem as do neomarxismo, da Escola de Frankfurt, da psicanálise, dentre outras, que foram sendo adotadas por especialistas tanto americanos (Michael Apple e Henry Giroux – análise sociológica do currículo) quanto britânicos (Michael Young – Sociologia do conhecimento escolar, sociologia do currículo), e levam a mudanças na concepção do currículo, principalmente a partir dos anos oitenta do século XX, o que propiciou o surgimento da Nova Sociologia da Educação (NSE). As divergências levantadas ao discutir-se a questão curricular nos remetem, consequentemente, às diferentes visões, descritas por Silva (1998), como a) tradicional e “nocionar/conceituar o currículo, bem como perceber a sua dinâmica e implicação político-pedagógica própria” (MACEDO, 2008, p.13). 2 humanista – visão conservadora da cultura; b) tecnicista, técnica ou tradicional3 – enfatiza a dimensão instrumentária e utilitária; c) crítica – de orientação neomarxista e classifica as instituições escolares como reprodutoras da sociedade capitalista, d) a visão pós-estruturalista, que enfatiza o currículo como prática cultural e de significação e e) prática, que, de acordo com Kemmis (1988) a define como um discurso humanista, uma organização liberal e uma prática racional resultante entre especialistas curriculares, professores e condições reais desta prática. Goodlad se pronunciou a este respeito, em 1977, ao sugerir cinco definições do currículo: • Ideal ou ideológico, considerado desejável à luz das características e dos interesses da comunidade; • Formal ou oficial, prescrito pelo sistema ou instituição escolar; • Percebido, que é a interpretação do currículo formal pelos profissionais da educação; • Operacional ou realizado: as intenções efetivamente concretizadas nas atividades de ensino e de aprendizagem; • Experiencial ou vivenciado percebido pelos alunos como conteúdo a ser aprendido ou conjunto de aprendizagens que realmente efetuam. Contudo, a “sofisticação teórica” (MOREIRA, 2005, p.19) da teoria curricular ainda é insuficiente para o processo de construção de uma escola de qualidade no país, possivelmente também devido à polissemia que o conceito currículo suscita até os dias atuais 4 . Assim, surgem, a partir dos currículos desenvolvidos na sala de aula, dos conteúdos e das formas culturais trabalhados com os alunos, questionamentos acerca da reconstrução da realidade e da definição cultural, inicia-se o reconhecimento das forças 3 Sacristán (1998) propõe as seguintes concepções de teoria técnica: 1 – racionalismo acadêmico currículo é sinônimo de conteúdos; 2 – relacionada tanto com as ideias de Rousseau do sec. XVIII , como com o as da escola nova e progressista. O currículo é um meio de promoção da realização dos alunos, ou seja, a escola proporciona aos alunos oportunidades de aprendizagem; 3 – o currículo como tecnologia e eficiência – define o currículo como planos para a aprendizagem e de ação pedagógica, conjunto de experiências planificadas na escola e, ainda, uma série estruturada de resultados pretendidos de aprendizagem. 4 Messick (1980) coloca, oportunamente, que se alguém se demonstra inseguro para definir o conceito de currículo, provavelmente deve ter experiência docente, ao contrário do leigo, que talvez não hesite em descrevê-lo como “a relação de matérias estudadas pelos alunos de determinado nível de ensino” (p.9). 3 e dos fatores externos à escola 5 . Em outras palavras, organiza-se a prática curricular abrindo-se espaço para a cultura do aluno, tomando como ponto de partida as suas experiências, e, atualmente, reconhece-se e valoriza-se o tipo de cultura que se desenvolve na educação e no ensino e que, segundo Sacristán (1998) “obviamente ganha significado educativo através das práticas e dos códigos que a traduzem em processos de aprendizagem para os alunos” (p.9). Levando em consideração todos os aspectos supramencionados, concordamos com Bianchi (2001) que, em síntese, o currículo é um projeto educativo global, a ser usado como ponto de partida para a planificação de atividades educativas, no qual são apresentadas as razões das escolhas relativas ao que se quer ensinar, determinados os objetivos e os conteúdos da aprendizagem a promover, e sugeridos modos de organização do ensino e da aprendizagem e de avaliação dos respectivos resultados. (p.42). (grifos nossos). Diante deste cenário, Pacheco (2001) informa que, ao se construir uma proposta curricular, devem ser levantadas as diferentes concepções relacionadas à natureza do conhecimento, que incluem, além do racionalismo acadêmico e a reconstrução social, - o desenvolvimento dos processos cognitivos, que se traduz em maior preocupação com o aperfeiçoamento das operações intelectuais do que com os conteúdos; - a tecnologia, voltada para o como e não para o quê; - a auto-realização ou experiência consumatória, centrada no aluno e nos conteúdos de aprendizagem. Tendo, portanto, em vista todas as modificações significativas ocorridas a partir de 1970 na área curricular, surge a necessidade de avaliações e adaptações à nova realidade de mundo e de sala de aula. Entretanto, nas escolas de Teresina, evidenciamos uma dissociação entre aquilo que o professor ensina e aquilo que o aluno aprende, obrigando a uma redefinição do papel do professor e do conteúdo curricular, que continua, segundo Perrenoud (1995), fragmentado, desconexo, caótico e que não levam em conta a experiência e a construção das competências que determinam a formação do aluno. A noção de competência segue a tendência atual em orientar os currículos baseados na construção de competências desde a escola fundamental, e adquire um 5 Isto fica claro tanto em Green e Bigum (1995) quanto em Santomé (1995), que mostram como os meios de comunicação em massa, o rock e a cultura da droga, como outras formações subculturais, fazem parte da construção social e discursiva da juventude. 4 caráter primordial, quando analisamos Tanguy (1997) que afirma ser necessário, ao definirem-se os programas de ensino, fazer “a lista de competências exigíveis, implicando a aquisição de saberes e savoir-faire correspondentes, levando-se em conta a capacidade de assimilação dos alunos e assegurando-se da possibilidade de fazer o que é proposto” (p.36). Diante deste contexto, mister se faz admitir que o currículo não é um pacote de conteúdos e materiais ou um resumo básico a ser cumprido, mas que deve ser encarado, de acordo com Stenhouse (1995), como uma tentativa de comunicar os princípios essenciais de uma proposta educacional, que esteja aberta a exames críticos para que possa ser traduzida para a prática, pois a escolaridade “é um percurso para os alunos/as, e o currículo é seu recheio, seu conteúdo, o guia de seu progresso pela escolaridade ” (SACRISTAN, 1998, p.125). É fundamental, portanto, que se trabalhe com um currículo elaborado 6 a partir de uma visão crítica, que rompe o silêncio e resgata o discurso dos alunos e professores (SILVA,1990) e que faça parte, segundo Sacristán, (1988, p.24) de múltiplos tipos de práticas que não se podem reduzir unicamente à parte pedagógica de ensino: ações que são de ordem política, administrativa, de supervisão, de produção de meios, de criação intelectual, de avaliação etc (...). Nesta perspectiva, e tomando por base a fundamentação descrita até o momento, analisamos aspectos relacionados à avaliação curricular, no sentido de demonstrar a extensão dos fatores interligados desde o seu planejamento até a sua execução em sala de aula, pois As questões sobre currículo, como todas as questões sobre educação, devem permanecer abertas a quaisquer respostas que lhes ofereçamos devem ser reconhecidas como experimentais, hipotéticas e sujeitas à revisão contínua. A teoria do currículo (e a da avaliação, acréscimos nossos), portanto, deve reconhecer que o desenvolvimento curricular deve constituir um processo contínuo de evolução e planejamento. O conhecimento continua a se desenvolver, a sociedade evolui, as pessoas se modificam, e o currículo precisa acompanhar tudo isso (KELLY, 1991, p.17). 6 No Piauí, este processo foi conduzido de modo a envolver ativamente os corpos docente e discente de todas as 18 gerências regionais de educação do Estado, tomando por base os aspectos infra-estruturais, pedagógicos, curriculares e sócio-educativos do ensino médio do Estado. 5 2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A AVALIAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO CURRÍCULAR Assim como há diversas concepções acerca de currículo, há uma abundância tanto de conceitos como de modelos de avaliação, o que, de acordo com Sacristán (1998), levou a propor diversos procedimentos em que o processamento de informação é muito característico em cada caso (p. 334). No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB - Lei 9.3946 7 , trata da avaliação do rendimento escolar e dos sistemas de ensino em 13 artigos, sendo repetida (...) aí 23 vezes, o que é muito eloquente por si só (CURY, 1997, p.8). Contudo, os procedimentos de avaliação adotados pelo Ministério de Educação, a exemplo do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) e o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), se restringem apenas a resultados educacionais por meio da aplicação de testes de rendimento escolar, estimulando a competição entre as instituições de ensino para uma colocação satisfatória no ranking, o que reflete diretamente na gestão curricular, pois, embora instrumentos necessários, desconsideram indicadores relevantes no processo educacional, como a cultura organizacional da escola, as práticas e as relações entre professores e alunos (CASTRO, 2009, p.34). Nesta mesma direção, Sousa (2009, p. 36) alerta que assim o currículo possivelmente poderá se conformar “aos testes de rendimentos aplicados aos alunos, que tendem a serem vistos como os delimitadores do conhecimento que têm valor, entendido o conhecimento como o conjunto de informações a serem assimiladas pelos alunos e passíveis de testagem. Mesmo que Lewy (1979) tenha afirmado que, desde os anos 50 do século passado, vários projetos de avaliação de desenvolvimento curricular 8 - predominantemente teóricos - tenham sido empreendidos em muitos países do mundo, constatamos que, no Brasil há uma certa carência de publicações sobre pesquisas empíricas voltadas para esta área, chegando a inexistir, particularmente, no Piauí, o que 7 É importante mencionar que esta mesma lei estabelece, em seu artigo 36, que o currículo do ensino médio deverá destacar a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e artes; o processo histórico de transformação da sociedade e cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício de cidadania, assim como salienta a adoção de metodologias de ensino e avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes. 8 Na época, havia o emprego de três modelos, dos quais o mais conhecido era o proposto por Tyler (1950), com foco no alcance dos objetivos educacionais. Scriven (1967) defende o exame do mérito de uma determinada programação por meio da formulação de questões específicas. A terceira abordagem era a orientada para a decisão (ALKIN, 1970), cujo pressuposto é a crença de que a avaliação apenas vale a pena se seus resultados afetarem ações futuras. 6 nos levou a realizar um levantamento bibliográfico para identificar sugestões de procedimentos que pudessem ser adaptados ao presente trabalho e, assim, embasar teoricamente a práxis. Bonniol e Vial (2001) distinguem três posturas epistemológicas de avaliação: a de medida, priorizando os produtos; a de gestão, focando os procedimentos, e a de problemática do sentido, que analisa os processos. As duas primeiras epistéme se desdobram em três modelos “históricos” mais ou menos transdisciplinares: nômades – a explicação causal, o estruturalismo e a sistemia (cibernética sistemismo e sistêmica); transregionais – domínio de objetivos e locais – próprios de uma equipe identificável de trabalho (avaliação formadora ou para remediar). Contudo, como também neste campo ocorrem mudanças na conceituação e na construção dos objetos, acreditamos que uma avaliação que considere a gestão e os procedimentos adotados quando da implantação dos referenciais curriculares, possa demonstrar os caminhos possíveis rumo aos múltiplos referenciais (ARDOINO, 1993 in: BONNIOL e VIAL, 2001, p.14.) Concordamos com Ardoino e Ferrasse (1992) que a avaliação não pode ser confundida com a pesquisa. A finalidade das práticas avaliativas é a otimização da ação e a ajuda à decisão, enquanto a pesquisa objetiva a produção de novos conhecimentos e a sua relação com outros já estabelecidos. Segundo Goodson (1998), há diferentes enfoques a serem considerados na pesquisa curricular, quais sejam: - o individual: história de vida e carreira; - o de grupo ou coletivo: analisa a evolução do desenvolvimento de padrões de estabilidade e mudança de categorias, disciplinas e as próprias escolas; - o relacional: focaliza as transformações das relações entre indivíduos, grupos e coletividades e a maneira como estas ocorrem. O autor os justifica pela necessidade de construir estudos sobre participantes, eventos, períodos e contextos históricos para desenvolver “um entendimento cumulativo sobre a situação do currículo contemporâneo, lançar mais luz sobre o presente e proporcionar insights nas repressões imanentes em circunstâncias transmitidas” (p. 74). Concordamos com Pacheco (1992), que toda a reforma supõe, por um lado, uma mudança estratégica no quadro normativo da política educativa, com opções a nível político, ideológico, social e cultural e, por outro, uma inovação a nível mais concreto das práticas educativas e dos contextos imediatos da ação dos professores e dos diversos agentes educativos. 7 Nesta perspectiva, evidencia-se a necessidade de dispor de mecanismos de informação acerca do desenvolvimento curricular e da dimensão sócio-política dos procedimentos de avaliação a que se submete a prática curricular com a finalidade de se perceber de que forma se configuram os processos essenciais para a implementação de diretrizes curriculares e os impactos causados com esta ação, para que o funcionamento do sistema escolar não se reduza somente aos dados baseados nas avaliações dos alunos (SACRISTÁN, 1998), única função de “controle” indispensável nas instituições escolares públicas piauienses e, acreditamos, também nas do restante do País. Desta forma, a metodologia sob a perspectiva multirreferencial 9 a ser adotada para o desenvolvimento da investigação nas instituições Embaixador Expedito Resende, em Piripiri, e Raimundinho Andrade, em Campo Maior, por serem as únicas a terem adotados os novos referenciais curriculares, tomaremos por base Bonniol e Vial (2001, pgs 184-185), cinco procedimentos de referência: 9 Etapa de pré-diagnóstico, para esclarecer o contexto e as orientações da intervenção por meio de reuniões, entrevistas e aplicação de questionário aos docentes, com perguntas voltadas para quando e como tomaram conhecimento dos referenciais curriculares; se participaram de alguma capacitação sobre eles; qual (ais) modificação (ões) substancial (ais) ocorrida (s) com a sua implantação; sobre o tipo de acompanhamento; os maiores obstáculos para a sua implementação e, ainda, quais pontos (des) favoráveis com a mudança. 9 Etapa de diagnóstico: objetiva, por meio de reuniões e entrevistas, descobrir e esclarecer as características mais pertinentes das instituições e o seu funcionamento. 9 Etapa de comunicação, em forma de seminários, dos resultados do diagnóstico às instituições para facilitar a sua apropriação e sua plena exploração. 9 Etapa de concepção de cenários de ação para ampliar o campo de soluções e melhorias possíveis por meio de observações. 9 Etapa de avaliação final, não somente da consecução dos objetivos, mas, principalmente, da análise do impacto global da implementação dos referenciais curriculares nas instituições escolares. 9 Este enfoque será abordado por entendermos que trabalhar os saberes como referências constituídas na dialógica da diferenciação, na referencialização\desreferencialização sem nenhuma pretensão unificante (...) nos permite pleitear de forma muito mais fecunda a intercriticidade nos âmbitos do currículo (MACEDO, 2007, pgs 76-77). 8 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do contexto descrito até o momento, acreditamos ser de suma relevância o trabalho de acompanhamento a ser realizado a partir do início do período letivo de 2010, se levarmos em consideração que sempre há um amplo hiato entre as ideias de um projeto alimentado por seus planejadores e os fatos reais de sua implementação, se assim podemos dizer, em classe pelos professores (KELLY, 1981, p.120). Neste sentido, é necessário identificar a existência ou não de barreiras devido à inovação, se as habilidades e conhecimentos sugeridos estão em consonância com a prática pedagógica. Por esta razão, concordamos com Skilbeck (1976) que analisar o desenvolvimento curricular baseado na escola, envolvendo todos os atores, proporciona escopo para a sua contínua adaptação às necessidades dos alunos mais do que fazem outras formas de desenvolvimento do currículo (p.93). Assim, destacamos a importância do currículo que, como projeto baseado num plano construído e ordenado, relaciona a conexão entre determinados princípios e uma realização dos mesmos (...) segundo Sacristán (1998, p. 16), e o mecanismo através do qual o conhecimento é distribuído socialmente (YOUNG, 1980, p.25) e, neste sentido, concordamos com Bianchi (2001) que a elaboração e concretização do currículo são, teoricamente, etapas mutuamente dependentes do processo do desenvolvimento curricular, que deve ser complementada com a etapa da avaliação, e os resultados obtidos (...) não devem ser usados única e exclusivamente para traduzir um certo desempenho escolar. A sua utilização implica servir de forma positiva na definição de novas políticas públicas, de projetos de implantação e modificação de currículos, de programas de formação continuada dos docentes e, de maneira decisiva, na definição de elementos para a tomada de decisões que visem a provocar um impacto, ou seja, mudanças no pensar e agir dos integrantes do sistema (VIANNA, 2003, p26). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARDOINO,J; FERRASSE, J. L´évaluation des composantes universitaires dans le cadre institutionel du CNE. Les evaluations, PUM, pgs 235 – 246, 1992. BIANCHI. José João Pinhaços. A educação e o tempo: três ensaios sobre a história do currículo escolar. Piracicaba; Editora UNIMEP, 2001. 9 BRASIL. Lei 9394. Fixa as diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: 1996. BONNIOL, Jean-Jaques; VIAL, Michel. Modelos de avaliação. Porto Alegre; Artmed Editora, 2001. CASTRO, Alda M. D.Araújo (orgs). A qualidade da educação básica e a gestão da escola. 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