O CRESCENTE USO DE MEDICAMENTOS E PRODUTOS

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O CRESCENTE USO DE MEDICAMENTOS E PRODUTOS
EMAGRECEDORES: Bases Científicas x Dados Empíricos
Queli Carolina Borges Bernardes¹,
Farmácia, Iniciação Científica, Unidade Universitária de Itumbiara
email: [email protected]
Vanessa de Assis Paiva²
Graduanda, Universidade Estadual de Goiás, Itumbiara - Goiás
Cezimar Correia Borges³
Docente
INTRODUÇÃO
A obesidade se destaca atualmente como uma das principais causas das doenças crônicas
não transmissíveis (DCNT), estando associada aos fatores genéticos e estilo de vida, como má
alimentação, sedentarismo e tabagismo (OMS, 2012). É bem estabelecida na literatura, sobre a
relação da obesidade com as complicações para a saúde. A lista de complicações é longa,
destacando-se o Diabetes Mellitus tipo 2 (DM tipo 2), as dislipidemias, a apneia do sono, as
doenças cardiovasculares e a alta mortalidade. Quanto maior o excesso de peso, maior é a gravidade
da doença conforme posicionamentos de entidades de saúde e pesquisas típicas com populações de
indivíduos com excesso de peso (ABESO, 2010).
Dentre os procedimentos mais empregados na prevenção e tratamento da obesidade,
evidenciam-se a dieta, o exercício, as cirurgias e os medicamentos ou produtos dispostos no
comércio. O tratamento medicamentoso deve ser feito sob recomendações específicas e sob muitos
cuidados, em detrimento dos inúmeros riscos à saúde, comumente causados pelos efeitos adversos
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dos fármacos disponíveis no mercado.
Muitos tratamentos farmacológicos são recomendados para a redução de peso, sendo que os
principais são os anorexígenos, também conhecidos como supressores do apetite. Essa classe de
medicamentos apresenta efeitos colaterais importantes sob o ponto de vista cardiovascular e em
nível de sistema nervoso central (SNC), assim sua prescrição deve ser criteriosa, evitando o uso
indevido e indiscriminado. Contudo, no Brasil há um consumo exagerado de anorexígenos em
relação aos demais países (KOROLKOVAS et al, 2007).
O Brasil encontra-se entre os países que mais consomem medicamentos em todo mundo,
como exemplo situa-se o relatório da International Narcotics Control Board (INCB - 2008) o qual
lista o Brasil como um dos grandes consumidores de psicotrópicos anorexígenos. Há cinco
medicamentos registrados para o tratamento da obesidade no país: anfepramona (dietilpropiona),
femproporex, mazindol, orlistat e sibutramina. A sibutramina recebeu seu registro no Brasil em
março de 1998, no entanto a publicação da Resolução RDC № 52 de 06 de outubro de 2011 por
parte da ANVISA, a qual passou a proibir o uso de anfepramona, femproporex e mazindol manteve
a comercialização controlada de sibutramina, sem dúvida veio modificar o perfil das vendas e uso
desses tipos de medicamentos por parte da população.
A sibutramina se constitui como um dos medicamentos mais consumidos para os fins de
emagrecimento e sua distribuição comercial pode ser feita tanto no âmbito das drogarias como das
farmácias magistrais (manipulação), no entanto não se conhece de forma mais precisa sobre as
proporções deste tipo de venda (drogarias ou farmácias) bem como há necessidade de melhores
esclarecimentos sobre os efeitos do uso contínuo por parte de pessoas que apresentam condições
individuais distintas (idade, biótipo, interações medicamentosas, estilo de vida, entre outros).
O trato com a saúde da sociedade vigente, fortemente caracterizada pelo consumismo
voltado à preocupação com a redução do peso corporal, impõe ao profissional da área de saúde a
necessidade de pesquisar e aprofundar-se nesses aspectos inerentes as tendências atuais. Assim,
torna-se um desafio a mais para o farmacêutico em sua atividade diária, junto ao atendimento
comercial, conhecer e fundamentar-se em relação a esse tipo de situação muito comum na
atualidade.
OBJETIVO(S)
O presente estudo teve como objetivo descrever sobre dados quantitativos de venda da sibutramina
nas farmácias e drogarias em Itumbiara GO, além de analisar os aspectos gerais de consumo,
conforme relato por parte de pessoas que fazem uso deste medicamento, observando o
comportamento individual de cada paciente frente ao tratamento farmacológico.
METODOLOGIA
Este trabalho atende as normas do Conselho Nacional de Saúde (Resolução 196 / 96 versão
2012) o qual trata de diretrizes regulamentadoras sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Tratase de um estudo descritivo com abordagem quantitativa e qualitativa. Pois toda a pesquisa descritiva
tem como fim, descrever características de determinada população ou fenômeno. A pesquisa se
caracterizou por dois tipos de levantamentos: do tipo documental, sendo registrada a quantidade de
sibutramina vendida no município e por pesquisa de campo aplicando-se entrevistas com alguns
consumidores deste fármaco.
A pesquisa envolveu o município de Itumbiara-Goiás (aproximadamente 100 mil habitantes)
e partiu-se de levantamento documental (banco de dados) do controle de vendas no comércio do
município, junto aos registros da VISA (Vigilância Sanitária de Itumbiara). Além desta análise
documental, participaram de forma voluntária neste estudo, 31 indivíduos (homens / mulheres) que
fazem uso da Sibutramina, sendo pacientes institucionalizados ou não, os quais receberam indicação
médica para tratamento da obesidade, residentes do município de Itumbiara-GO.
A amostra do tipo intencional ocorreu por identificação de alguns consumidores da
Sibutramina, tendo como referência o cadastro dos mesmos junto aos seguintes locais: farmácias,
postos de medicamentos, unidades de saúde e clínicas médicas. Após apresentação do trabalho e
autorização por parte dos responsáveis nos estabelecimentos, os consumidores foram contatados via
ligação telefônica ou endereço eletrônico no intuito de convidá-los a participar de forma voluntária
e anônima da pesquisa.
Das pessoas entrevistadas foram analisados alguns critérios para inclusão no trabalho tais
como:
a) Indivíduos que consomem Sibutramina a pelo menos 02 semanas;
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b) Pessoas com nível de sobrepeso / obesidade suscetíveis de indicação para tratamento com
Sibutramina (IMC ≥ 30);
c) Sujeitos que se disponham a participar voluntariamente do estudo sem implicação de ônus
financeiro ou de outro tipo para nenhuma das partes;
d) Assinar o termo de consentimento livre e esclarecido.
Uma ficha para anotações dos arquivos referente ao controle de medicamentos foi
elaborada para levantar os dados obtidos junto a Vigilância Sanitária de Itumbiara (VISA) onde
estão registrados a quantidade de Sibutramina vendidas na cidade de Itumbiara, bem como o tipo de
comércio (drogarias ou farmácias magistrais) nos três últimos anos (2012, 2013, 2014), não sendo
possível obter os dados de 2015, já que os controles são finalizados sempre ao final do mês de
dezembro.
Questionários semiestruturados foram confeccionados e aplicados de forma dirigida (tipo
entrevista) pelo pesquisador junto aos indivíduos consumidores de Sibutramina tendo como
propósitos colher informações sobre: Tempo de uso do medicamento, utilização de outros
medicamentos, estilo de vida (ocupação, lazer, etc.), prática de atividade física, informações
adicionais sobre os efeitos adversos e os resultados obtidos com o consumo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram analisados os números de vendas de sibutramina em 27 drogarias e 4 farmácias
magistrais que ocorreram no período de 01 de janeiro de 2012 a 31 de dezembro de 2012, 01 de
janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2013 e 01 de janeiro de 2014 a 31 de dezembro de 2014.
Sabendo que todas as caixas de medicamentos continham 30 comprimidos cada, nas doses de 10 e
15 mg. O levantamento de dados está descrito no gráfico a seguir.
Gráfico 1: Número de vendas de sibutramina entre os anos de 2012 a 2014 em Itumbiara
*†
*
*†
( * ) diferença significativa (p < 0,05) drogarias x farmácias magistrais no mesmo ano
(†) diferença significativa (p < 0,05) em relação ao ano anterior
Fonte: VISA Itumbiara
Com base no gráfico acima, observa-se que o número de vendas de sibutramina foi muito
superior nas farmácias magistrais, nos anos de 2012 e 2013 em comparação com as drogarias, fato
este provavelmente associado aos valores muito mais baixos dos medicamentos nas farmácias
magistrais. Em ambos os estabelecimentos houve aumento nas vendas nesse período que, coincide
inclusive com os dois primeiros anos subsequentes à proibição de medicamentos muito conhecidos
no mercado como o femproporex e a anfepramona, ocorrido ao final de 2011.
Observa-se ainda que no ano de 2014 as drogarias apresentaram maior número de vendas do
que as farmácias magistrais, o que pode estar associado a uma provável intensificação de
orientações dos médicos para aquisição desses medicamentos nos referidos estabelecimentos
comerciais, uma prática comum em termos de fidelidades tipicamente firmadas entre médicos e
laboratórios.
Na pesquisa complementar, os 31 entrevistados responderam ao questionário e relataram
resumidamente a eficácia e satisfação do tratamento com a sibutramina. Os pacientes foram
contatados via telefone, disponibilizados pela VISA e apoio de algumas drogarias. Foram abordados
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também pacientes de uma Clínica Médica de Itumbiara com o apoio de um médico colaborador
responsável. A proporção e quantidade de homens e mulheres entrevistados estão demonstradas no
gráfico a seguir,
Gráfico 2 : proporção distinta de gêneros entrevistados
*
( * ) diferença significativa (p < 0,05) mulheres x homens
Fonte: Própria
A amostra total foi constituída por 31 consumidores de sibutramina, a maioria (87%)
mulheres. Dados semelhantes foram encontrados em Fortaleza/CE por Romeu; Justino e Lima
(2008), quando foram estudadas 80 farmácias, e as mulheres representaram 74,5% dos usuários
deste tipo de medicamento. As mulheres também representaram 93,35% dos usuários de
anorexígenos num estudo realizado em Santa Maria/RS, que avaliou 13 estabelecimentos
farmacêuticos (Feltrin et al., 2009), assim como no estudo realizado em Belo Horizonte/MG em 455
farmácias nas quais também se evidenciou a predominância de consumo pelas mulheres (88%)
(Carneiro; Guerra; Acurcio, 2008).
Conforme Carazzatto (2003) isto ocorre provavelmente porque as mulheres são
influenciadas pela mídia e pela sociedade que cultua corpos extremamente magros, o que promove
uma busca incessante pelo corpo perfeito em pouco tempo e sem grandes esforços. A maior
exposição do corpo no verão também influencia no aumento da procura por esse tipo de
medicamento.
Tabela 1: Relações gerais dos dados obtidos com a aplicação do questionário
Idade
(anos)
Estatura
(m)
Peso
(kg)
IMC
(kg/m2)
Tempo uso Peso
(meses)
perdido
(kg)
Média
31,94
1,64
96
35,7
3,55
11,19
Desv. Padrão
± 8,44
0,08
16,8
6,61
3,15
10,02
Mínimo
17
1,51
78
28,1
1
0
Máximo
52
1,78
148
59,3
12
43
Fonte: Própria
De acordo com os dados numéricos encontrados, pode-se notar na tabela acima, que a
diferença de idade dos voluntários entrevistados variou bastante, sendo a idade mínima 17 anos e a
idade máxima 52 anos. A estatura variou entre 1,51 a mais baixa e 1,78 a mais alta. O IMC foi de
6,61 a 59, 3, sendo que para tomar o medicamento o correto é que o IMC esteja acima de 30kg/m².
O tempo de uso de sibutramina entre os pacientes variou entre 1 mês e 12 meses e a quantidade de
peso eliminado ficou entre: nenhum kg eliminado e 43 kg o valor máximo.
Os transtornos alimentares como compulsão, bulimia e anorexia se tornaram lugar comum
na sociedade vigente que muito se atenta quanto às preocupações com a estética corporal,
tipicamente cultuada pela comunidade capitalista. Soma-se a estas práticas, o uso constante de
medicamentos e produtos emagrecedores, muitas vezes não condizentes com a possível indicação
clínica dos sujeitos adeptos a ingestão destas substâncias.
Tem-se a cultura do corpo magro e uma oferta de produtos tidos como milagrosos que
alimentam o sonho de corresponder a esse padrão de beleza, isso pode desencadear o transtorno
alimentar de modo não consciente, principalmente quando a perda de peso é aliada a algum
medicamento no qual o indivíduo pode passar a depender do mesmo para uma perda de peso mais
rápida, enquanto que os procedimentos mais saudáveis são ainda uma alimentação adequada e
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prática habitual de exercício físico (KOTAKA, 2011).
A tabela 2 demonstra a associação do consumo de sibutramina, com alguns destes
procedimentos típicos como exercício e acompanhamento nutricional.
Tabela 2: perda de peso (kg) em diferentes situações combinadas com a sibutramina.
Com atividade física ,Sem atividade física
Med.
*12,29
DP
10,4
N , (%)
14, (45,16%)
Acomp. Nutricional
Sem acomp. Nutricional
10,29
10
11,7
9,93
7,83
10,9
17, (54,86%)
7, (22,58%)
24, (77,42%)
( * ) diferença significativa (p < 0,05) entre atividade física x sem atividade física
Fonte: Própria
Pode-se notar na tabela 2 que os indivíduos que praticam atividades físicas tiveram uma
diferença significativa na perda de peso em relação ou outros que não praticam nenhuma atividade.
A perda de peso com acompanhamento do nutricionista, não interferiu significativamente na
redução do mesmo, além de poucas pessoas fazerem acompanhamento com esse profissional, a
maioria tende a seguir sua rotina alimentar habitual, ou não possui condições financeiras adequadas
para um acompanhamento deste profissional.
Gráfico 3: dados correspondentes as principais perguntas relatadas no questionário para perda de
peso com sibutramina e seus respectivos históricos individuais.
Fonte: Própria
No gráfico acima, nota-se uma diferença significativa (98%) no número de pessoas que afirmaram
ter tido redução satisfatória de peso corporal, a partir do consumo de sibutramina auxilia de forma,
tendo sido poucos relatados interações medicamentosas signiticativas e poucas reações adversas por
parte dos pacientes. A maioria dos indivíduos (90%) apontou possuir histórico de obesidade na
família.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio deste estudo, conclui-se que a utilização da sibutramina como forma de tratamento
repercutiu em redução de peso com poucos efeitos indesejáveis, e que o número de usuários do
medicamento e suas respectivas vendas diminuíram em relação aos anos anteriores, porém se
compararmos a farmácia magistral e drogarias essas vendas foram significativamente maiores no
âmbito drogaria em 2014. Pode-se atribuir isso a maior facilidade de obter o medicamento no
estabelecimento drogaria devido maior facilidade de obtenção do mesmo até mesmo sem receita
médica.
Notou-se que, a atividade física colabora modestamente para a perda de peso e que muito
dos pacientes tem relatos de obesidade da família, porém estavam satisfeitos com o resultado do
tratamento farmacológico. A recomendação e indicação para uso do medicamento variou entre:
recomendação por parte do médico e outros (amigos, vizinhos, etc.), embora o medicamento só
pode ser receitado pelo médico. Dentre os pacientes entrevistados, a maioria estava dentro da taxa
de IMC recomendada (30 kg/m²) para uso da sibutramina e fizeram diferentes manejos da
obesidade.
Para ser eficaz como terapia contra a obesidade, pode ser necessária combinar a sibutramina
com outras medidas contra a obesidade, pois a redução do peso corporal obtida com a sibutramina
isoladamente não é facilmente mantida. A saúde do paciente deve estar acima de qualquer modelo
estético veiculado pela mídia, e os profissionais da área da saúde envolvidos devem focar seus
esforços em esclarecer, orientar e incentivar a busca pelo ideal de vida saudável.
Existem profissionais competentes em diversas áreas que podem auxiliar as pessoas a
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atingirem os seus objetivos na redução de peso começando principalmente pela área médica, os
quais receitam medicamentos para perda de peso. Estes devem ser qualificados e competentes no
exercício da profissão, assim como os profissionais de educação física acompanhando no empenho
das atividades e os nutricionistas que montam medidas dietoterápicas de acordo com cada
individualidade. Os farmacêuticos podem e devem também subsidiar esse atendimento de
orientação adequada à comunidade, conforme as boas práticas esperadas para esta atividade
profissional.
REFERÊNCIAS
ABESO. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. Obesidade
em notícia. 2006. Disponível em: http://www.abeso.org.br>. Acesso em: 21 fev.2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Agência Nacional de Vigilância
Sanitária- Resolução RDC n. 52, de 6 de outubro de 2011. Disponível
em:<http://www.anvisa.gov.br/hotsite/anorexigenos/pdf/RDC522011DOU10deoutubrode2011.pd f>
Acesso em: 26 janeiro 2015.
CARAZZATO, P. R. A farmácia magistral e o tratamento farmacoterápico da obesidade. Racine,
n.77, p. 34-40, 2003.
CARNEIRO, M. de F. G.; GUERRA Jr., A. A.; ACURCIO, F. de A. Prescrição, dispensação e
regulação do consumo de psicotrópicos anorexígenos em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24 n. 8, p. 1.763-1.772, 2008.
KOROLKOVAS, A.; FRANÇA, F.F.A.C.; CUNHA, B.C.A. Dicionário Terapêutico Guanabara.
Edição 2007/2008. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 628p.
KOTAKA, L. Perder peso depende de empenho físico e emocional, 2011.
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