Pronunciamento (Do Senhor Deputado Chico Alencar, PSOL/RJ

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Pronunciamento
(Do Senhor Deputado Chico Alencar, PSOL/RJ).
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados e todo(a)s o(a)s que
assistem a esta sessão ou nela trabalham:
Manifesto aqui nossa posição de cautela e preocupação diante da revogação da
resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que vetou a
comercialização de alguns medicamentos inibidores de apetite (anfepramona,
femproporex e mazindol) e impôs restrições à de outro (sibutramina).
Registro, nos Anais da Casa, a sólida opinião de Francisco Paumgartten,
pesquisador da FIOCRUZ, farmacologista e membro da Câmara Técnica de
Medicamentos que assessora a ANVISA e que recomendou, após análise exaustiva de
documentos técnicos, o cancelamento do registro dos produtos derivados
anfetamínicos comercializados como remédios para emagrecer:
“Infelizmente, ainda não há tratamento farmacológico (medicamento) eficaz
para tratar a obesidade. O orlistat (xenical) que inibe a lipase e a absorção de gorduras
nos intestinos é o único que tem um perfil risco/benefício favorável, mas o efeito é
limitado e como vc disse apresenta inconvenientes. Se o paciente em uso de orlistat
ingerir grande quantidade de gorduras em uma refeição terá problemas como gases
(flatulência), diarreia com gordura nas fezes (esteatorréia) e sentirá muito
desconforto. Os pacientes em geral não se adaptam bem a este medicamento.
Como tenho repetido, a meta do tratamento da obesidade e sobrepeso não
deve ser a perda de peso em si, mas a redução da morbidade (doenças) associadas ao
excesso de peso. É importante que a redução de peso ocorra de forma saudável, com
exercícios e reeducação alimentar. Para alcançar esse objetivo e controlar a compulsão
pela comida é preciso muita força de vontade e disciplina. Não há milagres, nem
atalhos. As metas devem ser realistas e o caminho é longo.
Não há medicamentos milagrosos que resolvam o problema. Prova eloquente
disso é o extraordinário crescimento do problema no Brasil durante os anos que o país
era um dos maiores (se não o maior) consumidor mundial desses medicamentos agora
banidos (embora permaneça a sibutramina).
Quase todos os grandes obesos que conheço já usaram durante algum tempo a
sibutramina (e descontinuaram o uso por ineficácia ou efeitos colaterais) e continuam
obesos.
Há evidências de essas substâncias causam perda de peso superior a do
placebo, mas essa redução de peso é pequena e é revertida com a interrupção do
tratamento. O problema é que eles não reduzem a morbidade associada a obesidade /
sobrepeso porque tem efeitos cardiovasculares (adrenérgicos) que constituem fator de
risco para desfechos como o infarto e derrames. No fim das contas podem contribuir
(pouco) para a perda de peso, mas não melhoram ou até pioram a morbidade
cardiovascular associada ao excesso de peso.
O exercício, por exemplo, é benéfico independente da perda de peso associada
a ele. Combinados, exercício e reeducação alimentar são os únicos caminhos seguros
para o emagrecimento saudável. Abordagens comportamentais e melhor relação
médico-paciente podem ajudar a controlar a compulsão de "comer", mas exige tempo.
A ilusão vendida sob a forma de medicamentos ineficazes, conveniente a
médicos e pacientes, é o que leva a morte do paciente obeso. O objetivo maior do
banimento foi justamente proteger o paciente obeso, eliminando os medicamentos
ineficazes, que não se justificam quando se ponderam riscos e benefícios.”
Agradeço a atenção,
Sala das Sessões, 8 de abril de 2014.
Chico Alencar
Deputado Federal, PSOL/RJ.
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