propostas de política comercial Exportação de serviço de engenharia, produto invisível que gera um visível canal de comercialização de bens e uma consistente cultura exportadora José Augusto de Castro O Brasil é o sétimo maior PIB do mundo, mas, em 2013, alcançou apenas a 22ª posição no ranking de exportação de bens e a 21ª no ranking de importação, participou apenas com 1,32% das exportações mundiais e 1,36% das importações e ocupou a longínqua 87ª classificação em abertura comercial, de acordo com o Fórum Econômico Mundial. Além disso, apresentou elevado déficit de 3,66% do PIB na balança de transações correntes e ratificou a baixa participação de 38,44% dos produtos industriais na pauta das exportações brasileiras. altas cotações das commodities e elevadas demandas mundiais, beneficiando diretamente e duplamente o Brasil. Não obstante este quadro adverso, desde o ano 2001, o Brasil tem apresentado consecutivos superávits comerciais, graças a cenários externos extremamente favoráveis, que proporcionaram Analisando os dados da balança comercial de serviços do Brasil fornecidos pela Secretaria de Comércio e Serviços do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – SCS/MDIC, ainda sem o Em contrapartida, as exportações do Brasil de serviços em geral estão classificadas apenas na 31ª posição no ranking mundial, com 0,80% de participação, enquanto as importações ocupam o 17º posto, com 1,93% de participação, proporcionando crônicos déficits na balança de serviços, conforme mostram as estatísticas da OMC – Organização Mundial de Comércio. José Augusto de Castro é presidente da AEB - Associação de Comércio Exterior do Brasil. 60 RBCE - 119 detalhamento decorrente da recente implantação do Siscoserv, verifica-se que poucos setores são superavitários entre os diferentes tipos de serviços, sendo o setor de engenharia um deles. A exportação de serviços de engenharia desempenha importante função estratégica, comercial e econômica no comércio exterior mundial, com esse mercado sendo dominado por um restrito grupo de aproximadamente 15 países e por cerca de 300 empresas com reconhecida capacidade técnica e presença assídua na exportação. Outras empresas e alguns poucos países também executam projetos, mas as limitações técnico-financeirasoperacionais tornam esporádicas suas pequenas participações no mercado exportador de serviços de engenharia. Para fazer parte desse restrito grupo de países e empresas, constituem-se condições essenciais que os países ofereçam programa governamental de apoio financeiro à exportação, disponham de mecanismos de seguro de crédito e garantias à exportação, possuam instituição pública capaz de conceder crédito de longo prazo para financiar exportações e, naturalmente, que existam empresas de engenharia com capacidade tecnológica, estrutural e econômica. O Brasil e suas empresas preenchem todas essas condições, sendo por isso um dos 15 países que integram esse seleto grupo, em sua quase totalidade composto por nações desenvolvidas ou emergentes com elevado nível de desenvolvimento econômico. Por seu turno, o setor de engenharia é o principal responsável pelas exportações de serviços e estão concentradas em cerca de dez empresas, número muito pequeno para um país que possui mais de 200 empresas, em sua quase totalidade voltada exclusivamente para o mercado interno, não por opção própria, mas em razão de não disporem de condições adequadas para participar da execução de projetos no exterior. Isso ocorre em razão de a exportação de serviços de engenharia não requerer apenas competência técnica da empresa para executar obras no exterior, mas também porque é fundamental dispor de conhecimentos técnicos de comércio exterior para elaborar proposta comercial, negociar os contratos conforme a legislação dos países envolvidos, oferecer alternativas de financiamentos competitivos levando em conta as garantias que o país pode oferecer, prover estrutura financeira para suportar períodos de imobilização de capital e, finalmente, passar à efetiva execução do projeto e cumprir os trâmites burocráticos requeridos. Porque sempre se diz que a exportação de serviços de engenharia possui importância estratégica, comercial e econômica mundial, em especial para o Brasil? Antes de responder a essa questão, torna-se importante informar e esclarecer que, para a execução de projetos de engenharia no exterior são contratadas, no Brasil, aproximadamente 1.500 empresas, que participam, direta ou indiretamente, da concretização do empreendimento e são compostas por fornecedoras e/ou fabricantes de produtos e prestadoras de serviços em geral, as quais estão concentradas majoritariamente nas categorias de micro, pequenas e médias empresas. Assim, ganhar uma licitação internacional para exportar e executar projetos de serviços de engenharia no exterior significa para essas cerca de 1.500 empresas a perspectiva de abrir portas em um novo mercado externo, constituindo uma decisão estratégica para abrir e/ ou conquistar novos mercados e/ou clientes, sob a forma integrada. Avaliada sob outro prisma, a exportação de serviço de engenharia também se caracteriza por propiciar uma oficiosa exposição indireta de produtos e/ou representar ação de marketing, sem qualquer custo, para um leque de produtos brasileiros consumidos no projeto e avalizados pela empresa de engenharia, que isoladamente poderiam ter dificuldade, ou até mesmo impossibilidade, de ser conhecidos e, mais ainda, de acessar aquele mercado externo, transformando-se em efetivo canal de comercialização. Por fim, a execução de obras no exterior, além das receitas cambial e financeira proporcionadas pelo contrato de serviço negociado, abrirá perspectivas para a própria RBCE - 119 61 A empresa exportadora de serviços de engenharia, antes de tudo, é uma estruturadora de negócios, que assume riscos comerciais, financeiros e cambiais, próprios e de terceiros, a médio e/ou longo prazo, originários de negociações desenvolvidas em diferentes frentes empresa de engenharia, ou para os fabricantes dos produtos consumidos no projeto, viabilizar exportações adicionais dos bens fornecidos, ampliando seus mercados, desenvolvendo e absorvendo novas tecnologias e diluindo o risco comercial operando em diferentes países, representando importante ferramenta para a geração de receitas cambiais para o Brasil e financeiras para as empresas exportadoras, com impacto econômico na forma de atividade empresarial e geração de empregos, rendas e tributos. Esse conjunto de fatores positivos, de forma inequívoca, demonstra que a exportação de serviços de engenharia caracteriza-se como importante instrumento de política estratégica de comércio exterior, pois, simultaneamente, atua como canal de comercialização externa para produtos e ainda contribui para a criação da sempre almejada cultura exportadora. Destaque-se que, como a maioria dessas, cerca de 1.500 empresas estão classificadas nas categorias de micro, pequeno e médio porte, isoladamente, devido à falta de estrutura e inexperiência em comércio exterior, elas não teriam condições de ter acesso ao mercado internacional, a não ser utilizando o canal de comercialização proporcionado e aberto pelas empresas de serviços de engenharia, que neste caso, funcionariam como âncora. Outrossim, quando se fala em exportação de serviço de engenharia, a primeira impressão é que se refere apenas à venda ao exterior de serviços propriamente. Contudo, também integram as exportações de serviços de engenharia expressiva parcela 62 RBCE - 119 de equipamentos que fazem parte da obra, como turbinas, caldeiras, tubulações, etc., além dos equipamentos utilizados para executar as obras, representados por caminhões, tratores, ônibus, automóveis, motoniveladoras, compactadores, britadeiras, guindastes, acampamentos de campanha, centrais de concreto, de britagem e de asfalto, bem como de centenas de outros itens como móveis, roupas, calçados, alimentos, asfalto, etc. Esses produtos serão exportados e utilizados para concretizar a execução do serviço de engenharia contratado, que pode ser uma rodovia, ferrovia, aeroporto, porto, hidroelétrica, aqueduto, sistema de irrigação, barragens, exploração de minérios, etc. A propósito, torna-se importante registrar que, devido a normas operacionais existentes nas empresas multinacionais relativas à prestação de assistência técnica e manutenção, frequentemente, matrizes e filiais são proibidas de exportar bens fabricados por outra filial no mercado de destino, para evitar concorrência danosa entre empresas coirmãs, mas principalmente, devido à ação dos dealers no país importador, que inviabilizam a exportação por conta da proteção de quotas, reserva de mercados e pagamento de comissões, entre outros fatores. Todavia, quando se trata de exportação por empresas de serviços de engenharia, quase sempre essa proibição não se aplica, pois, na maioria das vezes, os bens são exportados com o valor de depreciação incluído no custo dos serviços previstos no contrato comercial. Contudo, nada impede que o dealer no país de destino seja contratado para Gráfico 1 2004 Outros; 10,2 2012 França; 5,7 Outros europeus; 6,9 Japão; 2 China; 1,6 França; 9 Brasil; 17,8 China; 12,1 Italia; 17,3 Outros; 11,8 EUA; 27 EUA ; 14,4 Italia; 8,6 Espanha; 26 Espanha; 29,6 Essas informações justificam plenamente a razão de a exportação de serviços de engenharia ser motivo de acirrada concorrência internacional entre países, indiretamente oferecendo suporte para uma guerra comercial visando à venda externa de produtos manufaturados. Fonte: Estudo da LCA para a AEB. Gráfico 2 2004 2012 Brasil; 4,1 França; 8,9 Outros; 16,1 França; 24,7 Italia; 9,1 Espanha; 2,4 Outros; 19,7 Outros europeus; 13,7 EUA; 13,8 China; 14,7 Italia; 13 Japão; 5,4 Coreia do Sul; 4,8 China; 44,8 EUA; 4,7 Fonte: Estudo da LCA para a AEB. prestar serviços de assistência técnica e manutenção aos produtos fabricados no Brasil. Ou seja, sem a atuação das empresas de serviços de engenharia, extensa linha de produtos sofisticados e de alto exportadora de serviços de engenharia, antes de tudo, é uma estruturadora de negócios, que assume riscos comerciais, financeiros e cambiais, próprios e de terceiros, a médio e/ou longo prazo, originários de negociações desenvolvidas em diferentes frentes. valor agregado não poderiam ser exportados, com reflexos negativos na balança comercial de bens do Brasil e na qualidade da pauta de exportação. Esse conjunto de condicionantes mostra que a empresa Tabela 1 Quantidade de Países exportadores Participação % Espanha 14,3 12 Estados Unidos 14,0 33 China 13,1 55 Alemanha 8,5 - empresas França 8,5 - Coreia do Sul 8,1 15 Itália 6,1 17 Japão 4,1 15 Turquia 3,3 - Grã-Bretanha 2,4 - Brasil 2,3 4 Austrália 2,0 - Holanda 1,5 - Canadá 0,2 - Outros 11,6 - Essa realidade fica mais evidente quando se analisa a evolução da participação da China na exportação de serviços de engenharia, especialmente para a América Latina e África, regiões que concentram grande parte das obras nesse segmento. O Gráfico 1 mostra a posição de cada país na execução de obras de engenharia na América Latina, com destaque para a China, que elevou sua participação de 1,6% em 2004 para 12,1% em 2012, região em que o Brasil também ampliou sua presença comercial, passando de índice indeterminado incluído em “Outros 10,2%” para isolados e significativos 17,8%. Com o mesmo objetivo, o Gráfico 2 apresenta a participação percentual dos principais países na realização de serviços de engenharia na África, onde, uma vez mais, constata-se expressivo aumento na participação da China, que passou de 14,7% em 2004 para 44,8% em 2012, enquanto o Brasil oscilou de RBCE - 119 63 indeterminados “Outros 16,1%” para isolados 4,1%. Os dados relativos a projetos de serviços de engenharia são compatíveis e coerentes com a agressividade comercial adotada pela China na busca por novos e/ou ampliação de antigos mercados, significando a exportação de bens industrializados. Com vistas a apresentar uma visão consolidada do mercado mundial de serviços de engenharia em 2012, a Tabela 1 informa a participação dos principais países exportadores, assim como a quantidade de empresas de engenharia de alguns países, incluídas entre as 250 maiores, conforme levantamento efetuado pela publicação ENR – Engineering News Record. Destacam-se nos dados contidos nesse quadro a China, com a maior quantidade de empresas exportadoras; a Espanha, com o maior índice de participação proporcional e menor quantidade de empresas, configurando forte concentração; e o Brasil, por ocupar a honrosa 11ª posição no mercado mundial consolidado de exportação de serviços de engenharia, mesmo tendo apenas quatro empresas incluídas entre as 250 maiores exportadoras mundiais. Cabe, no entanto, a seguinte indagação: A participação do Brasil não poderia ser superior aos índices apontados, principalmente considerando que a América Latina, em teoria, é área de influência comercial e geopolítica do Brasil, conta com importante mecanismo mitigador de risco e, por conseguinte, redutor de custo, representado pelo Convênio de 64 RBCE - 119 Crédito e Pagamentos Recíprocos – CCR, que transforma as operações em baixo risco de crédito? A mesma indagação se aplica ao mercado da África, mas por razões culturais e de descendência, onde o Brasil tem participação ainda menor. a investimentos internos ou apoio à exportação, pois ambas as atividades geram benefícios econômicos e sociais, diretos e indiretos, e, ao contrário do que possa parecer, permitem majorar o volume de recursos investidos internamente. Considerando-se este cenário de realidade internacional, que análises e avaliações podem ser realizadas para e sobre o Brasil? Apenas a título de comparação, nos Estados Unidos e Espanha, por exemplo, o apoio oficial às exportações de serviços de engenharia somou, respectivamente, US$35 e US$40 bilhões, sem contar os recursos providos pelo mercado estruturado de financiamento privado existente nesses países. No Brasil, o BNDES é virtualmente o único braço governamental de apoio financeiro de longo prazo para as exportações, uma vez que, diferentemente do que ocorre em outros países, os bancos privados, nacionais ou estrangeiros, não estão dispostos a aceitar a garantia oferecida pelo Governo Federal por meio do Fundo de Garantia às Exportações - FGE, devido às restrições inerentes ao fundo, que impactariam o pagamento de possíveis indenizações decorrentes de eventuais sinistros, além da burocracia envolvida. O volume de recursos oficiais de longo prazo para financiar as exportações brasileiras de serviços de engenharia é irrisório quando comparado aos recursos destinados para o mercado interno, com o BNDES, em 2012, tendo desembolsado cerca de US$7 bilhões para apoio ao comércio exterior, em contrapartida a R$ 173 bilhões para operações de mercado interno, ou seja, o valor alocado para financiamento à exportação representou cerca de 8% do total desembolsado pelo BNDES. A propósito, constitui-se grande equívoco a ideia, algumas vezes difundida, da existência de disputa por recursos destinados Esses países, aos quais ainda poderiam ser agregadas a China, Alemanha e Coreia do Sul, utilizam o comércio exterior como um dos elementos centrais de suas estratégias de desenvolvimento, pois exportações aceleram a atividade industrial e de serviços, atraem investimentos, geram divisas, estimulam a inovação, e, como consequência natural, geram empregos domésticos e produzem receitas tributárias investidas internamente. Dessa forma, os empréstimos com recursos públicos que o Brasil concede à exportação de serviços de engenharia não constituem qualquer inovação, pois a exemplo do que ocorre com norte-americanos, chineses, espanhóis, japoneses, coreanos, alemães, entre outros, são determinantes para a atuação brasileira nos concorridos mercados importadores da África e América Latina. Entretanto, o sistema de apoio do governo brasileiro é mais rigoroso que seus concorrentes internacionais, pois, conforme o nível de risco da operação, pode exigir a apresentação de contra garantias (garantias adicionais) para a concessão de créditos, as quais são consideradas, muitas vezes, tão somente para reduzir o custo do prêmio de seguro incluído no custo all in do financiamento. Além disso, órgãos de controle do governo, como o TCU e o BACEN, tratam os financiamentos à exportação de serviços de engenharia como se fossem para o mercado doméstico, possivelmente por desconhecimento das características e peculiaridades de cada país, ignorando seus diferentes marcos regulatórios, e obrigando o BNDES a adotar procedimentos que eventualmente não concorda, mas que têm reflexos negativos na condições de competir da empresa de engenharia. Outrossim, talvez em razão do cenário eleitoral ou por razões ideológicas, ultimamente têm sido observadas posições contrárias à concessão de financiamentos para a exportação de serviços de engenharia, sendo que em casos mais específicos, alguns países tem sido o principal foco. Sem entrar no mérito dos objetivos destas manifestações e tendo como base princípios internacionais, para as empresas exportadoras de serviços de engenharia não existe ideologia no comércio exterior, existem negócios sob a forma de operações comerciais. A esse respeito, cabe ressaltar que as informações sobre valores e países de destino dos financiamentos apoiados pelo governo brasileiro às exportações estão disponíveis no site eletrônico do BNDES, independente do país tomador do financiamento. Registre-se que, conforme norma adotada por países exportadores de serviços de engenharia, a única informação que não é pública são as condições de financiamento praticadas em cada operação, pois o acesso a esses dados pode dificultar futuras negociações. Além disso, o próprio país tomador do empréstimo não tem interesse que sejam divulgadas as condições negociadas, para evitar que sirvam de parâmetro na obtenção de financiamentos junto a outros países. Sob o ponto de vista da competição comercial, também não é desejável que países deem conhecimento a concorrentes internacionais das condições de seus financiamentos, fator fundamental e determinante para a escolha do país fornecedor de bens e serviços. Mesmo sem conhecer detalhes das operações de crédito aprovadas, pode-se afirmar que o custo de financiamentos brasileiro à exportação de serviços é similar ao dos concorrentes internacionais, ou até mesmo superior. Isso ocorre porque o Brasil segue parâmetros internacionais no que tange ao custo mínimo de taxas de juros, prêmios de seguro, prazos de financiamento e carência. Pelo exposto, deve-se reconhecer que, alocar recursos financeiros para viabilizar exportação de serviços de engenharia não constitui decisão ideológica, mas apenas e tão somente adotar a mesma política de Estado praticada por todos os países exportadores, especialmente os desenvolvidos ou emergentes industrializados, visando a gerar divisas, atividade econômica, empregos, rendas e tributos. Nos últimos anos, têm sido disseminados diversos equívocos de interpretação desprovidos de base de sustentação, devido ao fato de a exportação de serviços de engenharia ser uma atividade complexa, de procedimento operacional desconhecida pela maioria dos segmentos da sociedade civil e desempenhada por poucas empresas. A propósito, seguem adiante alguns destes pontos com interpretações corretas: • todos os valores de financiamentos à exportação são liberados exclusivamente para empresas instaladas no Brasil, e em reais, a moeda nacional do Brasil; • nenhum centavo de moeda estrangeira é remetido para o exterior nos financiamentos concedidos, ao contrário, graças à exportação de serviço de engenharia o Brasil recebe, em moeda estrangeira conversível, o pagamento dos financiamentos anteriormente aprovados e liberados em reais; • a geração de empregos na exportação de serviços de engenharia ocorre exclusivamente no Brasil, inclusive nas cerca de 1.500 empresas envolvidas no projeto, independentemente de a operação ser financiada com recursos públicos ou privados; • nenhum gasto desembolsado no país de execução da obra, seja na moeda local ou de RBCE - 119 65 Propõe-se que urgentes providências sejam tomadas para reduzir os atuais prazos praticados para a operacionalização dos créditos vinculados à exportação qualquer outro país, será incluído no financiamento à exportação concedido pelo Brasil, muito embora outros países concedam financiamento nesta rubrica “gastos locais”, fator que eleva a competitividade dos países concorrentes e reduz a dos exportadores brasileiros; questão, as seguintes afirmações devem ser feitas: • os bens exportados para execução da obra somente poderão ser financiados se tiverem, no mínimo, 60% de seu valor representado por produtos agregados no mercado brasileiro; • ao viabilizar a exportação indireta para centenas de micro, pequenas e médias empresas, as empresas de serviços de engenharia tornam realidade a criação de cultura exportadora para aquelas empresas; • todas essas restrições somente se aplicam quando o financiamento à exportação é concedido com recursos públicos; • caso contrário, está completamente livre de qualquer restrição o financiamento aprovado por banco público utilizando recursos de origem privada, ou que seja concedido por banco privado com recursos captados no mercado financeiro; • os recursos orçamentários federais alocados em projetos de infraestrutura no Brasil são caracterizados como investimentos, ou seja, a fundo perdido, enquanto os recursos aplicados em financiamentos à exportação de serviços de engenharia pelo BNDES são financiamentos, que serão pagos e retornados ao Brasil nos prazos estabelecidos, em moeda estrangeira conversível. A propósito, é desprezível, para não dizer inexistente, o histórico de inadimplência em financiamentos à exportação de serviços de engenharia. Tomando como base informações contidas neste artigo e observações extraídas de atividades desenvolvidas no segmento de mercado em 66 RBCE - 119 • a exportação de serviços de engenharia promove abertura de mercados e representa efetivo canal internacional para a exportação de produtos industrializados; • os países em desenvolvimento ou de menor expressão econômica, tradicionalmente, são carentes de infraestrutura e importadores de serviços de engenharia, especialmente aqueles situados e concentrados na América Latina e África, razão pela qual esses mercados são considerados prioritários para todos os exportadores de serviços de engenharia; • muitos países, inclusive desenvolvidos, querem ser exportadores de serviços de engenharia, mas apenas alguns poucos conseguem alcançar seus objetivos; • somente países desenvolvidos e alguns poucos emergentes são efetivamente exportadores de serviços de engenharia; • com base no que foi relatado, exportar serviços de engenharia significa status e prestígio para os países e suas empresas exportadoras. Como regra geral, as condições dos financiamentos alocados pelo governo brasileiro, por meio do BNDES e do Banco do Brasil, para ficar à disposição das empresas de serviços de engenharia e financiar suas exportações podem ser consideradas adequadas, porém ajustes devem ser feitos para elevar o nível de competitividade externa das empresas brasileiras nesse competitivo e concorrido mercado importador mundial. Nesse sentido, adiante, são apresentadas algumas propostas para contribuir com o aperfeiçoamento do sistema brasileiro de financiamento à exportação de serviços de engenharia e, em consequência, alavancar as exportações nesse segmento. 1. Instrumento de política de comércio exterior Conforme mencionado anteriormente, a exportação de serviço de engenharia constitui um canal de comercialização para centenas de micro, pequenas e médias empresas, que isoladamente, não teriam acesso ao mercado internacional. Além disso, essas empresas industriais, comerciais ou prestadoras de serviços que participam, direta ou indiretamente, do processo de viabilização, estão adquirindo cultura exportadora para futuras operações, por conta própria ou em conjunto com terceiros. Acesso ao mercado internacional e cultura exportadora são dois itens que nos últimos anos têm figurado em todos os programas de governo, objetivando ampliar a base de exportadores e a conquista de novos mercados. Considerando que o modus operandi das empresas de serviços de engenharia atendem ambos objetivos, e, com vistas a potencializar ainda mais seus resultados, propõe-se caracterizar as empresas exportadoras de serviço de engenharia como instrumento de política estratégica de comércio exterior, conferindo prioridades no desenvolvimento de seus processos operacionais. 2. Elevar a produtividade do capital Burocracia e investimento normalmente caminham em direções opostas. O desenvolvimento de uma oportunidade comercial consome várias centenas de milhares de dólares e, não raro, superam o prazo de dois anos. A burocracia envolvida, a incerteza e/ou mudança nas regras de financiamento, o entendimento equivocado sobre o contrato comercial e muitos setores do governo opinando sobre o projeto, conferem grande insegurança tanto para o exportador quanto para o importador, que assumem obrigações, muitas vezes envolvendo mobilização de equipamentos e pessoas para atender compromissos de prazo, sem saber quando haverá uma decisão, positiva ou negativa, sobre o financiamento do projeto. Essa realidade pode ser constatada pelos prazos atualmente requeridos apenas para a operacionalização dos créditos vinculados à exportação de serviços de engenharia, com o prazo de um ano sendo considerado habitual e “aceitável”, pois, na média, o prazo das operações está acima de 450 dias. Tais dados tornam-se ainda mais críticos quando se verifica que, nos Estados Unidos e na China, esse prazo é de aproximadamente 60 dias. Levando em consideração que esse longo prazo significa capital imobilizado, e sem remuneração, a consequência natural é uma baixa produtividade do capital investido na exportação brasileira de serviços de engenharia. Além do desestímulo à própria exportação de serviços de engenharia, esse procedimento afeta também as centenas de micro, pequenas e médias empresas que dependem das empresas de serviços de engenharia para ter acesso ao mercado internacional, sem contar os possíveis reflexos na geração e/ ou perda de divisas e empregos. Nesse sentido, propõe-se que urgentes providências sejam tomadas para reduzir os atuais prazos praticados para a operacionalização dos créditos vinculados à exportação e se evite que na era da informática a burocracia ainda ocupe este enorme espaço, e cujas consequências são a elevação da produtividade do capital e a expansão das exportações de serviços de engenharia. 3. Participação em órgãos internacionais de desenvolvimento regional Importadores de serviços de engenharia, tradicionalmente, são países em desenvolvimento ou de menor expressão econômica, onde impera a carência de recursos, e, como consequência, a demanda por financiamentos e a necessidade de garantias estão sempre presentes. Por isso, no mercado internacional de serviços de engenharia, de uma forma geral, primeiro negocia-se o financiamento e as garantias, depois se analisa o projeto. Por isso, muitas vezes considera-se o projeto como subproduto do financiamento. RBCE - 119 67 Recomenda-se que seja avaliado o interesse e a viabilidade de o Brasil participar de organismos internacionais de desenvolvimento regional, reforçando aspectos técnicos, econômicos, financeiros e também sociais do projeto, além dos reflexos positivos que a política de boa vizinhança pode proporcionar Dada a importância fundamental que o financiamento e respectiva garantia exercem na viabilização das exportações de serviços, ter à disposição um rol de alternativas para viabilizar a operação financeira representa fator que amplia as perspectivas de a empresa ser a escolhida para execução do projeto. Nesse sentido, participar de organismos internacionais de desenvolvimento regional mediante composição societária, por adesão, via assento em conselho ou qualquer outra forma, pode ser o primeiro passo para vencer uma licitação. Além de poder se beneficiar de decisões ou condições estabelecidas pelos organismos, seja em financiamentos ou na prestação de garantias, essa descentralização em participações pode representar a abertura de um leque regional de alternativas financeiras. Exemplos de organismos internacionais de desenvolvimento regional são o BCIE - Banco Centro-americano de Integração Econômica, o BAD - Banco Africano de Desenvolvimento, a CAF - Corporación Andina de Fomento, etc., entre diversos outros espalhados pelo mundo, mas tendo como foco principal organismos com atuação na América Latina e África, mercados prioritários para serviços de engenharia. Face ao exposto, recomenda-se que seja avaliado o interesse e a viabilidade de o Brasil participar de organismos internacionais de desenvolvimento regional, reforçando aspectos técnicos, econômicos, financeiros e também sociais do projeto, além dos reflexos positivos que a política de boa vizinhança pode proporcionar. 68 RBCE - 119 4. Revisão de multas em financiamentos à exportação de serviços de engenharia O período de negociação de um projeto de exportação de serviços de engenharia normalmente é longo, pois envolve a prospecção interna no país envolvido, a avaliação da viabilidade econômica do projeto, a busca por financiamento e garantias, a formalização do pedido de financiamento junto ao BNDES, o aguardo da aprovação pelos diversos órgãos governamentais envolvidos, a elaboração do contrato de financiamento, o embarque dos bens e, finalmente, a liberação dos créditos relativos ao financiamento. Em toda exportação de serviços de engenharia, ao formalizar o pedido de financiamento, a empresa exportadora tem que definir os valores a serem exportados sob a rubrica de serviços e de bens. Como os prazos de execução dos contratos são longos, eventualmente, os valores previstos originalmente para cada rubrica podem ser alterados devido a mudanças no escopo do projeto, em razão de decisões da empresa importadora, por decisões políticas do país importador ou por outros fatores fora do controle da empresa exportadora. Quando ocorre essa situação e caso a empresa exportadora tenha recebido antecipadamente parte dos valores do financiamento, ela fica sujeita ao pagamento de multa, que incide não apenas sobre o valor da mudança ocorrida, mas sobre todo o valor financiado. E esse custo não tem como ser provisionado antecipadamente, sob o risco de inviabilizar a própria exportação. Isso sem contar com o risco cambial, que a empresa exportadora está obrigada a suportar, pois é totalmente imprevisível projetar, e acertar, qual taxa cambial vai vigorar durante a execução do projeto. No mercado exportador de bens, o tradicional financiamento concedido sob a forma de ACC – Adiantamento sobre Contrato de Câmbio tem taxas de juros baseadas no mercado financeiro internacional e são isentas de pagamento do IOF. Na hipótese de a empresa exportadora não viabilizar exportações de bens no montante que serviu de base para o financiamento, ela é obrigada a pagar taxas de juros de mercado interno e acrescidas de IOF, porém, exclusivamente sobre o valor deixado de performar. Nesse sentido, e por analogia, propõe-se a revisão das multas previstas sobre os financiamentos à exportação concedidos pelo BNDES, para adotar o mesmo princípio consagrado pelo ACC, evitando-se gerar um custo adicional que a exportadora de serviços de engenharia não tem como repassar ao importador tomador do financiamento. 5. Financiamento de gastos locais no país do importador Os países importadores de serviços de engenharia, quase sempre, são aqueles que não dispõem de recursos financeiros para realizar o projeto, principalmente quando o prazo de execução é longo, como é comum acontecer. Em consequência, uma empresa de serviço de engenharia pode viabilizar o financiamento relativo à parcela a ser exportada, mas se a empresa ou o país tomador do financiamento não contar com recursos financeiros para adquirir insumos e contratar mão-deobra não qualificada no mercado local de realização da obra, o projeto pode ainda assim ficar inviabilizado. Essas despesas no país de destino, denominadas gastos locais, não são passíveis de financiamento pelo Brasil, embora outros países concedam financiamentos para tais despesas, elevando seu poder de competitividade no segmento. Nesse sentido, com vistas a melhorar e ampliar a capacidade de competir das empresas brasileiras de serviços de engenharia, propõe-se que os financiamentos concedidos pelo Brasil por meio do BNDES também amparem os gastos locais, ainda que em condições diferenciadas, seja em relação a valores, taxas de juros, prazos de carência e pagamento. Essa decisão certamente contribuirá para alavancar a quantidade das obras de engenharia no exterior, assim como elevar o valor das exportações brasileiras de serviços de engenharia, com consequente geração de mais atividade econômica, empregos, rendas e receitas tributárias no Brasil. 6. Financiamentos à exportação com recursos privados Atualmente, devido a fatores burocráticos, as empresas de serviços de engenharia têm imobilizado grande volume de recursos na prospecção e avaliação de projetos, o que tem impedido o melhor aproveitamento das amplas oportunidades surgidas para execução de serviços de engenharia no exterior. Com isso, o valor de recursos oficiais alocados para financiamento à exportação de serviços de engenharia têm sido suficientes. Todavia, torna-se necessário dispor de novas frentes de financiamentos para também abrir novas frentes de projetos no mercado internacional. Nesse sentido, propõe-se que sejam alocados mais recursos para fazer face à equalização pelo Proex, via Banco do Brasil, de taxas de juros nos financiamentos concedidos com recursos privados, objetivando aproveitar as oportunidades no mercado internacional. Entretanto, não basta alocar recursos, mas, principalmente, efetuar as liberações dos recursos nos prazos negociados, evitando os atrasos recentemente ocorridos e que podem levar à perda de credibilidade pelo sistema financeiro desse importante canal de financiamento à exportação. Finalmente, o Brasil e suas empresas de serviços de engenharia já demonstraram totais condições para participar do concorrido mercado internacional e desempenhar bem suas atividades. A conquista de novos e/ou a ampliação de antigos mercados, com a consequente elevação da participação brasileira nesse segmento exportador, depende apenas de decisões internas, pois os crescentes e amplos mercados externos estão aguardando as propostas comerciais brasileiras. Exportar serviços de engenharia não é para quem quer, mas para quem pode. E o Brasil e suas empresas podem, e querem. RBCE - 119 69