MORFOLOGIA E SOLUBILIDADE DA MISTURA HPMC/PVA NA PRODUÇÃO DE GRÂNULOS PARA LIBERAÇÃO CONTROLADA DE TEOFILINA 1 *Venina dos Santos, 2Valéria W. Angeli, 2Kellen C. B. de Souza, 1Gláucio A. Carvalho, 2 Juliana S. Fávero, 2Diogo S. Miron, 1Rosmary N. Brandalise 1* Centro de Ciências Exatas e Tecnologia (CCET) – [email protected] 2 Centro de Ciências da Saúde (CECS) Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS A busca por terapias que visem à diminuição dos efeitos adversos de alguns fármacos é um dos objetivos a serem alcançados no desenvolvimento de novas formas farmacêuticas. Os principais componentes para formulações de revestimento, por película, são poliméricos. O fármaco utilizado no estudo foi a teofilina. Esse trabalho se propôs avaliar a morfologia e a característica de solubilidade dos polímeros Hidroxipropil metil celulose(HPMC), Poli(álcool vinílico)(PVA) e da mistura HPMC/PVA-25/75 em meios que simulam pH de fluido intestinal e estomacal. Grânulos foram desenvolvidos com teofilina e HPMC/PVA-25/75, com posterior desenvolvimento de cápsulas. As cápsulas produzidas atenderam os limites de variação descritos na literatura. Foi possível observar, na composição HPMC/PVA25/75, sinergismo entre os componentes da mistura. O uso do PVA, em maior quantidade na mistura, permite o controle da solubilidade nos meios estudados, além de ser um polímero solúvel em água o que torna o processo de recobrimento uma tecnologia limpa quando comparada com o recobrimento convencional. Palavras-chave: HPMC, PVA, solubilidade, fluidos biológico, teofilina. Morphology and solubility of blend HPMC/PVA in production granules for controlled release of theophillin The search for therapies aimed at reducing the adverse effects of some drugs is one of the goals to be achieved in the development of new pharmaceutical forms. The main components for formulations of film coating are polymeric. The drug used in the study was theophiIlin. This work is proposed to evaluate the morphology and the characteristic solubility of the polymer hydroxypropyl methyl cellulose(HPMC), poly(vinyl alcohol) (PVA) and blend HPMC/PVA25/75 in ways that simulate pH of intestinal fluid and stomach. Granules were developed with theophiIlin and HPMC/PVA-25/75 with further development of capsules. The capsules are produced in accordance with the limits of variation described in the literature. It was observed in the composition HPMC/PVA-25/75, synergism between the components of the blend. The use of PVA in greater quantity in the blend allows the control of the solubilization in the media studied, besides being a water-soluble polymer which makes the process of coating a clean technology when compared to conventional coatings. Keywords: HPMC, PVA, solubility, biological fluids, theophillin Introdução Muitos sistemas de liberação de fármacos são poliméricos, a rede polimérica forma a matriz para o encapsulamento e subseqüente liberação controlada de fármacos.[1] O mecanismo e a cinética de liberação de fármacos são dependentes das propriedades de solubilidade, inchamento e erosão do polímero. Para fármacos solúveis em água, a liberação ocorre predominantemente por difusão com uma contribuição limitada da erosão da matriz e difusão anômala, resultado da relaxação das cadeias poliméricas.[2] Diferentes formas farmacêuticas de uso oral podem ser preparadas objetivando liberação imediata do fármaco no sistema gastrintestinal, ou para que o mesmo tenha o seu tempo de liberação controlado. O perfil de liberação do fármaco no organismo pode ser controlado utilizando-se misturas poliméricas com diferentes solubilidades em pH de fluidos biológicos. O hidroxipropil metil celulose(HPMC) é amplamente usado como polímero na liberação controlada de fármacos[3-6], devido a sua aceitabilidade, a variedade de viscosidades. O poli(álcool vinílico)(PVA) tem sido estudado na liberação de fármacos, e a alta porcentagem de polímero solúvel em água, dependendo da temperatura, pode influenciar a liberação do fármaco.[3] O conhecimento e controle de parâmetros tais como: solubilidade, polaridade, massa molar e degradação de polímeros têm permitido avanços nos estudos da eficiência na liberação de fármacos. O fármaco utilizado no experimento foi a teofilina, empregada no tratamento de asma brônquica, apresenta um baixo índice terapêutico, e por isso requer monitoramento constante de suas concentrações plasmáticas para evitar possíveis efeitos adversos ao ser humano. O presente trabalho tem por objetivo preparar e caracterizar a mistura de HPMC/PVA pelas características morfológicas (MEV) e de solubilidade em diferentes pH, intestinal e estomacal. A composição HPMC/PVA 25/75 foi selecionada e avaliada por MEV após confecção de grânulos de teofilina e aditivos. Experimental Preparação da mistura de HPMC/PVA O fármaco utilizado no experimento foi a Teofilina Asky Comercial LTDA. O Hidroxipropil metil celulose(HPMC) da marca All Chemistry do Brasil Ltda e Poli(álcool vinílico)(PVA), da marca Pharma Special, ambos de grau farmacêutico. O ácido clorídrico utilizado da marca Vetec, com pureza 37%. Para a preparação de filmes dos polímeros puros e da mistura HPMC/PVA, nas composições 75/25, 50/50 e 25/75, foram utilizados reatores de vidro encamisados com capacidade de 500 mL (Figura 1). A solubilização foi realizada em solução aquosa, na concentração de 5%(m/v), e na temperatura de 80°C, sob agitação magnética, por 20 minutos. Na seqüência, a solução foi disposta em placas para secagem em estufa (marca Tecnal, modelo TE-394/2), com circulação de ar, por um período de 10 horas. Segundo Demappa e colaboradores[7], a mistura HPMC/PVA (1% m/v) é miscível em água, para conteúdos superiores a 60% de HPMC, nas temperaturas de 30 e 50°C. Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 A composição HPMC/PVA 25/75 foi avaliada e selecionada neste estudo para a confecção dos grânulos com teofilina porque o mecanismo da liberação do fármaco depende do controle da propriedade de solubilidade do recobrimento polimérico. Figura 1 – Reatores de vidro utilizados no desenvolvimento das misturas poliméricas. Caracterização da mistura de HPMC/PVA Os tampões, fosfato e ácido clorídrico, utilizados foram preparados e padronizados em laboratório de acordo com USP 27.[8] Os polímeros e a mistura (na forma de filme), foram pesados na proporção 1:30 (filme/solução, m/v), em triplicata. Os ensaios de solubilidade dos polímeros foram realizados na solução tampão fostato pH 6,0, e tampão ácido clorídrico pH 1,2, sob agitação magnética constante, durante 40 minutos na temperatura ambiente (25°C). A morfologia das fases dos polímeros puros e das misturas foi analisada por Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), num equipamento da marca Superscan, modelo SS-550 com 1,5000 kW de potência. As amostras analisadas foram submetidas à fratura em nitrogênio líquido, passaram pelo recobrimento de ouro, e foram preservadas em dessecador. Produção dos grânulos de teofilina com HPMC/PVA - 25/75 Foram preparados grânulos de teofilina utilizando a mistura HPMC/PVA 25/75 como matriz e como revestimento. A matriz dos grânulos foi obtida a partir dos filmes de HPMC/PVA 25/75 moídos em moinho criogênico marca IKA – Werke, modelo A11básico. A Tabela 1 apresenta a composição utilizada na formulação dos grânulos de teofilina para posterior preparação de cápsulas. A massa úmida, obtida da mistura dos componentes, foi seca em estufa a 55ºC, durante 20 minutos, e, após, foi calibrada com tamises de mesh 24(1,18nm) e 14(720nm). Os grânulos coletados no tamis de mesh 14 foram revestidos através da adição de solução aglutinante e posterior Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 secagem a 55 ºC durante 20 minutos. O processo de revestimento foi realizado em duplicata para a obtenção dos grânulos revestidos de teofilina. Tabela 1 – Composição do grânulo de teofilina com HPMC/PVA 25/75 Componente Função Concentração (%) Teofilina Princípio ativo 51,3 HPMC/PVA 25/75 Matriz 43,6 HPMC/PVA 25/75 Aglutinante 5,1 Resultados e Discussão As características dos polímeros e da mistura HPMC/PVA 25/75 foram avaliadas com respeito às variações na morfologia e na solubilidade em diferentes meios, simulando pH estomacal e intestinal. Morfologia da mistura de HPMC com PVA A Figura 2 ilustra as micrografias de MEV, da superfície de fratura criogênica dos corposde-prova das misturas HPMC/PVA 75/25, 50/50 e 25/75. HPMC/PVA 50/50 HPMC/PVA 75/25 HPMC/PVA 25/75 Figura 2 – Micrografias de MEV dos polímeros HPMC, PVA e das misturas HPMC/PVA 75/25, 50/50, 25/75 (1000x). Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 A mistura HPMC/PVA nas composições 75/25 e 50/50 apresentaram a evidência de domínios que caracterizam a heterogeneidade e a imiscibilidade da mesma.[9] A composição HPMC/PVA 25/75, cuja matriz é o PVA, foi a que apresentou a menor evidência de domínios, creditando a esta composição o melhor sinergismo entre os componentes da mistura. Caracterização dos grânulos de teofilina com HPMC/PVA 25/75 A análise por microscopia eletrônica de varredura permitiu verificar que foi possível a obtenção de grânulos de teofilina a partir de uma mistura de HPMC/PVA. Os grânulos apresentaram forma e tamanho homogêneos, Figura 3(a). Após o processo de granulação foi possível evidenciar regiões de recobrimento parcial do granulo pela mistura 25/75, evidenciando um revestimento não homogêneo, Figura 3(b). (a) 35x (b) 1000x Figura 3 – Micrografia de MEV dos grânulos de teofilina usando a mistura HPMC/PVA 25/75 (a) ampliado de 35x, (b) ampliado de 1000x. Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 Solubilidade dos polímeros e da mistura HPMC/PVA – 25/75 em diferentes meios A Tabela 2 apresenta os resultados da solubilidade dos polímeros, e da mistura HPMC/PVA 25/75, nas soluções tampão fosfato (pH 6,0) e solução ácido clorídrico (pH 1,2). Tabela 2 – Solubilidade dos polímeros HPMC, PVA e a misturas HPMC/PVA 25/75 nas soluções tampão fosfato (pH=6) e solução de ácido clorídrico (pH=1,2) por um período de 40 minutos, temperatura ambiente (25°C) Amostras Tampão fosfato (pH 6,0) Solução de ácido clorídrico (pH 1,2) HPMC Solubilizou Solubilizou PVA Solubilizou Solubilizou parcialmente HPMC/PVA-25/75 Solubilizou Solubilizou parcialmente De acordo com os resultados de solubilidade apresentados foi possível observar que o HPMC apresenta boa solubilidade nos tampões utilizados enquanto o PVA não apresenta o mesmo perfil, sendo menos solúvel no tampão ácido clorídrico, que tem por função simular o fluido estomacal e, portanto este polímero pode ser o controlador da solubilidade da liberação do fármaco. Conclusões A avaliação morfológica dos grânulos desenvolvidos com teofilina e a mistura HPMC/PVA 25/75 permitiu concluir que foi possível a obtenção dos granulados, no entanto o revestimento dos grânulos não foi homogêneo no método proposto. Como o perfil de liberação do fármaco no organismo pode ser controlado utilizando-se misturas poliméricas de diferentes solubilidades em fluidos biológicos, conclui-se que o PVA, por solubilizar parcialmente no fluido estomacal, apresenta potencial para o controle da solubilização de fármacos, contribuindo para obtenção de sistemas de liberação modificada em misturas com HPMC. O HPMC solubiliza totalmente nos meios que simulam o pH estomacal e intestinal. Agradecimentos Universidade de Caxias do Sul, BIC/UCS; Empresa VITAMED. Referências Bibliográficas 1. S. Conti; S. Gaisford; G. Buckton; U. Conte Thermochimica Acta 2006, 450, 56. 2. I. J. Hardy; A. Windberg-Baarup; C. Neri; P. V. Byway; S. W. Booth; S. Fitzpatrick Int. J. Pharmaceut. doi:10.1016/j.ipharm.2007.01.026, 2007. 3. S. Strübing; H. Metz; K. Mäder European Journal of Pharmaceutics and Biopharmaceutics, 2006. In press. 4. H. Konno; T. Handa; D. Alonzo; L. Yaylor European Journal of Pharmaceutics and Biopharmaceutics, 2008. Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 5. E. Karavas; E. Georgarakis; D. Bikiaris European Journal of Pharmaceutics and Biopharmaceutic 2008, 64, 115. 6. H. Mcphillips; D. Q. M. Craig; P. G. Royall; V. L. Hill International Journal of Pharmaceutics 1999, 180, 83. 7. F. Chandralekha , S.R. Illiger, K.P. Rao , T. Demappa, Carbohydrate Polymers, 2008, 74, 779-782. 8. USP 27 United States Pharmacopeial Convention. Usp Nf 2003: the official compendia of standards. Rockville, MD, USA: United States Pharmacopeial Convention, 2003. 9. R. N. Brandalise, V. Santos, G. A. Carvalho, V. W. Angeli, K. C. B. Souza, J. S. Favero, 18º Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais – CBECIMAT, 2008, 95369546. Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009