Inter-American Development Bank Banco Interamericano de Desarrollo Banco Interamericano de desenvolvimento Banque interámericaine de développment BR-P1051 Departamento de Países do Cone Sul (CSC) Rascunho Não Editado GESTÃO DAS POLÍTICAS DE RECURSOS HUMANOS NOS GOVERNOS ESTADUAIS BRASILEIROS ESTUDO DE CASO – RIO GRANDE DO SUL por Flávio de Cunha Rezende* *Banco Interamericano de desenvolvimento Novembro 2007 BANCO INTER-AMERICANO DE DESENVOLVIMENTO – BID GESTÃO DAS POLÍTICAS DE RECURSOS HUMANOS NOS GOVERNOS ESTADUAIS BRASILEIROS ESTUDO DE CASO – RIO GRANDE DO SUL RELATÓRIO DE PESQUISA DE CAMPO Flávio da Cunha Rezende Recife, Novembro 2007 Índice Geral Introdução Capítulo 1 – O ajuste fiscal e a gestão de Recursos Humanos no Rio Grande do Sul Capítulo 2 – Diagnóstico dos Sistemas Sub-Funcionais 2.1. 2.2. 2.3. 2.4. 2.5. 2.6. 2.7. Planejamento das Políticas de Gestão de Recursos Humanos Gestão das Carreiras Gestão do Ingresso, Mobilidade e Demissões Desempenho e Produtividade Políticas de Remuneração Políticas de Promoção e Qualificação Gestão das Relações de Trabalho e Recursos Humanos Capítulo 3 – Análise do Sistema de Gestão de Recursos Humanos 3.1. 3.2. 3.3. 3.4. 3.5. 3.6. 3.7. Eficiência Mérito Consistência Estrutural Consistência Diretiva Capacidade de Integração Capacidade Funcional Capacidade de Integração Considerações Finais Capítulo 1 O ajuste fiscal e a gestão de Recursos Humanos no Rio Grande do Sul Comparativamente aos demais estados analisados nesta pesquisa o governo de Rio do Grande do Sul pode ser considerado como um caso em que as políticas de ajuste fiscal passam a ser importantes forças motrizes para a institucionalização de um modelo de gestão de recursos humanos. Não se verifica no caso gaúcho a existência de programas modernizantes para a gestão pública ao longo dos anos 2000 como em outras experiências similares. O que se mais de perto orienta a decisão recente de modernizar e conferir importância ao planejamento estratégico dos recursos humanos é a forte necessidade de controle das despesas com pessoal, especialmente com a previdência. O caso do Rio Grande do Sul exibe as condições especificas para o esgotamento de um modelo tradicional burocrático de organização administrativa, em que o reflexo mais visível deste processo é a falência fiscal e o comprometimento das finanças públicas com uma pesada folha de inativos. Fatores historicamente combinados tais como a reduzida centralidade das políticas de gestão de recursos humanos, a considerável desatenção ao planejamento estratégico, a herança fragmentada e corporativa de desenho das políticas de recursos humanos, e, a baixa sensibilidade aos novos modelos de gestão emergente nos estados brasileiros, tornou o RGS um caso em que a urgência por modernização colide com os imperativos de ajuste fiscal. O ajuste fiscal na administração pública gaúcha decorre da necessidade de controle severo das despesas de pessoal nos três poderes – Executivo, Judiciário, e Legislativo. Dados comparativos relativos ao ano de 2005 evidenciam que o Rio Grande do Sul era o estado brasileiro que ocupava a primeira posição no ranking dos estados brasileiros que mais gastam com a folha de pagamento em proporção à sua receita líquida (65,8%)1. Ele é comparativamente o estado que mais compromete sua folha com despesas relativas a 1 Dados comparativos da Secretaria do Tesouro Nacional – STN relativos ao ano de 2005 mostram que o ranking estadual da relação entre despesas de pessoal em % da receita corrente liquida eram o seguinte: 1) Rio Grande do Sul (65,75%); 2) Pernambuco (60,18%); 3) Alagoas (58,97%); 4) Paraná (56,53%); 5) Minas Gerais (56,39%); 6) Sergipe (55,98 %); e 7) Santa Catarina (55,73%). Fonte: Secretaria de Planejamento e Gestão do Rio Grande do Sul. aposentados e pensionistas (30,9%), e, o que possui a menor capacidade de investimento (4,7%). A situação no estado relativa ao funcionalismo se mostra decisiva: as despesas com pessoal e encargos sociais atingem aproximadamente 72% da receita líquida. Estes dados apenas revelam algumas dimensões da institucionalização de um modelo burocrático de gestão com reduzido alinhamento aos pressupostos da racionalidade gerencial e administrativa. De forma curiosa, não houve no caso analisado uma política ou programa mais estruturado para promover reformas estruturais na gestão pública, e, especialmente no que concerne às políticas de planejamento de recursos humanos ao longo destes anos. A não existência de um programa de reformas fica claro na medida em que o governo estadual vem progressivamente atrelando suas políticas de recursos humanos a questão da contingência de despesas com pessoal. A gestão de pessoal é apenas um dos itens das diretrizes gerais das Leis de Diretrizes Orçamentárias (LDO), mais especificamente no capítulo que estabelece as “Disposições Relativas à Política de Pessoal”. A primeira importante diretriz de política de pessoal a partir dos anos 2000, é relativa aos limites das despesas globais com pessoal e encargos nos três poderes Para exercício de 2000 estes foram parametrizados pelo Plano Plurianual, e, a partir de 2001, em similar aos demais estados brasileiros, as despesas passam a obedecer às disposições do artigo 21 da Lei Federal Complementar 101, de 04 de maio de 2000, a chamada Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, mediante ações em que se previnam riscos e corrijam desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, destacando-se o planejamento, o controle, a transparência e a responsabilização como premissas básicas. A LRF criou condições favoráveis para a implantação de uma nova cultura gerencial na gestão dos recursos públicos e incentiva o exercício pleno da cidadania, especialmente no que se refere à participação do contribuinte no processo de acompanhamento da aplicação dos recursos públicos e de avaliação dos seus resultados Os limites para a geração de despesas estão claros no artigo 21 onde se considera como sendo “ nulo de pleno direito o ato que provoque aumento da despesa com pessoal e não atenda: as exigências dos artigos. 16 e 172 desta Lei Complementar. Há um limite legal de comprometimento aplicado às despesas com pessoal inativo. Também é nulo de pleno direito o ato de que resulte aumento da despesa com pessoal expedido nos cento e oitenta dias anteriores ao final do mandato do titular do respectivo Poder ou órgão referido no art. 20. Serão consideradas “não autorizadas, irregulares e lesivas ao patrimônio público a geração de despesa ou assunção de obrigação que não atendam o disposto nos artigos. 16 e 17”. O RGS passa a aderir de forma intensa aos parâmetros da lei. Observa-se a partir do exercício de 2000 o esforço de produzir transparência e responsabilização nos gastos públicos, especialmente com o funcionalismo. As diretrizes de política de pessoal estabelecem que a despesa de pessoal no Rio Grande do Sul passe a ser acompanhada com a publicação por quadro de pessoal. Serão especificados o total dos cargos criados existentes e os das vagas preenchidas, assim como os dos gastos com o total dos vencimentos e remunerações pagos. A análise longitudinal das LDOs realizada nesta pesquisa mostra haver uma variação da periodicidade destas publicações, o que sugere uma maior necessidade de controle: em 2000 se trabalhou com prazo semestral, e se mantendo quadrimestral para os anos subseqüentes até o exercício de 2006. No contexto do ajuste fiscal foram estabelecidas as linhas gerais para o desenho das diretrizes de política de pessoal no estado. A Lei 11.364 de 04 de Agosto de 1999, que representa a LDO para o exercício financeiro de 2000, em acordo com o artigo 154 da Constituição Estadual, e o artigo 13 da Lei Complementar 10.336 de 28 de dezembro de 1994, regulamentam que os três poderes são autorizados a proceder às diversas iniciativas no que se refere à política de recursos humanos. Estas são especificamente as seguintes: a) reorganização dos quadros de pessoal, a alteração das carreiras, e a implantação de novos planos de cargos e funções, decorrentes do disposto do artigo 31 da Constituição Estadual; b) o preenchimento das vagas dos cargos de provimento efetivo se dará mediante a realização dos concursos públicos, e dos 2 Nestes artigos estão especificados os limites relativos aos processos de geração de despesa pública. No artigo 16, considera-se que a criação, expansão ou aperfeiçoamento de ação governamental que acarrete aumento da despesa será acompanhado de: estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva entrar em vigor e nos dois subseqüentes; e, a declaração do ordenador da despesa de que o aumento tem adequação orçamentária e financeira com a lei orçamentária anual e compatibilidade com o Plano Plurianual e a Lei de Diretrizes Orçamentárias. No artigo 17, a lei define o que seja despesas obrigatórias de caráter continuado. Considera-se como sendo a despesa corrente derivada de lei, medida provisória ou ato administrativo normativo que fixem para o ente a obrigação legal de sua execução por um período superior a dois exercícios. cargos de comissão previstos em lei; c) estabelecer os critérios para a progressão funcional; d) o incremento da despesa com pessoal (ativo, inativo, e pensionistas) para reposição do poder aquisitivo dos vencimentos; e) o realinhamento das estruturas remuneratórias, visando a uma melhor distribuição dos gastos de pessoal, observada a fixação do teto remuneratório definida no artigo 31 da Constituição Estadual. Nesta lei fica também explicito o movimento do governo em direção a uma modernização das políticas de gestão de pessoal. Estas devem ocorrer através da implantação de programas de valorização, desenvolvimento e profissionalização dos serviços públicos estaduais para a modernização dos processos de trabalho e pela promoção de políticas salariais para todo o funcionalismo como forma de qualificar os serviços públicos. Nesta lei também fica o compromisso de encontrar um modelo previdenciário estadual financiado pelo estado, e progressivamente pelos servidores, com gestão paritária e controle da sociedade civil organizada. Outra inovação de política é a criação de um conselho composto por representantes dos poderes de estado e suas instituições autônomas para o gerenciamento – definição e acompanhamento – de uma política de remunerações para o funcionalismo público gaúcho. Neste exercício é vetado a autonomia dos poderes em relação a reorganização dos quadros de pessoal, a alteração das carreiras, e a implementação dos novos planos de cargos e funções; o realinhamento das estruturas remuneratórias visando reposição de perdas, bem como o incremento da despesa de pessoal dos ativos e inativos. Estes itens são excluídos das diretrizes de políticas a partir do exercício financeiro de 2004. A política de pessoal ficaria então atrelada ao controle dos gastos com pessoal, a modernização através de uma política de realização de concursos públicos, aos mecanismos de progressão funcional, e, a implantação de programas de valorização, desenvolvimento e profissionalização dos servidores estaduais. Os três poderes voltam a expandir sua autonomia em termos da política de pessoal a partir do exercício de 2005, condicionado ao artigo 27 da LDO e a Lei Complementar Federal 101 de 2000. No novo contexto, em adição aos atributos básicos de política de pessoal, estes passam a ser autorizados pelo governo a promover a criação de cargos ou alteração das estruturas de carreiras; a realizar a contratação de pessoal por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público; e, à contratação de servidores por hora extra. é introduzida na LDO um parágrafo único onde é assegurado o direito de revisão geral anual da remuneração dos servidores e dos subsídios. Na realidade, qualquer mudança deve levar em conta alguns parâmetros que limitam as oportunidades de mudança. Em primeiro lugar, o RGS vive um padrão atípico nos estados brasileiros em que as despesas com inativos e pensionistas superam a dos ativos. Há mais incentivos para aposentadorias do que para permanecer no trabalho. A força de trabalho é dotada de baixíssima renovação ao longo do tempo, fruto de políticas em que não se privilegiou o planejamento estratégico dos concursos. O modelo tradicional privilegiou o crescimento das contratações de servidores a partir das demandas contingenciais de cada organização, gerando um modelo “fragmentado” e de complexa coordenação em termos de políticas mais integradas, que permitissem eficiência. A herança deste modelo limita consideravelmente a capacidade de planejamento das políticas de forma mais integrada proporcionando maior intersetorialidade, que é outra característica estrutural das políticas gerenciais. O mérito e a competência técnica ainda não são parâmetros decisivos para o planejamento da força de trabalho no estado. O dimensionamento da força de trabalho também é outro problema crucial para o planejamento eficiente dos recursos humanos. Os quadros de pessoal foram sendo preenchidos sem qualquer parâmetro mais consistente para orientar as decisões de contratação nas diversas carreiras. Os dados recentes analisados nesta pesquisa mostra que a realidade do setor público gaúcho é bem caracterizado por uma força de trabalho que está mais próxima da aposentadoria do que da produtividade. Há um considerável contingente de servidores que estão para se aposentar nos próximos anos, especialmente nos setores estratégicos do governo tais como setores sociais (educação e segurança). As políticas de recursos humanos devem considerar o “problema do dimensionamento da força de trabalho” como um importante desafio a superar. O padrão típico da alocação da força de trabalho é o excesso de pessoal em alguns órgãos e outros com profundo déficit de pessoal. Este perfil revela a ausência de uma política mais coordenada e planejada de recursos humanos, especialmente no que diz respeito à contratação dos servidores. O modelo existente foi sendo adaptado a um ambiente de intensa setorialização e fragmentação das diversas áreas e setores do governo em termos das políticas de pessoal. A produção de políticas mais integradas de recursos humanos não se constituiu realidade até o presente momento. Inexistem mecanismos mais consistentes para identificação das demandas por novos servidores. Predomina o modelo emergencial e não planejado de contratações. A atual administração vem tentando imprimir novas iniciativas para o ajuste gerencial da administração pública. Este processo vem ensejando a introdução de substanciais inovações nas políticas e planejamento dos recursos humanos. A concepção de um novo modelo de gerenciamento de recursos humanos se mostra evidente para os gestores consultados na pesquisa. O pressuposto que orienta as novas políticas é o de tornar a administração pública mais eficiente e progressivamente orientada por resultados. O modelo gerencial de ampliar resultados e redução de despesas é o pressuposto das novas políticas de recursos humanos. O atual governo do Rio Grande do Sul vem tentando imprimir um ajuste gerencial na administração dos recursos humanos, em sintonia com outras experiências modernizantes, tentando deixar de olhar para o problema apenas como uma questão contábil. Neste sentido, o problema dos recursos humanos assume considerável relevância estratégica e parte substancial da necessária readequação das políticas para a gestão pública. Grande parte do problema deriva de um esgotamento das energias institucionais para a maior produtividade do funcionalismo estadual. Existe a percepção da necessidade de profundas mudanças institucionais na organização e no funcionamento da administração estadual. Isto deve-se empreender a partir da adesão progressiva a novos modelos gerenciais já em curso em outros contextos brasileiros. Em termos operacionais, segundo os gestores entrevistados os eixos de transformação do modelo existente passam pela adesão aos seguintes princípios: a gestão por resultados, racionalização das despesas, modernização dos serviços, e a remuneração dos servidores a partir do desempenho. Outra inovação perseguida é a de tentar ampliar a capacidade de gestão das políticas públicas a partir de princípios de transversalidade nas ações do governo, alinhando os interesses das diversas secretarias do estado, evitando a tradicional forma fragmentada de ação governamental. As principais medidas para controlar os gastos públicos residem na expansão da tecnologia de informação para a desburocratização do sistema e melhor capacidade de controle gerencial. A reorientação da política de recursos humanos com a implantação de um novo sistema de remuneração e a criação da carreira de gestor público; a transformar a cultura do funcionalismo público em uma cultura centrada na criação de valor público, inovação gerencial, e elevação da produtividade; e a introdução do mérito como requisito de promoção na carreira aparecem como elementos cruciais para a construção de uma nova burocracia no RGS. Capítulo 2 - Diagnóstico dos Subsistemas Funcionais Esta seção analisa os subsistemas funcionais que compõem o sistema integrado de gestão de recursos humanos no estado do Rio Grande do Sul no período 2000-2007. Busca-se compreender e analisar a existência, o funcionamento, as características estruturais, e, os pontos críticos de funcionamento dos 07 sistemas funcionais que compõem o modelo institucional de gestão de recursos humanos, tais como concebidos pela metodologia referencial. Em função dos dados coletados na pesquisa, são examinados mais de perto os seguintes subsistemas: a) Planejamento das Políticas de Gestão de Recursos Humanos; b) Gestão das Carreiras; c) as Políticas de Ingresso, Mobilidade e Demissões; d) Desempenho e Produtividade; e) Políticas de Remuneração; f) Políticas de Promoção e Qualificação. A preocupação central do capítulo é dupla: primeiro, é a de oferecer elementos que possam complementar as informações históricas e contextuais examinadas no capítulo anterior; e, ao mesmo tempo, a de fornecer informações estruturais e gerenciais para as análises dos parâmetros centrais da pesquisa: eficiência, mérito, consistência estrutural, capacidade funcional, e, capacidade de integração da política de gestão de recursos humanos. A base de dados primários que fundamenta este capítulo é proveniente das respostas dos questionários abertos e fechados e das entrevistas semi-estruturadas realizadas em campo com os gestores de recursos humanos. 2.1. Planejamento das Políticas de Gestão dos Recursos Humanos As principais características do modelo de planejamento de recursos humanos vigentes no Rio Grande do Sul são a centralização decisória, alto grau de formalização, e, com reduzida autonomia e flexibilidade dos órgãos e entidades para decidir sobre a gestão dos seus recursos humanos. A pesquisa identificou a existência de uma longa tradição de grande segmentação e fragmentação das organizações e entidades do poder Executivo, especialmente no que diz respeito ao modo pelo qual elas organizam as políticas de recursos humanos, com impactos consideráveis sobre a racionalidade administrativa, e, especialmente, financeira. Há uma cultura reativa em que o planejamento estratégico ocupa lugar secundário nos recursos humanos. Durante muitos anos, as políticas de recursos humanos eram basicamente reduzidas à questão do pagamento de salários, e, sem maior conexão com questões de planejamento estratégico, e, especialmente de resultados institucionais e organizacionais atingidos pelas políticas públicas. A necessidade de um considerável movimento em direção ao ajuste fiscal e ao equilíbrio das contas públicas, o governo do Rio Grande do Sul tem considerado como pressuposto para a construção das políticas de gerenciamento de recursos humanos a necessidade de modernização gerencial. O planejamento das políticas de salários, carreiras, aposentadorias, avaliação do desempenho, modernização gerencial, e racionalização da composição da força de trabalho, passam, portanto, a serem elementos centrais na composição da agenda de políticas públicas. O governo vem estruturando um novo modelo de planejamento de modo a que se possa romper com as vicissitudes dos modelos burocráticos anteriores e ampliar as possibilidades para um novo modelo gerencial. Este pressuposto emerge de forma decisiva na consolidação recente de um novo conjunto de políticas estratégicas e uma nova configuração institucional para a gestão dos recursos humanos. O modelo de planejamento e gestão das políticas de recursos humanos no Rio Grande do Sul ainda se encontra em estruturação e vem recentemente institucionalizando as diretrizes formais de um novo modelo de gestão dos recursos humanos. O processo decisório sobre tais políticas, embora formalmente atrelados a Secretaria de Administração e de Recursos Humanos – SARH, As competências formais da SARH foram recentemente redefinidas pela Lei 12.697. As decisões de recursos humanos estão atreladas à duas importantes instituições compartilhadas: a Câmara de Gestão Pública e Finanças e o Grupo de Assessoramento Estadual para Política de Pessoal. A Câmara Setorial de Gestão Pública e Finanças foi criada pelo Decreto 44.904/2007 com a finalidade de orientar, acompanhar e coordenar os programas governamentais relativos à melhoria da gestão administrativa e das finanças públicas. Neste âmbito, estão inseridas as competências relativas à definição e orientação normativa das políticas, estratégias e diretrizes de políticas públicas. Estas decisões envolvem a modernização da administração pública, da gestão dos recursos humanos, e, das medidas de gestão de resultados. A Câmara é composta pelo Chefe da Casa Civil, o Secretário de Estado da Coordenação e Planejamento, o Secretário de Estado da Fazenda; o Secretário de Estado da Administração e dos Recursos Humanos; o Secretário de Estado das Obras Públicas e Saneamento, e, o Procurador-Geral do Estado. O Decreto 45.123 de 03 de Julho de 2007 define sobre as competências e responsabilidades do Grupo de Assessoramento Estadual para Política de Pessoal – GAE. O Plenário do GAE é integrado pelos Secretários de Estado da Fazenda, do Planejamento e Gestão e da Administração e dos Recursos Humanos, pela Procuradoria-Geral do Estado e pelo Secretário de Estado Extradordinário da Casa Civil. A Coordenação do GAE será exercida pelo Secretário de Estado da Fazenda ou pelo seu substituto legal. O modelo é centralizado na Secretaria Executiva do Plenário que é a instituição a quem compete a tomada de decisões estratégicas sobre diversos aspectos da política de recursos humanos do Estado. A Secretaria Executiva do GAE compete as seguintes atribuições gerais: a) a emissão de pareceres sobre a política de recursos humanos; b) estudar e encaminhar termos de negociações relativos a acordos e convenções coletivas de trabalho; c) emitir parecer sobre propostas de fixação, reajustamento, revisões remuneratórias ou celebração de acordos/convenções com entidades representativas de servidores, visando à política salarial dos órgãos da Administração Direta e Indireta do Poder Executivo; d) efetuar avaliação final dos assuntos a serem submetidos ao Plenário; e) acompanhar a evolução dos dispêndios com recursos humanos da Administração Direta e Indireta do Poder Executivo; f) acompanhar a evolução dos gastos com a remuneração dos dirigentes das entidades da Administração Indireta; f) exercer outras atribuições específicas e correlatas, ou que forem designadas pelo Coordenador do GAE. No que diz respeito às dimensões de política de recursos humanos que a GAE interfere em suas decisões, estas estão diretamente relacionadas à: a) planos de cargos/empregos e de vencimentos/salários/ remuneração; b) criação de cargos e quadros de pessoal; c) acordos e convenções coletivas de trabalho; d) regulamento de promoções; e) promoções de servidores; f) abertura de concurso público ou de processo seletivo; nomeação de concursados e admissão de empregados no quadro permanente; h) contratação de pessoal; i) contratação temporária, nos termos do artigo 19, inciso IV, da Constituição Estadual, bem como renovações; j) convocação para serviço extraordinário, inclusive as horas trabalhadas em dias de repouso e feriados; e, k) alteração de quotas de estagiários dos órgãos e entidades da Administração Direta e Indireta do Poder Executivo. Os projetos e iniciativas dos órgãos e entidades da Administração Direta e Indireta do Poder Executivo que potencialmente venham a produzir elevação das despesas de pessoal ou aumentos de salários devem ser encaminhados para a apreciação da GAE. A criação, transformação e extinção de cargos, empregos e funções públicas bem como as proposições de revisão geral anual, de fixação e alteração de padrões de vencimentos, de concessão de vantagens remuneratórias, reajustes ou aumentos de vencimentos e salários, devem ser controlados. O planejamento de recursos humanos existente conta com um sistema de Recursos Humanos do Estado – RHE. O RHE se encontra em fase final de implementação apenas na Administração Direta do Estado. Este novo sistema foi construído para substituir o BDP que existiu por 24 anos, com atuação restrita à questão da folha de pagamento. Como inovação modernizante, ele tenta introduzir a integração da gestão de recursos humanos com a folha de pagamento, de forma mais racional e alto grau de controle e confiabilidade das informações. Este sistema estrutura-se em uma base única de dados permitindo acesso às informações nas unidades organizacionais de recursos humanos das Secretarias de Estado. O novo sistema permite a produção de relatórios gerenciais on-line, previamente definidos ou nova modelagem para atender demandas específicas. No âmbito da administração Indireta, ainda existe um sistema de folha de pagamento fragmentado em que a gestão financeira dos contracheques é de responsabilidade da Secretaria da Fazenda, e a vida funcional é gerenciada por cada órgão. Para obter informações o contato é direto com os órgãos. Em relação a salários, a Secretaria da Fazenda é quem produz e sistematiza as principais informações sem maior conexão com as diretrizes da SARH. A institucionalização do Sistema de Recursos Humanos do Estado – RHE ocorreu através do Decreto 44.818, de 27 de Dezembro de 2006. O decreto dispõe sobre a tentativa de articular as ações referentes à gestão de pessoal no âmbito dos órgãos da Administração Direta, das entidades autárquicas e fundacionais do Poder Executivo Estadual. O Sistema RHE envolve um modelo de gestão colegiada e integrará todas as ações pertinentes aos recursos humanos, imprimindo a transversalidade como pressuposto básico de controle e planejamento gerencial. A gestão compartilhada do sistema RHE contempla as seguintes instâncias colegiadas, órgãos e entidades: Comitê Estratégico; Comitê Gerencial; Secretaria da Administração e dos Recursos Humanos e Secretaria da Fazenda; demais secretarias de Estado e órgãos equivalentes; autarquias e fundações; e Companhia de Processamento de Dados do Rio Grande do Sul PROCERGS. A estratégia recente do governo com o novo sistema gerencial de Recursos Humanos, é a de tentar ampliar a integração das setoriais de recursos humanos dos órgãos do Estado para multiplicar o conhecimento sobre as políticas existentes e sua gestão, bem como sobre os valores orientadores das políticas perseguidas. Os gestores consultados consideram que o atendimento das demandas setoriais no sistema único de RH das necessidades especifica dos órgãos para que se possa consolidar cada vez mais as informações, e, a eficiência gerencial. A formulação e as decisões de planejamento são tomadas por um grupo de especialistas em recursos humanos, informados pelo sistema gerencial e pelas consultas aos níveis hierárquicos inferiores em termos de suas demandas. Grande parte desta centralização decisória deve-se ao fato de que as políticas de modernização da gestão dos recursos humanos estão fortemente orientadas por demandas por maior ajuste fiscal e equilíbrio das contas públicas. O modelo existente ainda não consegue atingir níveis de universalidade e transversalidade em termos de suas decisões. A utilização estratégica das informações gerenciais para a tomada de decisões de planejamento ainda se restringe a algumas áreas específicas da administração pública. Em termos da informação produzida, a pesquisa realizada junto aos gestores de recursos humanos revela que é possível saber com confiabilidade sobre os quantitativos de servidores (total, por tipo de vínculo, e por carreiras), sobre estrutura salarial, distribuição das funções gratificadas, e cargos comissionados. Por outro lado, não é possível saber sobre perfil das demissões/afastamentos, alocação dos servidores (excesso ou déficit) por organização, bem como sobre os tipos de qualificação recebida pelos servidores estaduais. O sistema existente, apesar das inovações, não está preparado para produzir informações sobre as demandas futuras por contratações de servidores, o montante aplicado em qualificação, ou mesmo a quantidade de pontos de internet ou de computadores por organização. Existe um conjunto importante de informações relativas a salários, aposentadorias, perfis das habilidades desejáveis para contratação, e resultados das avaliações de desempenho, que, embora sejam alimentadas no sistema, tais informações exigiriam adaptações no sistema para sua geração. Os gestores consultados informam a existência de pontos críticos associados a uma tradição de gestão burocrática dos recursos humanos no estado. Uma das principais limitações do modelo é o fato de não haver estudos, análises ou iniciativas voltadas para tentar promover uma melhoria da qualidade e da consistência das informações geradas pelo planejamento de recursos humanos. A produção de informação gerencial consistente e confiável na administração dos recursos humanos ainda é uma etapa decisiva a ser alcançada por políticas modernizantes. Como impacto sensível da questão da informação, ocorre que o planejamento ainda trabalha, assim como em outros estados analisados na pesquisa, com o atendimento às demandas emergenciais para contratação dos servidores. Há uma clara necessidade de promover políticas que se voltem para dimensionar a força de trabalho das organizações, sendo este um considerável impacto da cultura do não-planejamento gerencial que caracterizou os recursos humanos nos anos recentes. Existe, em contraposição ao esforço de dimensionamento, a prevalência de uma tradição legal-formal (burocrática) em que dominam as regras para a alocação dos quadros de pessoal do Estado. Outro ponto crítico detectado pelos gestores é a não existência de estudos de avaliação de desempenho realizado pelos diretores de recursos humanos. O planejamento trabalha sem maiores informações reais sobre o desempenho e a produtividade gerencial. Com efeito, ele ainda é basicamente orientado para atender as demandas setoriais emergenciais dos órgãos e entidades. Por outro lado, os principais avanços verificados nos anos recentes estão ligados diretamente a produção de informações de pessoal, derivadas da institucionalização do RHE. Avanços positivos podem ser visto nas tentativas de difusão das estratégias e políticas de recursos humanos, seja no site do Portal do Servidor, ampliando a interação entre o servidor e a gestão dos recursos humanos. Estes esforços foram materializados também na publicação das regras existentes para a ocupação dos Quadros de Pessoal do Estado nos sites da SARH e da SEFAZ. Por outro lado, no modelo recente, os gestores consultados na pesquisa reconhecem ter havido um avanço nos esforços recentes de integração no sistema de recursos humanos entre a estrutura organizacional e a estrutura funcional do Estado. 2.1.1. Características Estruturais do Planejamento das Políticas de Gestão dos Recursos Humanos Conforme analisado anteriormente, o sistema de gestão de recursos humanos no caso analisado possui um planejamento ainda em estruturação, onde uma das suas principais inovações institucionais foi a criação do SRH, em que o governo pretende agilizar e unificar a produção de informações gerenciais que vão além da questão da folha de pagamento. O sistema existente tem menos de dois anos, e é considerado com um avanço em relação ao sistema anterior, com maior confiabilidade. O modelo institucional vigente é construído a partir de uma lógica centralizadora, em grande parte decorrente da necessidade do estado de atrelar as políticas fiscais de controle aos recursos humanos, e, ao gerenciamento de pessoal. As políticas implementadas a partir de 1999 passam a ser controladas fortemente pelas regras formais, restringindo a liberdade e autonomia das organizações para decidirem sobre contratação. Ao mesmo tempo em que se verifica esta característica, o modelo se orienta por planos estratégicos nos diversos órgão e entidade que estabelecem as demandas por contratação de novos servidores. Estes planos orientam o governo sobre quais os perfis e habilidades necessárias para a ocupação dos cargos burocráticos. Os gestores consultados consideram que, em linhas gerais, pode-se afirmar, que são contratados servidores de modo razoavelmente alinhados ao planejamento de demandas definidos a partir de critérios técnicos e necessidades organizacionais. Todavia, na tradição gaúcha, existe, assim como em outros contextos analisados, uma tendência a prevalecer as demandas circunstanciais destes órgãos, gerando um padrão “desarticulado” entre as necessidades e as reais contratações. Este padrão é reforçado na medida em que não existem informações gerenciais mais atualizadas sobre a real força de trabalho nem sobre os perfis atuais e futuros de contratação. O planejamento existente não trabalha a partir de racionalidade em termos do mapeamento do perfil e padrão necessário das contratações. Este mecanismo se reproduz nas demais dimensões das políticas de recursos humanos – salários, qualificação, carreiras, promoções, mobilidade – e afeta consideravelmente a eficiência agregada do sistema de recursos humanos. A orientação precípua pelo ajuste fiscal tem feito com que a atenção gerencial para estas limitações tenham sido negligenciadas no desenho das políticas recentes. Um bom exemplo deste fenômeno se verifica na política de alocação dos cargos gerenciais, onde não existem critérios bem definidos, institucionalizando um perfil real da força de trabalho levemente desequilibrado entre as ofertas e demandas por pessoal. Os gestores afirmam que nos últimos 05 anos as organizações da administração direta e indireta trabalham com excesso de pessoal em alguns setores, e déficits em outros setores da administração. Não existem esforços que tentem dar conta de tal padrão e seus impactos com o desempenho e a produtividade. Por outro lado, inexistem análises sistemáticas de tentar compreender como se processam e quais os impactos da mobilidade gerencial. Até o presente momento na história da administração pública gaúcha não existe qualquer análise sobre tal característica. A força de trabalho, especialmente a mais qualificada, passa a se organizar em torno dos maiores salários e de cargos com maiores gratificações, em detrimento de um maior compromisso com questões relativas a adequação entre perfis gerenciais e produtividade. O planejamento não produz informação sistemática sobre as demandas gerenciais em cada órgão e entidade. Na realidade, a pesquisa identifica que, as estratégias de ocupação destes cargos obedecem a outros critérios que não as diretrizes do planejamento estratégico. Este fator tem impacto sensível sobre a formação das habilidades e competências para a gestão pública. A pesquisa também identifica que não existem parâmetros consistentes no planejamento para comparar os salários e despesas com o funcionalismo em relação ao setor privado. Há uma lógica tradicional de remunerações no planejamento em que não se consolidou um sistema de gerenciamento e controle de custos de pessoal. 2.2. Gestão das Carreiras Conforme comentado na seção anterior, as decisões relativas à política de gestão de carreiras no Rio Grande do Sul são tomadas pela é definida a partir de um modelo institucional que envolve a participação da Casa Civil, SARH, SEFAZ, PGE e SEPLAG. Estas decisões se estruturam a partir do Grupo de Assessoramento Estadual da Política de Pessoal e a Câmara Setorial de Gestão e Finanças. As ações relativas à política de carreiras e categorias funcionais funcionam basicamente a partir das demandas dos órgãos e entidades da administração pública. Como elas envolvem a lotação de quadros de pessoal, o planejamento desempenha basicamente um papel de controle em relação a disponibilidade de recursos e o impacto fiscal das contratações possíveis a partir da criação de novas carreiras. A dinâmica é basicamente similar a alguns casos estudados: os órgãos apresentam suas propostas com base nas necessidades levantadas ou apresentadas e encaminham para a Secretaria da Administração e dos Recursos Humanos para análise técnica, visando à criação ou reestruturação das carreiras e cargos. A decisão da SARH é encaminhada para a Procuradoria-Geral do Estado para a Secretaria da Fazenda para análise jurídica e financeira, respectivamente. A decisão final para parecer e deliberação compete, todavia, ao Grupo de Assessoramento Estadual para Políticas de Pessoal – GAE. A conexão entre a política de carreiras e o sistema de planejamento se processa através da alimentação de informações gerenciais da vida funcional e da remuneração dos servidores públicos. O sistema gerencial existente processa informações sobre os quadros de pessoal, categorias funcionais, quantitativo de vagas de cada cargo, níveis, graus, padrão de remuneração, vantagens, benefícios, carga horária, gratificações, risco de vida. Dados relativos a data de ingresso no serviço público, histórico de movimentação, atos publicados, bem como dados pessoais - identificação funcional, carteira de identidade, endereço, escolaridade, dependentes, Pasep, conta bancária - são usualmente introduzidas e alimentadas no sistema pelas unidades setoriais de RH. No período recente, conforme já comentado na seção anterior, se identifica uma maior difusão de informações sobre recursos humanos. O governo disponibiliza as informações relativas do Manual dos Quadros de Pessoal da Administração Direta, e o Manual dos Quadros de Pessoal de Autarquias e Fundações Públicas, no site da SARH. Nestes são encontradas informadas as legislações, a estrutura do quadro, vencimentos, gratificações e vantagens, forma de promoção do servidor. O planejamento das carreiras trabalha com a definição dos perfis necessários. Estas estão incluídas nos chamados Quadros de Pessoal, onde estão descritas as especificações das categorias funcionais com a descrição sintética das atribuições, descrição analítica das atribuições, qualificações (escolaridade, habilitações necessárias para o desempenho das atribuições), requisitos de ingresso, forma de processo seletivo, regime jurídico e carga horária. Os perfis ali descritos são baseados na complexidade e exigência necessárias para o desempenho das atribuições do cargo. No caso estudado, a organização das carreiras vigente no Rio Grande do Sul é bastante tradicional em que concerne a criação de novas carreiras. Os gestores identificam que as políticas de carreiras exibem um grau muito reduzido de flexibilidade para atender demandas por mudanças advindas das próprias organizações e de suas necessidades. As estruturas tendem a permanecer por consideráveis períodos de tempo, e, novas demandas por carreiras no sentido de modernização são consideradas como muito lentas. Existem consideráveis limitações formais que restringem flexibilizações nas políticas de organização e funciomento das carreiras. Apenas mais recentemente o estado vem se empenhando nos estudos iniciais para a criação da carreira de gestor público, em sintonia com as tendências recentes de modernização da administração pública nos diversos estados. Conforme informam os gestores consultados, no Rio Grande do Sul, pode-se afirmar que a lógica de crescimento e consolidação destas carreiras na administração pública se deu através de uma dinâmica a estruturação dos quadros de pessoal foram ocorrendo de forma reativa e fragmentada setorialmente. Não havia uma maior preocupação estratégica do governo estadual em consolidar uma política de gestão dos recursos humanos em que conexões com questões de planejamento, efetividade, e de organização racional da força de trabalho assumissem centralidade. Esta conservação dos modelos existentes se verifica na medida em que não existem pesquisas sistematizadas sobre a eficiência e efetividade do modelo existente. Não se identifica no período recente um esforço mais planejado de avaliação destas estruturas e das carreiras existentes. Os gestores consultados informam que quando existem estudos de reestruturação de cargos é que são discutidos os perfis de habilidades e de cargos gerenciais para cada organização burocrática. Não existe qualquer pesquisa ou estudo mais metodologicamente orientado que permita compreender o modelo existente. As estratégias recentes de fortalecimento das carreiras e da valorização dos servidores existem. Todavia, estas têm ocorrido de forma altamente setorial, definidas a partir das demandas de cada por Secretaria, através de cursos de Formação como complemento na aprovação em concurso público. Para o conjunto de servidores recém ingressos existe em todas as Secretarias o acompanhamento do Estágio Probatório, como instrumento de qualificação e profissionalização na correção dos fatores, para aqueles servidores que apresentam a nota abaixo da mínima estipulada em regulamento. A política de gestão de carreiras exibe algumas importantes características que importa analisar com mais detalhes. A primeira delas é que historicamente não tem havido um movimento em direção ao maior alinhamento entre as políticas de organização das carreiras e o planejamento dos recursos humanos, no sentido mais amplo. O que tem ocorrido na realidade recente é que existe uma forte tendência a se contratar a partir de fatores tradicionais orientados pelas normas que regem as carreiras a partir das estruturas e quadros de pessoal. Estes são basicamente formados a partir das demandas emergenciais por contratação, sem maiores sintonias com decisões estratégicas a partir do planejamento. Embora os gerentes de recursos humanos conheçam suas demandas por contratações de servidores, o mérito e a competência técnica não são os fatores decisivos para a ocupação dos cargos gerenciais. O modelo gerencial existente também envolve uma cultura que combina grande aderência aos requisitos formais e uma ampla margem de informalidade. É reduzida a participação dos gerentes e gestores nas políticas e diretrizes das carreiras e nos perfis de habilidades e competências. As estratégias recentes de definição dos cargos e das responsabilidades individuais dos servidores tem sido efetivas no que diz respeito à clareza acerca das responsabilidades formais, entretanto, existe uma considerável ambigüidade em relação as responsabilidades e as contribuições individuais para o desempenho organizacional. Os servidores, especialmente os que ocupam posições gerenciais, são fortemente orientados pela mobilidade em função da ocupação de cargos e posições com maiores salários, com reduzido impacto sobre a produtividade e o desempenho. Esta característica tende a afetar consideravelmente a institucionalização de uma cultura da produtividade e da criação de incentivos burocráticos voltados para ampliar a motivação dos servidores na execução de suas atribuições nas organizações. Apesar de existir uma clara orientação pelo mérito na classificação e organização dos cargos e carreiras, verifica-se que esta se implementa a partir de uma ausência de quais seriam os perfis desejáveis em termos de estruturas e carreiras gerenciais. O dimensionamento da força de trabalho e de uma estrutura ideal ainda não assumiu centralidade na política de recursos humanos do Rio Grande do Sul. Ocorre na experiência analisada, que existe um esforço de definição dos perfis desejáveis de servidores, e, mais amplamente, da estruturação das carreiras, todavia, inexistem estratégias claras de como tais perfis, de fato, contribuem para a elevação do desempenho profissional e da produtividade dos servidores. Há um peso muito amplo de fatores tradicionais e de critérios não-acoplados a competência técnica que incidem sobre a estruturação das carreiras e da definição dos perfis de servidores. Prevalece, de fato, uma cultura tradicional de ocupação dos cargos, especialmente os de corte gerencial. Parte deste problema reside no fato de que não existir no período recente um esforço dos governos em promover o desenho de um modelo de gestão onde se faça presente uma compreensão mais estratégica da gestão dos recursos humanos. Parte desta política passa por criar os incentivos para ampliação da participação e responsabilização dos gerentes de recursos humanos na construção de um modelo de gestão das carreiras em que estejam incluídos considerações mais estratégicas sobre a relação entre os perfis necessários de contratação, as carreiras, e, o planejamento das estruturas. 2.3. Gestão do Ingresso, Mobilidade, e Demissões O ingresso dos servidores na administração pública em cargos efetivos se dá a partir da realização de concursos públicos, para a provisão de cargos efetivos. Os concursos se organizam para atender as demandas pontuais, setoriais, de cada órgão e entidade, a partir das estruturas de carreiras e dos perfis considerados necessários para os cargos. Os cargos comissionados e de confiança são de nomeação do governador. Estas estratégias são definidas pela Secretaria da Administração e dos Recursos Humanos, Fundação para o Desenvolvimento dos Recursos Humanos, Grupo de Assessoramento Estadual para Política de Pessoal – GAE e órgão responsável pelo Quadro de Pessoal. Os concursos públicos são realizados pela Fundação para o Desenvolvimento dos Recursos Humanos do Estado do Rio Grande do Sul – FDRH. A nomeação dos servidores públicos é efetuada pelo órgão responsável pelo Quadro de Pessoal em que o servidor será lotado. As decisões sobre as estratégias de recrutamento dos servidores são realizadas a partir de os critérios técnicos e a definição dos perfis necessários para cada carreira. Estes parâmetros são considerados decisivos, e definem as estratégias de recrutamento dos servidores, em consonância com as restrições fiscais. Há uma tentativa recente de alinhar as contratações aos perfis considerados necessários a partir do planejamento. O fluxo do processo decisório sobre o ingresso de servidores tem uma dinâmica específica em termos da organização dos papéis, competências e responsabilidades. A lógica básica envolvida é a seguinte. Cada organização na administração direta e indireta define sua necessidade de contratações de novos servidores. Estas demandas são encaminhadas à Secretaria da Administração e dos Recursos Humanos para análise. Os pleitos por contratação de acordo com as diretrizes normativas do planejamento e alocação de recursos humanos. A organização, o controle, e a execução dos procedimentos administrativos dos concursos públicos para o provimento de cargos públicos são de competência de cada Órgão ou Entidade, em observação às orientações normativas do Órgão Central do Sistema de Recursos Humanos. Para aprovação de concurso público, a SARH analisa e prepara informação com dados técnicos para ser encaminhado ao Grupo de Assessoramento Estadual para Política de Pessoal – GAE. A Secretaria Executiva do GAE emite parecer para apreciação do Pleito. Quando aprovado, o concurso público é encaminhado parecer ao órgão solicitante que contatará a FDRH para a realização do mesmo. O órgão terá uma comissão responsável pelo acompanhamento do processo. O maior controle dos vetos sobre os concursos públicos no modelo gaúcho é um dos indicadores de movimento em direção da profissionalização. Todavia, este movimento ainda é orientado fortemente pelas restrições fiscais. O maior poder de veto do governo para a realização de novos concursos públicos per se não necessariamente conduz a maiores níveis de qualidade e de eficiência na gestão pública. Esta depende fundamentalmente da compreensão de que as políticas de recursos humanos passem a adquirir centralidade estratégica e levada a sério pelas organizações. Um dos avanços sensíveis é a redução da influência política para a contratação de servidores. Esta atualmente somente é permitida na contratação de servidores de livre nomeação e exoneração, através de cargos em comissão e nos casos de nomeação de servidores efetivos para o exercício de funções gratificadas. Os cargos de confiança do Governo do Estado são oriundos de uma legislação de 1965, ocorreram algumas adequações de nomenclatura em 1995, mas necessita de adequação à Constituição Federal onde estabelece que os cargos de confiança sejam para exercerem funções de Direção, Chefia e Assessoramento. Este contingente representa menos de 10% do montante de servidores públicos estaduais. Os gestores consultados consideram que este nível de interferência política vem se reduzindo nos anos recentes e tem impactos muito reduzidos sobre questões de desempenho e produtividade, que estariam mais diretamente ligados a outros fatores, conforme comentaremos em seções futuras neste relatório. De forma geral, pode-se considerar que os instrumentos e mecanismos atuais de seleção dos candidatos aos cargos são concebidos por critérios técnicos, com base em estudos sistemáticos sobre as estratégias anteriores e seus resultados em termos das diretrizes gerais de planejamento das carreiras. As estratégias recentes de ocupação dos cargos gerenciais vêm sendo progressivamente guiado por critérios técnicos, elaboradas a partir de perfis desejáveis para os cargos. Outro avanço considerável no plano legal das políticas de recursos humanos se dá na existência de normas legais que garantem a promoção da equidade e da nãodiscriminação na contratação de servidores, especialmente aos portadores de deficiência física. Apesar de avanços no plano normativo, estas são consideradas ainda muito incipientes na prática. Uma das características importantes das estratégias de ocupação dos cargos é a elevada mobilidade funcional e geográfica dos cargos gerenciais. Em termos gerais, pode-se considerar que a cada mudança no governo, se alteram as posições de comando, sem uma estratégia mais planejada de alocação destes importantes recursos, em função de demandas do planejamento estratégico, associadas ao desempenho e a produtividade, ou de adequação a perfis desejáveis. Este problema não foi alvo de estudos e pesquisas que possam conhecer mais de perto os mecanismos que produzem um dado padrão de mobilidade gerencial. Não se identifica na experiência gaúcha a existência de diretrizes que orientem as estratégias para lidar com os efeitos da mobilidade. Não se conhece, de forma mais consistente, quais os padrões de mobilidade ou mesmo como estes são produzidos, como se diferenciam entre os diversos setores e áreas da administração pública. Não se produz conhecimento sobre como esta mobilidade afeta a capacidade de gestão e das políticas públicas. Em termos gerais sabe-se, a partir da experiência, que as mudanças de cargos gerenciais são sensivelmente afetadas pela política, especialmente pela troca no governo, e, basicamente que os cargos gerenciais são ocupados por pessoal do quadro ou de cargos comissionados, não havendo uma política mais consolidada sobre tal questão. Sobre a possibilidade de demissões, considera-se, em linhas gerais, que a política de demissão está associada às situações de falta administrativa, ou por avaliação insuficiente no estágio probatório, de acordo com a regulação vigente. O servidor público é demitido quando comete falta administrativa, inicialmente é realizada sindicância e após, inquérito administrativo. Somente durante o estágio probatório é que existe a possibilidade de demissão por baixo desempenho. Todavia, os gestores consultados afirmam que, na prática, as demissões são casos muito raros na administração pública gaúcha. Como regra geral, é verdadeiro o mecanismo de que é possível punir, e demitir por baixo desempenho, mas, não é fácil alterar as práticas e a cultura da não avaliação sistemática do desempenho, e da reduzida atenção a produtividade gerencial e organizacional. A avaliação do desempenho dos novos servidores é regulamentada pelo Decreto n.º 44.376, de 30 de março de 2006, que dispõe sobre normas e procedimentos para a avaliação no período do estágio probatório. Considera-se, em sintonia com outros modelos vigentes no Brasil, de que a condição do Estágio Probatório é o período de três anos de exercício do servidor nomeado para o cargo de provimento efetivo, durante o qual será verificada a conveniência ou não da sua confirmação no cargo. Esta se dá a partir da apuração de fatores associados à disciplina, eficiência, a responsabilidade, produtividade e a assiduidade dos novos servidores. Quanto à disciplina, é verificada a integração às regras, normas e procedimentos estabelecidos para o bom andamento do serviço, bem como a forma com que se relaciona no ambiente de trabalho. A eficiência: avalia o grau de conhecimento, o modo como utiliza e mantém o material e equipamentos, o modo como executa suas atividades e o grau de iniciativa para solucionar problemas. Sobre a responsabilidade, o servidor é analisado a partir do modo como o servidor cumpre suas obrigações, o interesse e a disposição na execução de suas atividades. A avaliação da produtividade avalia a qualidade na apresentação do trabalho, a capacidade em assimilar e aplicar os ensinamentos na execução de suas atividades. Por fim, a assiduidade avalia a freqüência e o cumprimento do horário de trabalho. Estes fatores são avaliados no formulário. O servidor em estágio probatório será avaliado semestralmente, no período de trinta meses, no 6º, 12º, 18º, 24º e 30º meses, ficando o período restante, em observação, para aferição final. As avaliações do servidor em estágio probatório serão de competência da chefia imediata, ou do responsável direto pelo serviço prestado pelo servidor, que deverá preencher e assinar os respectivos formulários. O planejamento das políticas de recursos humanos trabalha sem um conhecimento mais aprofundado do modo pelo qual as estratégias de recrutamento e seleção dos novos servidores contribuem efetivamente para a profissionalização e a promoção do mérito na administração pública. Inexistem estudos sistemáticos para avaliar se os novos servidores contribuem efetivamente para a profissionalização e o mérito na administração pública. Todavia, os entrevistados consideram que nos anos recentes se verifica um considerável avanço e renovação na cultura administrativa. São inexistentes também as análises sobre o alinhamento entre as estratégias de contratação e os perfis desejados de contratação tal qual pensado pelo planejamento. O governo vem, por outro lado, tentando dar maior visibilidade para as políticas e estratégias de contratação. São tornados públicos e divulgados de várias formas. A publicação dos editais é usualmente realizada por vários canais: pelo Diário Oficial do Estado, pela fixação do edital em locais destinados para esse fim, divulgação na imprensa comum, sob a forma de extrato, ou via internet, onde deverão constar as informações de maior interesse ao público alvo do respectivo concurso. O principal avanço é a informação disponibilizada pela internet com maior impacto e repercussão sobre um universo maior de potenciais candidatos aos concursos. Todavia, não se sabe se as estratégias recentes de difusão dos novos concursos têm sido efetivas para a atração de candidatos em função dos perfis de habilidades e das carreiras. Este ainda é um ponto a ser considerado pelas estratégias futuras de aprofundamento da gestão dos recursos humanos. Outro importante indicador de institucionalização do mérito e da profissionalização está diretamente associado a existência de comissões de seleção para os concursos públicos. Os gestores consultados afirmam que estas são definidas com base em critérios técnicos e profissionais. Todavia, o resultado de suas decisões é submetido ao veto de outros atores institucionais no processo decisório, os quais efetivamente tomam as decisões finais de contratação de servidores, tendo em vista os impactos fiscais. As políticas de recursos humanos também têm tentado expandir estratégias de recepção e absorção dos servidores recém contratados para a administração pública. Esta expansão é uma inovação considerável em contraposição aos modelos anteriores onde estas eram realizadas de forma setorial para algumas carreiras mais tradicionais tais como o fisco e a segurança pública. Entretanto, tal inovação na política ainda carece de avaliações consistentes sobre efetividade e contribuição para a profissionalização e promoção do mérito na administração pública. 2.4. Desempenho e Produtividade A questão do desempenho e produtividade ainda não assumiu centralidade estratégica na gestão dos recursos humanos no Rio Grande do Sul. A idéia de avaliação e valorização do servidor a partir da questão das suas competências e do seu desempenho ainda não adquiriu relevância decisiva nas políticas existentes. Pode-se considerar que está é uma área ainda por avançar caso se tente instaurar modelos gerenciais de administração pública no estado. Ainda é muito tênue a conexão entre resultados individuais, organizacionais, e, institucionais. O planejamento ainda não trabalha com diretrizes estratégicas de valorização através de elevação do desempenho a partir de metas, como se verifica em outros casos, e, em particular o de Minas Gerais. Os modelos existentes consideram que as avaliações são mecanismos existentes para fins de promoção dos servidores, não levando em consideração conexões mais sensíveis sobre alteração da cultura burocrática, dos valores, e, fundamentalmente, das políticas de geração de incentivos internos ao fortalecimento das carreiras e da qualificação dos servidores. Inexiste esta concepção mais integrada na experiência gaúcha. As estratégias e políticas da avaliação de desempenho e produtividade dos recursos humanos existentes são aplicadas em algumas áreas específicas na Administração Direta - Fazenda, Procuradoria-Geral do Estado e Defensoria Pública. Na Administração Indireta, por sua vez, ela é realizada com os órgãos que efetuaram o Contrato de Gestão em que as metas assumem importância estratégica na organização. Estas políticas são planejadas e gerenciadas em uma divisão de trabalho compartilhada entre a Casa Civil que estabelece as principais diretrizes governamentais. A SARH e SEPLAG são as instituições responsáveis pela análise técnica, e, a PGE pelas análises jurídicas. Existe, portanto, um trabalho integrado voltado para a questão da produtividade, a partir do GAE, conforme mencionado anteriormente. As metas gerenciais são definidas a partir do planejamento estratégico de cada órgão. Isto ocorre de forma fragmentada sem a necessária articulação e coordenação em termos de uma estratégia de planejamento voltada para análise dos resultados e avaliação para a administração pública estadual. Por outro lado, ainda são muito frágeis as conexões entre as avaliações de desempenho e o sistema gerencial de informações no planejamento. O sistema existente esta desenvolvendo um módulo específico para contemplar a questão dos resultados das avaliações dos servidores. No modelo existente de avaliação dos resultados são muito débeis os mecanismos que premiem organizações e servidores que cumprem mais do que suas metas. As metas são avaliadas e acompanhadas as metas de desempenho de modo fragmentado a partir de ações pontuais em órgãos que efetuam pagamento de prêmio por produtividade aos servidores. Não existem estratégias mais consolidadas para informar com maior precisão sobre servidores (e grupos de servidores) com desempenho abaixo do desejável. Também não se identifica a existência de estratégias gerenciais utilizadas para promover uma difusão dos resultados das avaliações do desempenho. Não existem avaliações externas sobre as políticas de avaliação dos servidores e das organizações, ou mesmo uma avaliação crítica interna sobre tais mecanismos. Por outro lado, a pesquisa constata que a definição dos critérios de desempenho nas organizações e os níveis de informação dos funcionários sobre o desempenho organizacional são definidos por critérios técnicos. Há uma reduzida participação dos gerentes e funcionários na definição das metas organizacionais; O modelo também exibe reduzido grau de transparência e envolvimento dos gerentes. O processo de definição das metas ainda carece de maior base técnica e de uma consolidação em termos de sua legitimidade e confiabilidade em termos dos instrumentos gerenciais de avaliação. Os servidores, em geral, sabem muito pouco sobre suas metas, e, encontram grandes dificuldades para agir em consonância com padrões mais consistentes de produtividade. As avaliações existentes apenas permitem diferenciar de modo razoável grupos de servidores em função do desempenho individual. De modo mais amplo, as políticas de avaliação do desempenho não são consideradas como mecanismo gerencial estratégico, mas, sim, como um procedimento formal, para cumprir rotinas gerenciais. Os gerentes ainda compreendem as avaliações como mecanismos punitivos, e, que, funcionam de forma burocrática. Elas não tem se institucionalizado como prática gerencial no caso estudado. Os gerentes consultados consideram que não existem comparações sistemáticas através de estudos e pesquisas sobre padrões de desempenho individual e organizacional na administração pública como um todo, ou em nível organizacional. Não se sabe, com base em parâmetros mais sólidos como as organizações evoluem (ou não) em termos de seus desempenhos, nem tampouco sobre as causas e mecanismos envolvidos na elevação ou redução do desempenho. 2.5. Políticas de Remunerações As decisões sobre as políticas de remuneração dos servidores no estado do Rio Grande do Sul são definidas pela Casa Civil, pela Secretaria da Fazenda, e Secretaria da Administração e dos Recursos Humanos a partir de um modelo centralizado e com forte orientação pelo controle das despesas de pessoal. Conforme já mencionado, o desenho da política salarial neste estado tem assumido uma preocupação de expandir as estratégias de ajuste fiscal pelo controle das despesas com pessoal, e, neste sentido, o controle dos salários assume dimensão estratégica. Conforme já analisado neste relatório, o Rio Grande do Sul vem enfrentando consideráveis dificuldades financeiras, e tenta diminuir o déficit fiscal, haja vista o desequilíbrio existente entre a receita e a despesa. O ajuste fiscal tem sido, portanto, o principal parâmetro para as decisões salariais, ficando em segundo plano as questões relativas ao desempenho e ao mérito na administração pública. O elevado comprometimento da despesa de pessoal em relação à receita emerge como a informação estratégica para a montagem das políticas salariais recentes. Os últimos aumentos para o funcionalismo têm sido generalizados e nos mesmos percentuais para todos os servidores do estado não tendo conexão com questões de desempenho, de fortalecimento das carreiras, ou ainda a criação de incentivos alinhados com a produtividade gerencial. Nos últimos anos, conforme indicam os gestores consultados, os aumentos são concedidos após negociação com as diversas categorias. De modo geral, os salários dos servidores são formulados com base no vencimento básico da categoria, acrescido das vantagens temporais (avanços, triênios, qüinqüênios e adicionais). Existem grupos de servidores que possuem maiores patamares salariais tais como as de Procuradores de Estado, Defensores Público, Delegados de Policia, Oficiais da BM, Agentes fiscais. As carreiras consideradas de Estado possuem um patamar mais elevado de salário em relação a outros quadros. Os incentivos salariais variam entre os diversos quadros de pessoal. Os salários são relacionados à questão da produtividade e do desempenho em função das carreiras. Os dados coletados junto aos gestores consultados revelam que, na Secretaria da Fazenda e na Procuradoria Geral de Estado, existe pagamento de produtividade acoplado aos salários. Nos setores voltados para a promoção da segurança tais como a Polícia Civil, a Brigada Militar, e para os Servidores Penitenciários, os servidores recebem a gratificação de incentivo a atividade policial e risco de vida. Na área de magistério existem algumas gratificações de difícil acesso, unidocência, gratificação pelo atendimento às classes especiais, gratificação de direção e convocação com alteração de carga horária. Estas seriam as principais formas de remunerar o desempenho na carreira. Apesar da considerável importância estratégica dos salários, não existe um planejamento mais estratégico dos recursos humanos em que se tente definir uma política mais geral para o estado e seus diversos grupos de pessoal. A questão da produtividade individual e organizacional ainda não se consolidou no Rio Grande do Sul como um tema de central importância para a política de recursos humanos. De forma mais geral, as políticas salariais não incorporam planos estratégicos setoriais que tentam analisar os perfis de salários necessários para a elevação da produtividade nas diversas carreiras. Apesar desta característica, as políticas salariais praticadas nos últimos anos não têm produzido níveis elevados de insatisfação dos servidores. Os gestores consideram que embora os salários praticados não sejam atrativos em comparação aos mercados, a possibilidade de uma estabilidade, ter um plano de saúde consistente e compensatório, torna o ingresso e a efetivação no serviço público uma opção atraente. Apesar desta questão da atratividade pela estabilidade, o planejamento não realiza estudos que tentem comparar de forma mais abrangente a questão dos salários gerenciais praticados no serviço público e aqueles praticados no mercado. Inexistem estudos disponíveis que tentem dar conta desta análise, e, no sentido mais amplo dar conta da importante conexão entre os salários praticados e a motivação gerencial nas diversas carreiras. Isto mostra que a gestão dos salários ainda não se constitui uma dimensão que extrapole as questões de corte fiscal, especialmente sobre o controle da evolução das despesas com servidores. São ainda pouco compreendidos como os salários se articulam com a questão da promoção do mérito e da competência técnica, ou mesmo como diferentes perfis salariais poderiam impactar positivamente sobre a produtividade. Esta questão não foi devidamente estudada na gestão das políticas de recursos humanos e aparece como um campo de considerável importância estratégica para o desenho das novas políticas. Outro ponto característico do modelo de gestão dos recursos humanos no caso do Rio Grande do Sul é a importância relativa das despesas de pessoal dos inativos em relação aos ativos. Os dispêndios com servidores inativos têm sido consideravelmente superiores nos anos recentes aqueles praticados aos servidores ativos, com sensíveis impactos sobre a saúde fiscal do estado, e, no sentido mais amplo, sobre a questão da produtividade no setor público. Os gestores consultados consideram que a concepção das políticas salariais no Rio Grande do Sul tende a ser definido e orientado por critérios técnicos, todavia estas se organizam e institucionalizam sem maior conexão com aspectos relacionados ao mérito e ao desempenho dos servidores. Embora não existam estudos consistentes que informem sobre a relação e a produtividade, os gestores consideram que os salários praticados na administração pública tendem a ser razoavelmente alinhados com a produtividade. Por outro lado, existe uma estrutura de incentivos que torna generalizada a percepção de que os salários praticados são desproporcionais à contribuição individual de cada carreira e servidores. Por outro lado, o planejamento não trabalha com informação que tente dar conta da relação entre a estrutura salarial das carreiras e a mobilidade funcional dos servidores. Sabese que no Rio Grande do Sul há uma mobilidade dos servidores em busca de maiores salários e posições gerenciais, todavia, não é conhecido até que ponto esta mobilidade estaria associada diretamente aos problemas relacionados ao desenho inapropriado de um modelo salarial. Até o presente momento, conforme os gestores consultados, o planejamento das políticas de recursos humanos não se levou tal problema a análises mais consistentes que possam informar o desenho de novas políticas. A concepção da estrutura salarial existente não é pensada em termos da sua capacidade de atrair e reter servidores capacitados. Ela é sim fortemente influenciada por práticas pré-existentes de um modelo tradicional e fragmentado de organização das carreiras, e, mais recentemente altamente restritas por contingências fiscais. A herança deste modelo tem feito com que os salários praticados passem a ser dotados de grandes distorções entre as carreiras e os diversos grupos de servidores. Não existem parâmetros de confronto com os salários praticados no mercado local, conforme já considerado anteriormente. O desalinhamento da política salarial com questões ligadas à produtividade fica claro na medida em que os salários efetivamente praticados tendem a não premiar os esforços individuais, a competência técnica e o desenvolvimento de habilidades das carreiras na administração pública. Em última instância, os salários são “definidos” pelas estruturas de carreira existentes, i.e, pelas organizações formais dos recursos humanos. Este dado revela haver um peso decisivo das formalidades sobre os resultados, e, o quanto o modelo ainda se orienta por parâmetros burocráticos de organização e funcionamento. As decisões salariais tendem a refletir a ação de estratégias corporativas sem conexão com bases técnicas acopladas ao desempenho e à produtividade. As gratificações e complementações salariais não são avaliadas em termos dos seus custos benefícios, mas, sim em termos do peso corporativo de cada grupo ou quadro de pessoal. Os pagamentos extra-salariais (premiações) associados ao desempenho e a produtividade individual dos servidores ativos existem para algumas categorias, e, são incorporados ao pagamento sem a necessária avaliação do desempenho. 2.6. Promoção e Qualificação 2.6.1. As estratégias de promoção dos servidores As políticas de promoção dos servidores utilizado nos anos recentes no Rio Grande do Sul são orientadas e definidas a partir de um conjunto de critérios básicos estabelecidos nos quadros de pessoal. Os critérios variam em função de cada Quadro de Pessoal tem um regulamento de promoções e a indicação dos fatores considerados como relevantes na Avaliação Periódica de Desempenho dos servidores. Os gestores consultados consideram que embora tais critérios importem para a promoção, não se sabe acerca da sua efetividade para auferir aspectos mais efetivos relacionados a promoção. Não existem estudos que tentem dar conta da revisão destes critérios, e, nem sobre a satisfação dos servidores (e dos gerentes) com os mecanismos de progressão nas carreiras. Este modelo reflete a considerável fragmentação burocrática que foi se consolidando no Rio Grande do Sul ao longo dos anos. Embora os critérios existam, as organizações e entidades da administração tem pouca autonomia para implantar modelos específicos que tentem praticar a promoção dos servidores com base em desempenho, mérito, e competências profissionais As políticas de promoção são periodicamente revistas de acordo com os regulamentos existentes. Todavia, o Grupo de Assessoramento Estadual para Política de Pessoal – GAE avalia a possibilidade financeira. A política de promoções está ancorada na situação financeira do Estado. Em termos mais gerais não existe uma conexão mais estratégica entre as promoções e a qualificação profissional. Isto ocorre apenas para algumas carreiras, e, de forma ainda muito burocrática, formal, e, não como estratégia mais estruturada para a organização da administração pública, como em outras experiências analisadas. Os dados consultados junto aos gestores revelam que no Rio Grande do Sul os servidores estão bastante insatisfeitos com as políticas de promoção existentes. As expectativas individuais de promoção são muito pouco atendidas nas formas existentes. As estratégias e políticas de renovação da força de trabalho nas diversas carreiras obedecem fundamentalmente aos critérios legais formais definidos pelos quadros de pessoal, e não a questões que estão voltadas para o fortalecimento das carreiras. O esforço pessoal e as capacidades técnicas estão pouco associados às promoções. Os gestores entrevistados consideram que as limitações formais existentes impactam de forma sensível sobre a dinâmica das promoções. Todavia, nos anos recentes, vem se consolidando ao longo dos anos uma lenta mudança na consolidação de estratégias de promoção relacionadas à produtividade. Apesar de ser a questão da produtividade um tema emergente, os critérios formais e hierárquicos ainda continuam sendo requisitos importantes para o preenchimento dos cargos gerenciais e de comando, revelando o teor burocrático das políticas de promoção na administração pública gaúcha. Os gestores consultados consideram que fatores como o tempo de permanência na carreira e os critérios formais são os dois mais decisivos fatores que importam para a promoção dos servidores. Os critérios não-técnicos também são percebidos como desempenhando considerável papel nestas estratégias. A influência política é considerada pelos gestores como decisiva para as promoções nos níveis de diretores e cargos executivos de primeiro escalão, sendo esta bem mais reduzida para os níveis de comando gerencial e para os servidores de carreira. Por sua vez, aspectos como o desempenho e a produtividade, o mérito e a competência técnica ainda ocupam peso relativamente menor nestas políticas. 2.6.2. As estratégias de qualificação profissional As estratégias de qualificação profissional dos servidores nos anos recentes operam de forma altamente descentralizada, onde cada Órgão estabelece a sua estratégia conforme seu orçamento anual. Alguns cursos são oferecidos pela FDRH – Fundação para o Desenvolvimento dos Recursos Humanos no Rio Grande do Sul - conforme constante no seu orçamento e planejamento anual. A institucionalização das estratégias de qualificação vem sendo efetuada com a Lei de número 8525/1988 que estabelece a criação da Escola Superior de Administração Pública do Estado do Rio Grande do Sul. Atualmente a escola existe como um programa da FDRH: Escola de Governo - Capacitação Objetiva, dentro da Divisão de Cursos e da ESAPERGS. Ela oferta os seguintes cursos incluídos em sua programação: Curso de Iniciação à Gestão Pública; Curso de Aperfeiçoamento em Gestão Pública; Curso de Especialização em Gestão; e cursos de competências básicas para o Serviço Público. No período 2003-2006 o esforço em qualificar servidores atingiu um universo de 22.728 servidores, sendo a grande parte aproximadamente 14.000 em Competência Básica para o Serviço Público. Os custos médios dos cursos ofertados são muito variáveis em função dos cursos, pois há desde cursos de curta duração (os de Competência Básica para o Serviço Público) como os de Especialização (pós-graduação), ou seja, depende da carga horária do curso e nível, variando, em termos médios entre R$15.000,00 a 95.000,00 por servidor. No que se refere à existência de estratégias voltadas para a complementação das habilidades exigidas inicialmente no ingresso dos servidores nas carreiras, os gestores afirmam que sim. Existem políticas específicas formuladas pelos respectivos órgãos e instituições segundo suas especificidades e aquelas sugeridas pela FDRH/ Escola de Governo, prevendo a introdução de conteúdos básicos a cerca do serviço público e da organização do Estado em geral. A FDRH prepara sua grade de cursos com base em encontros sistemáticos, realizados com as setoriais de recursos humanos das secretarias e vinculadas para debate e sugestão de demanda de qualificação. O foco recente de tais políticas de capacitação se articula em três temas: introdução à gestão, instrumentais e aperfeiçoamento em gestão. A lógica básica da oferta dos cursos é a seguinte: a FDRH monta um curso, cotiza as vagas e oferece aos departamentos setoriais de recursos humanos das secretarias e autarquias. Estas encaminham seus servidores. Há também os casos em que os servidores demonstram interesse em fazer um curso, a FDRH encaminha ficha de inscrição onde o servidor deverá obter aprovação da sua chefia. Inexiste, portanto, uma concepção mais geral que tente compreender o perfil de necessidades nos diversos níveis hierárquicos e tentar produzir estratégias a partir de tal compreensão. O planejamento da oferta da qualificação profissional existente opera ainda de modo pouco orientado pela produtividade e pelo desenvolvimento efetivo das capacidades institucionais. Ele é altamente orientado por demandas circunstanciais e tende a não obedece a estudos e diretrizes mais estruturadas que tornem possível identificar as demandas por qualificação nas organizações. Não existem estudos que tentem dar conta de como a oferta de qualificação, i.e, distribuem a alocação dos recursos em qualificação entre os cargos e carreiras da administração pública. O desalinhamento das políticas de qualificação com o planejamento dos recursos humanos ainda persiste. As políticas de gestão existente não trabalham com parâmetros mais consistentes para avaliar o impacto da qualificação dos gerentes no desenvolvimento institucional das organizações. Não é conhecido de modo mais preciso qual o perfil da qualificação necessária para elevar as performances nas diversas organizações. Não se realizam estudos sobre os egressos das políticas de qualificação. Não se avalia o impacto da qualificação dos gerentes sobre a cultura administrativa A oferta de qualificação profissional para os gestores públicos é baseada em critérios técnicos e por informação sistemática. Todavia, estas são fortemente condicionadas pela oferta existente de qualificação. Isto revela que as políticas pregressas moldam as escolhas por tipos e perfis de cursos existentes. Não se verifica no caso analisado uma redefinição dos conceitos básicos e das diretrizes mais estratégicas sobre o tipo de qualificação ofertado. O planejamento estratégico da qualificação em função das necessidades reais das organizações, e, fundamentalmente de seu desempenho, ainda é tido como reduzido. O que efetivamente acontece é um comportamento geral em que as organizações não conseguem incorporar estrategicamente suas necessidades de qualificação com a oferta existente. Outro indicador de efetividade reduzida das políticas é a inexistência de avaliações externas (ou internas) das políticas de qualificação. Inexistem mecanismos de qualquer ordem que tentem avaliar as estratégias existentes de qualificação. A prioridade da questão fiscal não permitiu que o planejamento dos recursos humanos levasse mais a “sério” as estratégias de qualificação, apesar do seu considerável custo anual. 2.7. Gestão das Relações de Trabalho e dos Recursos Humanos 2.7.1. As relações de trabalho Esta é uma área ainda consideravelmente inexplorada pela política de recursos humanos no caso analisado. São ainda consideradas como muito incipientes as estratégias para o gerenciamento de pessoas e da organização do trabalho no Rio Grande do Sul. A forte aderência a questão do ajuste fiscal não promoveu o desenvolvimento e a institucionalização de políticas voltadas para o gerenciamento mais estratégico dos sistemas de recursos humanos no Estado. Diversas evidências revelam o frágil modo pelo qual o trabalho é organizado na administração pública e suas características ainda preponderantemente burocráticas. A pesquisa com os gestores de recursos humanos detecta a não existência e consolidação de informações consistentes referentes a este item. Esta ausência revela uma primeira evidência considerável na direção da não-preocupação gerencial como planejamento dos recursos humanos. O planejamento ainda conhece de forma muito precária como o trabalho se organiza, e, predomina a existência de modos diferenciados de gerenciamento. As políticas são altamente setorializadas e fragmentadas com níveis muito reduzidos de coordenação e alinhamento gerencial, o que afeta consideravelmente a eficiência agregada do sistema. Vários pontos detectados na pesquisa apontam para tal evidencia. A primeira delas é a inexistência de qualquer tentativa estruturada de promover estudos voltados para compreender a cultura e o clima organizacional na administração pública. O planejamento dos recursos humanos ainda não incorporou de forma mais efetiva os estudos de avaliação das relações de trabalho nas organizações. Os gestores também apontam para a inexistência de qualquer estudo desta natureza na administração pública. O modo centralizado e burocrático de organizar e gerenciar o trabalho na administração pública também se revela na medida em que são ainda muito frágeis e pouco institucionalizados os mecanismos voltados para promover a participação dos servidores. É também considerado muito reduzido o grau de difusão das decisões gerenciais entre os níveis hierárquicos das organizações. Os gestores consultados consideram que ao longo dos anos a importância relativa da hierarquia e das competências formais dos servidores em posições gerenciais vem sendo ampliada. O planejamento também desconhece os padrões de relacionamento entre os gerentes e os subordinados. Com isto permanece a percepção de um modelo de organização do trabalho em que predomina a desconfiança generalizada entre os gerentes e os subordinados. Os gerentes tendem a avaliar muito precariamente o trabalho dos servidores e isso faz emergir uma cultura pouco cooperativa, e movido pela competição burocrática. Por seu turno, os servidores avaliam seus gerentes como pouco qualificados e não orientados por resultados. Também são consideradas pouco satisfatórias as políticas de segurança no trabalho e de proteção social ao servidor. 2.7.2. A gestão de recursos humanos Algumas evidências coletadas na pesquisa com os gestores permitem identificar o modelo de organização dos recursos humanos no Rio Grande do Sul como próximo de um modelo burocrático. O modelo institucional desenvolvido no Rio Grande do Sul é bem caracterizado como altamente centralizado em termos dos seus processos decisórios. Existe pouco espaço para a autonomia gerencial dos gestores e reduzida flexibilidade gerencial para a administração das políticas de recursos humanos. Por outro lado, são muito frágeis os mecanismos de controle sobre as decisões e atividades dos cargos gerenciais e de comando. A produtividade dos cargos gerenciais é também precariamente avaliada. As definições dos quadros de pessoal basicamente definem aspectos relativos aos salários, as carreiras, as promoções, a qualificação. Também são muito formalizados os mecanismos de controle e responsabilização dos gerentes. Os gerentes são usualmente avaliados em função do desempenho satisfatório dos encargos de chefia (gerência) que lhe foram atribuídos. Não existe também uma política clara de escolhas dos cargos gerenciais pela qualificação. O que usualmente ocorre é que os secretários e/ou dirigentes procura dentre servidores mais experientes (tempo de serviço e conhecimentos específicos ou por indicação), àqueles em condições de exercer os encargos de chefia (gerência). Não está acoplado aos cargos gerenciais estratégias conectadas à produtividade organizacional e institucional. Em decorrência de dificuldades financeiras o Estado não tem conseguido investir em treinamentos e/ou capacitação para gerentes, o que se traduz em considerável desalinhamento com as demandas crescentes por maior produtividade. Não existem estudos sistemáticos do planejamento que tentem compreender o desempenho gerencial. O desempenho gerencial é avaliado pelo retorno que as chefias têm em corresponder aos encargos que lhe foram atribuídos, de acordo com os critérios utilizados. Inexistem também estudos que possam informar sobre os níveis de satisfação dos gerentes no desempenho de suas funções. Também são inexistentes estudos que mostram a avaliação dos gerentes avaliam sobre o modelo de gestão de recursos humanos e suas políticas. Não existem estudos sistemáticos que tentem compreender mais de perto os limites e a efetividade dos sistemas existentes. Capítulo 3 - Análise do Sistema de Gestão de RH a partir dos Eixos de Investigação Neste capítulo são realizadas as análises do sistema de gestão de recursos humanos de Rio Grande do Sul a partir dos cinco parâmetros definidos pela metodologia referencial: eficiência, mérito, capacidade funcional, capacidade de integração, e, consistência estrutural. A análise se volta para apresentar os fatores e mecanismos estruturais presentes em cada um dos subsistemas funcionais que contribuem para os parâmetros básicos. Ao final da cada seção, são apresentados, de forma esquemática, os principais mecanismos que produzem a emergência de destes parâmetros para as condições do estudo de caso. De acordo com as recomendações metodológicas foram calculados os índices básicos para tais parâmetros para o Rio Grande do Sul, a partir dos dados coletados nos questionários fechados respondidos pelos gestores de recursos humanos. Os valores específicos destes índices são apresentados no Quadro 1 Quadro 1 Valores dos Parâmetros de Análise Rio Grande do Sul INDICES EFICIÊNCIA (E) MÉRITO(M) CONSISTÊNCIA ESTRUTURAL (SC) * COERÊNCIA ESTRATÉGICA (STC) * CONSISTÊNCIA DIRETIVA (DC) * CONSISTÊNCIA DOS PROCESSOS (PC) CAPACIDADE FUNCIONAL (CF) * COMPETÊNCIA (COM) * EFICIÊNCIA DA ESTRUTURA DE INCENTIVOS (IE) * FLEXIBILIDADE (FL) CAPACIDADE DE INTEGRAÇÃO (CI) Fonte: Pesquisa de Campo Gestores RH. Cálculos do Autor 5,00 4,49 2,74 3,29 1,86 3,08 2,79 3,19 2,67 2,52 2,52 3.1. Eficiência A análise da eficiência das políticas de gestão dos recursos humanos se volta para a compreensão dos fatores que produzem impacto sobre dois aspectos. Sobre o investimento em capital humano na administração pública, e, por outro lado sobre o alinhamento das políticas de recursos humanos com o mercado, a partir de critérios de equilíbrio e ajuste fiscal. A metodologia utilizada considera que a eficiência das políticas de recursos humanos está diretamente ligada a fatores dos sistemas de planejamento de recursos humanos; das políticas de ingresso, mobilidade e demissões; das políticas de remuneração; promoção e qualificação, e, por fim, das políticas de gestão das relações de trabalho. Os níveis de eficiência agregada do sistema de gestão de recursos humanos estão diretamente relacionados à questão da capacidade reduzida do planejamento em dimensionamento da força gerencial de trabalho nas diversas organizações. O planejamento não é dotado de parâmetros que orientem sobre alocação eficiente dos gerentes, nem tampouco para compreender como a mobilidade destes afeta a produtividade e o desempenho organizacional e institucional. Na experiência gaúcha, o que os gestores consideram como dado de realidade é que existe uma forte busca dos servidores por maiores salários e posições gerenciais que se contrapõe as tentativas de planejamento estratégico da força de trabalho. Não se avalia de forma sistemática e consistente as causas e conseqüências que produzem a realocação e a rotatividade gerencial dos servidores nas diversas organizações. Na experiência gaúcha, dado a prevalência do ajuste fiscal, o planejamento de recursos humanos não adquiriu ao longo dos anos, em contraste a outras experiências, uma autonomia em termos de desenho de política. O planejamento representa basicamente um esforço de controle da fragmentação setorial das políticas de carreiras, salários, promoções, que havia no passado. O modelo recente centralizou consideravelmente as decisões sobre concursos, promoções, salários, numa tentativa de reduzir os gastos visando eficiência fiscal na administração pública. Todavia, embora exista a produção de informações consistentes sobre salários, inexistem, por outro lado, estudos e análises sistemáticas que compare os custos e despesas do funcionalismo com o setor privado. O caso expressa melhor uma lógica de controle do que de busca pela eficiência a partir de parâmetros de mercado. A eficiência gerencial é em parte afetada pelo fato de que sabe-se que as despesas de pessoal na administração pública é superior aos similares praticados pelo mercado privado. Por outro lado, as gratificações e as complementações salariais são pouco associadas com a eficiência, especialmente as relações de custo benefício. Os dados analisados mostram que houve no período recente uma tentativa do governo de promover uma compatibilidade de vencimentos entre ativos e inativos, expressando conexão frágil com a questão da produtividade. A pesquisa também detecta que a relação entre as necessidades e o dimensionamento da oferta de qualificação e os ganhos de eficiência associados ainda são desconhecidos pelo planejamento. Há uma conexão muito frágil entre as necessidades de qualificação e os parâmetros de planejamento. Os sistemas gerenciais não identificam as demandas reais por qualificação. Em conseqüência, se configura um quadro onde a oferta real de qualificação é descompassada das necessidades, especialmente nos níveis gerenciais. As iniciativas de qualificação ainda não possuem mecanismos de avaliação em termos de custo-benefício e custo efetividade. Tampouco são realizadas avaliações sistemáticas de tais políticas. Por fim, a eficiência é comprometida pela precariedade das políticas de proteção social existentes no Estado. Quadro 2 Sistemas Funcionais e Eficiência das Políticas de RH Planejamento • • • • Remunerações • • • • Mobilidade Demissões e • • Qualificação • Relações do Trabalho • • Alocação dos Cargos Gerenciais pouco articulada com critérios de planejamento estratégico Reduzidos desequilíbrios entre ofertas e demandas na alocação dos gerentes e gestores Planejamento não estabelece critérios consistentes para compreender os padrões de mobilidade gerencial em função das demandas nos diversos setores da administração Produção de informações consistentes sobre salários na administração pública; inexistência de estudos sistemáticos de comparação com o mercado Ausência de parâmetros comparativos com os salários praticados no mercado para cargos gerenciais Peso relativo das despesas de pessoal é superior aos praticados pelo mercado Gratificações e complementações salariais são precariamente articuladas com parâmetros de custo-benefício Os inativos percebem valores compatíveis com ativos Cultura de não-avaliação do desempenho torna reduzida possibilidades reais de punição dos servidores por desempenho insuficiente Mobilidade gerencial moderada Reduzido papel do planejamento estratégico na definição das estratégias de qualificação para os servidores Inexistência de avaliações das políticas de qualificação As políticas de proteção ao servidor são precárias Fonte: Questionários Fechados com Gestores RH. Elaboração do Autor 3.2. Mérito A análise do mérito está associada à avaliação dos fatores relacionados à incorporação de critérios de profissionalização nos sistemas de gestão de recursos humanos. A metodologia referencial indica que o mérito está diretamente às políticas de ingresso, mobilidade e demissões, as estratégias de remuneração, bem como às estratégias de promoção e qualificação de servidores. As estratégias de seleção e recrutamento dos servidores existentes impactam sobre o mérito de diversas formas. O primeiro indicador que representa um avanço positivo na experiência analisada está relacionado ao fato de que as políticas de seleção e recrutamento existentes se pautam por critérios técnicos e por perfis de competências necessárias. Todavia, embora estas diretrizes estejam presentes, na realidade há, de fato, uma conexão precária entre as políticas de seleção e recrutamento dos servidores com o mérito. Parte deste problema deriva do fato de que as demandas circunstanciais e emergenciais das diversas organizações é quem, na realidade, tem peso no processo decisório sobre o recrutamento. A interferência política no recrutamento dos quadros gerenciais continua a ser também considerável no Rio Grande do Sul. Outro aspecto que contribui para tal desconexão com o mérito deriva do fato de que há, assim como em outros casos, um peso dos critérios formais e legais na definição dos critérios para recrutar servidores. Por outro lado, se verifica a existência de comissões de seleção para a realização de concursos públicos, com autonomia relativa, dado que suas decisões são submetidas ao veto de outros atores institucionais, conforme analisado em seções anteriores. Por sua vez, são ainda incipientes os esforços de institucionalização das políticas de promoção da equidade e da não-discriminação nos processos de contratação dos servidores públicos. A análise também revela ser frágil a conexão entre remuneração e mérito. As estratégias de remuneração existentes contribuem pouco para a promoção do mérito. Elas são percebidas pelos gestores consultados como desalinhadas de bases técnicas e de critérios de desempenho e produtividade, especialmente nos níveis gerenciais. O mérito no nível gerencial é consideravelmente afetado dado que ainda persiste uma tradição de ser a influência política o fator decisivo para o preenchimento destes cargos. Fatores como a produtividade, as habilidades específicas, a qualificação e o desempenho na carreira não é considerada decisiva para a promoção. Em conseqüência, os gestores consideram que as estratégias recentes de promoção dos servidores têm produzido reduzido nível de satisfação entre os servidores, com impactos sensíveis sobre o desempenho e a eficiência agregada. Quadro 3 Sistemas Funcionais e Mérito das Políticas de RH Ingresso • • • • • Remunerações • Promoção • • Políticas de seleção e recrutamento baseada em critérios técnicos e voltadas para promover o mérito, a competência técnica, equidade e não-discriminação; Peso considerável da interferência política no recrutamento dos cargos gerenciais Políticas incipientes de promoção da equidade e nãodiscriminação no serviço público Critérios técnicos e definição dos perfis necessários para cada carreira são critérios decisivos para a montagem de estratégias recrutamento Existência de comissões formais de seleção definidas por critérios técnicos e profissionais, submetidas ao veto de outros atores no processo decisório sobre contratações. Estratégias de remuneração desalinhada de bases técnicas e de critérios ligados ao desempenho e produtividade As promoções dos diretores e executivos bem como dos gerentes e gestores sofrem elevada interferência política Servidores são pouco satisfeitos com políticas de promoção Fonte: Questionários Fechados com Gestores RH. Elaboração do Autor 3.3. Consistência Estrutural A análise da consistência estrutural das políticas de gestão dos recursos humanos está relacionada a três fatores: a coerência estratégica, a consistência diretiva, e, a consistência dos procedimentos. A coerência estratégica tenta averiguar o grau de conexão e articulação da gestão de recursos humanos com as políticas e prioridades estratégicas das políticas governamentais. Por sua vez, a consistência diretiva está diretamente relacionada aos fatores relacionadas as relações entre a formulação das políticas e diretrizes e a implementação destas. A consistência dos procedimentos diz respeito ao grau de desenvolvimento e articulação dos processos básicos que garantem a sustentabilidade da integração dos sistemas de gestão de recursos humanos. 3.3.1. Coerência Estratégica A coerência estratégica tenta avaliar o alinhamento entre as políticas de gestão de recursos humanos e as políticas governamentais. Os fatores que importam para tal coerência estão ligados ao planejamento de recursos humanos, ao desempenho e produtividade, a remuneração, e, aspectos ligados à qualificação dos servidores. A coerência estratégica das políticas de recursos humanos é afetada diretamente pela tradição de reduzida institucionalização e confiabilidade dos sistemas gerenciais de informação. Não existe uma cultura de utilização de informações gerenciais que ultrapassem os níveis de informação sobre despesas e sobre folha de pagamento aos servidores. O modelo ainda trabalha com pouca coerência em termos da produção de informações consistentes sobre contratações atuais e futuras, ou mesmo qualificação dos gerentes. Não se tem idéia de quais as necessidades de contratação dos servidores nas diversas carreiras, a não ser pelas estruturas formais, definidas legalmente. A centralização decisória do GAE criado recentemente por outro lado aumenta os níveis de coordenação das políticas de recursos humanos num ambiente altamente fragmentado e setorializado em termos da gestão de pessoal. Sabe-se que um dos principais pontos críticos que afeta a gestão dos recursos humanos é elevada flexibilidade e autonomia das diversas organizações no processo decisório sobre contratações de servidores, sem maior conexão com as políticas e diretrizes do planejamento. A tradição da gestão recursos humanos no Estado é a de reduzida participação dos gerentes na formação e implementação de políticas, especialmente no que se refere às contratações de servidores. Embora existam planos estratégicos, os gerentes não participam dos processos estratégicos que estão mais diretamente ligadas a definição dos perfis de servidores, em termos de necessidades contingenciais e estratégicas. A coerência é também afetada pelo reduzido impacto do planejamento à algumas áreas e setores da burocracia. No que se refere à conexão entre aspectos ligados à produtividade e a coerência estratégica, o caso analisado revela que, embora existam no planejamento as estratégias de definição dos critérios para a avaliação do desempenho das organizações, o que representa um avanço, a questão da avaliação ainda é muito tênue. As estratégias de avaliação do desempenho não adquiriram centralidade na política de recursos humanos no Rio Grande do Sul. Por outro lado, a coerência estratégia é sensivelmente afetada pela centralização decisória, na medida em que não se verifica a existência de estratégias efetivas de inclusão progressiva dos gestores de recursos humanos na definição das metas individuais, organizacionais e institucionais. O mapeamento das demandas reais e dos perfis necessários passa por uma mais profunda revisão deste processo de inclusão destes importantes formuladores de políticas. Estes descompassos estão diretamente associados a dois fatores: salários e qualificação. Os salários são desalinhados do mérito e do desempenho dos servidores, e, por sua vez, a oferta real de qualificação não se atrela as demandas reais das organizações. Os sistemas gerenciais de informação ainda não produzem informações consistentes sobre tais perfis, e, o planejamento não analisa o efeito destes descompassos sobre a produtividade organizacional e institucional na administração pública. Quadro 4 Sistemas Funcionais e Coerência Estratégica das Políticas de RH Planejamento de RH • • • • Desempenho e Produtividade • • Remunerações • Qualificação • Reduzida Institucionalização e pouca confiabilidade dos Sistemas Gerenciais de Informação; Contratações alinhadas com plano estratégico de demandas definidos por critérios técnicos e necessidades organizacionais definidas pelo planejamento; Centralização decisória e reduzido grau de participação dos gerentes nas decisões dos perfis de contratações de servidores; Informações e decisões de planejamento tem impacto restrito à algumas áreas e setores Definição técnica dos critérios de avaliação do desempenho organizacional Reduzido grau de transparência e envolvimento dos servidores na definição das metas Políticas salariais orientadas por critérios técnicos com reduzido alinhamento a parâmetros relativos ao mérito e ao desempenho Conexão precária entre oferta e demandas por qualificação dos servidores Fonte: Questionários Fechados com Gestores RH. Elaboração do Autor 3.3.2. Consistência Diretiva A consistência diretiva esta diretamente ligada à análise dos fatores que tornam possível a conexão entre a formulação e implementação das políticas de recursos humanos. Ela é afetada por fatores oriundos do planejamento, pelas políticas de carreiras, pelo desempenho e produtividade, e, pela função recursos humanos. Para o caso do Rio Grande do Sul, também é muito reduzido o nível de consistência diretiva das políticas de recursos humanos. A consistência diretiva do sistema é afetada pela centralização decisória do modelo de planejamento, onde os gerentes e gestores não participam de forma efetiva do processo decisório sobre as políticas de recursos humanos. Os gestores entrevistados consideram que as organizações têm autonomia para contratar servidores (respeitados os limites fiscais exigidos pela lei). A participação dos gerentes de recursos humanos ocorre de modo intenso no processo de definição dos perfis por contratação dos servidores, todavia é pouco alinhado com as demandas estratégicas, mas, sim com fatores emergenciais e sem maior consistência estrutural. A participação dos gerentes no processo de formação das demandas por contratação de servidores ocorre sem uma base técnica e uma visão mais estratégica dos recursos humanos. Há um legado de orientar as políticas de contratação por demandas circunstanciais sem conexão com o planejamento e aspectos de mérito. A institucionalização das estratégias de acompanhamento sistemático e avaliação do desempenho não é um fator que contribui positivamente para a elevação da consistência diretiva do sistema. No Rio Grande do Sul as políticas de avaliação dos servidores e das organizações ainda não assumiram peso estratégico. Estas políticas são consideradas como mecanismos burocráticos, formais, sem grande importância para a consolidação e institucionalização do planejamento de recursos humanos. Apenas nos anos recentes, é que se verifica um tênue movimento em direção a uma nova cultura de avaliação. Os gerentes ainda consideram a avaliação como cumprimento de rotinas para cumprir exigências administrativas internas. Decisivo para a reduzida consistência diretiva do sistema é a reduzida autonomia e liberdade que os gerentes possuem para supervisionar seus subordinados. Por outro lado, os gerentes não são avaliados e usualmente não tem o perfil e a qualificação considerada necessária para conduzir suas funções gerenciais. Há uma consideração de que os sistemas centralizados e integrados de gestão de recursos humanos são considerados de razoável importância para promover a efetividade dos sistemas e das políticas existentes. Quadro 5 Sistemas Funcionais e Consistência Diretiva das Políticas de RH Planejamento de RH • Desempenho e Produtividade • • • Carreiras • Função Recursos Humanos • • • • Planejamento e políticas de recursos humanos realizadas por um grupo de especialistas de forma centralizada, informados pelo sistema gerencial e com consultas aos níveis hierárquicos inferiores sobre demandas setoriais e organizacionais Reduzida Institucionalização de estratégias de acompanhamento sistemático e avaliação gerencial do desempenho. Políticas de avaliação do desempenho compreendidas como rotinas formais para cumprir procedimentos burocráticos Papel formal e burocrático dos gerentes de recursos humanos na avaliação dos servidores Os gerentes de recursos humanos participam da definição dos perfis de contratação dos servidores sem o devido aprofundamento técnico sobre as necessidades estratégicas das organizações Reduzida autonomia e liberdade dos gerentes e gestores para a supervisão dos servidores Qualificação precária dos gerentes de recursos humanos para desempenhar suas funções Mecanismos de controle e avaliação gerencial são considerados ainda incipientes e informalizados Gerentes de recursos humanos consideram como muito reduzida importância estratégica dos sistemas centrais de planejamento e sua conexão com efetividade Fonte: Questionários Fechados com Gestores RH. Elaboração do Autor 3.3.3.Consistência dos Procedimentos A consistência dos procedimentos está diretamente relacionada ao grau de desenvolvimento e integração dos processos básicos que garantem a sustentabilidade dos sistemas integrados de gestão de recursos humanos. Ela é diretamente afetada por fatores oriundos das políticas de planejamento, de carreiras, de desempenho e produtividade, remunerações, políticas de promoção e qualificação, e, de aspectos relacionados à gestão das relações de trabalho. A reduzida institucionalização dos sistemas integrados de gestão dos recursos humanos é um dos fatores que contribuem negativamente para uma maior integração estratégica das políticas. No caso gaúcho, dado a primazia do ajuste fiscal, a focalização dos sistemas gerenciais é basicamente orientada pela folha de pagamento. Esta tendência fiscalista tem conduzido a gestão de recursos humanos a operar dentro de um contexto de déficit informacional sobre dimensões mais ligadas ao gerenciamento dos recursos humanos. Dois fatores interligados decorrente deste déficit contribuem para a redução da consistência dos processos: de um lado, o desconhecimento sobre as necessidades atuais e futuras sobre as demandas por contratações nos diferentes setores da administração e nas carreiras; e, de outro, o continuado problema de desequilíbrio na alocação dos cargos gerenciais. As políticas de alocação de servidores em cargos gerenciais ainda carecem de base técnica adequada de modo a permitir ganhos líquidos de eficiência. Esta desconexão tem impacto direto sobre as políticas de carreiras. Há um alinhamento insuficiente entre o planejamento e a definição das carreiras nas diversas organizações. As demandas emergenciais das organizações tendem na realidade a “definir” as políticas de estruturação das carreiras. Outro fator que contribui para a reduzida consistência dos procedimentos é a inexistência de estratégias de avaliação para identificar grupos de servidores em função do seu desempenho e da produtividade. Os mecanismos de avaliação são ainda muito precários e compreendidos numa perspectiva formalista. Verifica-se em conseqüência que existe uma considerável ambigüidade dos servidores no que se refere à conexão entre responsabilidades individuais e desempenho organizacional e institucional. Na realidade, os servidores não são avaliados de fato, e, há um peso muito significativo da herança formal e de critérios não-técnicos na concepção das estratégias reais de ocupação dos cargos. A sustentabilidade dos sistemas de gestão também é afetada por desalinhamento entre os parâmetros salariais praticados pelo mercado. Um mecanismo que tende a gerar inconsistências nas políticas remuneratórias está ligado ao fato de que as decisões sobre salários estão muito ligadas às estruturas de carreiras existentes e não a aspectos como mérito ou produtividade. A consistência procedimental das políticas de gestão é afetada também pelo fato de que há um as políticas renovação da força de trabalho, especialmente, no que se refere aos concursos públicos e as formas de promoção, ainda carecem de base técnica, e são fragilmente alinhadas com demandas estratégicas por servidores. Elas são afetadas por critérios formais. As estruturas são muito lentamente modificadas e não existem avaliações sistemáticas sobre tais modelos e mesmo sobre sua efetividade. Esta consistência é também afetada por aspectos relacionados à qualificação dos servidores. As decisões relativas às estratégias de qualificação dos servidores são usualmente tomadas sem conexão mais profunda com as reais demandas das organizações, mas, sim orientadas por critérios legais-formais. O padrão de formação das demandas por qualificação não emerge a partir nas necessidades reais ou de critérios de produtividade, mas, sim elas são influenciadas pela oferta existente. Há uma tendência a “ofertar o que havia sido ofertado”, não tentando se adequar de forma racional as necessidades reais e por parâmetros de produtividade. Por outro lado, esta consistência é afetada consideravelmente pelo fato de que não existem avaliações das políticas existentes de qualificação em qualquer nível funcional, o que tende a contribuir para a manutenção temporal das inconsistências de tais políticas. A conexão entre a consistência dos processos e a gestão das relações do trabalho é afetada por dois importantes mecanismos: primeiro, pelo reduzido grau de difusão das decisões e informações gerenciais. Há um considerável problema de gestão de informação entre os níveis de tomada de decisão e implementação, o que contribui consideravelmente para que o peso das hierarquias, da formalidade e dos procedimentos burocráticos se superponha a ação estratégica e gerencial, orientada pelo mérito e pela produtividade. Quadro 6 Sistemas Funcionais e Consistência dos Procedimentos das Políticas de RH Planejamento RH • • • • Carreiras • • • • • Desempenho e Produtividade • Remunerações • • Promoção e Qualificação • • • • Relações do Trabalho • • Reduzida Institucionalização e pouca confiabilidade dos Sistemas Gerenciais de Informação Reduzida confiabilidade nas informações sobre demandas atuais e futuras sobre contratações de recursos humanos Estratégias de alocação dos gerentes/gestores carecem de base técnica adequada Indefinição de critérios para a política e planejamento da alocação dos cargos gerenciais Alinhamento insuficiente entre a política de carreiras e o planejamento Forte peso das demandas circunstanciais das organizações na definição da política de organização das carreiras Responsabilidades formais da carreira são claras para os servidores Ambigüidade na conexão entre responsabilidades individuais e desempenho organizacional e institucional Peso da herança formal e de critérios não-técnicos para as estratégias reais de ocupação dos cargos As estratégias de avaliação permitem identificar de forma razoável grupos de servidores em função de seu desempenho Ausência de parâmetros consistentes para comparabilidade entre salários praticados no setor público e no setor privado Decisões salariais tomadas a partir da estrutura de carreiras existente As políticas e estratégias de renovação da força de trabalho são baseadas em critérios legais-formais; Oferta de qualificação é pautada por critérios técnicos e informação sistemática Decisões relativas às estratégias de qualificação são definidas a partir da oferta existente Inexistem mecanismos de avaliação das políticas de qualificação dos servidores públicos Reduzido grau de difusão das decisões e informações gerenciais Ampliação progressiva do papel das hierarquias e das competências formais como critérios para ocupação das posições gerenciais. Fonte: Questionários Fechados com Gestores RH. Elaboração do Autor 3.4. Capacidade Funcional A análise da capacidade funcional das políticas de gestão dos recursos humanos está relacionada a três fatores inter-relacionados: a competência, a estrutura de incentivos, e, a flexibilidade. De acordo com a metodologia, a análise da competência está associada à dimensões do sistema de gestão que mais diretamente afetam a composição dos perfis, a oferta e o desenvolvimento das habilidades, bem como a tendência de que tais políticas possam produzir as capacidades e habilidades que o sistema de gestão precisa para o seu funcionamento efetivo. Por outro lado, a efetividade da estrutura de incentivos se volta compreender os mecanismos que produzem os incentivos diretamente ligados a elevação da produtividade, aprendizagem organizacional, e, à qualidade dos serviços prestados, bem como sobre a conexão e articulação da gestão de recursos humanos com prioridades estratégicas das políticas governamentais. Por fim, a flexibilidade busca dar conta da incorporação de princípios e critérios que facilitam a adaptação dos sistemas de gestão de recursos humanos às mudanças e incertezas ambientais. 3.5.1. Competência A competência é diretamente afetada por fatores relativos ao planejamento, as políticas de carreiras, as políticas de ingresso, mobilidade e demissões, as políticas de remuneração, e, as estratégias de promoção e qualificação. Os níveis de competência das políticas dos recursos humanos no caso analisado são afetadas pela desconexão entre as estratégias de alocação dos cargos gerenciais com o planejamento estratégico. Embora existam diretrizes e políticas bem definidas em termos dos perfis gerenciais desejáveis em termos de habilidades e capacidades, o que representa um mecanismo positivo, na prática, os gestores consultados consideram que outros critérios desempenham papel mais relevante para o efetivo preenchimento destes cargos. Na realidade, as organizações possuem grande autonomia para definir os seus “perfis ideais” com base em suas demandas circunstanciais, se contrapondo à capacidade de planejamento estratégico. A conexão da competência com a política de gestão das carreiras é afetada pela forte herança da cultura tradicional, em que prevalecem critérios formais e não-técnicos de tomada de decisão sobre ocupação dos cargos. Este mecanismo é refletido na inexistência de estratégias claras que levem em conta a conexão entre o desempenho e os perfis gerenciais exigidos. O outro grupo de fatores que afeta a competência do sistema de gestão de recursos humanos está ligado a mecanismos estruturais que mais de perto dizem respeito às estratégias de recrutamento e seleção de servidores. O primeiro fator que contribui positivamente para elevação da competência é identificado na pesquisa como relacionados à existência e importância estratégica de critérios técnicos e da definição dos perfis necessários, que são considerados fundamentais para as políticas recentes de contratações de servidores. As políticas recentes têm demonstrado uma elevação da compatibilidade em termos dos perfis e das contratações efetivamente realizadas. A competência se eleva na medida em que se institucionalizam os mecanismos de seleção concebidos a partir de critérios técnicos, com base em estudos sistemáticos sobre estratégias anteriores e sua efetividade. Este é um ponto decisivo na política de gestão existente. Embora conforme analisam os gestores consultados, a conexão entre o recrutamento e o real alinhamento com os perfis desejáveis ainda é muito tênue. Muito deste problema reside no fato de que as demandas circunstanciais “governam” o processo seletivo e o controle do governo é fundamentalmente sobre despesas e questões fiscais. Não existem preocupações mais sofisticadas sobre o modo de como atrair candidatos com perfis mais próximos dos desejáveis para as diversas carreiras. A competência gerencial também tem se elevado na medida em que se observa a consolidação de esforço progressivo do governo em ampliar as estratégias de difusão e publicização dos concursos públicos. Entretanto, os gestores entrevistados consideram que estes mecanismos não são suficientes para ampliar as possibilidades de identificação dos servidores considerados desejáveis para os diversos cargos na administração pública. Associado a tal difusão, se evidencia no caso gaúcho uma consolidação de estruturas de avaliação dos exames públicos com a existência de comissões de seleção, que são consideradas essenciais para a promoção da efetividade. Todavia, conforme já mencionado, estas tomam decisões de contratação que podem ser revertidas por grupos de veto nas instancias superiores do planejamento e gestão de recursos humanos no estado, que, em última instância possui o poder formal de deliberação sobre tais matérias. Por seu turno, dois aspectos ligados às políticas de remuneração contribuem para a redução da competência da política de gestão de recursos humanos. Primeiro, se sabe que a concepção da política salarial é fortemente influenciada por políticas pregressas e por contingências formais e fiscais. Por outro lado, e, mais importante, verifica-se o fato de que as demandas urgentes pelo ajuste fiscal tornam o gerenciamento dos recursos humanos uma função meio, e, não uma política de vital importância para a elevação do desempenho e da qualidade no serviço público. O gerenciamento de recursos humanos está ainda muito restrito à questão da folha de pagamento, e, não a construção de estratégias mais modernizantes de criação de valor público, profissionalização, e produtividade dos servidores, das organizações, e das instituições. O planejamento de recursos humanos ainda não dispõe de instrumentos e políticas mais “aderentes” as reais questões de afetam o desempenho da gestão. As políticas de qualificação afetam os níveis de competência a partir de dois mecanismos considerados essenciais. Primeiro, é o de que as políticas e estratégias voltadas para a complementação da qualificação exigida no ingresso no serviço são razoavelmente alinhadas com as necessidades estratégicas das organizações e das carreiras. E, em segundo lugar, a exemplo de outras experiências analisadas, o planejamento não produz informação consistente sobre a relação entre qualificação gerencial e produtividade organizacional. Esta relação fundamental ainda é completamente desconhecida pelo planejamento de recursos humanos e não existem análises que tentem compreender mais de perto tal importante parâmetro. Por exemplo, não se realizam avaliações de egressos para mensuração do impacto da qualificação sobre o desempenho individual e organizacional. Esta “caixa preta” faz com que os cursos sejam ofertados sem articulações mais profundas com as reais necessidades da administração, comprometendo os ganhos potenciais dos custos da qualificação profissional. Quadro 7 Sistemas Funcionais e Competência das Políticas de RH Planejamento • Carreiras • • • Ingresso, Mobilidade e Demissões • • • • • • • Remunerações • Promoção e Qualificação • • • Estratégias de ocupação dos cargos gerenciais desalinhada com diretrizes do planejamento Peso da cultura tradicional e orientada por critérios não técnicos para a ocupação dos cargos gerenciais; Organizações definem os seus “perfis ideais” com base em demandas circunstanciais sem alinhamento com o planejamento dos recursos humanos; Inexistem estratégias claras que levem em conta a conexão entre entre o desempenho gerencial e os perfis exigidos Estratégias de recrutamento definidos tecnicamente de forma a permitir a promoção do mérito, da competência técnica, equidade e não discriminação Critérios técnicos e definição dos perfis necessários são considerados decisivos para as contratações de servidores Elevada institucionalização das estratégias de difusão e publicização dos concursos públicos, que tem sido decisivas para elevação da capacidade de identificação dos servidores desejáveis para os cargos Compatibilidade elevada entre os perfis e as contratações realizadas Mecanismos de seleção concebidos a partir de critérios técnicos, com base em estudos sistemáticos sobre estratégias anteriores e sua efetividade Existência de comissões de seleção nos concursos públicos definidas por critérios técnicos e profissionais, submetidas ao veto de outros atores no processo decisório sobre contratações Existência de mecanismos formais de avaliação do desempenho; todavia, com reduzida possibilidade real de punição em caso de desempenho satisfatório Concepção da política salarial é fortemente influenciada por políticas pregressas e por contingências formais e fiscais; Ajuste fiscal se superpõe ao gerenciamento dos recursos humanos As políticas e estratégias voltadas para a complementação da qualificação exigida no ingresso no serviço são razoavelmente alinhadas com as necessidades estratégicas das organizações e das carreiras Pouco se sabe sobre a relação entre a qualificação gerencial sobre o desempenho e produtividade organizacional. Fonte: Questionários Fechados com Gestores RH. Elaboração do Autor 3.5.2. Eficiência da Estrutura de Incentivos. A análise da efetividade da estrutura de incentivos se volta compreender os fatores existentes que produzem os incentivos diretamente ligados a elevação da produtividade, da aprendizagem organizacional, e, aspectos ligados à qualidade dos serviços prestados. de conexão e articulação da gestão de recursos humanos com as políticas e prioridades estratégicas das políticas governamentais. Ela é afetada diretamente por fatores relativos às políticas de carreiras, políticas de ingresso, mobilidade e demissões; ao desempenho e produtividade, remuneração, e, as estratégias de promoção e qualificação. A análise da relação entre as estruturas de carreiras e os incentivos revela que os servidores são fortemente motivados por fatores salariais e pela competição por cargos. A lógica de organização das carreiras tende a produzir uma cultura voltada à aquisição de maiores salários e de busca por cargos gerenciais sem conexão com o mérito e a produtividade, e, mesmo com o fortalecimento das organizações. Por outro lado, a estrutura de incentivos existente, assim como em outros estados, não produz chances efetivas de demissão dos servidores por desempenho abaixo dos níveis desejáveis. Embora existam formalmente critérios para demissão por desempenho, há uma cultura real de não-avaliação do desempenho dos servidores. Elas basicamente não são implementadas. Os fatores ligados à produtividade ocupam posição central na análise da eficiência da estrutura de incentivos e seis fatores interligados. Os gestores consultados consideram que embora existam critérios desempenho organizacional e individual são tecnicamente definidos pelo planejamento, a tênue importância das políticas de avaliação de desempenho comprometem a eficiência da estrutura de incentivos. Somado a este fator, a centralização decisória faz com que as políticas apresentem reduzido grau de transparência e participação dos servidores na definição das metas organizacionais. Num nível mais agregado, as políticas de definição das metas não são sistematicamente revistas pelas organizações e pelo planejamento, e, nem avaliadas em termos de sua efetividade. Os servidores individualmente sabem muito pouco sobre suas metas e como contribuir para desempenho organizacional e institucional. No caso analisado, dado a reduzida importância das políticas de avaliação na gestão dos recursos humanos, não houve uma atenção do governo para consolidar estratégias de acompanhamento sistemático do desempenho e organizacional que possam apreender de forma mais sistemática os problemas reais de desempenho. Não se sabe como os incentivos extra-salariais afetam o comportamento dos servidores, por exemplo. Por outro lado, a reação gerencial à avaliação sistemática individual dos servidores se pode ver na medida em que predomina uma cultura em que a avaliação é compreendida como rotinas formais para cumprir procedimentos burocráticos e de promoções nas carreiras, e não como insumo decisivo ao planejamento. Não existem também esforços do planejamento em avaliar comparativamente a efetividade de cumprimento das metas atingidas e desejáveis, em qualquer nível. A avaliação ainda não contribui positivamente para a eficiência da estrutura de incentivos. A conexão entre as políticas de remuneração e a eficiência da estrutura de incentivos se pode ver a partir de quatro fatores. Primeiro, a partir do razoável alinhamento entre os salários e a produtividade. A cultura burocrática existente gera uma crença generalizada de que os salários são de fato o principal fator motivacional para o desempenho. Isto produz um efeito agregado de alta competitividade por maiores salários, e de elevadas distorções salariais entre as carreiras. Estes efeitos minam a eficiência na medida em que a elevação salarial não está relacionada necessariamente premiam os esforços individuais, as competências técnicas e o desenvolvimento de habilidades nas organizações. A geração de pagamentos extra-salariais (premiações e gratificações) para promover elevação da produtividade e das competências gerenciais são reduzidos à algumas categorias, e, sem a necessária avaliação do desempenho, e, não consolida uma estratégia mais planejada para o setor público. A cultura da competição por maiores salários deriva de uma herança que combina o formalismo burocrático com a setorialização decisória em termos dos salários, que foi a lógica vigente até o maior comprometimento da política de pessoal com os imperativos do ajuste fiscal. É exatamente quando o governo passa nos anos recentes a centralizar de forma mais aguda as decisões sobre salários do funcionalismo público, que se tem uma maior coordenação de tal política, e maiores conexões com salários e eficiência fiscal. Todavia, em nível mais profundo ainda prevalece uma herança em que os salários são o fator central para a motivação gerencial. Por fim, dois fatores ligados às estratégias de promoção dos servidores contribuem para compreender o papel da estrutura de incentivos sobre a eficiência. Primeiro é que fatores tais como o tempo de permanência na carreira e critérios formais ainda desempenham considerável papel nas políticas de promoção dos servidores. Por outro lado, a pesquisa revela que Desempenho e produtividade, bem como mérito e competência desempenham razoável papel na implementação das políticas de promoção dos servidores. Quadro 8 Sistemas Funcionais e Eficiência da Estrutura de Incentivos das Políticas de RH Carreiras • Ingresso, Mobilidade e Demissões • • Desempenho e Produtividade • • • • • • • • Remunerações • • • • Promoção e Qualificação • • A motivação dos servidores é orientada por salários e posições nos cargos gerenciais. Reduzidas taxas de absenteísmo em comparação com índices nacionais e internacionais Chances muito reduzidas de ocorrer demissão por desempenho insuficiente Critérios de desempenho organizacional e individual são tecnicamente definidos pelo planejamento Reduzido grau de transparência e participação dos servidores na definição das metas organizacionais Estratégias de definição das metas de desempenho não são sistematicamente revistas e avaliadas Servidores individualmente sabem muito pouco sobre suas metas e como contribuir para desempenho organizacional e institucional Reduzida institucionalização das estratégias de acompanhamento sistemático do desempenho e organizacional Avaliação sistemática individual dos servidores compreendida como rotinas formais para cumprir procedimentos burocráticos Reduzido nível de análise comparativa entre metas atingidas e desejáveis As estratégias de avaliação permitem identificar de forma razoável grupos de servidores em função do seu desempenho Servidores avaliam que os salários são razoavelmente alinhados com produtividade Elevadas distorções salariais entre as carreiras Os salários praticados não premiam os esforços individuais, as competências técnicas e o desenvolvimento de habilidades. Pagamentos extra-salariais (premiações e gratificações) para promover elevação da produtividade e das competências gerenciais são reduzidos à algumas categorias, e, sem a necessária avaliação do desempenho. Tempo de permanência na carreira e critérios formais desempenham papel decisivo nas políticas de promoção dos servidores. Desempenho e produtividade, bem como mérito e competência desempenham razoável papel na implementação das políticas de promoção dos servidores. Fonte: Questionários Fechados com Gestores RH. Elaboração do Autor 3.5.3. Flexibilidade. A análise da flexibilidade da política de gestão de recursos humanos está direcionada para compreender quais os fatores que contribuem para ampliar ou reduzir a capacidade de adaptação desta às mudanças exigidas pelo ambiente em que este se insere. Conforme a metodologia referencial, a flexibilidade está associada à fatores relativos ao planejamento de recursos humanos, às políticas de carreiras, as políticas de ingresso, mobilidade e demissões, as políticas de remuneração, e, as estratégias de promoção e qualificação. Conforme comentado anteriormente, o planejamento das políticas de recursos humanos opera com elevados graus de centralização decisória e formalização da gestão das políticas de recursos humanos. Existem consideráveis restrições formais para que as organizações decidam sobre a contratação dos recursos humanos. O que de fato existe, diante destas restrições formais, é que as organizações buscam “ajustar” suas demandas emergenciais de contratação aos requisitos legais, sem conexão mais profunda com as necessidades estratégicas e as diretrizes de planejamento. A descentralização e a autonomia terminam por se superpor e se combinar ao formalismo burocrático, na medida em que as setoriais de recursos humanos como elemento decisivo para a “formação das demandas” sem o devido grau de articulação com estratégias de planejamento. A conexão entre a flexibilidade e as estratégias de carreiras é afetada por afetada diretamente por quatro fatores. Ela é reduzida na medida em que os cargos gerenciais terminam sendo, de fato, ocupados a partir de estudos técnicos baseados nos perfis e habilidades, definidos pelos Quadros de Pessoal. Há uma prevalência, portanto, de critérios formais e legais para ingressos nas carreiras. Por outro lado, no caso gaúcho, se verifica que há uma grande inércia na construção da flexibilidade em termos da revisão das estruturas de carreiras. A pesquisa revela que estas não são periodicamente avaliadas e realizam mudanças incrementais para atender demandas emergenciais para contratação de servidores públicos, sem maior conexão com o planejamento e a questão da produtividade organizacional e gerencial. Por outro lado, há uma inércia considerável no que diz respeito a consideração de que a busca por salários e posições gerenciais desempenham papel decisivo na motivação dos servidores.Isto reduz consideravelmente a abertura gerencial para elaborar novos tipos de incentivos para estimular a construção de padrões comportamentais mais aderentes a questão da valorização e do fortalecimento das carreiras. A busca por maiores salários tende a produzir impactos sobre a consolidação das carreiras, uma vez que as promoções não são atreladas ao mérito, a qualificação profissional e ao desempenho. Em conseqüência, se verifica uma elevada taxa de rotatividade gerencial que basicamente não reflete uma conexão com o desempenho e a produtividade mas, sim uma busca por cargos comissionados e salários, bem como estabilidade no cargo. Somado a este fator, existe a inefetividade dos mecanismos formais para demitir ou punir servidores por desempenho insuficiente, ou por redução de despesas. Estes fatores impactam sobre a política salarial praticada haja vista que os mecanismos de mobilidade gerencial bem como as promoções estão fracamente associados ao mérito, ao desempenho, ou pela adequação dos perfis para a função desempenhada. Os gestores consultados consideram que o planejamento não conhece de modo mais consistente como as estruturas salariais tendem a produzir mobilidade funcional. Não existem estudos e pesquisas que se voltem para tal propósito. Por fim, considera-se que o formalismo tende a impactar nas estratégias de promoção de modo a que estas sejam efetivamente desarticuladas de fatores ligados ao desempenho e a habilidade técnica dos servidores. Dois outros fatores relacionados à gestão do trabalho contribuem para a redução da flexibilidade. O primeiro está diretamente relacionado à ampliação progressiva do papel das hierarquias e das competências formais como critérios para ocupação das posições gerenciais. Isto atesta a expansão do formalismo burocrático e da herança legal em contraposição a um modelo de gestão voltado para resultados. Por fim, o planejamento trabalha sem um maior conhecimento sobre a relação entre qualificação dos gerentes na produtividade organizacional. Quadro 9 Sistemas Funcionais e Flexibilidade das Políticas de RH Planejamento RH • • Carreiras • • • • Ingresso, Mobilidade e Demissões • • Remunerações • Promoção e Qualificação • Relações do Trabalho • • Considerável grau de centralização e formalização da gestão e planejamento de recursos humanos Consideráveis restrições formais sobre autonomia e flexibilidade organizacional para decidir sobre a contratação dos recursos humanos Cargos gerenciais ocupados a partir de estudos técnicos baseados nos perfis e habilidades exigidos pelos cargos em cada organização. Flexibilidade limitada por critérios formais e legais Salários e posições gerenciais desempenham papel decisivo na motivação dos servidores Estruturas de carreiras não são periodicamente avaliadas e são alvo de mudanças incrementais para atender demandas emergenciais para contratação de servidores públicos. Elevadas taxas de rotatividade gerencial que não reflete uma estratégia de planejamento associada ao desempenho e a qualidade no atendimento Chances reduzidas de ocorrer demissão por desempenho insuficiente ou por redução de despesas Não se sabe de modo mais preciso sobre a relação entre a estrutura dos salários produz mobilidade funcional dos servidores Consideráveis limitações formais sobre as estratégias de promoção que terminam por produzir fraca associação com elementos relacionados ao desempenho e a habilidade técnica dos servidores. Ampliação progressiva do papel das hierarquias e das competências formais como critérios para ocupação das posições gerenciais Desconhecimento da relação entre qualificação dos gerentes na produtividade organizacional Fonte: Questionários Fechados com Gestores RH. Elaboração do Autor 3.6. Capacidade de Integração A capacidade de integração das políticas de gestão dos recursos humanos está relacionada a questão das políticas que mais diretamente lidam com a capacidade efetiva do sistema de produzir mecanismos voltados para a promoção de conflitos nas relações de trabalho. A análise da capacidade de integração se volta compreender os fatores responsáveis para a elevação ou redução desta efetividade gerencial. A capacidade de integração é afetada por elementos relativos às estratégias de ingresso, mobilidade e demissões; pelo desempenho e produtividade, pelas remunerações, pelas políticas de qualificação, e, fundamentalmente, por elementos diretamente ligados à gestão das relações trabalhistas. No que diz respeito especificamente ao impacto dos mecanismos de recrutamento dos servidores na capacidade de integração, se verifica no caso do Rio Grande do Sul uma política ainda incipiente de promoção da equidade e da não-discriminação na contratação dos servidores públicos. Por outro lado, tal capacidade é afetada na medida em que ainda são muito frágeis as políticas de integração dos servidores recém contratados (treinamento introdutório). Estas políticas ainda carecem de maior nível de universalização, haja vista que estas são bem focalizadas em algumas carreiras estratégicas da administração pública. Não se tem estudos que informem de modo mais consistente a efetividade destas políticas. Os mecanismos ligados ao desempenho e produtividade que reduzem a capacidade de integração da política de gestão são basicamente dois: primeiro, há uma reconhecida dificuldade de produzir difusão e transparência no que se refere às metas de desempenho organizacional e individual. Os servidores sabem de forma ainda muito precária como suas ações impactam sobre o desempenho organizacional. Por outro lado, conforme já comentado anteriormente, os instrumentos utilizados para avaliar os servidores possuem razoáveis níveis de confiabilidade e legitimidade no contexto da administração pública. Elementos diretamente associados às políticas de remuneração tais como a percepção dos servidores de que suas remunerações são razoavelmente alinhados à produtividade, e, que, as políticas salariais existentes terminam por gerar conflitos entre os grupos e carreiras na medida em que seus resultados apresentam consideráveis distorções, e, são percebidas como “remunerações proporcionais” à contribuição ao trabalho e a produtividade. Estes elementos combinados tendem a promover níveis elevados de conflito por salários e desconfiança nas políticas salariais praticadas. Associado a isto está o fato de que os servidores consideram que as estratégias de promoção existentes ainda são pouco satisfatórias diante das expectativas dos servidores estaduais. Fatores diretamente relacionados às políticas de gestão das relações de trabalho são decisivas para os níveis de efetividade. A pesquisa também revela haver um considerável nível de desconhecimento da heterogeneidade cultural das organizações na administração pública, e, de como esta afeta as políticas mais integradas de gerenciamento dos recursos humanos. Ainda são muito tímidos os esforços para a promoção de estudos sistemáticos de avaliação da cultura e clima nas organizações e sua importância estratégica. As organizações trabalham, de fato, com reduzida institucionalização dos mecanismos de participação e inclusão dos servidores, traduzindo um modelo ainda centralizado e hierárquico de condução e gerenciamento dos conflitos emergentes. Os gerentes usualmente assumem posições de comando em função de suas capacidades técnicas e de competências formais não estando associadas à produtividade. Esta característica legitima um padrão burocrático em que os resultados e a produtividade ocupam posição secundária. Por outro lado, no que diz respeito aos padrões de relacionamento entre gerentes e subordinados, os gerentes consultados consideram haver, uma cultura gerencial adversarial. Entretanto, consideram que os gerentes tendem a considerar que os subordinados atuam em níveis abaixo do esperado, e, diante da ausência de mecanismos mais institucionalizados e efetivos de avaliação dos servidores, a “punir” servidores com maior produtividade, com maior carga de trabalho. Isto gera um conflito organizacional e elevados níveis de stress ocupacional nas organizações, e, relacionado a isto, elevam-se os níveis de conflito gerencial. Outro ponto que contribui para reduzir os níveis de integração é a inexistência de mecanismos efetivos e institucionalizados de gestão dos conflitos nas organizações. Ademais, os gestores consultados afirmam que inda são incipientes e pouco efetivas as políticas de proteção social ao servidor. Há uma relação negativa entre a gestão da relação de trabalho e a capacidade de integração no caso do Rio Grande do Sul. Quadro 10 Sistemas Funcionais e Capacidade de Integração das Políticas de RH Ingresso, Mobilidade e Demissões • • Desempenho e Produtividade • • Remunerações • • Promoção e Qualificação • Relações do Trabalho • • • • • • • • • • • • Existem políticas incipientes de promoção da equidade e nãodiscriminação no serviço público Expansão das estratégias de treinamento introdutório para a administração pública, sem uma avaliação sobre sua efetividade Os servidores sabem de modo muito precário sobre como realizar suas metas de desempenho e como elas contribuem para o desempenho organizacional Os instrumentos de avaliação dos servidores são dotados de razoável objetividade e confiabilidade como instrumento gerencial Salários são razoavelmente alinhados à produtividade Remunerações são desproporcionais à contribuição entre as carreiras As políticas e estratégias de promoção geram grande insatisfação em relação às expectativas dos servidores Desconhecimento da heterogeneidade cultural das organizações na administração pública Reduzida importância estratégica das avaliações das relações de trabalho nas organizações Mecanismos incipientes para promover a participação e inclusão de demandas oriundas dos servidores Reduzido importância estratégica de políticas de incentivos à participação dos servidores nos projetos e ações das organizações Ampliação progressiva das hierarquias e competências formais como critérios para ocupação das posições gerenciais Gerentes percebem servidores trabalhando usualmente em níveis reduzidos de desempenho Cultura organizacional e gerencial adversarial Reduzida participação dos servidores nas decisões relativas às relações trabalhistas. Elevados níveis de conflito nas relações de trabalho Inexistência de mecanismos efetivos voltados para o gerenciamento de conflitos no trabalho Reduzida efetividade das políticas de segurança e medicina do trabalho Reduzida efetividade e institucionalização das políticas de proteção social ao servidor Fonte: Questionários Fechados com Gestores RH. Elaboração do Autor Considerações Finais Considerações Finais Esta seção apresenta as considerações finais do diagnóstico da política de gestão de recursos humanos para o caso do Rio Grande do Sul a partir do conjunto de evidências e análises desenvolvidas ao longo dos diversos capítulos deste estudo analítico. O propósito básico é o de identificar os principais mecanismos críticos que afetam o desempenho do sistema de recursos humanos e realizar algumas sugestões sobre recomendações de políticas públicas sobre potenciais elementos de intervenção para futuras políticas de modernização no Rio Grande do Sul. O caso do Rio Grande do Sul evidencia uma situação em que a política de gestão de recursos humanos vem apresentando um alinhamento com a intensa necessidade contextual de ajuste fiscal. O caso exibe as condições especificas para compreender o esgotamento de um modelo tradicional burocrático em que vem sendo apenas recentemente alvo de novas iniciativas de transformação substancial na forma de organização e funcionamento da gestão dos recursos humanos. O caso gaúcho revela, assim como a grande maioria dos casos analisados nesta pesquisa, a frágil conexão entre o planejamento estratégico e as demais áreas da política de recursos humanos. Esta condição afeta sensivelmente a eficiência agregada do modelo e termina por produzir um conjunto de efeitos que impactam de modo indesejado sobre a capacidade do sistema em se orientar por parâmetros de mérito, produtividade, e capacidade de gestão. A concepção de novas políticas para lidar com tais efeitos requer que sejam empreendidos consideráveis avanços no que se refere à importância estratégica do planejamento estratégico, e, fundamentalmente da mudança de visão fragmentada de gestão dos recursos humanos que foi uma herança do modelo tradicional. Por outro lado, as novas orientações de política de gestão dos recursos humanos devem deixar de lado a concepção tradicional de tratar os recursos humanos como insumo para a “folha de pagamento”. Estas devem ser orientadas por políticas que passem a conceber os recursos humanos como estratégicos para a promoção de padrões mais orientados a partir da questão da produtividade, do mérito e da capacidade gerencial. Outro ponto de importante demanda por mudanças a partir do planejamento com critérios de produtividade é a questão da renovação da força de trabalho tanto pela via das contratações dos servidores como das políticas de qualificação. A análise revelou os limites de uma política de recursos humanos em que não se orientou pelo planejamento estratégico dos concursos. O modelo tradicional privilegiou o crescimento das contratações de servidores a partir das demandas emergenciais de cada organização, gerando um modelo “fragmentado” e de complexa coordenação. O desenho de novas políticas de recursos humanos passa fundamentalmente pela necessidade de articular a capacidade de planejamento a padrões mais coordenados e transversais de produção de políticas públicas, e, que parâmetros relativos ao mérito e a competência técnica sejam decisivos para o planejamento da força de trabalho. Assim como em outros casos, o “problema do dimensionamento da força de trabalho” nas organizações ainda é um importante desafio para os formuladores de políticas de recursos humanos. O padrão típico da alocação da força de trabalho revela a ausência histórica de uma política mais coordenada e planejada de contratação de recursos humanos. O modelo existente foi sendo adaptado a um ambiente de intensa fragmentação das diversas áreas e setores do governo em termos das políticas de pessoal. Inexistem mecanismos mais consistentes para identificação das demandas por novos servidores. Predomina o modelo emergencial e não planejado de contratações. A superação deste problema passa fundamentalmente por um esforço de revisão decisiva sobre a lógica das contratações de servidores que historicamente se organizou a partir das demandas circunstanciais gerando um padrão “desarticulado” entre as necessidades organizacionais e as reais contratações. Disto depende substancial esforço para ampliar a capacidade do planejamento em gerar informação consistente que possa informar sobre a real força de trabalho em termos de perfis atuais bem como sobre quais as suas demandas futuras de contratação. O planejamento existente não trabalha a partir de racionalidade em termos do mapeamento do perfil e padrão necessário das contratações. Este mecanismo se reproduz nas demais dimensões das políticas de recursos humanos – salários, qualificação, carreiras, promoções, mobilidade – e afeta consideravelmente a eficiência agregada do sistema de recursos humanos. Apesar de existir uma clara orientação pelo mérito na classificação e organização dos cargos e carreiras, verifica-se que esta se implementa a partir de uma ausência de quais seriam os perfis desejáveis em termos de estruturas e carreiras gerenciais. O dimensionamento da força de trabalho e de uma estrutura ideal ainda não assumiu centralidade na política de recursos humanos do Rio Grande do Sul. Os esforços para a introdução de um ajuste gerencial na administração dos recursos humanos passam por uma mudança articulada na direção de esforços voltados para a construção de políticas de recursos humanos, deixando de ver tais políticas apenas como uma questão contábil de “contratações e despesas”. Os dados analisados revelam que os atuais gestores identificam que a transformação do modelo existente passa essencialmente pela adesão aos seguintes princípios: a gestão por resultados, racionalização das despesas, modernização dos serviços, a remuneração dos servidores a partir do desempenho, e articulação transversal das políticas públicas. Todavia, identificar tais caminhos é parte do problema, que se complementa com energia para investimento na concepção de políticas que tenham a capacidade de reconfigurar a lógica e os poderosos mecanismos tradicionais construídos ao longo da história de tais políticas no contexto do Rio Grande do Sul. Outra evidência importante exibida pelo caso estudado é a não-centralidade das estratégias das políticas de avaliação do desempenho. Na realidade, as estratégias de avaliação do desempenho não adquiriram centralidade na política de recursos humanos no Rio Grande do Sul. O planejamento dos recursos humanos ainda não opera com modelos consistentes para implementar políticas efetivas de avaliação de desempenho seja em qualquer nível. São muito precárias as conexões entre o planejamento, o desempenho e a produtividade gerencial. A pesquisa revela que os mecanismos existentes de avaliação ainda são basicamente orientados para atender as demandas setoriais emergenciais dos órgãos e entidades com propósitos de promoção salarial desconectado do mérito e da produtividade. A questão do desempenho e produtividade ainda não assumiu centralidade estratégica na gestão dos recursos humanos no Rio Grande do Sul. A idéia de avaliação e valorização do servidor a partir da questão das suas competências e do seu desempenho ainda não adquiriu relevância decisiva nas políticas existentes. Pode-se considerar que está é uma área ainda por avançar caso se tente instaurar modelos gerenciais de administração pública no estado. Ainda é muito tênue a conexão entre resultados individuais, organizacionais, e, institucionais. O planejamento ainda não trabalha com diretrizes estratégicas de valorização através de elevação do desempenho a partir de metas. Não existem estratégias mais consolidadas para informar com maior precisão sobre servidores (e grupos de servidores) com desempenho abaixo do desejável. Também não se identifica a existência de estratégias gerenciais utilizadas para promover uma difusão dos resultados das avaliações do desempenho. Não existem avaliações externas sobre as políticas de avaliação dos servidores e das organizações, ou mesmo uma avaliação crítica interna sobre tais mecanismos. Outro ponto decisivo para ser alvo de sensíveis mudanças é a conexão entre fortalecimento das carreiras, estruturas salariais e mérito. Assim como em outros contextos analisados na pesquisa, a dinâmica de organização e institucionalização das políticas salariais na administração pública do Rio Grande do Sul não guarda conexão com aspectos relacionados ao mérito e ao desempenho dos servidores (e das organizações). Quando se compara os subsistemas funcionais a partir dos principais pontos críticos hierarquizados3 para o caso do Rio Grande do Sul, os dados revelam que os subsistemas de Planejamento e Gestão; Promoção e Qualificação de Servidores; Gestão das Relações de Trabalho e Recursos Humanos são aqueles que exibem a maior quantidade de pontos considerados “críticos”. De acordo com os gestores consultados, estas devem ser as principais áreas que demandam iniciativas de modernização, e, que, certamente, deverão ter impactos sobre as demais áreas de políticas de recursos humanos. Todavia, vale considerar que em cada um dos subsistemas existem pontos críticos que foram considerados como decisivos, e, que são fortes evidências para o planejamento de estratégias efetivas de intervenção na realidade. O conjunto específico dos pontos críticos por cada sistema subfuncional é apresentado no Quadro-Síntese. Para o subsistema de planejamento e gestão, os dados hierarquizados apontam para a necessidade de rever os critérios de alocação (e realocação) da força de trabalho gerencial; maior flexibilidade dos gerentes na participação das políticas de recursos humanos, e, redução 3 A partir das respostas dos questionários fechados fornecidos pelos gestores para as 93 questões envolvendo os 08 subsistemas funcionais, foram construídas escalas hierárquicas das respostas considerando respostas que foram codificadas como 1 – Crítico, 2 – Regular; 3 – Bom; 4 – Adequado, e, 5 – Próximo ao Ideal. Para cada um dos sistemas foram contabilizados e identificados os pontos críticos específicos para cada caso analisado. das limitações formais que os gerentes nas organizações enfrentam para decidir com maior autonomia sobre as políticas de contratação de servidores de acordo com suas necessidades. Para a política de gestão de carreiras, os principais pontos passam por questões associadas diretamente a necessidade de promover estratégias que permitam: a) a flexibilidade das limitações formais para contratar servidores de acordo com as carreiras em função da produtividade; b) mudança de cultura dos servidores nas carreiras a partir da criação de incentivos voltados para parâmetros de produtividade e de desempenho e não apenas de motivação por salariais; e, c) a melhor definição dos perfis e habilidades consideradas necessárias para aqueles servidores que ocupam os cargos gerenciais. Os principais pontos críticos relativos às estratégias de Ingresso, Mobilidade e Demissões estão associados diretamente a necessidade de reduzir e reorientar o nível da influência política nos processos de contratação dos servidores; pela conexão entre o planejamento estratégico e os instrumentos utilizados para o recrutamento de servidores; consolidar mecanismos efetivos de demissão (ou punição) de servidores por desempenho insuficiente; e, atuar de forma mais efetiva na análise e construção de estratégias voltadas para lidar com a redução do absenteísmo e seu impacto sobre a produtividade gerencial e organizacional. Sobre a questão da avaliação de desempenho, que ainda não foi conferido prioridade na política de recursos humanos do Rio Grande do Sul, os dados analisados permitem conferir importância estratégica a três importantes mecanismos: a) ao problema da construção e difusão das metas organizacionais (e individuais), rompendo com um modelo tradicional onde a avaliação é apenas procedural; b) a questão dos instrumentos de avaliação que ainda não possuem importância estratégica, confiabilidade e legitimidade nos processos de avaliação; e, c) criar os mecanismos necessários para produzir o envolvimento estratégico dos gerentes nos processos de avaliação dos servidores (e das organizações). No subsistema funcional das políticas de remuneração os principais pontos críticos estão diretamente associados às seguintes questões: a) a conexão estratégica entre os salários e a mobilidade gerencial, que ainda é desconhecida do planejamento; b) o impacto dos salários sobre a capacidade de atrair e reter servidores adaptados as necessidades organizacionais; c) a questão crônica das distorções salariais herdadas do modelo tradicional de organização dos recursos humanos; d) alinhamento com parâmetros de orientação dos salários pela eficiência de mercado; e) orientação gerencial dos salários; e f) a promoção de critérios de eficiência e mérito nos sistemas de premiação e gratificação extra-salarial. Na área de políticas de promoção os pontos críticos do modelo estão diretamente associados ao problema de criar maior alinhamento entre as estruturas de promoção nas carreiras com as expectativas individuais dos servidores, que são fragilmente articuladas aos salários, conforme já mencionado. No tocante às políticas de qualificação profissional dos servidores são três os pontos que merecem urgente atenção: a) a conexão entre a oferta de qualificação gerencial e seus impactos sobre o desenvolvimento organizacional; b) o alinhamento entre a qualificação ofertada e os requisitos de uma cultura gerencial que promova a orientação por resultados, por desempenho, mérito e produtividade; e, c) a necessidade de revisão continuada das políticas de avaliação, que são muito precárias no contexto de um modelo tradicional de gestão dos recursos humanos. Outra área de fundamental necessidade de intervenção para o desenho de uma nova política é a maior capacidade de conhecer mais de perto os mecanismos que estruturam e organizam a gestão do trabalho e dos recursos humanos. Esta é uma área em que o modelo tradicional e fragmentado de gestão dos recursos humanos não considerou como essencial, e, a pesquisa identificou uma enorme carência, sendo quase todos os seus itens situados numa condição “crítica” pelos gestores consultados. É de fundamental importância que a revisão do modelo tradicional seja capaz de promover esforços mais sistemáticos voltados para identificar elementos da cultura organizacional; promover a difusão das informações gerenciais; ampliar e consolidar os mecanismos de participação dos servidores; promoção de mudança da cultura administrativa; criação de estratégias voltadas para a gestão dos conflitos; institucionalização de políticas de proteção social; construção de estratégias efetivas para a qualificação e responsabilização dos gerentes na administração pública; bem como a consolidação de um modelo centralizado e estratégico de gestão de recursos humanos. Quadro-Síntese Rio Grande do Sul Principais Pontos Críticos Subsistema Funcional Planejamento e Gestão Gestão das Carreiras Ingresso, Mobilidade e Demissões Desempenho e Produtividade Remunerações Promoção e Qualificação Gestão das Relações de Trabalho e Função Recursos Humanos Principais Pontos Críticos • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Flexibilidade Gerencial Planejamento Alocação Gerencial Planejamento da Realocação Gerencial Participação dos Gerentes RH nas Políticas Flexibilidade das Regras Formais Orientação Gerencial dos Servidores Perfis Gerenciais Redução da Interferência Política Equidade e Não-Discriminação Impacto negativo das mudanças políticas Chances de Demissão por Desempenho Chances de Demissão por Redução de Despesas Impacto negativo das taxas de absenteísmo Difusão das Metas Confiabilidade e Legitimidade Instrumentos de Avaliação Envolvimento Estratégico dos Gerentes na Avaliação Conexão Estratégica entre Salários e Mobilidade Gerencial Estrutura Salarial e Atratividade das Carreiras Distorções Salariais nas Carreiras Compatibilidade Salarial com o Mercado Orientação Gerencial dos Salários Eficiência das Premiações e Gratificações Promoção x Expectativas Individuais Servidores Qualificação Gerencial x Desenvolvimento Organizacional Qualificação X Cultura Gerencial Avaliação das Políticas de Qualificação Estudos de Cultura e Clima Organizacional Estudos de Avaliação sobre Gestão do Trabalho Inclusividade dos Servidores nas Políticas Organizacionais Difusão das Informações Gerenciais Importância Estratégica da Participação dos Servidores Confiança dos Gerentes no Desempenho dos Servidores Cultura Cooperativa Inclusividade dos Servidores nas Relações do Trabalho Efetividade da Redução dos Conflitos Institucionalização dos Mecanismos de Gestão dos Conflitos Institucionalização e Efetividade das Políticas de Proteção Social Autonomia e Liberdades Gerenciais Qualificação dos Gerentes Controle sobre Gerentes Importância Gerencial do Sistema Centralizado de RH Fonte: Questionários Fechados com Gestores RH. Elaboração do Autor