A GRÉCIA É AQUI Samuel Pessoa Reportagem na semana passada neste jornal de Toni Sciarretta defende que estamos longe da situação da Grécia. De fato, do ponto de vista de liquidez o governo grego na prática quebrou, como afirmou o repórter. Antes de fazer qualquer comparação entre Brasil e Grécia é importante frisar que o bem estar na Grécia é superior ao brasileiro por qualquer critério. Depois de seguidos anos de crise profunda o PIB per capita é 60% maior do que o nosso e a desigualdade é menor. Do ponto de vista fiscal a Grécia apresentou ano passado superávit primário pouco maior do que zero, melhor, portanto, do que nosso déficit de 0,6% do PIB. O grande problema por lá é o enorme endividamento do setor público, de 180% do PIB, ante nosso endividamento bem menor de 65%. No entanto o custo de rolagem da dívida pública por aqui é bem maior e certamente se houver um esforço de reformas que reduzam os problemas crônicos de baixa eficiência do setor público grego há espaço de negociação com a União Monetária para reduzir muito os juros pagos pelo governo grego. Ou seja, o fato da Grécia ser um pequeno país de uma União Monetária, o PIB grego é da ordem de 2% do PIB da União Monetária, torna o tamanho do problema grego muito menor do que o nosso. Ou seja, estamos isolados e teremos que encontrar por nós mesmos uma solução para nosso desequilíbrio fiscal estrutural. A Grécia se fizer a lição de casa que a União Monetária exige será resgata. Segundo dados da OCDE em 2011 o gasto público grego com aposentadorias e pensões era de 14,5% do PIB, não muito maior do que os 12% que gastamos. A situação é ainda pior pois temos pouco menos de 10% da população acima de 60 anos enquanto que a Grécia tem 20%. Ou seja, nosso gasto previdenciário relativamente a nossa pirâmide populacional já é muito maior do que o grego! De fato temos o instrumento cambial para ajustarmos. A Grécia abriu mão deste instrumento guando decidiu se juntar à zona do Euro. Mas é sempre importante lembrar que ajuste de desequilíbrio fiscal por meio de forte desvalorização do câmbio produz aceleração inflacionária e corte dos salários, aposentadorias e pensões. Exatamente por este motivo o primeiro ministro Grego, após ter tido a autorização dos cidadãos para não fazer novo acordo, o que ia gerar insolvência e no limite saída da UM e recriação da Dracma, decidiu assinar acordo ainda mais duro do que o anterior. Avaliou que o custo social da inflação e desorganização da economia consequência da recriação da moeda grega representa custo ainda maior do que aceitar as condições da União Européia. Um tema que tem sido pouco observado é a diferença de comportamento entre aposentados e funcionários públicos, mais favoráveis a um acordo com a União Monetária, e estudantes e jovens, mais vocais contra as medidas de austeridade, e, por conseqüência, mais desejosos de uma saída da Grécia da UM e recriação da moeda grega. Parece haver uma economia política neste padrão. Os jovens e estudantes são os mais afetados pelo desemprego, custo maior da estratégia de ajustamento dentro da UM. Os servidores públicos e aposentados perderiam mais em uma eventual saída do Euro pois seus salários e aposentadorias seriam fortemente reduzidos com a recriação da Dracma. Se nada for feito caminhamos para crise fiscal profunda e os resultados sociais por aqui serão ainda piores do que a população Grega tem enfrentado nos últimos anos.