Revista TOXICODEPENDÊNCIAS ® Edição SPTT Volume 7 Número 3 Ano 2001 pp. 41-52 Resumo: O autor faz ao longo deste artigo (dividido em Parte I e II) uma breve revisão bibliográfica sobre as possíveis interacções entre o consumo de drogas e a sexualidade, focando-se nesta primeira parte as questões ligadas ao consumo de álcool, de cannabinoides e de sedativos, hipnóticos e ansiolíticos. Tentase desta forma estabelecer, através de alguns estudos e investigações que têm sido levadas a cabo ao longo dos últimos anos, um esboço das prováveis interacções e inter-relações entre o binómio drogas/sexualidade. Previamente referenciam-se também algumas das dificuldades e limitações com que, na opinião do autor, um trabalho deste tipo se confronta. Palavras-chave: Interacção; Drogas; Sexualidade; Comportamento Sexual. Toxicodependência e Sexualidade: Revisão Bibliográfica a Propósito das suas Possíveis Interacções (Parte I)(*) Résumé: L'auteur procède, dans ce texte à une brève révision bibliographique concernant les interactions possibles entre usage de drogues et sexualité, en mettant en lumière les problèmes dérivés des abus d'alcool, cannabinoides, tranquillisants, hypnotiques et ansiolitiques. On essaie, de cette façon, d'établir tout au long de quelques études et recherches qui ont été menées les dernières années, une ébanche des interactions probables et des inter-relations entre le binôme drogues/sexualité. En plus on remarque aussi les difficultés et limitations auxquels une étude de ce genre doit se confronter. Mots clé: Interactions; Drogues; Sexualité; Comportement sexuel. "Legal and illegal drug use have long been linked with Abstract: Througout this paper (Part I and Part II) the author makes a brief bibliographical review on possible interactions between drugs use and sexuality, this first part enhancing issues such as alcohol, by-products of cannabis and sedatives, hypnotics and anti-stress tabs. He tries, using some studies and researches carried out last years, to draw a sketch of probable interactions and inter-relations between drugs/sexuality binomial. He also draws his opinion about some dificulties and limitations this kind of work faces. Keywords: Interaction; Drugs; Sexuality; Sexual behaviour. Pretende-se com este artigo fazer uma breve revisão Paulo Alexandre Lorga sexuality for a host of reasons. These include social and cultural as well as psychological and physiological factors. Drinking is commonly associated with dating and with sexual encounters. So too are a number of “illicit drugs”, albeit on a less popular or widespread basis". (PLANT & PLANT, 1992, pp. 2-3) bibliográfica sobre as possíveis interacções entre o binómio consumo de drogas/sexualidade e sobre eventuais perturbações no ciclo de resposta sexual de que estas podem ou não ser responsáveis. Um trabalho deste tipo confronta-se, desde logo, com algumas dificuldades, devido quer às diferentes metodologias e pressupostos teóricos utilizados nos diversos estudos quer também à própria natureza e dificuldade do objecto em estudo (nomeadamente no que à sexualidade diz respeito), destacando-se: • a não existência entre os diversos autores de um quadro único de referência em relação ao problema das disfunções sexuais e respectiva classificação, encontrando-se uma multiplicidade de definições ou conceitos relativos à mesma entidade clínica ou, o que se revela ainda mais complicado, a utilização de um único conceito para abarcar uma multiplicidade de entidades clinicamente diferentes e distintas(1); • a complexidade da resposta sexual, que pode e deve ser vista como compreendendo uma série de componentes integrados(2), interagindo entre si(3); • a omissão, na maioria dos estudos, das questões ligadas à quantificação e qualidade das doses consumidas, bem como uma grande variabilidade relativamente ao tipo e composição das populações estudadas(4); • a praticamente inexistência de dados normativos que possam providenciar dados descritivos sobre a frequência 41 e variedade de comportamentos ou dificuldades sexuais ções sociais na interacção com a acção farmacológica ao ao nível da toxicodependência, de forma a se poder ter nível do processo de excitação e da resposta sexual, uma ideia clara e uma linha de base comportamental, dependendo a sua influência da experiência pessoal e da que sirva de termo de comparação entre os diversos aprendizagem social que lhe está subjacente (CROWE & estudos (5). GEORGE, 1989). As crenças sobre o efeito do álcool no Ainda assim, tentou-se fazer um apanhado de alguns comportamento sexual fazem parte da história, do folclore dados disponíveis, pelo muito que representam em termos e da própria opinião popular, aparecendo ligadas quer à do que se sabe até este momento sobre a interacção sedução quer ao sexo e veiculando a ideia de que os drogas/sexo(6). Optou-se, por razões de clareza e siste- utilizadores ficam mais sexualmente desinibidos, interes- matização, por falar separadamente das principais subs- sados em sexo e sexualmente mais agressivos (LEIGH, tâncias utilizadas hoje em dia pelos toxicodependentes 1990). Como referem PLANT e PLANT (1992) "the relation- (embora agrupando algumas delas tendo em conta o seu ship between alcohol and sexual behaviour is influenced mecanismo de acção ou efeitos similares), pelo menos em by people's expectations of what effects alcohol might termos da sua importância e frequência de uso, já que have on sexual activity" (p. 111), o que talvez explique o como refere TOUZEAU (1988), "il était difficile de tous les facto de o beber num encontro sexual ser mais importante présenter, aucune classe de médicament n'ayant échappé à com parceiros novos do que com um parceiro regular leur inlassable recherche" (p. 7). (25% contra 7%), uma vez que as expectativas parecem Pela dimensão do artigo, e dadas as suas próprias carac- contribuir tanto para o consumo de álcool em encontros terísticas, procedeu-se à sua divisão em duas partes, sexuais como os sentimentos e comportamentos expe- abordando-se ao longo da primeira as questões ligadas rienciados durante esses encontros (LEIGH, 1990). ao álcool, aos cannabinoides e aos sedativos, hipnóticos Talvez por isso não sejam de admirar os resultados encon- e ansiolíticos, e na segunda os opiáceos, a cocaína (e trados por WILSON & LAWSON (1976)(7) no seu estudo outros estimulantes), os alucinogéneos e o ecstasy. com mulheres não alcoólicas, em que à exibição de filmes eróticos era associada a ingestão de álcool, tendo verifi- 1. Álcool cado que este diminuía os sinais objectivos de excitação sexual (medidos por fotopletismografia vaginal) e aumen- 42 As contradições entre os auto-relatos e as medidas tava a percepção subjectiva de excitação; ou mesmo o fisiológicas ao nível da sexualidade nos consumidores de facto de alguns dados indicarem que as mulheres alcoóli- álcool mostram que os factores farmacológicos e psicos- cas são sexualmente mais activas quando intoxicadas sociais parecem ter um efeito independente e interactivo do que quando sóbrias, apesar dos efeitos supressores na mediação dos efeitos deste no comportamento sexual do álcool ao nível da “responsividade” sexual feminina (ROSEN & BECK, 1988; COOPER, 1994), na medida em (SEGRAVES, 1988b), mesmo em doses moderadas que do ponto de vista do primeiro o álcool parece diminuir (MASTERS et al., 1992), o que remete para a importância e dificultar a excitação sexual (sobretudo com níveis de outros factores que não só os farmacológicos. altos), enquanto do ponto de vista do segundo se verifi- Como referem CROWE e GEORGE (1989), o álcool cam relatos quer de um aumento da excitação quer de desinibe a excitação sexual de um ponto de vista psico- um iniciar mais fácil dos comportamentos sexuais, situa- lógico, mas suprime a resposta fisiológica, dependendo ções que parecem mais influenciadas pelas expectativas estes efeitos dos níveis de álcool consumidos: maior sociais e circunstâncias em que o álcool é consumido do desinibição para baixas doses e maior supressão para que pela sua acção farmacológica directa (SEGRAVES, doses altas. Existe contudo a este nível um paradoxo que 1988b). permite diferenciar ambos os sexos, e que está relacio- Segundo SCHIAVI (1990), os estudos sobre a ingestão nado com a vivência subjectiva da excitação, chamando aguda de álcool têm demonstrado a importância do papel uma vez mais a atenção para a importância de ser neces- das expectativas, dos processos cognitivos e das condi- sário ter em consideração as dimensões fisiológicas e psicológicas na interacção álcool/sexualidade: se para os erecções parciais, referindo WAKEFIELD et al. (1996) que homens o aumento das taxas de álcool no sangue tem aproximadamente 50% dos sujeitos que procuram ajuda por efeito diminuir a excitação subjectiva, o prazer e a para o seu problema com o álcool relatam problemas de intensidade orgásmica, nas mulheres este aumento leva a impotência. Os homens alcoólicos referem também me- relatos de maior excitabilidade, maior prazer e intensidade nos prazer com as experiências sexuais (FAGAN et al., orgásmica, mesmo que os índices fisiológicos apontem 1988), verificando-se igualmente uma diminuição da fre- na direcção contrária. quência masturbatória (MASTERS et al., 1992), com pos- A ingestão aguda de baixas doses de álcool pode ter por sibilidade de aumento do tempo de latência até ao efeito um aumento da iniciativa e do desejo sexual, devido orgasmo durante esta actividade (SEGRAVES, 1988b) e sobretudo a factores desinibitórios, embora alguma inves- uma diminuição das sensações de prazer e da intensi- tigação experimental mostre que nem sempre a ingestão de dade orgástica (MASTERS et al., 1992). álcool resulte necessariamente em desinibição sexual Nas mulheres verificam-se queixas de dificuldades ao nível (LEIGH, 1993), tendo também FAGAN et al. (1988) verifica- da excitação (SEGRAVES, 1988b; ROSEN & BECK, 1988; do que os homens que abusam de álcool podem sobres- MASTERS et al., 1992; WAKEFIELD et al., 1996), diminuição timar a excitação sexual sob a influência do álcool, na medi- do interesse sexual (MASTERS et al., 1992; HOLLISTER, da em que eram os homens sexualmente disfuncionais e 1975), dificuldades ou supressão da resposta orgástica alcoólicos que relatavam um aumento da libido sob a (LEIGH, 1990; MASTERS et al., 1992; WAKEFIELD et al., influência do álcool, por comparação com não alcoólicos. 1996) e aumento do tempo de latência até ao orgasmo nas Pode também prejudicar simultaneamente a capacidade de actividades masturbatórias (SEGRAVES, 1988b). O próprio desempenho, nomeadamente nos homens, onde pode consumo de álcool está também associado com uma me- induzir disfunções erécteis, embora, segundo MASTERS nor ocorrência de actividade sexual (LEIGH, 1993), embora et al. (1992), uma baixa concentração de álcool no sangue FAGAN et al. (1988) refiram que no seu estudo as mulheres possa ter como ligeiro efeito uma melhoria da erecção. com disfunções sexuais expressavam maior gozo, vigor e Nas mulheres, baixas concentrações de álcool parecem libido por comparação com os homens (que relatam exac- ter pouco efeito ao nível da “responsividade” erótica, mas tamente o contrário). o seu aumento em termos moderados induz uma redução Os números encontrados pelos diversos estudos são do fluxo vaginal, um aumento do tempo de latência em contudo discrepantes, indicando intervalos percentuais face do orgasmo e uma menor intensidade orgástica que nos homens andam na ordem dos 8% a 54% para (MASTERS et al., 1992). problemas de impotência (ROSEN & BECK, 1988; À medida que aumentam os níveis sanguíneos de álcool (al- SCHIAVI, 1990; COCORES et al., 1988), 31% a 58% para colémia), este induz dificuldades ao nível da excitação sexual problemas relativos a falta de desejo (SCHIAVI, 1990) e e no orgasmo (que pode ser retardado ou mesmo inibido) em 5% a 10% para situações relativas a ejaculação retardada ambos os sexos, conforme tem sido observado em estudos ou inibição orgástica (COCORES et al., 1988; MASTERS de natureza laboratorial (FAGAN et al., 1988; COOPER, 1994). et al., 1992), enquanto que nas mulheres os números Nos homens interfere com a capacidade eréctil, podendo apontam para 30% a 40% de dificuldades de excitação e estes apresentar dificuldades na obtenção ou manutenção da 15% com dificuldades orgásticas (MASTERS et al., 1992). erecção, enquanto nas mulheres interfere com a capacidade Para SCHIAVI (1990), se existe esta discrepância nos dife- de lubrificação, podendo também a sua “responsividade” rentes estudos ela tem a ver sobretudo com questões de orgástica ser bloqueada (MASTERS et al., 1992). natureza metodológica, nomeadamente com diferenças na A sua utilização crónica, apesar de afectar todo o ciclo de composição clínica das amostras, com o carácter retros- resposta sexual, atinge sobretudo o mecanismo de exci- pectivo dos estudos e com a falta de participação das(os) tação e a capacidade eréctil nos homens (ROSEN & companheiras(os) na avaliação psicossexual, a que se jun- BECK, 1988), envolvendo uma maior latência à tumes- tam definições de alcoolismo e disfunção sexual muitas cência, erecções menos rígidas e um maior número de vezes não coincidentes. 43 Em relação aos efeitos do álcool a longo prazo é de admitir da crença de que facilita o comportamento sexual a existência de diferentes mecanismos causais no desenvol- (ROSEN & BECK, 1988). vimento de disfunções sexuais, tais como distúrbios endó- Por outro lado, a baixa de resistência às infecções e pro- crinos, neurológicos, psicológicos e interpessoais (ROSEN & blemas de má nutrição, consequências quer do consumo BECK, 1988), que agindo de forma isolada ou interagindo quer do próprio estilo de vida imposto pelo consumo, entre si podem explicar o aparecimento e a manutenção do quando em conjunto com todas as outras situações, comportamento disfuncional, embora, segundo SCHIAVI podem também, só por si, providenciar uma base bioló- (1990), não exista informação empírica que permita identi- gica para o aparecimento de disfunções sexuais (MAS- ficar quais os factores específicos pato-fisiológicos e psico- TERS et al., 1992). lógicos que estão envolvidos e qual a sua relação. Os Do ponto de vista psicológico e relacional, a rejeição factores orgânicos assumem a este nível um relevo par- social e familiar do alcoólico e a deterioração da relação ticular, já que a existência de alterações neurológicas cen- do casal podem contribuir fortemente para alguns aspec- trais (com alterações electroencefalográficas e neuro- tos disfuncionais do ponto de vista sexual. químicas), periféricas (polineuropatias periféricas do plexo Os comportamentos aditivos face ao álcool podem autonómico e alterações da sensibilidade erótica táctil), também ser vistos com um carácter de auto-medicação, alterações da função hepática de causa alcoólica e hormo- envolvendo então um esforço da parte do sujeito para lidar nais podem traduzir-se no aparecimento de problemas ao através da ingestão alcoólica com ansiedades sexuais, nível do desejo e excitação sexual, prevalentes nos alcoóli- disfunções sexuais e dificuldades de relacionamento inter- cos crónicos (SEGRAVES & SEGRAVES, 1992; BUFFUM, pessoal. Se inicialmente a ingestão de álcool pode trazer 1982; SCHIAVI, 1990). Estes são factores importantes a ter alguns benefícios (ainda que discutíveis face a estas em consideração, sobretudo no sexo masculino, em que os problemáticas), a continuação dos consumos mais não faz problemas de desejo sexual e as dificuldades erécteis do que agravar esta situação, induzindo também novas podem ser também o reflexo quer das alterações hormonais preocupações, nomeadamente ao nível do desempenho quer de neuropatias periféricas (SEGRAVES, 1988b; ROSEN sexual, que pode agora por via da acção farmacológica & BECK, 1988). directa estar verdadeiramente alterada. Do ponto de vista hormonal, sabe-se que o abuso A reversibilidade fisiológica dos efeitos do abuso crónico continuado de álcool leva à depressão de produção de de álcool pode ir de duas semanas a um ano, tudo depen- testosterona e do seu metabolismo nos homens (CROWE dendo dos danos entretanto causados pelo tempo de & GEORGE, 1989; SEGRAVES, 1988b), o que pode consumo (WAKEFIELD et al., 1996), pelo que as disfunções explicar as dificuldades erécteis e a baixa de desejo sexuais devidas aos efeitos sistémicos causados pelo abu- sexual (MASTERS et al., 1992; BUFFUM, 1982; WAKE- so podem persistir mesmo após a paragem deste (CROWE FIELD et al., 1996). Interfere também com a função hepá- & GEORGE, 1989; FAGAN et al., 1988), considerando tica e com a sua capacidade de metabolização dos com- MASTERS et al. (1992) que aproximadamente em metade ponentes estrogénicos, o que associado à baixa de tes- das vezes o facto de um alcoólico deixar de beber não tosterona pode induzir um síndrome de efeminização, implica que desapareçam as suas dificuldades, que con- caracterizado por vários graus de ginecomastia, hipogo- tinuam a requerer tratamento. Nesta manutenção dos nadismo, esterilidade, atrofia testicular e alterações na problemas podem estar envolvidos não só os factores espermatogénese (BUFFUM, 1982; SCHIAVI, 1990; fisiológicos como também interpessoais e relacionais CROWE & GEORGE, 1989). Nas mulheres, paradoxal- (FAGAN et al., 1988). mente, pode produzir um ligeiro aumento de testosterona, o que se pensa poder estar relacionado com o relato de 2. Cannabinoides aumento de libido após a utilização de pequenas quan- 44 tidades de álcool (SADOCK, 1995), embora o álcool pare- A Cannabis (e os seus derivados) tem sido utilizada ao ça diminuir a excitação fisiológica independentemente longo dos tempos pelos seus supostos efeitos sobre o funcionamento sexual, atribuindo-se-lhe simultaneamente dida em que não é um estimulante sexual (KATCHA- propriedades afrodisíacas e anafrodisíacas. A este pro- DOURIAN & LUNDE, 1980; SOLER INSA et al., 1981; pósito, veja-se por exemplo, o seu uso na Índia no século SILVESTRE et al., 1997), resultando os possíveis efeitos XIX, onde era utilizada simultaneamente como estimu- positivos de uma acção indirecta da droga, seja por lante sexual nos bordéis e como supressor do desejo intermédio das alterações perceptivas e de consciência sexual pelos religiosos ascéticos (ROSEN & BECK, 1988). induzidas pela substância (SEGRAVES, 1988b; SADOCK, Torna-se claramente um exemplo de como variáveis não 1995) ou de uma desinibição comportamental resultante farmacológicas se podem sobrepor à própria acção do seu uso, seja por um efeito sobre determinados farmacológica da droga, levando à obtenção ou à aspectos comportamentais das relações de proximidade percepção de efeitos que de outro modo não seriam ou de promiscuidade (SILVESTRE et al., 1997), seja por obtidos pela acção directa da substância (COHEN, 1982). questões de sugestibilidade, actuando assim de uma Os seus efeitos são complexos, incluindo elementos esti- forma que "potencia y matiza las sensaciones en todas las mulantes, sedativos e alucinogéneos, o que leva a que fases del contacto erótico" (ESCOHOTADO, 1996) . Este todas as possíveis formas de alteração da sexualidade aspecto da sugestibilidade está bem em evidência no possam ocorrer (HOLLISTER, 1975), dependendo muito facto de a maioria dos consumidores considerar a expe- os seus efeitos da experiência prévia do indivíduo com a riência sexual não agradável, por exemplo, se o parceiro substância, das suas atitudes em relação a esta e das não tiver também consumido (MASTERS et al., 1992). "Le doses consumidas (NEVID et al., 1995). plaisir obtenu au cours de l'acte sexuel peut être plus Segundo POWELL & FULLER (1983) a marijuana tem sido important, mais il ne s'agit pas d'un réel effet aphrodi- utilizada de um ponto de vista afrodisíaco, tendo em vista siaque" (ROUX et al., 1983, p. 14). obter os seguintes efeitos: aumento da sensualidade e Um estudo efectuado nos EUA pela National Commission sentimentos eróticos; aumento da receptividade e interes- on Marihuana and Drugs (1972)(8) concluiu, após uma revi- se na actividade erótica; obtenção de orgasmos mais são da literatura sobre o assunto, que o grau de estimulação agradáveis e prolongados no tempo; aumento das contrac- sexual induzido pela marijuana dependia da personalidade ções musculares orgásticas; alterações perceptivas e tem- do utilizador e da extensão do efeito antecipado. Nada de porais; desinibição e perda de constrangimentos ou inerente à própria droga que induzisse, por si só, um culpabilidades e estimulação de pensamentos sexuais. aumento do desejo ou excitação sexual ou a evidência de Contudo, os estudos animais parecem ter falhado consis- uma acção específica sobre os centros sexuais do cérebro tentemente em demonstrar o seu efeito afrodisíaco ou os órgãos sexuais foi determinado, concluindo-se que a (SEGRAVES, 1988b). Por outro lado, como referem ROSEN sua influência sobre a resposta sexual agiria por intermédio & BECK (1988), os estudos que têm demonstrado a exis- do relaxamento das inibições e perda dos constrangimen- tência de uma ligação entre o consumo de marijuana e a tos habituais impostos pelo comportamento social. presença de efeitos positivos na sexualidade apresentam Contudo, não é menos verdade que a sua acção positiva alguns problemas metodológicos: sobre o prazer e o comportamento sexual é muitas vezes • as amostras são constituídas por populações altamente relatada pelos seus utilizadores(9), e os resultados de seleccionadas, que incluem um número desproporcio- alguns estudos efectuados com estudantes americanos nado de indivíduos que experimentaram efeitos positivos; têm de algum modo suportado a existência de alterações • os critérios de uso da droga ou de satisfação sexual são ao nível da sexualidade, estabelecendo uma relação raramente especificados; positiva entre o consumo de marijuana, por exemplo, e o • os utilizadores de marijuana são frequentemente tam- comportamento sexual (WELLER & HALIKAS, 1984). As bém utilizadores de álcool ou de outras substâncias, o conclusões vão geralmente no sentido de os sujeitos rela- que pode comprometer os resultados. tarem um aumento do interesse sexual e do prazer, com as Isto parece dar razão aos que sustentam que o produto mulheres a referirem um aumento do desejo e os homens em si não tem propriedades afrodisíacas directas, na me- um aumento do prazer (COHEN, 1982). Estas diferenças 45 entre os sexos podem corresponder, segundo WELLER e reciam em 75% dos homens e 90% das mulheres. HALIKAS (1984), a diferenças intrínsecas a cada um dos GAY & SHEPPARD (1972)(11) , por seu lado, referem que sexos relativamente à sua resposta sexual ou a diferenças 80% dos utilizadores de marijuana entrevistados referiam nas próprias expectativas sexuais entre os sexos. aumento do prazer, que associavam a uma maior cons- KAPLAN (1977) refere a existência de relatos que apon- ciência das sensações, a um relaxamento das inibições e tam para um aumento da sensualidade, uma maior recep- a uma maior empatia com o parceiro sexual. Este aspecto tividade do ponto de vista sexual e de um maior interesse da redução da inibição foi também encontrado por BILLS na actividade erótica, manifestando-se através de um & DUNCAN (1991), que num estudo com estudantes uni- abandono mais fácil à experiência sexual e por referên- versitários, com o objectivo de explorar as suas crenças cias a experiências orgásticas mais prolongados e com sobre os efeitos das drogas no funcionamento sexual, maior sensação de prazer. verificaram que 62.7% dos utilizadores de marijuana e WELLER e HALIKAS (1984), por outro lado, verificaram a 60% dos não utilizadores identificavam este aspecto co- existência de efeitos positivos ao nível do desejo e do mo estando associado à marijuana. desempenho, constatando que na população por si Com base num estudo efectuado com 1000 indivíduos de estudada quase todos os indivíduos usavam marijuana ambos os sexos, entre os 18 e os 35 anos, que utilizavam previamente à actividade sexual, incorporando muitos o a marijuana como um acompanhamento do sexo, consumo na preparação para as relações sexuais, como KOLODNY et al. (1979)(12) verificaram que 83% dos ho- se de uma rotina básica se tratasse, com cerca de mens e 81% das mulheres referiam que o seu consumo metade dos sujeitos a relatarem também que sentiam que melhorava a sua experiência sexual, surgindo esta melho- a marijuana tinha sobre eles um efeito afrodisíaco. 'ria associada não a um aumento do desejo sexual, a uma Tal vai ao encontro dos dados de GAY et al. (1977-78), que maior excitação sexual ou a orgasmos mais intensos, mas na população por si estudada puderam verificar que 2 em sim a experiências subjectivas de aumento da consciên- cada 5 sujeitos utilizavam a marijuana várias vezes por cia táctil, a um maior relaxamento e a uma maior empatia semana em conjunção com o sexo, ao mesmo tempo com o parceiro. que, quando questionados sobre a droga ou combinação No estudo de WELLER e HALIKAS (1984) já referido, os de drogas que utilizariam numa suposta situação sexual, autores verificaram que aproximadamente dois terços da sobre a droga que dariam a um parceiro se quisessem ter amostra relatavam um aumento do prazer e da satisfação a certeza de o satisfazer sexualmente ou sobre a droga sexual, sendo também referenciado um aumento da com maiores possibilidades de originar orgasmos múlti- qualidade do orgasmo e da duração da relação e um au- plos, a droga escolhida era a cannabis (e isto numa popu- mento da capacidade multiorgástica (embora esta última lação maioritariamente consumidora de heroína). relatada menos frequentemente). De interessante será no- BRILL & CHRISTIE (1974), constataram que a frequência tar o facto de cerca de metade dos sujeitos referir um média de relações sexuais aumentava com o aumento do aumento de desejo sexual com um parceiro familiar, con- uso da marijuana, ao mesmo tempo que 83% de consu- tra 43% dos homens e 13% das mulheres relativamente a midores de doses altas davam como resposta mais co- um parceiro não familiar, o que mais uma vez parece mum para os efeitos da marijuana o assinalar de um apontar para a importância de outros factores que não só aumento do prazer sexual. os farmacológicos e a que não será alheio o facto de os Num outro estudo envolvendo 60 homens e 37 mulheres consumidoras de cannabis, HALIKAS et al. 46 (1982)(10) sujeitos considerarem que a proximidade emocional e física era aumentada pelo efeito da marijuana. verificaram que 68% dos homens e 40% das mulheres NEWCOMB (1994), pelo contrário, no seu estudo com relatavam um aumento da qualidade do orgasmo, 39% casais, verificou que o consumo de cannabis levava as dos homens e 13% das mulheres falavam em aumento da mulheres a sentirem uma diminuição das preocupações e duração da relação, enquanto relatos de aumento dos do suporte por parte do companheiro e uma menor satis- sentimentos de prazer sexual e de satisfação sexual apa- fação na relação sexual. Parece também existir uma relação entre a dose con- de um aparente aumento dos parâmetros sexuais: as sumida e os efeitos sexuais obtidos, sendo que para sensações visuais, tácteis e auditivas podem ser amplia- doses altas se verifica uma diminuição da libido e da das pela cannabis e de algum modo sensualizadas, ao capacidade de desempenho, bem como uma diminuição mesmo tempo que se verifica também uma alteração na da agressividade sexual, o que talvez explique a sua percepção do tempo, com um aumento da sensação utilização na Índia por motivos religiosos, enquanto subjectiva deste, que pode em parte ser responsável pelo depressor da sexualidade (POWELL & FULLER, 1983). aumento relatado de satisfação coital, na medida em que Para doses moderadas, pelo contrário, parece verificar-se pode levar a uma sensação de maior duração deste e da um aumento da função sexual (BUFFUM, 1982). própria experiência orgástica; Segundo HOLLISTER (1975), a desinibição e as expec- • uma desinibição generalizada do comportamento, tativas desempenham o papel principal no consumo de devida a alterações do estado de consciência, e que doses pequenas, enquanto na utilização de doses maiores transposta para a área sexual pode permitir não só uma a diminuição de libido e da capacidade de desempenho maior receptividade sexual como o próprio envolvimento podem ter a ver com uma maior centração do sujeito no seu em actividades que, de outro modo, provocariam inibição interior, levando ao negligenciar do relacionamento inter- ou sentimentos de culpa em estado normal; pessoal que o sexo, enquanto relação a dois, requer. • aumento da ligação afectiva diádica, por perda dos A cannabis parece assim combinar os efeitos desinibidores constrangimentos emocionais devido à intoxicação e que do álcool com os efeitos moderadamente estimulante de podem levar a sentimentos de maior empatia e fusão; o outras drogas (KAPLAN, 1977; POWELL & FULLER, 1983). aumento da dose consumida pode levar mesmo a Contudo, não parece ser muito claro se o aumento do estados de auto-transcendência, em que a difusão do desejo que muitas vezes é relatado se deve à acção farma- ego pode ocorrer, contribuindo ainda mais para a expe- cológica ou às expectativas, sendo possível que as mudan- riência de fusão com o parceiro; ças na percepção do desejo sexual e do prazer estejam • a existência de fantasias sexualizadas de algum modo mais relacionadas com mudanças de nível perceptivo indu- aumentadas devido ao factor intoxicação, que podem zidas pelo consumo mais do que com efeitos específicos contribuir indirectamente para um aumento da sensação deste na libido (SEGRAVES, 1988b). Neste sentido os de desejo e prazer sexual; efeitos obtidos podem ser mais desinibitórios que excita- • o seu uso tende quase sempre a ocorrer em situações tórios, particularmente quando se diferencia entre prazer e circunstâncias relaxantes, o que pode facilitar a expres- subjectivo e prazer físico (POWELL & FULLER, 1982). são e o comportamento sexual; Parecem existir alguns factores explicativos para a • o próprio aumento de determinados parâmetros do associação entre o consumo de cannabis e um aumento comportamento sexual e o uso da cannabis podem ser do desejo ou prazer sexual (ROSEN & BECK, 1988; vistos como fazendo parte de um estilo de vida mais COHEN, 1982; JARVIK & BRECHER, 1977 (13)): orientado para a procura de sensações (BRILL & • as expectativas, as características que envolvem o con- CHRISTIE, 1974) e prazer físico, e não como uma relação sumo e a situação em que este ocorre são factores de causa-efeito, já que, segundo GOODE (1972)(14), determinantes mais importantes que os efeitos fisiológi- ambos são indicadores de envolvimento numa subcultura cos: as crenças veiculadas socialmente sobre o que a que é provavelmente mais tolerante face a todo um cannabis pode fazer para alterar a libido, o desempenho conjunto de valores não tradicionais, ao mesmo tempo e a gratificação sexual são certamente um componente que o consumo de cannabis pode representar um acto de significativo desta relação e que podem assim explicar o rebeldia e de ruptura com os padrões de moral dominante paradoxo de poder actuar simultaneamente como (SOLER INSA et al., 1981); neste sentido a “marijuana afrodisíaco e anafrodisíaco; does not create anew; it only activates what is latent” • alterações sensoriais que, transpostas para o campo da (GOODE, 1969)(15); actividade sexual, podem agir como factores contributivos • a possibilidade de alguns componentes da cannabis 47 terem um efeito estimulador directo em centros cerebrais que ou indutores do sono, podendo classificar-se, em termos controlam a actividade sexual (WELLER & HALIKAS, 1984). de abuso, em três grupos (CIRAULO & GREENBLATT, • a existência de um efeito placebo, dada a sua reputa- 1995): benzodiazepinas; barbitúricos; sedativos-hipnóticos ção afrodisíaca. com uso clínico limitado. Do ponto de vista endocrinológico a cannabis introduz Raramente se verifica o seu uso como drogas recreativas, também algumas alterações que podem ter implicações estando a maior parte das vezes associadas a outros tipos directas e significativas do ponto de vista do funciona- de drogas, nomeadamente heroína, cocaína e álcool, com mento sexual. Assim, inibe a produção de FSH/LH e da o objectivo de potenciar efeitos ou obter outros. prolactina, alterando também os níveis de testosterona, Contudo, a sua utilização em pequenas doses pode visar ao mesmo tempo que parece diminuir a espermatogé- o atingir de objectivos específicos, nomeadamente inten- nese e acompanhar-se de perturbações do ciclo ovulató- sificar a actividade sexual (pela indução de relaxamento e rio (NAHAS et al., 1988; RICHARD & SENON, 1995). Num de uma certa sensação moderada de euforia) e aumentar estudo efectuado com 17 homens sem história de uso de a “responsividade” e a função sexual, nomeadamente em drogas, de problemas hormonais ou patologia hepática, indivíduos com uma componente inibitória de fundo an- KOLODNY et al. (1974)(16) verificaram que após 5 sema- sioso (MASTERS et al., 1992; SADOCK, 1995; CIRAULO & nas de consumo diário 44% dos sujeitos apresentavam GREENBLATT, 1995), o que os torna sexualmente “irres- uma redução dos níveis de testosterona e 12% apre- ponsivos”, seja do ponto de vista excitatório seja do ponto sentavam-se como clinicamente estéreis, com 20% do de vista orgástico, ou sexualmente aversivos. O facto de total da amostra a apresentar uma impotência temporária. poderem também induzir alterações de consciência pode O consumo de altas doses a longo prazo parece também contribuir também para a sua associação com um au- ser responsável por uma diminuição do tamanho dos tes- mento do prazer sexual (SADOCK, 1995). tículos e da próstata, situação que se acredita ser reversível De qualquer modo, a sua actuação vai mais no sentido de com a manutenção da abstinência (WOODY & MAC- diminuir a capacidade de desempenho do que no sentido FADDEN, 1995), e pela possibilidade de aparecimento de de aumentá-la (HOLLISTER, 1975), podendo ser a causa de um quadro de ginecomastia (RICHARD & SENON, 1995). disfunções erécteis, anorgasmia e baixa do desejo sexual Nas mulheres o consumo pode também induzir alterações do (MASTERS et al., 1992; NEVID et al., 1995). O uso de algu- ciclo menstrual, com a supressão da hormona luteínica mas benzodiazepinas parece estar também associado a (progesterona) durante esta fase do ciclo (para o que parece problemas de ejaculação retardada no homem e a orgasmo bastar um simples cigarro de marijuana) (WOODY & retardado na mulher (SEGRAVES & SEGRAVES, 1992), bem MACFADDEN, 1995) e a possibilidade de existência de ciclos como a uma inibição da excitabilidade e das sensações anovulatórios, e produzir esterilidade temporária, sobretudo orgásticas na mulher (SEGRAVES, 1988a). em consumidoras crónicas, o que segundo POWELL e O processo de intoxicação aguda pode contudo desenca- FULLER (1983) coloca questões importantes sobretudo ao dear um processo de desinibição comportamental, que nível da adolescência, dada a instabilidade dos padrões pode surgir com uma expressão sexualizada, muitas vezes menstruais e ovulatórios características desta faixa etária. associada também a conteúdos agressivos ou hostis. Quanto à reversibilidade dos seus efeitos, ao nível da sexualidade, parece estar contingente, segundo POWELL e FULLER (1983), à relação do factor dose/duração do consumo. 3. Sedativos, Hipnóticos e Ansiolíticos Este tipo de drogas cobre um amplo espectro de agentes farmacológicos cuja acção se situa num continuum entre 48 os efeitos sedativos ou calmantes e os efeitos hipnóticos Paulo Alexandre Lorga Psicólogo Clínico CAT-Cedofeita/Porto Rua de Álvares Cabral, 328 4050 PORTO Telefs.: 2074990/1/2/3/4 E-mail: [email protected] Notas (*) Artigo adaptado e reelaborado a partir da tese de Mestrado do autor "Estudo Exploratório das Problemáticas Sexuais Numa População Toxicodependente". (2000), Dissertação de mestrado, Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho. (1) Referimo-nos aqui concretamente, por exemplo, à utilização dos conceitos de "impotência" e "frigidez", clinicamente inadequados mas ainda muito utilizados, mesmo entre os técnicos e os terapeutas ligados à sexologia e à terapia sexual. (2) Como o desejo, a excitação e o orgasmo, os quais por sua vez se podem perspectivar de um ponto de vista fisiológico e psicológico (na medida em que o comportamento sexual inclui não só mudanças do ponto de vista biológico mas também sentimentos subjectivos relacionados com cada um dos componentes da resposta sexual), a que se deve acrescentar igualmente a percepção geral de satisfação do sujeito face à sua resposta sexual. (3) Assim, a aparecerem perturbações ou dificuldades num dos componentes da resposta sexual, elas acabarão certamente por se repercutir, directa ou indirectamente, em cada um dos outros componentes, dada a sua integração e o impacto que as percepções do sujeito têm sobre o seu desempenho e o grau de satisfação sexual. Por outro lado, esta integração e interacção entre os diferentes componentes da resposta sexual pode vir a acabar ela própria por se revelar como mais uma dificuldade no momento da avaliação das causas e consequências primárias dessas mesmas causas, já que uma determinada disfunção vivenciada na actualidade pode ser vista e interpretada como uma reacção a outra disfunção primária e uma resposta do indivíduo a todo um conjunto de sentimentos e percepções suscitados por esta. (4) Talvez por tudo isto não seja assim de estranhar o encontrar de resultados por vezes díspares, senão mesmo contraditórios, ao menos na aparência. (5) Apesar de nos últimos anos os estudos sobre os comportamentos sexuais dos toxicodependentes se terem multiplicado, a maioria dos estudos está sobretudo virada para o estudo dos comportamentos de risco face ao HIV e não tanto para o estudo da sexualidade enquanto tal. (6) Ainda que discordando de alguma da terminologia empregue na literatura consultada (nomeadamente do conceito de impotência), optamos por a manter, quer por referência aos estudos consultados, quer pela não explicitação, a maior parte das vezes, do que com ela querem os autores significar. (7) Op.cit. BUFFUM (1982). (8) Op.cit. COHEN (1982). (9) Os próprios técnicos acabam também, eles próprios, por conferir um certo cariz afrodisíaco à cannabis. Senão, veja-se o inquérito levado a cabo junto de psiquiatras pela revista Medical Aspects of Human Sexuality, em 1978, e onde à questão “the use of marijuana prior to lovemaking tends to”, 52% respondiam que o seu efeito ia no sentido de um aumento do prazer ou do desempenho sexual. (10) Op.cit. BUFFUM (1982). (11) Op.cit. COHEN (1982). (12) Op. cit. MASTERS et al. (1992). (13) Op.cit. WELLER & HALIKAS (1984). (14) Op. cit. COHEN (1982). (15) Op.cit. WALTERS et al. (1972). (16) Op.cit. POWELL & FULLER (1983) e KATCHADOURIAN & LUNDE (1980). 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