CONTROVÉRSIAS E POSSIBILIDADES NA INCLUSÃO ESCOLAR DE PESSOAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAISESPECIAIS Vânia Teodoro da Silva Junqueira1 RESUMO O presente artigo tem por objetivos contextualizar a Educação Especial, desde os seus primórdios, até a atualidade, destacando-se alguns períodos de segregação histórica e restrição dos direitos de pessoas que apresentam deficiências. Pontua-se o crescente processo de exclusão social e escolar, que se desenvolve paralelo ao nascimento de novas concepções, pensamentos e ideais, sendo consideradas as implicações educacionais e pessoais, relativas à falta de oportunidades de convívio e participação. Destaca-se a premência da efetivação do processo de Inclusão Escolar do indivíduo com necessidades educacionais especiais, como elemento fundamental para se oportunizar o pleno desenvolvimento e o acesso aos bens e serviços comuns destinado a todos os cidadãos, amplamente garantidos pelas legislações vigentes. 1 Especialização em Educação Especial Generalista e Didática Geral, Pedagoga, Bacharel em Teologia, Graduando em Psicanálise. Palavras-chave: Deficiência, Educação Especial, Inclusão Escolar. FEASIBILITY AND CONTROVERSY IN THE SCHOOL INCLUSION OF PEOPLE WITH NECESSITIES EDUCATION SPECIAL ABSTRACT The present article has for objectives wholeness to study the Special Education, since its beginning, until the present time, being distinguish some periods of segregation and restriction historical the rights of disable people. Full description the increasing process of social and pertaining to school exclusion, that if develops parallel to the birth of new conceptions, thoughts and ideals, being considered the educational and personal, relative implications to the lack of chances of conviviality and participation. It is distinguish with utmost urgency of the to make permanent the process school Inclusion of the individual with educational necessities special, as basic element to let us give him a chance the full development and the access to the common goods and services destined to all the citizens, widely guaranteed for the effective in vigour body of law. Keywords: Disabled people, Special Education, School Inclusion. INTRODUÇÃO Atualmente, existe um movimento mundial para que se efetive a inclusão escolar de pessoas com deficiências. Debates, teses acadêmicas, artigos e legislações defendem que a verdadeira inclusão tem como objetivo a reunião, no mesmo ambiente educacional, de alunos que apresentam dificuldades (seja quais forem suas origens) com educandos que aprendem com facilidade. Todos, sem discriminação, devem participar e aprender, juntos, usufruindo de todos os benefícios (e também da precariedade) de uma instituição escolar. O fracasso histórico do sistema educacional demonstra que não são apenas as pessoas com necessidades educacionais especiais as grandes vítimas da exclusão, pois a mesma alcança uma abrangente parcela da população escolar, que apresenta dificuldades de aprendizagem devido a problemas familiares ou privações culturais e econômicas. Os fatores que desencadeiam o fracasso escolar são múltiplos e variados. No entanto o grupo que apresenta deficiências orgânicas são aqueles que têm suscitado maior resistência e insegurança quanto ao atendimento no ensino regular, por parte dos profissionais da educação. A despeito dos argumentos favoráveis e ‘politicamente corretos’, as pessoas deficientes ainda são situadas num mesmo patamar pela sociedade: o da incapacidade absoluta, sendo consideradas todas iguais, independente da deficiência e do nível real de comprometimento. A cegueira, a surdez, a paralisia cerebral, as síndromes recebem o unânime tratamento da ignorância, do preconceito, do desprezo ou da assistência. As pessoas, classificadas nos padrões vigentes de ‘normalidade’ consideram razoavelmente plausível proporcionar um tratamento diferenciado para as minorias, no que se refere à forma de viver, ao trabalho, ao lazer e à educação. O direito à convivência e ao acesso a bens comuns é inerente a todos os seres humanos, independente de suas limitações e/ou diferenças. O debate sobre a igualdade de direitos é um tema reincidente no cenário mundial. Nos primórdios das civilizações, podem ser encontrados resquícios de um desequilíbrio sócio-políticoeconômico, que clamavam por uma ação no sentido de solucionar as contradições. Aristóteles declarava que: “a igualdade consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais”. Rousseau, em 1755, escreveu um discurso sobre a desigualdade entre os homens. Os gregos preocupavam-se com o assunto e até o cristianismo traz referências ao mesmo em seus fundamentos. O século XVIII é o marco inicial para o reconhecimento de direitos e três princípios são citados como imprescindíveis à sobrevivência humana: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. A consolidação desses princípios na consciência dos homens aconteceu pela desigualdade entre aqueles que detinham muitos privilégios em visível contradição com o estado de miserabilidade em que a maioria vivia. Se as condições sociais e de acesso aos bens comuns pelas minorias sempre foram objetos de discussões cujas conseqüências foram praticamente nulas, a questão de atender às necessidades de pessoas com deficiência também recebeu semelhante tratamento, insignificante para que se alterasse a forma com que as mesmas seriam aceitas pela sociedade. Conquanto existam muitos avanços, no que concerne à redação de políticas públicas, infelizmente, as ações de investigação da Inclusão Escolar e suas nuances, são superiores ao compromisso de efetivação da prática inclusiva nos estabelecimentos oficiais de ensino. DA EDUCAÇÃO ESPECIAL À ESCOLA INCLUSIVA: CONQUISTAS E RETROCESSOS A negação de direitos primordiais verifica-se desde o início dos registros sobre a deficiência e sobre a educação em geral. No século XVII os deficientes eram afastados do ambiente social e familiar por meio de internações. Loucos, mendigos, vagabundos, prisioneiros, prostitutas e deficientes recebiam o mesmo tratamento: reclusão e isolamento. Na segunda metade do século XIX, ocorre o Movimento Higienista, cujos objetivos centravam-se na saúde pública, na tentativa de controle de epidemias. Nesse período houve a chegada da família real ao Brasil. Como a medicina na Europa era a ciência por excelência, esse conceito aportou no país juntamente com a realeza. As pessoas eram dispostas em locais pré-determinados, de acordo com sua classe social. A visão de que a deficiência seria um problema inerente à criança, anulava a perspectiva de que pudesse haver intervenções educativas. O diagnóstico rigoroso do transtorno era exigido, para que se pudesse situar as pessoas em níveis diferentes de ‘normalidade’, o qual determinava em qual escola iria estudar. Generalizou-se a opinião de que o trabalho educativo do aluno com algum prejuízo ou deficiência seria realizado em escolas especiais, fato que promoveu a expansão das instituições com esta finalidade. Os testes de QI (Quociente de Inteligência) eram os parâmetros que determinavam o melhor local de escolarização. Na passagem do século XIX para o século XX nascem as primeiras classes especiais, sob a égide da necessidade científica de separação dos alunos normais dos anormais. O médico era o cientista, planejador do urbano, que criou hospícios, transformou hospitais e clínicas em centros de cura. A família e a escola foram objetos do movimento higienista. As posições ambientalistas e behavioristas se fortalecem no campo das Ciências e, além de testes de QI, as influências sociais e culturais tornam-se elementos representativos da deficiência. Noções de adaptação social e de aprendizagem reforçam as possibilidades de intervenção. As Escolas Especiais continuam ampliando seu atendimento. Muitas das práticas, desenvolvidas na contemporaneidade, têm suas raízes fundadas nas primeiras percepções da sociedade em relação a esse grupo de pessoas, fortalecendo mitos e estereótipos acerca de suas limitações e possibilidades. A organização da Educação Especial sempre esteve determinada por um critério básico: a definição de um grupo de sujeitos que, por inúmeras razões, não corresponde à expectativa de normalidade ditada pelos padrões sociais vigentes. Assim, ao longo da história, ela constitui uma área da educação destinada a apresentar respostas educativas a alguns alunos, ou seja, àqueles que, supostamente, não apresentariam possibilidades de aprendizagem no coletivo das classes comuns, que foram, entre outras denominações estigmatizantes, rotulados como excepcionais, retardados, deficientes... Essa concepção que motivou a sua natureza de atendimento esteve, portanto, vinculada a um movimento social de sistematização de práticas de disciplinamento relacionadas à ‘caracterização’ dos indivíduos (loucos, marginais, doentes mentais, deficientes), a fim de enquadrá-los em categorias que facilitariam seu tratamento. Essa situação remete à questão histórica dos diagnósticos e prognósticos que, muitas vezes, perpetuaram-se como práticas de exclusão social (PARANÁ, 2006, p.17). Com o advento do Positivismo, a escola adquiriu um cunho disciplinador. A elite não tinha meios para educar os filhos e a medicina tomou a si esse encargo, por dois motivos principais: o despreparo dos mestres e a impossibilidade familiar em assumir tal responsabilidade. Permaneceram as concepções higienistas para a educação, no sentido de adequação e disciplinarização, seguindo o modelo europeu. A higiene forneceu os primeiros protótipos de escola instituída em padrões médicos. O movimento higienista retirou da esfera privada, família e religião, a responsabilidade da educação das crianças da elite. Principia-se, então, a consolidação do conceito de que a homogeneidade oferta a garantia de aprendizagem. A organização de salas de aula neste critério era admitida como uma medida racional e produtiva. À época, a separação das crianças era considerada humanitária, baseada em uma pedagogia científica e eugênica. Desde a segunda metade de 1800 até 1900, o caráter de atendimento assistencial e filantrópico tinha por finalidade a proteção dos membros da sociedade, por meio da reclusão dos ‘anormais’. No Brasil, com a Proclamação da República, a clientela escolar passa a abranger a população em geral, com a adesão da Psicologia e Sociologia como ciências cuja incumbência seria a instrumentalização da educação. A Psicologia rotulou, classificou, mediu a capacidade e concretizou a distinção das pessoas deficientes em níveis diferentes, porém ainda com atendimento institucionalizado. A concepção médico-pedagógico da deficiência fortaleceu-se, no que se refere à busca da cura e da adequação. Acontece o processo de retirada do desvio do contexto escolar. Nessa ocasião a terminologia ‘deficiência mental leve’ é construída, através de sua detecção na escola. Casos diagnosticados como severos e moderados encontram-se confinados nos manicômios. Em 1854 criam-se duas instituições para atendimento aos cegos e surdos. Na década de 1920, começam a funcionar as instituições especiais, como um sistema paralelo de ensino. Quando se desenvolveu a preocupação com a Educação de pessoas deficientes, paralelamente criou-se o termo ‘ Educação Especial’, estimulando a organização de entidades assistenciais para esse atendimento. A Educação Especial constituiu-se fora do ensino regular. Houve um movimento em torno da avaliação classificação e segregação dos desvios. A escola especial deveria cumprir função dupla: educar, enquanto tentava normalizar o sujeito. As classes especiais não atendem à demanda. Faz-se uma menção ao currículo escolar e acontece o favorecimento da iniciativa privada para a ‘educação’ dos deficientes, com a abertura de entidades assistenciais de caráter filantrópico (responsável atualmente por 80% do atendimento). Os ‘alunos’ dessas instituições são oriundos da psiquiatria e do sistema regular de ensino. A partir de 1934 a legislação brasileira não apresenta um sistema educacional para as pessoas com deficiências. Toda verba que poderia destinar-se para o ensino especial é direcionado para entidades de cunho beneficente. A partir desta fase JANNUZZI (2004) expõe: ...vamos percebendo a mudança de atuação, a penetração de teorias de aprendizagem psicológicas que passam a influenciar fortemente a educação, seja a geral, seja a relacionada aos deficientes. Seria a concepção Psicopedagógica. É a época do movimento conhecido como Escola Nova, que vai enfatizar a importância da escola e nela a ênfase nos métodos e nas técnicas de ensino. Se no início da República a escola é ressaltada pela possibilidade de participação política, direito ao voto, o “entusiasmo pela educação”, depois ela passa a ser considerada a redentora, a solucionadora dos nossos problemas sociais, num “otimismo pedagógico” (p.10). A partir de 1960, a Educação Especial principia profundas transformações, em vários países, devido a alguns fatores: A percepção de que o déficit não apresenta perfis clínicos estáveis, mas que o sistema educacional pode favorecer o desenvolvimento e a aprendizagem. Nesse período, nasce a terminologia “necessidades educativas especiais”. O papel ativo do educando em seu aprendizado fica evidente e o processo de ensino converte-se numa experiência compartilhada, porém individualizada, suscitada pela observação de que os alunos de uma mesma sala de aula enfrentam de maneiras distintas as situações de aprendizagem. A avaliação psicométrica passa a ter outros instrumentos paralelos, para detecção das potencialidades de aprendizagem de alunos com deficiências, relacionados ao currículo e à orientação da prática educativa. A educação torna-se obrigatória e essa particularidade, com o conseqüente aumento da heterogeneidade da clientela, desafia a escola a ofertar um ensino generalizado, que atendesse à diversidade presente em sala de aula. Questiona-se, nessa ocasião, qual seria o real objetivo da escola. O abandono escolar assume proporções alarmantes, ocasionados por fatores sociais, culturais e educativos. As fronteiras entre normalidade, fracasso e desistência são reformuladas. As Escolas de Educação Especial são avaliadas e sua função repensada, conquanto seus resultados sejam insignificantes e as expectativas de evolução dos seus alunos sejam quase nulas. A noção de que possa existir alguma outra forma de escolarização começa a se instaurar. Algumas experiências de Integração (teoria, nascida na Dinamarca, incorporada na legislação em 1959, que tinha por objetivo “criar condições de vida para a pessoa retardada mental semelhantes, tanto quanto possível, às condições normais da sociedade em que vive”, in: JANNUZZI, 2004) em vários países propagam uma atmosfera favorável a esse modelo de educação. COLL, MARCHESI e PALACIOS (2004) explicam: As formulações integradoras e normalizadoras estendem-se a todos os serviços sociais. Algumas de suas manifestações podem ser encontradas na aproximação dos atendimentos médicos, psicológicos e educacionais nos locais de residência dos cidadãos, na importância cada vez maior que se atribui aos fatores ambientais, no papel crescente dos serviços próprios da comunidade, dos quais participam também homens e mulheres voluntários, e na relevância do enfoque comunitário nas diferentes disciplinas relacionadas à saúde. Tudo isso conta a favor de que todos os cidadãos se beneficiem igualmente dos serviços, o que supõe evitar que haja sistemas paralelos que diferenciem alguns poucos da maioria (p.19). Desperta a sensibilidade, em geral, pela defesa dos direitos das minorias e por sua integração à sociedade. Grupos sociais assumem a bandeira em desfavorecidos raciais, culturais e lingüísticos. prol dos Esses elementos contribuíram para a difusão de uma nova maneira de se entender a deficiência, sob uma perspectiva educacional. No sistema educacional brasileiro, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) 4024/61 defendia o pensamento de que a Educação dos deficientes deveria enquadrar-se no sistema geral de ensino. Neste momento da história, é garantido apoio financeiro, com verbas públicas, às instituições particulares para atendimento aos deficientes, com isenção do estado das responsabilidades com esse alunado. Publicações oficiais esclarecem: De maneira inovadora, destinava um título à Educação Especial, com menção à oferta de serviços educacionais aos portadores de deficiência [sic], “dentro do possível no ensino regular”, integrando-os, pela primeira vez em um texto de diretrizes da educação nacional, como um grupoalvo das políticas do Estado. Ainda que estivesse expressa a intenção do atendimento na rede pública regular, no mesmo texto, resguardava-se o incentivo financeiro às instituições particulares que ofertassem esses serviços, convalidando ações que já ocorriam, havia quase uma década, com a criação da Sociedade Pestalozzi e das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apaes) (PARANÀ, 2006, p.22). Na Emenda Constitucional de 1969 encontra-se a primeira ação no sentido de proteger as pessoas com deficiências. Constituições posteriores também abordam este tema. A LDB 5692/71 pondera sobre a necessidade de profissionalização desse segmento social e os caracteriza como alunos com deficiências físicas ou mentais e aqueles que se encontram em atraso quanto à idade regular de matrícula. O impulso para a educação era vinculá-la ao desenvolvimento econômico do país, portanto a concepção era: A escola como necessária à produção, produtora de “recursos humanos”, entendidos como mão-de-obra. A educação passa a ser vinculada diretamente ao setor produtivo. Esta posição, iniciada com Adam Smith (1723-1790), ganhou relevo entre nós nas décadas de 1960-1970 através da economia da educação. A escola “prepara”, desenvolve o “capital humano”, a “força do trabalho” que deve ser “investida no setor produtivo” (Rodrigues, 1982). O mercado passa a ser seu objetivo último. E isso é acentuado em diversos textos oficiais. Assim o Plano Setorial de Educação e Cultura explicitava: “Enquanto não se puder abrir largamente as portas da educação a cada um, o interesse nacional recomenda que se favoreça a ascensão cultural dos mais talentosos, os mais capazes de mobilizar a ciência e a técnica em favor do progresso social. O único bem que nação alguma está em com condições de desperdiçar é o talento de seus filhos”. E continuava: “Mas o mesmo interesse social exige que se eduquem os deficientes, no sentido de torná-los, quanto possível, participantes de atividades produtivas”. E num rasgo de generosidade acrescentava: “E, nesse caso, o interesse fala mais baixo que os reclamos da eqüidade e da justiça” (MEC/SG, 1971, p. 16, apud JANNUZZI, 2004, p. 13). Ocorre, então, a expansão da exclusão escolar e o inchaço das classes especiais. Legitima-se a transformação das crianças com problemas de aprendizagem em deficientes. Tais alunos foram alvos dos discursos de integração e inclusão das décadas de 70 e 80. A aniquilação dos conteúdos pedagógicos no processo educacional dos deficientes subsiste até a década de 1970. A Constituição de 1988 proclama a igualdade de direitos para todos os cidadãos. Entretanto, a concepção de tratar o desigual de acordo com suas diferenças foi histórica e constantemente aperfeiçoada, arraigando no imaginário social e individual atitudes discriminatórias e de exclusão de direitos. Com as discussões desencadeadas durante a elaboração da Constituição, em 1996, a nova redação da LDB foi aprovada e considerada uma conquista na defesa dos direitos dos deficientes, por apresentar um capítulo específico sobre a Educação Especial. Neste destaca-se a concepção de que alunos com deficiências devem receber atendimento educacional, preferencialmente na rede regular de ensino, com currículos, métodos, técnicas, recursos e organização específicos. Acrescenta que o cidadão não tem garantido apenas o direito à educação, bem como a possibilidade de exigir seu cumprimento, de forma legal, individualmente ou por decisão coletiva. Porém, a forma como a lei é redigida promove uma flexibilidade indesejável, com possibilidades de ser interpretada erroneamente, inclusive para que a Educação Especial tenha sua continuidade, quase que exclusivamente, em instituições segregativas. No entanto, tornou-se exeqüível (em tese) a inserção de alunos com deficiências na rede pública. O Plano Nacional de Educação (2001) apresenta como metas o desenvolvimento e ampliação de programas educacionais, a parceria com áreas de saúde e assistência social, a implementação de ações preventivas das deficiências, o atendimento aos alunos na Educação Infantil e Ensino Fundamental, o atendimento na rede regular de ensino, em classes ou escolas especiais e a educação e formação continuada dos professores. A redação deste documento foi utilizada para reafirmar a provisão da Educação do aluno deficiente em instituições segregativas. Também no ano de 2001, as Diretrizes para a Educação Especial citam, pela primeira vez, a inclusão. LAPLANE (2006) explica que: As Diretrizes destacam o surgimento de uma nova mentalidade (Brasil, 2001, p. 8) e assumem como princípios: o direito à dignidade, à busca de identidade e o exercício da cidadania (p. 9). A noção de inclusão é objeto de nova elaboração, enfatizando-se que ela não é um mero mecanismo, mas requer a revisão de concepções e paradigmas (p. 12). A discussão interna sobre a função social da escola, a construção de um projeto pedagógico que privilegie práticas heterogêneas e o protagonismo dos professores são vistos como chaves para a inclusão. Os sistemas escolares são instados a assegurar a matrícula de todos os alunos e a organizar-se para atendê-los. Devem oferecer os recursos pedagógicos necessários e capacitar profissionais para atender às demandas dos alunos (p. 12). A política inclusiva exige a intensificação da formação de recursos humanos, a garantia de recursos financeiros e de apoio pedagógico e o exercício da descentralização do poder. Deverão ser criados sistemas de informação que permitam a avaliação das condições reais para a inclusão e o conhecimento da demanda, assim como a identificação, análise, divulgação e intercâmbio de experiências educacionais inclusivas (p. 13). A capacitação dos professores e a flexibilização do currículo são fatores que colaborarão para o sucesso da política inclusiva. No que se refere aos aspectos pedagógicos, as escolas devem avaliar os alunos e prover serviços e apoios requeridos. O atendimento fora da sala de aula regular será considerado como recurso extraordinário e temporário, a não ser nos casos que necessitem de atendimento especial contínuo, que poderão ser encaminhados para escolas especiais (públicas ou privadas) (Online). Entretanto, persiste o pensamento coletivo na comunidade de que o Atendimento educacional Especializado ou a Educação Especial é uma forma válida de promover o ‘ensino diferente’ para pessoas deficientes. Seus adeptos e defensores justificam que dessa maneira, está sendo garantido o direito à igualdade, porque estão recebendo ‘algum tipo de educação’. Esse acesso ao ensino, determinado pelas possibilidades visíveis, apregoado pelas Escolas Especiais, é insuficiente para atender ao que preconizam as constituições, tratados e convenções, por não promoverem o pleno gozo e exercício da cidadania. BAPTISTA (2008) explica que: No que se refere ao plano pedagógico, muitas dessas instituições têm a escolarização como uma meta secundária, pois inexistem exigências de metas específicas quanto à trajetória escolar de seus alunos e, freqüentemente, somam-se as precariedades profissionais em seu interior.{...} Vale lembrar que aos olhos da comunidade (nós somos a comunidade!) trata-se de alunos para os quais o pouco parece muito, pois predomina a idéia que dificilmente chegarão a ocupar espaços sociais relevantes (p.207). O Atendimento Educacional Especializado por não ter suas ações explicitadas em lei, permanece sendo utilizado como um reforço escolar ou como uma opção para a continuidade do trabalho com foco essencialmente clínico. No ano de 2007, um debate sobre a Política Nacional de Educação Especial propôs a revisão dos princípios orientadores dessa área. A conclusão foi de que se deve engendrar uma retomada crítica da dimensão ‘preferencial’ da inclusão escolar, preconizadas pelos documentos legais brasileiros. Segundo esse debate, as escolas devem assumir a responsabilidade pela escolarização dos alunos com necessidades educacionais especiais e as escolas especiais passariam a ter um papel complementar para o aluno e para a formação de educadores. Os deficientes, apesar de todo avanço, continuam sendo obrigados a aceitarem os atendimentos que são impostos, sem terem oportunidades de emitir opinião própria sobre aquilo que gostariam que lhes fosse ofertado. Todas as ações em prol dos direitos de pessoas com deficiências não têm logrado êxito em assegurar um dos direitos básicos de todo cidadão: o acesso, a permanência e a assimilação de conteúdos da Educação Formal. A sociedade, historicamente e por suas ações, perpetua uma cultura de seleção e classificação dos seres humanos, segundo critérios pré-concebidos e sem fundamentação coerente que os justifique. Existem grupos de referência aos quais se exige que o deficiente se adapte. Nessa perspectiva, o sujeito ‘ diferente’ é impedido de assumir uma posição atuante no ambiente que o cerca, pois suas limitações são os elementos que definem a sua (in) capacidade. Forças culturais, historicamente construídas, valorização excessiva de padrões uniformes para usufruto dos serviços públicos exercem pressão para que o deficiente se enquadre nos modelos designados como apropriados e desejáveis. A manutenção de tais conceitos reforça a continuidade da educação assistencial em instituições, onde a ‘diferença’ é o foco central do atendimento e o trabalho desenvolvido consiste em ações de caráter clínico e restritivo. A freqüência a uma Escola Especial produz uma marca indelével na vida do ser humano, cerceando todas as suas oportunidades de desenvolvimento. O estigma é tão intenso, que atinge até mesmo os profissionais que trabalham nessas instituições, vítimas secundárias da rejeição social entre seus pares. A visão, de uma parcela expressiva da população, é a de que professores especializados possuem conhecimentos superficiais dos conteúdos das escolas regulares e, inclusive, da cultura em geral. Despreza-se o fato de que a maioria desses professores aprofundou-se nessa área, após terem cursado as várias etapas e modalidades de ensino, pelas quais passam os demais educadores, sendo a Especialização em Educação Especial apenas um atributo adicional em sua formação profissional. Entretanto, como mais uma comprovação de que o meio exerce influências (positivas e/ou negativas), infelizmente alguns profissionais dessa especialidade estagnam em suas formações iniciais, desconsiderando pressupostos básicos da educação e abandonando o aperfeiçoamento contínuo, que suas funções exigem. Estes ‘educadores’ assumem posições antagônicas ao processo de Inclusão Escolar. Como não evoluíram em suas concepções, acreditam piamente na impossibilidade de adaptação e benefícios para seus alunos especiais no acesso ao ensino ofertado pelas instituições regulares pormenorizados sobre de a ensino. Constroem incapacidade, mesmo argumentos quando tais educandos, a despeito do ambiente restritivo, estejam apropriando-se de todo conteúdo que lhes é ministrado e apresentem relações interpessoais muito satisfatórias, dentro e fora do recinto escolar. A convivência que homogeneíza o deficiente, em classes e escolas especiais, contribui negativamente para o desenvolvimento como pessoa, porque a aprendizagem ocorre somente através dos desafios que são constituintes do recinto escolar. Participar de uma ambiente onde seus limites são ‘respeitados’ e as atividades ‘propostas de acordo com a capacidade individual’ contribui, perniciosamente, para que toda capacidade de aprendizado se atrofie. O mundo, por sua própria constituição, não é homogêneo nem padronizado, composto por indivíduos produzidos em série. A igualdade apregoada por certos segmentos, neste sentido, é injusta, pois os diferentes não podem ser tratados de maneira igual. Cada indivíduo tem qualidades e necessidades singulares que precisam de atendimentos específicos. Toda a raça humana apresenta qualidades, defeitos e alguma dificuldade, que são constitutivos de cada personalidade. Nestes parâmetros, o sujeito que apresenta alguma deficiência é apenas mais um cidadão, semelhante a todos por também apresentar características respectivas. O fato de ser deficiente não torna o sujeito pior, ou melhor, do que seus semelhantes, pois o mesmo é apenas mais uma pessoa na intrincada rede de relações sociais diversificadas da humanidade. Apesar de suas ‘limitações’, ele existe, tem sentimentos, pensa e é criativo, como qualquer pessoa do planeta. Portanto, a tarefa de toda equipe escolar é oferecer auxílios, suportes e meios para que essa pessoa consiga demonstrar todo o seu potencial. A compreensão, a solidariedade sem paternalismo, o entendimento das implicações da deficiência e o respeito aos direitos não é uma concessão complacente, mas uma questão de Ética e Justiça. A Inclusão Escolar é um direito inalienável apoiado por políticas públicas que devem sustentar, ainda, todo processo inclusivo. Texto publicado, em janeiro de 2008, pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) declara que: O movimento mundial pela inclusão é uma ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação. A educação inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis, e que avança em relação à idéia de eqüidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora da escola. Ao reconhecer que as dificuldades enfrentadas nos sistemas de ensino evidenciam a necessidade de confrontar as práticas discriminatórias e criar alternativas para superá-las, a educação inclusiva assume espaço central no debate acerca da sociedade contemporânea e do papel da escola na superação da lógica da exclusão. A partir dos referenciais para a construção de sistemas educacionais inclusivos, a organização de escolas e classes especiais passa a ser repensada, implicando uma mudança estrutural e cultural da escola para que todos os alunos tenham suas especificidades atendidas (Online). Atendendo ao disposto em muitos artigos na legislação, algumas escolas garantem o acesso e a permanência de alunos com necessidades educacionais especiais em classe comum. Contudo, o conceito e a efetivação da Inclusão Escolar são muito mais abrangentes do que a simples inserção do aluno deficiente numa sala de aula. O direito de TODOS à educação apresenta especificidades que necessitam ser contempladas. A aprendizagem deste educando, a apropriação dos conteúdos historicamente construídos, a participação significativa no processo educacional não são garantidos no momento da matrícula. No entanto, tais elementos são requisitos essenciais para que a Inclusão possa acontecer de fato. A pessoa que freqüenta apenas uma sala especial de uma escola regular não deve ser considerada, para efeitos de estatísticas, como um aluno incluído, não obstante todo discurso favorável da equipe que o circunda no recinto escolar. Pesquisas têm demonstrado que muitos alunos são recebidos nas escolas regulares e permanecem esquecidos, alienados do conhecimento, sem nenhum investimento em sua participação e desenvolvimento, com serviços pedagógicos ineficientes. A pretensa ‘socialização’ dos alunos incluídos não exige construções cognitivas e compreensão das relações interpessoais. O que acontece, na realidade, é a tolerância forçada da presença, estabilizando-se a segregação, mesmo em ambiente escolar comum. Estatísticas veiculadas no meio educacional enunciam que a inclusão já é uma realidade. Entretanto, um exame mais acurado da situação revela que a maior porcentagem de ‘alunos incluídos’ consiste de educandos que fogem às regras estabelecidas, geralmente por um quadro de hiperatividade. O diagnóstico dessas crianças é realizado até mesmo por professores, estressados pelas condições de trabalho e ansiosos por libertarem-se de uma realidade que consideram não ser de sua competência administrar. Alunos com deficiências orgânicas permanecem recebendo atendimento em escolas especializadas. Não obstante haja um progresso expressivo na caminhada pela Inclusão, as possibilidades de desenvolvimento educacional desses educandos permanecem desconhecidas, pois o diagnóstico inicial influencia todo o ensino de caráter restritivo destinado a essas pessoas. As barreiras impostas, a partir do momento do diagnóstico de deficiência, são determinantes do curso total da vida familiar, social e educacional do indivíduo. O impedimento à participação no ambiente escolar regular, limita suas possibilidades, ao privar de contatos que podem estimular todo desenvolvimento psíquico, social, emocional e cognitivo. Pesquisadores pontuam que os fatores que promovem o crescimento e a maturação individual de qualquer ser humano, independente de características particulares, são as experiências vividas, por meio de suas relações sociais. O processo de assimilação de conhecimentos não flui naturalmente, sendo um elemento inato, mas é fruto de intervenções externas ao indivíduo, das relações humanas, mediadas por evoluções e transformações sociais. A relação com o outro permite o uso e criação de signos e instrumentos. Há uma multiplicidade de influências que determinam o grau de desenvolvimento. As instituições de ensino, enquanto espaço de conflito e contradições, detém um papel insubstituível na evolução dos indivíduos em sociedades escolarizadas. Todo entorno influencia a aquisição de habilidades, do nascimento até morte, porém, para o deficiente, o diagnóstico torna-se uma condenação perpétua ao distanciamento das pessoas ‘normais’. A sociedade não reconhece a deficiência como sendo mais um atributo da pessoa e que, necessariamente, não compõe um empecilho intransponível à construção de relacionamentos sociais e conhecimentos significativos, similares àqueles que se sucedem na vivência de qualquer pessoa. Exemplo disso, são as pessoas com deficiências, principalmente no meio rural, que nunca receberam um diagnóstico e suas diferenças não foram percebidas por aqueles que as circundavam. Sua sobrevivência ocorreu de maneira análoga ao de seus pares, com os quais, cresceu e se desenvolveu, sendo um sujeito atuante, tratado como alguém cuja participação não era questionada, mas solicitada. São pessoas que tiveram uma vida absolutamente igual à de seus semelhantes, muitos até constituindo família. Para este, se fosse citada a sua ‘diferença’, em relação ao restante dos seres humanos de seu entorno, certamente essa alegação causaria espanto. Tais acontecimentos sinalizam para a capacidade natural de evolução de todo ser humano. Um discurso recorrente entre educadores de alunos especiais refere-se à facilidade com que esses aprendem aquilo que é socialmente incorreto, assimilando hábitos e costumes de outros educandos. Se tais alunos estivessem na escola regular, provavelmente direcionariam essa habilidade imitativa para a aprendizagem de conhecimentos históricos, além de que suas condutas teriam modelos socialmente “adequados’. Contrariando os argumentos sobre a inviabilidade da inclusão, existem outros exemplos de investigação que apontam para as possibilidades: um deles direcionado a adultos com síndrome de Down, que fizeram todo percurso escolar até o ensino superior e, em razão dessa trajetória, apresentam autonomia de vida e capacidade de gerir processos ligados à dimensão cognitivas e às relações pessoais (BAPTISTA, 2008). As escolas regulares, em sua esmagadora maioria, eximemse de suas responsabilidades com a transformação das práticas tradicionais e obsoletas, a despeito do fracasso e evasão crescentes dos educandos considerados ‘normais’. Essa situação de ineficiência do sistema é amplamente utilizada como desculpa para manter a deficiência ‘num ambiente específico em que os educandos recebam atenção especializada’. As dificuldades na vida escolar, geralmente, são atribuídas às falhas do sujeito e jamais consideradas como conseqüência lógica de um falido e precário sistema educacional, que necessita urgentemente de uma revisão em suas estruturas. As características da escola são fatores determinantes que podem promover o aprendizado ou desencadear problemas cognitivos. O ambiente competitivo e classificatório precisa ser banido da escola regular para que a mesma atenda aos preceitos da Constituição de 1988 e a LDB de 1996, onde a condição humana e a preparação emocional são requisitos indispensáveis para a eficácia do ensino destinado a todos, sem acepção. Neste sentido, o conteúdo curricular é essencial, desde que seja ministrado a todos. Cabe esclarecer que não se pode construir uma ‘classe especial’ para alunos regulares. Portanto, há necessidade de preocupar-se em não nivelar os conteúdos à presumida (in) capacidade de alunos incluídos (fato que é um pilar na Educação Especial). Um aluno incluído e/ou com problemas de aprendizagem demanda respostas educativas específicas: recursos de adaptação, diversificação de metodologia, comprometimento dos profissionais com suas próprias atribuições, critérios de avaliação diferenciados, materiais curriculares. Na contramão da Inclusão Escolar, a legislação pressupõe a autonomia e a capacidade do sistema educacional em atender a todos os alunos. O texto de Políticas Públicas contempla expressões que delegam às escolas uma superação mística de seus problemas. Atribuem ao sistema uma ‘qualidade’ irreal, capaz de atender com eficácia a diversidade nas salas de aula. A idéia de flexibilidade curricular traz em si duas conotações: a possibilidade de diversificação das atividades para apropriação de um mesmo conteúdo por todos; e o grande equívoco que tem surgido no meio educacional: o empobrecimento e seleção daqueles considerados apropriados para alunos sem condições de aprendizagem. O despreparo alegado pelos professores também é perpetuado e não se observa nenhum movimento no sentido de alterarem-se as condições antecipadamente pressupõem que orientados do sistema. pelo características Os princípio educadores do genéticas, estão preconceito psicológicas e e comportamentais formam uma barreira intransponível e definitiva para o desenvolvimento e apreensão de conceitos. A formação dos profissionais continua alicerçada no aluno ideal, que aprende com fórmulas prontas, disciplinado e perfeitamente ajustado aquilo que lhe é disponibilizado. Todo professor precisa saber que, segundo neurologistas, a inteligência não vem do neurônio, aquilo que a forma é a quantidade de informações que pessoa recebe; aprender é um assunto do cérebro, que tem regras próprias de funcionamento, que não são determinadas pela discriminação. A tradição histórica de separação entre ensino regular e o especial deve ser rompido e estimular a articulação entre os profissionais de ambos os contextos educacionais, para que se promova uma educação realmente destinada a todos. A reorganização escolar e a interface entre atendimento comum e especializado repercutirão em benefícios mútuos, pela troca de experiências e valorização do conhecimento acumulado em cada área de atuação. A efetivação da Inclusão Escolar trará consigo muitas questões, que deverão ser enfrentadas por pais, professores, pesquisadores e pela comunidade em geral: Ampliação das controvérsias e oposições; Expansão da demanda por recursos e apoios específicos, cujo fornecimento pelos órgãos competentes é previsto em lei; Percepção da necessidade de comprometimento individual do educador; O engajamento do educador na contínua reflexão sobre a própria atuação; Reformulação do sistema educacional de forma global, incluindo-se a adoção de novas metodologias de trabalho e critérios de avaliação escolar; Reconhecimento de que é imprescindível o envolvimento coletivo da equipe escolar e de órgãos oficiais, posto que o processo não pode ser concretizado pela ação isolada de um único e solitário professor; Retorno ao principal objetivo da educação, qual seja: a apropriação de conhecimentos formais, historicamente produzidos pela humanidade; A percepção de que a inclusão não reduz o espectro da deficiência e suas conseqüências reais: as limitações orgânicas e funcionais existem e não se pode exigir dos profissionais que as ignorem transferindo suas concepções do fenômeno educacional para uma outra ilusória, onde todos os problemas solucionam-se por si mesmos; Aceitação da realidade efetiva de que nem todos os alunos corresponderão às expectativas criadas hipoteticamente. Nas Diretrizes para a Educação Especial do Estado do Paraná, encontra-se o seguinte: A compreensão da Educação Especial como modalidade que dialoga e compartilha os mesmos princípios e práticas da educação geral é recente e exige das famílias, alunos, profissionais da educação e gestores das políticas públicas um novo olhar sobre o aluno com necessidades educacionais especiais. Buscamos um novo olhar em que valores como compreensão, solidariedade e crença no potencial humano superem atitudes de preconceito e discriminação em relação às diferenças. Convidamos a um novo olhar que inspire a educação na e para a diversidade, em que currículos que marginalizam as diferenças dêem espaço à construção de práticas curriculares calcadas no compromisso com a pluralidade das manifestações humanas presentes nas relações cotidianas da escola. No entanto, a construção dessa nova ética social é um processo complexo e de longo prazo. Envolve mobilização coletiva pois é assim que se provocam mudanças sociais. Nesse percurso, exige-se disposição para dialogar, confrontar idéias e valores, compartilhar experiências, articular ações e não negar, jamais, o passado. Não neguemos a construção histórica que possibilita, atualmente, vislumbrar novos caminhos, refletir sobre erros e acertos e propor alternativas para superação de práticas que não mais respondam às necessidades sociais (p.09). Alunos que forem incluídos podem jamais vir a atingir a ‘normalidade’, culturalmente reconhecida como tal. No entanto, seus padrões de conduta, suas dimensões cognitivas, sua capacidade de interação nas relações pessoais atingirão o máximo de desenvolvimento, propiciando uma semelhança real com sua geração. O que se propõe é uma abertura que permita ver a pessoa, além da deficiência, e que se considere todo um contexto onde esse sujeito será educado. O tipo de educação oferecida pode originar, manter, intensificar ou amenizar dificuldades e diferenças. CONCLUSÃO A palavra ‘Inclusão’, por si só, já se apresenta carregada de preconceitos. Porém, incluir é necessário, pois o recinto escolar, com todas as suas peculiaridades representa o espaço de preparação real para a vida. Há que se dirimir a resistência de pais, professores e demais profissionais da educação regular, cujos argumentos são pautados pelo desconhecimento das reais possibilidades de aprendizagem e participação das pessoas com deficiências da vida escolar. O conformismo e acomodação são, entre outros fatores, alvos que precisam de extinção imediata no meio educacional para que a Inclusão seja uma realidade. Profissionais comprometidos com seu trabalho precisam se aprimorar, buscar aperfeiçoamento contínuo e informações pertinentes às variadas deficiências e o real significado das mesmas na vida do indivíduo. O conhecimento traz consigo uma nova visão e minimiza os receios de tratar com as diferenças. O aluno com deficiências necessita de condições específicas para sua aprendizagem e desenvolvimento que podem ser oferecidas pela escola regular. A participação não segregada produz auto-estima e influi diretamente nos resultados acadêmicos dos educandos com necessidades educacionais especiais. O envolvimento com a própria geração gera oportunidades insubstituíveis de relações em contexto propiciador de aprendizagem e transformação. A escola tem uma função social que somente pode ser cumprida em seu contexto, sendo constitutiva do sujeito, independente de sua qualidade. O atendimento educacional especializado, numa nova perspectiva, tornar-se-á uma das condições para o sucesso da Inclusão Escolar de alunos especiais, podendo transformar-se num recurso adicional para o processo de ensino-aprendizagem, por disponibilizar conhecimentos e apoios para a superação das barreiras impostas pela condição de deficiência. Modifica-se, dessa maneira, sua função de opção exclusiva para a educação dos deficientes, que fere o princípio de igualdade, para tornar-se um suporte valioso, na consecução de objetivos e metas mais abrangentes. REFERÊNCIAS BAPTISTA, Cláudio Roberto. Inclusão Escolar e Educação Especial: o universo das políticas e o debate brasileiro sobre contornos e limites. Artigo impresso, 2007. BRASIL, MEC. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Disponível em < http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/ pdf/politica.pdf >Acesso em 26/11/2008. COLL, César; MARCHESI, Álvaro & PALACIOS, Jesùs. 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Acesso em 22 de novembro de 2008. O Princípio da Igualdade e os Portadores de Deficiência. Disponível em <www.berbert.adv.br/artigos/ig_portadores.doc > Acesso em 12/11/2008. PARANÁ, SEED. Diretrizes Curriculares da Educação Especial para a Construção de Currículos Inclusivos. Curitiba, PR:SEED, 2006. Também disponível na página do Portal Educacional do Estado do Paraná <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br>.