Texto de Luisa Puterman sobre a videoinstalação

Propaganda
CARTA PERSPÉTICA DO INTUITO
Sala de vídeo Paço Para Ver | Paço das Artes, 2013
Ricardo Carioba
A vontade oculta, escondida atrás de uma estrutura circular em movimento, está
calcada na perspectiva. Termo amplo esse que abrange não só formas de
representação, mas também um possível prisma pelo qual se enxerga a vida.
Reinterpretar a perspectiva linear, deslocar o receptor e possibilitar um campo de ação
figuram entre os eixos que norteiam uma Carta perspética do intuito.
Carta essa, que vagamente conduz alguém a algum intelecto ou intuito. Linhas, áreas e
buracos em um movimento elíptico promovem uma atmosfera ambígua, calma e ao
mesmo tempo atordoante. O predomínio do preto em contraste com as linhas brancas
forma uma espécie de esfera anamórfica que lembra bastante uma “esfera armilar”,
objeto amplamente utilizado na astrofísica para representar trajetórias da mecânica
celeste. Essa esfera instiga um pensamento cósmico próximo também de outra
estrutura conhecida como geodésia, curiosa, pois quanto maior sua dimensão, maior
sua estabilidade.
A hipótese de essas formas análogas serem possíveis estruturas de pensamento está
presente na fala de R.Buckminster Fuller: “é característico de todo raciocínio que todas
as linhas de inter-relação do pensamento devem retornar, ciclicamente, por si
mesmas, em uma pluralidade de direções, como o fazem vários grandes círculos ao
redor das esferas (1969)”. Sim, talvez seja possível então, especular que o raciocínio e
o pensamento possam ser representados por essas possibilidades formais.
Há em Carta perspética do intuito um deslocamento radical do receptor. Do exterior
para o interior, do superficial e passivo para o profundo e ativo. E essa ação, permeada
por um não-som, sugere um silêncio perturbado, incômodo como qualquer reflexão.
A experiência metalinguística do pensar sobre o pensamento se mostra um magnífico
substrato filosófico. Um lugar, portanto que impõe essa ação, nada mais é do que um
reflexo desse próprio ímpeto inerente ao ser humano. Surge um estado contínuo,
longe da geometria euclidiana, afastado do plano cartesiano, mas imerso na razão e na
lógica da complexidade cerebral.
Texto de Luisa Puterman
Download