Resenha: Os impasses das velhas categorias: o exemplo do debate sobre política social COCCO, Giuseppe. Os impasses das velhas categorias: o exemplo do debate sobre política social. In: _____. MundoBraz: o devir-mundo do Brasil e devir-Brasil do mundo. Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 93-104. Nathann da Silva Silveira1 Alessandro da Silva Leite2 O cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Giuseppe Cocco, em seu texto, apresenta uma nova forma de enxergar um velho debate sobre as políticas sociais no Brasil. No início, o autor menciona a maneira como o governo Lula lidou com tais políticas. Nesse sentido, ele aponta como exemplos o programa Bolsa Família e o programa dos Pontos de Cultura. Portanto, reconhecendo e enaltecendo a necessidade de tais projetos para que se faça cumprir o apoio à igualdade social e à cidadania. Citando o Bolsa Família, o autor adjetiva a cidadania do programa de “produtiva”. Isso acarreta na abolição da ideia de quem acredita que o emprego é mais importante do que a cidadania, ou que, ser um trabalhador é mais digno do que ser um simples cidadão. Dessa maneira, ele associa de forma rígida, a configuração pela qual a guerra violenta das metrópoles brasileiras, escondidas atrás de uma moral do trabalho, faz ele se lembrar de um escrito que ficava anexado nos campos de concentrações nazistas: “Arbeit Macht Frei.” (Só o trabalho liberta.). 1 Acadêmico em Direito pela FADILESTE. e-mail: [email protected] 2 ² Professor e Coordenador de Iniciação Científica da FADILESTE. Coordena e orienta Nathann da Silva Silveira no projeto de pesquisa Homicídio, roubo e tráfico de drogas: estudo das dinâmicas da criminalidade nas cidades de Reduto, Manhumirim, Alto Jequitibá e Manhuaçu (2012 a 2015). e-mail: [email protected] Revista Vox, nº 4, v. 1, jul-dez 2016, FADILESTE, ISSN 2359-5183 Página 86 Já os Pontos de Cultura contribuem para uma unificação de políticas culturais e sociais, trazendo consigo o viés democrático, para um Brasil virtuosista no século XXI. Entretanto, o autor não esconde o fato de que o tema deve ser tratado com responsabilidade, pois envolve problemáticas variáveis. Dois grupos se dividem ao tentar criticar ou apoiar o Bolsa Família. Os conservadores de direita, árduos oposicionistas do governo Lula e radicais da esquerda, apoiadores massivos das práticas “lulistas”. Podemos resumir as contrarrazões em: ao tempo que um lado explana o fracasso do programa ao ser uma política assistencialista impetrada pelo governo, chamando-a até de “clientelista”, o outro lado assume a categoria de assistencialista e até condicional, porém, prega que haverá uma porta de saída ao beneficiário. Cocco enfatiza a ideia de explicitar no texto que apesar de opostas, as duas visões são faces de uma mesma moeda: da insuficiência teórica e política. Em ambos os casos é passada a ideia de uma conjuntura estrutural entre economia, crescimento e desenvolvimento para impetrar questões de cunho social (pobreza, miséria, desemprego e etc.). Assim, os dois modelos se confundem na crítica ao assistencialismo. Para Cocco, grande parte da esquerda brasileira deixou que as ideologias ficassem exaustivamente velhas, não renovando o estoque de argumentos teóricos e sendo assim não consegue admitir os novos sujeitos políticos e sociais. Por muitas vezes, não conseguem explicar os avanços da sociedade brasileira na última década, quanto à melhor renda, consumo, produção cultural e educação; e mesmo em aspectos econômicos de categoria simples como o crescimento do PIB e a maior credibilidade financeira do país. Assim como a direita que, segundo ele, cai no ostracismo de repetir sempre as mesmas críticas pautadas nos mesmos argumentos, sem que consiga de fato algo de relevante para as políticas sociais vigentes. O autor usa como exemplo as várias publicações em colunas jornalísticas de ligação com a direita, onde os textos criticavam os modelos adotados pelo então presidente, mais precisamente na corrida presidencial de 2006. As argumentações por parte da direita e que recebe apoio de setores importantes, como o religioso, diz que o Bolsa Família trata-se de um programa assistencialista, e que com ele surge certa acomodação, ao passo que a verdadeira solução seria a geração de empregos por meio de uma economia equilibrada. É perceptível então, notar que as duras críticas de Cocco aos dois sistemas, tentam desmitificar a identidade entre uma economia sólida e sua relação com os programas sociais. Ele apresenta no texto, de forma sucinta, a maneira pela qual uma independe da outra. Sem entrar no mérito da questão sobre direitos fundamentais e humanos, mas pelo que parece deixa no ar que esses temas não precisam de um debate acerca da sua presença ou não, afinal são direitos já previstos. O objetivo de Cocco é querer acabar com ideias velhas e constantemente “marteladas” pelos dois polos ativos da discussão política, desmentindo, sobretudo, afirmações ideológicas, com fontes de pesquisadores ligados ao tema com certo sincretismo nas análises entre a redução da desigualdade social e o crescimento econômico, a fim de Revista Vox, nº 4, v. 1, jul-dez 2016, FADILESTE, ISSN 2359-5183 Página 87 desmembrar a correlação entre as matérias de ponderação social e as de cunho econômico. Concluindo, Cocco constata que a novidade factual do governo do ex-presidente Lula foi a política social e o seu modus operandi, e que, nos termos dele, com o aumento da distribuição de renda-não-derivada do trabalho, se conseguiu uma redução na desigualdade. Por fim, afirma que sem uma política social de distribuição de renda, o crescimento econômico continua reproduzindo a desigualdade de sempre. Revista Vox, nº 4, v. 1, jul-dez 2016, FADILESTE, ISSN 2359-5183 Página 88