LUZES SOBRE A CIÊNCIA NACIONAL A chegada da ovelha Dolly

Propaganda
L UZES
SOBRE A CIÊNCIA NACIONAL
Wagner de Oliveira*
A chegada da ovelha Dolly e do crânio reconstituído de Luzia, a
brasileira pré-histórica, à capa de um das mais importantes revistas de
circulação nacional é um marco do crescente interesse da opinião pública
– e também dos veículos de comunicação – sobre os assuntos de ciência
e tecnologia. O tema ganhou status na mídia, e até veículos mais
populares descobriram que divulgar pesquisas – principalmente sobre
medicina – pode atrair o grande público.
Descontados algum sensacionalismo, falta de contextualização
e de interpretação dos temas tratados em algumas matérias e a existência
de títulos e chamadas que, por vezes, espetacularizam a ciência, o avanço
na divulgação dos temas de ciência e tecnologia pode desempenhar
um importante papel no caminho da alfabetização da população e da
participação coletiva.
Entre outros pontos, a ampliação da visibilidade do tema
oferecerá meios da sociedade atuar de forma mais ativa na condução
das políticas pelo poder público, democratizando o conhecimento.
Afinal, boa parte dos recursos destinados à pesquisa é financiada por
meio de impostos.
Tendo acesso aos conhecimentos por intermédio da divulgação
científica, a sociedade poderá ainda ter meios de melhor julgar uma
série de questões que estão colocadas em face do vertiginoso crescimento
científico. A ética frente às fronteiras abertas pela genética é um claro
exemplo disso. Clonagem de seres humanos, exames genéticos na
admissão no emprego e no contrato de planos de saúde são sinalizadores
da discussão que precisa ter a participação da população.
Por outro lado, sabe-se que ciência e tecnologia cada vez mais é
um setor estratégico, uma ferramenta fundamental para um país alcançar
desenvolvimento e autonomia, buscando meios próprios para não
depender de tecnologias importadas. Daí a importância de se aprofundar
o debate sobre o espaço dedicado à ciência nacional.
Ainda existe, nos meios de comunicação, pouca informação sobre
a excelência das pesquisas realizadas no país. E isso fica patente no
* Jornalista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
228
.C
IÊNCIA E
PÚBLICO
desequilíbrio quantitativo entre o material publicado sobre pesquisas
realizadas no exterior e aquelas feitas pelos institutos nacionais.
É claro que não é desejável simplesmente “varrer” do mapa a
pesquisa feita do exterior – até porque é de lá que ainda chega grande
parcela do conhecimento que vai trazer impacto ao nosso cotidiano.
Mas é preciso entender que nos nossos laboratórios podem estar soluções
para os graves problemas estruturais que atingem o país. A pesquisa
nacional foi capa de uma das bíblias da ciência mundial, a revista Nature,
mas segue na sombra.
Um dos desafios de quem lida com divulgação científica é ampliar
esse debate, no momento em que cresce o interesse do grande público,
pelos assuntos de ciência e tecnologia.
Download