UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS COLEGIADO DE GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA THAIS ANDREIA DOS SANTOS CANABRAVA CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA, PETROGRÁFICA E CONSIDERAÇÕES GENÉTICAS DO DEPÓSITO DE MANGANÊS DE SÃO FELIX – BAHIA Salvador 2013 THAIS ANDREIA DOS SANTOS CANABRAVA CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA, PETROGRÁFICA E CONSIDERAÇÕES GENÉTICAS DO DEPÓSITO DE MANGANÊS DE SÃO FELIX – BAHIA Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em geologia pelo Instituto de Geociências, da Universidade Federal da Bahia. Orientador: Prof. Dr. JOSÉ HAROLDO DA SILVA SÁ Salvador 2013 TERMO DE APROVAÇÃO THAIS ANDREIA DOS SANTOS CANABRAVA CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA, PETROGRÁFICA E CONSIDERAÇÕES GENÉTICAS DO DEPÓSITO DE MANGANÊS DE SÃO FELIX – BAHIA TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA, PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA. REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE BACHAREL EM GEOLOGIA. ___________________________________________________________________ 1º Examinador - Prof. Dr. José Haroldo da Silva Sá – Orientador ___________________________________________________________________ 2º Examinador - Prof. Pedro Maciel de Paula Garcia Graduação em Geologia pela Universidade Federal da Bahia __________________________________________________________________ 3º Examinador - Jofre de Oliveira Borges Msc em Geologia pela Universidade Federal da Bahia As minhas amadas mães, Marina e Margarida. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente ao Deus que segura minha mão nos momentos difíceis, que não me deixa fraquejar, desistir, me protegendo e me guiando, ao meu anjo da guarda que me coloca sempre no caminho certo. Agradeço a toda minha família, em especial as minhas mães Margarida e Marina, minha irmã Ana Cristina que me deu de presente dois sobrinhos/afilhados, Leandro e Vinicius Canabrava, sem o sorriso de vocês quando eu estava triste tudo teria sido muito mais difícil. Ao meu namorado Glauber, que me ajudou muito para que nessa etapa final tudo continuasse dando certo. Ao meu orientador professor Haroldo Sá, agradeço pela atenção, orientação, paciência e pelos ensinamentos ao longo do curso, todos eles me incentivam a crescer mais como geóloga. Agradeço à CBPM (Companhia Baiana de Pesquisa Mineral), pelo apoio para a realização deste trabalho, na confecção de lâminas e apoio para viagem de campo. Agradeço ao professor Ernade e ao técnico Edgar por toda atenção e realização do DRX. Obrigada à CPRM, que me ajudou a crescer como profissional, especialmente: Vânia Borges, Madalena, Maisa, Ioná, Valdir Silveira, Rogerio, Roberto Campelo, Sara. Aos amigos cefetianos: Tatiana, Jossenei, Vladimir, Nivia, Junia, Lindaura, Valter, Aline, Vanessa, Jocilene, Juliana, em especial as minha amigas Cristina e Isabel. Obrigada às pessoas que conheci na UFBA e de alguma forma deixaram mais leve esses anos: Leidi, Iara, Tassi, Antônia, Luciano(Caroço), Maria Clara, Fabiane, Eula, Mariana, Deize, Gleice, André, Paulinho, Cleiton, Paulo Marques, Vitinho, Cipri, Bia, Gi, Daniel, Coni, equipe de campo (Anderson, Dexter e Aline), Andreza, Jailma, e em especial aos meus amigos Thyago Ribeiro e Michele Cássia, obrigada por tudo. i RESUMO O depósito de manganês de São Félix está inserido no Cinturão ItabunaSalvador-Curaçá, encaixado em rochas granulítica do complexo Caraíba, de idade arqueana/paleoproterozóica. Este trabalho apresenta os resultados obtidos na caracterização geológica, petrográfica e considerações genéticas realizada na área de estudo, onde foram identificados a rocha encaixante, o protominério e o minério de manganês. A rocha encaixante é classificada como enderbito, constituído de plagioclásio, K- feldspato e clinopiroxênio. O protominério tem forma alongada, sendo concordante com a foliação da rocha encaixante, é classificado como gondito, rocha metamórfica que tem como mineralogia principal a granada do tipo espessartita, cuja degradação intemperica origina o minério de manganês. Os minérios de manganês do depósito de São Félix são classificados por características mineralógicas e texturais, são descritos como minério “in situ”, crosta manganesifera de expressão superficial, e minério rolado que são fragmentos desagregados do minério “in situ” e se apresentam de variados tamanhos estando distribuídos no material de cobertura eluvionar e coluvionar. As evidências geológicas observadas em campo, aliadas aos estudos petrográficos indicam que o depósito de manganês de São Félix foi originado a partir de processos supergênicos. Palavras-chave: Manganês, Gondito, Processos Supergênicos. ii ABSTRACT The manganese deposit of Sao Félix is inserted in Itabuna Salvador CuraçáBelt embedded in rocks of the granulite complex Caraíba, old Archean / Proterozoic lower. This paper presents the results obtained in the geological characterization, petrological and metallogenic studies developed in the study area where the host rock have been identified, the protore and manganese ore. The host rock is classified as Enderbite, rich in plagioclase, K-feldspar and clinopyroxene. The protore is narrow, has elongated shape, concordant with the foliation of the host rock, is classified as gondito, a metamorphic rock that has as main mineralogy the garnet type spessartine, that degradation leads to the weathering of manganese ore. The manganese ore deposit of São Félix are classified by mineralogical and textural characteristics are described as ore "in situ", manganese-rich crust of surface expression, and rolled ore fragments that are broken ore "in situ" and are presented in various sizes being distributed in the material of eluvial and colluvial cover. The geological evidence observed in the field, combined with petrographic studies indicate that manganese deposit of São Félix originated from supergene processes. Keywords: Manganese, Gondito, Supergene Processes. iii SUMÁRIO AGRADECIMENTOS RESUMO ABSTRACT ÍNDICE DE FIGURAS ÍNDICE DE TABELAS ÍNDICE DE FOTOGRAFIAS ÍNDICE DE FOTOMICROGRÁFIAS i iii iv vii viii ix x 1. INTRODUÇÃO 1.1 Objetivos 1.2 Metodologia 1.2.1 Pesquisa Bibliográfica 1.2.2 Trabalhos de Campo 1.2.3 Estudos por Difratometria de Raio-X 1.2.4 Descrições Petrográficas 13 14 14 14 14 15 15 2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 2.1 Localização e vias de acesso 2.2 Aspectos fisiográficos 2.2.1 Clima 2.2.2 Geomorfologia 2.2.3 Vegetação 2.2.4 Solos 2.2.5 Hidrografia 16 17 17 17 18 18 19 3. AMBIENTES TECTÔNICOS E GEOLÓGICOS 3.1 Cinturão Itabuna Salvador-Curaçá 3.1.1 Complexo Caraíba 3.1.2 Suíte São José do Jacuípe 3.1.3 Complexo Tanque Novo-Ipirá 3.2 Corpos Máfico-Ultramáficos 3.3 Corpos Granitóides 21 24 26 26 28 28 27 4. ORIGEM E CLASSIFICAÇÃO DOS DEPÓSITOS DE MANGANÊS 4.1 Evolução dos Depósitos de Manganês no Tempo Geológico 4.2 Transporte e Ambiente de Deposição 4.3 Deposição dos Depósitos de Manganês 4.4 Depósitos Hidrotermais 4.5 Depósitos Sedimentar 4.6 Depósitos de Supergênicos 4.7 Depósitos de Manganês no mundo 29 31 33 34 35 36 37 39 iv 5. GEOLOGIA DO DEPÓSITO DE MANGANÊS DE SÃO FÉLIX 5.1 Rocha encaixante – Granulitos 5.2 Protominerio – Gonditos 6. CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA 6.1 Rocha encaixante – Granulitos – Enderbito 6.2 Protominerio – Gonditos 57 61 7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 68 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 70 44 50 v ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1: Mapa de situação e localização da área de estudo com vias de acesso. ............................................................................................................................. .......16 Figura 2: Bacias Hidrográficas do Estado da Bahia. Em destaque a Bacia do Rio Paraguaçu..................................................................................................................20 Figura 3: Mapa esquemático mostrando os limites e as maiores unidades estruturais do Cráton do São Francisco. Cinturões de dobramentos Brasilianos; BJ. - Bloco Jequié. BS. - Bloco Serrinha. BG. - Bloco Gavião. BISC. – Bloco Itabuna-SalvadorCuraçá. Na figura aparece destacada a área pesquisada. Adaptado de Alkmim et al. (1993).........................................................................................................................22 Figura 4: Mapa geológico regional............................................................................23 Figura 4.1: Distribuição dos depósitos de manganês no tempo geológico. Extraído de Borges (2012)....................................................................................................... 32 Figura 4.2: Áreas de estabilidade de sólidos, campo de estabilidade das fases mineralógicas do manganês em função das condições de pH e Eh no sistema MnSCO2.H2O. Extraído de Borges (2012).....................................................................35 Figura 4.3: Esquema simplificado mostrando a mobilidade relativa dos elementos em soluções aquosas em ambiente superficial com base no potencial iônico (carga iônica/raio iônico). Extraído de Borges (2012)...........................................................38 Figura 4.4: Localização dos principais depósitos de manganês no mundo. s áreas manganíferas da Bahia. Beukes & Gutzmer (2006).................................................40 Figura 4.5: Localização das áreas manganíferas da Bahia. Modificado de Barbosa (1981).........................................................................................................................43 Figura 5.1: Mapa geológico esquemático da área de estudos..................................45 Figura 5.2: Seção geológica esquemática do depósito de manganês de São Félix............................................................................................................................51 Figura 5.3: Difratometria de Raios-X da amostra TC-01A, demonstrando a predominância da granada espessartita....................................................................56 Figura 5.4: Difratometria de Raios-X da amostra TC-01A, demonstrando a predominância da granada espessartita....................................................................56 vi ÍNDICE DE TABELAS Tabela 4.1: Minerais de manganês mais comuns......................................................29 Tabela 4.2: classificação dos minérios de manganês de acordo com o teor............30 Tabela 4.3: Evolução físico-química da atmosfera e hidrosfera durante o Precambriano. Modificado e traduzido de Kasting (1978), Op.cit Borges, (2012)....................................................................................................................... ..31 vii ÍNDICE DE FOTOGRAFIAS Fotografia 5.1: Rocha granulitica de granulometria fina à média, no detalhe cristal de anfibólio.................................................................................................................46 Fotografia 5.2: Visão geral da rocha granulitica, com foliação no detalhe...............47 Fotografia 5.3: Falha cortando o Veio de quarto, com indicador de movimento dextral.........................................................................................................................48 Fotografia 5.4: Nível máfico inserido no granulito com granada, no detalhe um pórfiro de granada......................................................................................................48 Fotografia 5.5: Intrusão máfia de composição gabroica, inclusa no granulito, cortado por falha com movimento aparentemente sinistral.....................................................49 Fotografia 5.6: Rocha granulitica, apresentando deformação, com dobras, zona de cisalhamento, cinemática aparente com movimento dextral......................................49 Fotografia 5.7: Dique de granito cortando a rocha granulitica, no detalhe cristais de cordierita no granito....................................................................................................50 Fotografia 5.8: Contato entre a encaixante e o protominério....................................53 Fotografia 5.9: Minério expostos na área sob a forma de rolados e tombados........53 Fotografia 5.10: Crosta manganifera superficial.......................................................54 Fotografia 5.11: Detalhe do Gondito alterado com crosta manganífera superficial de habito botroidal...........................................................................................................54 Fotografia 5.12: Amostra de mão do protominerio, com alterção evoluindo da borda para o centro. No detalhe espessartita em alterção para oxid de manganês............55 viii ÍNDICE DE FOTOMICROGRAFIAS Fotomicrografia 1: Grãos de Cpx-Clinopiroxênio; Pl-Plagioclsio; Ap-Apatita e OpOpacos, visão geral da lâmina onde os minerais apresentam-se normalmente com contato curvo entre si. A) imagem com nicóis cruzados. B) Imagem em luz plana. Aumento= 100X. Amostra: TC-04..............................................................................56 Fotomicrografia 2: Cristais de Cpx-Clinopiroxênio e Qtz-Quartzo de forma alongada, ambos presentando em sua maioria contato curvo com o Pl-Plagioclasio, e por vezes contato reto. C) Imagem com nicóis cruzados. D) Luz plana. Aumento = 100X. Amostra: TC-04................................................................................................57 Fotomicrografia 3:. Cristais de Pl-Plagioclasio com geminação albita, formando contato curvo entre os grãos e pontualmente envolvido por cristai de CpxClinopiroxênio. E) Imagem em nicóis cruzados. F) Imagem em Luz plana. Aumento= 100X. Amostra TC-06................................................................................................57 Fotomicrografia 4:. Cristais de Hbl-Hornblenda om pleocroismo marrom, grãos xenoblásticos assim como o Opx-Ortopiroxênio, Grão de Pl-Plagioclasio sem geminação. A) Imagem com nicóis cruzados. B) Imagem em Luz plana. Aumento= 100X. Amosta TC-06..................................................................................................58 Fotomicrografia 5: Cristai de Kfs – K-Feldspato/ microclima, quartzo apresentando alteração, cristais de Pl-Plagioclasio com geminação albita. I) Imagem com nicóis cruzados. J) Imagem com luz plana. Aumento= 100X...............................................59 Fotomicrografia 6: Grãos de Kfs – K-Feldspato/ miroclina envolvendo o Cpx- Clinopiroxênio; Pl-Plagioclasio, presença do Zr-Zircão como mineral acessório. L) Imagem com nicóis cruzados M) . Imagem com luz plana. Aumento = 100X. Amosta TC-06..........................................................................................................................60 Fotomicrografia 7: Cristais de Bt- biotita titanifera em processo de alteração, em contato com Op-opacos e grãos de Kfs – K-Feldspato/ miroclina e Pl-Plagioclasio. A) Imagem com nicóis cruzados. B) Imagem com luz plana. Aumento = 100X. Amosta TC-03............................................................................................................60 Fotomicrografia 8: Cristais de Grt-Granada fraturados, com frarura preenchidas por Op- pacos. Observa-se que tanto a granada quando o piroxebio quetão em processo de alterção. A) Imagem com nicóis cruzados. B) Imagem em luz plana. Aumento= 100X...........................................................................................................................61 ix Fotomicrografia 9: Amosta TC-01. C) Cpx-Clinopiroxênio; Op- Opacos; GrtGranada (nicóis cruzados). Aumento= 100X. D) Cpx-Clinopiroxênio ; Op- Opacos; Grt-Granada (Luz plana). Aumento = 100X...............................................................62 Fotomicrografia 10: Cristais de Cpx-Clinopiroxênio (Piroxmanguita?), sendo alterado para oxido de manganês (Op- Opacos), contato curvo do piroxênio com o gãos de Grt-Granada espessartita), que também esta em alteração. A) Imagem com nicóis cruzados. B) Imagem em luz plana. Aumento= 100X.....................................62 Fotomicrografia 11: Cristais de Cpx-Clinopiroxênio; alterando para óxidos, Grt- Granada fraturada, no centro mineral Op – opaco produto de alteração da espessrtita e do clinopiroxenio. G) Imagem com (nicóis cruzados. H) Imagem em luz plana. Aumento= 100X...............................................................................................63 Fotomicrografia 12: Grãos de Grt-Granada (espessartita), subedricos, em contato com mineral Cpx-Clinopiroxênio (piroxmanguita), ambos alterando para oxido (OpOpacos). A) Imagem com nicóis cruzados. B) Imagem em luz plana. Aumento= 100X...........................................................................................................................63 Fotomicrografia 13: Porfiroblastos de Grt-Granada fraturados, e Cpx-Clinopiroxênio farturados e se transformando em óxidos de manganês. C) Imagem com nicóis cruzados. D) Imagem em luz plana. Aumento= 100X. Amosta TC-7A.....................64 Fotomicrografia 14: Visão geral do protominerio de manganês em processo de alteração, cristais de. Cpx-Clinopiroxênio e Grt-Granada alterando para oxido de manganês, cristais totalmente fraturados, com fratura preenchida por Op- Opacos. Presença do quartzo com extinção ondulante em contato curvo com a granada. G) Imagem com nicóis cruzados. H) Imagem em luz plana. Aumento= 100X. Amostra TC-7A.........................................................................................................................65 Fotomicrografia 15: Cristal de Cpx-Clinopiroxênio ( piroxmanguita?), muito fraturado, com fraturas preenchdas por Op- Opacos. L) Imagem com nicóis cruzados. M) Imagem em Luz plana. Aumento = 200X............................................65 Fotomicrografia 16: Grãos de Cpx-Clinopiroxênio (Piroxmanguita) e Grt-Granada (Espessartita), fraurados com fraturas preenchidas por minerais Op- Opacos. C): Imagem com luz refletida. D) imagem com nicóis cruzados. Aumento= 100X. Amostra TC-11...........................................................................................................66 Fotomicrografia 17: Fotomicrografia com feições de alterção dos minerais CpxClinopiroxênio (Piroxmanguita) e Grt-Granada (Espessartita), minerais com fraturas x preenchida por op-opacos. A) Imagem com luz refletida. B) imagem com nicóis cruzados. Aumento= 200X. Amostra TC-12...............................................................66 xi 1. INTRODUÇÃO O embasamento do Cráton do São Francisco é formado por um conjunto de quatro blocos arqueanos que sofreram sucessivos mecanismos tectônicos de acresções crustais e/ou colisões continentais no sentido NW-SE no final do paleoproterozóico (Barbosa, 2003), posteriormente foi consolidado e delimitado no final do neoproterozóico. Integram esse conjunto: O Bloco Gavião, Bloco Jequié, Bloco Serrinha e o Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá. (Barbosa & Sabaté, 2003). A área de estudo está inserida no Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá (OISC) cuja origem está relacionada ao estágio final da colisão do tipo continentecontinente de 2.0Ga resultante da edificação de um arco continental e geração da cadeia de montanha, sendo expostas as suas raízes devido a processos erosivos. As rochas do OISC estão distribuídas nas seguintes unidades: Complexo Caraíba, Suíte São José do Jacuípe e Complexo Tanque Novo-Ipirá, além de granitóides intrusivos sin, tardi a pós-tectônicos. Os depósitos de manganês da área de estudo ocorrem encaixados em rochas granulitica do Complexo Caraíba, de idade arqueana/paleoproterozóica, provenientes da granulitização de rochas primitivas. O manganês é o quarto metal mais utilizado no mundo, depois de ferro, alumínio e cobre, sendo um dos elementos básicos do aço, utilizado também como desintoxidante e dessulfurante. Há registro de dezenas de pequenos depósitos de manganês no OISC, sendo que a maioria dos depósitos de manganês da Bahia é de natureza supergênica. A área de estudo do depósito de manganês de São Felix tem extensão de aproximadamente 800m e direção geral NNW-SSE. O minério apresenta-se em dois tipos, descritos como minério “in situ” e minério rolado que são fragmentos desagregados do minério “in situ” e se apresentam de variados tamanhos estando distribuídos no material de cobertura eluvionar e coluvionar. 13 1.1 OBJETIVOS O objetivo desse estudo é proceder à caracterização geológica, petrográfica e considerações genéticas do depósito de manganês localizado na cidade de São Felix- Bahia. Pesquisar os processos geológicos e metalogenéticos que atuaram na construção do depósito, bem como determinar o ambiente geológico. Como objetivos específicos, foi realizado o mapeamento geológico da área de trabalho e caracterização do minério e da rocha encaixante. 1.2 METODOLOGIA 1.2.1 Pesquisa Bibliográfica Nessa etapa foi realizado o levantamento bibliográfico dos trabalhos publicados sobre o tema como: artigos, livros, projetos, teses e resumos. Pesquisas relacionadas ao contexto geológico da área de estudo em âmbito geológico regional e local, aspectos fisiográficos, aspectos evolutivos da geologia regional e estudos sobre a faciológia do manganês, sua geologia, paragênese, efeitos do metamorfismo e alterações intempéricas. 1.2.2 Trabalhos de Campo As etapas de campo foram realizadas em 2 dias, tiveram como objetivo o reconhecimento da área de trabalho visando à identificação das unidades litológicas e estruturais. Além da coleta das amostras da rocha encaixante, do minério e do protominério para confecção de lâminas para estudo petrográfico (seção delgada e polida), caracterização da litologia e estudo mineralógico por Difratometria de 14 Raios-X. Nessa etapa também foi feito um mapa geológico simplificado da área de estudo. 1.2.3 Estudos por Difratometria de raio-X A Difratometria de Raios-X (DRX), é uma técnica que se baseia na interação da radiação X (produzida pela excitação de algum metal) como matéria cristalina, a qual tem capacidade de refletir os raios X em direções cristalográficas preferenciais e que são típicas para cada espécie mineral. As analises de DRX foram realizadas em 5 amostras de protominério pulverizado, (TC-01A, TC 01B, TC 08, TC 09 e TC 10), analisadas no laboratório de difração de Raios-X do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia, através do RIGAKU, modelo D/MAX 2a, no Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia. 1.2.4 Descrições Petrográficas Foram confeccionadas um total de 7 laminas, sendo 5 seções delgadas e 2 seções polidas, que foram estudadas em microscópio óptico através de luz transmitida e refletida. Foram descritas utilizando o microscópio petrográfico no laboratório de Mineralogia e Petrologia do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia. As lâminas foram separadas em: rocha encaixante (TC-04, TC-06 e TC-12) e protominério (TC-01 e TC-07A, TC-10 e TC-11). 15 2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 2.1 Localização e vias de acesso A área de estudo está localizada na região do município de São Félix – Bahia, localizado a 110km de distância da cidade de Salvador. O acesso à área, partindo de Salvador, é pela BR-324, entrando na BR-420 e seguindo para o município de Cachoeira, pela mesma rodovia. No município de Cachoeira, atravessa a ponte D. Pedro II para São Félix. Outra opção é pela BR 101, que também liga o município de Feira de Santana a São Félix (Figura 1). Figura 1- Mapa de situação e localização da área de estudo com vias de acesso. 16 2.2 ASPECTOS FISIOGRÁFICOS 2.2.1 Clima A região estudada apresenta clima quente tropical úmido, a temperatura média anual de 25°C e pluviosidade anual variando entre 1200 e 1300 mm (SEI 2000). De acordo com a classificação de Köppen, a região apresenta dois domínios climáticos: Af –clima tropical úmido ou Clima equatorial e Aw- Clima tropical com estação seca no inverno. 2.2.2 Geomorfologia Grande parte da região onde está situada a área de trabalho é classificada como Domínio dos Planaltos Cristalinos, sendo esse domínio subdividido em: Planalto soerguido, Planalto Rejuvenescido e Planalto Rebaixado. A área estudada está inserida na região de Planalto Rebaixado, com relevo topograficamente rebaixados em relação ao Planalto soerguido e tem altitudes decrescente em direção ao litoral. A região sofre intensa dissecação, favorecida pelo clima tropical úmido e superúmido, e caracteriza-se por uma profunda alteração das rochas, sendo que a umidade e a densidade da drenagem aumentam com direção ao litoral (Silva, 1981). Regionalmente a superfície Paraguaçu formada a partir da erosão da superfície anterior, começou a ser esculpida no pleistoceno com a abertura de vales de erosão próximos a costa atlântica. A falha de Maragogipe é o maior acidente estrutural da área, localizado a oeste do “graben” onde se desenvolveu a Bacia do Recôncavo, tem orientação N_S e está relacionado aos processos de abertura do “rift” do Atlântico (Ailon, 1992). A unidade geomorfológica de tabuleiros pré-litorâneos, é uma unidade topograficamente rebaixada que compreende relevos dissecados, tem erosão dissecado intensa, pode apresentar espesso manto de alteração sobre saprolito de rocha, cobertura de latossolo correspondente a material coluviar vermelho17 amarelado que pode chegar a dois metros. Na região é comum a presença de vales e sulcos estrutural. 2.2.3 Vegetação A vegetação primitiva da região é a Floresta Ombrófila Densa e em seus limites é comum a ocorrência da unidade de vegetação Floresta Estacional Decidual, que pode ser dividida em duas sub-unidades: Floresta Decidual Submontana e Floresta Decidual Montana. Floresta Ombrófila Densa é constituída por fanerófitas ombrófilas sem resistência à seca, geralmente apresentando as gemas foliares desprotegidas. Sua folhagem é sempre verde, é uma unidade de vegetação que ocupa áreas mais próximas ao litoral, com curto período de seca (de 0 a 2 meses secos) durante o ano e temperaturas acima de 25°C (Silva, 1981). Essa unidade de vegetação esta quase que em sua totalidade devastada e ao longo do tempo vem sendo substituída com a introdução de extensas pastagens para a pecuária. A devastação da Floresta Ombrófila Densa, teve início com a ocupação portuguesa, através da retirada e tráfico de pau-brasil, seguindo-se o ciclo agrícola da cana-de-açúcar, fumo, laranja e a expansão das ocupações para áreas do entorno da Baía de Todos os Santos, adentrando o continente através dos estuários dos rios Paraguaçu, Jaguaripe e Subaé. A área de trabalho esta classificada como área antrópica, utilizada para criação de gado bovino. 2.2.4 Solos O solo representa um corpo limítrofe entre a litosfera e a atmosfera, constituído por material orgânico e material mineral, resultantes das interações dos fatores de formação como: relevo, clima, material de origem, organismos e tempo. 18 A região onde está inserida a área de trabalho predominam duas classes de solo: Latosolo Amarelo Álico e Podzólico Vermelho Amarelo Álico Latosolo amarelo álico – é comum relacionar essa classe de solo com as regiões da unidade geomorfológica dos tabuleiros costeiros. São solos que apresentam horizonte B latossolico, solos não hidromórficos, ácidos, profundo a muito profundos, com boa permeabilidade, boa porosidade, forte a moderadamente drenados, baixa relação textural, pouca diferenciação entre os horizontes (Silva, 1981). Em sua maioria apresentam classe de textura argilosa a muito argilosa, relacionadas com fases de relevo plano e suave ondulado, constituído por sesquióxidos, geologicamente essa unidade apresenta-se sobre o Neógeno da Formação Barreiras. (Silva, 1981). Espodossolos Vermelho Amarelo Álico - são solos que apresentam horizonte B textural, não hidromórficos, os álicos apresentam saturação com alumínio superior a 50%. Apresentam sequências de horizontes A, Bt e C onde foram observadas no horizonte A classe e textura arenosa, média e argilosa, no horizonte Bt classe média, argilosa e muito argilosa. Essa unidade encontra-se distribuída sobre relevos planos, suave ondulado, ondulado, forte ondulado, e montanhoso (Silva, 1981). 2.2.5 Hidrografia A área de estudo está inserida na bacia hidrográfica do Rio Paraguaçu, que drena uma área de aproximadamente 56.000km2 (Figura 2). A bacia do Rio Paraguaçu localiza-se em território baiano apresentando como limite natural, ao norte as bacias dos rios São Francisco e Itapicuru, ao sul as bacias dos rios de Contas e Recôncavo Sul, e a leste as bacias dos rios Inhambupe e Recôncavo Norte. O Rio Paraguaçu é o principal afluente da Baía de Todos os Santos. Na cabeceira do estuário do Rio Paraguaçu foi construído a represa de Pedra do Cavalo, que foi implantada na década de 1980 para duas importantes funções, a captação de água para abastecimento urbano fornecendo água potável para região metropolitana de Salvador, (entre outras), e controle das enchentes nas cidades de São Félix e Cachoeira. 19 As principais atividades na bacia do rio Paraguaçu são: a agropecuária, associada à agricultura e ao extrativismo ocorrendo em toda a bacia hidrográfica, a exploração mineral ocorrendo principalmente no alto do curso do rio e pastagens. O baixo curso do Rio Paraguaçu se desenvolve em um vale encaixado de rochas cristalinas, que sustentam um relevo com altitudes de até 220m. Figura 2: Bacias Hidrográficas do Estado da Bahia. Em destaque a Bacia do Rio Paraguaçu. 20 3. AMBIENTES TECTÔNICOS E GEOLÓGICOS O Cráton do São Francisco teve seu embasamento consolidado ao termino do ciclo Orosiriano-Riaciano com uma grande extensão territorial, ocupando o estado da Bahia em quase sua totalidade, além de porções dos estados de Minas Gerais, Sergipe, Goiás e Pernambuco. Na figura 3, observa-se um mapa esquemático mostrando os limites e as maiores unidades estruturais do Craton, e o posicionamento da área de estudos. Na maior parte do estado da Bahia o Craton do São Francisco é constituído por duas unidades: embasamento cristalino e cobertura plataformal. A área de estudo está situada em região granulítica de idade arqueana/ paleoproterozóica, denominada de cinturão móvel da Costa Atlântica ou domínios costa atlântica. Estudos mostram que as rochas metamórficas dessa área foram provenientes da granulitização de rochas primitivas, vulcânicas e/ou plutônicas, originadas de magmas shoshoniticos, toleiticos e cálcio-alcalinos, com uma disposição espacial que permite aventar a existência, pré-granulitização, de um ambiente geotectônico de arco insular ou margem continental ativa, arqueano (Aillon, 1992). O embasamento cristalino do Craton é composto por: enderbitos, charnoenderbitos e charnockitos, sequências metavulcano-sedimentares representada por vulcanitos/plutônicos básicos, intermediários e ácidos, quartzitos e kinzigitos, gonditos, formações ferríferas bandadas, rochas calcossilicaticas, rochas máficaultramáficas, gnaisse, migmatitos, anfibolitos, corpos graníticos, complexos sedimentares, além de terrenos de baixo grau metamórfico que englobam os terrenos “Greenstone Belts”. A cobertura plataformal do Craton é constituída por rocha vulcânicas felsicas, sedimentos vulcanoclasticos, metarenitos folhelhos, margas, níveis conglomeraticos, metassiltitos, rochas carbonático-pelitica (Rocha 1985). A cobertura sedimentar fanerozóica, também representando a geologia regional dá área, pelos sedimentos da bacia do Recôncavo de idade mesozóica. São sedimentos jurássicos do Grupo Brotas, constituídos pelas Formações Sergi e Aliança, representados respectivamente por arcósio, sedimento arenoso fino a 21 conglomeratico rico em estratificações e folhelhos, evaporitos e arenitos conglomeraticos. O Grupo Santo Amaro também está representado no mapa regional, constitui sedimentos do Cretáceo Inferior, na base tem-se a Fm. Itaparica e no topo a Fm. Candeias que apresentam depósitos lacustrinos e fluviais que são separados por uma paraconformidade dos sedimentos eólicos e fluviais referente à Fm. Água Grande e dos folhelhos lacustres de tom escuro, localizados na base da Fm. Candeias pertencente ao Mb. Tauá (Barbosa & Dominguez, 1996). O Grupo Barreiras, representa a cobertura sedimentar do Terciário depositada no Plioceno Inferior ao Superior, ocorrendo em praticamente toda a costa brasileira e localiza-se separado ou adjacente à linha de costa pelas coberturas quaternárias. É composto por sedimentos não a pouco consolidados, apresentando duas unidades sedimentares que se referem a ambientes deposicionais distintos. A base flúviolacustre é composta por areias finas a grossas e argilas variegadas. Já o topo de fluxo de detritos é um arenito grosso a conglomerático com matriz caulinítica (Vilas Boas et al., 2001). Figura 3: Mapa esquemático mostrando os limites e as maiores unidades estruturais do Cráton do São Francisco. Cinturões de dobramentos Brasilianos; BJ. - Bloco Jequié. BS. - Bloco Serrinha. BG. - Bloco Gavião. BISC. – Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá. Na figura aparece destacada a área pesquisada. Adaptado de Alkmim et al. (1993). 22 As coberturas sedimentares quaternárias são representadas por: Depósitos de Leques Aluviais, Terraços Marinhos Pleistocênicos, Terraços Marinhos Holocênicos, Depósitos Eólicos, Depósitos Flúvio-Lagunares, Depósitos Aluvionares, Faixa de Praia Atual (Barbosa & Dominguez, 1996). Na figura 3, mapa geológico regional da área de trabalho, posicionado na porção leste do Orógeno Itabuna Salvador Curaçá, especificamente no Complexo Caraíba (Figura 4). Figura 4: Mapa geológico regional. (Base da CPRM ,em escala 1:1.000.000). 23 3.1 Cinturão Itabuna Salvador-Curaçá O Cinturão Itabuna Salvador-Curaçá é uma das unidades geotectônicas que compõem o embasamento do cráton São Francisco com formato alongado na direção N-S que se estende por cerca de 800km no estado da Bahia. Ele é balizado, a leste, pelo Bloco Serrinha e a oeste, pelo Bloco Gavião e pelo Bloco Jequié. Corresponde a uma faixa móvel estruturada no paleoproterozóico, sendo constituída por rochas metamórficas de alto grau, da fácies granulito/anfibolito alto, com a maioria dos protólitos gerados no Arqueano (Kosin et al. 2003). Este bloco abrange o denominado Cinturão Costeiro Atlântico (Cordani 1973) e o Cinturão Móvel Salvador-Curaçá (Santos & Souza 1983). O primeiro estende-se desde a região sul da Bahia até as imediações da cidade de Salvador, sendo chamado por Barbosa & Sabaté (2002) de Bloco Itabuna- Salvador. A partir do paralelo de Salvador para norte essa faixa de granulitos se bifurca em dois ramos: o oriental, que conforma o Cinturão Salvador-Esplanda (Barbosa & Dominguez 1996), e o ocidental, que se projeta até o Rio São Francisco, nesse caso levando o nome de Cinturão Móvel Salvador-Curaçá (Santos & Souza, 1983). O OISC é formado pelos Complexos Tanque Novo–Ipirá, Complexo Caraíba e Suíte São José do Jacuípe, além de diversas gerações de granitóides (Kosin et al., 2003). Segundo Melo et al. (1995), o cinturão Salvador–Curaçá foi gerado em regime transpressivo, compreende uma zona de cisalhamento dúctil, e evoluiu segundo episódios reversos e transcorrentes progressivos. Tais processos ocasionaram uma lenticularização das unidades, que se encontram imbricadas tectonicamente e são controladas por zonas de cisalhamento sinistrais. Estas zonas de cisalhamento delimitam o cinturão, separando-o dos terrenos arqueanos e paleoproterozóicos adjacentes. Elas compõem uma estrutura em flor positiva assimétrica, cujas massas rochosas cavalgaram o Bloco Serrinha, a leste, e o fragmento de Mairi e o Complexo Saúde, a oeste (Melo et al. 1995). Segundo Barbosa & Sabaté (2003), o orógeno é formado por pelo menos quatro grupos de tonalitos/trondhjemitos, sendo três de idade arqueana e um de idade paleoproterozóica. 24 O Cinturão Itabuna Salvador-Curaçá é considerado terreno de alto grau onde foi submetido a metamorfismo de altas temperaturas atribuído ao espessamento crustal ocorrido na região devido à colisão que envolveu blocos arqueanos, esse metamorfismo de alto grau pode ter provocado desequilíbrio de concentrações minerais. Porem, deformações e processos metamórficos podem interferir em corpos mineralizados. Em todo o mundo existe associação de depósitos minerais a terrenos granuliticos com mineralizações de Mn, Ti, Cu, Ni, Zn, Pb, Cr (Teixeira, 1997). 3.1.1 Complexo Caraíba O Complexo Caraíba é a principal unidade litoestratigráfica do Orógeno Itabuna Salvador-Curaça. Litotipos do Complexo Caraíba formam lentes imbricadas tectonicamente em rochas do Complexo Tanque Novo-Ipirá, da Suíte São José do Jacuípe, e granitóides intrusivos. Segundo (Kosin et al., 2003), é uma suíte bimodal metamofisada em fácies granulito, onde o polo félsico é composto por ortognaisses, enderbítico, charnoenderbítico e por vezes charnockítico, cinza a esverdeados e o polo básico é composto por lentes gabro-dioríticas. Além dessas composições Figueiredo (1981), classifica o Complexo Caraiba como: hiperstênio–tonalitos, hiperstênio–trondhjemitos, hiperstênio–dioritos, hiperstênio–monzodioritos, hiperstênio–quartzodioritos e hiperstênio–sienogranitos. Pelo método de datação U-Pb (SHRIMP) em cristais de zircão de ortognaisses do Complexo Caraíba Silva et al. (1997) e Oliveira et al. (2010) revelaram núcleos com idades ígneas no intervalo 2695-2574 Ma e bordas de metamorfismo entre 2072 e 2074 Ma. Segundo Oliveira et al. (2010) características geoquímicas de elementos traço e dados de isótopos de Nd indicam que os gnaisses desse complexo são de ambiente de arco continental. 3.1.2 Suíte São José do Jacuípe É composta por uma associação máfica-ultramáfica, de gabronorito com níveis cumuláticos, ferrogabros, peridotitos, piroxenitos e ocorrência subordinada de leucogabros (Kosin et al., 2003). 25 As rochas da Suíte São José do Jacuípe ocorrem na forma de lentes descontínuas com direções N-S a NNW-SSE, imbricadas tectonicamente com rochas dos complexos Caraíba e Tanque Novo-Ipirá. Teixeira (1997) considerou que a Suíte São José do Jacuípe representaria os restos de uma crosta oceânica antiga, de linhagem toleítica, sendo rochas pertencentes às primeiras fases marinhas da abertura de um rifte. 3.1.3 Complexo Tanque Novo-Ipirá O Complexo Tanque Novo-Ipirá é definido por Kosin et al. (1999), como uma seqüência vulcanossedimentar metamorfizada na fácies anfibolito a granulito e evoluída provavelmente do Arqueano ao Paleoproterozóico. Esse complexo é constituído por paragnaisses aluminosos, rochas calciossilicáticas, quartzitos, formações ferríferas, xistos grafitosos, metabasitos e metaultrabasitos. paragnaisses aluminosos foram subdivididos em: Os (a) gnaisses kinzigíticos portadores de fases alumino–magnesianas como safirina, ortopiroxênio, silimanita e cordierita e (b) gnaisses granadíferos semelhantes a leucogranitos do tipo S (Loureiro, 1991). Sobre a geocronologia do Complexo Ipirá não existem dados, porem, Leite et al. (2009), estudando a paragênese metamórficas em paragnaisses aluminosos do Complexo Ipirá, atribuiu a formação de ortopiroxênio ao metamorfismo granulítico, sendo que as idades obtidas em grãos de monazita indicaram que esse metamorfismo de alta temperatura ocorreu no intervalo 2,08–2,05 Ga. Já á substituição parcial do ortopiroxênio por hornblenda e biotita ele descreveu como retrometamorfismo em fácies anfibolito. Os protólitos do Complexo Ipirá são interpretados como sendo originados de uma cobertura plataformal paleoproterozóica (Teixeira et al. 2000). 3.2 Corpos Máfico-Ultramáficos Os corpos máfico-ultramáficos se apresentam com dimensões variadas. São classificados como Piroxenito maciço, norito e melanoritos bandados com intercalações de piroxenito, norito e gabronorito. 26 Os Corpos Máfico-Ultramáficos de maior importância no Cinturão Itabuna Salvador-Curaçá estão localizados no Vale do Rio Curaça, são corpos mineralizados em cobre extraídos pela Mineração Caraíba. Segundo Mandetta (1982 apud Sá & Reinhardt 1984), são rochas máfico-ultramáficas, na base ocorre piroxenito maciço, norito e melanorito bandados, sulfetos de cobre maciço e disseminado ocorrem associados ao piroxenito e subordinadamente, ao melanorito, com maiores teores nas porções basais. No topo ocorrem norito e gabronorito, localmente bandados. A sequencia de Corpos Máfico-Ultramáficos associados ao Complexo Caraíba e ao Complexo Tanque Novo-Ipirá, foram interpretados como sills diferenciados, originados a partir de magma basáltico-toleítico que intrudiram rochas supracrustais (Kosin et al. 2003). Os noritos da mina de cobre da Caraíba teve datação obtida pelo método U-Pb SHRIMP em zircões com idade de 2580Ma (Oliveira et al. 2002). 3.3 Corpos Granitóides e sieníticos Os corpos granitóides que ocorrem no Cinturão Itabuna Salvador-Curaçá são classificados por suas características geoquímicas e de acordo com o alojamento em relação às fases deformacionais, podem ser sintectônicos, pós-tectônicos e sin a tarditectônico. Os granitoides sintectônico classificados como metaluminosos, subalcalinos e pertencentes à suíte monzonítica, são formados pela mistura de magma alcalino e magma proveniente de fusão crustal. São corpos que tem em sua composição orto-augengnaisses granulíticos, monzoníticos a quartzomonzoníticos, porfiroclastos de feldspatos potássico. Possuem enclaves máficos e xenólitos de rochas do Complexo Caraíba. Estes corpos foram considerados por Melo et al. (1995) como tarditangencial a sintranscorrência. Datações U-Pb (SHRIMP) apontam idade de 2.126 Ma Silva et al. (1997). Os corpos granitoides classificados como pós-tectônicos que afloram no Cinturão Itabuna Salvador-Curaçá, são constituídos por sienogranito e monzogranito com biotita e/ou hornblenda, granodiorito e monzonito subordinados, localmente 27 porfiríticos e por vezes com estruturas de fluxo magmático. Tem idades isocrônicas Rb-Sr em rocha total entre 1915 e 1897Ma (Melo 1991, Otero & Conceição 1996). Existem quatro corpos sieniticos de grade relevância no Cinturão SalvadorCuraçá, são os maciços classificados como: maciço Itiúba, Santanápolis, Anuri e São Félix . Os corpos sieniticos tem idade de cristalização similar, ausência de paragênese metamórfica, logo, propõe-se que os mesmo são posteriores ao clímax do metamorfismo da Orogenia Transamazônica. Segundo Conceição et al. (2007), esse corpos podem ter sido colocados simultaneamente. O Maciço São Félix que está na região da área de estudos, tem forma sigmoidal, com direção norte-sul por aproximadamente 16km de extensão, está encaixado nos térreos granulitos de alto grau do Cinturão Salvador Curaça, teve colocação por um mega cisalhamento regional de movimento sinistral sob condições mesozonais. Seu contato com a encaixante é estruturado por falha, onde a Sul o maciço São Felix esta em contato com os sedimentos da Bacia do Recôncavo pela Falha de Maragogipe. O maciço São Felix é representado facilogicamente por sienito gnáissico, sienito porfirítico e sienito máfico (Rosa et al., 1991). O Sienito Gnáissico tem feldspato alcalino em sua composição, bandamentos máficos e félsicos. O Sienito Porfirítico tem geometria Augen concordantes com o bandamento e granulometria média a grossa com cristais anédricos. Os sienitos máficos são ricos em clinopiroxênio em menor proporção que os tipos félsico e porfirítico, também podem ser encontrados boudinados. A assinatura geoquímica do maciço São Felix mostra que o mesmo é de ambiente pós-colisional e intraplaca associado à zona de subducção (Conceição et al., 1991). 28 4. ORIGEM E CLASSIFICAÇÃO DOS DEPÓSITOS DE MANGANÊS O manganês foi utilizado pela primeira vez como pigmento pelo homem para pintar figuras rupestres durante o período paleolítico. Somente em 1771 foi reconhecido como elemento químico pelo sueco Carl Wilhelm Scheele. Esse elemento químico se encontra na natureza na forma de óxidos, silicatos, carbonatos, e menos comumente, sulfetos (Roy 1997). Existe uma grande variedade de minerais de manganês, na tabela 4.1, constam os minerais de manganês mais comuns. Tabela 4.1: Minerais de manganês, suas fórmulas e composições químicas (Sampaio e Penna, 2002; Harben, 1996). 29 A classificação dos minérios de manganês é feita pela tipologia e teor do elemento manganês, e relação aos outros minerais que o acompanham. Podendo ser de alto teor quando apresenta mais de 40% de Mn ou baixo teor quando apresenta menos de 30% de Mn geralmente classificados como protominério. Na tabela 4.2, a classificação dos minérios de manganês de acordo com o teor. Tabela 4.2: classificação dos minérios de manganês de acordo com o teor O manganês tem grande importância para a indústria, sendo, em termos de quantidade, o quarto metal mais usado ficando abaixo apenas do ferro, alumínio e cobre. Hoje 30% do manganês é usado na siderurgia e 70% são usados como elemento de liga, sendo que a maior parte do manganês é empregado para a obtenção de liga ferromanganês obtida redução do óxido de ferro, Fe2O3, e do dióxido de manganês, MnO2. Também é produzido o ferro-silicio-manganês, uma liga com 60-70% de manganês e 15-30% de silício. 30 4.1 Evolução dos Depósitos de Manganês no Tempo geológico Os depósitos de manganês estão distribuídos ao longo do todo tempo geológico com ocorrências no Arqueano, Proterozóico e Fanerozóico. No arqueano esses depósitos foram formados por associação de formações ferríferas e metais-base, surgiram por volta de 3.0Ga. No Brasil existe registro de depósitos de manganês hospedados em rochas metassedimentares de 2.8 e 2,9Ga, (Roy 2000). Entre o arqueano e o paleoproterozóico a Terra ofereceu as condições mais favoráveis para a deposição de manganês, sobretudo, entre as idades de 2.4 e 1.9 Ga, onde passou a predominar um ambiente oxidante, tanto na atmosfera quanto na hidrosfera (tabela 4.3). Tabela 4.3: Evolução físico-química da atmosfera e hidrosfera durante o Pré-cambriano. Extraído de Borges (2012) Estes dados foram confirmados por Veizer et. al. (1989) e por Roy (2006), os quais demonstram que os principais depósitos de manganês do Pré-cambriano são do final do arqueano até o final paleoproterozóico (Figura 4.1). 31 Figura 4.1: Distribuição dos depósitos de manganês no tempo geológico. Extraído de Borges (2008). De acordo com (Roy 1997, 2000), as ocorrências de depósitos de manganês no Arqueano em relação aos de sulfetos são muito menores, isso por causa da baixa disponibilidade de oxigênio na terra, além das características da atmosfera e hidrosfera, já que a evolução dos depósitos de manganês está relacionada a eventos climáticos, biológicos e geológicos. A hidrosfera no período arqueano tinha característica redutora, e isso contribuiu para dissolução e acúmulo de manganês (Roy 1997, 2000). No proterozóico se destacam as maiores ocorrências de manganês, e onde são encontrados os depósitos com maior volume. Segundo Roy (1997), os depósitos de manganês de maior potencial e volume ocorrem no proterozóico, associados com formações ferríferas bandadas (BIF). Essas ocorrências estão relacionadas à disponibilidade de oxigênio, estabilidade da atmosfera e estratificação dos oceanos. O Mn2+ dissolvido era concentrado em ambiente anóxico de águas profundas, verticalmente por advecção-difusão ocorre a migração para interface redox e atingindo concentrações máximas, onde partículas óxido-hidróxido de manganês são formadas pela oxidação do Mn +2, que retornam para a superfície anóxica onde é depositada. 32 Os depósitos de manganês podem ser classificados como: hidrotermal, sedimentar e supergenico Roy (1981). Os depósitos sedimentares são subdivididos em vulcanogênicos, e não-vulcanogênicos. 4.2 Transporte e ambiente de deposição Segundo Roy, (2006), o ciclo do manganês envolve fonte, transporte, deposição e intemperismo. Todos estes fatores são influenciados pelo clima, geoquímica dos oceanos e nível do mar. O manganês é geoquimicamente móvel e migra em águas superficiais e subterrâneas. O teor médio de manganês da água do rio é muito baixo, porem a contribuição bruta de manganês para as bacias de hoje através dos rios é considerável. O mar Negro e o mar Azov recebem anualmente cerca de 210 000 toneladas de manganês através da descarga do rio (Sapozhnikov, 1970). O manganês pode migrar em solução, na forma de partículas e na forma de complexos orgânicos em proporções variáveis. Para Strakhov (1969) e (sapozhnikov (1970), o manganês dissolvido que é o principal responsável pela formação dos depósitos. O nível de oxigênio e pH no ambiente deposicional são fatores primordiais para a solubilidade e precipitação do manganês. Os óxidos e hidróxidos de manganês são mais solúveis que os óxidos e hidróxidos de ferro para qualquer pH e Eh. O manganês tende a ser levado em solução mais facilmente e permanece mais tempo em solução do que o ferro (Barbosa, 1981). Fe e Mn podem migrar como humatos ou outros complexos, tais como complexos de bicarbonato na água subterrânea anaeróbia e em águas de superfície ligeiramente ácidas (Roy, 1981). A estreita relação entre o ambiente fisiográfico e tectônico sobre os continentes, e a mobilidade geoquímica de elementos diferentes, incluindo Fe e Mn foi sublinhado por Strakhov (1969). A série de mobilidade geoquímica indica uma tendência para que os elementos se dispuserem em ordem de mobilidade progressiva, onde os parâmetros físico-químicos do Eh e pH são os principais fatores de controle em meio aquoso, de manganês. 33 4.3 Deposição dos depósitos de manganês A deposição do manganês pode ser na forma de carbonatos, hidróxidos, silicatos, óxidos ou sulfetos, isso depende do ambiente deposicional e dos parâmetros físico-químicos do ambiente de sedimentação. A presença de matéria orgânica pode afetar no comportamento das condições exógenas no momento da deposição, dessa forma a deposição de manganês é governada pela disponibilidade de oxigênio e da matéria orgânica livre nas bacias sedimentares, (Borges, 2008). Os parâmetros físico-químicos do Eh e pH é que controlam a separação do manganês e do ferro durante a deposição, sendo determinantes também para modificar a faciologia do protominério. Segundo Roy (2006), a deposição do manganês se dá geralmente em condições oxidantes e pH levemente básico. Em ambiente redutor, Fe (OH)2 é separado em condições de pH acido, e o Mn(OH)2 é precipitado em condições de pH básico. Segundo Hem (1963), a taxa de oxidação e precipitação de Mn a partir de uma solução aerada cresce com o aumento do pH e reduz-se pela presença de HCO3 e SO4. Esse autor após estudos de fase de equilíbrio do manganês, em sistema de água em temperatura ambiente e pressão, mostrou áreas de estabilidade para os sólidos e a solubilidade do Mn e as formas dominantes de soluto. Foram considerados varias possibilidades de condições do meio em termos de Eh e pH, de acordo com Krauskopf & Bird (1995). Em condições de pH superior a 5 pode haver a deposição do manganês, desde que as condições sejam oxidantes, com formação de pirolusita, manganita, criptomelana, dentre outros óxidos de alta valência, porem em meio é ácido este metal é móvel. Em um sistema com as mesmas variáveis físico-químicas, mas em soluções com presença de Mn-S-CO2-H2O, Hem (1972) já havia definido condições de estabilidade similares ao que foi defendido por Krauskopf & Bird (1995), porém, 34 nesse caso também, admitem a deposição da alabandita (MnS) Borges (2012) (Figura 4.2). Figura 4.2: Areas de estabilidade de sólidos, campo de estabilidade das fases mineralógicas do manganês em função das condições de pH e Eh no sistema Mn-SCO2.H2O. Hem (1963), (Borges, 2012). 4.4 Depósitos Hidrotermais Esses depósitos ocorrem devido à intensa atividade hidrotermal envolvida na formação da crosta oceânica, transferência de grande quantidade de calor e massa do interior da Terra para os oceanos. Os depósitos de manganês hidrotermais podem ser relacionados a ambientes de bacias marginais rasas, back-arc, terrenos de fore-arc, fossas adjacente a margens de placas continentais (Roy, 1997). Os depósitos hidrotermais são classificados como: depósitos em veio e depósitos stratabound. Segundo Roy (1968), os depósitos em veio tem uma grande variedade mineralógica que depende da disponibilidade de oxigênio e 35 queda da temperatura para formação, portanto esses tipos de depósitos podem ser classificados quanto às suas temperaturas de formação. Os depósitos stratabound que são formados em bacias continentais onde sedimentos ricos em manganês podem expulsar fluidos manganesíferos por compactação a temperaturas menores que 100ºC e mineralizar a rocha hospedeira (Glasby 1988). Os depósitos formados por fluidos hidrotermais estão relacionado tanto a encaixantes magmáticas quanto sedimentares. 4.5 Depósitos Sedimentares Segundo Roy (1992), os maiores depósitos de manganês tem origem sedimentar e suas fontes podem ser vulcanogênica e não vulcanogênica. São formados por uma sequência de fases ligadas ao tectonismo, evolução da atmosfera e hidrosfera. Essas fases têm inicio no fornecimento de metal por uma ou inúmeras fontes, passando pelo transporte para uma bacia até a deposição, ou a concentração durante o processo de diagênese. Essa possibilidade da formação do deposito tem origem de uma ou mais fontes torna a determinação dos depósitos de origem sedimentar muito complexa, visto que essas fontes podem ter origem terrígena ou hidrotermal (Roy 2006). Barbosa (1981) subdivide os depósitos sedimentares em antigos de fonte vulcânica e não vulcânica e modernos de fonte vulcânica e não vulcânica, sendo que os depósitos de fonte não vulcânica podem estar associados a formações terrígenas, carbonáticas ou ferríferas. Os depósitos de manganês sedimentares modernos formaram-se em um ambiente de mar profundo, em contraste com as evidências dos antigos depósitos, que foram formados em um ambiente de margem de bacia em águas rasas (Roy 1988). 36 4.6 Depósitos Supergênicos A formação dos depósitos de manganês supergênicos está relacionada as condições climáticas, topografia e teor de manganês na rocha fonte. Em regiões onde o clima é tropical úmido os depósitos de manganês podem ser gerados na zona de intemperismo. No semiárido a formação do manganês é baixa podendo ser formado camadas finas de oxido de manganês. Em regiões de clima temperado, durante o intemperismo com taxa de decomposição elevada e acidez, o manganês tem alta mobilidade sendo então carreado. Outros fator para a mobilidade do manganês em ambientes exógenos é o seu potencial iônico. Através do potencial iônico pode-se sugerir, que elementos como Mn, Cu, Ni, Al e Fe formem concentrações residuais quando sujeitos às condições superficiais com disponibilidade razoável de água, Borges (2012). Segundo Leeder (1999) Op cit. Borges 2012, elementos com potencial iônico menor do que três, portanto com grande raio iônico e baixa carga iônica, são móveis em condições superficiais. Os elementos com potencial iônico superior a dez, ou seja, com baixo raio iônico e elevada carga, também tendem a formar complexos solúveis e que se dissolvem facilmente, porem, como pode ser observado também na figura 4.3, cátions com valores intermediários de potencial iônico, entre 3 e 10, tais como Cu, Mn, Mg, Fe, Ni, Al, Cr, U Th, Ti e Zr tendem a ser insolúveis, se ligando a água para a formação de óxidos e hidróxidos estáveis a estas condições. 37 Figura 4.3: Esquema simplificado mostrando a mobilidade relativa dos elementos em soluções aquosas em ambiente superficial com base no potencial iônico (carga iônica/raio iônico). Extraído de Borges (2008). A supergênese atua sobre os protominérios expostos a superfície como: escarnitos, gonditos, anfibolitos manganíferos, queluzitos. Com a alteração do protominério, ocorre a transformação dos óxidos de baixa valência, carbonatos e silicatos em óxidos secundários de alta valência, entre esses óxidos estão a litioforita, pirolusita, criptomelana, manganita, conforme mostrado na figura 4.2. Segundo Barbosa (1981), os depósitos supergenicos tem modos de jazimentos variáveis, dependendo da geometria do corpo do protominério. Esses depósitos geralmente apresentam características como: afunilamento com a profundidade, diminuição do teor de Mn com a profundidade e com a aproximação da rocha encaixante. Os principais registros de enriquecimento supergênico tem ocorrência a partir da metade do Cenozóico até o recente. Estudos de depósitos na Austrália realizado por Dammer, McDougall & Chivas (1999), comprovam idade de laterização do protominério entre 52 e 7 Ma através de datações K/Ar e 40Ar/ 39Ar, o que sugere processos de enriquecimento supergênico de idade Neógena, relacionado com a formação da superfície Sul-Americana. 38 Os carbonatos de manganês e silicatos-carbonatos são mais favoráveis a concentração supergênica em zonas de intemperismo, por serem mais solúveis, já os óxidos de manganês são formados por reprecipitação, dissolução ou in situ pela oxidação do protólito. Os processos supergênicos estão registrados na grande maioria dos depósitos de manganês situados em regiões de clima tropical propiciando o enriquecimento desse elemento na zona de intemperismo. No Brasil alguns depósitos formados por enriquecimento supergênico são conhecidos como o deposito Serra do Navio no Amapá; deposito Morro da Mina em Minas Gerais e o Distrito Manganífero Urandi-Licinio de Almeida na Bahia, onde os processos supergênicos transformou a granada espessartita em óxidos como pirolusita e psilomelana. No depósito de manganês de São Félix, objeto deste estudo, observa-se que os processos supergênicos estão bem marcados, na área de estudo o protominério do tipo gondito esta encaixado de forma concordante com a rocha encaixante (granulito), onde o gondito sofre ações intempericas e ocorre principalmente alteração da granada (espessartita) e do piroxênio (piroxmanguita) por óxidos de manganês. 4.7 Depósitos de Manganês no mundo São conhecidos depósitos de manganês em varias partes do mundo, associados a diversos processos de formação. Esses depósitos ocorrem ao longo de todo tempo geológico desde o Arqueano até o Fanerozóico. Aproximadamente 80% das reservas mundiais conhecidas são encontradas na África do Sul, sendo que existem depósitos importantes localizados na Europa, Ásia e na América do Sul. Na figura 4.3, encontra-se a distribuição dos principais depósitos de manganês no mundo. Dentre os mais conhecidos depósitos de manganês estão os depósitos: Nikopol (Russia), Chiatura (Russia), Nsuta (África), Usinsk (Russia), Moada(África), Molango (México), Umini (Marrocos), Groote Eylandt (Australia). 39 No Brasil destaca-se os depósitos Serra do Navio (Amapá), São João Del rei (Minas Gerais), Urucum (Mato Grosso), Urandi-Lícinio de Almeida (Bahia), Azul (Pará), e Serra de Buritirama (Pará). O deposito de Nikopol esta localizado na Rússia, é do Oligoceno, classificado como deposito de origem sedimentar, tem como associações litológicas: arenitos, siltitos, argilas, margas, óxidos de manganês e carbonatos. Os principais minerais de manganês desse deposito são: rodocrosita calcica, calcita manganífera, pirolusita, psilomelana, manganita e mangano. Existem cerca de 1.7 bilhões de tonelada de manganês, com teores entre 15 e 35% (Borges, 2008). O depósito de Molango esta localizado no México, é do Jurássico e tem origem sedimentar, associados a calcários carbonosos e folhelhos e os principais minerais de manganês associados são: rodocrosita(MnCO3) e kutnahorita (Ca(Mn,Mg,Fe)(CO3)2. Nsuta é um depósito localizado no continente africano é do paleoproterozóico inferior e tem como associações litológicas: grauvacas, gonditos, xisto, filitos, tufos metamorfisados e lavas intermediarias e os principais minerais de manganês são: espessartita, criptomelana, pirolusita, litioforita e manganita. Figura 4.4: Localização dos principais depósitos de manganês no mundo. Beukes & Gutzmer (2006). 40 No Brasil destacam-se as minas do Azul, localizada em Serra dos Carajás no estado do Pará e a mina de Urucum localizada em Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Esses dois depósitos tem alto teor, em torno de 40% de manganês. O deposito de Urucum é do proterozóico inferior e tem como associações litológicas: hematita bandada, arenito arcosico, dolomintos, conglomerados e jasper, e psilomelana e pirolusita como principais minerais de manganês. O depósito Serra do Navio está localizado no Amapá, foi formado pela acumulação de manganês na forma de óxidos a partir do protominério gonditico, é do proterozóico inferior e além dos gonditos tem como associações litológicas o anfibolito, xistos, quartzitos e queluzitos.Também ocorrem associados a espessartita, rodocrosita, esfalerita, rodonita e grafita (Barbosa, 1981). Na Bahia os principais depósitos manganíferos encontram-se nos distritos do sul da Bahia, de Urandi-Licinio de Almeida, do oeste da Bahia e da Serra de Jacobina. Na figura 4.5, encontra-se a localização dos referidos distritos manganíferos (Barbosa, 1981). Segundo Barbosa (1981), os depósitos da Serra de Jacobina são de pequeno porte e estão distribuídos em quase toda borda leste da serra e associados aos filitos do complexo Itapicuru e tem como principais minerais de minério a psilomelana e pirolusita. O minério desse depósito apresenta-se como camadas e leitos estratificados nos filitos, na forma de óxidos secundários como crosta ferro-manganiferas, rolados, “granzon”, entre outros. Os depósitos do Distrito Urandi-Licinio de Almeida, fazem parte da sequência metavulcanossedimentar Caetité-Licinio de Almeida, de idade provável paleoproterozóica, localiza-se entre as cidades de Caetité e Licinio de Almeida, no oeste da Bahia. Essa sequência tem como associações litológicas itabiritos, queluzitos, mármores calcissilicáticas e (calcíticos rocha carbonato e manganesíferos), silicática, gonditos, metavulcânicas rochas máficas e ultramáficas (xistos máficos e ultramáficos), metapelitos com biotita, muscovita e granada-xistos (aluminosos) e cummingtonita xistos (Rocha, 1991; 1992; Rocha et al. 1998; Souza et al. 1984; Borges, 2008; Cruz et al., 2009; Borges et al. 2010; Apud Borges 2012). Um total de 35 minas de manganês já foram cadastradas, 41 configurando o Distrito Ferro-Manganesífero Urandi Caetité-Licínio de Almeida segundo Rocha et al. 1998) Apud (Borges, 2012). Segundo (Barbosa, 1981), todos os depósitos do distrito Urandi-Licinio de Almeida, quando alcançaram a superfície de erosão foram atingidas pela supergênese. Os gonditos tiveram enriquecimento supergênico gerado pela ação do intemperismo, provocando a alteração da espessartita para pirolusita e psilomelana (Barbosa, 1981). No Distrito oeste da Bahia os depósitos de manganês ocorrem no Grupo Bambuí em três zonas tectônicas: Na zona miogeossinclinal, onde o manganês esta encaixado em filitos e xistos; zona peri-cratônica com ocorrência de manganês em crostas superficiais, formadas pela supergenêse sobre filitos ricos em manganês e zona cratônica, ocorrência de óxidos de manganes de alta valência interestratificados em argilitos, Barbosa (1981, 1982). Segundo esse mesmo autor, analises de difratômetria de raio x em amostras de camadas de óxidos primário da zona cratônica identificou picos de pirolusita e psilomelana. O Mn que deu origem aos depósitos acumulouse em ambiente oxidante. Os depósitos descritos no sul da Bahia ocorrem encaixados em rochas metamórficas de alto grau da fácies granulito. As mineralizações manganíferas no sul da Bahia estão concentradas nos municípios de Santo Antônio de Jesus, Valença, Coaraci e Maraú. Todos os depósitos do sul da Bahia são considerados de pequeno porte e apresentam-se sob a forma de minério in situ, rolados e tombados (Barbosa, 1981). O minério in situ está sob a forma de lentes concordante com a rocha encaixante. São dezenas de depósitos cadastrados, mas classificados como antieconômicos. Em Marau foi comprovada a presença de protominério silicocarbonatico composto de espessartita, rodonita, tefroita, feldspato, mica, rodocrosita e quartzo. O depósito de São Felix, apresenta-se encaixado em rocha granulitica, e os minerais associados ao protominério é a espessartita, piroxmanguita(?), quartzo, pirolusita e óxidos não identificados. 42 Figura 4.5: Localização das áreas manganíferas da Bahia. Modificado de Barbosa (1981). 43 5. GEOLOGIA DO DEPÓSITO DE MANGANÊS DE SÃO FÉLIX A partir do mapeamento geológico, aliado às descrições macroscópicas e microscopica (descrição de lâminas delgadas e polidas), das litologias encontradas foi possivel identificar duas unidades geológicas na área de trabalho: a rocha mineralizada classificada como protominerio do tipo Gondito e a rocha encaixante, classificada como granulito de composição enderbitica. Na figura 5.1, observa-se um esboço da geologia encontrada no depósito estudado. Foram realizadas também análises mineralógicas através da Difratometria de Raios-X (DRX), para as amostras do protominério. A rocha encaixante está inserida no Complexo Caraíba. Esse complexo é a principal unidade litológica presente no Orógeno Itabuna-Salvador-Curaça, costituida de suíte bimodal, metamorfisada em fácies granulito, que possui o pólo félsico composto por ortognaisses enderbíticos, charnoenderbíticos e raramente charnockíticos, já o pólo máfico é composto por lentes meta-gabro-dioríticas (Kosin et al., 2003). A distinção entre as litologias desse complexo é feita principalmente pela composição mineralógica. Os corpos de minério maciço são provenientes da alteração intemperica do gondito, aparecem no geral sob a forma de blocos rolado, lenticular encaixada no granulito e crostas manganífera superficiais. 5.1 Rocha encaixante – Granulitos - Enderbito As rochas dessa unidade apresentam-se bastante alteradas, tem coloração cinza esverdeada devido alteração sofrida pelos processos intempericos, porem, quando frescas, possuem cor cinza clara, tem granulação média onde macrospicamente é possível identificar cristais de quartzo, k-feldspato, plagioclásio, biotita e anfibólio. Por vezes, exibem estrutura gnáissica. Os enderbitos têm mineralogia semelhante aos charnockitos, entretanto são mais ricos em plagioclásio e clinopiroxênio. O caráter plutônico dessas rochas é reforçado não só pela presença de microcristais de hornblenda e de biotita, inclusas em plagioclásios, mas, também, por agregados de ortopiroxênio44 clinopiroxênio com composição magmática típica (Bhattacharya 1971) e temperaturas de cristalização variando entre 900 e 1.000°C (Barbosa 1986, 1989,1990). Na fotografia 5.1, observa-se rochas enderbitica e no detalhe cristal de hornblenda de aproximadamente 1cm. Figura 5.1: Mapa geológico esquemático da área de estudo. 45 Fotografia 5.1: Rocha granulitica de granulometria fina à média, com destaque para cristal de anfibólio. Os granulitos também foram encontrados com foliação incipiente, minerais estirados seguindo uma orientação preferencial. Nessa unidade, a foliação Sn foi medida, tendo direções: Sn N200/75NW; Sn N155/60SW; Sn N200/74NE. Nessa litologia foram encontradas deformações rúptil, dúctil e rúptil-dúctil como: Fraturas, falhas, zonas de cisalhamento e dobras. Na fotografia 5.2, observa-se um afloramento de rocha granulitica e no detalhe direção de foliação. 46 Fotografia 5.2: Visão geral da rocha granulitica, no detalhe foliação com direção Sn N200/75NW. Na Fotografia 5.3, observa-se veio de quartzo sendo cortado por falha com movimento aparentemente destral. Essa litologia apresenta, em alguns locais, níveis máficos com concentração de granada (Fotografia 5.4), por vezes xenólito dessa litologia máfica, classificada como de composição gabroica, sendo corpos que foram reequilibrados na fácies granulito. Na Fotografia 5.5, vê-se a presença de xenólito inserido no granulito cortado por falha com cinemática aparentemente sinistral. Zona de cisalhamento presente com direção N095/73SW, cinemática com movimento aparente destral (Fotografia 5.6). Os diques de rocha granítica ocorre na área intrudindos nos granulitos, esses corpos tem forma alongada com aproximadamente 10cm de largura, tem textura fanerítica de granulação média à grossa e composição quartzo-feldspatica, tendo também a presença de cristais de cordierita (Fotografia 5.7). 47 Fotografia 5.3: Falha cortando o veio de quarto, com indicador de movimento destral. Fotografia 5.4: Nível máfico inserido no granulito com granada, no detalhe um pórfiro de granada. 48 Fotografia 5.5: Intrusão máfica de composição gabróica, inclusa no granulito, cortados por falha com movimento aparentemente sinistral. Fotografia 5.6: Rocha granulitica, apresentando deformação, com dobras assimetricas, zona de cisalhamento, cinemática aparente com movimento destral. 49 Fotografia 5.7: Dique de granito cortando a rocha granulitica, no detalhe cristais de cordierita no granito. 5.2 Protominério – Gonditos O protominério da área de trabalho foi classificado como gondito, que é uma rocha metamórfica que tem como mineralogia principal a granada do tipo espessartita, cuja degradação intemperica origina o minério de manganês. O minerio de manganês na região de São Félix, foi concentrado pelo enriquecimento supergênico a partir da alteração intemperica do gondito. Podendo ocorrer nas seguintes formas: 1) Bloco formado essencialmente por óxidos de manganês possivelmente “in situ”sobre o gondito. 2) Bloco rolado do minério “in situ” que devido a erosão estão espalhados na superficie ao redor do corpo de minério “in situ”. 50 3) Crosta manganesifera de espressão superficial que podem ocorrer sobre o gondito. Estas crostas devem formar-se pela lixiviação do manganês por águas superficiais e precipitação próxima a fonte . Os corpos de minério maciço estão em geral aparecendo sob a forma de blocos rolados e crostas manganífera superficiais, em sua maioria observa-se esse minério na forma de rolados. O protominerio apresenta-se também sob a forma de blocos rolados e forma lenticular encaixada no granulito. Na figura 5.2, um esboço do depósito de manganês de São Félix e suas feições . LEGENDA Minério Rolado Protominério - Gondito Solo residual Granulito - Enderbito Minério Contato inferido Figura 5.2: Seção geológica esquemática do depósito de manganês de São Félix. 51 O corpo mineralizado lenticular é estreito e tem forma alongada, concordante com a foliação na direção N-S, tem textura maciça, granulometria fina à média e apresenta-se alterado para óxidos de Mn. Devido aos processos erosivos e grande espessura de solo que recobre as rochas, não é facilmente reconhecível o contato entre a rocha encaixante e o minério, porem na (Fotografia 5.8) é possível observar esse contato. O gondito apresenta-se com intensa alteração superficial, tem coloração cinza azulado à preto. Os solos originados a partir da alteração intempérica deste litotipo apresentam coloração marrom escuro. Sua composição mineralógica é granada (espessartita - Mn3Al2(Si3O12), quartzo e óxidos de manganês. As evidências geológicas observadas em campo, aliadas aos estudos petrograficos indicam que o depósito de manganês de São Felix foi originado a partir de processos supergênicos. Os processos de alteração e formação de depósitos pela supergênese depende de fatores como: clima, composição do protominério, agentes tectônicos e aspectos geomorfológicos. A ação desses fatores é que leva a concentração de manganes relativamente baixo e formação do depósito a partir rochas com baixo teor como o gondito, onde a circulação de fluidos meteóricos associada com regime de chuvas e com flutuações do nível freático remove a sílica e acumula o Mn. Em ambiente de Eh oxidante e pH entre 5-8, ira influenciar na alteração quimica e mineralogica da rocha. As maiores ocorrrências dos depósitos de manganês estão entre o arqueano e paleoproterozóico, onde predominava um ambiente oxidante tanto na atmosfera quanto na hidrosfera. A variação da composição química, nestas condições intempéricas os óxidos SiO2, MgO, Na2O, CaO e K2O são eliminados do perfil de alteração enquanto que MnO, Fe2O3, bem como Cu, V, Al, ETR são concentrados residualmente (Borges, 2012) 52 minério Encaixante Fotografia 5.8: Contato entre a encaixante e o minério Outras formas de ocorrências do minério na área mapeada são os minérios rolados e tombados, com tamanhos que variam de 5 à 15 cm e de 15cm à 1,5m respectivamente, e podem ser encontrados tanto no topo, quanto nas encostas da área (Fotografia 5.9). Minério Fotografia 5.9: Minério exposto na área sob a forma de blocos rolados e tombados. 53 Na fotografia 5.10, observa-se ocorrência de crosta manganifera superficial sobre a rocha encaixante, crosta formada pelo enriquecimento secundário, assim como na fotografia 5.11, onde por vezes ocorre com habito botrioidal (Fotografia 5.11). Fotografia 5.10: Crosta manganifera superficial Fotografia 5.11: Detalhe do Gondito alterado com crosta manganífera superficial com habito botroidal. 54 Na (Fotografia 5.12), amostra de mão do protominerio com alteração da borda para o centro, niveis de espessartita na borda já alterada com coloração caramelada. A presença da granada espessartita no protominerio é confirmada na analise realizada por Difratometria de Raios-X, nesse mineral predomina na rocha gonditica. Foi realizado analise por Difratometria de Raios-X em cinco amostras (TC01A, TC 01B, TC- 08, TC -09 e TC- 10), do protominério e do minério, com a finalidade de identificação dos óxidos de manganês, porem, os difratogramas apresentam um baixo grau de resolução. Nas figuras 5.3 e 5.4, observa-se difratogramas com presença de picos de espessartita, além da granada espesartita Mn3Al2(Si3O12), foi identificados picos secundários de pirolusita MnO2. No capitulo 6, será apresentado a descrição microscópica do protominério, onde é possível identificação de outras litologias associadas ao gondito além da espessartita um piroxênio de manganês é observado, podendo ser classificado como piroxmanguita ((Mn,Fe)SiO3) que é um piroxenóide de Mn e ferro, além dos minerias opacos e em menor proporção o quartzo. Fotografia 5.12: Amostra de mão do protominério, alteração evoluindo da borda para o centro. 55 Espessartita Espessartita Figura 5.3: Difratometria de Raios-X da amostra TC-01A, demonstrando a predominância da granada espessartita. Espessartita Espessartita Espessartita Figura 5.4: Difratometria de Raios-X da amostra TC-09, demonstrando a predominância da granada espessartita. 56 6. CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA A descrição das lâminas petrográficas foi necessária para caracterização dos litotipos, identificando a composição mineralógica, textural e feições associadas. Foram descritas 7 lâminas petrográficas. 6.1 Granulito - Enderbito O enderbito da área de estudo tem textura poiquiloblastica, granoblastica granular, porem com alguns cristais com característica decussada, inequigranular, com cristais variando de subdioblasticos à xenoblásticos. Essa litologia tem como composição principal: plagioclásio, quartzo, ortopiroxênio (opx), clinopiroxênio (cpx), K-feldspato, anfibólio, biotita titanifera, e como acessórios foi identificado cristais de apatita, zircão e opacos. Os granulitos são rocha encaixante da área de estudo e foi classificada como enderbito pela composição modal. O plagioclásio apresenta-se em maior quantidade na rocha e perfaz um total de 45% do volume total, o grau de alteração é baixo, é possível observar que alguns grãos não apresentam mais geminação, onde a predominância é de geminação albita e albita-Carlsbad (Fotomicrografia 3). Os cristais de plagioclásio variam de 0,1 à 3,0 mm, esses grãos nos seus limites apresentam contato curvo e por vezes contato reto entre si e com outros minerais (Fotomicrografia 1). Fotomicrografia 1: Grãos de Cpx-Clinopiroxênio; Pl-Plagioclsio; Ap-Apatita e Op- Opacos, visão geral da lâmina onde os minerais apresentam-se normalmente com contato curvo entre si. A) imagem com nicóis cruzados. B) Imagem em luz plana. Aumento= 100X. Amostra: TC-04. 57 Os piroxênios são representados na rocha por clinopiroxênios e ortopiroxênios, representa 20% do volume total da rocha, sendo 12% clino e 8% orto. Os cristais de piroxênio apresentam limites predominantemente curvos, com faces cristalinas variando de subdioblásticos à xenoblásticos. O tamanho dos grãos estão variando de 0,1 à 3,5 mm. Os cristais de clinopiroxênio estão representados pela augita, e o ortopiroxênio é representado pelo hiperstênio, apresentam-se por vezes de forma alongada (fotomicrográfias 2). Fotomicrografia 2: Cristais de Cpx-Clinopiroxênio e Qtz-Quartzo de forma alongada, ambos apresentando em sua maioria contato curvo com o Pl-Plagioclasio, e por vezes contato reto. C) Imagem com nicóis cruzados. D) Luz plana. Aumento = 100X. Amostra: TC-04. Fotomicrografia 3:. Cristais de Pl-Plagioclasio com geminação albita, formando contato curvo entre os grãos e pontualmente envolvido por cristai de Cpx-Clinopiroxênio. E) Imagem em nicóis cruzados. F) Imagem em Luz plana. Aumento= 100X. Amostra TC-06 58 O K-Feldspato representa 11% do volume total da rocha, é representado pela microclina que em nicóis cruzados apresenta a sua típica geminação em grade do tipo albita-periclina. Os cristais apresenta limites curvo, faces cristalinas dos grãos são xenoblástica, grãos com tamanhos variados, podendo chagar à 3,5 mm, observa-se inclusão de clinopiroxênio na microclina (fotomicrográfia 5). O anfibólio representa 3% do volume total da rocha e está representado pela hornblenda, os cristais apresentam limites curvos, faces cristalinas dos grãos são subdioblástico, o pleocroísmo do anfibólio é marrom a verde amarronzado, o tamanho dos grãos podem chegar até 3 mm (fotomicrográfia 4). Fotomicrografia 4:. Cristais de Hbl-Hornblenda com pleocroismo marrom, grãos xenoblásticos assim como o Opx-Ortopiroxênio, Grão de Pl-Plagioclasio sem geminação. A) Imagem com nicóis cruzados. B) Imagem em Luz plana. Aumento= 100X. Amostra TC-06. 59 Fotomicrografia 5: Cristai de Kfs – K-Feldspato/ microclina, quartzo apresentando alteração, cristais de Pl-Plagioclasio com geminação albita. I) Imagem com nicóis cruzados. J) Imagem com luz plana. Aumento= 100X. O quartzo equivale a 15% do volume total da rocha seus grãos apresentam contato curvos e retos nos limites, faces cristalinas dos grãos predominantemente xenoblásticos, com tamanho de variando de 0,1 à 2,5 mm, grãos por vezes apresentam cor amarelada, tem extinção ondulante e geralmente associados com o plagioclásio (fotomicrográfia 5). Os opacos representam 4% do volume da rocha, por vezes apresenta relação de contato com o clinopiroxênio, não apresentam forma definida. (fotomicrográfias 1 e 6). O zircão representam a 1% do volume total da rocha, com tamanhos de 0,07 a 0,1mm, apresenta forma subdioblástico e estão inclusos no plagioclásio (fotomicrografia 6). A apatita tem grãos variando de 0,1 à 0,2 mm, com forma subédricas e apresenta-se sempre em contato com o plagioclásio (fotomicrográfia 1). A biotita titanifera possui pleocroísmo variando entre o castanho claro e castanho escuro, ocorre subiodioblástica a xenoblástica, em contato com cristais de K-Feldspato e opacos (fotomicrográfia 7). 60 Fotomicrografia 6: Grãos de Kfs – K-Feldspato/ miroclina envolvendo o Cpx-Clinopiroxênio; PlPlagioclasio, presença do Zr-Zircão como mineral acessório. L) Imagem com nicóis cruzados M) Imagem com luz plana. Aumento = 100X. Amostra TC-06 A 0.10 mm B 0.10 mm Fotomicrografia 7: Cristais de Bt- biotita titanifera em processo de alteração, em contato com Op-opacos e grãos de Kfs – K-Feldspato/ miroclina e Pl-Plagioclasio. A) Imagem com nicóis cruzados. B) Imagem com luz plana. Aumento = 100X. Amostra TC-03. 61 6.2 Protominério – Gondito O protominério classificado como gondito, tem em sua composição mineralógica: granada, quartzo, clinopiroxênio e opacos. As lâminas descritas do protominério foram das amostras: TC 01 e TC-07A, TC-11 e TC-12. A granada representa 70% do volume total da rocha, os grãos são inequigranulares, as faces cristalinas são subdioblástico à xenoblásticos, o tamanho dos grãos variam de 0,05 à 3,5 mm, o mineral tem relevo alto e cor acastanho claro. Pela composição do protominério e identificação por analise DRX a granada é classificada como espessartita [Mn3Al2(SiO4)3]. Com esse alto percentual da composição modal é possível observar esse mineral em todas as lâminas descritas. Nas fotomicrográfias 8 e 9, observa-se a granada (espessatita) com textura granoblastica, é possível observar os cristais de granada, com muitas fraturas, todas preenchidas por opacos, contato interdigitado, ameboide com os clinopiroxênios e com os opacos, características que marcam a atuação de processos supergênicos na rocha (fotomicrográfia 10). Os cristais de piroxênio possivelmente piroxomanguita também estão sendo alterados para minerais opacos, após esse processo de alteração pela supergênese as rochas são alterados de protominério para minério. Fotomicrografia 8: Cristais de Grt-Granada fraturados, com fratura preenchidas por Op- pacos. Observa-se que tanto a granada quando o piroxênio questão em processo de alteração. A) Imagem com nicóis cruzados. B) Imagem em luz plana. Aumento= 100X. 62 Fotomicrografia 9: Amostra TC-01. C) Cpx-Clinopiroxênio; Op- Opacos; Grt-Granada (nicóis cruzados). Aumento= 100X. D) Cpx-Clinopiroxênio ; Op- Opacos; Grt-Granada (Luz plana). Aumento = 100X. O quartzo representa 7% do volume total da rocha, os grãos são inequigranulares, em sua maioria com faces cristalinas xenoblásticos, porem por vezes apresentam cristais subdiobásticos em contato com a granada. O quartzo é incolor e tamanho dos grãos estão variando de 0,1 a 2,5 mm, grau de alteração médio, grãos intensamente fraturados. Fotomicrografia 10: Cristais de Cpx-Clinopiroxênio (Piroxmanguita?), sendo alterado para óxido de manganês (Op- Opacos), contato curvo do piroxênio com o grãos de Grt-Granada espessartita), que também esta em alteração. A) Imagem com nicóis cruzados. B) Imagem em luz plana. Aumento= 100X 63 Os opacos correspondem à 10% do volume total da rocha, os opacos são anédricos são representados em sua maioria por óxidos de manganês, não apresenta limites definidos, está em estagio de alteração, apresenta contato ameboide com estagio avançado de migração (fotomicrográfia 11). O piroxênio está representado no protominério pelo clinopiroxênio que pela relação de composição é provável ser a piroxmanguita [2(Mn.Fe)SiO3+3/2 O2]. Esse mineral representa 13% do volume total da rocha, apresenta alto grau de alteração. Fotomicrografia 11: Cristais de Cpx-Clinopiroxênio; alterando para óxidos, Grt-Granada fraturada, no centro mineral Op – opaco produto de alteração da espessartita e do clinopiroxênio. G) Imagem com (nicóis cruzados. H) Imagem em luz plana. Aumento= 100X Grt cpx Grt cpx Grt Grt A 0.10 mm B 0.10 mm Fotomicrografia 12: Grãos de Grt-Granada (espessartita), subedricos, em contato com mineral CpxClinopiroxênio (piroxmanguita), ambos alterando para óxido (Op- Opacos). A) Imagem com nicóis cruzados. B) Imagem em luz plana. Aumento= 100X 64 Todas as fotomicrografias das amostras de protominério mostram um avançado grau de alteração, provando o enriquecimento supergênico e alteração do gondito para o minério, transformação dos principais minerais constituites da rocha como a granada do tipo espessartita e clinopiroxênio, além das fraturas totalmente preenchidas do opacos (fotomicrográfias 13, 14). Na fotomicrografia 12 observa-se os cristais de granada xenoblásticos em contato com os piroxênios e ambos relacionados a alteração para os minerais opacos. Pela associação mineralógica e sua composição é possível que o piroxênio encontrado seja do tipo piroxmanguita, outra possível evidencia é a alteração do piroxênio para óxido de manganês observa-se na fotomicrográfia 15, detalhe do piroxênio fraturado e sendo transformado em óxido de manganês. Na fotomicrográfia 17, observa-se inclusão de opaco na granada, pode ser um indicativo da existência de um óxido formado anteriormente a granada espessartita. As fotomicrografias 16(c) e 17(o) são de seção polida, porém não foi possível identificação dos opacos existentes na lâmina. Fotomicrografia 13: Porfiroblastos de Grt-Granada fraturados, e Cpx-Clinopiroxênio fraturados e se transformando em óxidos de manganês. C) Imagem com nicóis cruzados. D) Imagem em luz plana. Aumento= 100X. Amostra TC-7A. 65 Fotomicrografia 14: Visão geral da lâmina do protominério de manganês em processo de alteração, cristais de Cpx-Clinopiroxênio e Grt-Granada alterando para óxido de manganês, cristais totalmente fraturados, com fratura preenchida por Op- Opacos. Presença do quartzo com extinção ondulante em contato curvo e reto com a granada. G) Imagem com nicóis cruzados. H) Imagem em luz plana. Aumento= 100X. Amostra TC-7A. Fotomicrografia 15: Cristal de Cpx-Clinopiroxênio (Piroxmanguita?), muito fraturado, com fraturas preenchidas por Op- Opacos. L) Imagem com nicóis cruzados. M) Imagem em Luz plana. Aumento = 200X. 66 Cpx Op Grt Cpx Op 0.10 mm 0.10 mm Fotomicrografia 16: Grãos de Cpx-Clinopiroxênio (Piroxmanguita) e Grt-Granada (Espessartita), fraturados com fraturas preenchidas por minerais Op- Opacos. C): Imagem com luz refletida. D) imagem com nicóis cruzados. Aumento= 100X. Amostra TC-11 Op Grt 0.10 mm 0.10 mm Grt 0.10 mm Fotomicrografia 17: Cristais com feições de alteração dos minerais Cpx-Clinopiroxênio (Piroxmanguita) e Grt-Granada (Espessartita), minerais com fraturas preenchida por op-opacos. A) Imagem com luz refletida. B) imagem com nicóis cruzados. Aumento= 200X. Amostra TC-12. 67 7.0 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES O depósito de manganês de São Félix tem como rocha encaixante rochas de alto grau metamorfico, classificada como enderbitos. O minério de manganês na região de São Félix pode ocorrer nas seguintes formas: 1) Bloco formado essencialmente por óxidos de manganês “in situ”sobre o gondito. 2) Bloco rolado do minério “in situ” que devido a erosão estão espalhados na superficie ao redor do corpo do minério “in situ”. 3) Crosta manganesifera de expressão superficial que podem ocorrer sobre o gondito e a rocha encaixante (granulito). Estas crostas devem formar-se pela lixiviação do manganês por águas superficiais e precipitação próxima a fonte . As evidências geológicas observadas em campo, aliadas aos estudos petrográficos indicam que o depósito de manganês de São Félix foi originado a partir de processos supergênicos. Os processos de alteração e formação de depósitos pela supergênese depende de fatores como: clima, composição do protominério, agentes tectônicos e aspectos geomorfológicos. A ação desses fatores é que leva a concentração de manganês a partir de rochas com baixo teor como o gondito, onde a circulação de fluidos meteóricos associada com regime de chuvas e com flutuações do nível freático remove a sílica e acumula o Mn. Foi comprovado por analise de difração de Raio X, que o principal mineral que compõe o protominério é a granada espessartita, sendo então esse protominério classificado como gondito. Através da descrição petrográfica foi possível identificar presença de quartzo e clinopiroxênio classificado com do tipo piroxmanguita pela associação de composição dos outros minerais identificados e pela sua alteração para óxidos de manganês. 68 A pirolusita foi identificada por analise de difração de raio X, porém por picos secundários. Outros óxidos, hidróxidos de manganês devem estar presentes no minério, mas devido limitações dos métodos analíticos disponíveis não foi possível caracterizá-los. O depósito de manganês de São Félix apresenta boas exposições do protominério (gondito) e dos vários estágios de alteração intempericos até a forma do minério propriamente dito, constituindo assim, um local muito favorável para estudos de alterações mineralógicas no processo supergênico e as fases geoquímicas envolvidas nesses processos. Assim sugere-se a continuação dos trabalhos, para a realização de estudo mais detalhado no protominério e na rocha encaixante, é sugerida amostragem mais ampla das litologias, abertura de trincheiras, testemunhos de sondagem, estudos geoquímicos para rocha total, elementos maiores e traços e estudos em microssonda eletrônica. Essas sugestões são de extrema importância para identificação da natureza dos protólitos e caracterizar o ambiente geológico do depósito. 69 8.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AILLON, M.P. Caracterização petroquímica e do metamorfismo das rochas granulíticas da região de Cachoeira - São Félix - Cruz das Almas, Bahia. Dissertação de Mestrado, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 165 p. 1992. BARBOSA, J. O manganês do Oeste da Bahia. Dissertação de Mestrado, Geologia. Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1981, 129 p. BARBOSA, J. 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