Rodrigo Zukauskas Santos - PUC-SP

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Rodrigo Zukauskas Santos
A Espiritualidade e a Religiosidade na prática pediátrica
MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO NAS PROFISSÕES DA SAÚDE
SOROCABA
2013
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Rodrigo Zukauskas Santos
A Espiritualidade e a Religiosidade na prática pediátrica
MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO NAS PROFISSÕES DA SAÚDE
Trabalho
Final
apresentado
à
Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência parcial
para a obtenção do título de MESTRE
PROFISSIONAL em Educação nas Profissões
da Saúde, sob a orientação da Profª Drª Raquel
Aparecida de Oliveira.
SOROCABA
2013
Bibliotecário Responsável: Antonio Pedro de Melo Maricato CRB-8 / 6922
Biblioteca Prof. Dr. Luiz Ferraz de Sampaio Júnior.
Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde – PUC-SP
Santos, Rodrigo Zukauskas
S237
A espiritualidade e a religiosidade na prática pediátrica / Rodrigo
Zukauskas Santos. -- Sorocaba, SP : [100.], 2013.
Orientador : Raquel Aparecida de Oliveira.
Dissertação (Mestrado Profissional) -- Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde.
Banca Examinadora
________________________________
________________________________
________________________________
AGRADECIMENTOS...
“É com o coração que se vê
corretamente; o essencial é invisível aos olhos”
Antoine de Saint Exupéry
À minha esposa Ana e minhas filhas Clara e Julia pelo amor, respeito e
incentivo a todos os momentos de minha vida.
Aos meus pais pelas oportunidades e caminhos oferecidos.
Aos funcionários e professores da Faculdade de Ciências Médicas e da
Saúde da PUCSP pelo respeito e motivação.
Aos funcionários e professores da Pós-Graduação da PUC-SP pelo
acolhimento e pelos ensinamentos.
Aos médicos pediatras do Conjunto Hospitalar de Sorocaba e aos residentes
de pediatria da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da PUCSP pela atenção
e respeito.
Aos colegas da I Turma do Mestrado Profissional em Educação nas
profissões da Saúde pelo carinho e amizade.
À coragem, ao entendimento e à amorosidade de minha orientadora Profª Drª
Raquel.
À espiritualidade e à pediatria pela oportunidade do assunto.
Às crianças, motivo maior de meu trabalho.
RESUMO
Santos, R.Z. A Espiritualidade e a Religiosidade na prática pediátrica
Introdução: As novas concepções da física clássica, o crescente movimento
religioso e as discussões bioéticas levaram a um aumento significativo de
publicações a respeito da espiritualidade, inclusive suas implicações na saúde. Na
atenção integral à criança e à família, a espiritualidade e a religiosidade devem estar
presente no trabalho do médico em ato, local de infinitas possibilidades, como
instrumento comunicacional, no respeito bioético e como força que pode influenciar
positivamente
o
processo
saúde-doença.
Objetivos:
Comparar
a
religiosidade/espiritualidade dos pediatras e dos residentes em pediatria, e como
isso influencia a sua prática clínica; identificar a percepção quanto às necessidades
espirituais das crianças atendidas e de seus familiares; e conhecer o quanto a
religiosidade/espiritualidade das crianças e familiares influenciam no tratamento e
enfrentamento das doenças. Metodologia: Foi realizada uma pesquisa quantitativa
através da aplicação de um questionário sobre os dados gerais de caracterização;
questões sobre a dimensão de religiosidade/espiritualidade; conhecimento do tema
na saúde e a sua inserção na prática clínica dos profissionais. Resultados:
Participaram 37 profissionais, sendo 25 médicos pediatras de um hospital público
em Sorocaba-SP e 12 residentes em pediatria pela Faculdade de Ciências Médicas
e da Saúde da PUC/SP. Após tratamento dos dados, constatamos que não houve
diferenças entre os dois grupos quanto a sua religiosidade e espiritualidade; são
profissionais com grande religiosidade intrínsica, valorizam a espiritualidade e
religiosidade em suas vidas, influenciando, inclusive, suas práticas clínicas diárias.
Apesar de reconhecerem a necessidade da abordagem espiritual das crianças e
familiares e a influência positiva da religiosidade e da espiritualidade no tratamento e
enfrentamento das doenças, poucos abordam esta dimensão, sendo apontadas
como principais razões a falta de conhecimento, treinamento e de tempo. Os
profissionais também se mostram abertos e dispostos a incluírem esta temática em
seus trabalhos.
Palavras chave: Espiritualidade, Educação Médica, Pediatra, Religiosidade e
Medicina.
ABSTRACT
Santos, R.Z. A Spirituality and Religiosity in pediatric practice
Introduction: The new concepts of classical physics, the growing religious
movement and bioethical discussions led to a significant increase in publications
about spirituality, including its health implications. At full attention to the child and
family, spirituality and religiosity should be present in the work of the medical act,
place of endless possibilities, as an instrument of communication, respect and
bioethics as a force that can positively influence the disease process. Objectives: To
compare the religiosity/spirituality of pediatricians and pediatric residents, and how
this influences their clinical practice to identify the perception of the spiritual needs of
the children served and their families, and to know how religiosity/spirituality of
children and family influence in the treatment and coping of diseases. Methods: Was
performed a quantitative research through a questionnaire about general data
characterization; questions about the extent of religiosity/spirituality, knowledge of the
subject and its inclusion in health for clinical professionals. Results: Participants
were 37 professional, 25 pediatricians in a public hospital in Sorocaba-SP and 12
pediatric residents from the College of Medical and Health Sciences at PUC/SP.
After processing the data, we found that there were no differences between the two
groups regarding their religiousness and spirituality, are professionals with high
intrinsic religiosity, spirituality and religiosity value in their lives, influencing even their
daily clinical practice. While recognizing the necessity of spiritual children and
families and the positive influence of religiosity and spirituality in coping and
treatment of diseases, few approach this dimension. Pointed as the main reasons the
lack of knowledge, training and lack of time. Professionals also show open and
willing to include this issue in their work.
Keywords: Spirituality, Education, Medical, Pediatric, Religion and Medicine.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Distribuição dos Residentes e Pediatras segundo o Gênero e Etnia. Sorocaba,
2012. ..................................................................................................................................................... 55
Tabela 2. Distribuição dos Residentes e Pediatras segundo idade e tempo de formado.
Sorocaba, 2012. ................................................................................................................................. 56
Tabela 3. Distribuição dos Residentes e Pediatras segundo Religião e a sua percepção
quanto à própria religiosidade. Sorocaba, 2012. ........................................................................... 57
Tabela 4. Distribuição dos Residentes e Pediatras segundo a Religiosidade Organizacional e
não organizacional. Sorocaba, 2012. .............................................................................................. 59
Tabela 5. Distribuição dos Residentes e Pediatras segundo a Religiosidade Intrínseca.
Sorocaba, 2012. ................................................................................................................................. 60
Tabela 6. Entendimento dos Residentes e Pediatras do que é Espiritualidade. Sorocaba,
2012. ..................................................................................................................................................... 61
Tabela 7. Crenças em Deus e na existência da alma ou espírito pelos Residentes e
Pediatras. Sorocaba, 2012. .............................................................................................................. 62
Tabela 8. Relações citadas sobre o assunto “Saúde e Espiritualidade” por médicos e
residentes. Sorocaba, 2012. ............................................................................................................. 63
Tabela 9. Influência da religiosidade e espiritualidade na saúde segundo os Residentes e
Pediatras. Sorocaba, 2012. .............................................................................................................. 64
Tabela 10. Quanto os residentes e pediatras acham pertinente a abordagem do tema
Religiosidade/Espiritualidade com seus pacientes e como se sentem ao fazê-la. Sorocaba,
2012 ...................................................................................................................................................... 66
Tabela 11. Quando segundo os residentes e pediatras é apropriado o médico rezar.
Sorocaba, 2012. ................................................................................................................................. 67
Tabela 12. Frequência que os residentes e pediatras abordam os assuntos espirituais e
religiosos com os pacientes. Sorocaba, 2012 ............................................................................... 68
Tabela 13. Algumas das afirmações que desencorajam os médicos e residentes a discutir
religiosidade/espiritualidade com seus pacientes. Sorocaba, 2012. .......................................... 69
Tabela 14. Ferramentas ou tratamentos espirituais que os residentes e pediatras acreditam
que poderiam ser recomendados a seus pacientes. Sorocaba, 2012. ...................................... 70
LISTA DE ABREVIAÇÕES
ABEM: Associação Brasileira de Educação Médica
AC: Alojamento Conjunto
AFMA: Associação de Faculdades de Medicina Americanas
AMM: Associação Médica Mundial
CEP: Comitê de Ética em Pesquisa
CHS: Conjunto Hospitalar de Sorocaba
CINAEM: Comissão Interinstitucional Nacional de Avaliação do Ensino Médico
Comissão Conjunta de Acreditação de Organizações de Saúde
CNE: Conselho Nacional de Educação
CNRM: Comissão Nacional de Residência Médica
DCN: Diretrizes Curriculares Nacionais
INPCS: Instituto Nacional de Pesquisa no Cuidado à Saúde
LDBEN: Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MS: Ministério da Saúde
OMS: Organização Mundial da Saúde
PROMED: Programa de Incentivo a Mudanças Curriculares nos Cursos de Medicina
PROSAUDE: Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em
Saúde
PUC-SP: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
SBP: Sociedade Brasileira de Pediatria
SUS: Sistema Único de Saúde
TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 17
2. IMPORTÂNCIA ..................................................................................................... 21
3. RELIGIOSIDADE, ESPIRITUALIDADE E SAÚDE ............................................... 23
4. ENSINO MÉDICO E ESPIRITUALIDADE............................................................. 31
4.1. Considerações Históricas ............................................................................... 31
4.2. Crise da Sociedade ......................................................................................... 34
4.3. O novo modelo ................................................................................................ 36
5. PEDIATRIA E ESPIRITUALIDADE ...................................................................... 43
6. OBJETIVOS .......................................................................................................... 49
6.1. Gerais ............................................................................................................. 49
6.2. Específicos ...................................................................................................... 49
7. METODOLOGIA ................................................................................................... 51
7.1. Tipo de estudo ................................................................................................ 51
7.2. Local do estudo ............................................................................................... 51
7.3. População do estudo ...................................................................................... 52
7.3.1. Critérios de inclusão ................................................................................. 52
7.3.2. Critérios de exclusão ................................................................................ 52
7.4. Instrumento de Coleta ..................................................................................... 53
7.5. Tratamento dos dados .................................................................................... 54
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 73
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 77
APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............................ 85
APÊNDICE B - Questionário ................................................................................... 87
ANEXO A - Comitê de Ética em Pesquisa ............................................................. 95
ANEXO B – Formulário de autorização de pesquisa (CHS) ................................. 97
ANEXO C - Versão em português da Escala de Religiosidade da Duke – DUREL
.................................................................................................................................. 99
1. INTRODUÇÃO
“Da janela da sala,
Podia ver luzes e sombras,
Caminhos possíveis naquele momento presente...”
(Rodrigo Zukauskas, 1999)
Em minha infinita jornada pela busca do entendimento do ser humano é
chegado mais um momento de transformação.
Ao adentrar nesta pesquisa, lanço-me em uma longa viagem repleta de
reflexões e significados para a minha vida pessoal e profissional ao trazer o tema da
religiosidade e da espiritualidade na discussão do meu trabalho como médico e
como futuro educador.
As perguntas que surgem despertam-me a curiosidade, transformando-se em
ação pela busca do saber. Desta ação, dependente da informação e da vontade,
construo meu universo e reconstruo-me como Pediatra.
Nesse contexto, ao cursar o Mestrado em Educação para as Profissões da
Saúde tive a oportunidade de levar para minha prática médica reflexões sobre a
bioética, as metodologias ativas e o processo de ensino-aprendizagem, a gestão e
as políticas em saúde, mas além, a oportunidade das discussões e o respeito ao
pluralismo, à diversidade cultural e à prática multidisciplinar.
A minha formação médica foi pautada em um modelo de ensino-aprendizado
fragmentado em disciplinas básicas, como anatomia, histologia e fisiologia,
disciplinas clínicas. Era do tipo depositário em forma de aulas expositivas projetadas
por repetidas transparências, muitas vezes impregnadas pelo bolor dos anos e anos
de uso. O ensino da prática médica era realizado no hospital, centrado na busca
pela doença.
Os pacientes eram muitas vezes chamados não por seus nomes e sim pelos
nomes de suas doenças. Eram enfermarias onde estavam internados pneumopatas,
cardiopatas e nefropatas. Eram quartos onde as histórias de cada paciente
permaneciam do lado de fora, não era permitida a sua entrada. O indivíduo doente
perdia cada vez mais espaço e importância no seu próprio contexto e significado.
Este modelo reducionista e biologista proporciona ao aluno uma formação
fragmentada do ser humano, passando a doença a ser mais valorizada e
interpretada que o próprio doente.
No final do século XX, período da história em que ocorreu a minha
Graduação, a evolução tecnológica supervalorizava os aspectos científicos em
relação aos aspectos humanistas, levando o ensino médico não só a retirar o estudo
de humanidades, incluindo a religião, de seu currículo, como também a desprestigiar
e até ridicularizar qualquer tentativa nesta direção (SIQUEIRA, 2006).
O primeiro contato com a disciplina de Pediatria na graduação e a escolha da
especialidade como pós-graduação trouxe uma nova oportunidade. A criança abrira
para mim um novo universo dentro da Medicina, trazendo mais clara a noção da
transcendência, permitindo-me utilizar e valorizar comunicações antes esquecidas e
ocultadas pelo modo materialista daquele saber que me formava.
O meu trabalho como Pediatra ocorre nos campos de batalhas das urgências
e emergências, em que crianças e famílias vivem sentimentos que se afloram
somente em situações de intensos conflitos. Vivencio a dor da doença e da morte de
crianças, mas também, presencio a cura de pacientes muitas vezes já
desacreditados pela equipe de trabalho. Nesse contexto, percebo o quanto a
religiosidade/espiritualidade são ferramentas possíveis a serem utilizadas pela busca
de bem estar e conforto para as famílias e suas crianças.
A abordagem da religiosidade/espiritualidade no processo de trabalho do
pediatra consiste na oportunidade de ampliar o olhar sobre a criança e sua família,
de respeitar o ser em vulnerabilidade e de rever conceitos do processo saúdedoença.
Partindo, portanto, do respeito bioético ao ser humano integral que vive e
interpreta o seu processo saúde-doença, trilhei este trabalho no sentido de primeiro
fazer um diagnóstico no meu ambiente de trabalho, explorando o tema no universo
do médico recém-formado (residente) e no do pediatra já inserido na dinâmica da
sociedade.
A sociedade atual clama por valores humanos na relação médico-paciente, a
religiosidade/espiritualidade faz parte deste contexto. Daí levanta-se neste estudo as
seguintes questões: Qual a religiosidade/espiritualidade dos médicos residentes em
pediatria e dos pediatras? Eles conhecem a importância e valorizam o tema?
Aplicam tal temática em sua prática diária?
Neste contexto, o saber remete à formação médica, por isso do ensino
médico; à religiosidade/espiritualidade e sua relação com a saúde, o que se tem de
informação até os dias de hoje; e, por fim, a relação entre a prática pediátrica e a
religiosidade/espiritualidade.
2. IMPORTÂNCIA
“Transparente e límpida,
Permanecia imóvel, reluzente...
Sob as folhas verdes daquela manhã de primavera...”
(Rodrigo Zukauskas, 1997)
Neste novo século, a humanidade vem questionando alguns valores por muito
esquecidos: o olhar, o toque, a compaixão, a atenção e o estar presente,
necessidades essenciais do ser humano.
Boff (2001), afirmou que
O século XXI será um século espiritual que valorizará os muitos
caminhos espirituais e religiosos da humanidade ou criará novos.
Esta espiritualidade ajudará a humanidade a ser co-responsável
com o seu destino e com o da Terra, mais reverente diante do
mistério do mundo e mais solidária para com aqueles que sofrem. A
espiritualidade dará leveza a vida e fará que os seres humanos não
se sintam condenados a um mar de lágrimas, mas se sintam filhos e
filhas da alegria de viver juntos neste mundo, sob o arco-íris da
graça e benevolência divina.
A humanização, a bioética, a transdisciplinaridade e a ecologia profunda,
entre outros temas atuais, trazem à sua luz a espiritualidade em suas perspectivas e
concepções.
A Religião e a Ciência estão novamente se reencontrando, nas ciências da
vida e da saúde bem como em outras ciências. A espiritualidade e suas interfaces
nas profissões da saúde causam novas transformações com potencial impacto sobre
a saúde física e como possível fator de prevenção ao desenvolvimento de doenças
na população previamente sadia, e eventual redução de óbito ou impacto de
diversas doenças. (GUIMARÃES; AZEVUM, 2007).
Médicos e instituições hospitalares começam a incluir nas suas rotinas de
maneira sistemática e definitiva a prática de estimular nos pacientes o fortalecimento
da esperança, do otimismo, do bom humor e da espiritualidade ao despertar ou
fortificar nos indivíduos condições positivas, já abalizadas pela ciência como
recursos eficazes no combate a doenças.
A discussão da espiritualidade pela metodologia científica vigente pode trazer
aos sentidos físicos aspectos além da linguagem atual, caracterizar e conceituar
comunicações ainda não completamente codificadas. Trata-se de uma área repleta
de desafios, preconceitos e mistérios.
Assim, estudar cientificamente a espiritualidade se torna muito entusiasmante,
pois permite adentrar em campos ocultos, almejando os entender, mas na certeza
da busca pelo respeito ao ser humano em seus diversos aspectos, estes capazes
conjuntamente de influenciar no dinâmico processo saúde-doença.
A religião e a espiritualidade influenciam as atitudes e decisões dos seres
humanos, bem como as suas relações e, portanto devem ser valorizadas também na
saúde. (KOENIG, 2007). Portanto, nas práticas em saúde, torna-se essencial a
discussão desses aspectos. Neste sentido, o ensino e a prática médica presente
passam por uma reavaliação e reflexão, em que espaços cada vez maiores deverão
ser ocupados pela valorização do ser integral de corpo, espírito e de suas relações
com o mundo em toda a sua complexidade.
Identificar e ficar atentos às necessidades espirituais como parte dos
cuidados em saúde dos pacientes pode resultar em grande número de benefícios,
até mesmo com impacto na qualidade de vida. (KOENIG, 2007; KRISTELLER, et
al.,2005; PARGAMENT, 1997).
No processo de tomada de decisão, o sistema de crenças de uma pessoa
tem papel fundamental. Estas crenças, incluindo-se as religiosas, afetam a sua
percepção e leitura do mundo, o conjunto das alternativas disponíveis e a seleção da
ação que irá ser realizada ou não. Os aspectos religiosos ou espirituais devem estar
também incluídos em uma reflexão bioética, sempre preservando o caráter plural da
discussão e não assumindo uma posição sectária. (GOLDIM, 2007).
A abordagem da religiosidade/espiritualidade na formação do estudante pode
oferecer recursos cognitivos ao aluno para resolução de possíveis conflitos que
possam aparecer na relação médico-paciente-família, além de valorizar a
espiritualidade
como instância
construtiva
do
ser humano, desenvolvendo
mecanismos de respeito e tolerância para com o paciente. (DANTAS FILHO; SÁ,
2007).
3. RELIGIOSIDADE, ESPIRITUALIDADE E SAÚDE
“Encontram-se no passado, e se encontram
até hoje, sociedades que não possuem
ciência, nem artes, nem filosofia. Mas nunca
existiu sociedade sem religião.”
(BERGSON, 1978)
Em toda a sua história, o homem busca a religiosidade e a espiritualidade
para entender o significado da vida e da morte, a sua presença no mundo, melhorar
sua saúde e como ferramenta para lidar com as adversidades e a dor, seja ela física,
moral ou espiritual.
A relação entre saúde e religiosidade é muito antiga, presente em mitos
gregos, rituais indígenas e nas inscrições bíblicas que influenciaram e ainda vem
influenciando a cultura ocidental nos tempos atuais. (BOTELHO, 1991).
As grandes civilizações do passado sempre usaram os conhecimentos
religiosos para tratar as doenças, seja isoladamente ou como coadjuvantes às
práticas médicas incipientes.
Além disso, utilizava-se a espiritualidade, também,
para obter melhor qualidade de vida na saúde mental, garantindo paz e harmonia.
(SANTOS, 2009).
Estudos antropológicos têm demonstrado que as dimensões religiosas
continuam presentes em todas as camadas sociais como parte importante da
compreensão do processo de adoecimento e cura. (IBÁNEZ; MARSIGLIA, 2000).
Na antiguidade, as funções de sacerdote e médico eram realizadas pela
mesma pessoa e a cura espiritual e física eram administrados pela orientação divina.
(NEELY; MINFORD, 2008).
Essa associação entre religião e cuidados em saúde perpassa toda a Idade
Média. Na Europa medieval, a Igreja alcançou uma situação de imenso poder,
escolhia reis e o dogma era a lei. Controlava o exercício da Medicina, sendo
responsável pela liberação dos diplomas daqueles que iriam exercê-la, havendo
então muitos monges médicos e vice-versa. As necessidades físicas e espirituais
eram abordadas ao mesmo tempo.
Com o avanço das ciências na idade moderna, especialmente com o
aparecimento de uma Medicina baseada, exclusivamente, em biologia, física e
química orgânica, a associação entre saúde e espiritualidade começou a ser
questionada. (SANTOS, 2009).
Assim, no século XVI, o poder da igreja cristã sobre a Medicina começou a
declinar, diminuindo gradativamente com o Iluminismo e com a Revolução Francesa.
A visão dualista, inerente ao paradigma newtoniano e cartesiano, da ciência
moderna separou o mundo da matéria do mundo do espírito, tornou ilegítima a
consideração das dimensões religiosas da vida humana na investigação da gênese
das doenças e na busca de medidas terapêuticas. A partir de então, as discussões
relacionadas à espiritualidade durante um bom tempo foi considerada inapropriada
ao estudo das questões ligadas à saúde. As pesquisas indicavam que os
profissionais da saúde possuíam uma consciência muito limitada das necessidades
espirituais dos pacientes. (PUCHALSKI; LARSON; LU, 2001).
Porém, como observa Nobre (2004), no século XX as revoluções conceituais
da Física contribuíram para uma nova visão da realidade, a matéria cedeu lugar à
energia, o tempo é variável, o movimento descontínuo, a comunicação é não local, a
consciência é capaz de influir nos eventos e selecionar possibilidades e existe a
possibilidade real da existência de mais de quatro dimensões em nosso universo e
todas as coisas existentes estão interconectadas.
No novo paradigma, tudo é um imenso mar de incertezas até a presença de
um observador. A consciência ou o observador são capazes de influir nos eventos e
selecionar possibilidades. Não há tempo e espaço até a consciência escolher o
caminho a ser traçado, somos então, criadores da nossa realidade.
Os conhecimentos da física quântica passam a ser utilizados nas outras
ciências, mudam-se pensamentos e valores. O pensamento passa de auto
afirmativo a integrativo, de racional a intuitivo, de reducionista a holístico e de linear
a não linear. Os valores também mudam de expansão à conservação, de
competição à cooperação, de quantidade à qualidade e de dominação à parceria.
(CAPRA; STEINDL-RAST, 1993).
Os especialistas passam a enxergar o ser humano de forma integral,
conectado a uma imensa rede invisível, que engloba todas as coisas, do micro ao
macrocosmo, e não têm nenhum pudor em reconhecer a complementaridade entre
ciência e religião, valorizando a espiritualidade na vida humana. (NOBRE, 2004). De
um período de fechamento da Medicina científica em relação à espiritualidade, há
hoje uma grande abertura para a sua aceitação. (PESSINI, 2007).
Em 1998, a OMS, durante a 101st session of the Executive Board, eighth
meeting, propôs a emenda de sua Constituição (Resolution EB101. R2), passando a
conceituar saúde como um estado dinâmico de completo desenvolvimento físico,
mental, espiritual e bem-estar social e não meramente a ausência de doença ou
enfermidade (NEELY; MINFORD, 2008). Portanto, percebe-se a importância desta
dimensão da assistência ao paciente.
Desta forma, a atenção ao aspecto da espiritualidade se torna cada vez mais
necessária na prática de assistência à saúde, pois os profissionais passaram a
apreciar a importância da espiritualidade tanto para a saúde e bem-estar de seus
pacientes, como para suas próprias vidas. (PUCHALSKI; LARSON; LU, 2001).
A espiritualidade e sua relação com a saúde tem se tornado claro paradigma
a ser estabelecido na prática médica diária moderna. O sofrimento espiritual não
identificado frequentemente é o culpado em um plano terapêutico mal sucedido.
(LIESSI; SANTOS; LOURES, 2010).
Estudos têm revelado que os profissionais de saúde estão cada vez mais
sensíveis a essa dimensão do cuidado; entretanto, as habilidades para identificá-la e
avaliá-la ainda necessitam de maior conhecimento, esclarecimentos de conceitos,
aprimoramento profissional e fundamentação científica por meio da realização de
mais pesquisas sobre o tema espiritualidade e religiosidade. (PUCHALSKI;
LARSON; LU, 2001).
Há um aumento de mais de 600% das publicações científicas envolvendo
espiritualidade e saúde em 10 anos. (STEFANEK; MCDONALD; HESS, 2005). Este
aumento pode ser relacionado às manifestações de insatisfações ao modelo da
biomedicina, que acabou por impulsionar:
[..] o fortalecimento da crítica aos pressupostos filosóficos da racionalidade
científica, a partir da segunda metade do século XX, e o surpreendente
aumento dos movimentos religiosos, no final do mesmo século, criaram
condições para o florescimento de uma extensa literatura, proclamando
ideias e estratégias de saúde integradas a uma visão religiosa. Estas
publicações passam a ser consumidas amplamente, tanto pela população
como pelos profissionais de saúde. Apesar desta mudança cultural, os
estudos acadêmicos em saúde continuam extremamente fechados à
incorporação de aspectos religiosos no entendimento do processo de
adoecimento e cura. (VASCONCELOS, 2009, p. 324).
Os termos religiosidade e espiritualidade são utilizados frequentemente como
sinônimos, mas seus significados não são os mesmos. Torna-se necessário neste
momento fazer uma clara distinção entre eles, e existem na literatura várias
definições acerca de religiosidade e espiritualidade. Isto é importante porque, em
uma sociedade secular crescente, muitas pessoas que não têm fé religiosa
específica, têm espiritualidade que dá a sua vida significado e propósito (NEELY;
MINFORD, 2008).
Lukoff, Lu e Turner (1992) definem religiosidade como adesão a crenças e
práticas relativas a uma igreja ou instituição religiosa organizada, e espiritualidade,
como a relação estabelecida de uma pessoa com um ser ou uma força superior a
qual acredita. Worthington et al. (1996) definem uma pessoa religiosa como aquela
que possui crenças religiosas e que valoriza a religião como instituição. Já uma
pessoa espiritualizada é aquela que acredita, valoriza ou tem devoção a algum
poder superior, mas não necessariamente possui crenças religiosas ou é devoto de
alguma.
Para Giovelli et al. (2012), a religiosidade trata de uma relação com a força
divina ou sobrenatural; está ligada ao sagrado e a uma doutrina; serve como veículo
pelo qual o indivíduo expressa sua espiritualidade, a partir de valores, crenças e
práticas rituais que podem fornecer respostas às perguntas essenciais sobre as
questões de vida e morte. É a aceitação de determinados conjuntos de valores e
suas implicações.
A espiritualidade, por sua vez, possui inúmeras definições. Boff (2001) a
relaciona com as qualidades do espírito humano, tais como amor e compaixão,
paciência e tolerância, capacidade de perdoar, comportamento, noção de
responsabilidade, noção de harmonia, que trazem felicidade para a própria pessoa
como para os outros. Saad, Masiero e Battistella (2001) a definem como um sistema
de crenças que enfoca elementos intangíveis e que transmite vitalidade e significado
a eventos da vida. Tal crença pode mobilizar energias e iniciativas extremamente
positivas, com potencial ilimitado para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
A busca de sentido e significado em tudo que está em nós e em nossa volta é
uma das necessidades fundamentais do ser humano, sendo realizada através de
conceitos que transcendem o tangível; esta busca e crença em um sentido de
conexão com algo maior que si próprio pode ser chamada de espiritualidade.
(GIOVELLI et al., 2012).
Assim, a espiritualidade é uma experiência universal que abrange o domínio
existencial e a essência do que é ser humano; não significa uma doutrina religiosa,
mas sim uma filosofia do indivíduo, seus valores e o sentido atribuído à vida, não se
limitando a qualquer tipo de crença ou prática religiosa. A dimensão da
espiritualidade visa a favorecer a harmonia com o universo, esforçando-se para
responder a questões sobre o infinito e entra em evidência quando o indivíduo se
encontra em situações de estresse emocional, doença física e morte, buscando um
sentido para os acontecimentos, a integridade, a paz e a harmonia. Está relacionada
com a essência da vida e produz comportamentos e sentimentos de esperança,
amor e fé, em uma perspectiva de subjetividade e transcendência, que, pode ou não
levar ao desenvolvimento de práticas religiosas. (GIOVELLI et al., 2012).
Portanto, pode-se ter espiritualidade sem religião, mas não pode ter religião
sem espiritualidade. A espiritualidade faz com que o significado flua na vida diária.
A espiritualidade é uma questão de confiança naquele supremo pertencer que
você vivencia em momentos de pico, de entendimento e percepção profunda. Estes
momentos aparecem muitas vezes em situações como mudanças, doenças ou
conflitos como uma compreensão súbita ou iluminação (CAPRA; STEINDL-RAST,
1993).
De fato, até o momento, os termos espiritualidade e religiosidade envolvem
diversos conceitos. Segundo Koenig (2008), a espiritualidade estaria muito mais
relacionada ao cuidado com o paciente do que a religiosidade que, por ser mais
facilmente aferida, teria papel importante nas pesquisas científicas.
Apesar dos significados distintos, o certo é que as crenças religiosas e
espirituais demonstram serem recursos auxiliares na promoção de saúde e no
enfrentamento de acontecimentos estressores, como no processo saúde-doença.
Os conceitos espiritualistas provenientes da nova ciência podem e devem ser
aplicados na saúde e na relação médico-paciente. Acreditando que o trabalho vivo1
em ato seja capaz de criar infinitas possibilidades, modificando o objeto, ajudando-o
na sua reestabilização, é neste contexto que a espiritualidade se insere. No trabalho
em saúde o consumo do produto pelo usuário dá-se imediatamente na produção da
1
Por trabalho vivo entende-se o momento do trabalho em si, o qual depende de todo o saber adquirido para
realização do mesmo. Esse momento é marcado pelas diversas possibilidades que o profissional tem para agir
neste ato produtivo, incluindo aí seus saberes, sua subjetividade e os materiais que ele utiliza (MERHY, 1995).
ação, construindo um espaço intercessor entre o trabalhador e o usuário que sempre
existirá nos seus encontros, mas só nos seus encontros e em ato. (MERHY, 2003)
Segundo Dal-Farra e Geremia (2010), excluir completamente os fatores
religiosos e espirituais ou desconsiderá-los como parte importante do ser humano
pode gerar uma oposição desnecessária, afetando as interconexões entre as
diferentes dimensões do ser humano biopsicossocioespiritual. Por outro lado, uma
posição conciliatória com o objetivo de construir a sinergia entre os vários
elementos, pode contribuir para a saúde e o bem-estar, resultando inclusive em
maior aderência aos procedimentos preventivos e terapêuticos.
Segundo Neely e Minford (2008), nos últimos anos tem havido um interesse
renovado nas ligações entre a espiritualidade, religião e saúde, refletida em um
volume crescente de literatura sobre as relações entre eles. É reconhecido e
lembrado que um paciente precisa ser tratado como uma pessoa inteira e não
apenas como uma doença ou condição. A pessoa inteira tem dimensões físicas,
emocionais e espirituais que interagem umas com as outras e conta para o bemestar pessoal.
Cada vez mais a ciência se curva diante da grandeza e da importância da
espiritualidade na dimensão do ser humano e o tema espiritualidade aparece nas
principais revistas e conferências médicas. A interação entre mente e corpo, e a
influência da espiritualidade sobre parâmetros de saúde estão amplamente
demonstradas na literatura, indicando claramente que os aspectos ligados à
espiritualidade auxiliam na promoção de tranquilidade e bem-estar em face das
doenças e na prevenção e recuperação de pacientes, havendo uma relação positiva
entre envolvimento espiritual e saúde física e mental (BARNES et al., 2000).
Segundo Koenig (2003), verifica-se que, nos momentos de acometimentos
físicos e emocionais, as questões espirituais se tornam mais importantes, bem como
as relativas ao significado e propósito da vida, assumindo, portanto, maior relevância
em países como o Brasil, em que a população idosa está em franco crescimento e a
prevalência de doenças crônicas se amplia proporcionalmente.
O principal motivo que justifica o médico abordar a espiritualidade com seus
pacientes é que a maioria deles acredita em Deus e tem uma religião. Outros
motivos são que os pacientes gostariam que suas necessidades religiosas e
espirituais fossem ouvidas e que crenças religiosas afetam decisões médicas e
podem conflitar com o tratamento. (KOENIG, 2003)
As influências da religião dos pacientes, familiares e médicos se expressão no
atendimento em saúde, desde a escolha do profissional a ser consultado, nas
escolhas terapêuticas e na adesão ao tratamento. Segundo Pessini (2007), há a
crença de que ambientes humanizados são fatores de saúde e cura; os valores
humanos, que até há pouco tempo não eram tidos como importantes, são retomados
no cuidado em saúde.
Vários estudos prospectivos descobriram que aqueles que são mais religiosos
têm pressão arterial mais baixa, menor número de eventos cardíacos, melhores
resultados após a cirurgia cardíaca e maior sobrevida em geral. (LUCCHETTI, et al.,
2012; NEELY; MINFORD, 2008).
Um extenso conjunto de publicações em bases de dados como Medline,
PsycLIT, Embase, Ciscom e Cochrane Library têm identificado evidências de que o
envolvimento religioso está favoravelmente associado a indicadores de bem-estar
psicológico, incluindo a satisfação na vida, a felicidade, menor frequência de
depressão e de utilização de drogas de abuso, entre outros. (MOREIRA-ALMEIDA;
LOTUFO NETO; KOENIG, 2006).
Culliford (2002) apontou uma extensa lista de 1.200 estudos e 400 revisões
sobre correlações estatísticas e estudos longitudinais relacionando benefícios de
práticas espirituais em pacientes com doenças cardíacas, hipertensão, doenças
cerebrovasculares,
imunológicas,
câncer,
dor
e
disfunções
em
geral,
comportamentos saudáveis e a prática de exercícios, tabagismo, drogas, síndrome
de burnout, relacionamentos conjugais e familiares, psicoses, depressão, ansiedade,
suicídio e transtornos de personalidade. Os resultados indicaram claramente que os
aspectos ligados à espiritualidade auxiliam na promoção de tranquilidade e bemestar em face das doenças e na prevenção e recuperação de indivíduos afetados.
Podem, ainda, positivamente, auxiliar no processo saúde e doença, desde
comportamentos como respeito ao corpo (menor uso de tabaco, drogas e atividade
sexual de risco) e o suporte social da comunidade, até os efeitos psiconeuroimunológicos da prece, da meditação e dos rituais. (LEVIN, 1996).
McCullough et al. (2000), em metanálise de 42 estudos independentes,
avaliando cerca de 125.826 participantes, demonstraram que o envolvimento com
prática religiosa foi significativamente associado à menor mortalidade.
Diversos estudos examinaram a relação da religiosidade e/ou espiritualidade
com diversos aspectos da saúde mental. A maioria deles aponta para melhores
indicadores de saúde mental e adaptação ao estresse em pessoas que praticam
atividades ditas religiosas. (MOREIRA-ALMEIDA; LOTUFO NETO; KOENIG, 2006).
Considerando que os estados de doença provocam uma ruptura nos aspectos
biológicos, psicológicos, sociais e espirituais dos pacientes, as ações de cura
deveriam atender a todos esses fatores. (SULMASY, 2002)
Para Saad e Almeida (2008), quando um indivíduo se sente incapaz de encontrar um significado para os eventos da vida, como a doença, ele sofre pelo
sentimento de vazio e desespero. Porém, a espiritualidade oferece um referencial
positivo para o enfrentamento e ajuda a suportar melhor os sentimentos de culpa,
raiva e ansiedade.
A
espiritualidade
proporciona
crescimento
nos
vários
campos
do
relacionamento: no campo intrapessoal (consigo próprio), gera esperança, altruísmo
e idealismo, além de dar propósito para a vida e para o sofrimento; no campo
interpessoal (com os outros) gera tolerância, unidade e o senso de pertencer a um
grupo; no campo transpessoal (com um poder supremo), desperta o amor
incondicional, adoração e crença de não estar só. (SAAD; ALMEIDA, 2008).
Enfim, pacientes, assim como suas famílias, devem ter suas necessidades
físicas, psicológicas, sociais e espirituais atendidas, sem que nenhum destes
aspectos seja esquecido. Portanto, o olhar do médico e do profissional da saúde
para o processo saúde-doença deve ser ampliado, incluindo os propósitos de vida e
as concepções de mundo.
4. ENSINO MÉDICO E ESPIRITUALIDADE
"Tão importante quanto conhecer a doença que o homem tem,
é conhecer o homem que tem a doença".
(Osler, 1849)
4.1. Considerações Históricas
Na antiguidade clássica, a filosofia abraçava todos os campos do saber. Era
na Grécia antiga, de todas as ciências humanas, a Medicina, a mais afim das
ciências éticas de Sócrates. Dotada de uma visão holística, entendia o homem como
um ser de corpo e espírito, atuando em uma série de fatores causais. (JAEGER,
1995).
Na Idade Média, da Filosofia surge um primeiro ramo, a Teologia. Ao final da
Idade Média, vinculados à Igreja Cristã, surgem os hospitais, depositários de
doentes
sem
condições
de
recuperação,
obra
de
caridade
e
local
de
institucionalização da educação médica na época. (SCLIAR, 1996).
No século XVI, inicia-se uma fase de exploração dos mistérios do corpo e a
Medicina passa a ser tratada como arte e ciência. Com Newton, a Filosofia começa
a se fragmentar de forma definitiva e com Descartes a Matemática passa a ser o
modelo de todas as ciências que surgiam. O homem começava a ser visto como
uma máquina com aparelhos e sistemas concretos.
A Idade Moderna é marcada por um novo papel do hospital, agora, lugar de
cura e de recuperação dos enfermos, restabelecendo-os ao seu papel produtivo na
sociedade capitalista mercantil da época. (SCLIAR, 1996).
Até o final do século XIX, o ensino médico era carente de base científica e
baseado em aula magistral. A partir do desenvolvimento das ciências biológicas, da
química, da física e da matemática há uma reorganização no saber médico, que
gradativamente, passa a desconsiderar as fontes das humanidades, levando a
desumanização no ensino e na prática da Medicina. (JAEGER, 1995).
Nos Estados Unidos, no final do século XIX, difunde-se a necessidade nas
escolas médicas de laboratórios, mestres e pesquisadores.
A evolução tecnocientífica em velocidade cada vez maior, principalmente
após as Grandes Guerras do século XX, levou a extrema valorização dos aspectos
científicos em detrimento dos aspectos humanistas. (DANTAS FILHO; SÁ, 2007).
Na segunda década do século XX, nos Estados Unidos, um estudo
encomendado pela Carnegie Foundation denominado relatório Flexner, acaba por se
tornar paradigma para o ensino superior, principalmente nas carreiras biomédicas. A
nova concepção, a partir de então, era que o ensino médico deveria ser construído
em atividades na enfermaria e no laboratório. Propunha, ainda, a divisão do curso
em disciplinas básicas e clínicas, a criação dos departamentos e sistemas de
créditos. Estas modificações acabam fortalecendo uma visão individualista,
tecnicista, biologista e hospitaliza a educação médica (FLEXNER, 1910).
A atenção dos médicos transferiu-se dos pacientes para a doença.
Localizaram, diagnosticaram e classificaram patologias. Os hospitais passam a ser
centro de diagnósticos, terapia e ensino. Iniciou-se a tendência a especialização.
(CAPRA, 2001).
Esta visão organicista promoveu a divisão do ser humano, em nível do corpo,
em aparelhos, sistemas e órgãos e influenciou uma ruptura gradual da relação
médico-paciente, a medicalização e a supervalorização da tecnologia médica.
O paradigma, até então, da formação dos médicos se caracterizava pelo
predomínio da dimensão biológica do homem não havendo espaços significativos
para
o
desenvolvimento
da
relação
profissional/cliente.
A
doença
e
as
especialidades eram os focos principais, não sendo considerados os determinantes
sócios econômicos culturais e políticos que envolvem o processo saúde-doença.
(BOGHOSSIAM, 1996).
Este modelo histórico de formação médica mecanicista, fragmentado e
reducionista, separou o corpo da mente, o sentimento da razão, a ciência da ética,
refletindo em uma prática médica com vínculos superficiais, falta de reforços
positivos, pressa, ações corporais ofensivas entre colegas, falhas de comunicação e
pouca responsabilização na condução das histórias de vida e registro dos pacientes.
(BINZ; MENEZES FILHO; SAUPE, 2010).
A lógica da produtividade tomou conta da relação paciente-médico e a
Medicina tornou-se impessoal, excessivamente técnica, fria e distante. O tratamento
do paciente transformou-se, quase que exclusivamente, em uma intervenção
exterior, dirigida à anormalidade biológica, através de drogas de todos os tipos e
ações. A atenção do médico desviou-se do paciente para a doença. A intensa
valorização dos aspectos tecnológicos e científicos acabou por afastar o estudante
de Medicina da formação ética e humanística.
Nos cuidados médicos modernos, a tecnologia pesada passou a ocupar lugar
central, promovendo, ainda mais, a especialização, deixando o médico de olhar o
paciente como um todo, produto de uma integração do corpo, espírito e mente com
seu ambiente social e natural.
Nos anos 90, as discussões sobre o ensino médico no Brasil ganharam maior
articulação a partir da criação da CINAEM, renomeada anos depois de Comissão
Interinstitucional Nacional de Avaliação das Escolas Médicas, na qual estão
representados praticamente todos os órgãos de classe e de ensino médico. A
CINAEM foi criada em novembro de 1990, durante a realização do XXVIII Congresso
da ABEM com o objetivo de avaliar o ensino médico no país. Para compor esse
grupo foram convidadas entidades representativas da comunidade acadêmica e da
classe médica.
Em 1994 dados do CINAEM mostravam que a maioria dos cursos no Brasil se
dividia
em
ciclos
básico,
clínico,
pré-clínico
e
internato,
o
ensino
era
departamentalizado e havia pouca integração de conhecimentos. O CINAEM
mostrou que o modelo de ensino vigente é centrado na doença, sem visão
integradora do indivíduo e da sociedade; que o aluno privilegia os conhecimentos
técnicos e em menor grau as habilidades e a relação com o paciente; há baixa
titulação docente; predominam as atividades docentes no ensino e na assistência e
em menor proporção na pesquisa; há especialização precoce do aluno, decorrente
principalmente da associação entre a escola médica e o hospital universitário, cuja
organização se baseia na divisão da prática por especialidades e subespecialidades,
na utilização acrítica de tecnologia e na concepção de prática da Medicina liberal
(COMISSÃO INTERINSTITUCIONAL NACIONAL DE AVALIAÇÃO DAS ESCOLAS
MÉDICAS, 1994).
Em momento posterior, as análises passaram a centrar-se na questão da
formação do docente de Medicina, vista como fator limitante à mudança e/ou à
melhoria da qualidade no ensino. No entanto, o docente de Medicina, como a
maioria dos docentes universitários, tem seu ingresso na docência sem passar por
qualquer formação didática, com exceção de disciplina eventualmente existente na
pós-graduação. Em geral, os bons docentes referem-se a modelos de bons
docentes que tiveram em seus tempos de faculdade e que procuram reproduzir. Os
alunos, por seu lado, referem-se aos bons docentes como aqueles que possuem
nítido interesse em ensinar; estabelecem boas relações com seus alunos; sabem
selecionar o conteúdo de ensino relevante para a formação de graduação e se
portam de forma compassiva e ética frente aos pacientes e a seus pares. E,
claramente, há uma boa dose de paixão embutida nisso. (BALZAN,1996).
4.2. Crise da Sociedade
“O mundo depende de você e daquilo que você
comunica a outras pessoas. Ele depende daquilo
que você acredita que é real”
Goswami, 2000
Na sociedade deste século, seres humanos buscam caminhos de integração
e respeito e valorizam a vida espiritual.
Reflexões sobre a humanização, a bioética, a diversidade étnica e sexual e a
pluralidade cultural devem estar presentes na formação deste novo médico.
Reencontrar e revalorizar as humanidades nos cursos de Medicina implica em
ampliar os conhecimentos capazes de propiciar a crítica, incrementar a construção
de recursos de vínculo por esses novos profissionais médicos, incorporar
informações sobre as comunidades, cuidados e continuidade da assistência, bem
como priorizar as ações de atenção, conforme as necessidades concretas da
população. (AMORETTI, 2005).
A crescente insatisfação do modelo biomedicina, o novo paradigma científico,
a partir da segunda metade do século XX, e o aumento dos movimentos religiosos,
no final do mesmo século, criaram condições para o fortalecimento de uma extensa
literatura, proclamando ideias e estratégias de saúde integradas a uma visão
religiosa. (BOFF, 1999; PIETRONI, 1988).
A preocupação crescente com as mudanças necessárias na educação em
saúde fomenta estudos e debates sobre a formação médica e os caminhos para a
mudança. (BRASIL, 2006).
Nos últimos anos, iniciativas governamentais, como as Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCN), o Programa de Incentivo a Mudanças Curriculares nos Cursos de
Medicina (Promed) e o Programa Nacional de Reorientação da Formação
Profissional em Saúde (Pró-Saúde), demonstram a preocupação em consolidar
mudanças na formação dos recursos humanos, conforme a visão moderna de
saúde, levando a uma formação crítica e humanista do profissional médico (BINZ;
MENEZES FILHO; SAUPE, 2010; LAMPERT, 2004).
As premissas enfatizadas nas novas diretrizes incluem integração entre teoria
e prática, pesquisa e ensino e entre conteúdos biológicos, psicológicos, sociais e
ambientais do processo saúde-doença, além da inserção precoce e responsável dos
estudantes em atividades formativas nos serviços de saúde e o estímulo à
participação ativa destes na construção do conhecimento, atitudes estas que
instigam uma interação ativa entre estudantes, professores, profissionais de saúde e
usuários. (NOGUEIRA, 2009).
Na realidade da atenção em saúde, surgem as questões da relação entre as
necessidades do sistema de saúde histórico. A LDBEN (Lei das Diretrizes e Bases
da Educação Nacional) define dentro de suas finalidades o estímulo ao
conhecimento dos problemas do mundo atual (Nacional e Regional) e a prestação
de serviço especializado à população, estabelecendo com ela uma relação de
reciprocidade. (MITRE, 2008).
O Conselho Nacional de Educação através da resolução CNE/CES Nº 4 de
2001, institui em seu artigo 3º:
O Curso de Graduação em Medicina tem como perfil do formando
egresso/profissional o médico, com formação humanística, crítica e
reflexiva, capacitado a atuar, pautado em princípios éticos, no processo de
saúde-doença em seus diferentes níveis de organização, com ações de
promoção, prevenção, recuperação e reabilitação à saúde, na perspectiva
da integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e
compromisso com a cidadania, como promotor de saúde integral do ser
humano.
4.3. O novo modelo
“Ninguém educa ninguém, ninguém se educa
sozinho; as pessoas se educam entre si,
mediatizadas pelo mundo”
(Paulo Freire, 1987)
Assim, frente ao desafio de aperfeiçoar o cuidado do ser humano nos estados
de saúde e doença, respeitando-o como um ser integral, muitas faculdades de
Medicina têm incluído atividades relacionadas à importância da espiritualidade para
a saúde e o bem-estar das pessoas.
No ensino médico, a excessiva valorização dos aspectos tecnológicos e
científicos da profissão, que ganhou força extraordinária após o Relatório
Flexner, acabou por afastar brutalmente o estudante de Medicina da
formação ético-humanística, que além de relegada a um segundo plano,
não raro era considerada supérflua ou até ridícula. Não há dúvida, porém,
que a crença das pessoas afeta radicalmente sua visão de mundo e
influencia desse modo todas as suas atitudes e decisões. Essa influência
pode facilitar ou dificultar suas relações interpessoais, incluída aí a relação
médico-paciente. (DANTAS FILHO; SÁ, 2007, p. 273).
Em resposta a esta necessidade, a Associação de Faculdades de Medicina
Americanas e o Instituto Nacional de Pesquisa no Cuidado à Saúde, reconhecendo
a importância da bioética e o aumento de evidências sobre a interconexão entre
espiritualidade
e
saúde,
têm
patrocinado
conferências
para
praticar
o
desenvolvimento curricular desta temática nos cursos de Medicina nos Estados
Unidos. (PUCHALSKI; LARSON; LU, 2001).
Corroborando e ampliando esta diretriz, a Organização Mundial de Saúde e a
Comissão Conjunta de Acreditação de Organizações de Saúde recomendam que as
questões espirituais devam ser inseridas no ensino dos profissionais de saúde
(FREEMAN; DOBBIE, 2007). A força da espiritualidade funciona como uma
ferramenta de “promoção da saúde, na medida em que aborda dimensões pouco
conscientes do ser em que se assentam os valores, motivações profundas e
sentidos últimos da existência individual e coletiva”, como bem lembra Vasconcelos
(2009, p. 325).
Os portadores de doenças graves vivem crises subjetivas intensas e
mergulham com profundidade em dimensões inconscientes da
subjetividade. É nessa elaboração subjetiva profunda que são construídos
novos sentidos e significados para suas vidas, capazes de mobilizá-los na
difícil tarefa de reorganização do viver exigida para a conquista da saúde.
Há uma milenar tradição do uso da espiritualidade no enfrentamento dos
problemas de saúde que pode ser resgatada, mas que necessita ser
atualizada para as atuais características da sociedade. (VASCONCELOS,
2009, p. 325).
A inserção de temas envolvendo espiritualidade e religiosidade no curso de
Medicina seguem os caminhos dessa visão mais ampla de ser humano, que supera
os paradigmas tecnocientífico e comercial-empresarial da Medicina atual, integrando
o paradigma humanitário-solidário, a partir do qual o paciente é visto, além de
exclusivamente por sua biologia, também por sua biografia, (MARTIN, 1998). É a
busca de um conceito ainda mais global de saúde, incorporando ao clássico
conceito da OMS de “bem-estar físico, mental e social” (SILVA, 1998) o “bem-estar
espiritual”. (MARTIN, 1998).
Neste novo século, o avanço tecnológico, as reflexões sobre as metodologias
de ensino e as publicações científicas e discussões da espiritualidade sobre a saúde
humana são repercussões das alterações do mundo no ensino em saúde. (DAL
FARRA; GEREMIA, 2010).
Sobre as metodologias, vivemos um momento do ensino e aprendizado em
transição de um modelo tecnocrático, depositário e fragmentado para um novo
modelo construído por valores, em conjunto e integralista, permitindo a correlação
entre o significado e a contextualização do conhecimento em questão.
Desta forma, o processo de ensino e aprendizagem passa a valorizar o
desenvolvimento de habilidades técnicas cognitivas e atitudinais, através da busca
ativa, autoformação, articulação do conhecimento, raciocínio crítico, habilidades de
comunicação, saber atuar em equipe, discussão bioética, étnica, diversidade sexual
e transcultural.
Segundo Santos, Tenório e Kich (2011), o grande desafio de uma proposta de
ensino é desenvolver reflexões e questionamentos do tipo: como lidar com as
necessidades de aprendizagem dos alunos? O que deve ser ensinado? Que
saberes são significativos para sua aprendizagem? Quais são os interesses, frente
aos conflitos sociais que se vivenciam?
As situações didáticas são pontos fundamentais para desencadear o
processo de aprendizagem. O docente, ao criar condições para que o aluno
possa sentir/pensar/agir, promove a integração dos conteúdos, dos alunos
entre si, e a relação professor/ alunos. (SANTOS; TENÓRIO; KICH, 2011, p.
61).
De acordo com Dellaroza e Vannuchi (2005) existem alguns princípios para a
construção de um currículo integrado, são eles: totalidade, interdisciplinaridade,
relação entre teoria e prática, e deve ser considerado um processo permanente
aberto para discussão, crítica, avaliação, sendo reconstruído sempre. Nesse sentido,
deve ser valorizada a integração do ensino, do serviço e da comunidade, assim
como a problematização (exercer uma análise crítica sobre o problema) e a
aprendizagem significativa (o mais importante é aquilo que o aprendiz já sabe).
É preciso que a ação educativa esteja pautada na vivência dos aprendizes,
oportunizando a elaboração de novos conceitos, a resolução de problemas
e a tomada de decisões, tanto individual como coletivamente. Assim,
dizemos que esse processo tem como resultados as aprendizagens
significativas desses alunos. (SANTOS; TENÓRIO; KICH, 2011, p. 62)
Módulos interdisciplinares substituem a função administrativa das disciplinas,
e devem garantir habilidades cognitivas (saber), psicomotoras (saber fazer) e
atitudinais (saber ser e saber conviver) necessárias para o alcance de desempenhos
e competências. (DELLAROZA; VANNUCHI, 2005). Na formação em saúde, surge
também o conceito de aprender fazendo, ação-reflexão-ação presente ao longo de
toda a carreira.
O armazenamento e entendimento das informações se processam na relação
estabelecida entre o significado e o contexto, o que já se sabe, para que se serve, e
aonde se insere em minha realidade. Portanto, na aprendizagem significativa se
estabelece a relação destes dois processos: o da continuidade, relações
estabelecidas com o conhecimento prévio e o da ruptura, ao problematizar a
realidade por sujeito crítico e reflexivo.
Ao problematizar o discente, torna-se
responsável por sua comunidade e sociedade real, um agente de transformação
social, pois mobiliza discussões éticas, políticas e sociais.
O conhecimento não se transmite se comunica e nesta comunicação exigemse habilidades tanto na busca de reforços positivos do seu processo como na busca
de quebra de barreiras que limitam a sua expansibilidade. (PEGORARO, 2002.).
O conhecimento surge da intenção e desejo da busca de resposta à própria
realidade da vida humana. Surge como trabalho morto2 da ação comportamento.
Esta relação realidade, pergunta, conhecimento, comportamento e nova realidade se
retroalimentam dentro de realidades que se encontram, se transformam, se criam e
recriam-se. E nestes intercruzamentos de realidade é que os preceitos bioéticos
surgem. (PEGORARO, 2002.).
Em nosso País, o Ministério da Saúde, aprovou a Portaria n. 1820, de 13 de
agosto de 2009 (BRASIL, 2009), que “dispõe sobre os direitos e deveres dos
usuários da saúde nos termos da legislação vigente” (art. 1º), que passam a
constituir a “Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde” (art. 9º), publicada no Diário
Oficial da União, 14 de agosto de 2009. O artigo 4º e parágrafo único afirmam:
Toda pessoa tem direito ao atendimento humanizado e acolhedor, realizado
por profissionais qualificados, em ambiente limpo, confortável e acessível a
todos. Parágrafo único: É direito da pessoa, na rede de serviços de saúde,
ter atendimento humanizado, acolhedor, livre de qualquer discriminação,
restrição ou negação em virtude de idade, raça, cor, etnia, religião,
orientação sexual, identidade de gênero, condições econômicas ou sociais,
estado de saúde, de anomalia, patologia ou de deficiência, garantindo-lhe:
III – nas consultas, nos procedimentos diagnósticos, preventivos, cirúrgicos,
terapêuticos e internações, o seguinte: (...); d) aos seus valores éticos,
culturais e religiosos; (...); g) o bem-estar psíquico e emocional; X – a
escolha do local de morte; (...) XIX – o recebimento de visita de religiosos
de qualquer credo, sem que isso acarrete mudança na rotina de tratamento
e do estabelecimento e ameaça à segurança ou perturbações a si ou aos
outros.
A Associação Médica Mundial, na “Declaração sobre os Direitos do Paciente”
(UNESCO, 2005), diz que “O paciente tem o direito de receber ou recusar conforto
espiritual ou moral, incluindo a ajuda de um ministro de sua religião de escolha”. A
dimensão da espiritualidade é fator de bem-estar, conforto, esperança e saúde, e
precisamos urgentemente de que nossas instituições de saúde se organizem no
atendimento desta necessidade humana.
Em 1993, menos de cinco escolas médicas dos Estados Unidos tinham a
disciplina de religião/espiritualidade. Em 1994, apenas 13% das escolas médicas
dos EUA ofereciam ensino sobre questões religiosas e espirituais aplicada à
2
Trabalho morto são produtos de trabalhos humanos que os concretizaram, isto é, não estão prontos
na natureza, e estão expressando no momento de sua utilização um trabalho morto que foi resultado
de um trabalho vivo anterior que os produziram (MERHY, 2005).
Medicina (17 das 126 escolas médicas americanas ofereciam cursos sobre
Espiritualidade). Atualmente a maioria destas escolas oferecem em seus cursos tal
temática. Os médicos educadores americanos tornaram-se mais conscientes de que
a espiritualidade é um componente integral da assistência integral ao paciente e
passaram a se esforçar para formar médicos mais compassivos. Os estudantes de
Medicina estão sendo ensinados a atender às expectativas dos pacientes em
respeitar e incorporar as suas perspectivas espirituais em seus cuidados. (NEELY;
MINFORD, 2008).
Dados da Harvard Medical School de 2007 apontam que mais de 100 escolas
médicas americanas das atuais 141 (70,9%), já possuem cursos de espiritualidade
na Medicina (FORTIN; BARNETT, 2004). Da mesma forma, instruções a respeito de
espiritualidade nos programas americanos de residência médica em psiquiatria já
são obrigatórias. (PUCHALSKI; LARSON; LU, 2009).
Neely e Minford (2008) realizaram um estudo no Reino Unido objetivando
investigar a natureza do ensino sobre a espiritualidade no currículo de graduação
em Medicina, bem como verificar como os estudantes de Medicina são preparados
para identificar as necessidades espirituais dos pacientes. Concluíram que apesar
de 59% das escolas médicas do Reino Unido fornecer alguma forma de ensino
sobre a espiritualidade, há pouca uniformidade entre as escolas médicas no que diz
respeito ao conteúdo, forma, quantidade ou forma de ministrar o ensino.
No Canadá, pesquisa realizada pelo George Washington Institute for
Spirituality and Heath (GWISH) em 2001 demonstrou que haviam 4 escolas médicas
com cursos de espiritualidade, 24% das 17 escolas. Em decorrência disso, foi criado
o Gwish Canada Initiative em 2004, envolvendo líderes de 12 escolas médicas
canadenses (70% do total) para implementação maciça de cursos de espiritualidade
na Medicina do Canadá. (NEELY; MINFORD, 2008).
Pouca informação existe sobre o ensino de Espiritualidade e Saúde nas
Faculdades de Medicina na América Latina, Ásia, Austrália ou África. (BORGES et
al., 2012).
Conforme Borges et al. (2012), no Brasil, poucas Faculdades de Medicina
possuem
cursos
relacionados
à
espiritualidade
e
saúde
e,
atualmente,
aproximadamente 40% fornece alguma forma de ensino referente à temática.
Infelizmente a maioria dos ensinos sobre espiritualidade e saúde não são
padronizados e poucas universidades oferecem oportunidade para os estudantes
realmente praticarem o que eles aprenderam.
No Brasil, a primeira instituição a oferecer um curso a respeito do assunto foi
a Universidade de Santa Cecília, localizada em Santos, Estado de São Paulo, no
ano de 2002. Contudo, a primeira faculdade a promover a inserção do tema no
currículo acadêmico foi a Universidade do Ceará, somente em 2006. Nos anos
posteriores, outras Instituições, como as Universidades Federais de São Paulo, Rio
Grande do Norte e do Triângulo Mineiro, passaram a oferecer algum curso
relacionado à espiritualidade, todos no currículo de optativas. (LUCCHETTI;
GRANERO, 2010).
O Brasil conta também com grupos de pesquisa especializados em
espiritualidade e saúde, como o PROSER (Programa de Saúde, Espiritualidade e
Religiosidade) do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, o NUSE
(Núcleo Universitário de Saúde e Espiritualidade) da Universidade Federal de São
Paulo e o NUPES (Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde) da
Universidade Federal de Juiz de Fora, os quais são responsáveis por grande parte
das publicações relacionadas à Medicina e espiritualidade no Brasil.
Lucchetti et al.(2012) afirmam que atualmente há um consenso geral entre os
médicos e os professores das escolas médicas sobre a importância da
espiritualidade na saúde, sendo necessária então, a inserção do tema no currículo
das Faculdades de Medicina.
Verifica-se, neste processo, a inclusão de atividades variadas e com
diferentes objetivos em cada instituição. Fortin e Barnet (2004) ao estudarem as
formas de inclusão da espiritualidade em atividades acadêmicas nas Faculdades de
Medicina, constataram que elas são estruturadas de diferentes formas, tais como
palestras, discussões em pequenos grupos, entrevistas padronizadas de pacientes,
acompanhamento de capelães e leituras específicas.
É muito importante que as inter-relações entre a espiritualidade e saúde
sejam efetivamente contempladas na formação dos médicos e demais profissionais
de saúde, abordando-se, inclusive práticas educativas.
Entretanto, o fato de ser uma temática em fase de construção quanto a sua
abordagem e inserção nos currículos torna relevante a realização de amplo debate
acerca do tema por parte da comunidade acadêmica, tendo em vista os diferentes
olhares sobre a questão e o processo democrático que deve permear a educação.
Mesmo que muitas vezes não seja verbalizada nas interações dos pacientes
com os médicos, a influência das questões espirituais estará sempre presente,
compondo, em maior ou menor grau, a subjetividade do indivíduo, segundo uma
perspectiva ética de abordagem. Deste modo, a inserção da espiritualidade no
ensino na área da saúde representa considerá-la uma variável importante na
constituição dos seres humanos, assim como os demais aspectos que os compõem
como sujeitos, objetivando aumentar o conhecimento sobre as diversas religiões,
desenvolvendo mecanismos de respeito e tolerância para com o paciente visto como
ser integral e autônomo; revisar os conceitos pessoais dos estudantes, promovendo
um exercício de busca de soluções para os possíveis enfrentamentos entre os
conceitos (e preconceitos) próprios e os do paciente. (DANTAS FILHO; SÁ, 2007).
As abordagens em educação devem ser realizadas de forma gradual e com
uma inserção harmoniosa com as demais disciplinas. É fundamental que os médicos
respeitem os aspectos espirituais dos pacientes diante da importância que
representam na vida das pessoas.
Segundo Pessotti (1996), num mundo em que os avanços científicos
precisam prosseguir em paralelo à adoção de princípios éticos que visem ao bemestar de todos, não se pode prescindir da necessidade de cultivar uma atitude de
profundo respeito à condição do outro, reconhecendo suas necessidades, seus
anseios e suas potencialidades. Sob esta perspectiva, a inserção de temáticas que
favoreçam a consideração do ser humano do ponto de vista integral permite abordar
o paciente diante de seus anseios e expectativas.
5. PEDIATRIA E ESPIRITUALIDADE
“A Pediatria não é uma área de atividade dentro da Medicina:
ela é toda a Medicina.”
(Pedro de Alcantara, 1979)
A Pediatria é o campo da Medicina que atende os problemas da criança, isto
é, do ser humano em seu período de desenvolvimento, da fecundação à puberdade
e tem como condição de existência e validade o amor à criança, o interesse por seu
bem estar presente e futuro, o prazer de sua presença e na sua contemplação.
(ALCANTARA, 1979)
A criança nos abre ao transcendente, a gratuidade de amor, à expansão da
existência para níveis que nos sobrepassam/transcendem, provocam em nós
cumplicidades e a consciência de unidade.
No processo do trabalho do pediatra, o objeto, a criança, não é só de corpo,
como também de espírito e relações. Muitas vezes, a criança não se expressa pela
linguagem codificada surgindo na comunicação símbolos e linguagens únicas. Os
sentidos devem ser ampliados, devendo o pediatra estar atento a todos os sons e a
todos os silêncios, e utilizar de outros instrumentos fora os oriundos da física
clássica como termômetros, estetoscópios e aparelhos de pressão.
Segundo Alcantara (1979) “é uma área peculiar da Medicina, diversa das
especialidades em geral. Enquanto estas cuidam dos problemas de um órgão, ou
aparelho, ou de um sistema, a Pediatria cuida dos problemas de um período da
vida.” Para o mesmo autor, a assistência global à criança, tem-se que a Pediatria é a
Medicina da pessoa e é por isso que esta área peculiar da Medicina possui enorme
responsabilidade, já que é aplicada no vulnerável período do crescimento e do
desenvolvimento humano.
Em consequência de ser a Medicina da pessoa em vulnerabilidade, a
Pediatria condiciona, mais do que outros ramos da Medicina, modalidades de
espírito e de conduta do médico.
Pela susceptibilidade emocional da criança, a Pediatria induz ao médico a
gentileza e à doçura no seu trato, a fim de conquistá-la para sua
propedêutica. Essa conduta, entretanto, deve ser a exteriorização de um
sentimento profundo, que é a atitude espiritual e afetiva do pediatra frente à
vulnerabilidade da criança e da injustiça dos males que a acomete.
(ALCANTARA, 1979).
E exatamente por tratar de um período de vida da pessoa em que esta se
encontra extremamente vulnerável que se torna muito importante o reconhecimento
da espiritualidade no cuidado a saúde, como fonte de fortalecimento para o
enfrentamento da doença, incentivando comportamentos e práticas saudáveis e
fornecendo interações sociais.
A literatura pediátrica contém poucas pesquisas sobre as relações entre a
prática pediátrica e a espiritualidade (BARNES, et al., 2000; GROSSOEHME et al.,
2007). Em recente busca na base Medline, entre os períodos de 2002 a 2013, foram
encontradas 22 referências da relação espiritualidade e pediatria. Historicamente, as
primeiras publicações na literatura científica relatavam os efeitos negativos desta
relação, incluindo as objeções religiosas aos cuidados médicos, autoritarismo,
castigo, sentimentos de culpa ou indignidade. (ARMBRUSTER ; CHIBNALL ;
LEGETT, 2003).
Somente a partir do final do século XX é que algumas publicações passaram
a explorar o potencial positivo dos efeitos da espiritualidade no cuidado com a
criança, incluindo diversos mecanismos como: respeito ao corpo; menor uso de
tabaco, drogas e risco sexual; suporte social das comunidades religiosas; e os
efeitos psiconeuroimunológicos da prece, meditação e dos rituais. Da mesma forma,
outras publicações demonstram os efeitos das filosofias de vida nas tradições
espirituais e religiosas como sentimentos de otimismo, amor e esperança e os
significados do conforto espiritual nas crises existenciais como no final da vida.
(ARMBRUSTER ; CHIBNALL ; LEGETT, 2003; LEVIN, 1996).
O
atendimento
às
crianças
e
adolescentes
envolve
interações
multidimensionais complexas entre médico, equipe de saúde, pacientes, pais e/ou
responsáveis, comunidade e sistema de saúde, que são inseparáveis no momento
da tomada de decisão e manejo terapêutico.
E este atendimento é fortemente afetado por crenças e valores,
desigualdades sociais, avanços tecnológicos e questões morais da sociedade,
resultando em vivências que, muitas vezes, são geradoras de dilemas éticos e
espirituais. (GUEDERT; GROSSEMANN, 2011).
Segundo Alcantara (1979), o pediatra deve estar atento a problemas
orgânicos e psíquicos, em caráter preventivo e curativo. Cada um destes quatro
aspectos
deve
ser
considerado
isoladamente
e
em
suas
múltiplas
interdependências, à luz da constituição da criança; à luz das condições
econômicas; das condições espirituais da família; e das condições do ambiente
físico (clima, casa e terreno, agasalhos, condições propícias a acidentes), tudo isso
em caráter evolutivo, conforme o progressivo desenvolvimento da criança,
contribuindo para a formação de uma pessoa física e mentalmente sadia e
socialmente útil.
As crianças, em particular, não distinguem espiritualidade e religião e cada
vez mais jovens têm ideias claras sobre realidade divina, fé e reza. (COLES, 1990).
Eisemberg et al. (1998) concluíram que o senso de espiritualidade na criança
ou o engajamento em alguma comunidade religiosa pode promover um
enfrentamento estratégico positivo frente à doença e que diferentes tradições
religiosas possuem diferentes interpretações do processo saúde-doença.
Segundo Barnes et al. (2000), as tradições religiosas podem desempenhar
vários papéis na vida das crianças, como por exemplo, fornecer estrutura para o
desenvolvimento moral e para a socialização da criança em diferentes ideais
de personalidade e comportamento e influenciar suas ideias a respeito da doença,
do sofrimento, enfrentamento e cura, questões estas de grande relevância para a
prática pediátrica e bem-estar infantil.
Nos Estados Unidos, cerca de 100 milhões de crianças recebem anualmente
atendimento pediátrico, sendo que estudos demonstram que a religião e a
espiritualidade parecem influenciar os pediatras na abordagem dos cuidados às
crianças (CATLIN et al., 2008).
Atualmente, um número crescente de médicos reconhece que religião e
espiritualidade ajudam alguns pacientes a lidarem com doenças, especialmente as
que oferecem risco de vida. Pesquisas recentes descrevem as atitudes de médicos
pediatras sobre religiosidade e espiritualidade e como estas poderiam influenciar no
cuidado aos seus pacientes. (CADGE; ECKLUND, 2009).
Em um estudo feito por Siegel et al. (2002), constatou-se que os pediatras
exercem um importante papel no desenvolvimento das crianças e de suas famílias,
bem como a religião e espiritualidade parecem influenciar a conduta dos pediatras
quando do atendimento.
Estes autores realizaram um estudo com pediatras e
residentes em pediatria, e verificaram que apesar da maioria dos pesquisados
acreditarem que a fé desempenha um papel na cura dos pacientes, apenas alguns
deles perguntam sobre espiritualidade e religiosidade a seus pacientes. Verificaram,
ainda, que os pesquisados com forte orientação religiosa e/ou espiritual
demonstraram
atitudes
mais
positivas
para
incorporar
a
religião
e
a
espiritualidade em sua prática pediátrica.
Os profissionais de saúde devem reconhecer o sofrimento da criança e dos
membros de suas famílias ouvindo as suas histórias, proporcionando reflexões e
auxiliando-os a encontrar seus significados de vida. Devem então identificar a
necessidade de cuidado espiritual da criança e de sua família incorporando as
questões éticas e oferecendo apoio.
O pediatra tem o papel de facilitar o acesso aos recursos espirituais, assim
como reconhecer e aceitar as práticas espirituais das famílias sob seus cuidados. A
espiritualidade pode ser usada como estratégia de enfrentamento para amenizar o
estresse vivido com a doença e oferecer conforto espiritual. (CALLAGHAN, 2005).
Ebmeier et al. (1991) sugerem que a espiritualidade pode desempenhar um
papel importante na vida diária de uma criança, que pode intensificar durante
períodos de crise, como períodos de problemas de saúde, que envolvam
experiências traumáticas (dano físico ou emocional), eventos de risco de vida
(doença e morte).
Tal como os adultos, a criança vai utilizar de experiências anteriores, incluindo
as crenças religiosas e espirituais, na busca do sentido e para lidar com suas crises.
Somando-se a isso, a criança terá uma gama de ideias preconcebidas, medos,
preocupações e fantasias que são geralmente ligadas à fase de desenvolvimento
cognitivo e experiências anteriores. É lógico que as crenças das crianças
dependerão de seu estágio de desenvolvimento; parece apropriado tentar
compreender
espiritualidade
das
crianças
através
da
abordagem
de
desenvolvimento. (McSHERRY; SMITH, 2005). Portanto, é necessário compreender
as formas que as crianças podem expressar sua espiritualidade.
A necessidade de significado e de integração afetiva, unida à capacidade
simbólica própria dos primeiros anos levam, a criança, ao limiar da religiosidade,
tornando-a
particularmente
disponível
para
a
reflexão
e
relação
com
o
transcendente.
A constatação de que existe, aparentemente, uma associação positiva entre
práticas espirituais e saúde nos faz naturalmente pensar em por que, como, quando
e o que devemos abordar em espiritualidade na prática clínica. A provisão do
cuidado espiritual pelo pediatra caracteriza-se como um desafio, dentre os papéis
que lhes são atribuídos, ressaltam-se o estar presente, as habilidades de saber ouvir
às demandas dos familiares e respeitar suas crenças e valores. (PAULA;
NASCIMENTO; ROCHA, 2009).
Desta forma, a espiritualidade e crenças pessoais dos pacientes necessitam
ser inseridas no entendimento da prática clínica do pediatra (GIOVELLI et al., 2012).
Trazer, portanto, a espiritualidade à discussão da prática do pediatra faz parte
da ética dos seres vivos, o respeito e o reconhecimento do outro.
Em todos os encontros clínicos, os pediatras podem ou não identificar a
tradição espiritual e religiosa particular dos seus pacientes e familiares, e podem
exibir diferentes graus de receptividade à dimensão espiritual nos seus cuidados.
(BARNES et al., 2000).
Um estudo realizado por Stern, Canda e Doershuk (1992) examinou a relação
entre saúde, religião e espiritualidade das crianças e evidenciou que práticas
religiosas e espirituais são comuns e muitas vezes percebida pelas crianças como
úteis. O senso de espiritualidade e/ou envolvimento de uma criança em uma
comunidade religiosa pode contribuir para o enfrentamento positivo de uma
determinada doença, já que elas passam a se sentir apoiadas, assistidas frente às
experiências difíceis, especialmente nos casos de medo noturno, problemas
psiquiátricos, hospitalização, deficiência, câncer, doenças terminais. (BARNES et al.,
2000).
Ao fazerem um levantamento na literatura, McSherry e Smith (2005)
verificaram que o desenvolvimento de uma abordagem mais ampla para a
compreensão e atendimento das necessidades espirituais da criança e de sua
família pode ser obtido através do desenvolvimento de uma compreensão
multifacetada da natureza da espiritualidade, por meio do ensino médico; da ciência
dos médicos de suas próprias crenças e valores; da garantia de uma abordagem
centrada na criança, no intuito de fazer com que as crianças expressem suas
crenças; minimização de separação ou rompimento com a criança e da família
durante os períodos de doença; e compreensão de que a espiritualidade pode ou
não ser expressa em crenças religiosas.
6. OBJETIVOS
6.1. Gerais
Comparar a religiosidade/espiritualidade dos pediatras e dos residentes em
pediatria, e como isso influencia a sua prática clínica.
Identificar a percepção dos pediatras e residentes em pediatria quanto às
necessidades espirituais das crianças atendidas e de seus familiares.
6.2. Específicos
Correlacionar os aspectos da religiosidade/espiritualidade na prática do
pediatra e dos residentes.
Conhecer o quanto que, na opinião dos pediatras e residentes em
pediatria, a religiosidade/espiritualidade das crianças e familiares influenciam no
tratamento e enfrentamento das doenças.
7. METODOLOGIA
7.1. Tipo de estudo
Exploratório, descritivo e quantitativo.
7.2. Local do estudo
Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS), um complexo de atendimento
público de saúde de nível terciário que realiza atendimentos clínicos e cirúrgicos. O
CHS está integrado ao SUS e é responsável pelo atendimento de 48 municípios do
sudoeste paulista com uma população de mais de 3 milhões de habitantes e
também é referência para as Unidades Básicas de Saúde de Sorocaba e Pronto
Atendimento.
O CHS é local tanto da prática do médico pediatra, funcionário público do
Estado de São Paulo, como local de ensino-aprendizagem dos alunos de Medicina e
dos residentes em pediatria da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da
PUCSP.
São nos seguintes setores do CHS onde residentes e pediatras atuam:
Unidade Regional de Emergência (URE), Enfermaria, UTI Infantil, UTI Neonatal,
Alojamento Conjunto (AC) e Ambulatório. Nestes setores, atuam em turnos de 12
horas, totalizando cerca de 60 pediatras e 18 residentes em pediatria.
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)
da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC/SP) em 2011 (Anexo A) de acordo com a Resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde e das diretrizes e normas regulamentadoras de
pesquisa envolvendo seres humanos. Todos os participantes assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice 1). A pesquisa foi autorizada
pelo CHS (Anexo B).
7.3. População do estudo
Foram entrevistados 37 pessoas, entre médicos pediatras, funcionários
públicos do Estado de São Paulo e residentes em pediatria pela da Faculdade de
Ciências Médicas e da Saúde da PUCSP.
A residência médica objetiva o treinamento e a formação complementar do
médico. É requisito e critério para obtenção de títulos de especialista nas
especialidades.
A residência médica em pediatria pela Faculdade de Ciências Médicas e da
Saúde é reconhecida pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM).
A Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) é vinculada ao
Ministério da Educação que estrutura e sistematiza as normas de organização e
funcionamento das Residências Médicas.
A Pediatria é um dos mais antigos dentre os inúmeros programas de
residência oficialmente reconhecidos pela CNRM. Tem como atividade a assistência
do ser humano desde antes do nascimento, com a assistência pré- natal e
aconselhamento genético, até à adolescência.
7.3.1. Critérios de inclusão
Foram incluídos no estudo médicos pediatras e residentes em pediatria que
atuam no CHS e que concordaram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE).
7.3.2. Critérios de exclusão
Médicos pediatras e residentes de pediatria que não atuam no CHS ou que se
recusaram a participar do estudo por qualquer motivo foram excluídos.
7.4. Instrumento de Coleta (Apêndice 2)
Os pediatras e residentes de pediatria foram abordados no segundo semestre
de 2011 e no início do primeiro semestre de 2012, no ambiente de trabalho de forma
que não comprometesse a sua rotina e responderam o questionário auto-aplicável.
Antes do início da coleta, foi realizado um teste piloto para adequações
necessárias do instrumento com 4 pediatras de outra instituição. Neste teste, não se
verificou a necessidade de nenhum ajuste no instrumento.
Após a obtenção do consentimento expresso no TCLE, foi aplicado um
questionário estruturado, com perguntas fechadas (múltipla escolha, padrão Likert
ou dicotomizada em “sim” e “não”) subdividido em 3 partes:
1. Dados Gerais de caracterização: As variáveis, função, gênero, etnia, idade
e tempo de formado, foram estabelecidas pelo pesquisador e correspondem
as questões de 1 a 5;
2. Dimensão de religiosidade/espiritualidade dos entrevistados: Foram
avaliadas nas questões 6 a 17.
As questões 6 e 7 referem-se às afiliações religiosas e à percepção quanto a
própria religiosidade do entrevistado. Utilizou-se da versão em português da Escala
de Religiosidade Duke-DUREL (Anexo C) modificada por Moreira-Almeida et al.
(2008) nas questões de 8 a 12, que captam três das dimensões de religiosidade:
organizacional (RO), não organizacional, (RNO) e religiosidade intrínseca (RI). As
questões 8 e 9, abordam RO e RNO e as questões 10, 11 e 12, se referem à RI e
são os três itens da escala de RI de Hoge que melhor se relacionam com a
pontuação total nesta escala e com suporte social e desfechos em saúde (KOENIG;
PARKERSON; MEADOR, 1997).
Entendemos por religiosidade organizacional a participação do individuo nas
atividades religiosas institucionalizadas como cultos ou missas e não organizacional
as atividades religiosas individuais como preces e orações. A religiosidade intrínseca
entende-se como a influência da religiosidade dos entrevistados no seu modo de
viver e de agir.
As questões 13 a 17 foram baseadas no questionário utilizado por Borges et
al. (2013).
3. O conhecimento do tema da religiosidade/ espiritualidade na saúde e a sua
inserção na prática clínica dos profissionais (questões 13 a 27): Estas questões
foram baseadas no questionário utilizado por Borges et al. (2013).
7.5. Tratamento dos dados
Utilizou-se o programa: SPSS 13.0 for Windows.
Para o estudo das diferenças entre as variáveis categóricas foi utilizado o
teste qui-quadrado para as variáveis categóricas. O teste Qui-Quadrado de Pearson
baseia-se nas diferenças entre valores observados e esperados, avaliando se as
proporções em cada grupo podem ser consideradas semelhantes ou não, ou seja,
este teste verifica a independência dos grupos em relação às variáveis categóricas
(DAWSON; TRAPP, 2003).
Nas situações nas quais existam frequências esperadas menores que 2 ou
que mais que 10% destas sejam menores que 5, ou seja, quando as frequências
esperadas são muito pequenas, o valor da estatística para o teste de qui-quadrado
foi obtido mediante simulação de Monte Carlo conforme descrito por Peat e Barton
(2005).
8. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Os resultados do estudo serão apresentados separadamente em três grupos,
conforme o instrumento de coleta descrito na metodologia: dados gerais de
caracterização dos entrevistados, aspectos da religiosidade/espiritualidade dos
profissionais e o conhecimento e a inserção do tema em suas práticas clínicas.
Apresento primariamente nas tabelas 1 e 2 os resultados referentes aos
dados gerais de caracterização dos entrevistados e que correspondem às questões
1 a 5 do instrumento de pesquisa.
Tabela 1. Distribuição dos Residentes e Pediatras segundo o Gênero e Etnia. Sorocaba, 2012.
Gêneros
Masculino
Feminino
N
%N
N
%N
Total
Etnias
Residentes
Pediatras
2
16,7%
10
83,3%
12
8
32%
17
68%
25
Total
10
27
0,326
37
Oriental
N
%N
0
0%
2
8%
2
Branco
N
%N
12
100%
20
80%
32
Mulato
N
%N
0
0%
3
12%
3
12
25
37
Total
p Valor
0,247*
Fonte: Dados da Pesquisa
* Estatística de q2 obtido por simulação de Monte Carlo
Foram avaliados 37 profissionais, sendo 12 residentes e 25 pediatras. Essa
amostra representa 47% do total da população, sendo 66,6% referentes aos
residentes e 41% aos médicos.
Na distribuição quanto ao gênero e etnia não se detectou diferenças
estatísticas significativas, porém observa-se maior incidência do sexo feminino em
ambas as populações. No grupo dos residentes 83,3 % são do sexo feminino e 16,7
% do sexo masculino. No grupo dos pediatras 68% são do sexo feminino e 32% do
sexo masculino. Em relação à etnia, 100% dos residentes se declararam brancos e
80 % dos pediatras se declararam brancos, 12 % mulatos e 8% orientais.
A tabela 2 nos mostra a idade e o tempo de formado dos entrevistados.
Tabela 2. Distribuição dos Residentes e Pediatras segundo idade e tempo de formado.
Sorocaba, 2012.
Variável
Idade
Tempo de formado
Categoria
Residente
N
12
Média
27,2
DP
3,7
Pediatra
25
45,3
8,0
Residente
12
1,46
0,7
Pediatra
25
21
7,6
p-valor
<0,001
<0,001
Fonte: Dados da Pesquisa
* Estatística de q2 obtido por simulação de Monte Carlo
Sobre à idade e tempo de formado as diferenças entre as médias são
estatisticamente significativas entre os grupos de entrevistados, com valores de p,
para ambas as situações, menores que 0,001. Observamos que as médias de idade
e tempo de formados dos residentes são respectivamente 27,2 anos e 1,46 anos. No
grupo dos médicos pediatras as médias de idade e tempo de formado foram
respectivamente 45,3 anos e 7,6 anos.
As diferenças quanto à idade e tempo de formado entre os grupos podem ser
explicadas por serem residentes os recém-graduados do curso médico, portanto
mais jovens que os médicos pediatras já inseridos no mercado de trabalho.
A pesquisa da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), elaborada pela
FIOCRUZ (Fiocruz/CFM – MS/PNUD, 1996) aponta que 60% dos médicos pediatras
do Brasil são mulheres, sendo que 50% destes têm mais de 40 anos de idade.
Números parecidos com este estudo, no qual observamos que 68% da população
médica pediátrica estudada são do sexo feminino e possuem média de idade de
45,3 anos.
Os
resultados
do
segundo
grupo:
Diferentes
aspectos
da
religiosidade/espiritualidade dos profissionais estão apresentados nas tabelas 3 a 7
e fazem referência às questões 6 a 17 do instrumento de pesquisa. Neste grupo de
resultados, não foram identificadas diferenças estatisticamente significativas entre os
médicos pediatras e os residentes em pediatria.
A tabela 3 mostra a religião dos entrevistados e suas percepções quanto a
intensidade de que se consideram religiosos, e referem-se às questões 6 e 7 do
instrumento.
Tabela 3. Distribuição dos Residentes e Pediatras segundo Religião e a sua percepção quanto
à própria religiosidade. Sorocaba, 2012.
Nenhuma
Religião
Evangélico
Espírita
Católico
Romano
Umbandista
Espiritualista
N
%N
N
%N
N
%N
N
%N
N
%N
N
%N
Total (%)
Muito
O quanto se
considera
uma pessoa
religiosa?
Moderado
Pouco
Nada
N
%N
N
%N
N
%N
N
%N
Total (%)
Residentes
3
25.0%
1
8.3%
3
25.0%
4
33.3%
1
8.3%
0
0%
12
Pediatras
2
8.0%
0
0%
4
16.0%
13
52.0%
0
0%
6
24%
25
Total p valor
5
13.5%
1
2.7%
7
18.9%
0.510*
17
45.9%
1
2.7%
6
16.2%
37
1
8,3%
5
41,7%
5
41,7%
1
8,3%
12
3
12%
15
60%
5
20%
2
8%
25
4
10,8%
20
54,1% 0,672*
10
27%
3
8,1%
37
Fonte: Dados da pesquisa
* Estatística de q2 obtido por simulação de Monte Carlo
Quanto à religião dos entrevistados, 86,5% tem uma religião, sendo 92% dos
médicos pediatras e 75% dos residentes.
Na população médica brasileira, segundo a pesquisa do CFM (Conselho
Federal de Medicina) realizada e publicada em 2007, “A saúde dos Médicos do
Brasil”, 86,4% dos médicos tem uma religião, número bastante parecido com esta
pesquisa.
Na população geral brasileira, segundo o senso do IBGE 2010, apenas 8% da
população não tem religião. Neste estudo, bem como no estudo do CFM,
encontramos que 14% dos médicos entrevistados não possuem religião definida.
Nos Estados Unidos, segundo Catlin (2008), comparado com o público, uma
proporção notavelmente menor de pediatras acadêmicos relataram uma identidade
religiosa pessoal.
Quanto à religião dos entrevistados, 46% são católicos, 18,9% são espíritas e
16,2% se autodenominam espiritualistas.
Segundo o CFM 2007, 67% dos médicos são católicos, 11,5% espíritas e
7,3% protestantes. Na pesquisa da Fiocruz, bem como nesta pesquisa, os católicos
são maioria entre os médicos. Neste estudo 46% dos entrevistados são católicos e
35% são os que se denominam espíritas ou espiritualistas, portanto, número 3 vezes
maior do que na população médica geral do Brasil.
Trata-se de um dado importante para a prática médica, pois, segundo Todres
et al. (2000), as afiliações religiosas dos médicos pediatras influenciam certas
decisões de tratamento.
A
maioria
dos
entrevistados,
neste
estudo,
considera-se
muito
ou
moderadamente religioso (65%), sendo esta percepção em 72% dos médicos
pediatras e em 50% dos residentes em pediatria, dados próximos ao estudo do CFM
onde 70% dos entrevistados se consideram muito ou moderadamente religiosos.
A tabela 4 faz referência às religiosidades organizacional e não organizacional
dos entrevistados e são referentes às questões 8 e 9 do instrumento de pesquisa.
Tabela 4. Distribuição dos Residentes e Pediatras segundo a Religiosidade Organizacional e
não organizacional. Sorocaba, 2012.
Qual a
frequência
que vai a
uma igreja
ou templo
Atividade
religiosa
individual
Uma vez
por semana
N
%N
Residentes
1
8,3%
Pediatras Total
3
4
12%
10,8%
2 a 3 vezes
mês
N
%N
3
25%
4
16%
7
18,9%
Algumas
vezes no
ano
N
4
13
17
%N
33,3%
52%
45,9%
Uma vez no
ano ou
menos
Nunca
N
3
3
6
%N
25%
12%
16,2%
N
%N
1
8,3%
2
8%
3
8,1%
N
%N
12
1
8,3%
25
3
12%
37
4
10,8%
N
%N
N
%N
2
16,7%
2
16,7%
10
40%
7
28%
12
32,4%
9
24,3%
Uma vez na
semana
Poucas
vezes no
mês
N
%N
N
1
8,3%
3
2
8%
1
3
8,1%
4
%N
25%
4%
10,8%
Raramente
ou nunca
Total
N
%N
3
25%
12
2
8%
25
5
13,5%
37
Total
Mais de
uma vez ao
dia
Diariamente
Duas ou
mais vezes
semana
p Valor
0,808*
0,238*
Fonte: Dados da Pesquisa
* Estatística de q2 obtido por simulação de Monte Carlo
Entendemos por religiosidade organizacional a participação do individuo nas
atividades religiosas institucionalizadas como cultos ou missas e a não
organizacional as atividades religiosas individuais. Observamos que 30% dos
entrevistados frequentam regularmente, ao menos 2 a 3 vezes ao mês, uma Igreja
ou templo religioso e 75,7% deles dizem realizar frequentemente uma atividade
religiosa individual ao menos uma vez na semana, sendo 88% no grupo dos
médicos pediatras e 50% dos residentes. Em Catlin (2008), quase 88% dos
entrevistados foram criados em uma tradição religiosa, mas apenas 67,2%
afirmaram identificação religiosa atual. Neste mesmo estudo, mais da metade
(52,6%) dos entrevistados relataram orar privadamente; adicionais práticas
espirituais relatadas incluíram: técnicas de relaxamento (38,8%), meditação (29,3%),
as leituras sagradas (26,7%) e yoga (19%).
Segundo Moreira-Almeida et al. (2008) diversos estudos mostram que as
dimensões da religiosidade a nível organizacional e não organizacional estão
relacionados a melhores indicadores de saúde física, mental e suporte social.
A tabela 5 refere-se à religiosidade intrínseca (RI) dos entrevistados e
correspondem às questões 10 a 12.
Tabela 5. Distribuição dos Residentes e Pediatras segundo a Religiosidade Intrínseca.
Sorocaba, 2012.
Totalmente
verdade
Eu sinto a Em geral é
presença de verdade
Deus
Não estou
certo
Total
Totalmente
verdade
Crenças Em geral é
religiosas verdade
influenciam
toda a minha Não estou
maneira de certo
viver Não é verdade
Eu me
esforço muito
para viver a
minha
religião em
todos os
aspectos da
vida:
Total
Totalmente
verdade
Em geral é
verdade
Não estou
certo
Em geral não
é verdade
Não é verdade
Total
Residentes
Pediatras
Total
p valor
N
%N
N
%N
N
%N
11
91,7%
1
2,7%
0
0
12
16
64%
7
18,9%
2
5,4%
25
27
73¨%
8
21,6%
2
5,4%
37
0,229*
N
%N
N
%N
3
27%
7
58,3%
11
44%
9
36%
14
37,8%
16
43,2%
N
%N
N
%N
2
16,7%
0
0
12
3
25%
5
41,7%
3
25%
0
0
1
8,3%
12
4
16%
1
2,7%
25
5
20%
14
56%
4
16%
1
4%
1
4%
25
6
16,2%
1
2,7%
37
8
21,6%
19
51,4%
7
18,9%
1
2,7%
2
5,4%
37
N
%N
N
%N
N
%N
N
%N
N
%N
Fonte: Dados da pesquisa
* Estatística de q2 obtido por simulação de Monte Carlo
0,634*
0,903*
Em relação à religiosidade intrínseca, observamos que 95% dos entrevistados
acreditam ser totalmente verdade ou ser em geral verdade que sentem a presença
de Deus, 81% deles acreditam ser totalmente verdade ou geralmente verdade que
suas crenças religiosas influenciam toda a sua maneira de viver e 73 % dizem ser
totalmente verdade ou em geral ser verdade que se esforçam para viver a sua
religião em sua vida.
Segundo Moreira-Almeida et al. (2008) na análise dos resultados da DUREL,
as pontuações nas três dimensões (RO, RNO e RI) devem ser analisadas
separadamente e os escores dessas três dimensões não devem ser somados em
um escore total.
A tabela 6 nos mostra o entendimento por Espiritualidade dos entrevistados
relatados em resposta à pergunta 13 do instrumento de coleta.
Tabela 6. Entendimento dos Residentes e Pediatras do que é Espiritualidade. Sorocaba, 2012.
Respostas
Número de
Citações
Postura ética e humanistica.
14
% do
Total de
citações
18,6
% dos
Respondentes
Busca de sentido e significado para
a vida humana.
Crença e relação com Deus /
Religiosidade.
Crença em algo transcendente à
matéria
Crença na existência da alma e na
vida após a morte.
Total
23
30
62,1
16
21,3
43,2
12
16
32,4
18
24
48,6
75
100,0
-
37,8
Fonte: Dados da pesquisa
Observamos na tabela 6 que das citações sobre o que os entrevistados
entendem por espiritualidade, 30% delas foram relacionadas à busca de sentido e
significado para a vida humana, 24% na crença na existência da alma e na vida
após a morte, 21,3% na crença e relação com Deus/Religiosidade, 18,6% na postura
ética e humanística e 16% relacionadas à crença em algo que transcendem a
matéria. 62,1 % dos entrevistados entendem espiritualidade como a busca de
sentido e significado na vida humana, mostrando uma não uniformidade conceitual.
Segundo Lucchetti et al. (2012) não há uma homogeneidade entre os estudantes de
Medicina frente a conceitos e relações entre saúde e espiritualidade.
A tabela 7 refere-se às perguntas 14 a 17 do instrumento de pesquisa.
Tabela 7. Crenças em Deus e na existência da alma ou espírito pelos Residentes e Pediatras.
Sorocaba, 2012.
Você
Deus?
crê
em Sim
Não
Sem
opinião
Total
Você acredita que Sim
apesar da morte
do
corpo,
a
Não
alma/espírito
ainda preserva-se
Sem
viva?
opinião
N
Residentes Pediatras Total
12
25
37
100%
100%
100%
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
12
25
37
10
22
32
%N
N
%N
N
%N
83,3%
1
8,3%
1
8,3%
88%
0
0
3
12%
86,5%
1
2,7%
4
10,8%
12
25
37
9
75
1
8,3
2
16,6
16
64
5
20
4
16
25
67,6
6
16,2
6
16,2
12
25
37
N
%N
11
91,7%
25
100%
36
97,3%
N
0
0
0
%N
N
%N
0
1
8,3%
0
0
0
0
1
2,7%
12
25
37
N
%N
N
%N
N
%N
Total
Você acredita em
reencarnação
(preservação da
alma/espírito
após a morte,
com o posterior
retorno à Terra,
ligada a um corpo
humano a ser
gerado após a
fecundação)
Sim
Não
Sem
opinião
N
%N
N
%N
N
%N
Total
Você acredita que Sim
o ser humano é
composto de um
corpo
e
uma Não
alma/espírito?
Sem
opinião
Total
p Valor
0,503*
0,868*
0,143
Fonte: Dados da pesquisa
* Estatística de q2 obtido por simulação de Monte Carlo
Nesta tabela observamos que todos os entrevistados acreditam em Deus
(100%), 86,5% acreditam que a alma/espírito preserva-se viva apesar da morte do
corpo físico, 67,6% acreditam na reencarnação e 97,3% dos entrevistados acreditam
que o ser humano é composto por um corpo e uma alma/espírito, mostrando já a
valorização do ser humano em mais de uma dimensão.
Segundo Armbruster, Chibnall e Legett (2003), as características associadas
aos pediatras que valorizam os aspectos da religiosidade e espiritualidade em sua
prática com os pacientes são: maior idade, religião cristã, própria discrição de
religioso, dar importância a sua própria espiritualidade e religiosidade, acreditar na
importância do tema e sentir confortável em perguntar sobre o tema a seus
pacientes.
O terceiro grupo dos resultados está apresentado nas tabelas 8 a 12 e
correspondem às questões 18 a 28 do instrumento de pesquisa que buscam
compreender os conhecimentos sobre Religiosidade e Espiritualidade dos
entrevistados e a influência dos temas em sua prática clínica.
A tabela 8 apresenta-nos como que os Residentes e Pediatras relacionam o
assunto “Espiritualidade e Religiosidade” e corresponde à pergunta 18.
Tabela 8. Relações citadas sobre o assunto “Saúde e Espiritualidade” por médicos e
residentes. Sorocaba, 2012.
Citações
Humanização
Medicina
Número de % do
% dos
Citações
Total
de Respondentes
citações
da
23
29,4
57,5
Qualidade de Vida
9
11,5
22,5
Saúde total/holística
14
17,9
35
Interferência positiva
ou
negativa
da
religiosidade na Saúde
10
12,8
25
Interferência do
transcendente/imaterial
na saúde
10
12,8
25
Abordagem do viver e
do morrer
12
15,3
30
Total
78
100
Fonte: Dados da pesquisa
Observamos que do total das citações, 29,4% foram relacionar o assunto
“Saúde e Espiritualidade” com humanização da Medicina, 17,9% com saúde
total/holística e 15,3% com abordagem do viver e morrer. A humanização da
Medicina foi citada por 57,5% dos entrevistados como o assunto que se relaciona
com Espiritualidade e Religiosidade.
A tabela 9 mostra o quanto e como os entrevistados acham que a
Religiosidade e a Espiritualidade influenciam o processo saúde-doença e a relação
médico-paciente, e correspondem às questões 19, 20 e 21 do instrumento de coleta.
Tabela 9. Influência da religiosidade e espiritualidade na saúde segundo os Residentes e
Pediatras. Sorocaba, 2012.
O quanto você acha
que a
religião/espiritualidade
influencia na saúde de
seus pacientes?
A influência da
religião/espiritualidade
na saúde geralmente é
positiva ou negativa?
Com que intensidade a
espiritualidade/
religiosidade dos
médicos interfere no
entendimento do
processo saúde-doença
e na relação médicopaciente?
Residentes
Pediatras
Total
Extremamente
N
%N
3
25%
2
8%
5
13,5%
Muito
N
%N
8
66,7%
18
72%
26
70,3%
Mais ou
menos
Total
Geralmente
Positiva
N
%N
N
%N
1
8,3%
12
11
91,7%
5
20%
25
15
60%
6
16,2%
37
26
70,3%
N
1
10
11
%N
8,3%
40%
29,7%
N
%N
12
2
16,7%
25
1
4%
37
3
8,1%
Grande
N
%N
8
66,7%
12
48%
20
54,1%
Moderada
N
%N
1
8,3%
10
40%
11
29,7%
Pequena
N
%N
1
8,3%
2
8%
3
8,1%
25
37
Igualmente
Positiva e
Negativa
Total
Enorme
Total
12
Fonte: Dados da pesquisa
* Estatística de q2 obtido por simulação de Monte Carlo
p
Valor
0,348*
0,049
0,133*
Observa-se que 84% dos residentes e pediatras acreditam na extrema ou
muita influência da espiritualidade e religiosidade na saúde dos pacientes. Quanto a
influencia da religião/espiritualidade na saúde há diferenças estatisticamente
significativas entre os grupos (p<0,05), onde observamos que 40 % dos médicos
pediatras acreditam ser geralmente positiva e negativa. 92% acreditam que a
religiosidade/espiritualidade dos médicos interfere de forma enorme, grande ou
moderada no entendimento do processo saúde-doença e na relação médicopaciente, não havendo diferenças entre os grupos.
Segundo Catlin (2008), a maioria dos pediatras acadêmicos (58,6%)
acreditava que crenças pessoais espirituais ou religiosas influenciavam as suas
interações com pacientes e colegas. Estas probabilidades aumentaram 5,1 vezes,
quando pediatras acadêmicos participaram de serviços religiosos mensal ou mais.
Para Grossoehme et al. (2007), a atenção às preocupações espirituais e
religiosas dos pacientes está associada a uma rede de características pessoais e
profissionais dos pediatras. Algumas características dizem respeito ao investimento
pessoal do médico na espiritualidade e religião em suas próprias vidas.
Na população geral dos Estados Unidos, 77% acreditam que os médicos
devem considerar as suas crenças espirituais, 73% gostariam de compartilhar as
suas crenças religiosas com o profissional médico e 66% demonstraram interesse
para que o médico pergunte sobre sua espiritualidade. No entanto, apenas 10% a
20% relataram que os médicos discutiram a espiritualidade com elas (ANAYA, 2002;
COWAN et al., 2003; LARSON; KOENIG, 2000).
Até mesmo nas áreas mais religiosas dos EUA, menos de um terço dos
médicos perguntam sobre a religiosidade dos pacientes e menos que um, entre dez
médicos, leva em conta a sua história espiritual. (CHIBNALL; BROOKS, 2000).
Na literatura, observamos que poucos médicos percebem as necessidades
espirituais dos pacientes, o que vem a reafirmar a conclusão de Barnes et al. (2000),
de que as questões espirituais e religiosas na prática pediátrica têm recebido pouca
atenção.
Brooks e Chibnall (2000) e Armbruster, Chibnall e Legett (2003) verificaram
em seus estudos que a maioria dos professores pediátricos acreditam que a
religiosidade/espiritualidade têm implicações para a saúde, pois fortalecem o
relacionamento terapêutico e fornecem suporte para as crianças e familiares; porém,
estes mesmos educadores não discutem as preocupações religiosas e espirituais de
seus pacientes e de suas famílias.
Na tabela 10, observamos o quanto os entrevistados acham pertinentes a
abordagem dos temas relativos à religiosidade/espiritualidade pertinentes e como se
sentem ao fazê-la e corresponde às questões 22, 23 e 24 do instrumento de coleta.
Tabela 10. Quanto os residentes e pediatras acham pertinente a abordagem do tema
Religiosidade/Espiritualidade com seus pacientes e como se sentem ao fazê-la. Sorocaba,
2012
Você sente
vontade de
abordar o tema
fé/espiritualidade
com os
pacientes?
Sim
frequentemente
Sim raramente
Não
Residentes
Pediatras
Total
N
%N
N
%N
N
%N
5
41,7%
4
33,3%
3
25%
12
9
36%
11
44%
5
20%
25
14
37,8%
15
40,5%
8
21,6%
37
N
%N
N
%N
N
%N
N
%N
1
8,3%
4
33,3%
5
41,7%
2
16,7%
12
2
16,7%
5
41,7%
4
33,3%
1
8,3%
12
1
4,3%
12
52,2%
10
43,5%
0
0
23
3
12%
7
28%
10
40%
5
20%
25
2
5,7%
16
45,7%
15
42,9%
2
5,7%
35
5
13,5%
12
32,4%
14
37,8%
6
16,2%
37
Total
O quanto você se
considera
preparado para
abordar aspectos
religiosos e
espirituais com
seus pacientes?
O quanto você
acha pertinente tal
abordagem?
Muito
Moderado
Pouco
Nada
Total
Muitíssimo
Muito
Moderado
Pouco
Total
N
%N
N
%N
N
%N
N
%N
p
Valor
0,814*
0,243*
0,764*
Fonte: Dados da pesquisa
* Estatística de q2 obtido por simulação de Monte Carlo
Entre os entrevistados, 62 % não se sentem ou raramente se sentem à
vontade para abordar o tema com seus pacientes; 49% se consideram pouco ou
nada preparados para abordar os aspectos religiosos ou espirituais com seus
pacientes e 84% responderam que consideram ao menos moderadamente
pertinente esta abordagem, não havendo diferenças estatísticas significativas entre
os grupos. Estes resultados confirmam e estendem os achados de Grossoehme et
al. (2007), que também relataram ser desconfortável questionar seus pacientes
sobre as preocupações espirituais e religiosas, bem como participar de práticas
espirituais e religiosas.
Em relação ao preparo para abordar o tema, Siegel et al. (2002) concluíram
que uma ligeira maioria de pediatras se considerava orientada espiritualmente e/ou
religiosamente para discutir questões espirituais e religiosas com seus pacientes, no
sentido de fortalecer a relação médico pediatra/paciente.
Muitos médicos dizem que se sentem desconfortáveis ao falar sobre assuntos
religiosos ou que não têm tempo para lidar com isso. Outros não consideram os
assuntos espirituais como parte de seus trabalhos, não entendem por que deveriam
fazê-lo, não sabem como nem quando introduzi-los e sequer imaginam quais seriam
os resultados caso os incluíssem (MARR; BILLINGS; WEISSMAN, 2007).
A tabela 11 informa, segundo os entrevistados, quando é apropriado ao
médico rezar com seus pacientes e corresponde à questão 25 do instrumento de
coleta.
Tabela 11. Quando segundo os residentes e pediatras é apropriado o médico rezar. Sorocaba,
2012.
Quando e
apropriado
rezar com
seu
paciente
Nunca
N
Residentes Pediatras
2
3
%N
16,7%
Somente se o N
7
paciente pedir %N
58,3%
Sempre que o N
3
médico achar %N
25%
apropriado
Total
12
Fonte: Dados da pesquisa
* Estatística de q2 obtido por simulação de Monte Carlo
Total
5
12%
14
56%
8
32%
13,5%
21
56,8%
11
29,7%
25
37
p Valor
1,00*
Somente 5% dos entrevistados não acham apropriado rezar com seus
pacientes e 56,8% acreditam ser apropriado rezar com seu paciente somente se ele
pedir, não havendo diferenças estatísticas significativas entre os grupos.
Um estudo realizado por Koenig, Bearon e Dayringer (1989) com médicos de
prontos socorros na década de 80, revelou que apenas um terço (37%) acreditavam
que os pacientes queriam orar com seus médicos. Em outro estudo de Koenig,
Smiley e Gonzales (1998), quando pacientes da mesma área foram perguntados se
gostariam que seus médicos orassem com eles, apenas 5% foram radicalmente
contra.
A frequência com que os entrevistados abordam em suas práticas os
assuntos da religiosidade/espiritualidade é mostrada na tabela 12 e fazem
referência às questões 26, 26a e 26b.
Tabela 12. Frequência que os residentes e pediatras abordam os assuntos espirituais e
religiosos com os pacientes. Sorocaba, 2012
Você alguma vez
já perguntou
sobre a religião
e/ou
espiritualidade
dos seus
pacientes?
Com que
frequência?
Pediatras
19
Total
28
Sim
N
Não
%N
N
%N
75%
3
25%
12
76%
6
24%
25
75,7%
9
24,3%
37
Raramente
N
2
10
12
Algumas
vezes
%N
N
%N
22,2%
7
77,8%
47,6%
6
28,6%
40%
13
43,3%
N
%N
0
0
9
5
23,8%
21
5
16,7%
30
Nunca
N
%N
2
20%
6
28,6%
8
25,8%
Raramente
N
%N
6
60%
10
47,6%
16
51,6%
Algumas
vezes
N
%N
2
20%
3
14,3%
5
16,1%
Comumente
N
%N
0
0
10
2
9,5%
21
2
6,5%
31
Total
Comumente
Total
Com que
frequência os
pacientes lhe
parecem
desconfortáveis
quando são
questionados
sobre a
religiosidade/espi
ritualidade?
Residentes
9
Total
p Valor
0,947
0,039*
0,740*
Fonte: Dados da pesquisa
* Estatística de q2 obtido por simulação de Monte Carlo
Encontramos na população estudada que 75% dos entrevistados já
perguntaram sobre a religiosidade/espiritualidade dos seus pacientes. Os residentes
perguntam com maior frequência que os pediatras (p<0,05). Segundo os
entrevistados, 77% dos pacientes quando questionados sobre o assunto raramente
ou nunca se sentem desconfortáveis.
Como Armbruster, Chibnall e Legett (2003), que ao estudarem a ação da
espiritualidade e religião na Medicina e a relação desta crença no comportamento
dos médicos e experiências na sua prática diária, identificaram entre residentes e
assistentes que poucos pediatras rotineiramente perguntam sobre o assunto, os
assistentes perguntam mais sobre a religião, mas os residentes são mais abertos
quando perguntados sobre rezar durante as crises.
Em respeito à atenção religiosa e espiritual aplicadas na prática médica,
alguns estudos mostram que, apesar da maioria dos médicos se considerarem
religiosos ou espiritualizados, poucos incluem em sua atividade diária este cuidado
com seus pacientes (BARNES, et al., 2000; CHIBNALL; BROOKS, 2001).
A tabela 13 mostra as afirmações que desencorajam os entrevistados a
discutir religiosidade/espiritualidade com seus pacientes e corresponde à questão
27.
Tabela 13. Algumas das afirmações que desencorajam os médicos e residentes a discutir
religiosidade/espiritualidade com seus pacientes. Sorocaba, 2012.
Respostas
Número de
Citações
% do
Total de citações
% dos
Respondentes
Falta de
conhecimento
Falta de treinamento
Falta de tempo
11
14,6
27,5
16
17
21,3
22,6
40
42,5
Desconforto com o
tema
Medo de impor ponto
de vista religioso aos
pacientes
7
9,3
17,5
12
16
30
Conhecimento de
religião não é
relevante no
tratamento medico
0
0
0
Não faz parte do
trabalho
Medo de ofender os
pacientes
4
5,3
10
7
9,3
17,5
Medo de que os
colegas não aprovem
Total
1
1,3
2,5
75
100
Fonte: Dados da pesquisa
Dentre as afirmações que desencorajam os entrevistados a discutirem
religiosidade/espiritualidade com seus pacientes, falta de tempo (22,6%), falta de
treinamento (21,3%) e falta de conhecimento (14,6%) são apontados como os
principais motivos somando-se 58,5% das respostas. Observamos também que a
falta de tempo foi apontada por 42% dos entrevistados e a falta de treinamento por
40% deles. Na prática clínica, o desconforto dos médicos, a falta de tempo e o temor
que o paciente se sinta ofendido são também fatores que dificultam a abordagem do
assunto (KOENIG, 2007). Outras razões são apontadas para esta discrepância
incluindo: desconforto sobre o tema, a falta de tempo, falta de treinamento e o medo
da percepção dos colegas. (LEVIN; LARSON; PUCHALSKI, 1997).
Estes resultados vão ao encontro do afirmado por Grossoehme et al. (2007) e
Lucchetti e Granero (2010) ou seja, que os médicos não são preparados para
abordar as preocupações espirituais e religiosas dos pacientes e familiares. Algumas
questões são apontadas pelos médicos como barreiras para a discussão dos
assuntos espirituais junto aos pacientes: limitações de tempo, dificuldade na
identificação de pacientes que querem discutir assuntos espirituais, falta de
treinamento para abordar tais discussões junto ao paciente, medo e desconforto de
abordar o assunto, medo de projetar suas próprias crenças para pacientes e falta de
interesse pessoal na religião e espiritualidade. (ARMBRUSTER ; CHIBNALL ;
LEGETT, 2003; LUCCHETTI et al, 2012; NEELY; MINFORD, 2008).
A tabela 14 mostra quais as ferramentas ou tratamentos espirituais que os
entrevistados acham que poderiam ser recomendados para seus pacientes e
corresponde à questão 28.
Tabela 14. Ferramentas ou tratamentos espirituais que os residentes e pediatras acreditam que
poderiam ser recomendados a seus pacientes. Sorocaba, 2012.
Ferramentas ou tratamentos
Nº Citações
% Citações
%N
Reza/Prece
27
43,5
67,5
Leitura Religiosa
13
20,9
32,5
Água fluidificada/Energizada/Benta
3
4,8
7,5
Desobsessão/Exorcismo/Descarrego 1
1,6
2,5
13
19,1
32,5
religiosos
5
7,3
12,5
Total
62
100
espirituais
Imposição das
Mãos/Reike/Passe/Johrei
Trabalho de caridade em templos
Fonte: Dados da pesquisa
Do total das citações quanto à utilização de ferramentas ou tratamentos
espirituais, 43,5% são reza/prece, 20,9% são leituras religiosas e 19,1% a Imposição
das mãos/Reike/Passe/Johrei, sendo citadas respectivamente por 67,5%, 32,5% e
32,5% dos entrevistados.
Um estudo realizado por Stern, Canda e Doershuk. (1992) em pacientes com
fibrose cística, dos 70% das crianças que procuraram terapias não médicas, 60%
usaram tratamentos religiosos, tais como a oração, peregrinação e a posse de
objetos religiosos. Neste sentido, verifica-se que cerca de 82% dos americanos
acreditam no poder pessoal da prece como prática complementar e alternativa.
(EISEMBERG et al., 1998).
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Porque vemos sempre algo cada vez mais
maravilhoso, a tal ponto que o homem não se
cansa nunca de olhar e aprender”
Jakob Boehme, 1575.
Após transcorrer as etapas metodológicas que conduziram este estudo e
estabelecer relações com os substratos teóricos, é possível concluir que os objetivos
foram alcançados.
Verificou-se que os dois grupos estudados, residentes e pediatras são
semelhantes quanto a própria religiosidade/espiritualidade. Podendo-se caracterizálos como indivíduos ao menos moderadamente religiosos e que valorizam a
espiritualidade em suas vidas. Ainda mais, concluir que suas características
pessoais influenciam as suas práticas clínicas.
MacLean et al. (2003) concluíram em seu estudo que a espiritualidade e a
religiosidade dos médicos influenciam o cuidado clínico e que muitos pacientes
acreditam que os médicos devam estar cientes sobre suas crenças espirituais e
religiosas.
Quanto à percepção das necessidades espirituais dos pacientes e seus
familiares, ambos os grupos acreditam que a espiritualidade e a religiosidade influem
positivamente na saúde e que, sua própria religiosidade e espiritualidade interferem
no processo saúde-doença e na relação médico-paciente.
A doença de uma criança, especialmente a crônica, é uma das situações que
apontam para a fragilidade humana, tornando as pessoas que enfrentam estas
condições, ainda mais vulneráveis. Para lidar com a situação de crise é preciso
considerar as estratégias encontradas pela própria família para enfrentar esta
situação, as quais geralmente se apoiam em crenças, religiões e filosofias de vida,
fazendo da espiritualidade um aporte que contribui para fortalecer a família.
(DAMASCENO; SOUZA; SILVA, 2011).
Ao
correlacionar
os
aspectos
da
religiosidade/espiritualidade
dos
residentes e pediatras à sua prática, observamos que, apesar dos entrevistados
acharem pertinente, não se sentem à vontade e nem se consideram preparados
para a abordagem das necessidades espirituais de seus pacientes. Podemos
agrupar as principais razões apontadas em duas temáticas: o ensino médico (falta
de conhecimento e de treinamento) e o processo de trabalho (falta de tempo).
As identidades religiosas e espirituais, crenças e práticas médicas estão
começando a ser exploradas de maneira geral, especialmente no que se refere às
suas relações clínicas e tomadas de decisões. Desta forma, os médicos tornaram-se
conscientes de que as crenças religiosas e espirituais dos pacientes e as práticas
podem desempenhar um papel no enfrentamento da doença, na tomada de decisão
médica e em outros processos de saúde (Catlin et al., 2008).
A crise existencial trazida pela doença leva o paciente e seu grupo social a
importantes questionamentos sobre suas vidas. São questionamentos intensamente
impregnados de emoção, em que elementos inconscientes da subjetividade
participam intensamente. Podem resultar em amplas transformações positivas ou em
grandes catástrofes pessoais e familiares. A participação do profissional de saúde
neste processo de elaboração é dificultada pelo fato de sua formação não valorizar e
não prepará-lo para lidar com dimensões subjetivas não expressas de forma racional
e clara. (VASCONCELOS, 2009).
Segundo Dantas Filho e Sá (2007), o médico antes de tudo é um ser humano
e um cidadão, e como profissional sempre serviu como figura de referência de
virtude em nossa sociedade. Mostrando disposição para o diálogo, principalmente
na dimensão da espiritualidade, o médico cumpre também um importante papel na
difusão de uma cultura de tolerância e respeito que transcende a relação médicopaciente e vai ao encontro de um clamor que perpassa toda a nossa sociedade.
É o começo do desmonte de uma postura autoritária e paternalista, na qual
predomina a crença do médico em detrimento das crenças do paciente,
explícitas ou implícitas; é o fundamento para as decisões negociadas e
compartilhadas, para o consentimento livre e esclarecido; é o saneamento
da visão reducionista do ser humano, da divisão corpo-alma, do desrespeito
à autonomia do paciente; é o desenvolvimento de um modelo de médico
que desejamos para nós mesmos e para os nossos familiares; é o florescer
de novos direcionamentos menos conflituosos para questões relativas ao
início e término da vida, à transfusão de sangue, aos transplantes de
órgãos, às manipulações genéticas, etc. (DANTAS FILHO; SÁ, 2007, p.
276).
Neste início de terceiro milênio, a novo médico deve ter uma forte base
técnico-científica e como lastro uma formação humanística e bioética consistente
(SIQUEIRA,
2006).
A
formação
humanística
implica
a
necessidade
do
autoconhecimento e envolve a consciência do outro e de seus valores no que tange
aos significados que atribui à vida.
E hoje, tanto para o senso comum como para a comunidade científica, a
religião e as práticas espirituais exercem influências sobre a saúde. Em várias partes
do mundo, universidades e hospitais têm trabalhado com essa realidade.
Ao se incluir atividades relativas à espiritualidade no currículo de Medicina,
busca-se abranger a dimensão espiritual dos pacientes na sua consideração como
seres humanos e desenvolver um entendimento sobre os reflexos da espiritualidade
na saúde das pessoas.
Lucchetti e Granero (2010) e Lucchetti et al. (2012) descreveram os desafios
enfrentados na integração de espiritualidade nas faculdades de Medicina brasileiras,
ressaltando que grande parte das barreiras é a de haver poucos estudos brasileiros
publicados sobre o tema; a visão de que a Medicina deve se manter secular e,
portanto, deve evitar abordar questões religiosas, pois pode ser vista como
coercitiva por alguns pacientes; e ao fato de que poucas conferências médicas
brasileiras abordaram o tema espiritualidade e saúde antes do ano 2000, já que os
departamentos de pesquisas universitárias raramente investigaram tal temática,
assim como apenas um programa de pós-graduação existe em todo o país.
Através de competências reforçadas na prática clínica, o desenvolvimento de
currículos e políticas de saúde e da busca de agenda de pesquisa para apoiar
a inclusão da espiritualidade e da religião em relação à saúde e especialmente à
pediatria, será possível termos na atenção à criança a abordagem das necessidades
religiosas e espirituais como parte integrante de um bom atendimento pediátrico.
Ainda sobre as questões de treinamento Lucchetti e Granero (2010) afirmam
em seu estudo que na anamnese médica, a história social, o questionamento da
atividade física, os hábitos e vícios podem proceder à abordagem da espiritualidade
de forma natural, podendo-se incluir o assunto no segmento que aborda os hábitos
de vida e de condições socioeconômicas dos pacientes.
O pediatra deve reconhecer o sofrimento e os sofredores e ouvir suas
histórias, criando um contexto para reduzir o sofrimento, proporcionando reflexões
sobre suas vidas. (PAULA; NASCIMENTO; ROCHA, 2009).
Portanto, diante da importância e valorização crescente da religiosidade e da
espiritualidade na saúde é urgente inserir a discussão do tema na educação médica
e no processo de trabalho do pediatra.
Na graduação médica, a religiosidade e a espiritualidade e suas interfaces na
saúde podem ser inseridas de forma interdisciplinar, transdisciplinar e transversal,
como forma e função, contemplando o conhecer, o fazer e o ser, espaço em que as
vivências e as emoções dos alunos possam ser discutidas, e a poesia possa ser
recitada. Na transdisciplinaridade não há espaço ou tempo para conhecimentos
hegemônicos.
Nas atividades extracurriculares como estimulo à pesquisa, bem como
incluído em cursos e congressos acadêmicos e na educação permanente dos
profissionais da saúde.
Os educadores devem criar espaços para um diálogo mais profundo sobre a
complexidade da vida, em que outras dimensões além da racional devem ser
compartilhadas.
Os pediatras e os residentes em pediatria mostram-se abertos e dispostos a
incluírem esta temática em seu trabalho, como grupo de estudo, bem como nas
discussões dos casos clínicos.
Enfim, no processo de trabalho do pediatra, a abordagem das necessidades
espirituais dos pacientes e suas famílias pode ser incluída na anamnese clínica
através de ferramentas como a aplicação de escalas de aferição e valorização dos
aspectos espirituais e religiosos, e como habilidade de comunicação na relação
médico paciente.
Na atenção integral à criança e à família, a espiritualidade e a religiosidade
devem estar presentes no trabalho vivo do médico em ato, local de infinitas
possibilidades, como instrumento comunicacional, no respeito bioético e como força
que pode influenciar positivamente o processo saúde-doença.
E o que não é a realidade senão o produto, em um tempo e espaço, do
espírito infinito...
Inverno de 2013
77
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84
85
APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
1. Título do projeto: “A Espiritualidade e a Religiosidade na prática
pediátrica”
2. Desenho do estudo e objetivo(s): O presente estudo objetiva avaliar a
religiosidade e espiritualidade dos médicos pediatras, seu conhecimento
sobre o tema e como é aplicado em sua prática clínica;
3. Descrição dos procedimentos: Será aplicado um questionário padrão para
todos os participantes. O questionário será impresso em papel com perguntas
de múltipla escolha e será preenchido durante o horário de trabalho. A forma
de preenchimento será presencial, ou seja, o voluntário preencherá o
questionário no momento da entrega pelo pesquisador e devolverá após o
seu término;
4. Descrição dos desconfortos e riscos esperados nos procedimentos: Sem
risco.
5. Benefícios para o participante: Não há benefício direto para o participante,
nem prejuízo. É um estudo totalmente isento de vinculações hierárquicas e
administrativas ou de influências que possam interferir no seu vínculo como
médico na instituição, afastando quaisquer pressuposições de natureza
coercitivas em decorrência da sua participação na pesquisa, bem como no
relatório final do estudo.
6. Garantia de acesso: em qualquer etapa do estudo, você terá acesso ao
responsável
pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas,
Rodrigo Zukauskas Santos que pode ser encontrado no endereço: Rua
Silvério Svilásio de Oliveira, 160 – Casa 19- Jd Saira-Sorocaba 33420910.
Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre
em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) – da Faculdade– 5º
andar – Telefone 32129900.
86
7. É garantida a liberdade da retirada de consentimento a qualquer momento e
deixar de participar do estudo, sem qualquer prejuízo com a Instituição;
8. Direito de confidencialidade – As informações obtidas serão analisadas e não
serão divulgadas a identificação dos entrevistados;
9. Despesas e compensações: não há despesas pessoais para o participante
em qualquer fase do estudo. Também não há compensação financeira
relacionada à sua participação.
10. Compromisso do pesquisador de utilizar os dados e o material coletado
somente para esta pesquisa.
Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li
ou que foram lidas para mim, descrevendo o estudo: “A Religiosidade e a
Espiritualidade
na
prática
pediátrica.”
Eu discuti com o pesquisador sobre a minha decisão em participar nesse
estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os
procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias
de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também
que minha participação é isenta de despesas e quaisquer prejuízos que
possam interferir na minha vida acadêmica.
Concordo voluntariamente em
participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer
momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda
de qualquer benefício.
Assinatura do entrevistado __________________________________
Data
/
/
Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e
Esclarecido deste aluno ou representante legal para a participação neste estudo.
Nome do entrevistador e assinatura: __________________________________
87
APÊNDICE B - Questionário
QUESTIONÁRIO
DADOS GERAIS DOS ENTREVISTADOS
1. Gênero
1- Fem
2- Masc
2. Quantos anos você tem? ________ anos
3. Como você definiria sua etnia? Você considera-se
1 Oriental
2 Branco
3 Negro
4 Mulato
5 Outras _____________________________
4. Qual é o seu setor no CHS?
1 URE
2 Enfermaria
3 Berçário/Alojamento Conjunto
4 UTI pediátrica
5 Ambulatório
5. QUAL A SUA RELAÇÃO NO CHS e Tempo de formado?
1. Residente
2. Médico
Quanto tempo de formado?_________________
88
DIMENSÃO DE RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE:
6. Das alternativas, aquela que melhor descreve sua afiliação religiosa é?
1 Nenhuma, mas acredito em Deus
2 Nenhuma e não acredito em Deus
3 Evangélico/Protestante
4 Budista
5 Hindu
6 Judeu
7 Espírita
8 Muçulmano
9 Protestante
10 Católico Apostólico Romano
11 Umbandista
12 Espiritualista
13 Outros (favor especificar): _________________
7. O quanto você se considera uma pessoa religiosa? Você diria que é
1 Muito religioso
2 Moderadamente religioso
3 Pouco religioso
4 Não religioso
8. Com que frequência você vai a uma igreja, templo ou outro encontro
religioso?
1 Mais de uma vez por semana
2 Uma vez por semana.
3 Duas a três vezes por mês
4 Algumas vezes por ano
5 Uma vez por ano ou menos
6 Nunca
89
9. Com que frequência você dedica o seu tempo a atividades religiosas,
individuais, como preces, rezas, meditações, leitura da bíblia ou de outros
textos religiosos?
1 Mais do que uma vez ao dia
2 Diariamente
3 Duas ou mais vezes por semana
4 Uma vez por semana
5 Poucas vezes por mês
6 Raramente ou nunca
10. Em minha vida, eu sinto a presença de Deus (ou do Espírito):
1 Totalmente verdade para mim
2 Em geral é verdade
3 Não estou certo
4 Em geral não é verdade
5 Não é verdade
11. As minhas crenças religiosas estão realmente por trás de toda minha
maneira de viver:
1 Totalmente verdade para mim
2 Em geral é verdade
3 Não estou certo
4 Em geral não é verdade
5 Não é verdade
12. Eu me esforço muito para viver a minha religião em todos os aspectos da
vida:
1 Totalmente verdade para mim
2 Em geral é verdade
3 Não estou certo
4 Em geral não é verdade
5 Não é verdade
90
13. O que você entende por Espiritualidade? (assinale uma ou mais)
1. Postura ética e humanística.
2 Busca de sentido e significado para a vida humana.
3 Crença e relação com Deus / Religiosidade.
4 Crença em algo transcendente à matéria.
5 Crença na existência da alma e na vida após a morte.
14. Você acredita em Deus?
1 Sim
2 Não
3 Sem opinião formada
15. Você acredita que apesar da morte do corpo, a alma/espírito ainda
preserva-se viva?
1 Sim
2 Não
3 Sem opinião formada
16. Você acredita em reencarnação (preservação da alma/espírito após a morte
do corpo físico, com o posterior retorno desta alma/espírito à Terra, ligada a
um corpo humano a ser gerado após a fecundação)?
1 Sim
2 Não
3 Sem opinião formada
17. Você acredita que o ser humano é composto de um corpo e uma alma/
espírito?
1 Sim
2 Não
3 Não tenho opinião formada
91
CONHECIMENTO DO ASSUNTO, RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE E
PRÁTICA CLÍNICA
18. Você relaciona o assunto “Saúde e Espiritualidade” com:
(assinale uma ou mais)
1 Humanização da Medicina.
2 Qualidade de vida.
3 Saúde total / holística.
4 Interferência positiva ou negativa da religiosidade na saúde.
5 Interferência do transcendente/imaterial na saúde.
6 Abordagem do viver e do morrer.
19. Em geral, o quanto você acha que a religião/espiritualidade influencia na
saúde de seus pacientes?
1 Extremamente
2 Muito
3 Mais ou menos
4 Pouco
5 Muito pouco ou nada
20. A influência da religião/espiritualidade na saúde geralmente é positiva ou
negativa?
1 Geralmente positiva
2 Geralmente negativa
3 Igualmente positiva e negativa
4 Não tem influência
21. Em sua opinião, com que intensidade a espiritualidade/religiosidade dos
médicos interfere no entendimento do processo saúde-doença e na relação
médico-paciente?
1 Enorme intensidade
2 Grande intensidade
3 Moderada intensidade
4 Pequena intensidade
5 Não interfere
92
22. Você sente vontade de abordar o tema fé/espiritualidade com os pacientes?
1 Sim, raramente
2 Sim, freqüentemente
3 Não
23.
O
quanto
você
se
considera
preparado
para
abordar
aspectos
religiosos/espirituais com seus pacientes?
1 Muitíssimo preparado
2 Muito preparado
3 Moderadamente preparado
4 Pouco preparado
5 Nada preparado
6 Não se aplica
24. O quanto você acha pertinente tal abordagem?
1 Muitíssimo pertinente
2 Muito pertinente
3 Moderadamente pertinente
4 Pouco pertinente
5 Nada pertinente
25. Quando é apropriado para o médico rezar com seu paciente?
1 Nunca
2 Somente se o paciente solicitar
3 Sempre que o médico achar que é apropriado
26. Você alguma vez já perguntou sobre a religião/espiritualidade dos seus
pacientes?
1 Sim (Se Sim ..., responder questões 26a e 26b)
2 Não
3 Não se aplica, eu não vejo pacientes
93
26a. Com que frequência você pergunta?
1 Raramente
2 Algumas vezes
3 Comumente
4 Sempre
26b. Com que frequência os pacientes lhe parecem desconfortáveis quando
são questionados sobre a religiosidade/espiritualidade?
1 Nunca
2 Raramente
3 Algumas Vezes
4 Comumente
5 Sempre
27.
Alguma das afirmações seguintes desencorajam você a discutir
religião/espiritualidade
com
seus
pacientes?
(MARQUE
COUBEREM)
1Falta de conhecimento
2Falta de treinamento
3Falta de tempo
4 Desconforto com o tema
5 Medo de impor pontos de vista religiosos aos pacientes
6 Conhecimento sobre religião não é relevante no tratamento médico
7 Não faz parte do meu trabalho
8 Medo de ofender os pacientes
9 Medo de que meus colegas não aprovem
10 Outros _______________________
TODAS
QUE
94
28. Quais das ferramentas ou tratamentos espirituais você acha que poderiam
ser recomendados para seus pacientes?
1 Reza/prece
2 Leitura religiosa
3 Água fluidificada/Água Energizada/Água Benta
4 Desobsessão/Exorcismo/”Descarrego”
5 Imposição de mãos/Reike/Passe/Johrei
6 Trabalhos de caridade em templos religiosos
7 Outros. Quais? __________________________________________
95
ANEXO A - Comitê de Ética em Pesquisa
96
97
ANEXO B – Formulário de autorização de pesquisa (CHS)
98
99
ANEXO C - Versão em português da Escala de Religiosidade da
Duke – DUREL
(1) Com que frequência você vai a uma igreja, templo ou outro encontro religioso?
1. Mais do que uma vez por semana
2. Uma vez por semana
3. Duas a três vezes por mês
4. Algumas vezes por ano
5. Uma vez por ano ou menos
6. Nunca
(2) Com que frequência você dedica o seu tempo a atividades religiosas individuais,
como preces, rezas, meditações, leitura da bíblia ou de outros textos religiosos?
1. Mais do que uma vez ao dia
2. Diariamente
3. Duas ou mais vezes por semana
4. Uma vez por semana
5. Poucas vezes por mês
6. Raramente ou nunca
A seção seguinte contém três frases a respeito de crenças ou experiências
religiosas. Por favor, anote o quanto cada frase se aplica a você.
(3) Em minha vida, eu sinto a presença de Deus (ou do Espírito Santo).
1. Totalmente verdade para mim
2. Em geral é verdade
3. Não estou certo
4. Em geral não é verdade
5. Não é verdade
100
(4) As minhas crenças religiosas estão realmente por trás de toda a minha maneira
de viver.
1. Totalmente verdade para mim
2. Em geral é verdade
3. Não estou certo
4. Em geral não é verdade
5. Não é verdade
(5) Eu me esforço muito para viver a minha religião em todos os aspectos da vida.
1. Totalmente verdade para mim
2. Em geral é verdade
3. Não estou certo
4. Em geral não é verdade
5. Não é verdade
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