1 ANA PAULA DE MOURA CORDEIRO A RELAÇÃO FORMAÇÃO PROFISSIONAL / MERCADO DE TRABALHO: PERCEPÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NÃO-INSERIDOS NO MERCADO DE TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL EM NATAL/RN Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Serviço Social do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN para obtenção do grau de Mestre em Serviço Social Orientadora: Profa. Dra. Odília Sousa de Araújo NATAL - RN 2005 2 ANA PAULA DE MOURA CORDEIRO A RELAÇÃO FORMAÇÃO PROFISSIONAL / MERCADO DE TRABALHO: PERCEPÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NÃO-INSERIDOS NO MERCADO DE TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL EM NATAL/RN Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Serviço Social do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN para obtenção do grau de Mestre em Serviço Social Aprovado em: BANCA EXAMINADORA Profa. Dra. Odília Sousa de Araújo – Orientadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Profa. Dra. Rosa Lúcia Prédes Trindade Universidade Federal de Alagoas – UFAL Profa. Dra. Maria Arlete Duarte de Araújo Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 3 DEDICATÓRIA A todos os trabalhadores brasileiros, especialmente aos assistentes sociais, que mesmo enfrentando as condições adversas do mercado de trabalho, continuam lutando pela concretização de seus objetivos, não desistindo perante os obstáculos e diferenças sociais existentes na sociedade em que vivemos. 4 AGRADECIMENTOS A Deus, que me deu todas as condições objetivas e subjetivas para a realização desse trabalho; a Jesus Cristo, pois sem Ele nada poderia fazer; e ao Espírito Santo, que esteve presente em todo instante consolando e fortalecendo. Aos meus pais, irmãos, irmãs e sobrinhas, pelo apoio e compreensão. Aos meus irmãos da Igreja O Brasil para Cristo, pela convivência e apoio espiritual dispensados à mim durante toda a minha trajetória de vida e, especialmente, durante a realização desse trabalho. À professora Odília Sousa de Araújo, orientadora, pelas contribuições sensatas e indispensáveis. À Coordenação e Secretaria do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social. À Biblioteca Setorial, na pessoa de Albanita, pela presteza nas indicações sobre as Normas Técnicas. À CAPES, pelo apoio financeiro. A todos os professores que ministraram aulas durante o curso, pelos conhecimentos transmitidos. A todas(os) as(os) amigas(os) da turma do Curso de Mestrado em Serviço Social, pelo companheirismo durante os momentos que passamos juntas(os) . 5 RESUMO Este estudo trata da não-inserção do assistente social no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN enfatizando a percepção dos profissionais que vivem essa problemática. Analisa-se a relação que os mesmos fazem entre a não-inserção no mercado de trabalho e a sua formação em Serviço Social. A problemática é relacionada ao contexto do desemprego na sociedade atual visto como resultante das transformações do mundo do trabalho oriundas da reestruturação produtiva e da reforma do Estado e respaldadas na ideologia neoliberal. Entende-se que esses fatores têm provocado várias mudanças na configuração dos mercados de trabalho em geral e de cada profissão trazendo múltiplos desafios para a inserção e a permanência dos trabalhadores nesse mercado. Vê-se que a diminuição da quantidade de mão-de-obra absorvida e o aumento dos critérios de seletividade para a inserção do trabalhador no mercado geram a existência do desemprego em todas as esferas independentemente de localização geográfica, profissão ou nível de escolaridade do trabalhador. As mudanças nas formas de gestão e organização do trabalho geraram a necessidade de um novo perfil de trabalhador e conseqüentemente trouxeram novas exigências e desafios para a formação profissional. A lógica produtivista e mercadológica do neoliberalismo está presente nesse contexto impondo à formação profissional uma adequação ao mercado como forma de facilitar o acesso do trabalhador à uma vaga no mercado de trabalho. Com as inúmeras dificuldades enfrentadas para a inserção no mercado de trabalho os profissionais formados na universidade passam a questionar a profissão e o tipo de formação recebida, muitas vezes atribuindo às mesmas a causa do seu desemprego. Esse fato ficou demonstrado na pesquisa realizada com os assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN quando esses fazem uma estreita relação da sua nãoinserção no mercado de trabalho com a profissão e afirmam que o principal desafio do Serviço Social hoje é o reconhecimento, por parte da sociedade e dos empregadores, do seu significado e da sua importância na sociedade. Palavras-chave – Mercado de Trabalho, Desemprego, Serviço Social, Formação Profissional 6 ABSTRACT The study is about the non-insertion of the Social Assistant in the work market of Natal/RN, emphasizing the perception those Social Assistants have about this problem. We try to analyze the relation that those workers figure out about their non-insertion in the work market and their professional formation. The problem is related to the present unemployment rates in our society, which results of the changes that have affected the world of work as a whole in the wake of the Productive Restructuring and State Reformation supported by the neo-liberalism ideological system. We realize that these factors have deeply affected the configurations of the work market in general; especially those related to professions whose challenges multiply obstacles not only to the insertion of new workers, but to their staying in their job. We note that the reality of the work market has been built up on the decrease of the work force opportunities and the increase of the selectivity criteria to insertion of new workers. In consequence, unemployment rates increase everywhere, regardless of place, profession or education level of the workers. Work and management changes have brought about new challenges to professional formation. The presence of neo-liberalism productive and market logic demands a more adequate professional formation to work market from their candidates to a job. Due to the numberless difficulties workers face nowadays to enter the world of work, society itself and workers in general begin to question the profession of their choice, the kind of formation they have got, and frequently they lay the blame of their professional difficulties on it. This result has come out from the research we did with some social assistants not inserted in the professional work market in Natal/RN. The research reveals too that those unemployed professionals see their difficulties connected to their professional formation and they happen to say that the main challenge they face today is to get acknowledgment to the significance and importance of their profession. Keywords: Work market, unemployment, Social service, Professional formation 7 LISTA DE ILUSTRAÇÕES ( GRÁFICOS) 01 – Perspectiva dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social quanto à opção de fazer Serviço Social hoje .......................................................... 134 02 – Relação dos assistentes sociais com a UFRN (quadro geral) .................................. 145 03 - Relação dos assistentes sociais com a UFRN (dos que trabalham em outras atividades profissionais) ..................................................................................................................... 145 04 - Relação dos assistentes sociais com a UFRN (dos desempregados) ......................... 146 05 – Experiência profissional dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social ................................................................................................................... 146 06 - Relação dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social com o CRESS/RN .............................................................................................................. 151 07 – Motivos pelos quais não estão exercendo a profissão ............................................. 153 08 – Formas de acesso ao trabalho de assistente social ( dos que já exerceram) ................ 169 09 – Formas de acesso ao trabalho na atividade atual .........................................................169 10 – Tentativas para se inserir no mercado de trabalho do Serviço Social ........................ 174 11 – Vontade de exercer a profissão de assistente social (quadro geral) .......................... 176 12 - Vontade de exercer a profissão de assistente social (dos que trabalham em outras atividades profissionais) .................................................................................................... 177 8 13 - Vontade de exercer a profissão de assistente social (dos desempregados) ................. 177 14 – Motivos da escolha pelo curso de Serviço Social ..................................................... 180 15 – Perspectiva quanto à opção de fazer Serviço Social hoje (dos que trabalham em outras atividades profissionais) ................................................................................................... . 183 16 - Perspectiva quanto à opção de fazer Serviço Social hoje (dos desempregados) ..........184 17 – Função da UFRN na opinião dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho ............................................................................................................................ . 189 18 – Sugestões para a UFRN contribuir para a inserção dos profissionais formados no mercado de trabalho ............................................................................................................ 189 19 – Sugestões para o CRESS/RN contribuir para a inserção dos assistentes sociais no mercado de trabalho .......................................................................................................... 192 20 – Os principais desafios do Serviço Social na opinião dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho .................................................................................................. 195 21 - Os principais desafios do Serviço Social na opinião dos assistentes sociais que já exerceram a profissão ......................................................................................................... 201 9 LISTA DE TABELAS 01 – Motivos para a escolha dos cursos que os assistentes sociais fariam hoje .................. 133 02- Situação dos assistentes sociais formados nos períodos de 2000.1 a 2002.2 no mercado de trabalho ............................................................................................................................... 139 03 – Situação dos assistentes sociais formados nos períodos de 2000.1 a 2002.2 no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN ....................................................................... 140 04 – Faixa etária dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN ............................................................................................................. 141 05 – Sexo dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN ........................................................................................................................... 141 06 – Estado civil dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN ............................................................................................................ 142 07 – Número de filhos dos assistente sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN ........................................................................................................... 142 08 – Cursos realizados pelos assistente sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social para além da graduação em Serviço Social ..................................................143 09 – Tempo de exercício profissional dos assistente sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN que já exerceram a profissão ........................... 147 10 – Vínculo empregatício dos assistentes sociais que já exerceram a profissão ................ 147 11- Motivos pelos quais deixaram de exercer a profissão ................................................ 147 10 12 – Atividade exercida atualmente...................................................................................... 148 13 – Atividades profissionais exercidas pelos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social ................................................................................................. 149 14 – Vínculo empregatício dos assistentes sociais que trabalham em outras atividades profissionais ...................................................................................................................... 149 15 – Faixa salarial dos assistentes sociais no exercício de outras atividades profissionais ....................................................................................................................... 150 16 – Elementos exigidos pelo mercado de trabalho para a inserção dos trabalhadores ...... 165 17 – Elementos exigidos pelo mercado de trabalho para a inserção dos assistentes sociais................................................................................................................................. 166 18 – Cursos que os assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social fariam hoje ........................................................................................................................ 184 19 – Motivos para a escolha pelo curso de Serviço Social hoje ........................................ 188 20 – Função do CRESS/RN na opinião dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social ............................................................................................... 191 21 – Opinião dos assistentes sociais sobre a formação recebida na graduação em Serviço Social ................................................................................................................................. 201 11 SUMÁRIO CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................................... 13 - AS TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO E O CAPÍTULO 1 DESEMPREGO ESTRUTURAL ....................................................................................... 30 1.1- A Categoria Trabalho .................................................................................................... 30 1.2 – Reestruturação Produtiva, Neoliberalismo, Globalização e as novas configurações do mundo do trabalho .............................................................................................................. 38 1.3 – Alguns Elementos Sobre o Emprego e o Desemprego no Mundo do Trabalho Atual .................................................................................................................................... . 50 1.3.1 - Justificativas Ideológicas Para o Desemprego............................................................. 60 1.3.2 – Ações de Enfrentamento ao Desemprego na Perspectiva das Políticas Públicas e da Ideologia Individualista do Neoliberalismo ....................................................................... CAPÍTULO 2 - O MERCADO DE TRABALHO NO CONTEXTO 73 DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E DA REFORMA DO ESTADO E O SERVIÇO SOCIAL: DESAFIOS E PERSPECTIVAS IMPOSTOS À PROFISSÃO ......................... 93 2.1 - O Mercado de Trabalho Brasileiro ............................................................................. 94 2.2 - O Serviço Social no Mercado de Trabalho ............................................................. 100 2.3 - As Mudanças no Mercado de Trabalho do Serviço Social Oriundas da Reestruturação Produtiva e da Reforma do Estado ..................................................................................... 104 2.4 - A Formação Profissional do Assistente Social e os Desafios do Mercado de Trabalho..................................................................................................................................112 12 CAPÍTULO 3 – O ASSISTENTE SOCIAL E A NÃO-INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL: PERCEPÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NÃOINSERIDOS NO MERCADO DE TRABALHO EM NATAL/RN .................................. 138 3.1 – Perfil dos Assistentes Sociais Não-Inseridos no Mercado de Trabalho em Natal/RN ..................................................................................................................... 139 3.2 - Percepção dos Assistentes Sociais sobre a Relação Profissão/Mercado de Trabalho e sobre a Relação Formação Profissional/ Não-inserção no Mercado de Trabalho .............. 152 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 208 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 214 ANEXO ............................................................................................................................. 227 13 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Uma das principais características da contemporaneidade é a insegurança do trabalho. A realidade atual do mundo do trabalho apresenta aspectos negativos tanto no que se refere aos trabalhadores que estão inseridos no mercado de trabalho, pois estão submetidos às condições de trabalho totalmente precarizadas num mercado cada vez mais exigente, instável e estressante; como também quanto à exclusão de um grande número de trabalhadores desse mercado. No que diz respeito ao desemprego, vê-se que esse tem se tornado um dos principais problemas da sociedade atual, sendo reconhecido até mesmo por todos os segmentos das classes dirigentes, governos nacionais e internacionais. Hoje apresenta uma dimensão mais grave porque não representa mais uma condição temporária, que anteriormente resultava da emergência de ciclos econômicos recessivos, recuperando-se à medida que a atividade econômica voltasse a crescer. Tem-se o denominado “desemprego em massa e de longa duração,” o que caracteriza o desemprego em seu caráter estrutural, que não atinge apenas países periféricos, mas a cada dia se torna mais presente nos países centrais. Além de não estar restrito a localizações geográficas, o desemprego também não se restringe a algumas profissões ou a determinados segmentos de pessoas com graus de escolaridade e qualificação profissional baixos; pelo contrário, atinge a todas as profissões, em maiores ou menores proporções, e às pessoas com altos níveis de escolaridade e de qualificação profissional. Nesse sentido, a profissão do assistente social conseqüentemente passa também a ter como um dos desafios a ser enfrentado o problema do desemprego. Três questões podem ser apontadas como geradoras das alterações no âmbito da inserção ocupacional do assistente 14 social: as mudanças no Estado ( Estado mínimo); as transformações no mundo do trabalho e a globalização. As conseqüências das mudanças provocadas na sociedade por esses três elementos não repercutem apenas nas classes populares, como também repercutem no emprego e desemprego do assistente social. Sarmento (2000, p.101) afirma que: As mudanças históricas que estão hoje alterando a divisão social e técnica do trabalho materializados em mudanças nas relações Estado/sociedade e nas formas de organização e gestão do trabalho, afetam diferentes especialização do trabalho coletivo, inclusive o Serviço Social. A reestruturação produtiva juntamente com as redefinições das relações entre Estado e sociedade, oriundas da reforma do Estado, têm provocado mudanças no mundo do trabalho, ocasionando a desregulamentação, precarização e terceirização das relações de trabalho, levando à existência o que alguns autores denominaram de desordem no mundo do trabalho (MATOSO,1995) e a configuração de um novo (e precário) mundo do trabalho(ALVES, 2000). A afirmação da existência de um novo mundo do trabalho ou da desordem no mundo do trabalho refere-se às mudanças nas modalidades de emprego, na estrutura industrial e na organização do trabalho, as quais emergem como faces complementares do paradigma da flexibilidade. Também podemos dizer que se refere ao conjunto de tendências extremamente insatisfatórias em termos sociais, como o aumento do desemprego, a precarização do trabalho, o crescimento do trabalho informal, o rebaixamento salarial, a expansão das chamadas formas atípicas da contratação, como o trabalho temporário e em tempo parcial. Essas características do atual mundo do trabalho têm a ver com o predomínio de um novo padrão de acumulação capitalista, a acumulação flexível, que é impulsionado pela era 15 neoliberal, o que tem levado ao surgimento do desemprego estrutural e à precariedade do emprego e do salário. A profissão do Serviço Social é atingida pelo problema do desemprego existente na sociedade de uma forma mais grave do que outras profissões, pois este a atinge direta e indiretamente. O desemprego provoca um acirramento das demandas postas ao trabalho do assistente social, como também uma diminuição dos seus postos de trabalho. Como afirma Ortiz(2002), o desemprego, como resultante da reestruturação produtiva e da minimalização do Estado, repercute no universo do serviço social de duas maneiras: no equacionamento das demandas atuais postas ao assistente social e na diminuição dos postos de trabalho. A reestruturação produtiva e a reforma do Estado provocam várias repercussões no mercado de trabalho do assistente social enquanto trabalhador assalariado, e principalmente enquanto profissional que tem o setor público governamental como o seu principal empregador. Dentre essas repercussões estão a flexibilização dos contratos de trabalho, os baixos salários, o aumento dos critérios de seleção para o acesso a uma vaga no mercado de trabalho e, conseqüentemente, o desemprego. Por outro lado, essa mesma realidade de reestruturação produtiva e de reforma do Estado tem gerado a criação de novos espaços de trabalho para o assistente social nas empresas privadas, deixando assim de atuar apenas com a questão dos direitos do trabalhador e partindo para a questão da qualificação dos trabalhadores, assessorias gerenciais etc. Na esfera pública estatal ampliam-se as demandas no campo da descentralização e gestão das políticas sociais públicas; ampliam-se as atividades relacionadas à implantação e orientação de conselhos de políticas públicas, à capacitação de conselheiros, à elaboração de planos de assistência social e acompanhamentos de projetos específicos. Coloca-se também a ampliação do campo de trabalho para o assistente social com o surgimento e regulamentação do chamado terceiro setor. 16 Todas essas mudanças têm criado novas demandas para o trabalho do assistente social, que passa a realizar-se em equipes interdisciplinares e é articulado a outros setores institucionais. Sobre o conteúdo do trabalho do assistente social, Iamamoto (2000, p.71) esclarece que: ... abrange funções de coordenação e gerenciamento, planejamento, mobilização, elaboração, implementação e avaliação de programas e projetos sociais. Esse profissional tem sido chamado, cada vez mais, a exercer a função de “selecionador”, acoplado à seletividade das políticas sociais governamentais, dispondo de uma relativa autonomia na condução do seu trabalho... Alguns autores alertam para o fato de que a existência de uma perda de espaço profissional do assistente social, como pensam equivocadamente alguns profissionais, se expressa como tendência desde que a categoria profissional não se posicione frente a ela. Segundo Netto (1996b, p.115), diversos fatores se congregam para “ constituir um quadro societário que, objetivamente, garanta espaços aos assistentes sociais.” No entanto, mesmo com a constituição de espaços profissionais garantidos na sociedade, onde as demandas existentes para a profissão cada dia crescem mais, a problemática do desemprego afeta os seus profissionais, o que não poderia ser diferente na conjuntura econômica e social onde o desemprego se alastra. Conforme dados da pesquisa realizada para esta dissertação, com assistentes sociais formados pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no período de 2000 a 2002, de 156 assistentes sociais apenas 60 exercem a profissão e 96 não se inseriram no mercado de trabalho - 54 trabalham em outras atividades profissionais e 42 estão desempregados. ( Vide Tabela 02 no capítulo 02 deste trabalho) Isso demonstra um dos aspectos do desemprego; que são as mudanças nos critérios de seletividade da mão-de-obra em que os elementos de qualificação exigidos aumentam cada 17 dia mais. Antes, os trabalhadores desempregados eram os sem nenhuma ou com pouca escolaridade; hoje, têm-se um número expressivo de trabalhadores com nível de escolaridade superior desempregados ou trabalhando em atividades que exigem qualificação bem menor do que a que possuem. Esta questão tem provocado discussões na sociedade, tais como: O diploma universitário garante um emprego?; Ele facilita ou dificulta a inserção num posto de trabalho inferior à formação universitária?; O problema está no mercado de trabalho, na qualidade da formação que os cursos oferecem ou nos próprios profissionais formados? O que pode se perceber hoje é um grande número de profissionais com formação superior que não conseguem uma vaga no mercado de trabalho para exercer a profissão para a qual se formou, o que tem levado muitos a ocuparem outros tipos de atividades. Isso tem provocado discussões sobre a necessidade das universidades preocuparem-se com a articulação formação/mercado de trabalho. Nota-se hoje várias medidas nas políticas de educação do país, em todos os níveis, mais especificamente da educação superior, no sentido de atender às exigências do mercado de trabalho, como os cursos seqüenciais, cursos de graduação à distância, redução de carga horária dos cursos etc. Wanderley(1998, p.8) afirma que um dos desafios da universidade pública hoje é “como interagir , como produzir parcerias com o setor produtivo sem subalternidade? Como garantir a liberdade de pensamento, valor intrínseco à universidade, de forma a não desvirtuar o compromisso ético e social e a identidade da universidade?” Uma das questões a ser enfrentada nesse aspecto é: até que ponto a universidade, ou a formação acadêmica deve voltar-se para o atendimento dos interesses do mercado de trabalho? E como fazer para que a formação atenda as necessidades econômicas da sociedade, pois uma de suas atribuições é contribuir com o crescimento econômico através do conhecimento produzido e, conseqüentemente, de uma mão-de-obra qualificada, sem no 18 entanto perder de vista uma formação ampla que não se limite ao aprendizado técnico, ou seja, a mera formação profissional. Não esquecendo que a mera formação profissional, defendida pela lógica do mercado, obscurece a existência de uma formação ideológica voltada para os interesses mercadológicos, pois uma das exigências que o mercado coloca para a formação, além da qualificação técnica, é a produção de uma subjetividade adequada à nova forma de organização social do capitalismo. Como afirma Koike( 1999, p.105): Para moldar o perfil profissional à nova sociabilidade requerida pelo capital é preciso algo mais do que competências intelectuais, cognitivas e técnicas. Requer o desenvolvimento de competências comportamentais no âmbito das capacidades organizativas ou metódicas, comunicativas e sociais, acionando a subjetividade do indivíduo como parte do processo de trabalho. Com a realidade de um mercado de trabalho cada vez mais exigente e com o alto índice de profissionais com formação superior desempregados, nota-se que um novo aspecto da formação tem surgido na tentativa de enfrentar ou de justificar a realidade do difícil acesso ao emprego, a “formação emprendedorista voltada mais para a capacidade de gerar emprego do que de tentar obtê-lo no mercado laboral”(KOIKE, op cit p.105). Essa mesma autora cita Ciavata quando o mesmo afirma que um dos aspectos dos processos educativos atuais é formar para o não-emprego ou mesmo para um trabalho incerto. Diante dos aspectos expostos, percebe-se uma realidade de inúmeras transformações no mundo do trabalho; o surgimento do desemprego estrutural gerando desafios para todas as profissões, dentre elas o assistente social; como também se percebe a necessidade de desvendarmos aspectos sobre a relação entre a formação e o mercado de trabalho nos dias atuais. 19 A dimensão da problemática do desemprego hoje tem se tornado uma das principais causas do agravamento da questão social, o que tem levado autores como Castel (1998) a afirmar que o desemprego e a precarização do trabalho provocam metamorfoses da questão social fazendo nascer uma nova questão social. Essa afirmação tem suscitado discussões teóricas entre estudiosos do tema, alguns afirmando e outros negando a existência de uma nova questão social. A profissão do Serviço Social lida diretamente com as relações sociais buscando dar respostas às várias expressões da questão social, que no momento assume novas configurações, sendo agravada pelo modelo econômico social implementado e pelos tipos de " respostas " dadas pelo Estado à mesma: privatização e solidariedade voluntária. A questão social está sendo enfrentada sob a ótica da privatização, onde há uma subordinação do atendimento das necessidades à lógica do mercado. O discurso do direito e da cidadania hoje é substituído pelo dever moral do enfrentamento à pobreza, pela valorização da filantropia . O mercado de trabalho do Serviço Social, enquanto profissão inscrita na divisão sóciotécnica do trabalho e como uma das especializações do trabalho coletivo, sofre repercussões diretas desses aspectos colocados. Percebe-se a necessidade atual de análises que busquem desvendar as formas de repercussões das transformações no mundo do trabalho e da reforma do Estado nas práticas sociais dentre elas o serviço social. A necessidade da existência de informações sobre o mercado de trabalho profissional do assistente social nos dias atuais é reconhecida pela própria categoria profissional, tanto no que se refere ao contexto nacional, como regional. Poucos estudos sobre o mercado de trabalho podem ser destacados, como Serra (2000), pesquisas realizadas no contexto regional pelos Conselhos Regionais de Serviço Social - CRESS e a recente pesquisa no contexto nacional sobre o perfil do assistente social no Brasil, promovida pelo Conselho Federal de 20 Serviço Social – CFESS e realizada pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL em parceria com os CRESS’s, a qual encontrava-se em andamento no período em que delimitamos o nosso objeto de estudo. No caso do Estado do Rio Grande do Norte as informações existentes sobre o mercado de trabalho se restringem aos dados da pesquisa “O perfil dos (as) Assistentes Sociais frente às redefinições no mercado de trabalho na contemporaneidade: uma análise da realidade norte-rio-grandense”, realizada pelo CRESS 14ª Região, no ano de 1999. Outro aspecto a ser destacado quanto às análises sobre o mercado de trabalho profissional do Serviço Social é que as pesquisas existentes até então estão mais voltadas para o conhecimento dos profissionais que exercem a profissão, ou seja, sobre os espaços profissionais existentes, sobre as demandas e desafios enfrentados no exercício profissional, havendo assim a necessidade de buscarmos informações sobre o segmento de profissionais que não está no exercício profissional. Sobre a realidade da não-inserção do assistente social no mercado de trabalho temos conhecimento apenas de um estudo que está sendo desenvolvido por Fátima Grave Ortiz, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a qual está escrevendo sua tese de doutorado sobre o desemprego no Serviço Social. Neste estudo, utiliza-se o termo “não-inserção no mercado de trabalho da profissão”ao invés de desemprego1, esclarecendo que ao se falar em não-inseridos no mercado de trabalho da profissão está se referindo aos assistentes sociais que por algum motivo não estão 1 Não nos limitamos ao conceito de desemprego por vários motivos. Para ser considerado desempregado, alguns aspectos são considerados nas pesquisas oficiais os quais não correspondem à realidade de todos os que fazem a população da nossa pesquisa, como por exemplo: estar efetivamente à procura de trabalho, com a última procura há pelo menos um ano, e não exercer nenhum tipo de atividade regularizada. (Vide capítulo 01, item 1.3: “Alguns Elementos sobre Emprego e Desemprego no Mundo do Trabalho Atual” no qual expomos uma análise sobre o conceito de desemprego) 21 exercendo a profissão. É importante destacar o significado do termo não-inseridos no mercado de trabalho porque levando-se em consideração o conceito dos órgãos oficiais que realizam as pesquisas de mercado de trabalho, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos – DIEESE, estão inseridos no mercado de trabalho os ocupados e os que estão à procura de um trabalho. Nessa perspectiva, os sujeitos da pesquisa não poderiam ser chamados de nãoinseridos no mercado de trabalho da profissão, uma vez que muitos deles estão à procura de uma vaga no mercado de trabalho, portanto, estão inseridos no mercado de trabalho da profissão do Serviço Social na condição de desempregados. Dentre os assistentes sociais que denominamos de não-inseridos no mercado de trabalho da profissão estão os que denominamos de desempregados – os assistentes sociais que não estão trabalhando em nenhuma ocupação ou atividade profissional, e os inseridos em outras atividades profissionais - os assistentes sociais que não exercem a profissão, mas estão trabalhando em alguma outra atividade profissional. A busca pelo conhecimento sobre a problemática da não-inserção dos assistentes sociais no mercado de trabalho poderá contribuir para o enfrentamento de possíveis equívocos entre os profissionais. Referimo-nos ao fato de que essa não-inserção pode estar sendo atribuída à profissão sem se fazer uma relação da não-inserção com o contexto da realidade mais ampla das transformações no mundo do trabalho e suas repercussões sobre o mercado de trabalho das profissões. Acredita-se que as formas como vêm sendo tratadas as expressões da questão social, objeto de trabalho do assistente social, por aqueles que formulam e gerenciam as políticas sociais, através da privatização dos direitos sociais, do voluntarismo e do solidarismo, são elementos que geram dificuldades para a inserção do assistente social no mercado de trabalho da profissão; como também geram desafios para atuação daqueles que estão inseridos no 22 mercado: escassez de recursos, aumento das demandas e o conseqüente aumento dos critérios de seletividade no atendimento; baixos salários; submissão às condições de trabalho precárias para a manutenção do emprego e os constantes desafios para a realização de uma prática profissional que fortaleça a implementação e consolidação dos direitos sociais e da justiça. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA A não-inserção dos assistentes sociais no mercado de trabalho do Serviço Social é percebida como uma das conseqüências da reestruturação produtiva e da reforma do Estado. O desemprego é aqui analisado como um dos reflexos da crise do capital/trabalho constituindo-se uma nova expressão da questão social. A pesquisa visa a contribuir com o debate sobre a formação profissional do assistente social, bem como com o papel da universidade na capacitação contínua dos profissionais já formados, e busca responder à seguinte indagação: até que ponto a não-inserção no mercado de trabalho está relacionada à formação em Serviço Social, na percepção dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho? A construção do problema da pesquisa se deu através da observação da realidade na qual o problema apresenta suas manifestações aparentes: assistentes sociais que passam cinco anos se preparando para uma atividade profissional e quando terminam o curso não exercem a profissão; a insatisfação de alguns para com a profissão como se esta fosse a culpada pelo desemprego; a inexistência de fontes bibliográficas que contribuam para o desvelamento dessa realidade. Tudo isso nos levou a buscar respostas para muitas indagações através das quais pudéssemos desvelar essa realidade imediata; para isso algumas ações foram empreendidas na tentativa de elucidação do problema. Sabemos que o caminho a ser percorrido para se chegar à elucidação de um problema não está predeterminado, como 23 também não é único: ele vai ser construído pelas escolhas daquele que o está percorrendo. No nosso caso, as ações empreendidas para percorrer o caminho escolhido foram: 1) Realização de Pesquisa Bibliográfica e Revisão da bibliografia sobre Trabalho, Emprego, Desemprego, Qualificação Profissional, Serviço Social e Formação Profissional, buscando a fundamentação teórico-conceitual para a elucidação do problema. 2) Demarcação do universo da pesquisa. Para isso foram adotados os seguintes critérios: o período de formação acadêmica: assistentes socais formados nos períodos letivos de 2000.1 a 2002.2 da UFRN, levando em consideração os seguintes fatores: O fato de ser um período marcante no avanço da implementação das políticas neoliberais no Brasil, ocasionando o agravamento das desigualdades sociais e do desemprego; Acreditamos que o período de duração de três anos ( que compõe-se de seis turmas de concluintes: 2000.1, 2000.2, 2001.1, 2001.2, 2002.1 e 2002.2) seja substancial para as informações buscadas na pesquisa e; Por serem as últimas turmas concluintes, excluindo-se as mais recentes, pois é necessário um espaço de tempo para que estas se insiram no mercado de trabalho, ou seja, de 2002 para cá. Tomamos como referência o tempo médio de duração da procura de trabalho, apontado pelas Pesquisas Emprego e Desemprego (PED) do DIEESE que é entre dez a quinze meses. (DIEESE, 1999). Outro critério adotado para a delimitação do universo da pesquisa foi a localização domiciliar: assistentes sociais que estão localizados em Natal/RN. 3) Construção de um mapeamento da situação desses profissionais, no sentido de se responder às seguintes indagações: dos assistentes sociais, formados nos períodos letivos de 2000.1 a 2002.2 da UFRN, quantos estão exercendo a profissão e quantos não estão 24 exercendo? Onde estão esses assistentes sociais? Quantos estão desempregados e quantos estão em outras atividades profissionais? Os que estão exercendo a profissão, qual o tipo de vínculo de trabalho? E sobre os profissionais que estão exercendo outras atividades, que tipos de atividades estão desenvolvendo? Para a construção desse mapeamento foram realizadas as seguintes ações: Levantamento dos nomes e endereços dos concluintes do Curso de Serviço Social nos períodos letivos de 2000.1 a 2002.2, junto à Coordenação do Curso de Serviço Social da UFRN; Pesquisa junto ao Conselho Regional de Serviço Social -14a Região (CRESS/RN) para verificar quais dos nomes da relação estavam inscritos e exercendo a profissão. Contato telefônico com todos os que não estavam inscritos no CRESS; os que estavam inscritos, mas estavam inadimplentes e aqueles dos quais não existiam informações sobre o local de trabalho, para ser identificada a sua situação no mercado de trabalho. 4) Delimitação de uma amostra para a aplicação dos instrumentos de coleta de dados composta por 50% dos profissionais que estão no exercício de outras atividades profissionais e 50% dos profissionais desempregados, chegando-se assim ao número de 45 assistentes sociais: 28 que trabalham em outras atividades e 17 que não trabalham. Procuramos abranger 50% do número de profissionais em cada período letivo e quando existiram números ímpares arredondamos a quantidade de entrevistas para mais. 5) Seleção dos sujeitos que fariam parte da amostra que corresponderam aos seguintes critérios: os primeiros nomes da lista dos formados, obtida na Coordenação do Curso, que estavam desempregados ou trabalhando em outras atividades, e residentes em Natal/ RN. 25 6) Escolha e construção dos instrumentos para a coleta de dados que foram: entrevista estruturada com a aplicação de um formulário composto de perguntas abertas e fechadas e a utilização de gravador. 7) Pesquisa de campo através da realização de 45 entrevistas estruturadas, realizadas nos meses de fevereiro a maio de 2004, aplicando-se um formulário e gravando-se as respostas dos entrevistados Um formulário é definido por Nogueira como: Uma lista formal, catálogo ou inventário destinado à coleta de dados resultantes quer da observação, quer de interrogatório, cujo preenchimento é feito pelo próprio investigador, à medida que faz as observações ou recebe as respostas, ou pelo pesquisado, sob sua orientação. ( NOGUEIRA, apud, MARCONI e LAKATOS, 1988 p. 86) Nesta pesquisa, o formulário voltou-se para a coleta de dados resultantes de um interrogatório, onde o preenchimento foi feito pelo próprio investigador. O registro das informações foi feito através da gravação, mas também através de algumas anotações feitas durante e após as entrevistas. Conforme Ludke e André( 1986, p. 34), a entrevista estruturada “é usada quando se visa à obtenção de resultados uniformes entre os entrevistados, permitindo assim uma comparação imediata, em geral mediante tratamentos específicos.” Segundo esses autores, a utilização de um mesmo roteiro de perguntas para todos os entrevistados e sendo esse roteiro seguido muito de perto e na mesma ordem de perguntas, o que foi feito no nosso trabalho, assemelha-se à aplicação de questionário. No entanto, tem-se a vantagem de se ter o entrevistador presente para algum eventual esclarecimento. 26 Outro aspecto que pode contribuir para o esclarecimento daqueles que criticam a utilização de entrevista estruturada, acrescentamos que, além desses esclarecimentos citados por Ludke e André, utilizamos também a gravação das respostas dos entrevistados o que nos permitiu , tanto durante as entrevistas como após, observarmos aspectos mais amplos das respostas obtidas. Como orientam esses mesmos autores: O entrevistador precisa estar atento não apenas ao roteiro preestabelecido e às respostas verbais que vai obtendo ao longo da interação. Há toda uma gama de gestos, expressões, entonações, sinais não-verbais, hesitações... enfim, toda uma comunicação não-verbal cuja captação é muito importante para a compreensão e a validação do que foi efetivamente dito. (LUDKE E ANDRÉ, 1986, p. 36) Portanto, nota-se que a observação é um dos instrumentos indispensáveis na pesquisa e está presente na própria entrevista. Como afirma Marconi e Lakatos( 1988,p.65), “uma das técnicas de pesquisa é a observação direta intensiva a qual pode ser realizada através de duas técnicas: observação e entrevista.” Foi através da utilização da técnica da observação assistemática, que segundo Marconi e Lakatos (op cit, p.67) “consiste em recolher e registrar os fatos da realidade sem que o pesquisador utilize meios técnicos especiais ou precise fazer perguntas diretas” que podemos chegar ao seguinte dado: O local da realização das entrevistas2 nos chamou a atenção para o fato de que muitas das profissionais apesar de não estarem mais mantendo nenhum contato com a UFRN, preferiram marcar a entrevista lá. De acordo com algumas declarações das entrevistadas, a pesquisa abriu uma oportunidade para retornarem à universidade, pois 2 Das 45 entrevistas realizadas, 23 aconteceram na UFRN (no Departamento de Serviço Social, biblioteca, lanchonete e pracinha), 10 no local de trabalho das assistentes sociais que estão em outras atividades, 09 na residência da entrevistada, e 04 na praça de alimentação de um Shopping Center da cidade. 27 estavam muito distanciadas do curso, e até da profissão, pelo fato de não estarem exercendo, e aproveitaram a ida até à Universidade para obter algumas informações sobre oportunidades de cursos de pós-graduação ou qualquer atividade que o Departamento de Serviço Social estivesse oferecendo. O instrumento utilizado para a coleta de dados, o formulário e a entrevista, foram construídos na perspectiva de responder às seguintes questões: a que atribuem o fato de não estarem exercendo a profissão? Realizaram cursos de pós-graduação? Qual a relação atual dos mesmos com a academia? Quanto aos que estão exercendo outras atividades: que tipos de atividades estão desenvolvendo? Por que não estão inseridos no mercado de trabalho profissional? Permanece na atividade que realizava antes de concluir o curso de Serviço Social? Se tivesse oportunidade, exerceria a profissão ou preferiria permanecer na atividade atual? 8) Transcrição das entrevistas e tabulação dos dados; 9) Análise dos dados utilizando-se o método quantitativo e qualitativo, recorrendo às falas dos sujeitos da pesquisa, identificando as similaridades presentes nas diferentes respostas, agrupando os conteúdos em categorias gerais e subcategorias de acordo com os objetivos propostos. Conforme indicações de Ludke e André (1986, p.48): Na análise de dados faz-se a construção de um conjunto de categorias descritivas, onde para isso é necessário ler e reler o material coletado até impregnar-se do mesmo e após codifica-se ou classifica-se os dados de acordo com as categorias teóricas iniciais ou segundo conceitos emergentes (números, letras) os relatos das entrevistas. 28 Os métodos quantitativo e qualitativo articulados combinam abordagens estatísticas simples com a análise qualitativa, através das quais foram interpretados os fenômenos dessa realidade que associam variáveis econômicas, políticas e sociais. As entrevistas estruturadas com algumas questões abertas permitiram relacionar as variáveis mais significativas para o estudo. As análises referentes ao objeto desse estudo estão expostas neste trabalho com a seguinte estruturação: No primeiro capítulo abordamos os elementos mais gerais que configuram a problemática específica, trazendo análises sobre as categorias trabalho, reestruturação produtiva, desemprego e questão social. Apresentamos uma análise do desemprego como resultante das transformações no mundo do trabalho e da reforma do Estado, trazendo alguns dados sobre o desemprego. Abordamos as explicações que têm surgido para o desemprego e as formas que têm sido implementadas para o enfrentamento do mesmo. No segundo capítulo tratamos sobre o mercado de trabalho, sua constituição e características, reportando-nos à profissão do Serviço Social nesse mercado. Enfatizamos as configurações do mercado de trabalho atual resultantes das transformações do mundo do trabalho e os desafios que essas transformações impuseram às profissões, especificamente ao Serviço Social. Nessa perspectiva, apontamos algumas reflexões sobre os desafios que a realidade do mercado de trabalho tem imposto à formação profissional, em geral, e especificamente, à formação do assistente social. No terceiro capítulo trazemos as análises sobre os resultados da pesquisa realizada com os assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho em Natal/RN, colocando dados sobre o perfil desses profissionais e sobre os vários elementos encontrados na pesquisa que se relacionam com os questionamentos referentes ao objeto de estudo. Os motivos da nãoinserção no mercado de trabalho do Serviço Social, os desafios da profissão, a formação 29 profissional são alguns dos elementos analisados a partir das colocações dos próprios assistentes sociais entrevistados. Por fim, apresentamos algumas considerações resultantes do estudo empreendido tentando, a partir das constatações feitas, colocar sugestões de ações que poderão contribuir com o enfrentamento de aspectos problemáticos que se revelaram na realidade trabalhada. 30 CAPÍTULO 1. AS TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO E O DESEMPREGO ESTRUTURAL Diante do objeto deste estudo constituído da não-inserção do assistente social no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN e diante da percepção de que a profissão é uma especialização do trabalho coletivo estando inserida na divisão sócio-técnica do trabalho, percebemos que para a compreensão do problema delimitado existe a necessidade de se fazer uma análise dos aspectos gerais que constituem o mundo do trabalho e as transformações pelas quais passa. Para isso iniciamos buscando a compreensão sobre o trabalho e seus significados adquiridos nos diferentes momentos históricos da sociedade. 1.1- A CATEGORIA TRABALHO Segundo o dicionário Houaiss, a palavra trabalho é um antepositivo do latim tripalium: instrumento de tortura, o qual deriva do adjetivo tripãlis: sustentado por três estacas ou mourões ( HOURAISS e VILLAR: 2001). Com isso atribui-se a origem do trabalho a uma situação de tortura e sofrimento do homem, aspecto esse confirmado na Bíblia a qual menciona o trabalho enquanto conseqüência do pecado do homem “ com o suor do teu rosto comerás.” Nosella(1989) faz uma análise sobre os significados que o trabalho vai adquirindo nas diferentes formas de organização da sociedade. Ele atribui esse significado do trabalho como tripalium, ao momento da sociedade baseada no trabalho do escravo e do servo. Quando a 31 sociedade passa a ser baseada no trabalho livre assalariado, nas manufaturas e posteriormente na indústria, esse passa a ter o significado de labor. A partir do momento em que os trabalhadores passam a reconhecer a exploração que o trabalho assalariado estava lhe impondo e que a liberdade prometida não era realmente uma liberdade e sim uma outra maneira de exploração através das máquinas, o trabalho enquanto labor passa a ser questionado e constrói-se uma outra perspectiva de significado para o trabalho que seria relacionado à ação social, complexa e criativa. O trabalho agora adquire o significado de poiésis. Portanto, percebe-se que a concepção de trabalho foi evoluindo ao longo da história, passando desde mera condição de sobrevivência até à condição de realização. Na concepção marxista de trabalho, este é pensado no seu aspecto geral e particular, ou histórico. No aspecto geral, trabalho é a unidade constitutiva de todos os momentos da vida humana, é a necessidade natural de o homem transformar a natureza para satisfazer suas necessidades. No aspecto particular, ou histórico, é a troca universal do homem com a natureza sendo mediatizada por relações criadas historicamente. Com isso, Marx revela a existência da relação entre o trabalho como atividade universal; e o trabalho como atividade particular. Ao analisar esse duplo caráter do trabalho, Marx (1985, p.5) enfatiza que: ... como criador de valores de uso, como trabalho útil, o trabalho é, por isso, uma condição da existência do homem independente de todas as formas de sociedade, eterna necessidade natural de mediação do metabolismo entre o homem e a natureza, e portanto, da vida humana. Como criador de valor de troca, trata-se de uma determinação histórica, de um modo específico de organização do trabalho. Na sociedade capitalista o trabalho é simultaneamente trabalho concreto (útil, que satisfaz a uma necessidade social, criador de valor de uso) e trabalho abstrato( criador de 32 valor de troca), ou seja, é trabalho geral na sua condição de atividade produtiva universal e trabalho particular, historicamente determinado. Para Lessa, o trabalho na sociedade capitalista está relacionado à condição de exploração de uma classe sobre outra, pois enquanto nas sociedades primitivas o trabalho voltava-se para a conversão da natureza em bens necessários à reprodução social, conversão essa realizada por todos e de forma direta; nas sociedades capitalistas "o trabalho apenas pode se realizar através de um poder que obrigue os indivíduos a produzirem e entregarem o fruto do seu trabalho à outra classe" (LESSA 2000, p.25) Segundo esse autor, o que vai facilitar o aparecimento do trabalho nos moldes capitalistas, cuja razão de ser é não mais a necessidade do trabalhador, mas sim o desenvolvimento da riqueza do dominador, é o aumento do conhecimento, das técnicas através das quais o homem passou a produzir mais que o necessário para a sua sobrevivência juntamente com a reprodução de relações sociais de exploração. Percebe-se isso no momento em que o sistema capitalista para poder se implantar foi necessário realizar um violento processo de expropriação dos trabalhadores dos seus meios de produção conforme descreve Marx na “ A chamada acumulação primitiva”. Portanto, diante da análise marxista, o trabalho é compreendido de forma abrangente, como necessidade natural e eterna de efetivar o intercâmbio material entre o homem e a natureza (trabalho geral), observando que esse processo assume aspectos específicos de acordo com as relações sociais que o mediatizem (trabalho particular). O que acontece com o trabalho na sociedade capitalista é que ele assume uma forma histórica, onde passa a ser apenas um meio para o processo de valorização do capital, deixando de ser objeto de realização humana e se transformando numa atividade de exploração e sofrimento, ou seja, ele é apenas labor, ou até mesmo tripaliumm, e não poiésis. Cattani afirma que o trabalho explica grande parte da sociedade capitalista e diz que: 33 ... o trabalho, como ato concreto, individual ou coletivo, é, por definição, uma experiência social. Opressão e emancipação, tortura e prazer, alienação e criação são suas dimensões ambivalentes, que não se limitam à jornada laboral, mas que repercutem sobre a totalidade da vida em sociedade. Facetas essenciais do processo de socialização, da construção identitária, das formas de dominação e de resistência, enfim, da dinâmica contraditória da economia de mercado, têm origem nas situações laborais e nas relações sociais estruturadas na atividade produtiva. (CATTANI 2000, p. 71) As transformações pelas quais passa o mundo do trabalho, principalmente no que se refere ao avanço tecnológico acompanhado da diminuição da necessidade de absorção de mão-de-obra no processo produtivo, têm levado alguns estudiosos do tema a propugnarem o fim da sociedade do trabalho, passando a não percebê-lo mais como categoria central das relações sociais na sociedade atual. Habermas (1991), Rifkin (1995), Gorz (1987), Offe (1985), entre outros, defendem a existência de uma transição da sociedade baseada no trabalho e nas relações de mercado para uma sociedade pós-mercado, onde o progresso científico e técnico libera o homem do trabalho. Daí alguns desses autores passam a se preocupar com questões como tempo livre e lazer. Esses autores apontam para a questão da diminuição da integração via trabalho acontecendo assim as chamadas novas formas de sociabilidade. A discussão sobre a centralidade ou não-centralidade do trabalho na sociedade atual tem suas bases em Lucàks ( Ontologia do Ser Social) e em Habermas ( Mundo da Vida e Ação Comunicativa). Em sua análise sobre a sociedade contemporânea, Habermas (1991) propugna que a centralidade do trabalho foi substituída pela centralidade da esfera comunicacional ou da intersubjetividade. Para ele, a análise encaminha-se no sentido de conhecer o "mundo da vida" do qual os elementos constitutivos básicos são a linguagem e a cultura. Como afirma Pinto (1995), Habermas busca construir um conceito de racionalidade que encontra seus fundamentos nos processos de comunicação intersubjetiva com vistas a 34 alcançar o entendimento. Ele propõe um conceito de sociedade entendida simultaneamente como mundo da vida e sistema (...) ele visualiza um processo de evolução social no qual a racionalização do mundo da vida se dá através da sucessiva libertação do potencial de racionalidade contido na ação comunicativa (PINTO, op cit, p.81). Segundo Rifkin (1995, p.260), “a economia deixa de ser baseada em material, energia e mão-de-obra para outra baseada na informação e na comunicação...” Para o intelectual francês André Gorz, um futuro promissor está reservado à humanidade. Segundo ele, a revolução tecnológica e a conseqüente diminuição do trabalho criaram, de um lado, uma elite de trabalhadores protegidos e estáveis; e de outro, uma massa de desempregados e de trabalhadores sem qualificação. Daí propõe que esses dois pólos se unam para aumentar a eficiência produtiva, sem cair, porém, no produtivismo, a fim de que cada um tenha bastante tempo para fazer o que quiser, ou seja, defende a redução drástica da jornada de trabalho(GORZ apud CARMO, 1992). Para Claus Offe, a categoria trabalho não deve ser vista de forma tão abrangente a ponto de dar conta de todos os aspectos da sociedade. Afirma que é o “... poder determinante abrangente do fato social trabalho(assalariado) e de suas contradições que, hoje em dia, se tornou sociologicamente questionável” (OFFE,1985, p.171). Esse mesmo autor utiliza como argumento para a defesa da perda da centralidade do trabalho o declínio do modelo de pesquisa social “centrado no trabalho”. Diz que: “A partir deste ponto de observação, é possível encontrar amplas evidências para a conclusão de que o trabalho e a posição dos trabalhadores no processo de produção não são tratados como o princípio básico da organização das estruturas sociais.” (op cit, p. 172) Numa outra perspectiva temos a posição de estudiosos do tema trabalho na sociedade atual os quais defendem a permanência da centralidade do trabalho vendo o mesmo como 35 categoria central das relações sociais mesmo com todas as transformações ocorridas no mundo do trabalho: Lessa (1999), Antunes (1999 e 2002) e Mota (1998). Analisando a centralidade do trabalho, Lessa respaldado em Marx, afirma que: ... considerar o trabalho como categoria fundante significa apenas e tão somente isto: o trabalho funda o mundo dos homens. Entretanto, não significa que se deva desconsiderar elementos das relações sociais que vão para além do trabalho enquanto tal, uma vez que, a reprodução deste mundo e a sua história só é possível pela gênese e desenvolvimento desses outros elementos. (LESSA, 1999, p.32) Portanto, esse autor chama a atenção para o fato de que o trabalho não se resume à relação do homem com a natureza, mas também é a relação dos homens entre si no contexto da reprodução social e ressalta que: Afirmar a centralidade do trabalho, para Marx, não significa desconsiderar a ação na história dos outros complexos sociais. Pelo contrário, apenas sendo, em última análise, fundados pelo trabalho, é que os complexos sociais distintos do trabalho podem interagir com ele, consubstanciando o complexo processo de desenvolvimento dos homens que é a reprodução social (op cit, p. 33). Autores respaldados em Lucáks não concordam com a perda da centralidade do trabalho no universo de uma sociedade produtora de mercadorias. Antunes (1999) analisa que há uma redução quantitativa no mundo produtivo, no entanto, o trabalho abstrato cumpre papel decisivo na criação de valores de troca. Afirma ainda que o avanço tecnológico não elimina o trabalho; mas sim há uma intelectualização de uma parcela da classe trabalhadora. Segundo esse autor, quando se fala em crise da sociedade do trabalho é necessário qualificar de que dimensão se estar tratando: da sociedade do trabalho abstrato ou da crise do trabalho também em sua dimensão concreta, enquanto elemento estruturante do 36 intercâmbio social entre os homens e a natureza. Chama a atenção para o fato de que a desconsideração da dupla dimensão presente no trabalho (concreto e abstrato) possibilita que a crise da sociedade do trabalho abstrato seja entendida como a crise da sociedade do trabalho concreto. Antunes(2002) defende que o saber intelectual que foi relativamente desprezado pelo taylorismo-fordismo tornou-se, para o capital em nossos dias, uma mercadoria muito valiosa. Afirma que a incompreensão desse fato levou Habermas a visualizar um processo de cientifização da tecnologia, quando em verdade ocorre um movimento de tecnificação da ciência a qual não levou à eliminação do trabalho vivo, mas a novas formas de interação no trabalho, visando a sua diminuição. Um ponto essencial nessa discussão sobre a centralidade ou não-centralidade da categoria trabalho na sociedade atual é que, segundo Antunes (1995, p. 86) aqueles que defendem a centralidade do trabalho acreditam no: papel central da classe-que-vive-do-trabalho3 como sujeito potencialmente capaz, objetiva e subjetivamente de caminhar para além do capital, já os que não defendem a centralidade do trabalho não, acreditam na superação do capital através da classe trabalhadora. Portanto, ele considera que a questão essencial na discussão sobre o trabalho hoje não é a afirmação do fim do trabalho ou da classe trabalhadora, mas sim, a busca da identificação de quem possui maior potencialidade e/ou centralidade nas lutas sociais atuais; se os estratos mais qualificados da classe trabalhadora ou os segmentos mais subproletarizados. Granemann (1999, p.162) refuta a perda da centralidade do trabalho que alguns 3 ANTUNES reformula esse termo classe-que-vive-do-trabalho para classe-que-vive-do-seu-trabalho, por reconhecer que a classe dominante também vive do trabalho, do trabalho dos outros. 37 apontam como conseqüência da diminuição dos postos de trabalho afirmando que: ... saber que os postos de trabalho diminuem não resulta em corroborar com os argumentos de que o trabalho perdeu sua centralidade... o trabalho continua a ser o centro da estruturação capitalista, especialmente, porque o capitalismo ainda não conseguiu gerar riqueza senão pela apropriação do trabalho não-pago. Carmo (1992) faz uma análise sobre a exaltação e o desprezo que se faz ao trabalho em determinados momentos históricos do capitalismo. Diz que com freqüência aparece alguém prevendo o fim da sociedade do trabalho, apontando como causa o avanço da revolução microeletrônica, que inauguraria uma nova era. Considera que esse sonho utópico, tão antigo quanto a própria humanidade, que é livrar o homem do trabalho, é realizado por alguns que vivem à custa do trabalho de outros. Portanto, conforme os elementos aqui colocados sobre a categoria trabalho pode-se afirmar que este possui duas dimensões, as quais não devem ser deixadas de lado antes de fazer alguma análise sobre os mesmos. Quando falamos do trabalho no sentido geral, ou seja, no sentido do intercâmbio do homem com a natureza, de transformação de algo para a satisfação de suas necessidades ou no sentido da realização enquanto ser que ao transformar ou produzir algo está também se transformando e produzindo a si mesmo, aí somos levados a percebê-lo de uma forma positiva e necessária ao ser humano. Entretanto, quando falamos do trabalho enquanto atividade realizada de forma explorada, alienante, que não traz a realização pessoal de quem a pratica, estamos então falando do trabalho nos moldes do sistema capitalista e esse sempre esteve e estará voltado para os interesses do capitalista, a acumulação e essa produzida pelo trabalho de muitos e apropriada por poucos. 38 É nesse sentido que o trabalho vai assumindo, a cada momento histórico do capitalismo, novas formas de apropriação e de gestão da mão-de-obra para que tenha condições de continuidade dessa mesma lógica, como veremos no próximo tópico que apresenta alguns elementos do desenvolvimento dos processos de trabalho em alguns momentos históricos do capitalismo. 1.2 - Reestruturação Produtiva, Neoliberalismo, Globalização e as novas configurações do Mundo do Trabalho O trabalho na sociedade humana foi se intensificando na proporção da criação das ferramentas, primeiramente de pedra até às máquinas complexas. Com o advento das máquinas, desde os meados do século XIX, o trabalho acelera suas transformações dandose início às grandes indústrias, e com isso às grandes cidades. Os processos de trabalho foram evoluindo. No início, o trabalhador produzia individualmente todo o produto e era dono dos meios de produção - artesão. Em seguida, esses trabalhadores foram reunidos em um local - manufatura - onde produziam para um proprietário dos meios de produção em troca de um salário. Ainda aqui o trabalhador detinha todo o processo de produção. Logo após, ocorre a divisão técnica do trabalho, onde as tarefas são divididas visando o aumento da produção. Começa aí a primeira fase do processo de alienação do trabalhador, pois este não vê mais o produto final do seu trabalho; fica restrito a uma pequena parte do processo produtivo. 39 Num terceiro momento, com o avanço da administração científica do trabalho Taylorismo - e os reflexos na produção, o trabalhador passa a executar o que foi pensado por outro. É neste momento que, segundo alguns autores, fere-se a principal característica do trabalho humano, ou seja, a capacidade de pensar, imaginar antes de concretizar a idéia; quebra-se a unidade concepção - execução. No início do século XIX, Henry Ford, baseando-se nas idéias de Fayol e Taylor, introduz em suas fábricas novos métodos de trabalho, suplantando a produção de tipo artesanal da indústria automobilística pela produção em massa. Os elementos constitutivos básicos do Taylorismo/Fordismo foram: o controle dos tempos e movimentos pelo cronômetro fordista e produção em série taylorista; a existência do trabalho parcelar e fragmentação das funções; a separação da elaboração e execução no processo de trabalho; a existência de unidades fabris concentradas e verticalizadas; a produção em massa, através da linha de montagem e de produtos mais homogêneos; e a constituição/consolidação do operário-massa, do trabalhador coletivo fabril, entre outras dimensões. As idéias e objetivos desse modelo pretendiam a disciplina do trabalho, uma vez que os trabalhadores concentrando-se nas tarefas manuais e com rígida norma dos movimentos não teriam tempo para pensar e sim produzir o máximo possível no mínimo de tempo. Vê-se com isso que “além da disciplina do trabalho propunha-se uma ética, um padrão de conduta aos trabalhadores.” (GORENDER, 1997, p. 312). Alguns fatores foram essenciais para a expansão do modelo de produção em massa de automóveis o qual até o segundo pós-guerra ficou restrito aos Estados Unidos: o Plano Marshall que foi um instrumento de norte-americanização da Europa Ocidental e de criação, no seu território, do mercado apto a suportar a produção em massa de automóveis e de outros bens de consumo duráveis. (GORENDER, op cit) e a doutrina de Keynes que constitui o 40 chamado Keynesianismo o qual sustentava a intervenção do Estado nas economias via gastos públicos (custeio e investimento) de sorte a assegurar a demanda efetiva e, assim, o nível de emprego. Novos papéis e poderes institucionais foram assumidos pelo Estado, expressos no keynesianismo, o qual, aliando-se firmemente ao fordismo, possibilitou a etapa de expansão do capitalismo monopolista, caracterizada pela expansão dos mercados em nível mundial. Portanto, juntamente com o fordismo, o keynesianismo é visto por muitos como de grande mérito pela prosperidade capitalista do pós-guerra. Segundo HARVEY (1989:119) o fordismo-keynesianismo teve como base "(...)um conjunto de práticas de controle do trabalho, tecnologias, hábitos de consumo e configurações de poder político-econômico(...)"baseado na "rigidez total": nos investimentos, nos mercados, na alocação, nos contratos de trabalho e nos compromissos do Estado. No início da década de 70, o regime fordista-keynesiano começa a declinar devido a vários fatores, tais como: problemas que começam a se agravar por parte da mão-de-obra (desmotivação dos trabalhadores: abandono do trabalho, alcoolismo, fraco desempenho nas tarefas); a inflexibilidade da produção estava se tornando algo muito caro e não acompanhava as necessidades do mercado; e as dificuldades fiscais do intervencionismo estatal keynesiano e do Estado de Bem-estar Social.4 Surge então a necessidade de outros mecanismos, inéditos, de ganhos de produtividade. Todo o saber-fazer acumulado em torno das economias de escala e da grande série não seria mais imediata e diretamente utilizável. Com isso, o regime de regulação fordista-keynesiano foi substituído pelo chamado "modelo japonês" o qual teve origem na fábrica automobilística Toyota nos anos 1950. Ohno (apud Coriat 1994) coloca dois pontos principais, ou seja, dois pilares do método Toyota: a produção just in time (produzir as unidades necessárias, nas quantidades 4 O Estado do Bem-Estar Social conferia as condições institucionais para a garantia de sobrevivência dos indivíduos pela regulação do nível básico de salário/renda, seguridade social e assistência à saúde. 41 necessárias, no tempo necessário) a partir da qual têm-se a criação do denominado kanban (conjunto de princípios ou de recomendações antitayloristas, de desespecialização não somente do trabalho operário, mas do trabalho geral da empresa, reassociando no interior da oficina tarefas antes sistematicamente separadas pelo taylorismo) e a auto-ativação da produção, cujo princípio significa desespecialização e polivalência operária. Desespecialização dos profissionais para transformá-los em plurioperadores (profissionais polivalentes); intensificação do trabalho; modificação do sistema de emprego (flexibilização, terceirização, subcontratação) e do sindicalismo (agora o sindicalismo de empresa). Segundo Ohno, o método Toyota não é uma técnica de produção "de estoque zero"; o "estoque zero" é apenas um dos resultados aos quais ele conduz, perseguindo um objetivo mais geral. Para ele, o sistema Toyota teve sua origem na necessidade particular em que se encontrava o Japão de produzir pequenas quantidades de numerosos modelos de produtos e em seguida, evolui para tornar-se um verdadeiro sistema de produção. Os defensores da tese da "especialização flexível" a tomam como uma nova forma produtiva a qual expressaria um modelo produtivo que recusando a produção em massa e recuperando uma concepção de trabalho - mais flexível - estaria isenta da alienação do trabalho (ANTUNES, 1999). É notório que hoje não permanece tão rígida aquela separação concepção/execução existente no modelo de produção anterior (fordismo/taylorismo), onde os operários apenas executavam atividades repetitivas e rotineiras elaboradas por outros; ao contrário, tem-se agora a necessidade de trabalhadores qualificados, eficientes e participativos. Segundo Antunes (1996, p.80-81), a alienação do trabalhador no modelo de regulação de produção do Taylorismo dava-se através da existência dos déspotas, do sistema de controle de tempos e movimentos, do controle rígido, da produção controlada; enquanto que com a implementação e expansão do Toyotismo tudo isso é "substituído" gradativamente 42 por um sistema em que o trabalhador torna-se vigia de si próprio. Ele é déspota de si próprio; ele não se avilta com o chicote, ele se avilta no plano do ideário, empresa é a sua empresa, a produtividade é a produtividade de sua empresa Percebe-se que a "aproximação" dos elementos concepção/execução no trabalho não tem contribuído para a autonomia do trabalhador sobre o processo produtivo. O poder de decisão do trabalhador por mais "democrático" e "cooperativo" que seja, o seu trabalho sempre está limitado aos interesses daquele que lhe contratou. Como afirma MOTA ( 1998, p.10): O canto dos cisnes da "emancipação" do trabalhador na ordem vigente, a externalização da produção não passa de uma nova forma de estruturação do trabalho abstrato e que se revela como um verdadeiro reino de liberdade, propriedade e igualdade Analisando a participação dos trabalhadores na esfera da produção, Lojkine ( apud YACOUB, 1998, p.56) afirma que: tais estratégias de participação não produzem efeitos na divisão entre trabalho manual e intelectual, concepção e execução. O que se verifica é uma cooperação horizontal no que se refere ao processo produtivo, mas não vertical alcançando a organização e a gestão do trabalho As mudanças de formas da organização do trabalho e gestão da mão-de-obra aqui apontadas se referem a nada mais, nada menos que estratégias do modo de produção capitalista se reorganizando para atender às suas necessidades de novas formas de acumulação e manutenção. E esse modelo atual de organização do trabalho e gestão da mãode-obra, o Toyotismo atende também a essa lógica. Como afirma Alves (2000, p.119): “...na 43 era neoliberal, o novo complexo de reestruturação produtiva, cujo momento predominante é o toyotismo, pode ser considerado uma nova ofensiva do capitalismo na produção.” Reestruturação produtiva, segundo Leite(2003), se refere às mudanças nas modalidades de emprego, na estrutura industrial e na organização do trabalho, as quais emergem como faces complementares do paradigma da flexibilidade. É o conjunto de tendências extremamente insatisfatórias em termos sociais, como o aumento do desemprego, a precarização5 do trabalho, o crescimento do trabalho informal, o rebaixamento salarial, a expansão das chamadas formas atípicas da contratação, como o trabalho temporário e em tempo parcial. ALVES (2000) analisando o processo de reestruturação produtiva, enquanto estratégia de adequação do capitalismo, aponta a ocorrência de três surtos de reestruturação produtiva no Brasil pós-1945. Num primeiro momento, com a instauração da grande indústria de perfil taylorista-fordista em meados dos anos 50; num segundo momento, na época do “milagre brasileiro”, na passagem para os anos 70; e num terceiro momento, que ocorre atualmente, com o predomínio de um novo padrão de acumulação capitalista, a acumulação flexível, a partir dos anos 80 e impulsionado na década de 90 sob a era neoliberal. As tendências principais da reestruturação produtiva, tanto internacional como nacionalmente, têm apontado para a desestruturação do mercado de trabalho.6 Estudos 5 O termo precarização do trabalho tem sido utilizado em referência a uma diversidade de situações laboriais atípicas que se tornaram expressivas nos anos 90 como reflexo da crise do sistema econômico(..) as formas de inserção ocupacional apresentam características de não serem regidas por contrato de trabalho assalariado típico e as condições de trabalho tendem a um padrão inferior frente á condição assalariada. A definição de trabalho precário contempla pelo menos duas dimensões: a ausência ou redução de direitos e garantias do trabalho; e a qualidade no exercício da atividade. (GALEAZZI,2002) 6 Para Pochmann (1999) estruturação do mercado de trabalho significa o aumento do emprego formal ( 1940 a 1980), período em que acontece a consolidação do projeto de industrialização nacional, a institucionalização das relações de trabalho através da normatização realizada pelo Estado ( conjunto de normas legais difundidas pela CLT), e desestruturação do mercado de trabalho significa a diminuição dos empregos formais; inchamento do setor terciário; aumento do desemprego e precarização das ocupações geradas. 44 existentes sobre o assunto demonstram que essas tendências não fazem parte de um caráter parcial da reestruturação, ao contrário, emergem como tendências estruturais desse processo. MOTA(1998) diz que a marca da reestruturação produtiva no Brasil é a redução dos postos de trabalho, o desemprego dos trabalhadores do núcleo organizado da economia e sua transformação em trabalhadores por conta própria. A conseqüência disso é o enfraquecimento dos processos de organização dos trabalhadores, como também as mudanças dos objetos das reivindicações, as quais passam a ter outros significados, que sendo originárias do projeto do capital, são assumidas como se fossem do trabalhador. Daí a necessidade do modelo de produção atual demandar o envolvimento do trabalhador com as necessidades da produção. As transformações tecnológicas, a descoberta de novos materiais e as novas formas de organização e gestão do trabalho têm provocado mudanças não só no mundo do trabalho, mas também refletem em toda a organização societária; ou seja, as relações econômicas, políticas e sociais não são as mesmas. Como afirma Kuenzer(1998), a partir das novas bases materiais de produção estabelecem-se novas formas de relações sociais, que, embora não superem a divisão social e técnica do trabalho, apresentam novas características: a partir da intensificação de práticas transnacionais na economia com seus padrões de produção e consumo, nas formas de comunicação com suas redes interplanetárias, no acesso às informações, na uniformização e integração de hábitos comuns e assim por diante, ou seja, a globalização. Podemos perceber dois fenômenos importantes os quais estão imbricados nesse processo de transformações no mundo do trabalho: o neoliberalismo e a globalização. Da mesma forma como o taylorismo/fordismo, enquanto modelo de produção e gestão da mãode-obra, respaldou-se politica e ideologicamente no keynesianismo, com a passagem para o modelo toyotista de produção, necessita-se de um novo sistema político-ideológico que o respalde: o neoliberalismo. 45 Percebe-se com isso a existência de juntamente com transformações no âmbito do trabalho, uma série de transformações econômicas, sociais e políticas que correspondem ao esgotamento de um momento de acumulação capitalista e à emergência de um novo modo de acumulação, o que tem tido profundas implicações para as relações de trabalho. O surgimento e o avanço do neoliberalismo, segundo análises de Rodrigues(2004), acontece da seguinte maneira: na década de trinta acontece uma crise de superprodução na economia mundial, o que leva economistas a perceberem uma anarquia desregrada do mercado tornando-se uma preocupação com os riscos para a manutenção do capitalismo. Com isso surge a obra do economista John Maynard Keynes que, em 1926, postulou a ruptura das bases do capitalismo laissez-faire, e propôs aos economistas pensarem melhor sobre a intervenção governamental e como esta poderia contribuir com o capitalismo, ao invés de considerá-la desnecessária ou prejudicial ao sistema. A partir da generalizada aceitação das idéias de Keynes nos países capitalistas centrais, no segundo pós-guerra, deu-se origem ao Welfare State Keynesiano. Com a crise mundial do capitalismo, na década de setenta, surgem as críticas a esse padrão de acumulação baseado no fordismo/keynesiano, propondo-se agora um novo modelo político ideológico e de gestão econômica chamado de neoliberalismo. As raízes mais remotas do neoliberalismo encontram-se na chamada escola austríaca, que centralizou-se em torno do catedrático da Faculdade de Economia de Viena, Leopold Von Wiese, na segunda metade do século XIX, o qual ficou conhecido por seus trabalhos teóricos sobre a estabilidade da moeda, especialmente o publicado com o título de “ O Valor Natural” – 1889. Em 1944, Friedrich Von Hayek escreve o livro “ O caminho da servidão” e este é considerado por muitos estudiosos do tema como o manifesto do neoliberalismo. 46 Em 1947 acontece o célebre encontro de um grupo de intelectuais conservadores em Mont Pélier, na Suíça, onde formaram uma sociedade de ativistas para combater as políticas do Estado de Bem-Estar Social – as políticas do Estado de Bem-Estar tiveram início em 1942 com a publicação do Relatório de Beveridge, na Inglaterra, e tinham como princípios uma programação de aberta distribuição de renda, baseada no tripé da Lei da Educação, do Seguro Nacional e do Serviço Nacional de Saúde. Outra vertente do neoliberalismo surgiu nos Estados Unidos, na Escola de Chicago do Professor Milton Friedman, o qual combatia a política do New Deal do Presidente Roosevelt por ser intervencionista e pró-sindicatos. Até a década de 1970, o neoliberalismo ficou restrito às discussões localizadas, impedido de se expandir devido à longa era de prosperidade que impulsionou o mundo ocidental depois da Segunda Guerra com a adoção das políticas keynesianas e sociais democratas. Com a grande crise do capitalismo nos anos 70, provocada pela crise do petróleo e pela onda inflacionária, o neoliberalismo passa a expandir-se gradativamente quando começa a colocar a crise como resultado das políticas do Estado de Bem-Estar e a sua aliança com os sindicatos. O primeiro governo ocidental democrático a adotar os princípios do neoliberalismo foi a Inglaterra, com Margareth Tatcher, a partir de 1980. Esse passou a ser modelo para as políticas de diversos países e, hoje, a hegemonia do neoliberalismo é tamanha que consegue manter o seu receituário político, econômico e ideológico nos mais diversos países do mundo. Em 1989 acontece em Washington um Seminário com o título “Latin American Adjustment: How Much Has Happened”, onde foram sistematizadas as principais propostas do programa neoliberal. Participaram desse seminário funcionários do governo dos Estados Unidos e órgãos financeiros internacionais ali localizados: Fundo Monetário InternacionalFMI, Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento. As conclusões passaram 47 a ser chamadas de Consenso de Washington, e teve como principal objetivo passar um receituário neoliberal a ser adotado pelos países latino americanos como condição para que eles pudessem receber “ajuda financeira”. Com isso, o Brasil inicia o processo de implementação das propostas neoliberais. A partir de 1989, com a eleição de Fernando Collor de Mello, as políticas econômicas brasileiras passam a se ajustarem a esse modelo. Dando prosseguimento a esse ajuste, Fernando Henrique Cardoso, Ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, adota as proposições do Consenso de Washington e organiza um plano econômico que estabilizou a moeda com base na adoção da âncora cambial, elevação das taxas de juros, contenção dos salários e corte dos gastos do governo com políticas públicas. A crise vivenciada pelo sistema capitalista, a partir da qual iniciou de forma mais evidente, todo esse processo de substituição de um padrão de acumulação por outro modo baseado na globalização e no neoliberalismo, acontece em finais dos anos 60 e início dos anos 70. Essa crise foi provocada pela redução dos níveis de produtividade do capital com o esgotamento do padrão de acumulação taylorista – fordista de produção e atribuída aos limites estruturais da estratégia keynesiana, que permitira a expansão da acumulação no pósSegunda Guerra Mundial. Para Harvey (1989), a crise dos anos 70 caracteriza-se pelo esgotamento do modelo fordista-keynesiano de produção e regulação, o que levou à passagem para o regime de acumulação flexível, caracterizado pela flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. O processo em curso repercute no âmbito da regulação e reprodução social, estabelecendo outros mecanismos sócio-políticos e institucionais na relação entre capital, trabalho e o Estado: defesa do mercado livre, a desregulamentação da economia e administração, configurando o Estado mínimo subordinado à prerrogativa do mercado. 48 Entende-se que as transformações estruturais do capitalismo e a profunda alteração na dinâmica da sociedade salarial não chegam a conformar uma sociedade inteiramente nova, como também ocorre em relação às novas feições do mundo do trabalho e da questão social; ou seja, elas não chegam a representar uma ruptura radical em relação às suas expressões anteriores. A ofensiva revolução tecnológica na produção, a mundialização da economia e o ajuste neoliberal, surgem como resposta à queda das taxas de lucro nos anos 70. Antunes (2002) analisando esse processo de substituição do modelo de acumulação do capital, e enfatizando o papel da organização dos trabalhadores nesse processo, diz que os anos 73 e 74 marcam a conjugação de muitos elementos dos quais ele acentua dois: uma tendência decrescente das taxas de lucros e uma intensificação das lutas sociais no final dos anos 60 e começo de 70. Segundo ele, naquele momento esboçou-se uma contra-hegemonia do trabalho que, nas lutas sociais de 68 a 72, tocou num dos pontos fundamentais da lógica do capitalismo, qual seja a necessidade de luta pelo controle social da produção. Para Mota (1998), todo o processo de transformações no mundo do trabalho e, principalmente, na esfera sócio-política e institucional, trata-se da construção de outra cultura do trabalho e de outra racionalidade política e ética compatível com a sociabilidade requerida pelo atual projeto capitalista. Todas as mudanças ocorridas relacionam-se com o atual estágio de desenvolvimento do modo de produção e processo civilizatório, com base no avanço tecnológico e na nova divisão internacional do trabalho e mundialização dos mercados. Segundo Faleiros (1999, p.211): o neoliberalismo não significa apenas uma mudança de orientação conjuntural de política, mas um novo processo de regulação econômica, com a implementação de novas instituições e relações entre capital e trabalho, com as respectivas conseqüências na distribuição das riquezas, dos recursos, do poder. Trata-se de um novo modo de acumulação capitalista, encravado nas mudanças tecnológicas e na mundialização da economia. 49 O termo globalização está sempre na ordem do dia, e há algum tempo era visto como novidade. Contudo, analisando-se a história do capitalismo vê-se que a expansão sempre se constituiu como objetivo desse sistema. O que muda no decorrer dos tempos do capitalismo é a forma e o grau de intensidade da expansão ou universalização. Marx já falava sobre o processo de globalização quando apontou para a mundialização da esfera da circulação de mercadorias e do capital e para a extensão dos interesses produtivos (extrativos e, posteriormente, industriais) a todo o globo. No Manifesto Comunista de 1848, Marx e Engels já falavam do processo de criação do “mercado mundial". (MARX e ENGELS, 2002, p.46) Não pode-se, no entanto, deixar de reconhecer que no atual momento a globalização assume alguns aspectos específicos em relação às formas anteriores. Como afirma Ianni (2001, p.22): “... tem-se hoje o trabalho coletivo desterritorializado onde há uma cadeia mundial de cidades globais, que passam a exercer papéis cruciais na generalização das forças produtivas e relações de produção em moldes capitalistas.” Para Carvalho (1998, p.8-9), a globalização é um conceito em moda que foi criado pela ideologia neoliberal para nomear o atual momento do sistema capitalista, termo que se transformou num mito. Segundo essa autora, o termo globalização "camufla as desigualdades, polarização e exclusão que marcam o capital mundializado nesta virada do milênio". Por isso, prefere utilizar o termo "mundialização do capital" criado pelo economista francês François Chesnais "um dos primeiros a denunciar o caráter ideológico, apologético do termo globalização". Ao mesmo tempo em que se concretiza a universalização do sistema capitalista, expandem-se e agravam-se, conseqüentemente, as contradições inerentes ao capitalismo. Como afirma Ianni (2001, p.24): 50 ... as mesmas condições propícias aos novos surtos de expansão mundial do capitalismo, da reprodução ampliada do capital em escala global, essas mesmas condições trazem consigo a criação e a reprodução de desigualdades, carências, inquietações, tensões e antagonismo. Atualmente, uma das maiores conseqüências das desigualdades geradas pelo atual estágio de desenvolvimento do capitalismo são os rebatimentos sobre as condições do emprego e o agravamento do desemprego. O mundo do trabalho tem assumido novas configurações muito mais complexas e difíceis de serem interpretadas. O desemprego assume proporções alarmantes, atingindo a muitos independentemente de limites geográficos, profissionais ou de níveis de formação profissional. 1.3 – Alguns Elementos Sobre o Emprego e o Desemprego no Mundo do Trabalho atual Como resultado de todo o contexto de neoliberalismo e mundialização do capitalismo tem-se a constituição do que Alves( 2000) denominou de “o novo ( e precário) mundo do trabalho.” Conforme a análise de MOTA (1998), as características principais do trabalho hoje são a produtividade e a insegurança. Cada dia diminui mais o trabalho socialmente protegido (estáveis) e, até mesmo os poucos trabalhadores incluídos nesse trabalho denominado de "socialmente protegido", vêem seus direitos serem reduzidos. Tem-se portanto , de um lado, o grande número de trabalhadores desempregados, e de outro, trabalhadores submetidos às condições de trabalho cada dia mais exigentes, instáveis e estressantes. 51 No mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde, 30% dos trabalhadores têm sintomas de depressão, transtornos de ansiedade (como a síndrome de pânico) ou estresse (LOBO: 2003).Como revela uma pesquisa da acadêmica canadense Estelle Morin7, sobre as condições de trabalho, os trabalhadores estão à procura de um sentido para o seu trabalho, pois estão desenvolvendo algo que não lhes realiza, antes, pelo contrário, está lhes trazendo sérios danos à saúde. Ela coloca que, no Canadá, companhias de seguro já ameaçam parar de pagar as despesas com saúde mental se as corporações não começarem a fazer algo para melhorar as condições de trabalho e prevenir as doenças mentais. Afirma que No Canadá, nos últimos três ou quatro anos, houve um aumento significativo de faltas justificadas no trabalho por doenças mentais. Muitos estão entrando em colapso. Dedicaram-se tanto para manter seus empregos e deram tanto pelas organizações que acabaram sem forças. ( MORIN apud LOBO, op cit, p. 12) A situação apresentada da realidade do Canadá não é diferente dos outros países onde foi realizada a pesquisada: foram cerca de 2 mil pessoas no Canadá, mil na França e 250 na Bélgica. Se essa situação é vivenciada por trabalhadores em países considerados de 1o Mundo, aqui no Brasil, onde as condições de trabalho são mais precárias, os resultados não serão melhores. A pesquisadora já se assustou com os primeiros resultados: “... no Brasil, trabalhase duas vezes mais do que no Canadá e eu não sei como isso é possível. Talvez vocês tenham organismos de super-heróis e suportem mais pressões do que os canadenses...” (op cit, p. 14) Portanto, as mudanças no mundo do trabalho têm repercutido negativamente, tanto no que se refere à exclusão de um grande contingente de trabalhadores do mercado de trabalho, 7 Professora de Comportamento Organizacional pela HEC Montreal. Ph.D em Psicologia Organizacional e Industrial. Já desenvolveu estudos de campo sobre o sentido do trabalho no Canadá, na França e na Bélgica. Em entrevista para a Revista Carta Capital, 22 de outubro de 2003, p.16 e 17. 52 como também têm trazido conseqüências danosas para os empregados que permanecem no emprego: temor, insegurança, aumento do stress e de doenças relacionadas ao trabalho. No entanto, apesar das péssimas condições de trabalho nas quais estão vivendo os trabalhadores em todo o mundo, estar empregado é quase um privilégio ou sorte. A problemática do desemprego hoje apresenta uma dimensão mais grave porque não representa mais uma condição temporária, que num período anterior, resultava da emergência de ciclos econômicos recessivos, recuperando-se à medida que a atividade econômica voltasse a crescer, mas tem-se hoje o denominado desemprego em massa e de longa duração. Alguns analistas afirmam que o alto índice de desemprego, o atual desemprego estrutural, pode chegar a ser considerado uma crise perigosa que pode colocar em risco o próprio sistema capitalista. Esses autores se reportam a conceitos que se fizeram presentes no final do século XIX e início do século XX, como o de anomia, de coesão e de integração social. Isso porque vêem o crescimento de segmentos sociais não-integrados/marginais como ameaça social. Um dos analistas dessa perspectiva é Castel (1998). Segundo ele, os abalos na sociedade, no âmbito da mundialização do capital, manifestam-se na transformação da problemática do emprego a qual se expressa em dois fenômenos: o desemprego e a precarização do trabalho. Considera a precarização do trabalho como o desafio mais grave porque é ela que alimenta o desemprego e faz com que a situação do trabalho torne-se cada vez mais frágil, como também, toca de forma desigual as diferentes categorias sociais. Afirma que existe uma relação entre o lugar ocupado na divisão do trabalho e a participação em redes de sociabilidade e em sistemas de proteção (zona de coesão social). Com isso, Castel vem a afirmar que a não participação em uma atividade produtiva e o isolamento relacional produzem a desfiliação. 53 Sennett (2003, p.62-63) se refere a essa ameaça ao sistema e coloca que: Um secretário do trabalho da Grã-Bretanha assim argumentou: “Estamos a caminho de nos tornar uma sociedade de duas camadas, composta de uns poucos vencedores e um grande grupo deixado para trás” opinião secundada pelo presidente do Federal Reserve Bank[ o Banco Central americano], que declarou há pouco que a renda desigual pode tornar-se “ uma grande ameaça à nossa sociedade. Por outro lado têm-se a perspectiva dos analistas, os quais defendem que a crise do trabalho não se configura uma ameaça à desestabilização da sociedade capitalista, mas que a mesma representa apenas mais um momento de reorganização do capitalismo adotando novas formas para a manutenção da acumulação ampliada do capital. Segundo Catani (2000, p.66) “o sistema revela sua fantástica capacidade de sobrevivência”. Consideramos que essa situação atual de desemprego, como também de todos os outros problemas sociais decorrentes do atual modelo de regulação capitalista implementado pelo neoliberalismo e pela mundialização do capital, não está livre da existência de forças sociais contraditórias, das lutas de classes, mas que resulta de um maior predomínio dos interesses capitalistas em detrimento dos interesses das classes trabalhadoras num momento em que a organização dessas está enfraquecida devido aos ataques da hegemonia neoliberal que tem como principal objetivo a destruição das forças coletivas que venham de encontro aos seus interesses e incentivando a individualização e a competitividade. Castel (op cit) afirma que o desemprego em massa, a instabilidade e a inadequação dos sistemas clássicos de proteção criaram os supranumerários, os inempregáveis. Para ele, os processos que produziram os vagabundos antes da revolução industrial e os processos que produzem as categorias de inempregáveis de hoje são análogos em sua dinâmica e diferentes em suas manifestações, há uma série de descontinuidades e bifurcações. Daí o autor falar de metamorfoses da questão social e de uma nova questão social. 54 Para esse autor questão social é uma aporia fundamental sobre a qual uma sociedade experimenta o enigma de sua coesão e tenta conjurar o risco de sua fratura e, portanto, a nova questão social, na qual a exclusão se dá pela via da vulnerabilização do trabalho, configura-se como uma ameaça à coesão da sociedade, colocando em xeque as tradicionais formas de regulação do capitalismo. ( CASTEL:1998, p. 48) Em contraposição à existência de uma nova questão social Iamamoto (2003, p. 27) defende que a questão social é : O conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade. Uma das principais e mais graves conseqüências das desigualdades sociais nos dias atuais tem sido o desemprego e a precarização do emprego. O desemprego estrutural tem trazido conseqüências negativas enormes sobre a “classe-que-vive-do-seu-trabalho”. A falta de trabalho tem levado as pessoas a uma “situação de deriva econômica, social e moral.”(CATANI,2000, p.71)8 Ianni (1994) afirma que a base de determinação da questão social é o desemprego, pois mesmo que as expressões da questão social sejam desiguais em contextos diferentes, as suas manifestações revelam-se típicas da nova divisão internacional do trabalho. Iamamoto (2000) também concorda que uma das mais dramáticas expressões da questão social nos dias atuais tem sido a ampliação do subemprego e do desemprego estrutural a partir dos anos 90. 8 SENNETT( 2003) também trabalha com esse termo de situação de deriva como uma das conseqüências pessoais do trabalho no novo capitalismo. 55 Entende-se que o desemprego deve ser visto como uma das mais fortes expressões da questão social, originária da forma de organização e produção capitalista em sua capacidade de gerar problemas e conflitos sociais. No Brasil, fazer uma análise sobre o problema do desemprego, principalmente no que se refere à sua medição, não é algo simples. Com isso, e por isso, não há homogeneidade nem consenso entre as metodologias adotadas para a medição do desemprego. Segundo o DIEESE(2001), no Brasil, que nunca chegou a constituir um mercado de trabalho estruturado, a medição do fenômeno do desemprego tem se revelado uma tarefa muito complexa. Diante disso, três metodologias são adotadas para a medição do desemprego no Brasil: a do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE através da Pesquisa Mensal de Desemprego – PME, realizada nas regiões de Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte e Recife; a do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos – DIEESE em parceria com a Fundação SEADE e outras instituições regionais que produz a Pesquisa Emprego e Desemprego – PED; e a do Sistema de Informação do Emprego - SINE do Ceará na região de Fortaleza. No plano nacional tem-se o Censo Demográfico, realizado a cada dez anos, e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, ambas realizadas pelo IBGE. O DIEESE/ SEADE, na realização da Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED, utiliza os seguintes conceitos: População em Idade Ativa – PIA: pessoas a partir dos dez anos de idade. O IBGE considerava a população em idade ativa a partir dos 16 anos, mas a partir de outubro de 2001 adotou , como o DIEESE, a idade a partir de 10 anos. A PIA comporta três categorias: ocupados, desempregados (que constituem a População Economicamente Ativa - PEA ) e inativos. 56 Ocupados – indivíduos que possuem trabalho remunerado exercido regularmente; ou possuem trabalho remunerado exercido de forma irregular, mas não estão procurando outro trabalho; ou possuem trabalho não remunerado de ajuda em negócios de parentes, ou remunerado em espécie/benefício, sem procura de trabalho. Excluem-se as pessoas que nos últimos sete dias realizou algum trabalho de forma excepcional; Desempregados - indivíduos que se encontram numa situação involuntária de não-trabalho por falta de oportunidade de trabalho ou que exercem trabalhos irregulares com desejo de mudança. (DIEESE, 2001) Inativos – pessoas sem procura de trabalho que, nos últimos trinta dias, realizaram algum trabalho de forma excepcional porque lhes sobrou tempo de seus afazeres principais ( exemplo: estudantes, donas de casa, aposentados) Conforme análises do IBGE, pode-se conceituar desemprego como o fenômeno da não absorção pelo mercado de trabalho de um contingente de pessoas que estão em condições de participar do processo produtivo, ou seja, a denominada População Economicamente Ativa - PEA. Portanto, na acepção corrente, desemprego refere-se à situação em que se associam: a ausência de trabalho acompanhada da disponibilidade de trabalhar com a busca por trabalho. Considera-se então desempregado os indivíduos sem trabalho, porém com procura efetiva de trabalho. Esses critérios adotados para a conceituação de desempregado estão respaldados na XIII Conferência Internacional de Estatísticos do Trabalho, ocorrida em Genebra no ano de 1982, “a qual apontou diretrizes para que a Organização Internacional do Trabalho -OIT efetuasse a classificação das pessoas quanto à situação de desemprego: estar sem trabalho, estar disponível para trabalhar e estar buscando trabalho.”( ARGOLO: 2001, p. 20) 57 Nas pesquisas realizadas pelo DIEESE, o desemprego é desagregado em três tipos: desemprego aberto- pessoas que procuraram trabalho de maneira efetiva nos 30 dias anteriores ao da entrevista e não exerceram nenhum trabalho nos sete últimos dias; desemprego oculto pelo trabalho precário: pessoas que realizam trabalhos precários, algum trabalho remunerado ocasional de auto-ocupação, ou pessoas que realizam trabalho nãoremunerado em ajuda a negócios de parentes, e que procuraram mudar de trabalho nos 30 dias anteriores ao da entrevista ou que, não tendo procurado neste período, o fizeram sem êxito até 12 meses atrás; e desemprego oculto pelo desalento: pessoas que não possuem trabalho e nem procuraram nos últimos 30 dias anteriores ao da entrevista, por desestímulos do mercado de trabalho ou por circunstâncias fortuitas, mas apresentaram procura efetiva de trabalho nos últimos 12 meses. Nessa perspectiva, existem dois tipos de desempregados: os que estão totalmente excluídos de qualquer atividade ocupacional, e aqueles que estão exercendo alguma atividade para a sua sobrevivência, de forma precarizada e instável. O primeiro grupo comporta o denominado desemprego aberto; o segundo se constitui de um desemprego oculto na medida em que existe a realização de algum tipo de atividade. Ressalte-se que o desemprego hoje encontra sua dimensão mais grave justamente nessa segunda dimensão, a do desemprego oculto, devido ao crescente número de atividades desenvolvidas de forma terceirizada, precarizada; ou seja, o crescimento do subemprego provocado pelo processo de flexibilização instituído pelo modelo de produção e gestão de mão-de-obra do Toyotismo. Algumas características do desemprego hoje são apontadas por ORTIZ (2002): x Demora na obtenção de um novo emprego; x Cresce o desemprego entre as atividades ditas gerenciais; 58 x Crescente dificuldade de ingresso no mercado de jovens, especialmente aqueles com baixos níveis de escolaridade e sem experiência anterior. Outro aspecto que caracteriza o desemprego hoje é o seu caráter estrutural, pois não atinge apenas países periféricos, mas a cada dia se torna mais presente nos países centrais. Segundo dados apresentados por Larangeira (1999, p.29) no final da década de 1980 mais de 40% dos desempregados no Reino Unido e na França, e quase a metade dos desempregados na Alemanha e na Holanda, estavam procurando emprego há mais de um ano. Mais de dois terços dos desempregados na Itália também procuram emprego há mais de um ano. Dez por cento dos desempregados da União Européia estão desempregados há mais de quatro anos. Nos Estados Unidos a média de procura por um novo emprego é de dois anos e, quando encontram é em condições inferiores ao emprego anterior. No Brasil, o número total de desempregados no mês de novembro de 2004, de acordo com pesquisa do IBGE, chega a 2,3 milhões de pessoas, o que significou 10,6% da PEA. Já nas pesquisas do DIESSE e Fundação SEADE, o desemprego nesse mesmo período, ficou em 17,4% da PEA. As pesquisas apontam uma queda nas taxas de desemprego, pois a taxa de 17% é a menor desde julho de 2001. A expectativa da Fundação Seade/Dieese é que a taxa média para o ano de 2004 fique próxima aos 17%. Afirmam que com isso o início de 2005 será melhor que o de 2004 quando a taxa começou em 19,1% em janeiro e chegou a 20,7% em abril, recorde histórico. (FOLHA ONLINE, 2004). No Rio Grande do Norte coloca-se que 49,9% da população afirma ter uma pessoa desempregada na família. Em Natal, segundo dados da PED realizada na Região Metropolitana de Natal,9 no ano de 1999, a População em Idade Ativa – PIA é composta de 981.215 pessoas das quais 412.000 estão ocupadas ou desempregadas e 569.000 são inativos. 9 Região Metropolitana de Natal corresponde aos municípios de Natal, Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante, Extremoz e Ceará-Mirim. 59 Dos 412.000 que fazem parte da População Economicamente Ativa, 17,3% (71.000) são desempregados e 82,7%(351.00) são ocupados (DIEESE, 2002). Referindo-se à população apenas de Natal, 52,5% da PIA está inserida no mercado de trabalho. Destas, 82,8% estão ocupadas e 17,2 % desempregadas. O tempo da procura de trabalho10 aumentou. O período médio em que um desempregado procura por nova ocupação aumentou; no ano de 2000, em pelo menos um mês a média que antes era de onze meses. Nesse ano verificou-se um aumento do percentual de pessoas que estão há mais de um ano procurando emprego. No Rio Grande do Norte, 28% dos desempregados estão há 15 meses sem emprego. Na Região Metropolitana de Natal, segundo a PED de 1999, o tempo médio na procura de trabalho é de dez meses. (DIEESE: 2001 e 2002) O crescimento do tempo da procura por um emprego traz várias conseqüências negativas: a pessoa fica desatualizada, “desqualificada” e aumenta o desemprego oculto pelo desalento. Um dos agravantes do desemprego no Brasil, e que oculta os reais índices de desemprego, é o crescimento da informalidade. Um em cada quatro brasileiros encontra-se na informalidade. O setor não organizado (trabalhadores por conta própria, pequenos prestadores de serviço, etc) no período de 1990 a 1997 cresceu 5,2% ao ano; enquanto o setor organizado(emprego assalariado, formal e legalizado) teve um crescimento negativo de 4,2% no mesmo período. O setor organizado fechou 88 mil postos de trabalho por ano, enquanto o setor não organizado abriu 908,3 mil postos de trabalho.(REHDER apud IAMAMOTO, 2000, p. 57) 10 Procura de Trabalho -Corresponde à busca de um trabalho remunerado, expressa na realização, pelo indivíduo, de alguma ação ou providência concreta. A procura de trabalho inclui não apenas a busca por um trabalho assalariado como também de outros trabalhos, como a tomada de providências para abrir um negócio ou empresa e a procura por mais clientes por parte do trabalhador autônomo. 60 Segundos dados dos principais órgãos de pesquisa sobre o mercado de trabalho 40% da PEA exerce alguma atividade informal. Na região Metropolitana de Natal, 42,8% dos ocupados estão no trabalho informal.(DIEESE, 2002) Isso gera outro problema: a não contribuição com a Previdência Social. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio -PENAD do ano de 2002, 47% da População Economicamente Ativa – PEA não contribui com a Previdência social. (IBGE, 2004) É importante destacar que os índices de emprego e desemprego não podem ser desvinculados dos índices de pobreza, desigualdade de renda, Produto interno Bruto – PIB, analfabetismo etc. A distribuição de renda no Brasil é extremamente concentrada. Em 1996, os 10% mais ricos apropriava-se de treze vezes a renda dos 20% mais pobres.. A taxa de analfabetismo, em 1999, é da ordem de 15% da população de 15 anos ou mais. ( DIEESE, 2001). Segundo dados da PENAD-2002, existem no Brasil 1,8 milhões de domicílios em favelas; a taxa de mortalidade infantil na região nordeste é de 43 por mil crianças nascidas vivas; a taxa de analfabetismo na população de 15 a 24 anos é de 3,7% e na população de mais de 40 anos é de 20%. (IBGE, 2004) Portanto, toda essa realidade perversa vivenciada por uma grande parte da população brasileira é agravada pela existência do desemprego. 1.3.1 - Justificativas Ideológicas para o Desemprego Com avanço crescente do índice de desemprego no Brasil e no mundo, surgem as várias justificativas para o mesmo tentando mascarar a realidade contraditória do capitalismo, 61 o que Tavares apud Oliveira (2003) chama de “os mitos do desemprego”. Como afirma Oliveira (op cit, p.36): A “incapacidade” de criar mecanismos eficazes para a diminuição do desemprego em massa obriga a implementação de mecanismos ideológicos justificadores das contradições na sociedade capitalista. A utilização de justificativas, colocando fora das relações de classe a responsabilidade pela crise existente, é um dos meios utilizados pelo capital visando retardar ou minorar os conflitos atuais. Dentre esses “mitos” ou justificativas do desemprego podemos destacar: o fenômeno da globalização; o progresso tecnológico; os baixos índices do crescimento econômico, mito esse que afirma que o desemprego é conseqüência dos baixos níveis de crescimento econômico; a falta de qualificação da mão-de-obra e a rigidez dos contratos de trabalho. Essas interpretações, ou justificativas, do desemprego são os norteadores das principais ações de enfrentamento ao mesmo existentes até então. Tavares (apud Oliveira, 2003, p.35) coloca-se contrária ao mito do desemprego como fenômeno mundial decorrente da globalização, pois diz que “o mesmo não é algo natural, mas estrutura-se em virtude da posição que cada nação toma no processo de reestruturação produtiva”. Segundo ela, nas “economias que se deixam contaminar pelos encantamentos do espontaneísmo do mercado, o número de desempregados tende a acentuar-se”. A justificativa de que o desemprego é conseqüência dos avanços tecnológicos também não é totalmente verdadeira. Como afirma Pochmann (2004a): O desemprego tem crescido onde há baixa inovação tecnológica e, segundo a OIT e OCDE, em 1979, havia no mundo 45 milhões de pessoas no desemprego aberto, um terço no G-7. Em 2001, esse número subiu para 160 milhões, mas apenas 12% no G-7, ou seja, o desemprego aberto é cada vez maior nos países em desenvolvimento. 62 O desemprego não pode ser visto como resultado apenas da utilização das novas tecnologias, mesmo sabendo que essas dispensam um grande contingente de trabalhadores por isso mesmo denominadas de tecnologias poupadoras de mão-de-obra – mas, como resultado do tipo de política econômica implementada pelo sistema capitalista no seu modelo atual de produção e organização do trabalho, enquanto estratégia de acumulação de capital como forma de enfrentamento do esgotamento de um modelo anterior em crise. Por ser um processo contraditório que atende a interesses de determinada classe, a incorporação das novas tecnologias na produção é determinada por decisões políticas e não meramente por exigências técnicas. Daí podemos afirmar que a introdução das novas tecnologias possuem o potencial de instaurar, ou não, a degradação do trabalho; produzir, ou não, a desqualificação do trabalho. O problema existente nas nossas sociedades do desemprego tecnológico decorre do fato das novas tecnologias estarem inseridas num contexto de flexibilização da organização e da produção, desregulamentação, terceirização e informalização das relações de trabalho. No caso do Brasil, a implantação das novas tecnologias ocorre juntamente com uma superexploração do trabalho o que tem provocado o aumento do desemprego e da precarização do emprego na indústria. Podemos perceber isso através dos seguintes dados destacados por Cardoso (2004): entre 1990 e 1996, no Brasil, a produção industrial cresceu 11,8% contra uma queda de 30,3% no emprego o que representa ganho de 42% de produtividade no trabalho e perda de perto de um milhão de postos de trabalho. Ao mesmo tempo do crescimento da produção industrial, há o aumento da participação dos trabalhadores sem carteira assinada de 22,7% para 25,40%, e o aumento dos trabalhadores por conta própria de 19,73% para 21,61%. (Mota, 1998) A relação do crescimento econômico com a questão do desemprego é encontrada na discussão de vários autores com os mais diferentes posicionamentos. Alguns apontando que a 63 solução para o desemprego é o crescimento econômico (Assis, 2004); outros defendem que não adianta crescimento econômico, pois na lógica da sociedade capitalista o nível de desemprego sempre será alto (Benjamin, 2004), e outros afirmam que o crescimento econômico é indispensável para a geração de emprego, mas que vai depender da regulação pública (Dedecca, 2004). Benjamim (op cit) diz que o desemprego, tal como visto em Marx, continua sendo o resultado peculiar à própria dinâmica de acumulação capitalista, o que vai ser refutado por Assis (op cit) quando aponta dados sobre os países industrializados avançados, no quarto século posterior à Segunda Guerra Mundial, os quais tiveram taxas de desemprego inferiores a 1%. Com isso afirma ser “difícil concluir que o capitalismo é incompatível com o pleno emprego”. Já Dedecca (op cit, p.01) vai dizer que a solução está no Estado regulando as diversas formas de gasto. Segundo ele A regulação pública deveria cumprir, ao menos duas funções: garantir a distribuição de renda em favor do gasto efetivo; e viabilizar as condições para o investimento. Ao cumprir essas duas funções o Estado estaria consolidando bases para um crescimento fundado na maior produtividade e distribuição de renda que, a longo prazo, se traduziria em aumento do nível de emprego e na melhora do bem-estar. Fica difícil acontecer essa perspectiva apontada por Dedecca num contexto de políticas neoliberais, onde os interesses do mercado se sobressaem e o Estado é colocado apenas para formular ações que fortaleçam esses interesses. O objetivo principal do neoliberalismo é a “redução do Estado” e o uso do mercado para uma exploração cada vez maior da força de trabalho, com arrocho salarial e diminuição dos direitos sociais. Sobre a afirmativa de alguns autores de que o crescimento econômico é a solução para o desemprego, Faleiros (1999, p.212) apresenta dados mostrando alguns exemplos da 64 existência de crescimento econômico sem diminuição do desemprego como conseqüência da implementação das políticas neoliberais, onde a tendência das grandes empresas é de aumentar a produtividade sem criar empregos; ao contrário, estão demitindo e cortando postos de trabalho. Ele diz que na França, a partir de 1975 até 1994, o PIB aumentou 60% sem que houvesse crescimento do emprego. Na Inglaterra, de 1960 a 1987, o PIB aumentou 83% sem crescimento do emprego, e nos Estados Unidos, nesse mesmo período, o PIB aumentou 117% e o emprego apenas 64%. Larangeira (1999, p.32) afirma que: O aspecto mais preocupante em relação à natureza do desemprego atual é o seu caráter estrutural, no sentido de que o crescimento econômico não se constitui em garantia de empregos em número superiores à supressão dos mesmos. Percebe-se com isso que o desemprego não se remete apenas a uma questão de crescimento econômico, e nem meramente às perspectivas da dinâmica de um mercado de trabalho, ou seja, oferta e procura de emprego; mas se constitui de um resultado do tipo de política adotada. Comprova-se isso quando o próprio sistema neoliberal adota como natural certo índice de desemprego, a chamada “taxa natural de desemprego” que chega a ser considerado como elemento importante para o equilíbrio econômico. A discussão existente entre alguns analistas é até que ponto esse índice de desemprego pode chegar sem prejudicar a própria sociedade capitalista; por exemplo, as análises de Campos (2003) quando pergunta se o desemprego neoliberal pode ser considerado um equilíbrio ou uma explosão. Outra explicação, ou justificativa, muito utilizada pelas classes dominantes na tentativa de mascarar as reais causas do desemprego é a falta de qualificação da mão-de-obra. Afirma-se que o mercado está cada vez mais exigente, restrito e competitivo levando a 65 qualificação profissional a ser colocada como um dos principais critérios para absorção do trabalhador por esse mercado. A ideologia capitalista dominante sempre objetivou deslocar o conflito entre capital e trabalho das causas dos problemas e crises sociais. No que se refere ao desemprego, uma das principais estratégias é atribuí-lo a não qualificação da mão-de-obra disponível. O próprio Estado assume essa posição adotando a educação profissional como política de enfrentamento ao desemprego, quando em 1995 o Ministério do Trabalho apropria-se das recomendações da CEPAL e cria o Plano Nacional de Educação Profissional - PLANFOR. Ressalte-se a afirmação de Oliveira (2002,p. 34): Aparentemente há coerência na relação entre melhor qualificação e maior possibilidade de empregar-se. Contudo, é incoerente desarticular a política de emprego e renda das políticas econômica e social adotada pelo país. Apesar do trabalho hoje necessitar de uma mão-de-obra mais qualificada que atenda as necessidades da produção, sabemos que com a existência de uma abundante mão-de-obra disponível gera-se a aplicação de exigências cada vez maiores para o trabalhador se inserir no mercado de trabalho. Atualmente, cresce o número de trabalhadores desempregados com nível de escolaridade superior levando-se à conclusão de que apenas o diploma universitário não é mais garantia de um emprego. Alguns analistas apontam que para conseguir um emprego hoje deve-se somar ao diploma elementos como: qualificação permanente (pós-graduação, cada dia num nível mais elevado), “espírito empreendedor”, coragem para enfrentar desafios em atividades novas, disponibilidade para sair de seu Estado ou país. O trabalhador que o mercado exige hoje tem como perfil o “envolvimento”, “participação” e “espírito criativo” para que ele venha a contribuir criativamente na 66 produção11. Portanto, principalmente na esfera da produção, muitas vezes a não inserção do trabalhador no mercado de trabalho é atribuída a sua não adequação a esse perfil, e não às mudanças no mundo do trabalho com suas repercussões negativas sobre a classe trabalhadora.12 Todo esse processo de exigências de qualificação como forma de garantir a obtenção de uma vaga no mercado de trabalho atinge todas as profissões e, conseqüentemente, ao assistente social enquanto profissional assalariado e inserido na divisão sócio-técnica do trabalho. Esses profissionais passam hoje por inúmeros desafios para a obtenção de uma vaga no mercado de trabalho. Dentre esses desafios estão as exigências cada vez maiores de qualificação. Os processos seletivos tanto em concursos públicos como em empresas privadas e do chamado terceiro setor têm aumentado seus critérios de aprovação. Antes, o critério era a análise do conhecimento através de provas teóricas; depois, veio a ser acrescentada a realização de provas de títulos para a qual eram bastante os títulos acadêmicos: 11 Antunes (1999) chama a atenção para um aspecto contraditório do discurso da qualificação do trabalhador, principalmente na esfera produtiva: ao mesmo tempo que exige-se uma qualificação do trabalhador, o processo produtivo tem provocado uma desqualificação desse trabalhador através da desespecialização provocada pela polivalência e pela plurifuncionalidade. Afirma que o fato do trabalhador, na organização toyotista, executar e controlar formalmente o processo produtivo, não significa que tenha domínio conceitual, e às vezes, nem técnico, sobre este processo e sobre sua inserção e papel dentro do projeto social do qual faz parte; ou seja, sua visão de processo, engendrada em sua relação com o trabalho, permanece sendo fragmentada. Esse posicionamento é reforçado por Sennett(2003:80) quando afirma: “trabalhadores dependentes de programas, também não podem ter conhecimento prático, o trabalho não é mais legível para eles, no sentido de entender o que estão fazendo. Muitas vezes, com as múltiplas funções exigidas, a indefinição das tarefas, o mero apertar botões faz com que as atividades profissionais sejam indefinidas e difusas. A facilidade da tarefa esconde as relações que se estabelecem. Fica-se na superficialidade do trabalho.” 12 O que podemos compreender como classe trabalhadora hoje, segundo Antunes (2002, p.112) “ compreende a totalidade dos assalariados, homens e mulheres que vivem da venda da sua força de trabalho e que são despossuídos dos meios de produção.” Esse autor compreende a classe trabalhadora hoje de modo ampliado, uma vez que admite a existência de uma nova morfologia dessa classe onde “sua conformação é mais fragmentada, mais heterogênea e mais complexificada do que aquela que predominou nos anos de apogeu do taylorismo e do fordismo. Nessa noção abrangente de classe trabalhadora, fazem parte da mesma os trabalhadores manuais ( trabalho produtivo material), os que estão inseridos na produção indiretamente ( trabalho produtivo imaterial), e os trabalhadores improdutivos ( serviços, para uso público ou privado).Estão excluídos da classe trabalhadora, nessa noção ampliada formulada por Antunes, os gestores do capital, os que vivem de juros e especulação, os pequenos empresários urbanos e rurais proprietários dos meios de produção. 67 especialização, mestrado etc; hoje tem sido acrescentado em muitos processos seletivos a exigência de experiência profissional. Nota-se que devido ao grande número de assistentes sociais disponíveis no mercado de trabalho e o nível de qualificação desses está aumentado, os critérios de seletividade para o ingresso num posto de trabalho se multiplicam. É preocupante que os equívocos do discurso da qualificação como justificativa para o desemprego passa a estar presente na fala de alguns profissionais do Serviço Social que estão desempregados. Estes atribuem a sua não-inserção no mercado de trabalho à não qualificação, sem fazer uma análise dos elementos que estão na raiz do problema do desemprego. Percebemos esse fato na pesquisa realizada com assistentes sociais quando perguntamos sobre a que atribuíam o fato de não estarem inseridas no mercado de trabalho do Serviço Social: 13% disseram não possuir a qualificação que o mercado tem exigido e 09% disseram não ter experiência profissional (Conforme Gráfico 07, exposto no Capítulo 03 deste trabalho) Esquece-se que as exigências cada vez maiores para a inserção no mercado de trabalho, aumentando a competitividade por uma vaga nesse mercado, têm provocado mudança no tipo de trabalhadores excluídos do mesmo. Agora, não são apenas aqueles que não tem um bom nível de escolaridade, ou seja, não tem uma formação profissional; mas também os que têm essa formação estão ficando sem emprego. A realidade do desemprego de profissionais com nível de escolaridade superior é demonstrada em nossa pesquisa, a qual revela que de 156 assistentes sociais formadas pela UFRN, no período de 2000 a 2002, apenas 60 estão exercendo a profissão e 96 não exercem a profissão. Dessas 96 apenas 10% afirmaram que não exercem por opção. (Conforme Gráfico 01, no Capitulo 2 deste trabalho) Um outro elemento que tem sido acrescentado na busca pela qualificação exigida pelo mercado de trabalho hoje, devido ao aumento de trabalhadores com formação de nível 68 superior, é a qualidade da formação acadêmica. Hoje tem sido apontado como um dos motivos da não-inserção no mercado de trabalho do profissional com nível de escolaridade superior a não-adequação da formação recebida às exigências do mercado. Com isso, os próprios profissionais formados passam a atribuir a causa do seu desemprego à formação recebida ou ao curso escolhido. Conforme dados da nossa pesquisa 60%, dos assistentes sociais entrevistados disseram que se fossem iniciar a formação acadêmica hoje, escolheriam outro curso. Quando interrogados sobre o motivo da escolha por outro curso, 51,85% responderam que seria porque esse outro curso ofereceria mais oportunidades no mercado de trabalho. (Conforme Gráfico 01 e Tabela 01, no capítulo 02 deste trabalho) Percebe-se que os componentes exigidos para que o trabalhador se insira no mercado de trabalho, devido à crescente restrição desse mercado, se multiplicam; ou seja, os critérios para a “empregabilidade” se complexificam e são colocados para o trabalhador como desafios individuais, cabendo-lhe a responsabilidade de se esforçar para obter as qualificações necessárias. Isso tem sido buscado pelos trabalhadores, os quais superando todas as dificuldades, têm corrido em busca dessa qualificação. Veja-se isso na existência do crescente número de cursos de qualificação profissional promovidos pela esfera pública, privada e terceiro setor onde, com a ajuda da mídia, prega-se desenfreadamente a necessidade do trabalhador buscar a sua qualificação. No caso dos assistentes sociais, a corrida na busca pela qualificação tem sido demonstrada no aumento da procura pelos cursos de pós-graduação. Em Natal/RN, os assistentes sociais vêm aumentado a sua participação nos cursos oferecidos pelo Programa de Pós-graduação do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte sendo isso percebido no crescente número de inscritos nas seleções de mestrado, grande número de participantes nos cursos de atualização em temáticas específicas e a busca crescente de vagas nas disciplinas oferecidas no mestrado para alunos especiais. Nota-se que a 69 busca por pagar uma disciplina como aluno especial tem sido uma oportunidade que os profissionais têm encontrado para se atualizarem enquanto não conseguem entrar como aluno efetivo por motivos tais como não passar na seleção ou por falta de tempo para a realização do mestrado devido ao trabalho. Não se pode esquecer que, apesar das exigências de qualificação impostas ao trabalhador para conseguir um emprego e para se manter nele, muitas vezes não são dadas as condições para que os profissionais se qualifiquem. Existem dificuldades enfrentadas por muitos assistentes sociais que os impedem de participar de cursos de pós-graduação, alguns por motivo de trabalho; outros pelo não-trabalho. Essas dificuldades ficam claras nos seguintes depoimentos de entrevistadas: Como eu preciso me manter estou nessa atividade. Qualquer curso que eu fosse fazer precisaria de dinheiro... Estou nessa atividade e quando tiver condições financeiras aí eu vou fazer uma pós.(25 – D) ... outra coisa que eu acho assim exorbitante... como esse concurso que teve da universidade, muita gente não pôde ainda fazer uma especialização por n’s motivos., agente passa na prova mas tem a prova de títulos, mestrado, doutorado, e a maioria da gente não tem isso. (36 – T) Diante disso, percebe-se que existe o reconhecimento por parte dos profissionais da necessidade da qualificação, no entanto apresentam as dificuldades em obter a qualificação. A pesquisa também demonstrou que 51% das assistentes sociais que estão desempregadas ou trabalhando em outras atividades profissionais não mantém hoje nenhum contato com a UFRN. Entretanto, todas se referiram à necessidade que sentem em voltar à universidade e continuar a sua formação, o que não fizeram ainda devido a algumas dificuldades enfrentadas, conforme Gráfico 02 e as análises que seguem o mesmo, no capítulo 02 deste trabalho. 70 Os assistente sociais colocam uma situação em que se forma um círculo vicioso: tem que se qualificar, mas precisa de condições financeiras para obter essa qualificação; para ter essa condição financeira tem que trabalhar; se trabalha não tem tempo para se qualificar. Tudo isso tem levado a fazer com que esses assistentes sociais que não exercem a profissão - dos quais apenas 10% afirmam não exercer por opção ( vide Gráfico 07, no capítulo 3 deste trabalho) - enfrentem uma dificuldade para conseguir uma vaga no mercado de trabalho do Serviço Social: a falta da qualificação exigida hoje, em que a pós-graduação é necessária. Sabe-se que não é apenas a falta da qualificação exigida pelo mercado que determina o desemprego; ou que a obtenção dessa qualificação garantirá o acesso ao emprego. Concordase com Castel em sua crítica às teorias que vinculam as taxas de desemprego à falta de qualificação da força de trabalho, sublinhando a ilusão que é considerar que os desempregados possam vir a encontrar um emprego graças à elevação do nível de escolaridade. Ainda alerta para o “novo e grave problema que constitui a possível nãoempregabilidade dos qualificados.” (CASTEL, 1998, p.521) Um outro elemento importante no sentido do aumento das exigências de qualificação para o trabalhador pode ser percebido no novo discurso da competência em substituição ao discurso da qualificação. Segundo Deluiz (2003), o amplo processo de reestruturação produtiva produziu novas concepções gerenciais as quais visam racionalizar, otimizar e adequar a força de trabalho às demandas do sistema, e faz com que na década de 1990 surja o discurso da competência em substituição, ou indo além, do conceito de qualificação. O modelo das competências volta-se para a necessidade do empregador observar aspectos sociais e subjetivos do trabalhador para além dos aspectos escolares ou técnicocientíficos. Segundo Deluiz (op cit, p. 2) Os elementos das novas práticas de gestão que configuram o modelo das competências no mundo do trabalho são a valorização dos altos níveis de 71 escolaridade nas normas de contratação; a valorização da mobilidade e do acompanhamento individualizado da carreira; novos critérios de avaliação que valorizam as competências relativas à mobilização do trabalhador e seu compromisso com a empresa; a instigação à formação contínua; a desvalorização de antigos sistemas de hierarquização e classificação, ligando a carreira ao desempenho e à formação. É nessa perspectiva de privilegiar aspectos subjetivos do trabalhador como: saberes em ação, talentos, capacidade de inovar e criatividade que, diferentemente da qualificação onde a empresa tinha a responsabilidade de promover as possibilidades para a qualificação, o modelo das competências passa a atribuir ao trabalhador “a responsabilidade individual de atualizar e validar regularmente sua “carteira de competências” para evitar a obsolência e o desemprego.” ( DELUIZ, 2003, p. 2) Diante disso, percebe-se que um dos grandes problemas do crescimento das exigências da qualificação exigida pelo mercado de trabalho é que se passa a atribuir, exclusivamente, ao trabalhador a responsabilidade pela sua situação de empregado ou desempregado. Outro aspecto que é obscurecido no discurso da falta de qualificação do trabalhador como justificativa para o desemprego é que na realidade devido o grande número de desempregados colocam-se critérios de seleção para os candidatos às vagas que são absolutamente subjetivos; como também podem optar para o preenchimento das vagas, candidatos com níveis de escolaridade bem acima do que o trabalho exige. Sobre o papel e a importância da qualificação profissional, como também os seus limites como garantia para a obtenção de uma vaga no mercado de trabalho, destaque-se a análise feita por Araújo e Borges( 2000, p. 16) A qualificação facilita a aquisição de novas habilidades e conhecimentos, permite lidar com novas tecnologia, consolida competências profissionais. O que não é possível é analisar as oportunidades de emprego descoladas do 72 contexto econômico e social em que surgem. Ou seja, a qualificação como condição de empregabilidade não pode ser aceita sem uma análise critica, sob pena de mascarar dificuldades estruturais do mercado de trabalho, de retirar a responsabilidade do governo na adoção de políticas públicas, de isentar as empresas de suas responsabilidades sociais e atribuir ao indivíduo toda e qualquer responsabilidade por sua inserção no mercado de trabalho. Portanto, reconhece-se a importância da qualificação profissional para que se tenha possibilidades de inserção no mercado de trabalho. No entanto, ela não pode ser vista isoladamente, como causa do desemprego, e muito menos como um elemento que se restringe ao plano individual, pois aspectos conjunturais determinam o tipo de qualificação exigida; como também condições objetivas limitam o acesso dos trabalhadores a essa qualificação, as oportunidades não são iguais para todos. Outra tese existente sobre as causas do desemprego muito difundida pelo atual modelo de produção e gestão da mão-de-obra é a de que este é conseqüência da rigidez do contrato de trabalho. Portanto, é necessário, segundo os defensores dessa tese, flexibilizar13 o contrato de trabalho. Assim, percebe-se que as explicações ou justificativas para o desemprego são inúmeras, mas, como coloca Horta, o desemprego não pode ter uma explicação tomada isoladamente, pois tem a ver com vários fenômenos de diversas ordens. Esse autor coloca que os fenômenos que têm provocado o desemprego vão desde a “clara opção pelo desemprego, 13 Sobre a flexibilização alguns autores afirmam que a mesma se dá em vários níveis: Flexibilização da proteção legal que se refere ao fato de que ao lado da diminuição da oferta de emprego, as vagas que estão disponíveis são as que se destinam a funções com menores remuneração e sem garantias trabalhistas; Flexibilização do trabalho, onde defende-se a necessidade do trabalho part-time e/ou precário ( redução da jornada de trabalho como proposta apresentada tanto por empresários como por alguns setores sindicais ) para a manutenção e geração de emprego; (SILVA & CHINELLI apud ORTIZ, 2002, p.92).Segundo Matoso (1995), a flexibilização acontece em dois níveis: no interior da empresa quando o trabalhador para manter o emprego submete-se ao rodízio e à assunção de novas atividades e, exteriormente quando a empresa contrata temporariamente conforme sua necessidade sazonal. 73 no âmbito das políticas econômicas” - como vemos no caso das políticas econômicas neoliberais, as quais têm como parte integrante a implementação de altos índices de desemprego - “até as contradições no campo do capital, tanto do produtivo quanto entre este e o capital especulativo, hoje hegemônico.”( HORTA, 2001, p.111) Nota-se que a problemática do desemprego crescente não deve ser vista apenas como resultado das características do mercado de trabalho, mas das condições macro-econômicas da estrutura capitalista. Percebe-se com isso a existência de transformações no âmbito do trabalho juntamente com uma série de transformações econômicas, sociais e políticas que correspondem ao esgotamento de um momento de acumulação capitalista e à emergência de um novo modo de acumulação, o que tem tido profundas implicações para as relações de trabalho. 1.3.2 – Ações de Enfrentamento ao Desemprego na Perspectiva das Políticas Públicas e da Ideologia Individualista do Neoliberalismo Na medida em que o desemprego agrava ainda mais a realidade social do país marcada por forte concentração de renda, supressão dos direitos básicos de cidadania, onde a pobreza, a falta de acesso da população aos serviços sociais básicos como saúde e educação aumentam a cada dia. Com isso, as formas de enfrentamento ao desemprego são determinantes e emergentes para a construção de perspectivas viáveis para a solução dos problemas decorrentes do desemprego, como também o combate ao mesmo. Infelizmente não é um problema de solução fácil, uma vez que demanda, principalmente, vontade política das classes dirigentes. O que tem acontecido muitas vezes é 74 que, além de não se resolver o problema do desemprego, criam-se ações de enfrentamento que agravam ainda mais o problema. Vemos isso historicamente nas políticas de combate ao desemprego criadas pelos governantes voltadas principalmente para a educação profissional do trabalhador, uma vez que vêem a falta de qualificação profissional da mão-de-obra como a causa do desemprego. Hoje, no contexto da ideologia neoliberal enfatiza-se o discurso da privatização e individualização das expressões da questão social. Daí os enfrentamentos ao desemprego têm sido na perspectiva do individualismo, da solidariedade e do voluntarismo. No que se refere aos enfrentamentos ao desemprego implementados pelo Estado através das Políticas Públicas de Emprego podemos destacar alguns aspectos. A Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho- OIT, reunida em 17 de junho de 1964, criou a Convenção sobre a Política de Emprego, que entrou em vigor internacionalmente em 17/07/1966. No Brasil é aprovada pelo Decreto Legislativo 61 de 30/11/1966 sendo ratificada em 24/03/1969 e aprovada pelo Decreto Legislativo 66 de 27/04/1970. O Artigo 1o da Lei que cria essa Convenção prevê a existência de uma política ativa que promova o pleno emprego e procure garantir trabalho para todas as pessoas disponíveis em busca de trabalho; que o trabalho seja o mais produtivo possível; que haja livre escolha de emprego e que cada trabalhador tenha todas as possibilidades de adquirir as qualificações necessárias para ocupar um emprego que convier, e de utilizar neste emprego suas qualificações, assim como seus dons, qualquer que seja sua raça, cor, sexo, religião, opinião política, ascendência nacional ou origem social.(CONVENÇÃO SOBRE A POLÍTICA DE EMPREGO – 2004) As prerrogativas estabelecidas por essa Convenção baseia-se também na Declaração Universal dos Direitos Humanos a qual prevê que “todo o homem tem direito ao trabalho, à livre escolha do seu trabalho, a condições justas e satisfatórias de trabalho e à proteção contra o desemprego.” 75 A própria Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu Artigo 170, Parágrafo VIII, adota como princípio o incentivo ao pleno emprego. É com base nessas prerrogativas que são institucionalizadas as políticas públicas de emprego nos vários países onde cada um, segundo a própria Convenção sobre a política e Emprego reza,“ deverá levar em conta o estado e o nível de desenvolvimento econômico, assim como a relação entre os objetivos do emprego e os outros objetivos econômicos e sociais, e será aplicada a través de métodos adaptados às condições e usos nacionais.” Como afirma o DIEESE (2002, p.47): “em todo o mundo, tentativas estão sendo formuladas e postas em prática para minorar os efeitos nefastos do desemprego, embora as políticas de emprego englobem medidas muito variáveis de país para país”. Barbier (apud DIEESE, op cit) define as políticas de emprego implementadas no mundo em nove categorias: 1. Medidas de redução da população ativa; 2. Indenização dos desempregados; 3. Medidas que reduzem o custo salarial global; 4. Ações de formação profissional; 5. Medidas de diminuição do tempo de trabalho; 6. Formas de discriminação positiva para certas categorias; 7. Medidas que contribuem para a organização do mercado de trabalho; 8. Criação de empregos temporários públicos ou associativos e; 9. Incentivo à criação de empresas pelos desempregados ou jovens. As Políticas Públicas de Emprego são divididas em dois grandes grupos: as políticas reativas ou passivas e as políticas ativas. As políticas reativas ou passivas são aquelas que levam em consideração o nível de emprego, ou desemprego, como um dado, tendo por 76 objetivo apoiar financeiramente o trabalhador desempregado ou reduzir o excesso de oferta de trabalho. Como exemplo dessas políticas têm-se o seguro- desemprego, os programas de qualificação e formação profissional, os serviços de intermediação de mão-de-obra e os programas assistenciais. As políticas ativas são aquelas que buscam atuar diretamente sobre a oferta ou demanda de trabalho ampliando o número de postos de trabalho e criando novos empregos. Como exemplo de políticas ativas temos a criação de empregos pelo setor público, os investimentos emergenciais nas frentes de trabalho, os subsídios públicos à contratação, a oferta de créditos para micros e pequenas empresas, a redução da jornada de trabalho, os incentivos aos trabalhadores autônomos, entre outros. (DIEESE, op cit,) No caso do Brasil, de acordo com as análises de Theodoro(1998) e do DIEESE (2001), as políticas públicas de emprego assumem maior visibilidade e começam a efetivar-se realmente como política social a partir da década de 1980, uma vez que entre as décadas de 1950 e 1980 alguns elementos impediram a criação dessas políticas: o incipiente mercado de trabalho brasileiro; a preocupação principal com o crescimento econômico; o nível de emprego era considerado como subproduto direto de um maior ou menor crescimento econômico; o desemprego era visto como resultado dos desequilíbrios internos do próprio mercado de trabalho. Theodoro (op cit, p.70) afirma que a partir do ano de 1970 a idéia de que o crescimento econômico levaria inexoravelmente ao fim do subemprego, das atividades subremuneradas, não-legalizadas ou, como se dizia, ao fim da subutilização da mão de obra começava a ser posta em questão. Nesse contexto a ação estatal no mercado de trabalho que baseava-se nas políticas de qualificação de recursos humanos dão lugar às políticas de emprego e renda. O que vai impulsionar a organização e efetivação das políticas de emprego e renda nos anos de 1980, no Brasil, é justamente a efervecência dos movimentos sociais da época onde o 77 processo de redemocratização traz o aumento das pressões sociais e o acirramento das discussões de problemas sociais existentes como o aumento da desigualdade social e o desemprego. Nota-se assim, a semelhança do que aconteceu no cenário internacional. O que impulsionou o surgimento da intervenção do Estado, através da utilização das políticas sociais públicas, foi o aparecimento da questão social a qual originou-se da organização da classe trabalhadora em resposta às más condições de vida provocadas pela Revolução Industrial no final do século XIX. A classe burguesa dominante coloca para o Estado o papel de desenvolver um padrão de regulação do trabalho e dos sistemas de proteção social. No final do século XX, esse Estado capitalista regulador vai ser denominado de Estado de Bem Estar Social ou Welfare State. No atendimento às reinvindicações dos movimentos sociais, o Estado vê-se obrigado a dar uma resposta através das políticas sociais. Note-se que as políticas sociais no Brasil, dentre essas as políticas públicas de emprego, assumem as características de subalternização às políticas econômicas e fragmentação/setorialização, desde suas origens. Segundo informações de Kameyama (1986) sobre a história das políticas sociais no Brasil, pode-se afirmar que surgem enquanto política com um caráter público a partir de 1930, quando o Estado passa a implementar várias ações no campo do trabalho, como a criação das Leis Trabalhistas; algumas nas áreas de saúde, educação e habitação. Todas essas voltadas para categorias profissionais específicas. No período do regime ditatorial militar, com a existência da repressão sobre os movimentos sociais, as políticas sociais assumem o importante papel de permitir a garantia do crescimento econômico; ou seja, a necessidade do Estado promover o mínimo possível para a garantia dos serviços sociais básicos no sentido da manutenção da organização e da ordem social. Nesse período o país passava pela busca do crescimento econômico através do 78 desenvolvimento industrial visando a inserção do país no jogo internacional. Nessa busca adota-se o discurso do progresso em detrimento dos problemas sociais existentes. Chega-se assim a uma fase em que os problemas sociais se agudizam, pois, a população brasileira percebe que o crescimento econômico não conseguiu trazer a minimização dos problemas sociais, antes, pelo contrário, aumentaram e agravaram os já existentes. Daí vai provocando a efervecência dos movimentos sociais nos anos de 1980. A partir desses elementos da história das políticas sociais brasileiras podemos perceber pelo menos três elementos que determinam a existência e o caráter das mesmas: a dependência das políticas sociais às exigências e interesses das políticas econômicas; a vinculação das políticas sociais ao tipo de relações estabelecidas entre o Estado e a sociedade; e a importância da organização social para o atendimento das necessidades sociais da população através das políticas sociais. Kameyama (1986, p. 41-42) diz que a política social “é resultado da intervenção do Estado e resultado da ação organizada da sociedade civil.” Pereira ( 1987) analisando as limitações da política social brasileira, diz que: As vicissitudes da política social brasileira deve-se ao predomínio da rentabilidade econômica sobre as necessidades sociais, à privatização das funções públicas próprias do Estado, à supremacia da pressão modernizadora das demandas do capital sobre o trabalho e, à veemente defesa da monopolização do poder pelo pacto de dominação, calcado numa acumulação perversa. Ao final da década de 1980 chega-se a um momento determinante para o processo democrático do pais, e conseqüentemente, para a ação do Estado através das políticas sociais. Nesse momento, acontece um avanço significativo das conquistas sociais através do reconhecimento de vários direitos sociais na Constituição Federal de 1988. Em contrapartida, após o reconhecimento formal das políticas sociais enquanto direito do povo e dever do 79 estado, acontece a implementação de políticas que são orientadas pelo projeto neoliberal o qual volta-se para a concretização do Estado mínimo e adota uma perspectiva de análise e de ação sobre os problemas sociais totalmente diferente. Percebe-se com isso a relação existente entre cada período histórico do capitalismo e o tipo de intervenção sobre os problemas sociais. Como analisa Serra(2000, p. 94): Há uma relação direta entre cada período da trajetória histórica do capitalismo e os sistemas de proteção social. Na fase do capitalismo concorrencial, havia muita filantropia, pouco Estado e não existiam as políticas sociais, conforme são entendidas hoje. Na fase do capitalismo monopolista há muito Estado, criação das políticas sociais e à filantropia foi dado um papel de peso menor. Na fase atual do capitalismo, sob a égide do neoliberalismo a proposta é pouco Estado(com outra função), redução das políticas sociais e a refilantropização da assistência, inclusive, constituindose a filantropia empresarial. Como afirma Iamamoto (2002), tem-se no Brasil, a partir da implementação do ideário do neoliberalismo, dois projetos sociais distintos e contraditórios, os quais permanecem até agora: o projeto de caráter universalista e democrático embasado na concepção de seguridade social proposta na Constituição Federal de 1988; e o projeto de privatização e mercantilização do atendimento às necessidades sociais. São esses dois projetos que têm dado as diretrizes para a construção das análises sobre as políticas sociais na atualidade, sabendo que o projeto que tem conseguido uma hegemonia política na implementação e direcionamento dessas políticas é o projeto privatista neoliberal. Esse projeto implementa o Estado neoliberal, o qual deixa de garantir os direitos sociais e passa a oferecer serviços numa perspectiva mercadológica “como algo que deve ser acessado via mercado, e não como direito social”(Behring,1998,p.186) Esse tipo de intervenção social tem a ver com a concepção que o projeto neoliberal adota sobre os problemas sociais apontando-os numa perspectiva despolitizada e 80 individualizada, uma vez que trata as expressões da questão social como problemas de inadequação dos indivíduos às oportunidades da sociedade do mercado, as quais são vistas como iguais para todos. Nas palavras de Iamamoto( 2002, p.27) há uma pulverização e fragmentação das questões sociais atribuindo unilateralmente aos indivíduos singulares a responsabilidade por suas dificuldades e pela sua pobreza. O pensamento liberal desconhece direitos sociais e transforma a questão social em questão de dever moral. Como afirma Netto (1992), a fragmentação das políticas sociais se dá pela necessidade que o capital tem de fragmentar a questão social e a intervenção sobre ela, para que assim enfraqueça a potencialidade de uma classe social organizada que inviabilize o projeto de sociedade capitalista. Ao analisar as políticas sociais no Brasil, Vieira (1997) aponta três momentos :o controle da política, referente ao período da Era Vargas; a política do controle, referente ao período da ditadura militar; e a política social sem direitos sociais, referente ao momento atual. São nessas condições das políticas sociais, em geral, que são determinadas também as políticas públicas de emprego, imprimindo-lhes as características de submissão às políticas econômicas, minimizadas em sua quantidade, desvinculadas dos outros problemas sociais e através da implementação de programas e projetos de forma fragmentada e desconectada. Segundo o DIEESE (2001), o primeiro passo para a formação de um Sistema Público de Emprego - SPE no Brasil foi a criação do Sistema Nacional de Emprego – SINE, no ano de 1975. A grande alavanca para a organização do SPE foi a criação do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT no ano de 1990. 81 De acordo com análises de Azeredo (1998), as ações efetivas do governo sobre o mercado de trabalho ancoram-se na extensão dos benefícios das políticas sociais garantidas na Constituição Federal de 1988, e teve como mecanismo popular a criação do FAT pela Lei no 7.998 de 11/01/1990 com arrecadação proveniente do PIS e do PASEP.14 O Sistema Público de Emprego –SPE constitui-se hoje de cinco programas: segurodesemprego, intermediação de mão-de obra, qualificação profissional, geração de emprego e renda, apoio à produção de dados sobre o mercado de trabalho. Dentre esses programas, os que assumiram maior importância no Brasil, nos últimos anos foram: a formação e qualificação profissional, principalmente através da criação do Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador – PLANFOR, em 1995; os serviços de intermediação e recolocação de mão-de-obra, através do Programa de Intermediação de Mãode-Obra, criado em fins dos anos de 1980 e início de 1990; e em menor escala, o seguro – desemprego. Percebe-se, pois, que o eixo prioritário das políticas públicas sobre o mercado de trabalho tem sido as políticas reativas ou passivas. Apesar disso, cria-se em 1994 o Programa de Geração de Emprego e Renda - PROGER que corresponde a uma política ativa. No estado do Rio Grande do Norte, as principais Políticas de Emprego e Renda implementadas atualmente são: PROGER; Programa de Assentamento de trabalhadores Rurais – Reforma Agrária; Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PRONAF; Programa de Promoção do Emprego e Melhoria da qualidade de Vida do Trabalhador na Região Nordeste e Norte de Minas Gerais – PROTRABALHO; Projeto de Qualificação para Trabalhadores das Áreas de assentamentos e Comunidades Rurais; Projeto de Combate à Pobreza rural / PCPR- PAPP; e Seguro Desemprego. Na área de Qualificação e Requalificação da mão-de-obra no Rio Grande do Norte os 14 Por força do Artigo no 239 da Constituição Federal é destinado cerca de 40% de sua arrecadação para o financiamento do desenvolvimento econômico(aplicação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social -BNDES) e 60% destina-se ao Programa do Seguro-desemprego. (AZEREDO, 1998) 82 principais programas são: o Programa Desenvolvimento Empresarial, o Programa de Formação e Encaminhamento do adolescente ao Trabalho- PROENT, Programa Estadual de Qualificação – PEQ. Na área de intermediação de mão-de-obra tem-se o Programa Integrado de Atendimento ao Trabalhador, através do Sistema Nacional de Emprego – SINE/RN. ( DIEESE, 2002) Alguns programas e projetos de enfrentamento ao desemprego têm sido criado nos últimos anos pelo governo Lula, como exemplo: o Programa Primeiro Emprego, criado em outubro de 2003, que propõe um conjunto de ações voltadas para a juventude em articulação com órgãos da administração pública federal, estadual e municipal, empresas de todos os tipos, cooperativas e setores organizados da sociedade civil. (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2004.) O Programa Primeiro Emprego é voltado para jovens na faixa etária de 16 a 24 anos, oriundos de famílias com renda mensal per capita de até meio salário mínimo. A criação desse projeto refere-se à preocupação com o desemprego dos jovens, uma vez que é nessa faixa etária que o índice de desemprego é mais que o dobro da média nacional. Para viabilizar a criação de vagas para os jovens, o governo concede às pequenas empresas um incentivo de $ 200,00, e para as médias e grandes empresas R$ 100,00 por mês para cada nova vaga aberta. No estado do Rio Grande do Norte tem-se, nessa mesma perspectiva do Programa Primeiro Emprego, o Programa Primeira Chance, criado em maio de 2003. Algumas críticas às políticas públicas de emprego no Brasil são levantadas por Theodoro (1998 ) e pelo DIEESE (2001), das quais destacamos: 9 a desvinculação que as políticas públicas de emprego fazem entre a pobreza e a situação do mercado de trabalho; ou seja, as ações voltadas para o combate à pobreza são desconectadas das ações voltadas para o mercado de trabalho. As 83 políticas de emprego, por sua vez, são vinculadas ao mercado de trabalho sem uma articulação às políticas macroeconômicas; 9 A focalização das ações na parcela dos trabalhadores assalariados, deixando de fora um grande contigente da força de trabalho vinculada às atividades informais. Mesmo as iniciativas direcionadas para o setor informal, como o Programa de Geração de Emprego e Renda – PROGER, foram na prática, focalizadas para empreendimentos formais em sua grande maioria. 9 Há uma problemática na participação da sociedade civil na instância que gerencia os recursos do FAT, o Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador – CODEFAT15, pois tem-se nesse conselho a representação sindical, o que significa trabalhadores assalariados, excluindo-se assim, a grande parcela dos trabalhadores do setor informal. Justifica-se a participação estrita dos trabalhadores assalariados pelo fato de serem esses os que geram os recursos do FAT. O que é questionado é a inexistência de outras fontes de financiamento da política de emprego, que não seja o trabalho assalariado; 9 A desarticulação entre os diversos programas provocando a não obtenção de melhores resultados das políticas públicas de emprego, no que se refere à qualidade e à abrangência dessas; 9 A maioria das agências públicas de emprego estão voltadas para a oferta e demanda por postos de trabalho que exigem menor qualificação e oferecem salários mais baixos. Essa última crítica demonstra um dos limites da política pública de emprego nos dias atuais: a necessidade da existência de programas voltados para os trabalhadores com nível de 15 Para que os programas tenham a utilização dos recursos do FAT é necessária a aprovação do CODEFAT. Para que os estados e municípios tenham acesso aos recursos do FAT é necessária a constituição de Comissões Estaduais e Municipais de Emprego. 84 escolaridade superior, principalmente os recém-formados. Necessidade esta que vem se configurando com o crescimento do desemprego desse segmento da população. As ações de enfrentamento ao desemprego, na perspectiva das políticas públicas, não chegam a se constituir numa possibilidade de acesso ao mercado de trabalho para a população inserida no nosso objeto de estudo, os assistentes sociais. O que dificulta primeiramente é que, como já foi colocado, são políticas voltadas prioritariamente para pessoas com baixos níveis de escolaridade. Por outro lado, é importante destacar que apesar das políticas de emprego não contemplarem diretamente aos assistentes sociais, as próprias políticas de geração de emprego e renda se constituem em um campo de atuação do assistente social. Percebe-se nas entrevistas realizadas com os assistentes sociais que restam para os mesmas adotarem como estratégias de enfrentamento ao desemprego ações que dependem de si mesmos: estudos para concursos, entrega de currículos, busca de alguém influente que possa lhe proporcionar acesso a um emprego e investimento no Marketing pessoal.(Conforme análises expostas ainda neste capítulo). No sentido de atender aos segmentos da população com níveis de escolaridade superior atingidas pelo desemprego e devido a ausência de políticas voltadas para essas pessoas, recentemente surge a proposta de um anteprojeto denominado de “1o Emprego Acadêmico”. Segundo afirmações do Ministério de Educação e Cultura – MEC, o primeiro emprego acadêmico é uma iniciativa desse Ministério através da proposta de anteprojeto de lei sobre a reforma da educação superior, que se destina a estudantes de graduação ou de programas de pós-graduação matriculados em instituições públicas dos sistemas federal, estadual e municipal. Para participar dessa forma de emprego, o aluno deverá ter entre 16 e 24 anos, estar desempregado e a família comprovar renda per capita mensal de até um salário mínimo e meio, o que corresponde, hoje, a R$ 390,00. 85 O candidato a uma vaga no primeiro emprego acadêmico tem que comprovar ainda que não teve vínculo empregatício anterior. Para os matriculados em cursos de graduação, o trabalho será em atividades de extensão. Para os da pós-graduação, em atividades de ensino, como instrutores ou monitores nas instituições onde fazem seus cursos. O anteprojeto indica que os contratos da instituição com os alunos deverão ser feitos nos termos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT); que a duração mínima será de 12 meses e o prazo máximo será a conclusão do curso. As instituições públicas de ensino que contratarem estudantes receberão uma subvenção econômica do Poder Executivo, recursos que estarão assegurados no orçamento anual do Ministério do Trabalho. (MEC, 2005) Pode-se afirmar, diante dos elementos expostos sobre os enfrentamentos ao desemprego na perspectiva das políticas públicas, que a criação e implementação das políticas públicas de emprego estão determinadas pela realidade do contexto sócio-econômico do neoliberalismo na concretização do Estado neoliberal, mínimo para o social, imprimindo nessas políticas as características de insuficientes na quantidade e qualidade, focalizadas e fragmentadas. Outra característica importante é que as mesmas são concretizadas na perspectiva de suplementariedade, uma vez que a responsabilidade das ações de enfrentamento ao desemprego é atribuída ao indivíduo na sua relação com o mercado, e não como dever do Estado. Por isso, cresce cada vez na sociedade atual a quantidade de estratégias individualistas aos problemas sociais, dentre esses o desemprego. A partir dos últimos anos da década de 1990, a concepção de solidariedade e voluntariado assumem a forma de ação cívica, massificando-se a idéia de que é de interesse e responsabilidade de todos. Conforme a Lei do Voluntariado, no 9.608 de 18/02/1998, em seu Artigo 1o trabalho voluntário é: 86 Atividade não remunerada, prestada por pessoa física à entidade pública de qualquer natureza ou instituição privada de fins não lucrativos que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade.(LEI DO VOLUNTARIADO, 2004) Em parágrafo único, essa Lei reza que o serviço voluntário não gera vínculo empregatício nem obrigação de natureza trabalhista, previdenciário ou afim. A pessoa que presta serviço voluntário pode ser ressarcida pelas despesas que comprovadamente realizar no desempenho das atividades voluntárias, desde que essas despesas estejam expressamente autorizadas pela entidade a que for prestado o serviço voluntário. No Artigo 2o dessa mesma Lei está expresso que para exercer um serviço voluntário é necessário a celebração de um termo de adesão entre a entidade e o prestador do serviço voluntário, e neste constam o objeto de trabalho e as condições do seu serviço. Um aspecto importante a ser destacado nessa questão da solidariedade e voluntarismo é que para a classe trabalhadora as “ações voluntárias” tornam-se ações involuntárias, ou seja, ela age por falta de opção. Um exemplo dessa “voluntariedade” apregoada na sociedade pela ideologia individualista do neoliberalismo foi o Programa de Demissão Voluntária – PDV promulgado há alguns anos pelo governo. Houve um incentivo muito grande para que alguns funcionários aderissem ao programa e muitos na ilusão da quantia financeira que iriam receber, “voluntariamente” aderiram ao programa. Ressalte-se que o PDV, ao contrário do Previsto na Lei no. 9.608, excluiu do mercado de trabalho os profissionais das empresas públicas e de economias mistas, reduzindo seus quadros com o objetivo de facilitar as privatizações. Na perspectiva da inserção no mercado de trabalho agora temos o trabalho “voluntário” onde alguns trabalhadores estão buscando exercê-lo não por voluntariedade, mas sim, por necessidade. Estão procurando exercer uma atividade “voluntária” como forma de 87 adquirir experiência, de enriquecer o seu currículo, de estar envolvido numa rede de relacionamento profissional e, muitos, na expectativa de mais tarde a instituição vir a lhes contratar. Como pudemos detectar nas entrevistas com os assistentes sociais, a exigência de experiência profissional colocada pelo mercado de trabalho tem levado alguns profissionais a buscarem exercer uma atividade voluntária com o objetivo de adquirirem essa experiência e assim, terem maiores possibilidades de concorrer a uma vaga no mercado de trabalho. Alguns até reclamam por não terem condições de exercer uma atividade voluntária devido a falta de tempo, ou até mesmo as dificuldades que existem em conseguirem se inserir numa instituição para exercer a profissão, mesmo voluntariamente. É diferente para os que têm uma posição social e econômica privilegiada na sociedade. Para esses, as ações de solidariedade e voluntariedade empreendidas são realmente solidárias e voluntárias. As ações solidárias de grandes empresas difere em muito do discurso que coloca para trabalhadores, e até para os desempregados, a necessidade de praticarem ações solidárias e voluntárias; como também, desses desenvolverem o espírito empreendedor como forma de estratégia de sobrevivência ou de obtenção e manutenção do emprego. No governo brasileiro atual foi criada, em junho de 2003, a Secretaria Nacional de Economia Solidária- SENAES vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego que, segundo Paul Singer, Secretário Nacional de Economia Solidária, “significa o reconhecimento do Estado brasileiro do processo de transformação social em curso, provocado pela ampla crise do trabalho que vem assolando o país desde os anos 1980.” ( SINGER: 2004, p. 3) Segundo esse mesmo autor, a criação da SENAES significou um avanço do Ministério do Trabalho e Emprego, pois, desde o seu início tinha por missão proteger os direitos dos trabalhadores assalariados e agora ele passa a ter por missão proteger também àqueles trabalhadores não formalmente inseridos no mercado de trabalho, incluindo o 88 cooperativismo e associativismo urbano; o rural é de responsabilidade do Ministério da Agricultura. A Economia Solidária surge no contexto da crise do emprego e aumento das atividades informais e precarizadas. É apontada como uma alternativa à informalidade e à precarização, com potencialidade de se constituir num novo modelo de organização de trabalho. Segundo Pochmann (2004b), o elemento determinante do avanço inicial da economia solidária foi a junção de dois movimentos específicos no Brasil: primeiro, o aparecimento de um enorme excedente de mão-de-obra com algumas novidades em relação ao verificado durante o ciclo da industrialização nacional – excedente de força de trabalho qualificado, não imigrante rural e aculturado pela disciplina do trabalho sistêmico, e segundo, o movimento composto por um conjunto de militantes sociais críticos e engajados na construção de alternativas de organização social e laboral no Brasil. Para esse autor (op cit, p.32), a economia solidária é “um novo espaço de manifestação de modos de produção distinta da economia capitalista, ou seja, um modo de produção alternativo no Brasil.” No entanto, ele reconhece os limites da economia solidária no Brasil e aponta como perspectiva de superação desses limites: a concretização de um conjunto amplo de políticas públicas que venham preencher as lacunas existentes: necessidade de uma definição a respeito da regulação pública que defina o estatuto da economia solidária, necessidade de um padrão de financiamento apropriado ao desenvolvimento da economia solidária, necessidade de constituição de uma rede de produção, difusão de tecnologia e extensão técnica no âmbito da economia solidária, incorporação da economia solidária no âmbito das políticas públicas para a indústria e comércio exterior e, compras do setor público e da promoção de redes direcionadas à comercialização e distribuição solidárias. ( POCHMANN, 2004b, p.31) 89 Nota-se que, por um lado, a Economia Solidária é vista como um resgate da luta histórica dos trabalhadores objetivando a defesa contra a exploração do trabalho humano e como alternativa ao modo capitalista de organizar as relações sociais. Por outro lado, existem as críticas à Economia Solidária, enquanto forma de enfrentamento à diminuição dos postos de trabalho, apontando-as como resultado das transformações no mundo do trabalho, desregulamentação do Estado, crise das políticas sociais, perda dos direitos vinculados ao trabalho e o conseqüente aumento da pobreza. Entre as críticas ao discurso dominante que vê nesses empreendimentos da Economia Solidária a saída para a falta de renda colocam-se: as precárias condições em que geralmente se desenvolvem esses empreendimentos, o funcionamento dos mesmos acontecerem à margem do mercado e da sociedade, o trabalho sem proteção e direitos trabalhistas, e o retorno financeiro que, na maioria das vezes, é o mínimo para sobreviver. Outra crítica, ainda mais abrangente, é a de que essas ações da Economia Solidária se configuram em ações pontuais e que na realidade terminam contribuindo para a fragmentação e a desmobilização das lutas de classes. Hoje se tem toda uma gama de elementos individualistas indicados para aqueles que estão à procura de um emprego, dentre esses tem surgido o denominado “Marketing pessoal” e o “Network”. Várias dicas são criadas para o sucesso na obtenção e manutenção do emprego, onde se coloca a importância da imagem pessoal e dos contatos daquele que busca o emprego. Sobre a Network (Rede de Conhecimentos), a gerente da empresa Gelre, Gerusa Mengarda, diz que se deve conquistar as pessoas interessantes para seu círculo de amizades. Nessa perspectiva, as pessoas são aconselhadas a fazer uma categorização dos relacionamentos pessoais: 90 É interessante separar as pessoas que realmente auxiliam na busca de emprego, as que servem apenas como fonte de informação do mercado e as que podem divulgar projetos na mídia... outra dica é dividir a rede de relacionamentos de acordo com o grau de influência em uma determinada organização.( MENGARDA, apud AQUINO:2004) Nas entrevistas realizadas com os assistentes sociais não inseridos no mercado de trabalho da profissão, eles falam sobre as ações que já empreenderam na tentativa de conseguir se inserir no mercado de trabalho da profissão, como também sobre os critérios que o mercado de trabalho tem exigido do assistente social para a sua inserção. Referem-se à tentativa de conseguir um emprego através de contatos com pessoas influentes; à importância dos relacionamentos pessoais; e colocam a existência do “QI”(quem indique) como o principal elemento que tem colocado o assistente social no mercado de trabalho: 8% atribui a sua não-inserção no mercado de trabalho do Serviço Social ao fato de não terem uma pessoa influente que lhe indique para um emprego e 20,93% afirmou que o “QI” tem sido a forma de acesso do assistente social ao emprego..(Conforme Gráfico 07 e Tabela 17 no capítulo 3 deste trabalho ) O que foi denominado de “QI”, pelos nossos entrevistados, é justificado pelo professor Laan Mendes de Baros, o qual afirma que: O ingresso nas empresas está bastante padronizado atualmente, os mesmos testes de seleção são aplicados em diversos locais e a formação superior está mais disponível. Para avançar na carreira, portanto, só as recomendações podem ser um diferencial. (BAROS apud AQUINO, 2004) 91 Até mesmo durante a formação na universidade há dicas para que o aluno busque relacionamentos que venham, mais tarde, lhe facilitar o ingresso no mercado de trabalho. Sinalizam que a preocupação com o marketing pessoal deve começar desde cedo, dizendo que “é importante se relacionar bem no meio acadêmico, tanto com os colegas quanto com os professores” ( BAROS apud AQUINO op cit ) e “o professor é essencial como primeiro contato... deve ser visto como um mentor e o aluno deve manter um bom relacionamento com todos.” (MENGARDA, op cit) Nota-se com isso que a lógica do mercado tem permeado todas as esferas da vida humana na sociedade capitalista e, hoje, com essa necessidade das recomendações para o acesso ao emprego cria-se o risco de uma mercadorização até mesmo das relações pessoais, como também coloca-se mais uma vez a responsabilidade da busca por um emprego nas qualidades pessoais do indivíduo; ou seja, quem conseguir, além de uma boa formação acadêmica, manter “bons relacionamentos” tem mais chance de empregar-se ou manter-se no emprego. As estratégias de enfrentamento aos problemas sociais, dentre esses o desemprego, vigentes no discurso dominante neoliberal tende sempre a perspectivas individualistas, centradas na capacidade de criatividade e empreendedorismo dos trabalhadores excluídos do mercado de trabalho. A solidariedade e voluntarismo aparecem como dois aspectos muito acentuados pelo discurso dominante, os quais são marcados pela ausência de identidade e consciência de classe buscando-se sempre os objetivos privatistas neoliberais. Diante de todos esses elementos colocados sobre os índices do desemprego, sobre as explicações, ou justificativas, existentes para o mesmo e sobre as estratégias implementadas para o seu enfrentamento, pode-se afirmar que se constitui um problema amplo podendo assumir diferentes encaminhamentos e diversas perspectivas de análise. 92 Não deixando de lado as determinações macroeconômicas do desemprego, as quais já foram aqui mencionadas, partiremos para algumas considerações sobre o desemprego a partir da perspectiva de análise sobre o mercado de trabalho, uma vez que, como afirma Pochmann (1999) a situação do emprego (no nosso caso referimo-nos ao desemprego) tem a ver com os desdobramentos das transformações estruturais da economia brasileira, como também tem a ver com as mudanças ocorridas no mercado de trabalho, o qual se constitui de dois elementos principais: oferta e demanda de trabalho. Sabe-se que o mercado de trabalho não pode ser visto como algo isolado ou independente das políticas macroeconômicas implementadas, mas sim, como resultado dessas. No entanto, concordamos com Pochmann (op cit, p. 93) quando diz que: É preciso ir além, procurando entender como as mudanças no padrão de desenvolvimento, no modo de inserção internacional e nas políticas macroeconômicas afetam o nível e a composição ocupacional, os rendimentos e mesmo as novas formas de contratação e uso da força de trabalho. Sem isso, as análises tendem a ser insuficientes e inconsistentes, redundando, na maioria das vezes, em diagnósticos e propostas equivocadas. Nesse sentido, trata-se no próximo capítulo da análise de alguns aspectos sobre o mercado de trabalho brasileiro e em seguida reporta-se à profissão do assistente social e o mercado de trabalho para essa profissão. 93 CAPÍTULO 02. O MERCADO DE TRABALHO NO CONTEXTO DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E DA REFORMA DO ESTADO E O SERVIÇO SOCIAL: desafios e perspectivas impostos à profissão Analisar o mercado de trabalho na conjuntura atual do capitalismo é uma tarefa complexa, pois, trata-se de uma realidade heterogênea e em constantes mudanças. Os processos de globalização e reestruturação produtiva provocam a segmentação do mercado de trabalho levando a existência de mercados de trabalho, e não de um mercado de trabalho. Segundo Torres ( 1995, p.118), existem no capitalismo contemporâneo pelo menos quatro grandes níveis de mercado de trabalho: Um respondendo às demandas do capitalismo monopolista às vezes altamente transnacionalizado; um segundo respondendo às demandas de um capitalismo não monopolista, representando um mercado de trabalho secundário; um terceiro que corresponde ao setor público; e um mercado de trabalho marginal, subterrâneo, que inclui desde transações ilegais, como o narcotráfico, até o trabalho por conta própria, o trabalho familiar, a pequena produção de subsistência e um sem-número de atividades econômicas... A situação do emprego num determinado país tem a ver com os desdobramentos das transformações estruturais da economia daquele país, mas também tem a ver com as mudanças ocorridas no mercado de trabalho.O que seria o mercado de trabalho? Quais os elementos que o constituem? Segundo conceito de Salvador e Boschetti (2003, p. 94): O mercado pode ser compreendido como o locus no qual ocorre o encontro entre vendedores e os compradores dispostos a realizar trocas entre si. Conforme a natureza da mercadoria, ocorre a distinção dos mercados monetários, de trabalho e de produtos. 94 Portanto, mercado de trabalho é o lugar onde se encontram compradores e vendedores da força de trabalho, sendo essa uma mercadoria a ser vendida e comprada. Segundo Marx “a força de trabalho é uma mercadoria especial, pois além de possuir fonte de valor ela cria valor.” No conceito de Marx força de trabalho é “o conjunto das faculdades físicas e mentais existentes no corpo e na personalidade viva de um ser humano, as quais ele põe em ação toda vez que produz valores-de-uso de qualquer espécie”. (MARX apud SALVADOR E BOSCHETTI, 2003, p.94) O mercado de trabalho inclui, enquanto oferta, todos os que vendem ou estejam dispostos a vender sua força de trabalho em troca de um salário ou remuneração; e, enquanto demanda, todos aqueles que compram a força de trabalho de outros para produzirem para si, uma vez que possuem os meios de produção. Portanto, uma análise sobre mercado de trabalho pressupõe o conhecimento sobre a oferta e a demanda de trabalho, não deixando é claro de perceber que as características desse mercado são determinadas pelas políticas macroeconômicas e sociais. 2.1. O Mercado de Trabalho Brasileiro No Brasil, o mercado de trabalho inclui a totalidade da População Economicamente Ativa - PEA, ou seja, a População em Idade Ativa ( acima de 10 anos de idade) que está ocupada, os que estão sem trabalho e à procura de uma ocupação. Inclui-se também aqueles que estão aposentados, porém estão economicamente ativos( ocupados ou em busca de uma ocupação no mercado de trabalho). 95 O mercado de trabalho brasileiro assume configurações específicas em diferentes momentos históricos. Salvador e Boschetti (op cit) aponta algumas características da constituição do mercado de trabalho no Brasil: entre o segundo Pós-Guerra e fim de 1970 o mercado de trabalho brasileiro estava estruturado em torno do emprego assalariado regulares e regulamentados paralelo à redução das ocupações sem registro em carteira profissional, sem remuneração; e dos trabalhos por conta própria; além da diminuição do desemprego. Pochmann(1999, p.68) diz que “no período entre 1940 a 1980 de cada dez ocupações geradas, oito eram assalariadas, sendo sete com registro em carteira profissional e uma sem registro. A soma das ocupações por conta própria e sem remuneração equivalia a apenas 20% do total dos postos de trabalho do período.” Esse período em que acontece a denominada estruturação do mercado de trabalho brasileiro é marcado por alguns acontecimentos no país os quais contribuíram para essas características do mercado de trabalho: o avanço do processo de industrialização e urbanização; o crescimento econômico do período de 1940 a 1980 quando o Produto Interno Bruto – PIB aumentou em média 5,6% ao ano; e a redução da PEA através da consolidação do sistema previdenciário brasileiro que assegurou índices de aposentadorias e pensões contribuindo assim para a estruturação do mercado de trabalho e aliviando as taxas de desemprego. (SALVADOR E BOSCHETTI, 2003) Contudo, mesmo com essa estruturação do mercado de trabalho brasileiro, esses autores destacam que não se pode afirmar que houve uma generalização de uma condição salarial no país, pelo contrário, permaneceram importantes taxas de desemprego. Em meados de 1970, inicia-se o aparecimento de sinais de crise do modelo de desenvolvimento adotado no país, o que vai determinar a interrupção desse processo de estruturação do mercado de trabalho brasileiro. A partir daí, o mercado de trabalho passa a ter características bem diferentes, chegando em 1990 a uma redução do assalariamento, dos 96 empregos com registro e expansão do desemprego e de ocupações não regulamentadas. No período de 1980 a 1991 de cada 100 empregos assalariados 99 foram sem registro em carteira, e apenas 1 tinha registro.(POCHMANN,1999) É importante lembrar que a ação estatal é determinante na configuração do mercado de trabalho; ou seja, na estruturação ou desestruturação do mesmo, principalmente no que diz respeito à intervenção na regulamentação e na desregulamentação das relações de trabalho, e a regulamentação e desregulamentação dos direitos previdenciários. Conforme palavras de Salvador e Bochetti (op cit, p.97) vemos a atuação do Estado no mercado de trabalho: quando define a jornada máxima de trabalho, proíbe o trabalho de crianças e adolescentes, realiza a padronização dos dias úteis e o uso do descanso semanal, define os critérios de aposentadorias e de gozo dos benefícios. No Brasil é notória a relação entre o tipo de ação do Estado e a forma como se apresenta o mercado de trabalho. Em 1930 quando ao Estado é demandada uma intervenção que regule as relações de trabalho a fim de responder a necessidade do controle social, uma vez que a classe trabalhadora começa a se organizar e reclamar melhores condições de trabalho, começa então todo um processo de estruturação do mercado de trabalho. A partir de 1980 e especialmente 1990 esse tipo de intervenção passa a ser descartada pela lógica neoliberal, a qual defende que ao setor privado a às iniciativas individuais dos trabalhadores caberia o equilíbrio entre a oferta e demanda de trabalho. Caberia ao Estado o papel mínimo de ajustar “algumas imperfeições do mercado”. Portanto, durante o período em que o Estado tinha uma maior intervenção nas relações de trabalho, o mercado tinha nesse Estado um forte elemento de sustentação através da 97 existência das políticas ativas e passivas.16 Já no período em que diminui a intervenção do Estado no mercado de trabalho acontece a desestruturação desse mercado de trabalho. Essa não-intervenção do Estado no mercado de trabalho vai prejudicar principalmente aqueles que precisam vender sua força de trabalho, que se constitui a maioria da população.As oportunidades de inserção e a da forma de inserção da força de trabalho nesse mercado é vista como se fossem iguais para todos e que depende do esforço individual de cada trabalhador. Como afirma Salvador e Boschetti(op cit, p. 96): A visão neoliberal predominante vê o mercado como locus privilegiado, no qual são garantidas a liberdade de escolha dos indivíduos e a eficiência de alocação dos recursos, defendendo a não intervenção do Estado no mercado de trabalho e a redução das políticas de proteção social, desconsiderando o fato de os trabalhadores entrarem em condições desfavoráveis no mercado, já que a remuneração da força de trabalho é a condição necessária de sobrevivência do trabalhador na sociedade capitalista. O mercado de trabalho no Brasil nos dias atuais, segundo análises de Pochmann(1999), apresenta as seguintes características: Quanto à oferta de trabalho os aspectos mais relevantes são: o crescente tamanho da População Economicamente Ativa – PEA, a qual no período de 1980 a 1991, se tem um acréscimo médio absoluto anual de 1,384 milhões de pessoas; a qualificação da mão-de-obra que tradicionalmente tem baixos níveis de escolaridade; e uma elevada taxa de rotatividade da mão-de-obra sendo essa vivenciada principalmente pelos trabalhadores com menores níveis de escolaridade. Quanto à demanda de trabalho alguns indicadores são utilizados para a sua análise tais como: setores responsáveis pela maior e menor criação de novos postos de trabalho, o tipo de emprego 16 Políticas ativas sobre o mercado de trabalho referem-se à manutenção e á ampliação dos empregos existentes e á ampliação de novas ofertas de trabalho, e políticas passivas referem-se às ações que buscam conter o desemprego sem necessariamente aumentar o emprego.(SALVADOR&BOSCHETTI: 2003, P.96) 98 gerado, o tamanho das empresas, a duração dos contratos de trabalho, entre outros. Segundo esse autor, os setores que mais criaram empregos no Brasil entre 1979 e 1995 foi o setor de serviços seguido dos setores primário e secundário. Sobre o tipo de emprego gerado no período de 1985 a 1990 foi principalmente o emprego irregular e desregulamentado. O emprego no setor organizado cresceu a taxa média anual de 0,6%, enquanto no setor não-organizado o emprego cresceu 8,2% ao ano. Sobre o tamanho das empresas verifica-se que, no período de 1980 a 1995, somente as empresas com menos de 500 empregados aumentaram a sua participação relativa no total de empregos regulares e regulamentados. As demais empresas apresentaram diminuição na participação relativa dos empregos. A duração dos contratos de trabalho sofre reduções onde, no período de 1980 a 1995, acontece uma diminuição de 73,6% para 64,2% dos empregados com menos de cinco anos numa mesma empresa, no total de empregos regular e regulamentados. Os empregados com mais de cinco anos numa mesma empresa passou de 26,4% para 35,8%.( POCHMANN:1999). Isso significa que aqueles que ainda conseguem um emprego regular e regulamentado estão se mantendo por mais tempo no emprego. A partir desses dados podemos perceber pelo menos dois aspectos importantes do mercado de trabalho brasileiro. O primeiro é que a demanda de trabalho no mercado de trabalho brasileiro demonstra uma relação direta com a forma de organização e gestão do mundo do trabalho hoje onde a precariedade do emprego é a marca principal. O segundo aspecto é que todos os elementos colocados levam a um agravamento do índice do desemprego: os empregos formais diminuem, as empresas que geram mais empregos formais são as empresas que absorvem pouca mão-de-obra e, por fim, o crescimento do tempo de permanência de um trabalhador num mesmo emprego. O maior tempo de permanência do trabalhador numa mesma empresa por um lado pode parecer um dado positivo para o trabalhador, mas por outro lado devemos entender que esses trabalhadores que conseguem se 99 manter no emprego formal hoje representam um pequeno número e a altos preços têm conseguido se manter no emprego, uma vez que estão às voltas da ameaça do grande contingente de trabalhadores excluídos desse mercado. Com isso, muitas vezes se submetem a condições perversas de exploração. Pelos elementos aqui expostos sobre a realidade do mercado de trabalho percebe-se que este é uma clara expressão das políticas macroeconômicas e do tipo de regulação social implementadas, hoje representadas pela lógica do neoliberalismo para o qual o mercado é a via mais adequada para o atendimento dos seus interesses. Na realidade, o predomínio das leis do mercado perpassando todas as esferas da vida social responde aos interesses de um segmento da sociedade - aqueles que representam a hegemonia do capital financeiro e produtivo – prejudicando e excluindo todos os outros segmentos da sociedade. Um aspecto importante a destacar é que apesar de representar os interesses de poucos a lógica do ideário neoliberal é apresentada como se representasse o interesse de todos, sendo esse um dos mecanismos utilizados para a manutenção de sua hegemonia . É pois, nesse contexto de neoliberalismo com a implementação de um Estado Mínimo para o social e a prevalência das leis do mercado que se configura o mercado de trabalho. Esses elementos também vão determinar as requisições que o mercado de trabalho demandam do trabalhador: as especializações de trabalho, os produtos, a qualificação da mão-de-obra, entre outros. De acordo com as necessidades sociais de cada momento do desenvolvimento da sociedade vai se configurar nesse mercado a demanda pelas profissões que atendam a cada necessidade. Daí o surgimento das várias profissões existentes no mercado de trabalho. No próximo item trata-se da profissão do Serviço Social e o mercado de trabalho, destacando alguns elementos sobre o surgimento dessa profissão no mercado de trabalho relacionando com as repercussões da reestruturação produtiva e da reforma do Estado. 100 2.2 – O Serviço Social no Mercado de Trabalho No Brasil, o Serviço Social surge enquanto profissão institucionalmente legalizada em 1935, no estado de São Paulo, inserida em organismos públicos como o Departamento de Assistência Social, subordinada à Secretaria de Justiça( Lei no 2497, de 24/12/1953). A partir de 1938, a legislação estadual passou a conceder prerrogativas aos assistentes sociais, tornando privativo desses profissionais o exercício de cargos relacionados com o menor e a família, na estrutura do Serviço Social de Menores(Decreto Estadual no 9744, de 19/11/1938). Em âmbito federal, o Serviço Social organizou-se com estrutura de serviço público, em 1938, através do Decreto-lei no 525, de 01/07/1938. Esse mesmo decreto criou o Conselho Nacional de Serviço Social, inserido na estrutura do Ministério de Educação e Saúde. A organização e funcionamento da profissão do Serviço Social foram autorizados através da Portaria no 6013, de 01/10/1942 estando enquadrado no 16o grupo de profissões liberais pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, através da Portaria no 35, de 19/04/1949.( MARTINELLI, 2003). Um grande avanço da profissão aconteceu no período da ditadura varguista através da criação da Legião Brasileira de Assistência, no ano de 1942. Netto (1996) afirma que o mercado nacional de trabalho para os assistentes sociais se institucionaliza nos anos 1940 no bojo do processo de desenvolvimento das grandes instituições sociais, no Estado Novo. Nos anos 1950 e 60 esse mercado se expande por influência da expansão do processo de industrialização do país. Portanto, o mercado nacional de trabalho do Serviço Social se origina e se consolida no âmbito do Estado. Esse mesmo autor afirma que a partir do final dos anos de 1960 surge um outro campo de absorção dos profissionais do Serviço Social que se constituiu das médias e grandes 101 empresas, campo esse que já existia, mas que era residual e atípico. O crescimento do Serviço Social nesse espaço é atribuído não só ao crescimento industrial do país, mas também ao crescimento da organização e das reivindicações dos trabalhadores provocando nas empresas a necessidade da vigilância e do controle da força de trabalho.17 Um terceiro campo de atuação que se abre para os assistentes sociais no mercado de trabalho são as organizações de filantropia privada, as quais são impelidas a requisitar a ajuda de profissionais do Serviço Social na tentativa de empreender ações que dessem conta dos fenômenos da pauperização de amplos setores da população; das seqüelas do desenvolvimento voltado para os interesses do grande capital; e dos processos de migração para as regiões urbanas. No contexto geral, pode-se afirmar que o surgimento do Serviço Social e a sua institucionalização enquanto profissão foi provocada pela busca do atendimento às necessidades sociais geradas pelo desenvolvimento da sociedade capitalista. Concorda-se com a análise de Trindade (2001) sobre o surgimento da profissão no momento em que o capitalismo monopolista necessita de trabalhadores especializados na tarefa de implementação de condições necessárias ao processo de reprodução social, uma vez que a questão social demandava uma intervenção social, e essa passa a ser concretizada por meio do Estado através das políticas sociais. Na implementação dessas políticas foi demandada a atuação de várias profissões, dentre elas, o Serviço Social a qual assume a tarefa de atuar diretamente junto à população na execução das políticas sociais. 17 A importância da atuação dos assistentes sociais no setor produtivo remonta-se ao contexto internacional num período bem anterior: no período da implantação do fordismo passa-se a requerer um novo tipo de comportamento do trabalhador adequado ao novo tipo de trabalho e de processo produtivo. Harvey(1989,p. 121) diz que: “ em 1916, Ford enviou um exército de assistentes sociais aos lares dos trabalhadores... para ter certeza de que o “novo homem” da produção de massa tinha o tipo certo de probidade moral, de vida familiar e de capacidade de consumo prudente ( isto é, não alcoólico) e racional para corresponder às necessidades e expectativas da corporação”. 102 O surgimento da profissão de Serviço Social corresponde, a uma resposta às necessidades de um determinado estágio do sistema capitalista. Como coloca Granemamm (1999, p.159) ... o entendimento da gênese de várias profissões que em um dado momento do modo de produção tornaram-se quase tão igualmente necessárias para a sua continuidade como o próprio trabalho operário. De tal modo, isto é possível constatar no movimento do real, que não foi tão somente o Serviço Social que surgiu na passagem do capitalismo concorrencial ao capitalismo monopolista. Acompanharam-no, por exemplo, os surgimentos da engenharia da produção, da propaganda .... e do conhecimento da subjetividade humana. Martinelli (2003) faz uma análise detalhada sobre o surgimento do Serviço Social, relacionando-o com o desenvolvimento do capitalismo e percebendo ambos como fenômenos históricos profundamente relacionados. O Serviço Social é colocado como resultado da marcha do proletariado e da contramarcha da burguesia em finais do século XIX na Europa. Essa autora coloca como elementos que determinaram o surgimento do Serviço Social enquanto profissão: o avanço das contradições do sistema capitalista agravando as condições de vida do trabalhador industrial; o crescente nível de organização da classe trabalhadora; o crescimento da pobreza de massa e a miséria generalizada denunciando expressamente as contradições e antagonismos do sistema capitalista. Todos esses elementos provocaram o surgimento da questão social para a qual as meras ações assistencialistas e a repressão policial não davam mais conta de responder. É nesse contexto que o Serviço Social surge enquanto profissão no continente europeu e americano no início do século XX. Diante disso pode-se afirmar que dois elementos importantes para o surgimento da profissão do Serviço Social podem ser destacados: o desenvolvimento do sistema capitalista, 103 provocando o aumento das contradições e desigualdades sociais; e a implementação da ação estatal enquanto estratégia de enfrentamento da questão social. Na afirmação de Trindade (2001, p.24) pode-se, também, perceber a relação existente entre o processo de desenvolvimento do capitalismo e o surgimento das profissões da natureza do Serviço Social: No processo de complexificação da sociedade capitalista, um novo campo se coloca no horizonte da ciência: o homem e suas relações sociais. Isto porque o processo de consolidação do modo de produção capitalista impulsionado pelo crescimento da indústria e acompanhado pelo aumento da miséria e de várias manifestações que abalam a ordem social necessária à hegemonia burguesa E na afirmação de Iamamoto ( 2003, p.23) pode-se perceber a relação existente entre a ação do Estado sobre as relações sociais e o surgimento da profissão do Serviço Social: A constituição e institucionalização do Serviço Social como profissão na sociedade depende de uma progressiva ação do Estado na regulação da vida social, quando passa a administrar e gerir o conflito de classe, o que pressupõe, na sociedade brasileira, a relação capital/trabalho constituída por meio do processo de industrialização e urbanização. Portanto, a profissão do Serviço Social surge para atuar nas relações sociais capitalistas, mediando as relações entre o Estado e a classe trabalhadora. É uma profissão que surge com um caráter eminentemente interventivo sobre a realidade. No entanto com o desenvolvimento da profissão passa a constituir-se não apenas dessa dimensão interventiva, mas também de uma dimensão teórico-técnica, pois assume uma postura de pensar sobre a realidade e os problemas sobre os quais atua, chegando a construir produções teóricas sobre a 104 realidade social como também de uma dimensão ético –política a qual fundamenta e direciona a sua ação profissional. É para responder às demandas de trabalho, através da implementação de atividades embasadas na capacitação vinculadas à essas dimensões interventiva, teórico-técnica e éticopolítica, que o profissional do Serviço Social é chamado a atuar no mercado de trabalho. O mercado de trabalho constituído por uma relação de compra e venda de um produtoa força de trabalho - envolve interesses: alguém vende a sua força de trabalho porque tem necessidade de receber um salário para sua sobrevivência; e o que compra essa força de trabalho tem interesse em obter a produção de algo que vai atender a alguma necessidade social, para que assim possa ser vendido no mercado. Cada profissão que existe foi surgindo nessa perspectiva de atender às necessidades específicas do mercado de trabalho, e essas necessidades foram sendo determinadas pelo desenvolvimento da sociedade capitalista. A partir da compreensão desses aspectos é que podemos afirmar que a profissão do Serviço Social reproduz-se como um trabalho especializado na sociedade pelo fato de ser socialmente necessário. Essa necessidade está posta na produção de serviços que atendem a necessidades sociais. Também podemos afirmar que o assistente social participa do processo de compra e venda da força de trabalho, pois vende a sua força de trabalho especializada em troca de um salário. 2.3 - As Mudanças no Mercado de Trabalho do Serviço Social oriundas da Reestruturação Produtiva e da Reforma do Estado No período do surgimento da profissão, ela é demandada para assumir uma função social claramente reconhecida pelos seus empregadores onde a importância de sua atuação 105 prevalecente junto às políticas sociais e a intervenção ampla do Estado na sociedade garantiam uma demanda de trabalho muito grande para o assistente social. O mercado de trabalho para o Serviço Social nesse período, que poderíamos denominar do momento de estruturação do mercado de trabalho da profissão, é caracterizado por um grande número de empregos regulares vinculados aos serviços públicos estatais e nas empresas privadas. O momento de expansão do mercado de trabalho para o Serviço Social corresponde ao período de expansão das instituições governamentais de prestação dos serviços sociais; ou seja, da expansão das políticas sociais públicas. Mesmo com todas as falhas e limitações que caracterizaram as políticas sociais no Brasil. A expansão dos serviços sociais públicos, como lembra Iamamoto(2003, p.30), teve a ver, ... além da necessidade do Estado intervir nas expressões da questão social, com a necessidade de ampliação de mercados e de preservar um certo poder aquisitivo da população para assim viabilizar o consumo e a dinamização da economia. Para isso o Estado passa a viabilizar salários por meio das políticas sociais públicas. Essas características do mercado de trabalho para o Serviço Social vão se manter até à implementação da Reestruturação Produtiva e da Reforma do Estado embasadas no ideário das políticas neoliberais as quais vão propor um novo tipo de Estado e uma reformulação das políticas sociais públicas. A partir da crise do padrão fordista/taylorista, da implementação do modelo toyotista e da concretização das políticas neoliberais (analisadas no capítulo anterior) o mercado de trabalho para o serviço social passa a adquirir novas configurações. Essas novas configurações referem-se às mudanças no mundo do trabalho originadas na Reestruturação Produtiva e na Reforma do Estado: mudanças nos espaços de trabalho- diminuição dos espaços tradicionais da profissão como instituições públicas governamentais e empresas 106 privadas e surgimento de novos espaços como os canais de participação da sociedade na implementação e gestão das políticas sociais (Conselhos) e as Organizações nãogovernamentais; surgimento de novas requisições- assessorias e gerenciamento exigindo maiores e novos desafios tanto para a formação como para o exercício profissional; precarização das relações de trabalho- aumento dos contratos temporários; e a realidade perversa do desemprego também passa a atingir a profissão. Essa realidade do desemprego no Serviço Social pode ser percebida através dos dados de algumas pesquisas sobre o mercado de trabalho do Serviço Social. Serra (2000, p.137) apresenta dados de uma pesquisa realizada com os assistentes sociais do Rio de Janeiro, no ano de 1994-95, onde de um total de 5.574 profissionais, 54,09% exerciam a profissão e 45,91% não exerciam a profissão.18 Na nossa pesquisa realizada com os assistentes sociais formados na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no período de 2000 a 2002, revelou-se que de 156 assistentes sociais formados no período, 96 não exercem a profissão; desses, 54 exercem outra profissão, e 42 estão desempregados, conforme Tabela 02 no capítulo 3 deste trabalho. De um total de 45 entrevistas realizadas com os assistentes sociais que não exercem a profissão – 28 trabalhando em outras atividades profissionais e 17 desempregados – os dados obtidos sobre os motivos para os quais esses profissionais atribuem o fato de não estarem exercendo a profissão foram os seguintes: 34% restrição do mercado, ou seja, às poucas vagas existentes; 13% às exigências de qualificação que o mercado tem colocado; 10% porque não procuraram o suficiente por um emprego; 10% opção pessoal; 09% falta de experiência profissional a qual tem sido exigida pelo mercado de trabalho, dentre os mais citados. (Conforme Gráfico 07, no capítulo 3 deste trabalho) 18 Os motivos dos assistentes sociais não estarem exercendo a profissão, revelados na pesquisa, foram: não conseguiu emprego – 37,44%; exerce outra profissão – 22,94%; aposentadoria – 13,21%; desemprego - 12,58%; opção pessoal– 7,46%; não-declarado – 6,37%. (SERRA, 2000, p. 137) 107 Diante disso, percebe-se que com as mudanças no mundo do trabalho o mercado de trabalho para o Serviço Social passa a se constituir num amplo campo de desafios para a atuação profissional dos que estão exercendo a profissão, como também para a obtenção de uma vaga nesse mercado de trabalho uma vez que se torna cada dia mais seletivo. Como afirma Iamamoto (2000, p.62): Os assistentes sociais enquanto funcionários públicos vêm sofrendo os efeitos deletérios da Reforma do Estado na órbita do emprego e a precarização das relações de trabalho. É impossível isolar a análise do trabalho do assistente social de suas condições e relações de trabalho visto que o salário, a natureza dos contratos de trabalho - seu caráter temporário ou indeterminado, incorporando ou não os direitos previdenciários e trabalhistas - os recursos disponíveis, as forma de organização e gestão da força de trabalho, etc. afetam o conteúdo e as possibilidades de execução do próprio trabalho. Na esfera produtiva, com a reestruturação produtiva e as novas formas de gestão e organização do trabalho, ocorrem mudanças no mercado de trabalho do Serviço Social nas empresas onde se mantém a atuação dos assistentes sociais na área de assistência social, mas cresce a atuação na área de recursos humanos voltadas para o trabalho nas assessorias gerenciais, objetivando a criação nos trabalhadores dos comportamentos produtivos favoráveis. Percebe-se a ampliação da demanda de trabalho do assistente social nos círculos de controle de qualidade - CCQ’s, nos Programas de Qualidade Total e do trabalho em equipes interprofissionais. Na esfera estatal, a retração do Estado em suas responsabilidades e ações no campo social atinge o mercado de trabalho do Serviço Social através da compressão das verbas orçamentárias, o deterioramento dos serviços públicos e a transferência para a sociedade civil do atendimento às seqüelas da questão social. Essa transferência coloca dois elementos novos para o trabalho do assistente social e o seu mercado de trabalho: 108 9 a refilantropização da questão social, onde as organizações empresariais assumem uma parcela do atendimento às seqüelas da questão social através da evocação à solidariedade social baseada, não mais na filantropia do século XIX levada a efeito pelas pessoas de boa vontade, mas em ações integradas ao desenvolvimento das forças produtivas, a chamada “ filantropia do grande capital”. 9 O surgimento e expansão das organizações não-governamentais que vêm se constituindo num amplo e diversificado campo de trabalho para o atendimento das expressões da questão social.(IAMAMOTO, 2003) Percebe-se que a partir do contexto da Reforma do Estado e sua retração no campo social convive-se com o surgimento do chamado Terceiro Setor, a partir do qual aumenta-se a demanda de trabalho do assistente social nas Organizações não-governamentais – ONG’s, que tem sido um campo crescente de atuação na área social. As repercussões da retração do Estado em suas responsabilidades e ações no campo social sobre o mercado de trabalho para o Serviço Social provocaram uma diminuição da demanda de trabalho na esfera da execução das políticas sociais públicas; apesar de continuar sendo a principal esfera de atuação da profissão tendo o Estado como o principal empregador do assistente social.19 Por outro lado, aumenta-se a demanda de trabalho do assistente social a partir da implementação das políticas de descentralização das relações entre o Estado e a sociedade, prerrogativa da Constituição Federal Brasileira de 1988, demandando a existência dos canais de participação da sociedade na criação e gestão das políticas. Iamamoto (2003, p.124) afirma a existência de uma ampliação do mercado de trabalho para o Serviço Social com o processo de municipalização das políticas sociais: 19 A categoria profissional conta hoje com 61 mil assistentes sociais em todo o Brasil , conforme dados do CFESS (2005) e segundo pesquisas recentes sobre o mercado de trabalho do Serviço Social no Brasil, 78,16% dos assistentes sociais trabalham na esfera pública governamental - 40,97% municipal, 24% estadual e 13,19% federal. ( CFESS, 2004) 109 A municipalização da política pública vem redundando em uma ampliação do mercado profissional de trabalho. Abriram-se novos canais de ingerência da sociedade civil organizada na formação, gestão e controle das políticas sociais, representando uma ampliação das possibilidades de trabalho profissional. Com isso, surgem os novos espaços de atuação do assistente social no mercado de trabalho que são: os Conselhos de Saúde, de assistência Social e Previdência Social nos níveis federal, estadual e municipal, Conselhos Tutelares, Conselhos de Defesa de Direitos dos segmentos prioritários para a assistência social – crianças e adolescentes, idosos, deficientes etc. Dentro desses conselhos o assistente social tem atuado na realização de atividades como implementação e orientação dos conselhos, capacitação dos conselheiros, elaboração de planos de assistência social e acompanhamento de projetos específicos. De uma maneira geral, nos espaços do âmbito governamental, os assistentes sociais têm sido chamados para atuar na formulação e avaliação de políticas e também em atividades de planejamento e gestão através da inserção em equipes interdisciplinares. Trindade (2003) coloca os espaços que constituem o mercado de trabalho para o Serviço Social hoje que são: instituições estatais (órgãos federais, estaduais e municipais, compreendendo serviços de assistência social, saúde, previdência, habitação, meio ambiente, saneamento, educação, trabalho, segurança etc.); empresas privadas (industriais, financeiras, comerciais e de serviços, de médio e grande porte); organismos da classe trabalhadora (sindicatos, associações comunitárias); entidades patronais (SESI e SENAI); entidades filantrópicas tradicionais; organizações não-governamentais e entidades do terceiro setor. Essa mesma autora ressalta também as atividades que o assistente social desenvolve que não estão relacionadas ao atendimento direto aos usuários das políticas sociais, tais como ensino, pesquisa, planejamento, gestão e assessorias técnicas em políticas sociais governamentais e não-governamentais, chefias intermediárias e cargos de comando. 110 Conforme pesquisa recente ( maio de 2004) sobre o Perfil Profissional do Assistente Social no Brasil promovida pelo Conselho Federal do Serviço Social – CFESS e realizada pela universidade Federal de Alagoas -UFAL em parceria com os Conselhos Regionais de Serviço Social – CRESS, quanto à natureza da instituição do principal vínculo empregatício dos assistentes sociais: Pública Municipal - 40,97%; Pública Estadual - 24,00%; Pública Federal - 13,19%; Privada - 13,19%; Terceiro Setor - 6,81%; Autarquia federal - 0,65%; Economia Mista -0,54%; Distrital – 0,22%; Cooperativa – 0,11% ; Fundação- 0,11%; Instituição Científica Cultural – 0,11%; e Paraestatal – 0,11% Com esses dados confirma-se a prevalência do setor público estatal como o principal espaço de absorção do trabalho do assistente social e também a maior parte da absorção nesse setor é na esfera municipal sendo isso o reflexo do processo de descentralização das relações Estado/sociedade na implementação da municipalização das políticas sociais. Quanto ao tipo de vínculo empregatício dos assistentes sociais essa pesquisa demonstrou os seguintes dados: Estatutário –55,68%; Celetista –27,24%; Contrato Temporário –9,41%; Serviço Prestado – 5,84%; Contrato de Trabalho -0,65%; Cooperativado –0,32%; Cargo Comissionado -0,32%; Lei 500 –0,22%; Voluntário –0,22%; Regime Jurídico Único –0,11%. Conforme levantamento sobre a situação no mercado de trabalho dos assistentes sociais formados no período de 2000 a 2002 na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, constata-se que de um total de 60 profissionais que estão exercendo a profissão o tipo de vínculo empregatício desses ficou assim distribuído: Contrato Permanente (estatutário e celetista)- 28; Contrato Temporário –19; Não informado –06; Exercem a profissão mas não são contratadas como assistente social –05; Voluntária -01; Bolsista –01. Esses dados demonstram que apesar dos contratos permanentes continuarem sendo a principal forma de relação contratual de trabalho dos assistentes sociais os contratos informais 111 vêm marcando uma expressiva presença o que não se tinha há alguns anos. Outro aspecto importante é que dos 60 profissionais que exercem a profissão, 21 estão trabalhando em municípios do interior do Estado; o que revela também a importância da presença do processo de municipalização das políticas sociais. Acredita-se que o conhecimento sobre o mercado de trabalho profissional do assistente social, especificamente sobre os espaços de trabalho, é de fundamental importância hoje quando as dificuldades de acesso ao emprego têm levado muitos ao equívoco de que a profissão tem pouco espaço de trabalho. Percebe-se isso quando interrogamos aos assistentes sociais sobre a sua opinião quanto ao mercado de trabalho da profissão: 34% afirma que os espaços profissionais são poucos e absorvem pouca gente. Sabemos que isso na realidade acontece, entretanto, não se pode atribuir esse pouco espaço à limitação do campo de atuação da profissão, como ficou demonstrado no discurso dos entrevistados levando a apenas 8% afirmar que o campo de atuação da profissão é grande, o problema é a não valorização dos empregadores do trabalho social. (Vide Gráfico 07 e as análises que seguem o mesmo no capítulo 3) Enfim, diante dos elementos expostos pode-se afirmar que todo o processo de atendimento às necessidades sociais, subordinado à lógica do mercado concretizadas no processo de privatização e destruição da esfera pública, afeta diretamente a profissão do Serviço Social e seu mercado de trabalho, o qual tem o Estado como o seu maior empregador. Entretanto, há que se reconhecer que esses elementos da realidade macroscópica em que a profissão está inserida determinam limites e possibilidades para a profissão e seu mercado de trabalho. O conhecimento dessa realidade é necessário para que não haja posicionamentos fatalistas de assistentes sociais quanto à profissão e o seu mercado de trabalho. Conforme análise de Iamamoto (2003,p.48-49): 112 Possibilidades novas de trabalho se apresentam e necessitam ser apropriadas, decifradas e desenvolvidas; se os assistentes sociais não o fizerem, outros farão, absorvendo programas e espaços ocupacionais até então a eles reservados. Aqueles que ficarem prisioneiros de uma visão burocrática e rotineira do papel do assistente social e de seu trabalho entenderão como “desprofissionalização” ou “desvio de funções” as alterações que vêm se processando nessa profissão. A polivalência, a terceirização, a subcontratação, a queda do padrão salarial, a ampliação de contratos de trabalho temporários, o desemprego são dimensões constitutivas da própria feição atual do Serviço Social e não uma realidade alheia e externa que afeta os outros. Diferentemente do que Iamamoto coloca sobre a necessidade de não atribuirmos os problemas vivenciados hoje no trabalho, dentre eles o desemprego, somente aos outros sem perceber que a profissão do Serviço Social também vivencia essa realidade, se percebe na nossa pesquisa que, em muitos casos o problema do desemprego é visto como se fosse específico da profissão, sem se fazer uma análise deste como resultado de uma conjuntura econômica e social propiciadora desse problema. 2.4 - A Formação Profissional do Assistente Social e os Desafios do Mercado de Trabalho A formação em Serviço Social tem suas origens no ano de 1936 com a criação da primeira Escola de Serviço Social em São Paulo que mais tarde veio a se tornar a Faculdade de Serviço Social da Pontíficia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. A normatização e oficialização do ensino de Serviço Social acontece em âmbito estadual no ano de 1939, em São Paulo, através do Decreto-lei no 9970, de 02/02/1939. Em âmbito federal, o ensino em Serviço Social é oficializado através da Lei no 1889 de 13/06/1953 e do Decreto no 35311 de 02/04/1954. (MARTINELLI, 2003). 113 Atualmente existem no Brasil 149 instituições de ensino públicas e privadas que têm o curso de Serviço Social. Cursos esses em sua maioria com duração de quatro anos, exigindose estágio supervisionado e trabalho final de conclusão de curso. O curso tem uma grade curricular composta de uma base teórico-metodológica de Serviço Social e de uma base histórica da sociedade brasileira.20 (CFESS, 2005) A importância de a profissão voltar-se para o conhecimento das demandas profissionais expressas na realidade do mercado de trabalho torna-se imprescindível na conjuntura atual. A busca por esse conhecimento é um dos grandes desafios da formação do assistente social na atualidade. Netto (1996, p. 120) sinaliza que o debate predominante no interior da profissão do Serviço Social na conjuntura atual será sobre as demandas profissionais imediatas. Segundo esse autor, “sua referência imediata estará posta pelas demandas do mercado de trabalho e esse não tem a sua estrutura e tendências suficientemente elucidadas”. O desafio que se coloca para a profissão é, pois, o conhecimento do seu mercado de trabalho, buscando-se a concretização de uma formação que responda às exigências impostas pela realidade social e pelo mercado de trabalho; mas que ao mesmo tempo não se torne uma formação meramente voltada aos interesses do mercado, e sim que contemple os princípios do projeto profissional construído coletivamente pela categoria profissional que vislumbra a construção de um tipo de sociedade diferente da que está posta. A necessidade de uma formação profissional, seja ela de qualquer área ou nível, que corresponda às demandas do mercado de trabalho é indiscutível, pois sem essa resposta a profissão deixa de existir. No entanto, o problema está em como a formação deve responder a 20 Os cursos de graduação e mestrado em Serviço Social surgem na década de 1970 e os de doutorado no início de 1980. Segundo Silva e Silva (2004, o primeiro mestrado em Serviço Social data de 1972 na PUC/RJ e o primeiro doutorado em 1988 na PUC/SP. Hoje o Serviço Social conta com 18 mestrados e 08 doutorados. 114 essas demandas do mercado de trabalho, uma vez que a própria determinação dessas demandas é problemática e está revestida de interesses contraditórios. Diante do problema de como responder às demandas do mercado de trabalho, Netto (op cit, p.123) afirma que existem dois posicionamentos: Numa ótica neoconservadora, que pode aliar conservadores históricos a pósmodernos, os indicadores empíricos do mercado devem ser os determinantes da formação profissional (...) já a perspectiva da direção social estratégica formulada na entrada da década de noventa não pode contentar-se com a sinalização do mercado de trabalho. Na perspectiva de aprofundarmos essa questão, analisaremos os elementos que constituem a formação do assistente social e os desafios do mercado de trabalho. Para isso nos voltamos a uma análise sobre formação profissional; formação do assistente social implementada nos diferentes momentos históricos da profissão, culminando na perspectiva de formação expressa no projeto ético-político da profissão hegemônico vigente, e por fim fazendo um contraponto com a perspectiva de formação defendido e implementado pelo projeto societário do neoliberalismo. Ramos (2003, p. 19), citando Kóvacs, define formação como: Conjunto de conhecimentos necessários para o exercício de determinada função, adquiridos, tanto por formação escolar ou extra-escolar, orientada para o exercício da atividade profissional, como pelo exercício da profissão, eventualmente completada por cursos de aperfeiçoamento ou reciclagem. Essa autora refere-se a algumas modalidades de formação profissional: a formação profissional inicial, a formação profissional contínua, a formação de formadores e novas tecnologias. Queremos destacar aqui o conceito de formação profissional inicial a qual se refere ao tipo de formação a que estamos nos detendo nesse estudo. 115 Segundo Ramos (op. cit p. 19), formação profissional inicial seria aquela que promove: a aquisição de conhecimentos fundamentais, capacidades práticas, atitudes e formas de comportamento que constituem base indispensável para o exercício duma profissão ou grupo de profissões com vista a uma especialização posterior ou à ocupação imediata de um posto de trabalho. Silva e Silva(1984, p.73) conceitua formação profissional como “ um processo dialético, portanto aberto, dinâmico e permanente, incorporando as contradições decorrentes da inserção da profissão e dos profissionais na própria sociedade.” Nessa perspectiva analisaremos a formação profissional em Serviço Social vinculado-a à história do Serviço Social considerando essa formação como expressão histórica. Apontaremos alguns aspectos da formação profissional do assistente social baseadas em autores como Silva e Silva (op cit), Santos (1999), Martinelli (2003), Carvalho (1993), Serra (2000), Iamamoto (2003) e Netto (1993 e 1996a). No período das origens da profissão, a formação profissional do assistente social era de cunho doutrinário e religioso, uma vez que a profissão apresentava as seguintes características: ... seu objeto é o homem carente; seus objetivos se direcionam para o atendimento da pobreza, através da assistência, prestação de serviços e orientação individual; seus conhecimentos são de base neotomista, expressa pelo ensino das encíclicas e pela moral, pela filosofia e pela religião. Não dispondo ainda de um método formulado, sua prática é operada basicamente pelas técnicas da entrevista e da visita domiciliar.(SILVA E SILVA, 1984, p.10) Essas características da profissão é resultado da influência européia através do modelo 116 Franco-Belga o qual se fundamentava no apostolado de “servir ao outro”. Diante disso, a formação profissional do assistente social era essencialmente uma formação pessoal e moral onde o Serviço Social era assumido como uma vocação. Segundo Silva e Silva, essa tendência esteve presente, e é hegemônica, na profissão desde a sua origem, no Brasil, em 1936 com a fundação da primeira Escola de Serviço Social, em São Paulo, até o ano de 1945. A partir de 1945, o Serviço Social brasileiro passa a receber influência do Serviço Social norte-americano através do retorno de assistentes sociais que foram se especializar naquele país. Essa mesma autora afirma que num segundo momento a formação profissional do assistente social é marcada pela busca do avanço técnico. Há uma ênfase na instrumentalização técnica e um deslocamento do eixo teórico do neotomismo para os pressupostos do funcionalismo da sociologia: A doutrina social da Igreja cede lugar para correntes psicológicas, principalmente a psicanálise, e para correntes sociológicas, destacando-se o positivismo e o funcionalismo...métodos do Serviço Social de Caso, serviço Social de Grupo e Organização e Desenvolvimento de Comunidade. ( op cit, p.12) Nesse momento da profissão, que refere-se ao período de 1946 a 1964, o Serviço Social é cada vez mais absorvido pelo Estado o qual busca através da sua ação profissional trabalhar as disfunções individuais e sociais, e tem como objetivos a integração social visando atender à perspectiva do modelo nacional-desenvolvimentista. Segundo Martinelli (2003, p.129), até esse período existia uma firme aliança do Serviço Social com a classe dominante e havia uma identidade profissional atribuída pelo Estado capitalista: 117 Realizando a complexa tarefa de tentar conciliar o inconciliável, promovendo o ajustamento entre o capital e o trabalho, ou criando formas ideológicas de anular as reivindicações coletivas, esvaziando-as de sua realidade política, os assistentes sociais eram muito úteis ao sistema capitalista e muito valorizadas pela burguesia. Porém, os mesmos motivos que determinaram essa grande aproximação à burguesia explicavam o distanciamento da classe trabalhadora para a qual a face do Serviço Social era a face do poder, do capitalista, do opressor. Essa aliança com a burguesia, ou essa alienação da profissão, começa a se romper quando a profissão passa a assumir uma postura crítica da sua prática frente à realidade social, o que vai acontecer a partir da década de 1960. Esse rompimento foi determinado por alguns fatos internos e externos à profissão. Martinelli ( op cit) ressalta como fatores que contribuíram para origem e expansão do pensamento crítico na profissão: a ampliação do contingente profissional e a diversificação de seus integrantes contribuindo para a existência de diferentes visões de mundo; o processo de institucionalização do Serviço Social que passou a atuar diretamente no contexto empresarial convivendo com a classe trabalhadora e assistindo suas lutas e enfrentamentos; a retração dos movimentos católicos leigos, provocando uma fratura na monolítica concepção religiosa de mundo que dava sustentação às ações profissionais; e as profundas alterações estruturais e conjunturais brasileiras, a partir do segundo pós-guerra, colocando em xeque a visão de mundo da burguesia e sua representação do real como um todo homogêneo, idêntico e uno. Netto (1996a, p.129) também coloca os elementos que contribuíram para esse processo de mudança na profissão, o qual foi denominado de Renovação do Serviço Social.21, 21 Entende-se por Renovação do Serviço Social “o conjunto de características novas que, no marco das constrições da autocracia burguesa, o Serviço Social articulou, à base do rearranjo de suas tradições e da assunção do contributo de tendência do pensamento social contemporâneo, procurando investir-se como instituição de natureza profissional dotada de legitimação prática, através de respostas a demandas sociais e da sua sistematização, e da validação teórica, mediante a remissão às teorias e disciplinas sociais.”( NETTO, 1996a, p. 131) 118 Esse autor relaciona as mudanças ocorridas na profissão à necessidade imposta pela autocracia burguesa de “elaborações teóricas referidas à profissão e de um significativo debate teórico-metodológico.” Com isso, ele destaca o caráter contraditório dos fenômenos e processos sócio-históricos, nesse caso específico do processo de Renovação do Serviço Social, onde ... instaurando condições para uma renovação do serviço Social de acordo com as suas necessidades e interesses, a autocracia burguesa criou simultaneamente um espaço onde se inscrevia a possibilidade de se gestarem alternativas às práticas e às concepções profissionais que ela demandava. (NETTO, op cit, p. 129) O autor afirma ainda que os elementos que vão construir a crise do Serviço Social Tradicional22 e a existência do processo de Renovação do Serviço Social são elementos de ordem extra-profissionais: “a dinâmica sócio-política da vida brasileira entre 1961/1968, com o aprofundamento e a problematização do processo democrático na sociedade e no Estado”; e os elementos internos à profissão que ele denomina de “quatro condutos específicos internos à profissão”: o amadurecimento de setores da categoria profissional provocado pela relação com outros protagonistas – profissionais [através da inserção do assistente social em equipes multiprofissionais], sociais [através da convivência com grupos da população politicamente organizados], e de outras instâncias [através dos núcleos administrativos e políticos do Estado]; o desgarramento de segmentos da Igreja católica – a emersão de católicos progressistas; o movimento estudantil ingressando nas escolas de Serviço Social; e o referencial próprio de parte significativa das ciências sociais.( NETTO, 1996a, p. 139-140) 22 A conceituação de Serviço Social Tradicional refere-se “a prática empirista, reiterativa e burocratizada da profissão parametrada por uma ética liberal-burguesa e cuja teleologia consiste na correção de resultados psicossociais consideradas negativas ou indesejáveis, sobre o substrato de uma concepção (aberta ou velada) idealista e/ou mecanicista da dinâmica social.” (NETTO,1996a, p. 117-118) 119 Nesse momento histórico acontecem vários movimentos dentro da profissão do Serviço Social: Encontro de Araxá(1967) e o Encontro de Teresópolis(1972)onde a profissão explicita e reafirma o paradigma tradicional do Serviço Social – perspectiva que foi denominada de Modernização Conservadora. Todo esse movimento histórico na profissão foi denominado de Movimento de Reconceituação que na concepção de Santos (1999, p. 170) foi um movimento de ruptura: o primeiro pensamento que permitiu aos assistentes sociais se distanciarem, criticamente, do significado aparente de sua atividade. Com a Reconceituação, os assistentes sociais deixaram de, ingenuamente, afirmar o significado que o Serviço social reclamava para si mesmo (o auxílio aos necessitados) e passaram a lhe atribuir o significado profundo que, na verdade, tinha: seu relacionamento com os interesses de grupos sociais dominantes na sociedade. Na perspectiva do Movimento de Reconceituação, o objeto de atuação do Serviço Social passa a ser as relações sociais tendo como objetivo a transformação social. Pela primeira vez os objetivos profissionais passam assumir uma perspectiva diferente dos objetivos institucionais. A formação profissional nesse momento busca a eficiência e a modernização da profissão, como também, impõe-se a necessidade de uma maior compreensão da sociedade em seus aspectos estruturais e conjunturais. É importante destacar que num primeiro momento desse movimento adota-se uma perspectiva de que a prática profissional deveria estar voltada para a transformação social. Essa prática só poderia realizar-se através da desvinculação das práticas institucionais. Notase isso em 1970, quando começa a surgir dentro da profissão movimentos de negação da prática institucional devido a influências do estruturalismo de Althusser, na sua concepção da Instituição como aparelho ideológico do Estado, passando-se a dar ênfase à dimensão política da profissão. 120 Santos (1999) se refere a esse equívoco da profissão que levou a existência de críticas ao Movimento de Reconceituação por parte de alguns segmentos de profissionais. Tais segmentos consideravam impossível imaginar um Serviço Social integralmente comprometido com a mudança social e instalado nas estruturas que basicamente buscavam reproduzir a dominação vigente. Esse equívoco levou a existência de dois posicionamentos entre os assistentes sociais, que Santos denomina de voluntariados e deterministas.23 Entretanto, no momento em que a profissão percebe a vinculação de suas atividades com os interesses das classes dominantes, passa a assumir uma interpretação da prática profissional institucional voltada apenas para os interesses dominantes; não reconhecendo a contraditoriedade das relações entre o capital e o trabalho, as quais estão presentes na própria atuação do Serviço Social. A partir de 1978 é que se começa a refletir que a Instituição é um espaço contraditório e de luta de classes. Isso acontece após a influência das análises de Antônio Gramsci na sua concepção ampliada do Estado. Com isso, passa-se a perceber o caráter contraditório da ação profissional do assistente social. O que vai contribuir também para o posicionamento crítico do Serviço Social é a realidade social vivenciada no país, principalmente a partir de 1980, que passa pela crise do período pós-milagre e a abertura do regime político como resposta à efervescência dos movimentos sociais. É somente a partir desses fatos que alguns segmentos do Serviço Social passam a assumir uma postura dialética da reconceituação. É importante lembrar que todo esse processo histórico da profissão, desde suas origens até o processo de reconceituação, não aconteceu de uma forma unívoca em toda a categoria 23 A autora denomina de voluntariados aqueles profissionais que assumem um posicionamento de que a ação profissional voltada para a mudança se restringia a alguns núcleos de assistentes sociais que trabalhassem à margem do Estado, das empresas e das demais instituições reprodutoras da dominação social. Denomina de deterministas aqueles que assumiram um posicionamento de ver o trabalho do assistente social como absolutamente sujeito aos interesses dos grupos dominantes.(SANTOS, 1999, p. 173) 121 profissional, como também não acontece nos dias atuais. O que é imprescindível é que a existência de idéias e posicionamentos diferentes não sirvam para a divisão da categoria profissional, o que existiu na época do Movimento de Reconceituação dividindo a categoria profissional em “reconceituados e não-reconceituados, tradicionais e revolucionários; e hoje parece existir o perigo da divisão dos assistentes sociais em marxistas e pós-modernos.” (MARTINELLI, 2003, p.144) Principalmente no que se refere ao Movimento de Renovação e Reconceituação, existiram diferentes posicionamentos no embate de idéias na profissão. Esses movimentos contribuíram para abrir espaços dentro da profissão para o debate, a reflexão e a crítica, tentando abranger em torno de seus objetivos o maior número possível de profissionais. No entanto, como afirma Martinelli ( op cit, p.143), “não obteve uma resposta unívoca, pois a cisão do único, sobre a qual o capitalismo se constrói, havia penetrado na categoria profissional, transformando-a em um categoria fragmentada”. Mas, apesar da existência de posicionamentos diferentes, a autora afirma a “busca por um posicionamento hegemônico construído pela categoria profissional o qual imprime a identidade da profissão na sociedade”. Levando em consideração essas diferenças de posicionamentos e a busca pela construção de um projeto profissional hegemônico é que a partir do final da década de 1970 começa a delinear-se o Projeto Ético-Político do Serviço Social24 o qual propõe a prática 24 O Projeto Ético-Político do Serviço Social, construído pela categoria profissional através de suas entidades representativas como Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social – ABESS, hoje, Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social- ABEPSS, Conselho Federal de Serviço Social – CFESS e Conselhos Regionais de Serviço Social – CRESS, Encontro Nacional de Serviço Social – ENESS entre outros, tem seus princípios e diretrizes expressos nos seguintes documentos: Lei de Regulamentação da Profissão( Lei 8662/93), Código de Ética da Profissão de 1993, e Diretrizes Curriculares do Serviço Social. Esse projeto profissional construído nas décadas de 1980 e 1990 é resultado de uma ampla discussão coletiva da categoria profissional. Por exemplo, a nova Proposta de Diretrizes Curriculares “contou com a realização de mais de 200 oficinas de trabalho em níveis local, regional e nacional, nos anos de 1995 e 1996, com a participação das unidades de ensino do país sob a coordenação da diretoria da ABESS e com o apoio de um grupo de assessores.” ( IAMAMOTO, 2003, p. 261) 122 profissional articulada com as demandas e necessidades dos setores populares, segmento majoritário da atuação profissional. Esse Projeto vem a ser efetivamente construído nas décadas de 1980-90. Nesse atual projeto profissional do Serviço Social coloca-se para a formação e o exercício profissional do assistente social os seguintes princípios: a liberdade como valor ético central; um trabalho profissional voltado ao reconhecimento da autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; o reforço dos princípios e práticas democráticas; a defesa intransigente dos direitos humanos; e o empenho na eliminação de todas as formas de preconceito. A formação profissional do assistente social, expressa no projeto profissional, deve contemplar os seguintes elementos: a análise do Serviço Social como uma das formas de especialização do trabalho coletivo, parte da divisão sócio-técnica do trabalho; adoção da questão social como a base de fundação do Serviço Social; e o resgate da “prática profissional” como trabalho e do exercício profissional inscrito em processos de trabalho. Para que se faça a análise do Serviço Social enquanto profissão inserida na divisão sócio-técnica do trabalho percebendo-a como uma das especializações do trabalho coletivo enfatiza-se a necessidade da análise da profissão no quadro das relações entre as classes sociais, da percepção dos elementos que constituem a realidade do estado, da globalização, da reestruturação produtiva e do neoliberalismo, deixando para trás uma análise da profissão por ela mesma, uma análise endógena, como se fazia nos projetos profissionais anteriores. Na adoção da questão social como a base fundante do Serviço Social, coloca-se a necessidade de uma indissolúvel articulação entre profissão, conhecimento e realidade e atribui-se uma grande importância à dimensão investigativa da atuação profissional. Portanto, diante dos elementos expostos sobre a formação profissional do assistente social percebe-se que a mesma vai assumindo perspectivas que são delineadas pelo contexto 123 político, social e econômico do país; como também pelas respostas que a categoria profissional constrói para a realidade conjuntural. Nos dias atuais tem-se uma concepção de formação profissional que fez parte de todo o processo de discussão da categoria profissional do Serviço Social para a formulação da política de formação profissional que é a de um processo amplo de preparação científica de quadros profissionais para responder às demandas sociais que se colocam para o Serviço Social; produção de conhecimentos; capacitação continuada da categoria em termos de atualização para o exercício da profissão. (CARVALHO, 1993, p.19) Essa concepção de formação profissional, e do projeto ético-político profissional como um todo, encontra-se na contracorrente dos valores e do direcionamento do projeto hegemônico de sociedade – o neoliberalismo. Com isso há inúmeros desafios para a consolidação desse projeto profissional e do tipo de formação profissional defendida. Entre os desafios para a consolidação do tipo de formação profissional defendida no projeto profissional do Serviço Social está a perspectiva de uma formação profissional voltada meramente para o atendimento das necessidades do mercado defendida pelo projeto neoliberal. Segundo Oliveira (2003, p. 19) a racionalidade neoliberal articulada à justificativa de que a economia mostra-se em fase globalizada, apregoa cada vez mais, a necessidade de a escola subordina-se às demandas do setor produtivo. Nesse contexto, a escola passa a se responsabilizar pela formação de uma mão-de-obra adequada às modificações no mundo do trabalho. 124 Concorda-se plenamente com a afirmação de Oliveira (op cit, p.40) quando diz que a escola tem um papel muito mais abrangente do que mera formação profissional: Atribuir à escola a responsabilidade de garantir um novo tipo de formação, permitindo aos indivíduos que se apropriem de novas competências cognitivas e comportamentais acarreta sua descaracterização como um espaço responsável pela formação dos seus alunos em âmbito mais expansivo que apenas a preparação para o trabalho. Segundo essa autora, o reducionismo da educação subordinando-a a um projeto de competitividade econômica e de disputa por uma vaga no mercado de trabalho provoca uma concepção minimizada e fragmentada de cidadão. Compreende-se o cidadão como aquele que pode comprar os seus direitos no mercado, “e não como aquele que pode e deve alcançar a satisfação das suas necessidades pela luta política”. Dentro das próprias universidades vê-se hoje ações concretas, implementadas pelos organismos que programam as diretrizes das políticas da educação superior, as quais demonstram claramente a concretização dos objetivos de competitividade e de produtividade: aumento de horas-aulas, diminuição do tempo para mestrados e doutorados, avaliação pela quantidade de publicações, participação em congressos, cursos de graduação mais rápidos etc. Chauí (2003), reportando-se a Freitag, diz que tudo isso produziu a chamada universidade operacional na qual A docência é entendida como transmissão rápida de conhecimentos, consignadas em manuais de fácil leitura para os estudantes, de preferência ricos em ilustrações e com duplicatas em CD’s ... a docência é pensada como habilitação rápida para graduados, que precisam entrar rapidamente num mercado de trabalho... 125 Essa busca por uma rapidez da formação profissional é apontada por Chauí (2003), citando Harvey (1989), como uma das expressões da “compressão espaço-temporal”.25 Segundo Harvey, a acumulação flexível do capitalismo produz efeitos econômicos e sociais como fragmentação e dispersão da atividade econômica, hegemonia do capital financeiro, rotatividade extrema da mão-de-obra, entre outros. Esses efeitos produziram uma transformação na experiência do espaço e do tempo. Daí Chauí vem a dizer que essa compressão espaço-temporal está presente nas universidades através da diminuição do tempo dos cursos conduzindo ao abandono do núcleo fundamental do trabalho universitário que é a formação. Analisando-se a busca pela adequação da formação aos interesses do mercado de trabalho podemos perceber que não é algo muito recente. Peterossi (1980) afirma que a criação do Centro Estadual de tecnologia Paula de Souza em 06/10/1969. foi o ponto culminante das tentativas político-educacionais que visaram dotar o ensino superior de expressão profissional, relacionada à demanda de mão-de-obra técnico-especializada. Por ser o principal pólo econômico do país , São Paulo foi o primeiro a implantar esse modelo de política educacional que em 1972 veio a ser oficialmente adotada a nível nacional através do Projeto 1926, do Plano Setorial de Educação e Cultura de 1972/74 e pelo Plano de 1975/79, pelo MEC. (PETEROSSI, 1980, p. 37) 25 Segundo Harvey(1989) a transição do fordismo para a acumulação flexível provocou uma compressão do tempo-espaço a qual tem a ver com a aceleração do tempo de giro – há uma aceleração na produção alcançada através das mudanças organizacionais que associadas com novas tecnologias reduziram o tempo de giro. Essa compressão do tempo-espaço pode ser vista na produção, na circulação das mercadorias ( através dos sistemas aperfeiçoados de comunicação e de fluxo de informações, associados com racionalizações nas técnicas de distribuição), nos mercados financeiros (através dos bancos eletrônicos e o dinheiro de plástico), e no consumo (através da mobilização da moda em mercados de massa, ampla gama de estilos de vida e atividades de recreação; a passagem do consumo de bens para o consumo de serviços). 26 Projeto 19 - referia-se ao “Incentivo às Carreiras de Curta Duração – Nível Superior” 126 A criação das bases de uma formação voltada para as exigências do mercado de trabalho se moldou a partir das discussões existentes no período sobre as necessidades da educação fazer reformas que viessem a atender o desenvolvimento industrial que o país passava. Havia a necessidade de que a formação universitária se expandisse quantitativamente para que assim, propiciasse a consolidação da autonomia nacional e do desenvolvimento sócio-cultural e político. Como afirma Peterossi( op cit, p. 28), “o ensino superior não é mais encarado como sendo um privilégio de poucos nem um “dom” intelectual. É uma necessidade social.”27 Fogaça (1998, p. 298) nos chama a atenção para uma outra perspectiva de análise quando fala sobre a separação que existiu entre a educação para o trabalho e educação para a cidadania. No que se refere à educação profissional, ela afirma que “a preocupação era se dar uma educação profissional aos filhos dos pobres que cedo precisavam deixar de estudar ,evitando assim a marginalidade desses.” Com isso, afirma que o principal objetivo da educação voltada para a preparação da força de trabalho, na sua origem, não era o atendimento à realidade do mercado de trabalho, mas sim, evitar os “problemas sociais”. Segundo Peterossi ( op cit), a partir da criação da Lei 5.540 de 28/11/1968, em seu artigo 23, coloca-se a necessidade de se atender ao mercado de trabalho e a criação de cursos profissionais de curta duração na estrutura universitária. Na perspectiva de preparação da força de trabalho qualificada para atender às exigências do desenvolvimento nacional brasileiro várias medidas foram tomadas na política 27 Podemos perceber na conjuntura atual um discurso dos que criam e organizam as políticas educacionais do ensino superior sobre a necessidade de expansão da educação superior o que somando-se a lógica produtivista e mercantilista tem provocado muitas vezes um crescimento voltado apenas para o quantitativo (ampliação de vagas). Segundo dados do Censo da Educação Superior realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – INEP, durante o período de 1994 a 1999 o número de matriculados no ensino superior passou de 1 milhão e 661 mil para 2 milhões e 377 mil. (PILATI, 2001) 127 do ensino superior, principalmente a partir do ano de 196228. A partir dessas informações podemos perceber que a necessidade que se coloca para a formação adequar-se às exigências de um mercado de trabalho que num passado referia-se à necessidade de atender ao desenvolvimento industrial do país, hoje se refere à necessidade de atender a um mercado globalizado que necessita de uma força de trabalho com altos níveis de escolaridade e outras qualificações, onde passa-se do discurso da qualificação profissional para o discurso das competências.29 Nota-se que apesar de toda a investida das premissas mercadológicas sobre a universidade, as próprias pessoas que são formadas na mesma estão colocando a necessidade da instituição se adequar ainda mais às necessidades do mercado de trabalho para que elas consigam ter maiores condições de competir por uma vaga nesse mercado. Sabe-se que uma das causas para a defesa por uma formação regida pela lógica produtivista e mercantilista neoliberal, tem relação com as necessidades que esse mesmo mercado impõe para as pessoas; ou seja, a necessidade de sobrevivência que é garantida nessa sociedade somente através da venda da força de trabalho. A adequação da formação aos interesses do mercado de trabalho vincula-se aos 28 Surgem as propostas de ampliação das modalidades de formação universitárias tais como: duração e estrutura diversificada dos cursos, profissionalização técnica dos estudantes que não conseguissem o aproveitamento mínimo exigido para o bacharelado (Darcy Ribeiro); aprendizado técnico de profissões intermediárias e criação de cursos básicos para essa finalidade (Plano de Metas – 1967); redução dos currículos e a diminuição da duração dos cursos de formação profissional (Plano Meira Mattos – 1968). Nesse documento existia a proposta de uma formação universitária em dois níveis: um para aqueles que não tinham condições ou não queriam uma formação mais prolongada onde a esse seria dado um diploma superior intermediário, e um outro tipo de formação para aqueles que tinham condições de fazer um curso em maior tempo. Seria uma formação em dois ciclos: o primeiro ciclo formaria uma variedade de profissões intermediárias, dentre essas professores secundários, técnicos laboratoristas, engenheiros operacionais, especializações médicas. O segundo ciclo formaria para as carreiras que exigissem um nível mais alto de especialização, tais como médicos, engenheiros e advogados.( PETEROSSI, 1980) 29 Segundo Deluiz ( 2003, p. 02) “ o tradicional conceito de qualificação estava relacionado aos componentes organizados e explícitos da qualificação do trabalhador: educação escolar, formação técnica e experiência profissional... No modelo de competências importa não só a posse dos saberes disciplinares ou técnicoprofissionais mas a capacidade de mobilizá-los para resolver problemas e enfrentar os imprevistos na situação de trabalho.” 128 objetivos do ideário neoliberal para a educação onde a mesma, segundo Frigotto (1995, p. 85) “passa a ser regulada pelo caráter unidimensional do mercado e resulta numa filosofia utilitarista e imediatista e uma concepção fragmentária do conhecimento , concebido como um dado, uma mercadoria e não como um processo, uma construção.” Percebe-se que uma análise sobre a formação não pode deixar de lado uma análise sobre a universidade e os condicionantes externos que a determinam; dentre esses, o modelo das políticas econômicas e sociais implementadas no país. Netto (1993, p.44) diz que “uma análise sobre formação profissional não pode desvinculá-la de três traços centrais: a crise universitária, a crise econômico-social do país e a crise do conhecimento do social.” Um exemplo dos condicionantes externos que repercute na universidade pode ser visto através das políticas neoliberais, que, a partir da reforma do Estado, definiu os setores que compõem o Estado e colocou o setor de serviços; dentre eles a educação, como não-exclusivo do Estado. Com isso, há uma mudança de concepção da educação como um direito para a educação como um serviço que pode ser comprado. Essa mudança na educação provocada pelo Estado neoliberal é somada a outra mudança citada por Chauí (2003), que foi a definição da universidade como organização social e não mais como instituição social30. Essa autora analisa que a partir dessa mudança procura-se que a universidade volte-se para os interesses preponderantes da ideologia neoliberal de fortalecimento do mercado com sua lógica de competitividade e produtividade. Essa lógica de competitividade e produtividade é colocada pelas políticas educacionais 30 Segundo Chauí (2003) uma organização difere de uma instituição por definir-se por uma prática social determinada por sua instrumentalidade: está referida ao conjunto de meios administrativos particulares para obtenção de um objetivo particular. Não está referida a ações articuladas às idéias de reconhecimento externo e interno, de legitimidade interna e externa, mas a operações definidas como estratégias balizadas pelas idéias de eficácia e de sucesso no emprego de determinados meios para alcançar o objetivo particular que a define. Por ser uma administração é regida pelas idéias de gestão, planejamento, previsão, controle e êxito. Não lhe compete discutir ou questionar sua própria existência, sua função, seu lugar no interior das lutas de classes, pois isso que para a instituição social universitária é crucial, é, para a organização, um dado de fato. 129 para a universidade, não apenas como uma indicação ou uma opção, mas como uma imposição. Isso pode ser comprovado nos próprios sistemas de avaliação criados para medir o desempenho das universidades, os quais servem como instrumento para a aplicação dos “prêmios” e “castigos”: recebe mais quem produz mais; quem não produz como se espera está sujeito à falência. A lógica do sistema de avaliação concretizada pelas instituições responsáveis pela formulação e implementação das políticas educacionais “preconiza um novo modelo de administração - de cultura gerencial- com controles extremamente severos de resultados”. ( WANDERLEY,1998, p. 12) Cardoso(2001) analisa o tipo de avaliação da universidade que tem sido implementada pelo projeto governamental onde afirma que muitas vezes essa avaliação tem tido um tratamento que a reduz ao campo estreito das técnicas para a sua quantificação e mensuração comparativa. Afirma que esse excesso técnico traz conseqüências, como: o privilégio das quantidades em detrimento das qualidades; e da produtividade em detrimento da produção no sentido da criatividade, inventividade e inovação. Segundo essa mesma autora, nesse tipo de universidade defendido pela lógica neoliberal “ a inteligência, a sensibilidade, o espírito crítico ... bem como todos valores nãomercantis são relegados, marginalizados, excluídos. Só se dá valor ao que cria valor e produz mercadoria.” (CARDOSO, 2001, p.12) O tipo de formação que essa lógica impõe para a universidade é uma formação que promova o conhecimento dos conteúdos acadêmicos e desenvolva nos profissionais atitudes e habilidades, e estas vinculadas aos interesses da produção capitalista. Com isso, surge a necessidade de uma formação que esteja voltada para o desenvolvimento das competências. Daí as políticas educacionais buscarem a implementação de mudanças nos programas e currículos voltadas para o atendimento dessas novas exigências da qualificação profissional. 130 Em outras palavras, impõe-se a adequação da formação às necessidades do mercado de trabalho. Numa perspectiva diferente a lógica neoliberal, pensamos que a função da universidade seja o que é colocado por Wanderley (op cit, p.16) À universidade cabe construir respostas acadêmicas expressas em seus projetos curriculares, que se traduzem na necessidade de se articular formação universitária e mercado profissional. Articulação esta que não se confunde com a simples adequação à dinâmica reguladora do mercado, numa perspectiva meramente instrumental. Há necessidade sim de conhecimento e sintonia com o mercado profissional e, ao mesmo tempo, um distanciamento crítico deste, que permita a construção de projetos educacionais analíticos e inovadores, que apontem alternativas viáveis e coerentes com os compromissos assumidos pela universidade. Percebe-se que o desemprego crescente faz com que o número de profissionais formados desempregados seja cada vez maior. Entende-se que a realidade perversa em que se encontra o mercado de trabalho hoje, tem colocado um grande desafio para a formação profissional universitária. Esse desafio se refere ao entendimento da relação da formação com o mercado de trabalho e, principalmente, o desafio de se fazer uma análise do tipo de adequação que a formação deve ter, não se voltando para a defesa cega e prioritária do atendimento às exigências do mercado como forma de garantia para a obtenção de um emprego. Saviani (apud Peterossi, 1980, p.8) afirma que as relações entre educação e mercado de trabalho têm sido postas, freqüentemente, de modo equivocado. Os equívocos expressamse em dois tipos de posicionamento: um que ele denomina de materialista-mecanicista o qual “supõe que a organização material do mercado de trabalho determina mecanicamente como deve ser organizada a educação”; e o outro posicionamento que ele denomina de idealistavoluntarista o qual “espera derivar das aspirações dos estudantes, combinadas com a 131 qualificação adquirida na escola, as regras ideais pelas quais se deve pautar a organização do mercado de trabalho”. No caso da articulação da formação profissional, especificamente do Serviço Social, com o mercado de trabalho, como já afirmamos, há uma divergência do tipo de formação colocada no projeto ético-político da profissão e a formação do projeto neoliberal determinada totalmente pelas exigências do mercado de trabalho. No projeto profissional se expressa a necessidade da profissão conhecer a realidade em seus aspectos econômico, social e político para o deciframento das demandas impostas à profissão. Dentro desse contexto encontra-se o conhecimento do mercado de trabalho da profissão. No entanto, o conhecimento do mercado de trabalho não se restringe à busca pela mera capacitação técnica do profissional para o atendimento às necessidades do mercado. Em outras palavras, a preocupação da formação não deve ser apenas o preparo para a disputa por um emprego; mas sim a capacitação para entender os elementos que configuram e determinam o mercado de trabalho. Empreende-se a prioridade de uma formação profissional qualificada, que é “assegurada pelo rigor teórico-metodológico no trato da realidade social, pela integração das dimensões investigativa e interventiva do Serviço Social e pela observação dos princípios éticos da profissão.” (WANDERLEY, 1998, p.17) A capacitação profissional que se coloca para a formação profissional do assistente social explicitada nas Diretrizes Curriculares do Curso de Serviço Social é uma capacitação teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa que possibilite ao assistente social: a apreensão crítica do processo histórico da sociedade brasileira como totalidade; a apreensão do significado social da profissão e das suas demandas consolidadas e emergentes; e o cumprimento da legislação em vigor, no exercício profissional. (WANDERLEY, op cit, p.30) 132 Percebe-se assim que a formação profissional deve ir muito além da preparação para o mercado de trabalho. Não desprezando, é claro, a necessidade de uma articulação da formação com o mercado de trabalho, mas tendo-se clareza da forma como essa adequação deve acontecer. Concordamos com a análise de Iamamoto (2003, p.171) quando apresenta a necessidade de haver uma articulação da formação profissional do assistente social com o mercado de trabalho ...articulação essa que não deve ser confundida com a mera adequação da formação às exigências do mercado, numa perspectiva instrumental, subordinando a formação universitária à dinâmica reguladora do mercado erigida como fetiche pelo pensamento liberal, reeditado hoje na versão neoliberal das políticas oficiais de Estado.. . ”. Essa mesma autora coloca o sentido da articulação que deve existir entre formação profissional/mercado de trabalho A articulação deve ser no sentido de uma sintonização da formação com o mercado de trabalho que permita detectar as demandas, enquanto expressão das tendências dominantes do processo de acumulação capitalista, e das políticas governamentais, enquanto instrumento de realização dessa acumulação, mas também o que se esconde por detrás destas tendências, ou seja, apreender as contratendências desse processo: ver o reverso da medalha da crise, identificando como tais contratendências se refratam no mercado profissional de trabalho. (IAMAMOTO, op cit, p. 171-172) Diante de todos esses elementos colocados sobre a articulação formação profissional/mercado de trabalho, reportamo-nos à necessidade da formação profissional procurar cada vez mais voltar-se para a compreensão dessa temática, para com isso evitar posicionamentos equivocados de profissionais formados que não conseguem um emprego atribuir o desemprego à formação profissional ou ao curso escolhido, como pudemos detectar 133 na pesquisa realizada com os assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social. Conforme dados obtidos nas entrevistas com os assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social, quando perguntamos qual curso fariam se fossem iniciar a sua formação acadêmica hoje: 60% afirmam que fariam outro curso e 40% fariam Serviço Social, conforme Gráfico 01, a seguir. Procuramos saber quais os motivos que levaram os assistentes sociais a afirmarem que fariam outro curso. Percebemos que o motivo principal foi a relação com as possibilidades de inserção no mercado de trabalho. Conforme Tabela 01 a seguir, observamos que, dos assistentes sociais que optariam por outro curso, 51,85% escolheriam outro curso porque teriam mais oportunidade de conseguir um emprego. Com isso, percebe-se a relação que os profissionais fazem entre o desemprego e a formação profissional adquirida. Tabela 01 - motivos para a escolha dos cursos que os assistentes sociais fariam hoje. % M O TIVO S P A RA A ESC O LH A Nº M ais oportunidades de vagas no m ercado de trabalho 14 51,85 Porque se identifica com essa profissão 6 22,22 D evido a form ação de assistente social 4 14,81 N ão respondeu 2 7,41 O profissional tem autonom ia 1 3,70 100 TO TA L 27 Os profissionais afirmam optar hoje por outro curso por acreditarem ter maiores possibilidades de conseguir um emprego. Nota-se que a busca pela manutenção da sobrevivência tem feito com que a formação acadêmica restrinja-se aos limites do mercado de trabalho, deixando em segundo plano elementos tais como a identificação com a formação e com a profissão. Os conhecimentos adquiridos na formação parecem não servir para mais 134 nada; a não ser o exercício profissional e esse no mercado de trabalho. Evidencia-se assim; mais; uma vez a soberania do mercado. Daí o perigo de se buscar as formações voltadas apenas para o atendimento das necessidades do mercado sem fazer uma análise das determinações desse mercado. Fariam serviço social 40 Hoje optariam por outro curso 60 0 20 40 60 80 % Gráfico 01 – Perspectiva dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social quanto à opção de fazer Serviço Social hoje. Em pesquisa recente realizada pelo Centro de Ciências Sociais Aplicadas da UFRN com os alunos egressos que teve como um dos objetivos avaliar a adequação da formação nos cursos de graduação às exigências do mercado de trabalho na perspectiva dos formados, coloca-se como um dos principais obstáculos para a inserção no mercado de trabalho a formação acadêmica deficitária. Refere-se que a formação não trabalha, ou trabalha deficientemente, as habilidades e atitudes mais requisitadas pelo mercado.(MEDEIROS E ARAÚJO, 2004a e 2004b) Percebe-se com isso que se propaga mais uma justificativa para a não inserção no mercado de trabalho: se não se tem um grau elevado de escolaridade, atribui-se o desemprego a isso; e se tem uma escolaridade superior não se consegue emprego por que a formação não foi adequada às necessidades do mercado. O que é preocupante é que essa idéia está se 135 disseminando entre os próprios profissionais formados nas universidades que não conseguem se inserir no mercado de trabalho. Há que se ter o cuidado de não se cair em dois equívocos: achar que a formação profissional está totalmente adequada e suficiente para a inserção no mercado de trabalho hoje e que ela não precisa buscar adequar-se em nenhum aspecto; e, por outro lado, achar que a formação precisa adequar-se totalmente e cegamente aos interesses e necessidades do mercado de trabalho. É claro que a lógica da produção flexível trazendo impactos sobre os processos de trabalho necessita de um nível de qualificação amplo e polivalente e cria novos paradigmas sobre a formação profissional; mas daí a defender uma formação totalmente dependente do mercado, sem fazer uma análise crítica dessa lógica mercadológica do neoliberalismo é algo muito diferente. Um aspecto importante para a formação profissional não só do Serviço Social, mas de quaisquer profissão, é a capacitação para identificar as demandas postas pela sociedade para cada profissão. São as demandas, as quais sofrem mudanças de acordo com os momentos históricos da sociedade, que determinam o tipo de projeto profissional e a formação profissional. Torna-se pois um desafio para a formação profissional do Serviço Social a identificação das demandas sociais impostas pela realidade social. Netto (1993, p. 47) coloca que “nós devemos identificar as demandas potenciais, as demandas virtuais, para inclusive atendê-las. Se não para atendê-las, pelo menos para preparar um agente profissional que tenha habilitação para identificá-las, visualizá-las e adequar-se à elas.” Esse desafio de identificar as demandas profissionais é colocado pelos assistentes sociais entrevistados em nossa pesquisa. Quando perguntados sobre os principais desafios da profissão nos dias atuais, os assistentes sociais entrevistados citaram o desafio de desvendar as novas demandas para a profissão. (Vide Gráfico 24 no capítulo 3 deste trabalho) 136 Sabemos que há uma urgente necessidade de desvelamento das demandas postas ao Serviço Social, pois as transformações no mundo do trabalho e no Estado atravessam as diversas profissões alterando os mercados de trabalho das mesmas, e ,conseqüentemente, criam novas demandas, como também alteram as demandas tradicionais. Nessa busca pela identificação das demandas profissionais, Serra (2000, p.161) chama a atenção para um aspecto muito importante: “necessidades e demandas não se confundem e nem há uma transposição mecânica do campo das necessidades para o das demandas.” Esse é um aspecto relevante para a profissão de Serviço Social: a realidade social vivida pela população hoje se configura num amplo campo de necessidades, as quais se relacionam diretamente com a profissão do Serviço Social. Essas necessidades podem se reverter em demandas e se constituir em ampliação do campo de atuação e absorção do assistente social. No entanto, como analisa Serra (op cit) essas necessidades, ou essas demandas em potencial, precisam se tornar demandas institucionais para poder absorver o trabalho do assistente social, uma vez que a profissão do Serviço Social é constituída de uma atividade institucionalizada que necessita de uma instituição que o contrate para prestar seus serviços, e que esses serviços serão voltados para uma terceira pessoa: a população, alvo dos serviços sociais. Com isso, impõe-se um duplo desafio para o Serviço Social na identificação das demandas profissionais A questão da identificação das demandas necessita de um duplo movimento de análise: por um lado conhecer as necessidades do capital e do Estado identificando as demandas que esses estão colocando á profissão, e por outro lado romper o véu da aparência das necessidades sociais (...) identificando as reais necessidades do outro pólo da intervenção profissional – a classe trabalhadora. ( SERRA, 2000, p.162) Netto (1993, p.57) lembra que a fonte de legitimação da nossa profissão está no atendimento às demandas, sejam elas institucionais ou não, e ressalta que “é preciso enfatizar 137 as demandas não institucionais.” Trindade acrescenta que “a profissão hoje não pode se limitar às demandas institucionais. Elas devem ser desvendadas, mas o profissional deve buscar identificar as demandas sociais que ainda não foram institucionalizadas e lutar por elas.” 31 Nota-se, pois, mais um desafio para a formação do assistente social que é a identificação das demandas; o que só será alcançado através da capacitação para uma profunda análise da realidade social. Considera-se de fundamental importância num contexto social de desemprego essa perspectiva de análise sobre as demandas, pois com isso se terá elementos que contribuirão para um conhecimento da realidade da profissão e de seu mercado de trabalho. No capítulo a seguir apresentam-se as análises referentes ao objeto desse estudo, a não-inserção do assistente social no mercado de trabalho do Serviço Social relacionando a formação profissional com o mercado de trabalho a partir dos dados obtidos na pesquisa de campo com os assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho em Natal/RN. 31 Em palestra proferida no XX Dia do Assistente Social na Casa da Indústria, Natal/RN, em 13/05/2004. 138 CAPÍTULO 3 - O ASSISTENTE SOCIAL E A NÃO-INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL: Percepção dos Assistentes Sociais Não-Inseridos no Mercado de Trabalho em Natal/RN Este capítulo expõe os resultados da pesquisa sobre a não-inserção do assistente social no mercado de trabalho em Natal/RN. A obtenção dos dados se deu, num primeiro momento, com o mapeamento dos assistentes sociais formados no período de 2000 a 2002 e sua situação no mercado de trabalho, realizado através de um levantamento de informações junto à Coordenação do Curso de Serviço Social da UFRN, ao Conselho Regional de Serviço Social – CRESS/RN e de contatos telefônicos com os assistentes sociais formados no período delimitado. Com base nesse mapeamento apresenta-se a situação no mercado trabalho de todos os assistentes sociais formados no período delimitado e a situação no mercado de trabalho dos assistentes sociais que estão em Natal/RN. Num segundo momento da pesquisa foram realizadas 45 entrevistas estruturadas, no período de fevereiro à maio de 2004, a partir das quais são apresentados o perfil dos assistentes sociais não-inseridos no mercado trabalho em Natal/RN - exposto no primeiro item deste capítulo. Ainda será apresentada a análise dos dados referentes a percepção dos assistentes sociais sobre a sua não-inserção no mercado de trabalho do Serviço Social, sobre a profissão, a formação recebida no curso e a relação que esses profissionais fazem entre a nãoinserção no mercado de trabalho e a profissão - no segundo item deste capítulo. Na análise dos dados obtidos nas entrevistas são registrados alguns depoimentos dos assistentes sociais, com identificação de cada entrevista utilizando numerais que correspondem à seqüência da realização das mesmas; a letra T que corresponde aos profissionais que trabalham em outras atividades profissionais; e a letra D que corresponde aos desempregados. Por exemplo: 25 – T, refere-se à entrevista de número 25 e o entrevistado 139 trabalha em outra atividade profissional; 31 – D, refere-se à entrevista de número 31 e o entrevistado está desempregado. A partir do mapeamento realizado, obteve-se o seguinte quadro sobre a situação no mercado de trabalho dos assistentes sociais que se formaram nos períodos letivos de 2000.1 a 2002.2 da UFRN: de 156 assistentes sociais, 60 exercem a profissão, 54 estão trabalhando em outras atividades profissionais e 42 estão desempregados.(Conforme Tabela 02 a seguir) Tabela 02 - Situação dos assistentes sociais formados no período de 2000.1 a 2002.2 no mercado de trabalho PERÍODOS LETIVOS 2000.1 2000.2 2001.1 2001.2 2002.1 2002.2 TOTAL FORMADOS CONTACTADOS EXERCEM A PROFISSÃO TRABALHAM EM OUTRAS ATIVIDADES DESEMPREGADOS 31 37 20 50 30 32 200 26 26 19 39 21 25 156 15 10 5 17 7 6 60 6 10 8 8 10 12 54 5 6 6 14 4 7 42 Dos 156 assistentes sociais contatadas, 116 estão em Natal e 40 estão fora de Natal. A situação no mercado de trabalho dos assistentes sociais que residem em Natal é a seguinte: 51 estão trabalhando em outras atividades, 35 exercem a profissão e 30 estão desempregados. (conforme Tabela 03 a seguir). Com isso, vemos que de 116 assistentes sociais, formadas no período, que residem em Natal/RN, 81 não exercem a profissão. 3.1 – Perfil dos Assistentes Sociais não-inseridos no Mercado de Trabalho em Natal/RN O total de profissionais inseridos em outras atividades em Natal, no período pesquisado, é de 51 profissionais. Tirou-se uma amostra de 50% para a realização da entrevista que daria 26 entrevistas, mas foram realizadas 28 entrevistas, pois se tirou 50% do 140 número de profissionais em cada período letivo e como existiam números ímpares arredondou-se o número para mais. O total de assistentes sociais desempregados em Natal/RN, no período pesquisado, é de 30 profissionais, que numa amostra de 50% daria 15 entrevistas. Foram realizadas 17 entrevistas, pelo mesmo motivo descrito acima. Portanto, foram realizadas 45 entrevistas: 28 entrevistas com assistentes sociais que exercem outras atividades; e 17 entrevistas com assistentes sociais desempregados. As mesmas se realizaram no período de fevereiro à abril de 2004. Tabela 03 - Situação dos assistentes sociais formados no período de 2000.1 a 2002.2 no mercado de trabalho em Natal/RN. PERÍODOS LETIVOS 2000.1 2000.2 2001.1 2001.2 2002.1 2002.2 TOTAL CONTACTADOS EXERCEM A PROFISSÃO 18 20 14 28 17 19 116 9 5 4 10 4 3 35 TRABALHAM EM OUTRAS ATIVIDADES 6 10 8 6 10 11 51 DESEMPREGADOS 3 5 2 12 3 5 30 A partir das entrevistas realizadas obtiveram-se as seguintes informações sobre o perfil dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN: sobre a faixa etária dos assistentes sociais, 48,89% estão entre 24 e 28 anos; 22,22% estão entre 29 e 32 anos; 13,33% entre 33 e 36 anos; 8,89% não informou; 4,44%, tem entre 41 e 44 anos; e 2,22% está na faixa etária entre 37 e 40 anos (Tabela 04 a seguir). Portanto, a maioria dos assistentes sociais entrevistados pertence a uma faixa etária que pode ser considerada jovem. Daí pode-se inferir que a inserção no mercado de trabalho tem sido mais 141 difícil para essa faixa etária, principalmente para aqueles que procuram o primeiro emprego, uma vez que o mercado de trabalho tem exigido experiência profissional A grande maioria dos assistentes sociais entrevistados é do sexo feminino, havendo apenas 01 assistente social do sexo masculino, conforme Tabela 05 a seguir. Esse dado não difere da realidade nacional da profissão onde, segundo pesquisa recente, promovida pelo Conselho Federal de Serviço Social e realizada pela Universidade Federal de Alagoas - UFAL em conjunto com os Conselhos Regionais de Serviço Social, apenas 3% dos assistentes sociais do Brasil são do sexo masculino. IDADE 24 a 28 anos 29 a 32 33 a 36 37 a 40 41 a 44 Não informado TOTAL Tabela 04 - Faixa etária dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN Nº. % 22 48,89 10 22,22 6 13,33 1 2,22 2 4,44 4 8,89 45 100 Tabela 05 - Sexo dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do serviço social em Natal/RN. SEXO Feminino Masculino TOTAL Nº. 44 1 45 % 97,78 2,22 100 Sobre o Estado Civil dos assistentes sociais: 62,22% são solteiros; 31,11% casados; 2,22% desquitados, separados e não informaram (conforme Tabela 06 a seguir). A maioria 142 não têm filhos e com isso não podemos tomar a criação de filhos como um fator determinante da não-inserção desses profissionais no mercado de trabalho da profissão. Conforme Tabela 07 a seguir, 68,89% dos assistentes sociais não têm filhos. Dos 31,11% que têm filhos, 15,56% têm 01 filho, 4,44% têm 03 filhos e 2,22% têm 02 filhos. Tabela 06 - Estado civil dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN. ESTADO CIVIL Solteira Casada(o) Desquitada Separada Não informado TOTAL Nº. 28 14 1 1 1 45 % 62,22 31,11 2,22 2,22 2,22 100 Tabela 07 - Número de filhos dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN. FILHOS Sem filhos 01 Filho 02 Filhos 03 Filhos Não informado TOTAL Nº 31 7 1 2 4 45 % 68,89 15,56 2,22 4,44 8,89 100 Quanto à qualificação dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN, a maioria dos entrevistados possui alguns cursos mais exigidos pelo mercado de trabalho: 43 possuem cursos de informática e 22 fizeram ou estão fazendo cursos de Línguas Estrangeiras. Já no que se refere a cursos de nível superior, vemos que 02 assistentes sociais possuem outra graduação: 01 em Processamento de dados e 01 em Teologia; 03 assistentes sociais estão cursando uma outra graduação em outra área: 02 Direito e 01 Ciências Contábeis.(Tabela 08 a seguir) 143 No que se refere a cursos realizados após o término da graduação em Serviço Social, poucos fizeram algum curso dando continuidade à sua formação. Apenas 12 possuem algum curso de pós-graduação, sendo 10 na área do Serviço Social e 02 em outra área. Esse é um dado preocupante, uma vez que a qualificação é colocada hoje como o elemento principal para a condição de empregado ou desempregado nesse novo mundo do trabalho. O mercado de trabalho está cada vez mais exigente, restrito e competitivo levando a qualificação profissional a ser colocada como um dos principais critérios para absorção do trabalhador por esse mercado. Tabela 08 - Cursos realizados pelos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social para além da graduação em Serviço Social. CURSOS REALIZADOS Nº. Graduação 5 Processamento de dados 1 Teologia 1 Direito 2 - cursando Ciências Contábeis 1 - Cursando Pós-graduação 12 Mestrado em Serviço Social 3 - Cursando Especialização em Polícia Comunitária 4 Especialização em História 1 Especialização em Gestão Ambiental 1 Atualização em teoria das Ciências Sociais 2 Atualização: O assistente social na área da saúde 1 TOTAL 17 Os critérios de seletividade que o mercado tem utilizado aumentam e o fato de se ter um curso superior não é garantia de se obter um emprego ou, se consegui-lo, ser na área para a qual se formou. É crescente o índice do desemprego de pessoas com nível de escolaridade superior, como também daqueles que conseguiram um trabalho em atividades totalmente diferente da sua área de estudo. 144 Nota-se que a existência de uma grande oferta de mão de obra disponível leva ao aumento das exigências para o trabalhador se adequar às oportunidades de trabalho; e quanto mais ele corre atrás de obter os elementos da qualificação exigidos, mais esses pré-requisitos vão se ampliando. Vemos que se antes a escolaridade superior facilitava a inserção no mercado, com o aumento da quantidade de formados passa-se a exigir uma pós-graduação. Evidencia-se assim a lógica do mercado, e por isso se denomina mercado de trabalho, portanto, não se pode esquecer que numa análise sobre emprego/desemprego, em qualquer que seja a profissão, precisa-se ter como elemento principal essa premissa, ou seja, a lógica do mercado, para não se fazer uma análise restrita às profissão ou aos profissionais. Sobre a relação dos assistentes sociais entrevistados com a UFRN, conforme Gráfico 02 a seguir, 51% afirmaram que não mantêm nenhum contato; 36% mantêm alguns contatos informais; e 13% mantêm hoje uma relação formal com a UFRN. Entre os 51% que não mantém mais nenhum contato com a universidade, há os que revelaram a vontade e a necessidade que sentem em voltar a estudar, mas alguns colocam as dificuldades que enfrentam impedindo-os de continuarem se qualificando, como vemos nos seguintes depoimentos: Estou meio afastada, mas eu pretendo retornar. (34 - T) Nenhuma, mas sempre pensando: depois eu volto, depois eu volto! Mas agora eu não posso. (36 - T) Nenhum contato. Não faço nada lá porque, como eu disse, lá não tem horário, só é pela manhã ou tarde e eu não posso. Alguma coisa que vi, que dava certo aí era pago e eu não tive condições de tá desembolsando (17 - T) Ao analisar a relação dos entrevistados que trabalham em outras atividades profissionais e a dos desempregados com a UFRN, tem-se o seguinte quadro: dos que trabalham em outras atividades profissionais - 53% não mantêm nenhum contato com a 145 51 Nenhum contato Mantém relação formal 36 Alguns contatos informais 13 0 10 20 30 40 50 60 % Gráfico 02 – Relação dos assistentes sociais com a UFRN. (Quadro geral) UFRN; 29% mantêm uma relação formal; e 18 % mantêm algum contato informal,conforme Gráfico 03 a seguir; dos desempregados – 47% não mantêm nenhum contato com a UFRN; 47% mantêm uma relação formal; e 06% mantém algum contato informal– conforme Gráfico 04 a seguir. Percebe-se que a realidade quanto à relação atual dos entrevistados com a UFRN dos que trabalham em outras atividades profissionais e a dos desempregados não difere da situação do quadro geral. No entanto têm-se uma porcentagem menor dos que trabalham que mantêm uma relação formal com a UFRN. Mantém relação f ormal 29 Nenhum contato 53 Contato inf ormal 18 0 10 20 30 40 50 60 % Gráfico 03 – Relação dos assistentes sociais com a UFRN (dos que trabalham em outras atividades profissionais). 146 6% 47% 47% Contato informal Nenhuma relação Relação formal Gráfico 4 – Relação dos assistentes sociais com a UFRN (dos desempregados). Verifica-se que 73% dos assistentes sociais ainda não tiveram oportunidade de exercer a profissão e apenas 27% já tiveram oportunidade de exercer a profissão, conforme vemos no Gráfico 05 a seguir. Dos que já exerceram a profissão 58,33% exerceram um período entre 01 e 06 meses e 25% por um período entre 06 e 01 ano, conforme Tabela 09 a seguir. 73% 27% Já exerceram a profissão Ainda não exerceram a profissão Gráfico 05 – Experiência profissional dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social. 147 Tabela 09 - Tempo de exercício profissional dos assistentes sociais que já exerceram a profissão. TEMPO DE EXERCÍCIO PROFISSIONAL N°. % 1 a 6 meses 6 meses a 1 ano 1 ano a 1 ano e meio 2 anos TOTAL 7 3 1 1 12 58,33 25 8,33 8,33 100 A experiência profissional que esses assistentes sociais tiveram foi através de trabalhos temporários ou sem vínculo formal: 41,67% tiveram um contrato temporário, 33,33% realizaram uma atividade voluntária, conforme Tabela 10 a seguir. Esse tipo de vínculo contratual foi justamente o principal motivo atribuído pelos assistentes sociais para o fato de terem deixado de exercer a atividade profissional como podemos perceber na Tabela 11 a seguir. Tabela 10 - Vínculos empregatícios dos assistentes sociais que já exerceram a profissão. TIPO DE VÍNCULO Contrato Temporário Atividade voluntária Estágio remunerado Cargo comissionado TOTAL N°. 5 4 2 1 12 % 41,67 33,33 16,67 8,33 100 Tabela 11 - Motivos pelos quais deixaram de exercer a profissão MOTIVOS DA SAÍDA DO TRABALHO O contrato terminou Apareceu esse emprego com vínculo e salário melhor Era voluntário e decidiu sair para se dedicara estudos para concursos A atividade, Programa ou Projeto acabou Era instável e o salário atrasava TOTAL N°. 4 3 2 2 1 12 % 33,33 25 16,67 16,67 8,33 100 148 Dos profissionais que estão exercendo outras atividades, 64,29% já exerciam essa atividade quando concluiu o curso de Serviço Social; e 35,71% começaram a trabalhar nessa atividade depois que concluiu a graduação (Tabela 12 a seguir). Alguns desses que já exerciam uma atividade profissional, quando concluíram a graduação em Serviço Social atribuem a esse motivo o fato de não estarem exercendo a profissão de assistente social, pois, segundo eles, o fato de estarem trabalhando os levou a uma acomodação ou a uma falta de tempo para procurarem um emprego na área do Serviço Social; outros atribuem ao fato do salário e das condições de trabalho nessa atividade serem melhores do que se estivessem trabalhando como assistente social.(Conforme Gráfico 07 e análises que se referem ao mesmo) Tabela 12 – Atividade exercida atualmente EXERCIA A ATIVIDADE QUANDO CONCLUIU. Sim Não TOTAL N°. % 18 10 28 64,29 35,71 100 Quanto aos assistentes sociais que estão exercendo outras atividades, os mesmos estão distribuídos em 21 funções, as mais variadas. Temos assistentes sociais exercendo atividades na área de Saúde, Educação, Justiça, Comércio, entre outras, conforme vemos na Tabela 13 a seguir. Pode-se perceber que as condições de trabalho desses profissionais que estão no exercício de outras atividades, no que se refere ao tipo de vínculo contratual, são condições seguras: 75% têm contrato permanente(35,71% Celetista -CLT e 39,29% Estatutários – Funcionários públicos) e 25% têm contrato temporário, conforme Tabela 14. Daí, um dos motivos que tem contribuído para a permanência dos mesmos nessa atividade concomitante 149 ao fato das oportunidades de trabalho que surgem para exercerem a profissão de assistente social, muitas vezes não oferecerem essa mesma segurança. Tabela 13 - Atividades profissionais exercidas pelos assistentes sociais ATIVIDADES Professora Recepcionista no Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado -SINTE/RN Técnico em saneamento CAERN Coordenadora de um Núcleo de Qualificação Profissional no MEIOS Auxiliar de Contabilidade Atendente Comercial nos Correios Auxiliar Administrativo numa Imobiliária Animadora – AGENDA 21 Auxiliar Técnico no Tribunal de Justiça Digitadora - Clínica de Saúde Guarda Municipal Auxiliar Administrativo na Fundação Nacional de Saúde Técnica de Vigilância Epidemiológica Técnico em Saneamento da Vigilância Sanitária Recepcionista em Escola de Informática Atendimento Bancário Atendente Comercial Autônoma - Proprietária de salão de beleza Autônoma - Proprietária de Depósito de Material de Construção Autônoma - Proprietária de Loja de confecções Autônoma – Proprietária de Fábrica de doces TOTAL N°. 3 1 1 1 3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 4 1 1 1 1 28 % 10,71 3,57 3,57 3,57 10,71 3,57 3,57 3,57 3,57 3,57 3,57 3,57 3,57 3,57 3,57 3,57 14,29 3,57 3,57 3,57 3,57 100 Tabela 14 - Vínculo empregatício dos assistentes sociais que trabalham em outras atividades profissionais T IP O D E V ÍN C U L O P R O F IS S IO N A L C o ntrato Info rm al o u tem p o rário C o ntrato Fo rm al p erm anente – C L T C o ntrato Fo rm al p erm anente – E statutário TOTAL N °. 7 10 11 28 % 25 3 5 ,7 1 3 9 ,2 9 100 A tabela 15 a seguir, demonstra que entre os assistentes sociais que exercem outras atividades, 46,42% ganham entre dois salários mínimos e dois salários e meio; 25% ganham 150 entre um salário mínimo e um salário e meio; 17,85% ganham quatro salários mínimos ou mais; e 10,71% ganham entre três salários e três salários e meio. Tabela 15 - Faixa salarial dos assistentes sociais no exercício de outras atividades profissionais FAIXA SALARIAL 1 SM* a 1 SM* e meio 2 SM* a 2 SM* e meio 3 SM* a 3 SM* e meio 4 SM* ou mais TOTAL * Salário Mínimo N°. 7 13 3 5 28 % 25 46,42 10,71 17,85 100 Sobre o relacionamento dos assistentes sociais com o Conselho Regional de Serviço Social CRESS/RN, vemos que 60% não são inscritos, 26,67% são inscritos e 13,33% têm a inscrição cancelada, conforme Gráfico 06, a seguir. A maioria dos entrevistados não é inscrita, justamente pelo fato de não estarem exercendo a profissão. Entre os desempregados, atribui-se à falta de condições financeiras; e entre os que exercem outras atividades, além da questão financeira, o fato de que se não estão exercendo a profissão não precisam ser inscritos no CRESS. Além dessas justificativas, alguns entrevistados apresentam reclamações sobre o funcionamento do CRESS: falta de informações e divulgação. Como podemos observar nos seguintes depoimentos: Tinha a inscrição, mas cancelei. Não gosto do funcionamento do CRESS: se paga uma anuidade cara e não se recebe nenhuma informação de nada. Recebi um jornalzinho mesmo assim atrasado. (15 – D) Só conheci o CRESS depois que terminei o curso, não sabia nem o que era, que existia. (25 – D) 151 Eu acredito que o CRESS fica muito fechado, fica muito no escritório trancado, poderia arranjar formas de chegar até nós, tem que achar um meio da pessoa se interessar, eu passei cinco anos na faculdade nunca teve um profissional do CRESS na sala de aula, pelo menos que eu lembro, falando do papel do CRESS ( 29 – T) 70 60 60 50 % 40 26,67 30 20 13,33 10 0 Não inscritos Inscritos Inscrição cancelada Gráfico 06 – Relação dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social com o CRESS/RN. Existem também os profissionais que não são inscritos, mas reconhecem a importância da participação no CRESS e atribuem a sua não participação à questão financeira e de tempo. Não fiz meu registro, porque não estou trabalhando, quando conseguir alguma coisa eu faço o registro. ( 33 – T) Não tenho nenhuma relação, porque desempregada né, a realidade é essa, e pra mim fazer o registro que é fundamental, é imprescindível, não tenho como tá garantindo. ( 43 – D) Vemos que apesar de não estarem exercendo a profissão 26,67% (12) assistentes sociais entrevistados são inscritos no CRESS, pois acreditam na importância do seu 152 engajamento e colocam esse vínculo com o CRESS até mesmo como um dos elementos que pode vir a facilitar a sua inserção no mercado de trabalho da profissão, como podemos ver nos depoimentos abaixo: Eu sou registrada no CRESS. Estou há três anos pagando devagarzinho; no momento que você tiver a oportunidade, você tem que aproveitar. Aí se você não tiver inscrita, é o que mais tem nos editais: vínculo com o conselho profissional. É importante ter vinculo com as coisas que acontecem no âmbito do Serviço Social. Eu vou lá e sempre recebo o jornalzinho. ( 32 – T) Sempre tô indo lá no CRESS para me informar sobre concurso, sobre material. Então sempre eu tô indo lá no CRESS, para não perder o vínculo também. ( 36 – T) Nota-se que há entre os profissionais uma vinculação do CRESS com suas expectativas de inserção no mercado trabalho. Alguns o percebendo como um instrumento de capacitação e atualização, podendo assim facilitar a sua inserção no mercado de trabalho; outros que reforçam a importância da fiscalização dos espaços profissionais como forma de garantir ou facilitar a inserção do assistente social no mercado de trabalho. 3.2 - Percepção dos Assistentes Sociais sobre a Relação Profissão/Mercado de Trabalho e sobre a Relação Formação Profissional/ Não-Inserção no Mercado de Trabalho Um dos aspectos mais importantes da pesquisa é a percepção dos assistentes sociais sobre a não-inserção no mercado de trabalho. Para o conhecimento dessa realidade interrogamos os assistentes sociais sobre a que atribuem a sua não-inserção no mercado de trabalho da profissão. Chegamos aos seguintes dados: 34% atribuem à restrição desse 153 mercado; ou seja, às poucas vagas existentes; 13% atribuem a não-inserção às exigências de qualificação que o mercado tem colocado; 10% afirmam que não procuraram o suficiente por um emprego; 10% afirmam que não estão trabalhando na área do Serviço Social por opção, 09% atribuem a sua não-inserção à falta de experiência profissional a qual tem sido exigida pelo mercado de trabalho, dentre outros motivos, conforme Gráfico 07 a seguir . 8 Os empregados não valorizam a profissão 13 As exigências de qualificação são muitas Não têm procurado o suficiente 10 Por opção 10 As opções que aparecem não valem a pena 8 Não tem quem lhe indique 8 34 Mercado de trabalho restrito 9 Falta de experiência profissional 0 5 10 15 20 25 30 35 40 % Gráfico 07 – Motivos pelos quais não estão exercendo a profissão. (quadro geral). Diante desse quadro, percebe-se que a maior parte dos entrevistados atribuem a sua não-inserção à restrição do mercado de trabalho; ou seja, afirmam que os espaços de atuação são poucos e os que existem absorvem poucos profissionais. Conforme vemos nos depoimentos: O campo de trabalho para o assistente social é muito restrito. ( 05 - T) Eu acho que não tem campo, fora você passar num concurso...o empregador da gente eu acho que é muito limitado, nenhuma empresa vai lhe contratar, 154 normalmente se existe alguma atividade relacionada ao social numa empresa privada, eles contratam um psicólogo que atende melhor às necessidades da empresa. Então você fica limitada ali... a única função é no Estado, num hospital, se não for isso.. (17 – T) Além de acreditarem que os espaços para a profissão são poucos, afirmam que os poucos espaços existentes se restringem mais ainda pelo fato de serem ocupados por outros profissionais, pois os empregadores preferem contratar esses outros profissionais: O mercado de trabalho do assistente social é muito fechado. As empresas enormes não contratam ou contratam só uma. Contratam outras pessoas que não são assistentes sociais para exercer. ( 04 – T) ..vejo que têm muitas pessoas que não são assistentes sociais exercendo a função de assistente social. Isso atrapalha muito o mercado de trabalho. (10 – D)) Apesar de 34% terem citado como causa de sua não inserção no mercado de trabalho a restrição dos espaços, 08% reconhecem que o campo de atuação do assistente social é amplo, como também são muitas as necessidades ou demandas existentes. No entanto, o não reconhecimento disso, por parte dos empregadores, é o que determina a restrição do mercado de trabalho para a profissão. Como ressaltou as seguintes entrevistadas. O assistente social tem oportunidade em várias áreas, mas as oportunidades de trabalho são poucas. Os empregadores não reconhecem a importância do assistente social. (07 – D) A carência é enorme, mas o espaço pra o Serviço Social ainda é muito pouco. Ninguém tem tanto interesse em trabalhar o social, eles passam sempre a mão por cima disso. (24 – T) Bem, o mercado de trabalho eu posso dizer assim que tá difícil, mas segundo as pessoas falam e segundo eu acho é um mercado bom, porque eu creio que deveria existir serviço social nas escolas e em todo canto que você trabalhasse com o público eu creio que deveria ter assistente social.(19 – D) 155 É preocupante o fato de 34% dos entrevistados colocarem como causa da sua nãoinserção no mercado de trabalho a restrição desse mercado. Afirmam que o campo de trabalho para o assistente social é pequeno e apenas 8% citam que o campo de atuação é grande mas, o que acontece é a não valorização do trabalho social por parte dos empregadores. Mostra-se com isso um desconhecimento sobre o amplo campo de atuação do Serviço Social. A questão do não reconhecimento, por parte dos empregadores, das demandas sociais existentes na sociedade - as quais se configuram num amplo espaço de atuação para a profissão de assistente social - e os outros elementos citados nas entrevistas como causas da não inserção no mercado de trabalho, não são acompanhados de uma análise que contemplem elementos mais gerais da conjuntura social na qual a profissão está inserida. Apenas em duas entrevistas aparecem elementos mais gerais do problema da não inserção dos profissionais no mercado de trabalho; ou seja, da restrição desse mercado, como a implementação do Estado neoliberal, colocada como a crise do Estado: Eu vejo o mercado muito difícil. Na hora em que a população passa por uma crise, o mercado de trabalho vem sofrendo crise, claro que o assistente social como trabalhador também está em crise. O maior empregador do assistente social é o Estado e hoje agente vê que o Estado está mínimo. (29 - T) Eu atribuo esse problema, essa deficiência do mercado de trabalho à própria situação estrutural do país. É uma questão estrutural. (42 – D) Ainda entre aqueles que atribuíram a sua não-inserção no mercado de trabalho à restrição desse mercado, alguns afirmam que o problema está na quantidade de assistentes sociais que é lançada num mercado de trabalho pequeno como o da cidade de Natal. O mercado é muito pequeno. Eu acho Natal muito pequena. Natal tem comércio, não tem indústrias, empresas, não tem mercado. (27 - D) 156 Em primeiro lugar, o nosso país tem muitas condições de ter muita gente inserida nesse mercado; só que eu também acho que é muita gente jogada no mercado, tem a UFRN, tem a FACEX, para um mercado de uma cidade pequena desta, realmente... Eu sei que tem inúmeras possibilidades de você trabalhar como assistente social porque é uma área muito ampla, você pode se inserir em várias coisas, mas acho que é gente demais. Por isso que quando tem concurso é aquela concorrência imensa, a não ser que você saia e vá procurar em outro canto, mas eu acho que aqui na cidade de natal é muito pouco para a quantidade de gente que está no mercado de trabalho. (34 - T) Outro elemento citado pelos assistentes sociais como motivo da sua não-inserção no mercado de trabalho foi a questão da qualificação que o mercado de trabalho tem exigido. Citam que as exigências de qualificação têm sido muitas e elas não têm conseguido atender a essas exigências.Essa dificuldade é percebida nos dados da Tabela 08 que informa sobre a qualificação dos assistentes sociais, onde apenas 12 fizeram algum curso na área após terminar a graduação em Serviço Social e 33 não fizeram nenhum curso após terminarem a graduação. Também referem-se à falta de experiência profissional, critério esse exigido há algum tempo exclusivamente pelas empresas privadas; e que agora passa a ser uma exigência também presente em muitos concursos públicos para assistente social na esfera estatal. Isso se torna um complicador para o acesso desses profissionais ao mercado de trabalho, uma vez que 73% ainda não tiveram oportunidade de exercer a profissão de assistente social e apenas 27% já exerceram a profissão. Entre os motivos atribuídos pelos assistentes sociais para a sua não-inserção no mercado de trabalho do Serviço Social estão, também, os motivos pessoais. Conforme Gráfico 07 vimos que 20% dos profissionais atribuíram a sua não inserção no mercado de trabalho a motivos pessoais: 10% acham que não procuraram o suficiente por um emprego e 10% afirmam que não exercem por opção. Essa pouca procura, ou a não procura, por um emprego é justificada pelos que estão desempregados aos seguintes motivos: querem exercer a 157 profissão, mas dedicaram-se à criação dos filhos; não se identificam com a profissão, por isso não tem motivação para procurar emprego na área, como está expresso nos depoimentos seguintes: No meu caso, foi um pouco de comodismo mesmo. Quando eu terminei o curso eu tava com uma filha pequena, e aí eu tinha que cuidar dela também ... tanto é que não fiz nenhum concurso nesse período, tiveram vários a nível local ,mas eu não fiz nenhum concurso desses, agora que eu estou pensando, comecei a estudar meio que timidamente, fazendo meu projeto, para ver se consigo fazer o mestrado, e paralelamente o tempo que sobra estou tentando estudar, para ver se quando abrir algum concurso.... (32 – T)) ...porque eu fiz Serviço Social gostei, mas era um curso que eu não me identificava, quer dizer a pior coisa do mundo é você fazer uma coisa que você não se identifica muito, fazer por fazer como eu fazia, aí não tive motivação para procurar nada, correr atrás de nada, quando você é apaixonada pela profissão, você gosta daquilo, você move céus e terra, se você não tem você se acomoda. Foi meu caso, eu sempre quis Direito... (35 D) Entre aqueles que trabalham em outras atividades e que atribuíram a sua não-inserção a motivos pessoais, podem ser observadas várias situações: há os que querem exercer a profissão, mas não tem tempo de procurar emprego na área do Serviço Social, pois a atividade atual absorve todo o seu tempo; os que querem exercer a profissão, mas se acomodaram na atividade atual por oferecer condições de estabilidade contratual e financeira; e os que não querem exercer a profissão de assistente social, pois preferem atuar nessa outra atividade. Alegam que as oportunidades de trabalho para exercerem a profissão de assistente social surgidas até aqui não valem à pena, levando muitos até a desistirem de atuar na profissão e partirem para alternativas, tais como: preferir a atividade em que estão atualmente, estudarem para concursos apenas em outras áreas, fazerem outra faculdade, etc, como se observa nos seguintes depoimentos 158 O mercado é restrito, mas também outro fator é que eu já trabalhava aqui quando terminei. Me acomodei porque me remunera melhor do que qualquer outra opção que foi dada pelo mercado, é tanto que agora eu fiz vestibular pra Contábeis e passei e vou ingressar agora na UFRN novamente, vou ficar aqui no escritório e ser contadora mesmo. (20 - T) É muito melhor eu trabalhar onde estou hoje, tendo essas remuneração do que arriscar trabalhar como assistente social. Não tentei nada na área porque o que mais me prendeu nessa atividade é a questão da remuneração, é um trabalho que eu gosto de fazer, não é minha área, mas eu tenho prazer em fazer, sou bem remunerada, então eu fico feliz em continuar. (39- T) Têm pessoas que trabalham em prefeituras do interior, viajam quase todo dia e ganham o que eu ganho. Há uma desvalorização profissional, um trabalho assim não me interessa. (38 –T) Importante destacar que 64,29% dos profissionais que exercem outras atividades já exerciam quando concluíram a graduação em Serviço Social (Tabela 12), e afirmam que isso contribuiu para uma acomodação ou impossibilidade de procurar atuar na área. As condições de trabalho a que esses profissionais se referem que estão tendo em outras atividades e que não são oferecidas nas oportunidades que têm surgido para exercer a profissão de assistente social é a estabilidade do emprego, em muitos casos, e o salário que recebem, para alguns.( Vide Tabela 14 e 15) Sobre a remuneração do assistente social no Brasil, conforme informações do CFESS (2005), não há uma lei de piso salarial, estando a categoria organizada, em sua maioria, em sindicatos por ramos de atividade, tendo sua remuneração definida pelos contratos coletivos nas diversas áreas de trabalho. Assim, considerando-se as disparidades regionais e a lógica econômica, os salários têm variado, praticando-se de R$400,00 a R$5.000,00, dependendo da área e da experiência profissional, da natureza técnica/política e teórico/metodológica. No Rio Grande do Norte, conforme dados da Pesquisa realizada por Nicolau (1999) o menor salário encontrado entre os assistentes sociais foi de R$ 358,00 e o maior de R$ 159 3.563,00.32 Já na pesquisa sobre o perfil do assistente social, realizada em 1999 pelo CRESS/RN, mostra-se que dos assistentes sociais inseridos no mercado de trabalho, a renda mensal desse ficou assim distribuída: 41,86% (90) ganhavam entre 6 a 10 salários mínimos, 37,21% (80) 1 a 5 salários mínimos, 17,21% (37) recebiam 11 a 20 salários mínimos e 3,72% (08) recebiam mais de 20 salários mínimos. Percebe-se, pois uma realidade de faixa salarial muito boa se levarmos em consideração a situação econômica vivenciada atualmente pelos profissionais. (CRESS, 1999) No entanto, alguns aspectos devem ser levados em consideração sobre esses dados da renda dos assistentes sociais: 24,65% (53) possuíam outra fonte de renda além do emprego de assistente social, como também o tempo de exercício profissional dos assistentes sociais que fizeram parte da pesquisa: 26,51% (57) tinham de 6 a 10 anos de exercício profissional, 24,19% (52) tinham de 11 a 15 anos , 24,19% (52) tinham de 16 a 20 anos de exercício profissional, 13,02% (28) tinham menos de 6 anos e 12,09% (26) tinham mais de 20 anos de exercício profissional. Confirma-se, pois uma grande variação dos níveis salariais do assistente social na esfera nacional e local, nas diferentes áreas e até mesmo numa mesma área de atuação. Ressaltando que os dados obtidos geralmente se referem aos salários de assistentes sociais com vínculos empregatícios estáveis, sendo que as oportunidades de trabalho que não valem à pena a que os assistentes sociais entrevistados se referem, em sua maioria, são através de contratos temporários, cargos comissionados onde as condições salariais são mais precárias do que as apontadas nas pesquisas mencionadas acima. Apesar de que até mesmo nos concursos públicos surgidos ultimamente tem sido oferecido um salário que fica na faixa dos R$ 300,00. 32 Essa pesquisa se refere aos assistentes sociais que trabalham na área de Assistência Social à Criança e Adolescente em Natal/RN 160 Até mesmo entre os desempregados, há aqueles que colocam como motivo de não estarem exercendo a profissão o fato das oportunidades que aparecem não valerem a pena: Quando aparece alguma oportunidade não vale a pena. (12 -D) Eu tô tentando procurar um emprego seguro que me dê segurança, porque pra entrar em prefeitura e depois tá: ai! o prefeito saiu, tô desempregada. Estou me preparando para conseguir um emprego seguro, por isso eu tô só estudando pra concursos. Emprego sem vínculo eu não quero.(19-D) Além dessas dificuldades objetivas existentes no mercado de trabalho, existem alguns elementos que provocam dificuldades subjetivas nos profissionais que não conseguiram ainda exercer a profissão para que lutem na busca por um emprego. Como foi citado nas entrevistas: Às vezes, quando a gente termina fica com medo de ir atrás, com negatividade achando que não tem vagas, mas tem que ir atrás!” ( 16- T) Quando eu terminei eu fiquei assim: onde é que eu poderia tá deixando meu currículo, fiquei assim desorientada. Eu fui até o CRESS e conversei com uma das conselheiras de lá e saí mais frustrada do que quando entrei porque ela foi logo dizendo: se aqui em Natal você não tiver uma carta de um político pra te encaminhar, te indicar você não consegue emprego.... Então eu saí pior do que eu entrei lá, porque na verdade eu ainda via...eu estava bem mal, sem querer sair de casa, sem ânimo pra nada porque você cria toda uma expectativa, depois de cinco anos. (18 – T) Percebe-se nesse depoimento um pouco do sofrimento psicológico pelo qual passa o profissional que se forma e não consegue se inserir no mercado de trabalho. O desânimo e a frustração, decorrentes dos longos anos de estudo, a expectativa de colocar em prática o que aprendeu e a não realização dessa expectativa, como também o não atendimento a uma necessidade, pois a maioria não deseja entrar no mercado de trabalho apenas por desejo de 161 exercer a profissão, mas por necessidade, pois tem no trabalho a sua única forma de subsistência. É notório que o sentimento de fracasso é estimulado pela forma com que é tratado o problema do desemprego na sociedade33: a própria ideologia neoliberal toma como estratégia de mascaramento das verdadeiras causas do problema do desemprego a atribuição das suas causas ao próprio indivíduo, e isso leva a sociedade a culpar o desempregado pela sua situação. Essa forma de tratar o problema provoca atitudes (conscientes ou inconscientes, expressas de forma aberta ou mascarada) nas pessoas próximas ao desempregado, as quais passam a atribuir a causa da não inserção no mercado de trabalho ao desânimo, a preguiça, a falta de força de vontade desses profissionais. Se esse desempregado tem uma formação acadêmica começa-se a culpar o curso escolhido, e que devido a escolha errada não se consegue um emprego. Isso tudo leva os próprios profissionais a atribuírem o desemprego a causas individuais sem uma análise mais ampla da realidade social da qual o problema é fruto: “eu não tenho 33 Apesar de estarmos tratando de uma situação de sofrimento provocado pela não inserção no mercado de trabalho, constata-se hoje uma situação não muito melhor daqueles que estão inseridos nesse mercado, pois as mudanças no mundo do trabalho têm repercutido negativamente, tanto no que se refere à exclusão de um grande contingente de trabalhadores do mercado de trabalho, como também têm trazido conseqüências danosas para os empregados: síndrome dos sobreviventes ( temor, insegurança,... e trazendo como conseqüência o aumento do stress e de doenças relacionadas ao trabalho). No mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde, 30% dos trabalhadores têm sintomas de depressão, transtornos de ansiedade (como a síndrome de pânico) ou estresse. Como revela uma pesquisa da acadêmica canadense Estelle Morin, os trabalhadores estão à procura de um sentido para o seu trabalho pois o trabalho que estão desenvolvendo não lhes realiza, antes, pelo contrário, está lhes trazendo sérios danos à saúde. Ela coloca que no Canadá, companhias de seguro já ameaçam parar de pagar as despesas com saúde mental se as corporações não começarem a fazer algo para melhorar as condições de trabalho e prevenir as doenças mentais. Afirma que a situação apresentada da realidade do Canadá não é diferente dos outros países onde foi realizada a pesquisa: foram cerca de 2 mil pessoas no Canadá, mil na França e 250 na Bélgica. E se essa situação é vivenciada por trabalhadores em países considerados de 1o Mundo, aqui no Brasil, onde as condições de trabalho são mais precárias, os resultados não serão melhores. A pesquisadora já se assustou com os primeiros resultados: “o que constatei é que, no Brasil, trabalha-se duas vezes mais do que no Canadá e eu não sei como isso é possível. Talvez vocês tenham organismos de super-heróis e suportem mais pressões do que os canadenses...” ( MORIN apud LOBO, 2003, P. 12-15) 162 procurado o suficiente”, “não tenho a qualificação que eles querem” e “o curso não tem mercado trabalho”. O que é mais grave é que apesar dos alarmantes números de desempregados divulgados diariamente pelos meios de comunicação, a sociedade é levada a tratar o desempregado como apenas mais um. Não se percebe o problema que cada pessoa enfrenta enquanto ser humano. Devido a ideologia neoliberal utilizar o discurso do individualismo para a explicação e o tratamento dos problemas sociais, o crescimento e o agravamento dos problemas não têm facilitado a criação de estratégias de organização, por parte da sociedade, para o enfrentamento desses problemas; pelo contrário, têm proporcionado uma banalização dos mesmos. É como se cada desempregado fosse apenas mais um. Além de toda essa ideologia de individualização dos problemas sociais, especificamente do desemprego, trazendo para o desempregado toda uma carga de culpa e provocando-lhe uma frustração, há o despreparo nas instituições, empresas e em todos os segmentos da sociedade, para lidar com a situação vivenciada pelo desempregado. Isso acontece justamente pelo fato do desemprego ser visto como um problema individual, onde por mais que os números do desemprego sejam alarmantes e as pesquisas sejam do conhecimento de toda a sociedade, cada desempregado é visto e tratado apenas como mais um desempregado. Acontece assim, uma banalização do problema onde aquele que o está enfrentado termina sendo ainda mais afetado pelo falta de um tratamento adequado. Todos esses aspectos agravam a situação dos desempregados, colocando-lhe uma carga de culpabilidade onde os mesmos passam a vivenciar sentimentos de vergonha, desânimo e frustração pessoal, dificultando assim, um enfrentamento da situação: a busca pelo emprego. Infere-se que a solução para o problema do desempregado não é a preparação para lidar com o desemprego, como já se coloca na mídia a existência de grupos de auto-ajuda 163 entre desempregados para combater o desânimo e trocar informações sobre oportunidades de emprego, mas sabemos que a existência de estratégias para um tratamento adequado é essencial para o desempregado, até mesmo enquanto indivíduo.34 Os próprios entrevistados, quando interrogados sobre o que a UFRN e o CRESS/RN poderia fazer para contribuir com os profissionais que não estão inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social, colocam como sugestão ações que combatam o desânimo: é primordial, oferecer cursos de capacitação, nem que seja anual; depois que agente sai fica muito alheia, perdida. O CRESS deveria trabalhar mais a união da categoria que é muito desunida e nesses cursos poderia se articular melhor. ( 06-D) Fortalecer a categoria, não deixar que a categoria fique tão dispersa, para você sentir que não está sozinha. Promover debates, cursos... cursos que serviriam para deixar os assistentes sociais mais perto um do outro, não ficar isolado, longe de tudo. (16 –T) Oferecer algum curso para atualizar o profissional. Seria interessante pra quem não está inserido e quer se inserir tá sempre se reciclando para não ficar desestimulado, porque lá o pessoal ficava estimulando: vamos deixar currículo, tal lugar tem concurso, tal lugar tá precisando de assistente social... (26-D) Vê-se, portanto, que os profissionais percebem a necessidade da UFRN e do CRESS/RN promoverem cursos de pós-graduação, de capacitação, etc. no sentido de obterem 34 No trabalho de Argolo (2001) ele analisa os impactos psicológicos do desemprego e aponta a importância do apoio social dos familiares e amigos do desempregado, mas afirma que, na sua pesquisa, mesmo os desempregados que recebiam esse apoio ainda se sentiam sem apoio ou pouco apoiados. Ele atribui isso ao fato de que o apoio realmente esperado, ou seja, o apoio que realmente significaria a resolução do problema seria o institucional, advindo do Estado, sindicatos, associações, igrejas, etc. 164 a qualificação exigida pelo mercado de trabalho; mas esses cursos são vistos, também, como forma dos profissionais se manterem unidos e estimulados. Conforme o depoimento abaixo, coloca-se a importância do estímulo ao profissional formado até mesmo para evitar que as dificuldades enfrentadas para o acesso ao mercado de trabalho não venha a levar esses profissionais a desistirem facilmente da profissão: Acho que a UFRN e o CRESS poderiam juntos estar buscando essas pessoas de alguma forma; procurando saber o que estas pessoas estão fazendo, quais áreas elas estão trabalhando, se estão trabalhando, e procurar dar palestras, juntar essas pessoas, procurar incentivar essas pessoas. As pessoas estão fora do mercado de trabalho por falta de incentivo, porque assim: você faz um concurso, não passa, aí você faz outro, não passa, faz um terceiro, não passa você vai acabando ficando (...) , é uma profissão que eu escolhi, eu sei que tenho capacidade para isso, mas as dificuldades são muito grandes mas eu tenho que sobreviver, porque todo mundo tem que sobreviver, acaba saindo em outra área e acaba deixando a área de lado, quando a gente olha já é tarde, a gente deixa passar muito tempo, já passou dois anos, três, quatro e para voltar é muito difícil, seria interessante eles estarem se juntando, tentando juntar essas pessoas, fazendo palestras, uma forma de incentivo para que não desistam tão fácil. (36 –T) Quando interrogados sobre o que o mercado de trabalho está exigindo dos trabalhadores para que esses consigam se inserir, os elementos mais colocados foram: qualificação –18,89%, polivalência –12,22%, competência –10%, nível de escolaridade superior –8,89%, experiência profissional –7,78% capacitação –5,56%, dentre outros, conforme Tabela 16 a seguir. Quanto à investigação sobre os critérios que o mercado trabalho tem utilizado para a inserção do assistente social, os entrevistados apresentam alguns elementos que diferem dos critérios colocados para os trabalhadores em geral. Conforme Tabela 17, a seguir, os elementos mais citados foram: ter quem indique “QI” – 20,93%, ter pós-graduação –17,44% qualificação –12,79%, experiência profissional –6,98%, aprovação em concursos, atualização e competência - 5,81%, dentre outros elementos. 165 Percebe-se diante desses dados que na opinião dos assistentes sociais o elemento que mais tem contribuído para a inserção do assistente social no mercado de trabalho é o “QI”, critério que foi o mais citado pelos entrevistados. No depoimento desses profissionais eles colocam: Indicação, com certeza. O maior empregador é o Estado e a maioria é por indicação: muitos cargos comissionados.” (17 –T) O mercado é muito restrito àquelas pessoas que são conhecidas na área. Quando você tem um conhecido no local você consegue vaga, se não você deixa o currículo e não adianta nada. (11-D) Tabela 16 – Exigências do mercado de trabalho para a inserção dos trabalhadores. % EXIGÊNCIAS DO MERCADO DE TRABAL N°. Qualificação 17 18,89 Polivalência 11 12,22 Competência 9 10,00 Escolaridade Superior 8 8,89 Experiência 7 7,78 Capacitação 5 5,56 Atualização 4 4,44 Criatividade 4 4,44 Saber se comunicar 4 4,44 Compromisso com a empresa 3 3,33 Aparência Física 3 3,33 Curso de Línguas e informática 3 3,33 Indicação 2 2,22 Trabalhar em equipe 2 2,22 Competitividade 2 2,22 Desempenho 1 1,11 Perfil propositivo 1 1,11 Ser flexível 1 1,11 Gostar do que faz 1 1,11 Ter força de vontade 1 1,11 Visão ampla da atividade 1 1,11 TOTAL 100 90 Nota: Mais de uma resposta por entrevistado 166 Tabela 17 – Exigências do mercado de trabalho para a inserção dos assistentes sociais. EXIGÊNCIAS DO MERCADO DE TRABALHO PARA OS ASSISTENTES SOCIAIS Ter “QI” (quem indique) Pós Graduação Qualificação Experiência profissional Aprovação em concursos Atualização Competência Criatividade Conhecimento multidisciplinar Capacitação Boa formação acadêmica Dinamicidade Trabalhar em equipe Iniciativa Coragem Insistência Perseverança Usar bem a linguagem Gostar do que faz Ser acessível Assiduidade TOTAL Nota: Mais de uma resposta por entrevistado N°. % 18 15 11 6 6 5 5 3 3 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 86 20,93 17,44 12,79 6,98 6,98 5,81 5,81 3,49 3,49 2,33 2,33 1,16 1,16 1,16 1,16 1,16 1,16 1,16 1,16 1,16 1,16 100 Os profissionais afirmam que existem os que conseguem se inserir no mercado de trabalho por estarem realmente preparados, pela sua competência e formação; mas reconhecem a existência do “ QI” e que essa forma de acesso ao mercado de trabalho tem, muitas vezes, dificultado o acesso daqueles que estão realmente preparados para exercer a profissão e se posicionam eticamente contra isso: Aqui em Natal tem muita política de clientelismo. Eu tenho colegas que são extremamente competente, qualificadas e brigaram muito para entrar no mercado de trabalho e conseguiram por capacidade própria, mas a gente sabe que outros profissionais não respeitam o que está no código, agente sabe que há muito apadrinhamento, não adianta esconder é sobrinha de vereador tal... se tiver gente de costas largas se dá bem. (42 –D) 167 A questão do apadrinhamento, embora eu acredite, lute, acredite muito no potencial de cada um e que a gente pode tá vislumbrando conseguir sobressair sobre esse aspecto, mas infelizmente ainda existe muito isso, colegas que se formaram comigo que nunca tiveram nenhuma atuação política e ética e nem continuam tendo, conseguiram ocupar espaço via apadrinhamento. E alguns conseguiram se inserir pela capacidade, pela competência mesmo e conseguiram tá se engajando profissionalmente. (43 –D) Portanto, há um reconhecimento por parte dos profissionais da importância da qualificação. Não se nega que o profissional tem que buscar constantemente aumentar os seus conhecimentos, seus títulos. Mas, o que os entrevistados colocam é que além dessa qualificação é necessário que o profissional tenha alguém influente que facilite o seu acesso ao mercado de trabalho. Como coloca o seguinte depoimento: Qualificação e QI; estão qualificados, mas só entram se conhecer alguém. ( 03 –T) Conforme Tabela 17, a aprovação em concursos é o quinto elemento mais citado entre os critérios utilizados para o acesso do assistente social no mercado de trabalho. No entanto, até mesmo esse critério é criticado pelos assistentes sociais, onde os mesmos colocam o problema da não convocação de aprovados em concursos e a existência de apadrinhamento político ou do famoso “QI” como forma de acesso ao emprego. Sendo isso, um componente do desestímulo de alguns assistentes sociais para a procura de um emprego: O mercado de trabalho do Serviço Social sofre muita influência política. É muito do que QI quem indique, até se você passa num concurso legalmente, se você não tiver alguém que te ajude lá dentro, se você brincar, outra pessoa fica no seu lugar e você não é chamado, porque eu conheço várias pessoas, que passaram em concurso que teve nessas prefeituras do interior, e que até hoje não foi chamada, e tem gente de contrato temporário que conhece o prefeito, porque tem alguém na família, tá ocupando vaga de uma pessoa que é capacitada, que foi preparada para aquilo. Prestei concurso para Tibau, fiquei em segundo lugar e nunca fui chamada. Depois estudei mas não aparecia concurso na área, só aparecia mais para o interior. Eu não ia ficar tentando para o interior porque já tinha passado em vários e nenhum me chamou, então eu achei que não deveria investir. (40 –D) 168 A afirmação dos entrevistados de que o “QI” tem sido o principal critério para a inserção do assistente social no mercado de trabalho em Natal/RN, não poder ser nesse estudo colocada como fato comprovado através de dados, pois necessitaria de entrevistas com os profissionais que estão inseridos no mercado de trabalho, verificando a forma de acesso utilizada. No entanto, foi investigada a forma de acesso dos profissionais entrevistados que estão no mercado de trabalho exercendo outras atividades, como também a forma de acesso daqueles que já tiveram oportunidade de exercer a profissão de assistente social. Conforme mostra o Gráfico 08 a seguir, dos 12 entrevistados que já exerceram a profissão de assistente social 51% conseguiram o trabalho através de indicação de parentes ou amigos que trabalhavam no local; 33% conseguiram o trabalho de assistente social através de algum político conhecido, entre outros. Conforme Gráfico 09 a seguir, dos 28 entrevistados que estão hoje em outras atividades profissionais 36% se inseriram nessa atividade através de aprovação em algum processo seletivo como concursos e entrevistas, 21% se inseriram através de indicação de parentes ou amigos que trabalham no local, 14% não responderam, 11% se inseriram através de procura espontânea, 11% permaneceram na atividade após realização de estágio curricular e 07% conseguiram esse emprego atual através de apadrinhamento político Percebe-se que nas outras atividades a maior parte se inseriu no mercado de trabalho através de um processo seletivo: concurso público, análise de currículos e entrevistas. A indicação de parentes ou amigos aparece em segundo lugar. Os que já exerceram a profissão de assistente social tiveram acesso ao trabalho através da indicação de parentes ou amigos e do apadrinhamento político. O acesso através de um processo seletivo público nem ao menos aparece. 169 Procura expontânea 8 Indicação de parentes ou am igos 51 Apadrinham ento político 33 Es tágio curricular 8 0 10 20 30 40 50 60 % Gráfico 08 – Formas de acesso ao trabalho de assistente social (dos que já exerceram). Indicação de parentes ou amigos 21 14 Não informou 36 Processo seletivo Apadrinnhamento político 7 Procura expontânea 11 Estágio curricular 11 0 5 10 15 20 25 30 35 40 % Gráfico 09 – Formas de acesso ao trabalho na atividade atual. Ressalte-se que 04 profissionais, dos 12 que já exerceram a profissão, exerceram uma atividade voluntária, não podendo nem se considerar aí uma inserção no mercado de trabalho, 170 mas mesmo assim, chegaram até essa atividade através de alguém conhecido que trabalha na instituição. Segundo dados da pesquisa realizada pelo Conselho Federal do Serviço Social CFESS em parceria com os Conselhos Regionais do Serviço Social - CRESS no ano de 1999 sobre o perfil dos assistentes sociais do Rio Grande do Norte, a forma de ingresso no emprego dos assistentes sociais que trabalhavam, ficou assim distribuído: 47,44% (102) concurso público, 26,05% (56) convite, 14,42% (31) seleção, 1,86% (04) contrato por tempo determinado e 10,23% (22) outros. (CRESS, 1999). Percebe-se então que o convite foi a segunda forma de acesso do assistente social ao emprego Portanto, entre os critérios utilizados para o acesso dos assistentes sociais ao mercado de trabalho, em Natal/RN, está presente a indicação e o apadrinhamento político. Isso é algo que traz sérios prejuízos para a profissão como o descrédito e o desestímulo para os profissionais que estão à procura de uma vaga nesse mercado. Esse fato está ligado à forma com que historicamente aqueles que detêm o poder em nossa sociedade, nacional e local, tratam as políticas sociais: através do clientelismo e paternalismo. Com o fato da profissão do Serviço Social trabalhar direta ou indiretamente com a implementação das políticas sociais, ainda existem muitos empregadores que adotam o critério de escolha do profissional através do seu aval, pois querem colocar para trabalhar nessa atividade pessoas de sua confiança, para executar o trabalho dentro de seus interesses. Em documento do CFESS o mesmo afirma que A inserção do assistente social no mercado de trabalho acontece por meio de concursos públicos, processos seletivos, amplamente divulgados em órgãos de imprensa, ou em modalidades escolhidas para oferta de emprego ou solicitação de serviços técnicos especializados. É uma profissão que considera uma questão ética o submeter-se a processos transparentes, públicos, na medida em que se publica e defende princípios de democracia e de probidade. 171 Pode-se perceber que o que tem provocado a existência do “QI” em muitos casos é o fato de que a inserção se dá em trabalhos realizados de forma não regulamentada pela Legislação que garante os direitos trabalhistas e a forma democrática e coletiva da seleção; ou seja, são trabalhos que ficam dentro do que o CFESS coloca de “prestação de serviços técnicos especializados” ou até mesmo acontece os chamados desvios de função onde os assistentes sociais trabalham, mas não são contratados com essa função. Sabemos que é muito mais interessante para os empregadores contratar o assistente social dessa forma, através da indicação para um trabalho com condições precárias, do que contratar um profissional através de um concurso público onde as condições de trabalho serão melhores para o assistente social. Outro elemento que, segundo os entrevistados, o profissional precisa ter para conseguir se inserir no mercado de trabalho, além da qualificação, é o envolvimento, a participação em eventos e políticas para que assim, ele se torne conhecido e lembrado num momento que surja uma oportunidade de emprego. É a necessidade das relações sociais e do engajamento do profissional como possibilidade de inserção no mercado de trabalho. ... acho que ele tem que ser bastante qualificado, tem que conhecer a realidade, tem que se engajar com políticas, com as que ele pode viabilizar. (29 –T) ... os títulos, tem que ter, participar de bastante eventos, relacionados a área.” (30-T) Um dos assistentes sociais entrevistados até já adotou essa atitude. Ao ser perguntado sobre quais tentativas já empreendeu para conseguir se inserir no mercado de trabalho, respondeu: Eu procuro estar sempre presente onde tiver acontecendo qualquer coisa que envolva a categoria, o serviço social pra que eu esteja sendo lembrada. Assim se surgir alguma oportunidade, por exemplo: tem uma vaga em canto tal, então alguém pode tá me vendo, vendo o meu interesse, minha desenvoltura e tá tentando me encaixar. (44 –T) 172 Apesar dos assistentes sociais acreditarem que os critérios: “QI”, influência e relacionamentos são formas existentes de acesso ao mercado de trabalho - que dificultam o acesso daqueles que não os têm – esses profissionais também reconhecem a importância da formação acadêmica e da qualidade dessa formação: a participação, o investimento pessoal, a dedicação do aluno, apontando que isso pode ser um diferencial na inserção do profissional no mercado de trabalho: A indicação e o preparo da pessoa, ter sido uma pessoa interessada no curso, participar de vários seminários, cursos, um estudante que sai com um currículo bom. ( 27 –D) Sua formação, experiência mesmo acadêmica, eu digo assim porque eu, quando eu terminei eu senti falta de não ter participado tanto, como eu gostaria, da vida acadêmica e olhe que eu cheguei a entrar em base de pesquisa, mas tive que abrir mão porque tinha que trabalhar. Então eu acho que quem tiver oportunidade eu acho que faz a diferença. Ter uma boa formação mas também a questão de possibilidade porque tem muita gente boa por aí. ( 23 –T) Ressalte-se a importância da boa formação acadêmica. Entretanto, não se pode dizer que esse critério é o que tem garantido o acesso ao mercado de trabalho, até porque se fosse assim, estaria confirmado que as pessoas que não conseguiram se inserir no mercado são as que não tiveram uma boa formação. Não se pode esquecer também que a boa formação não depende unicamente da vontade que o profissional teve durante a formação acadêmica de investir ou não na formação. As condições objetivas de cada um em investir na sua formação acadêmica são diferentes. Por outro lado, pode haver muitos profissionais que investiram bastante na sua formação profissional, mas que por vários outros motivos não conseguiram ainda se inserir no mercado de trabalho, como por exemplo: a falta de experiência profissional, pois a participação que tiveram como estudante não é considerada e até a falta do apadrinhamento político. 173 Acreditamos que o problema da existência do apadrinhamento político ou do famoso “QI” no mercado de trabalho do Serviço Social hoje passa não mais pela falta de interesse dos empregadores em trabalhar o social ou de trabalhar com profissionais sem qualificação profissional. O que se vê hoje é que há o reconhecimento, por parte dos empregadores, da importância da qualificação, mas além da qualificação profissional, eles utilizam o critério do conhecimento pessoal, pois precisam continuar tratando as políticas sociais e a implementação delas como benesse, e assim, até mesmo o acesso do profissional fica, muitas vezes, na esfera da troca de favores. Nota-se que, na perspectiva de muitos empregadores que mantêm um posicionamento paternalista e “politiqueiro” o Serviço Social é uma profissão que, mais do que outras, precisa estar “do lado do patrão”, uma vez que trabalha com implementação de políticas, com a formação de opinião, com o acesso direto à população. O empregador precisa de sua atuação, pois sabe que ela pode contribuir ou ir de encontro aos seus interesses. Como analisa Iamamoto ( 2000, p.71) sobre o conteúdo do trabalho do assistente social: É um trabalho cujo conteúdo está amplamente vinculado ao campo político e ideológico. Implica conhecimentos e valores, contribuindo junto a outras forças sociais na criação de consensos em torno de projetos societários. Diante de todas as dificuldade existentes no mercado de trabalho, a pesquisa aprofunda um conhecimento sobre as tentativas que têm sido empreendidas, pelos profissionais entrevistados, para conseguirem se inserir no mercado de trabalho. Conforme mostra o Gráfico 10 a seguir, 47% das tentativas empreendidas para se inserir no mercado de trabalho profissional foi a realização de concursos para assistente social, 25% das tentativas foi a entrega de currículos, 11% contatos com pessoas influentes, 06% a realização de cursos 174 de capacitação na área do Serviço Social, 06% nenhuma tentativa para se inserir no mercado de trabalho da profissão e 05% realizou outras tentativas, como: pesquisa na Internet, classificados de jornal, realização de atividade voluntária para adquirir experiência profissional. 60 50 47 % 40 30 25 20 11 10 6 6 5 Cursos Nenhuma Outras 0 Consursos Entrega de Contatos currículos com pessoas influentes Gráfico 10 – Tentativas para se inserir no mercado de trabalho do serviço social. Ficou demonstrado que os profissionais têm feito várias tentativas para se inserir no mercado de trabalho, principalmente a realização de concursos e a entrega de currículos. Existem aqueles que já empreenderam algumas tentativas consideradas como de “último recurso” que é o contato com pessoas influentes e a busca por atividades voluntárias. Como já citado anteriormente, na questão do que tem colocado o assistente social no mercado trabalho, um dos principais critérios referidos pelos entrevistados é a indicação “QI”. Daí a busca de alguns por contato com pessoas influentes como tentativa de conseguir um emprego. Na questão de a que atribuem o fato de não estar inserido no mercado trabalho, muitos citaram a falta de experiência profissional e daí a busca por exercer alguma atividade “voluntária” no 175 sentido de adquirirem essa experiência exigida pelo mercado. Como afirma-se nos seguintes depoimentos: Desde que acabei o curso faço concurso e não passo; as vagas são poucas. Algumas amigas estão num trabalho voluntário para conseguir experiência, eu não posso, não tenho tempo.( 01 –T) Procurei fazer um trabalho voluntário, fui num monte de lugares, mas só que eles alegavam que não aceitavam trabalho voluntário porque o pessoal entrava como voluntário e quando saía colocava a instituição na Justiça. Só aceitava voluntário se ele tivesse vínculo com a Universidade como aluno. Aí fui na ATIVA fui no MEIOS, fui num monte de instituições para mim entrar como voluntária. Fiquei no CACC, no hospital infantil... ( 40 –D) Os profissionais, nessa tentativa de enfrentar a situação de não-inserção no mercado de trabalho profissional, exercendo uma atividade voluntária para adquirirem a experiência profissional, são levados a provocar uma situação de agravamento da situação do desemprego na profissão, pois enquanto os postos de trabalho forem ocupados por voluntários empregos deixam de ser criados uma vez que interessa muito mais aos empregadores uma mão de obra qualificada e gratuita do que contratarem profissionais e pagarem por seus serviços. Poucos foram os profissionais que não fizeram nenhuma tentativa para se inserir no mercado de trabalho ( 05 dos 45). Esses que não fizeram nenhuma tentativa para se inserir no mercado de trabalho, 04 estão entre os que trabalham em outras atividades e 01 entre os desempregados. Dentre esses profissionais que trabalham e não fizeram nenhuma tentativa para exercer a profissão está uma que justificou que nunca tentou nada porque não confia nos processos seletivos: 176 Nenhuma. Eu confesso que eu nunca fui muito atrás disso não, até porque eu não confio. Quando aparece um concurso eu olho o número de vagas, sempre são dois, três, agente sabe que acontece aquele apadrinhamento da mesma forma que eu entrei sem concurso, se bem que lá é sem concurso, mas agente sabe que da mesma forma que eu entrei lá por indicação isso acontece nos concursos. Então é muito frustrante a gente saber que a gente estudou pra caramba pra entrar num concurso, agente vai com uma expectativa que não tem como você não ir, por menos vagas que são oferecidas você cria uma expectativa, e você vê alguém na sua sala que recebeu o gabarito, então isso me desestimulou e hoje eu penso muito e quando me dizem que tem concursos eu pergunto logo quantas vagas. Então eu não faço qualquer concurso, eu não vou a qualquer lugar. Então eu não busco, não busquei muito não. ( 24 –T) Apesar de todas as dificuldades enfrentadas pelos profissionais em conseguir um lugar no mercado trabalho para exercer a profissão de assistente social, a maioria quer exercer a profissão. Conforme Gráfico 11 a seguir, 84% dos assistentes sociais entrevistados afirmaram ter vontade de exercer a profissão e apenas 16% não têm vontade de exercer a profissão. Não 16% Sim 84% Gráfico 11 – Vontade de exercer a profissão de assistente social (quadro geral). Entre os assistentes sociais que trabalham em outras atividades, quando perguntamos se tinham vontade de exercer a profissão 89% responderam que sim e 11% que não, como mostra o Gráfico 12 a seguir. Já os assistentes sociais desempregados 76% responderam que têm vontade de exercer a profissão de assistente social e 24% responderam que não, como vemos no Gráfico 13 a seguir. Vê-se, portanto que o índice dos que não têm vontade de 177 exercer a profissão é maior entre os assistentes sociais desempregados, o que nos leva a perceber como o desemprego pode influenciar negativamente sobre a pessoa provocando pessimismo e desestímulo para com a profissão. não 11% sim 89% Gráfico 12 – Vontade de exercer a profissão de assistente social .(dos que trabalham em outras atividades). não 24% sim 76% Gráfico 13 – Vontade de exercer a profissão de assistente social. (dos desempregados). Dos assistentes sociais que trabalham em outras atividades profissionais e não têm vontade de exercer a profissão de assistente social a justificativa foi a de que preferem hoje a atividade que exercem porque se identificaram com a mesma, ou porque o salário é melhor, como podemos ver nos seguintes depoimentos: 178 Eu ficaria aqui no escritório mesmo não apostaria mais em serviço social é tanto que vai ter um concurso né da Prefeitura e eu nem me inscrevi nem nada. ( 20 –T) Eu não ia nem me arriscar, me arriscar como, eu iria investir sem saber se eu teria retorno, o mercado está cheio de pessoas que tem muito mais tempo do que eu para estudar, eu sou mãe, trabalho oito horas por dia, é muito difícil ter a pretensão de passar num concurso, e outra: a prefeitura da cidade do Natal, interior e Estado (?), então foi cômodo para mim ficar aqui quando foram impostas e oferecidas as condições. (29 –T) Além das condições de trabalho, as quais os profissionais que estão trabalhando em outras atividades se referem, serem melhores no sentido financeiro, carga horária etc; alguns profissionais citam também a questão do tipo de trabalho exercido pelo assistente social. Refere-se que o trabalho do assistente social é muito difícil, não tem reconhecimento e que o assistente social enfrenta uma sobrecarga de trabalho. ... é uma profissão que tem um desafio contínuo, ninguém abraça Serviço Social se não for realmente capaz e corajosa , eu ficava sempre me questionando, aqui para o Serviço Social só vêm problemas, alguns simples, só de orientação, mas só problemas, problemas, tem que ter muita coragem. Eu vejo assim não vale a pena eu ocupar uma função só para segurar o status,, quero trabalhar numa coisa que me dê prazer e tenha reconhecimento profissional, é muito importante, é o que motiva entendeu a nossa prática, e eu vi que o Serviço Social infelizmente, algumas instituições tratam o Assistente Social como um quebra galho, uma pessoa que ta ali só para cumprir o que já está determinado, não tem muito autonomia. (39 –T) ... as pessoas sempre colocavam coisas a mais, diziam há vocês lêem mais, há vocês entendem disso, então sobrecarregam a gente até de fazer um ofício, porque achavam que só agente tinha competência pra aquilo, então eles colocavam tudo pra gente e eu não era remunerada pra isso, não era bem remunerada nem pra minha parte de assistente social imagine pra tudo aquilo. Então eu recebi uma proposta de trabalho que não era exatamente na área .. (24 – T) Entre os assistentes sociais que estão desempregados, as justificativas para o fato de não terem vontade de exercer a profissão foram os baixos salários que são oferecidos e a não identificação com a profissão: 179 Os salários são muito baixos. Está estudando pra um concurso de assistente social, em vez de está estudando pra um concurso pra qualquer nível superior que dá um salário de dois mil, três mil reais como esse que eu estou estudando? (26 –D) O curso não me interessa. Entrei com grande motivação, mas quando vi não gostei. Não sei se é porque tinha uma visão de que era uma coisa muito fácil, tipo cuidar de velhinhos. ( 12 –D) Percebe-se que, muitas vezes, um dos motivos que contribuem para esses profissionais não estarem exercendo a profissão é o medo ou a insegurança para a atuação profissional, pois vêem a prática do assistente social como algo muito difícil e sofredor, levando-os assim a preferirem não se “arriscar”: Outro elemento apontado nos depoimentos, como um dos motivos para não inserção no mercado de trabalho, foi a questão da indefinição na escolha do curso ou a não identificação com a profissão. Isso nos levou a indagar: o que levou esses profissionais a escolherem o curso de Serviço Social? Por que afirmam agora não se identificar com a profissão para a qual estudaram durante cinco anos? Essa não identificação é realmente algo que tem a ver com a profissão em si ou é determinada pelo fato da dificuldade de inserção no mercado de trabalho? Sobre os motivos que levaram à escolha pelo curso do serviço social vemos que 28,30% afirmou que escolheu fazer Serviço Social porque a concorrência no vestibular era menor35, 20,75% porque achava uma profissão bonita e queria ajudar as pessoas e 20,75% escolheu o curso porque algum parente ou amigo seu era assistente social e aconselharam a fazer serviço social (Conforme Gráfico 14 a seguir). 35 Dos 15 profissionais que escolheram o curso porque a concorrência no vestibular era menor 08 afirmaram que tinham vontade de fazer outro curso( 05- Psicologia, 02- Medicina e 01-Enfermagem), 04 já tinham feito vestibular para outros cursos e não tinham sido aprovados(02-Psicologia, 01- Direito e 01- Fisioterapia) 180 Devido à inserção em movimentos sociais 7,55 Através de teste vocacional 9,43 É uma profissão que trabalha com pessoas 13,21 Influência de parentes ou amigos 20,75 Achava uma profissão bonita 20,75 A concorrência no vestibular era menor 28,30 0 5 10 15 20 25 30 35 40 % Gráfico 14 – Motivos da escolha pelo curso de Serviço Social. Nota-se que os motivos da escolha do curso são extremamente frágeis, pois não demonstram uma escolha livre e consciente do aluno. A escolha foi baseada numa possível facilidade de entrar na universidade ou por influência de alguém. Muitas vezes, a escolha pelo curso de Serviço Social é baseada numa visão errônea, existente na sociedade, sobre a profissão. Um fato que é conhecido no meio acadêmico, e que se confirma na pesquisa, é a confusão que algumas pessoas fazem entre Serviço Social e outras profissões, principalmente com Psicologia. Em alguns depoimentos, coloca-se que escolheram o curso de Serviço Social porque achavam parecido com Psicologia. Li um jornalzinho da UFRN que tinha um pouco sobre cada profissão, eu fui estudando uma a uma pra ver qual que eu me inseria melhor. Em primeira mão ficou Psicologia o segundo ficou pra Serviço Social, como eu já tinha feito pra Psicologia e não tinha passado, resolvi fazer pra Serviço Social. Não tinha conhecimento de como se dava a atuação do assistente social , ... não é todo mundo que sabe o que o assistente social faz ou deixa de fazer. Eu achava que o assistente social fazia coisas parecidas com as do psicólogo. (44 – T) 181 Esse fato pode ser atribuído a uma visão equivocada sobre o trabalho do assistente social que, por lidar diretamente com os usuários na socialização de informações, orientações etc , muitas vezes, as pessoas erroneamente confundem o seu trabalho com o do psicólogo. Também se pode atribuir a algumas ações que existiram no passado da profissão as quais tiveram uma perspectiva psicologizante onde o objetivo era se trabalhar o comportamento do indivíduo. (Vide análise da história da profissão no Capítulo 02 desse trabalho) Nota-se que a indefinição pessoal na escolha pelo curso contribui para o não investimento necessário na formação. Como vemos claramente no depoimento de uma das profissionais: Logo no início fiquei muito indefinida sobre o que queria fazer, então isso contribuiu para eu não investir tanto no curso, acho que essa minha indefinição não ajudou tanto ao meu investimento no curso. ( 31 – T) Constata-se, assim, a importância da escolha pessoal e segura do curso para a qualidade da formação acadêmica, pois a falta dessa, provoca muitas vezes a não disposição do aluno em investir na sua formação, uma vez que não dá a devida importância àquela profissão e aos conhecimentos que perpassam a formação profissional. Da mesma forma, como afirmamos anteriormente que não temos condições de, nesse estudo, fazer uma análise sobre a relação entre a qualidade da formação acadêmica e a inserção, ou não, no mercado de trabalho, também não se pode determinar aqui a relação existente entre os motivos da escolha do curso e as possibilidades de inserção no mercado de trabalho. Entretanto, afirma que a escolha de curso de uma forma espontânea e segura faz com que facilite o investimento e a dedicação na formação profissional e, conseqüentemente, contribui para uma visão mais profunda sobre a profissão. 182 A escolha de um curso, muitas vezes, se dá de uma forma não muito consciente pela maioria dos que fazem o vestibular devido a falta de experiência e a falta de conhecimento sobre os cursos e profissões, os quais muitas vezes não são divulgados, ou são poucos divulgados, para os estudantes. Portanto, essa falta de conhecimento do Serviço Social no momento da escolha do curso, observada na pesquisa, é algo que acontece com vários outros cursos, demonstrando-se com isso, a necessidade da existência de uma maior divulgação.dos cursos universitários para a sociedade. Muitas pessoas escolhem um curso de uma forma não muito esclarecida sobre o mesmo, e só vêm a conhecer realmente esse curso após a formação iniciada e, mesmo assim, passam a se identificar com aquela profissão. Perguntando aos profissionais entrevistados se fossem iniciar a formação acadêmica hoje que curso fariam, 60% responderam que hoje fariam outro curso e 40% fariam Serviço Social, conforme demonstrou o Gráfico 01 no capítulo 2 deste trabalho. Com isso, vê-se a relação que os assistentes sociais fazem entre a não-inserção no mercado de trabalho com a profissão em si, levando-os a umaecusa ao curso e à perspectiva de que se tivessem feito um outro curso poderiam estar inseridos no mercado de trabalho. Fazendo uma comparação das respostas dos que trabalham em outras atividades e dos que estão desempregados chega-se ao seguinte quadro: dos que trabalham em outras atividades 60,71% fariam outro curso hoje e 39,29% fariam Serviço Social novamente, conforme Gráfico 15 a seguir. Dos que estão desempregados 59% fariam outro curso e 41% fariam serviço social novamente, conforme Gráfico 16 a seguir. Portanto, a perspectiva de fazer Serviço Social ou fazer outro curso é proporcional entre os que trabalham em outras atividades e os desempregados. 183 Fariam serviço social 39,29 Hoje fariam outro curso 60,71 0 10 20 30 40 50 60 70 % Gráfico 15 – Perspectiva quanto à opção de fazer Serviço Social hoje. ( Dos que estão em outras atividades) Quando perguntamos aos assistentes sociais que curso eles fariam se fossem iniciar a formação acadêmica hoje, dos que citaram outros cursos, e não Serviço Social, os cursos mais citados foram: Direito (32,35%), Administração(14,71%), Enfermagem(8,82%), Psicologia, Nutrição e Ciências Contábeis (5,88% cada uma), dentre outros, conforme Tabela 18 a seguir. Fariam serviço social 41 Hoje fariam outro curso 59 0 10 20 30 40 50 60 % Gráfico 16 – Perspectiva quanto à opção de fazer Serviço Social hoje. (dos desempregados). 70 184 Tabela 18 - Cursos que os assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social fariam hoje % CURSOS CITADOS N°. Direito 11 32,35 Administração 5 14,71 Enfermagem 3 8,82 Não definiram um curso 3 8,82 Psicologia 2 5,88 Nutrição 2 5,88 Ciências Contábeis 2 5,88 Medicina 1 2,94 Arquitetura ou Moda 1 2,94 Pedagogia 1 2,94 Letras 1 2,94 Filosofia 1 2,94 Lazer e Qualidade de Vida 1 2,94 TOTAL 34 100 Nota: mais de uma resposta por pessoas Ressalte-se que o principal motivo colocado pelos assistentes sociais para a escolha de outros cursos foi que as oportunidades de acesso ao mercado de trabalho seriam maiores. Como mostrou a Tabela 01: 51,85% afirmaram que esse outro curso escolhido tem mais oportunidade no mercado de trabalho, 22,22% responderam que se identificam com esse outro curso, 14,81% justificaram que o fato de ter feito Serviço Social o leva a escolher esse outro curso hoje. Portanto, os motivos da escolha de outro curso estão relacionados à questão do acesso ao mercado de trabalho. Há o pensamento entre os profissionais de que esse outro curso escolhido tem mais possibilidade de se conseguir um emprego. Percebe-se que os assistentes sociais gostam da profissão, mas pelas dificuldades que enfrentam em se inserir no mercado optariam em fazer outro curso hoje. Podemos perceber isso no fato de que apesar de 60% dos assistentes sociais terem afirmado que fariam outro curso hoje, 84% afirmaram ter vontade de exercer a profissão de assistente social, conforme vimos no Gráfico 11. Nos depoimentos 185 seguintes, os profissionais referem-se à essa justificativa de fazer outro curso no sentido de atender melhor as oportunidades do mercado de trabalho: Gosto do Serviço Social, mas devido o desemprego eu não o faria mais. Faria Enfermagem. Não conheço nenhuma enfermeira desempregada. (08 – T) Eu faria para Direito, não no sentido de ser advogado. Se você abrir uma folha dirigida hoje em dia: concurso pra Direito. Tudo o que você for fazer tem Direito, por exemplo, o do INCRA: Direito Constitucional, Lei da Reforma Agrária. Acho que escolheria pelo lado financeiro. ( 30 – T) Eu faria Administração ou Contabilidade, por causa do mercado de trabalho, talvez não fosse aquilo que eu estaria sonhando, mas por causa do mercado de trabalho. Dificilmente você não acha um concurso que não tenha Contabilidade ou Administração.( 32 – T) Percebe-se que o fato de não estar exercendo a profissão é mais uma vez atribuída à profissão e não ao mercado de trabalho em geral. Nota-se uma análise equivocada sobre algumas profissões como se essas tivessem toda uma condição de facilidade de acesso ao mercado de trabalho, fato esse que não corresponde a realidade, pois algumas pessoas que possuem formação em várias outras áreas, até mesmo nessas áreas citadas pelos entrevistados, também não conseguem uma vaga no mercado de trabalho. Não há referência nas entrevistas sobre a realidade do mercado de trabalho onde um grande número de profissionais com nível de escolaridade superior estão desempregados ou exercendo atividades que não se relacionam com a sua formação e, muitas vezes, em atividades que demandam um nível de qualificação bem menor do que a que eles dispõem. Outro motivo colocado pelos assistentes sociais para a escolha de outro curso, se fossem iniciar a formação acadêmica hoje, foi o fato de se identificarem mais com aquela 186 profissão do que com o Serviço Social, conforme vimos na Tabela 01: 22,22%. Alguns até estão fazendo uma graduação nessa outra área. Desses profissionais que escolheriam fazer outro curso hoje por motivo de se identificarem mais com essa outra profissão do que com o Serviço Social, 03 trabalham em atividades referentes ao curso que fariam hoje e 03 estão desempregados. Eu faria pra Contábeis, eu já fiz né. Eu comecei a trabalhar aqui eu só tinha segundo grau, eu gosto do serviço, eu gosto muito. ( 20 – T) Hoje eu faria Administração. A minha experiência profissional me levou a perceber que eu tenho uma certa tendência por essa profissão, de trabalhar com administração, eu gosto. ( 45 – T) Psicologia porque era o curso que eu queria desde o início. ( 05 – T) Direito porque no primeiro não passei, então eu não acreditei que fosse capaz de passar em outro., aí tentei um menos concorrido. ( 26 – D) Percebe-se com isso que o curso escolhido por alguns profissionais está relacionado à atividade que exercem atualmente, e outros pelo fato de se identificarem com esse outro curso escolhido. Esses não fizeram antes o curso que afirmam se identificarem ao invés de ter feito Serviço Social justamente pelo fato de acharem que não teriam condições de passar no vestibular para aquele curso e que para serviço social teria mais chances devido a concorrência no vestibular ser menor. Percebe-se também, entre os motivos para a escolha de outros cursos, o fato de se dar uma continuidade ou uma complementação da formação em Serviço Social. Como citaram os seguintes entrevistados: 187 Eu digo que faria Direito a partir da formação que eu tenho, por eu trabalhar com adolescente infrator, por ter estagiado onde eu estagiei, a partir da minha vivência, antes nunca passou pela minha cabeça. Eu pretendo fazer uma pós-graduação na área, mas Direito em algum momento da minha vida eu vou fazer. ( 23 – T) Direito, pra ser uma assistente social que conhece Direito, já que o assistente social trabalha com os direitos sociais, pra você ter o conhecimento de que direitos são esses. ( 44 – T) Entre os que responderam que fariam Serviço Social se fossem iniciar a formação acadêmica hoje, as justificativas para essa escolha foram: 38,89% se identificam com a profissão, 11,11% acreditam que é uma profissão que pode fazer muito pelas pessoas, 11,11% porque a formação em Serviço Social proporciona uma visão e também uma atuação ampla, e 11,11% porque é uma profissão com perspectiva de crescimento, dentre outras, conforme Tabela 19 a seguir. Pode-se perceber que os motivos pelos quais alguns entrevistados fariam hoje Serviço Social são motivos mais consistentes e mais próximos da realidade da profissão do que aqueles motivos de quando escolheram o curso no início da formação acadêmica. No entanto, alguns profissionais mesmo após a formação continuam justificando a escolha pelo curso de Serviço Social com motivos muito relacionados ao senso comum como também colocam elementos para o profissional que vão além de suas possibilidades. Nota-se que há entre alguns assistentes sociais a visão de que a perspectiva a ser assumida pela profissão daqui pra frente vai depender da força de vontade dos profissionais e também vê-se o assistente social como o profissional que sabe tudo, aspectos detectados nos depoimentos abaixo: Serviço Social. Por esse lado humano de ajudar as pessoas. Me identifico com as pessoas mais humildes. ( 07 – D) 188 É uma profissão que me identifico, tem perspectiva e vai depender da força de vontade do profissional. ( 09 – D) Eu gosto de Serviço Social tem inúmeras possibilidades de você atuar , ela é abrangente demais, ela é muito interessante, acho que o profissional devia ter uma remuneração boa, mas ênfase nele porque ele é quem sabe tudo. ( 34 – T) Tabela 19 - Motivos para a escolha do curso de Serviço Social hoje MOTIVOS PARA A ESCOLHA Identifica-se com a profissão Não respondeu Profissão que pode fazer muito pelas pessoas Formação proporciona uma visão e atuação amplas Profissão com perspectiva de crescimento É uma profissão importante para a sociedade Pelo compromisso ético-político da profissão TOTAL Nota: Mais de resposta por pessoa N°. 7 3 2 2 2 1 1 18 % 38,89 16,67 11,11 11,11 11,11 5,56 5,56 100 Quando perguntamos aos assistentes sociais qual é a função da UFRN e se ela pode contribuir de alguma forma com a inserção deles no mercado de trabalho, a formação profissional e o estímulo ao conhecimento e crescimento profissional foram as principais funções da UFRN, conforme Gráfico 17 a seguir. Segundo a análise dos entrevistados a UFRN deve formar o profissional e também incentivar a continuidade dessa formação e a forma como pode acontecer esse estímulo é colocada pelos próprios profissionais quando fazem as sugestões de ações para a UFRN, como vemos no Gráfico 18 a seguir: promover cursos em áreas específicas, divulgar na mídia os cursos, oferecer cursos mais acessíveis no sentido de horários e taxas. 189 Promoção da intermediação como mercado de trabalho 6,67 Orientação e Preparação para o mercado de trabalho 8,89 11,11 Não respondeu Promoção do conhecimento e crescimento profissional 28,89 Formação profissional 44,44 0 10 20 30 40 50 % Gráfico 17 – Função da UFRN na opinião dos assistentes sociais não inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social. Encontros e congressos da categoria profissional 4,65 Cursos preparatórios em áreas especificas 4,65 Divulgação de oportunidades de vagas no mercado de trabalho 4,65 Facilitação do acesso aos cursos de pós-graduação 4,65 Ela já contribui no momento em que oferece os cursos de pós-graduação 4,65 6,98 Divulgação dos cursos existentes Acompanhamento da situação dos egressos 9,30 Intermediação com o mercado de trabalho 9,30 11,63 Ela não pode fazer nada pois a parte de la é apenas formar o profissional 39,53 Não fizeram nenhuma sugestão 0 10 20 30 40 50 % Gráfico 18 – Sugestões para a UFRN contribuir para a inserção dos profissionais formados no mercado de trabalho. Alguns profissionais analisam a função da UFRN voltada especificamente para a questão do mercado de trabalho, colocando que a mesma deve orientar e preparar para o mercado. Há o depoimento daqueles que acham que a UFRN deve adotar formas de 190 intermediar o profissional com o mercado de trabalho fazendo, por exemplo, parcerias com empresas. Por outro lado, alguns profissionais acreditam que a função da UFRN é apenas a formação acadêmica e que ela não tem nenhuma responsabilidade com os profissionais formados ou com a inserção desses no mercado de trabalho: 39,53% não fizeram nenhuma sugestão para a UFRN contribuir com os profissionais que não estão exercendo a profissão e 11,63% disseram que ela não pode fazer nada, pois a parte dela é formar, como mostra o Gráfico 18 acima. Nota-se que a função da universidade é vista muito voltada apenas para o campo profissional, onde apenas 28,89% referiram-se à promoção do conhecimento. Há um esquecimento da função ampla da universidade no que se refere a formação do conhecimento, da cultura, de uma consciência crítica, ou seja da formação para uma leitura da realidade social, econômica, política etc. Na sociedade atual, onde predomina a lógica do mercado e do individualismo, privilegia-se a atividade da universidade reduzida à formação profissional e relega-se a principal função e a atividade primordial da universidade que nas palavras de Cardoso (2001, p.6) é “ a reflexão, a crítica, as controvérsias, constituindo-se um lugar propício à cultura, ao debate, à criatividade, à fermentação intelectual e à ampliação dos horizontes.” Sobre a função do Conselho Regional de Serviço Social – CRESS/RN, na opinião dos assistentes sociais, obtivemos as seguintes respostas: representar e defender os profissionais – 20,69%, fiscalizar o trabalho do assistente social- 17,24%, estimular a organização da categoria profissional- 12,07%, orientar a atuação profissional, promover a capacitação profissional e facilitar a inserção do profissional no mercado de trabalho- 10,34% cada uma, dentre outras, como mostra a Tabela 20 a seguir. 191 Tabela 20 - Função do CRESS/RN na opinião dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social FUNÇÃO DO CRESS/RN Representar e defender os profissionais Fiscalizar o trabalho do assistente social Estimular a organização da categoria profissional Orientar a atuação profissional Promover a capacitação profissional Facilitar a inserção dos profissionais no mercado de trabalho Não respondeu Regulamentar e fortalecer a profissão Ter uma vinculação com a UFRN É apenas um órgão arrecadador TOTAL Nota: mais de uma resposta por pessoas N°. 12 10 7 6 6 6 5 2 2 2 58 % 20,69 17,24 12,07 10,34 10,34 10,34 8,62 3,45 3,45 3,45 100 Percebe-se que há o conhecimento por parte dos profissionais sobre a função do CRESS, pois a maioria das respostas dadas são coerentes com a função do mesmo, expressa no Estatuto do Conjunto CFESS / CRESS, em seu Artigo 1o do Título I que trata da Natureza Jurídica, Finalidade e Competência Institucional, a qual coloca que o objetivo básico do CRESS é o de “fiscalizar, disciplinar e defender o exercício da profissão de Assistente Social.” Quanto à pergunta se o CRESS poderia contribuir de alguma forma para a inserção do assistente social no mercado de trabalho as respostas foram as seguintes: 28,57% colocaram a sugestão de que o CRESS fizesse a intermediação do assistente social com o mercado de trabalho,16,67% que ele fizesse cursos de capacitação, palestras etc., 9,52% responderam que o CRESS fizesse mais divulgação sobre as vagas existentes no mercado de trabalho, 9,52% que ele buscasse ampliar o campo de trabalho do assistente social, 9,52% adotasse ações que estimulasse os profissionais desempregado para combater o desânimo desses, 9,52% sugeriram que o CRESS intensificasse a fiscalização dos espaços profissionais, dentre as mais citadas, conforme Gráfico 19. 192 Ele não pode fazer nada 2,38 Articular-se mais com a UFRN 2,38 Disponibilizar materiais para pesquisas 2,38 Manter os profissionais informados 2,38 Não respondeu 7,14 Fiscalização dos espaços profissionais 9,52 Estimulo aos profissionais para combater o desânimo desses 9,52 Busca da ampliação do campo de trabalho 9,52 Divulgação de vagas no mercado de trabalho 9,52 Cursos de capacitação, palestras etc. 16,67 intermediação com o mercado de trabalho 28,57 0 5 10 15 20 25 30 35 % Gráfico 19 – Sugestões para o CRESS/RN contribuir para a inserção do assistente social no mercado de trabalho. Infere-se, portanto, que as sugestões mais colocadas pelos assistentes sociais para o CRESS são ações que servirão para a intermediação desses com o mercado de trabalho. Algumas dessas sugestões foram: fazer um cadastro de todos os profissionais desempregados, fazer parcerias com as instituições e encaminhar profissionais às vagas disponíveis, como podemos observar nos depoimentos abaixo: Fazer um cadastro desse pessoal que está fora do mercado, colocar a capacitação que cada um tem, saber o interesse que cada um tem, em qual área. Fazer contato com os empregadores, pra o cargo de assistente social. Então eu acho que ele estaria facilitando no sentido de ter esse cadastro...( 17 – T) Divulgar aos profissionais as oportunidades do mercado. Eles têm o endereço, e quem não está inscrito divulgar na UFRN e lá mesmo. Seria como um SINE da vida. ( 11 – D) Nota-se, portanto, que os profissionais sugerem ao CRESS ações que se referem totalmente a uma instituição de intermediação com o mercado de trabalho, o que não é a função do CRESS, apesar de que algumas dessas ações sugeridas já são praticadas pelo 193 CRESS, como exemplo: divulgação de vagas no mercado de trabalho, no próprio local onde funciona o CRESS e na Universidade. No entanto, é importante esclarecer que esse dado não significa um desconhecimento dos profissionais do que seja a função do CRESS, pois quando perguntados sobre a função do CRESS apenas 10,34% coloca que a função do mesmo é facilitar a inserção do profissional no mercado de trabalho, todas as outras respostas referem-se à função que realmente pertence ao CRESS, conforme vimos na Tabela 20. Outra forma do CRESS contribuir com os profissionais que estão fora do mercado de trabalho, colocada pelos profissionais entrevistados, é a capacitação profissional através da realização de palestras, cursos etc, havendo uma abertura maior para quem não está exercendo ou não está inscrito no CRESS. Os entrevistados apontam que esses cursos, além de contribuir para a capacitação e atualização profissional exigidas pelo mercado de trabalho, serviriam também para o estímulo, o combate ao desânimo e ao isolamento do profissional que não está exercendo a profissão. Os entrevistados se referiram também a fiscalização como uma das formas do CRESS contribuir com os profissionais que não exercem a profissão, uma vez que através da fiscalização os espaços existentes para a profissão serão respeitados, como também ela contribuirá para a ampliação desse espaço profissional, como vemos nas seguintes entrevistas: ... fiscalizando porque tem muita gente que tá no mercado de trabalho, mas que muitas vezes não é assistente social. ( 40 – D) O CRESS devia bater nesta tecla de fiscalizar os municípios que têm digitador fazendo parecer social, é um absurdo uma coisa dessa, eu tenho uma prima que é oficial de justiça, trabalha no município de..., o funcionário de lá é que faz a visita domiciliar e elabora o relatório para entregar ao juiz, eu fiquei chocada, não tem uma assistente social em ... que é um município de grande porte, que admitiria umas dez brincando, cadê os concursos,... ( 42 – D) 194 Portanto, a fiscalização a que os profissionais se referem seria no sentido de regularização dos concursos, fiscalização da ocupação dos espaços nas instituições por outros profissionais, como também legitimação de espaços para a profissão ainda não reconhecidos pelos empregadores. Coloca-se, também, como sugestão para o CRESS, a abertura de mais oportunidades para os profissionais que não são inscritos participarem de atividades do CRESS, principalmente dos cursos promovidos pelo mesmo, pois isso contribuiria para a capacitação profissional dos assistentes sociais que estão fora do mercado, como afirmou a entrevistada: ... eu queria muito fazer esse curso que o CRESS oferecia e tal e infelizmente fui excluída porque era só para universidade, então você fica meio que perdida....porque não tem mais contato com as informações, aí de repente você não está empregada, também você não pode se inserir, porque você não está inscrita, outra coisa que eu fiz no CRESS foi um curso , porque estava inscrita, gostei muito do curso, só que não pude ter mais contato, não pago mais anuidade ... mesmo que o tratamento fosse diferenciado, que eu tivesse que pagar alguma coisa, mas acho que deveriam permitir esse nosso envolvimento maior. ( 31 – T) Quando interrogados sobre quais os principais desafios da profissão do assistente social, 35,51% citaram o desafio do reconhecimento da importância da profissão para a sociedade como também o conhecimento do que é realmente a profissão, 18,64% afirmaram que o maior desafio da profissão é o assistente social poder realizar um trabalho que ultrapasse o imediatismo, 11,64% colocaram que o maior desafio é a questão salarial pois os salários são muito baixos, 11,86% desvendar novas demandas e espaços profissionais, 10,17% disseram que é os profissionais se valorizarem mais, dentre os mais citados, como vemos no Gráfico 20 a seguir. Os profissionais colocam que há uma desvalorização da profissão por parte da sociedade, principalmente dos empregadores, e que, muitas vezes, essa desvalorização 195 acontece pelo não conhecimento do que seja a profissão, ou seja, pelos equívocos existentes na sociedade em relação à profissão. Eu acho que o principal desafio do assistente social é ele se colocar como peça importante no desenvolvimento do Estado , ele se colocar como... é tão importante como um médico, quanto um enfermeiro na área de saúde, quanto um professor na área de educação, quanto um arquiteto na área de habitação, porque tudo hoje em dia tem o contexto social, principalmente num país como o Brasil. Então o maior desafio é o reconhecimento da profissão. ( 20 – T) 30,51 O reconhecimento da profissão 18,64 Realizar um trabalho que ultrapasse o imediatismo Os baixos salários 11,86 Desvendar novas demandas e espaços 11,86 10,17 Os profissionais se valorizem mais 8,47 Não respondeu 6,78 Os profissionais se inserirem no mercado de trabalho 1,69 Desvincular a profissão do apadrinhamento político 5 10 15 20 25 30 35 % 0 Gráfico 20 – Os principais desafios do Serviço Social na opinião dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho. Nesses depoimentos percebe-se que a desvalorização da profissão, referida pelos profissionais nas entrevistas, é atribuída tanto aos empregadores, como aos profissionais de outras áreas e à própria população. No entanto, em algumas entrevistas é citado o papel do assistente social enquanto participante dessa desvalorização. Os entrevistados colocam a necessidade do assistente social se impor perante outros profissionais com os quais atua quando esses adotarem uma postura de desvalorização da profissão, como também manterem 196 uma atuação que não venha a contribuir com uma imagem distorcida e desqualificadora da profissão, como percebemos nos seguintes depoimentos: ... os desafios que estão sendo postos a nível de estrutura mesmo, das transformações a nível de economia, então é fazer uma leitura mesmo da realidade com coerência, com segurança, ... se impor um pouco intelectualmente também, porque é aquela profissão que o pessoal diz que não faz nada, é tapa - buraco, como se diz, eu acho que tem que se impor um pouco. ( 42 – D) ... cabe a nós , profissionais de serviço social, mostrar nosso verdadeiro valor, que nós somos importantes sim, nós temos uma formação superior como o arquiteto, médico, nós somos preparadas para trabalhar, para desenvolver nossa função. Agora muitos profissionais, sentam lá no bureal, desenvolve sua função, porque já tem seu emprego, já é colocado no mercado de trabalho, desempenham sua função como qualquer coisa, não desempenham sua função realmente como é para exercer, se impondo como profissional, exigindo respeito da Instituição, porque o assistente social não é só aquele que entrega uma ficha, que despacha uma ambulância, que faz uma visita numa casa, o assistente social tem que dizer que ele é importante para sociedade, o profissional de Serviço Social ele é um educador, ele é um articulador de políticas. Eu vejo nas Instituições o tratamento que o assistente social dá aos seus usuários, é uma coisa que não é para acontecer, é por isso que muitas vezes o assistente social é tido como um profissional que qualquer outra pessoa pode fazer a função dele. ( 40- D) Percebe-se portanto que os entrevistados reconhecem que a existência da desvalorização da profissão, muitas vezes, advém do tipo de atuação de alguns assistentes sociais quando esses não assumem um compromisso com a profissão e com a população usuária dos seus serviços, como também, quando não têm competência para interpretar a realidade e assim responder aos desafios postos para ele. Na análise dos profissionais entrevistados, esse tipo de atuação exercida por alguns profissionais provoca uma desvalorização da profissão e, conseqüentemente, traz dificuldades para a inserção de profissionais no mercado de trabalho. A questão da não valorização do profissional é algo muito complexo. Muitas discussões já foram levantadas sobre a existência, ou não, da desvalorização do assistente 197 social: existe uma desvalorização da profissão por parte dos empregadores ou existem profissionais que não desempenham suas funções de forma a conquistarem o reconhecimento da importância do seu trabalho? Muitas vezes, por falta de conhecimento sobre a atuação da profissão de Serviço Social, as pessoas vêem o trabalho do assistente social e pensam que aquelas atividades que ele executa qualquer pessoa pode fazer. Esse equívoco já foi analisado entre os estudiosos do trabalho do assistente social, onde foi percebido que até mesmo entre alguns profissionais há os que acham que estão executando tarefas que não são suas ou que qualquer um pode fazer; quando na verdade, muitas vezes, o que acontece é um desconhecimento do amplo e complexo campo da atuação profissional: O que seria atividade do assistente social e o que seria atividade de qualquer um ? Sabemos que a atividade em si não diz nada, mas sim todo um contexto ou objetivos a que estejam voltadas aquela atividade. Iamamoto (2000) analisando essa questão da “desvalorização” da profissão afirma que o trabalho que muitas vezes é considerado de pouca importância deixando o assistente social, não raras vezes, secundarizado e subordinado em seu papel social se choca com a indispensabilidade de suas funções para o funcionamento das organizações nas quais os assistentes sociais estão inseridos. Coloca também que essa desvalorização da profissão por parte empregadores encobre a importância do trabalho do assistente social para os usuários dos serviços prestados, ou seja, “o de formular e implementar critérios de inclusão/exclusão aos serviços/direitos sociais e de acompanhamento social dos cidadãos no atendimento de suas necessidades.”(IAMAMOTO, op cit, p.72) Ressalta-se que hoje muitos assistentes sociais estão trabalhando assumindo outros cargos ou funções. Isso tem levado a uma diminuição da visibilidade da profissão e tem levado alguns profissionais, equivocadamente, a não se reconhecerem mais como assistentes sociais. Sabemos que isso acontece como resultado de toda uma reorganização das profissões 198 no mercado de trabalho onde os espaços profissionais passam por redefinições. Uma coisa que nos chamou atenção na pesquisa, quanto a essa questão da desvalorização da profissão do assistente social e da indefinição do que seja a atividade desse profissional: alguns assistentes sociais estão exercendo atividades que são do assistente social, mas não são contratados ou reconhecidos enquanto tal e até afirmam que se quisessem passar a ser contratados como assistente social teriam uma diminuição muito grande no seu salário. Por que esses profissionais não podem ser contratados como assistentes sociais, se o trabalho que estão desenvolvendo seria o mesmo e o salário seria até mais interessante para o empregador ? Parece, então, que existe uma visão dos empregadores sobre a atuação profissional do assistente social muito limitada, como se aquela atividade que aquele profissional está desenvolvendo não seria para ele enquanto assistente social e, por isso, coloca-o em outra função ou cargo. O segundo desafio da profissão mais citado pelos entrevistados (18,64% - realizar um trabalho que ultrapasse o imediatismo) está relacionado diretamente à atuação profissional frente ao objeto de seu trabalho; ou seja, às dificuldades que a realidade social impõe para a concretização dos objetivos da profissão. Os profissionais se questionam como poderão atuar superando os limites que lhes são impostos no enfrentamento dos problemas sociais com os quais trabalha quotidianamente que têm se agravado a cada dia. As pessoas estão com necessidades emergenciais e como você vai trabalhar com o esclarecimento, conscientização se o que as pessoas querem é o imediato? ( 04 – T) Eu acho que.. eu fico assim imaginando que a gente é defensor das políticas públicas que não são né, assim que existem mas na verdade só no papel, é um desafio agente ter que tratar né passar por cima disso aí tá fazendo com que as políticas sociais sejam realmente efetivadas então a gente tá indo de encontro com o sistema, eu acho que o maior desafio é esse . ( 18 – T) 199 Acho que a própria realidade, o contexto econômico e social que a gente vive é um grande desafio, outro desafio que eu vejo são as diferenças de classe, as minorias, a questão da exclusão, a questão dos programas sociais. (21 – T) Portanto, vê-se que os profissionais percebem os grandes desafios que a realidade impõe ao trabalho profissional voltado para a concretização dos objetivos contemplados no projeto ético-político da profissão; ou seja, um trabalho voltado para a concretização da justiça social,da cidadania dos indivíduos na sociedade. Os desafios são enormes para a efetivação do projeto ético-político construído pela categoria profissional. No entanto, há que se ter cuidado com duas coisas: achar que esses desafios se constituem numa impossibilidade de consolidação e implementação desse projeto; ou achar que o ideário vislumbrado no projeto de consolidação da cidadania e dos direitos sociais através da construção de uma sociedade mais justa será conseguido pela atuação da nossa profissão isoladamente. É necessário perceber que a profissão tem um projeto que visa contribuir para a concretização desse projeto societário. Outro desafio da profissão, colocado pelos assistentes sociais, é o desafio de desvendar novas demandas espaços, conforme depoimentos abaixo: A gente ser reconhecido no sentido da inserção no mercado. Os profissionais ainda estão muito restrito ao campo de trabalho: trabalhar com a pobreza. Hoje tem que abrir mais os horizontes, descobrir novos espaços, atividades. ( 03 – T) O profissional redescobrir novas alternativas de atuação, investir na pesquisa, no conhecimento, se não investir em você não se insere no mercado. ( 06 – D) Desvendar as demandas. Se você se inserir num lugar não dizer: não eu não vou fazer isso, não é pra assistente social. Acho que não deve-se ter medo.( 16 – T) 200 Coloca-se a necessidade do assistente social ter a capacidade de descobrir novos espaços profissionais e que só acontecerá se houver uma postura investigativa e propositiva dos profissionais. Isso revela a importância da formação profissional preocupar-se com a discussão sobre o campo de atuação do assistente social: os tradicionais, os atuais e aqueles que estão sendo descobertos. (Ver análises sobre demandas profissionais no Capítulo 2 deste trabalho) Quanto aos desafios da profissão, analisando-se somente a resposta dos 27% (12). que já exerceram a profissão, percebemos que o encaminhamento dado é semelhante ao quadro geral. Verifica-se que desses que já exerceram a profissão, 41,67% responderam que o maior desafio é o reconhecimento da profissão, 25% responderam que é desvendar novas demandas e espaços, 8,33% realizar um trabalho ultrapassando o imediatismo e 8,33% afirmaram que o maior é os profissionais se inserirem no mercado de trabalho. (GRÁFICO 21 a seguir) Analisando a formação recebida no curso de Serviço Social, os entrevistados apresentaram as seguintes opiniões: deveria ter mais experiência de estágio –32,8%; a formação foi boa –13,21%; as leitura eram muito fragmentadas e houve dificuldades no estágio curricular – 9,43% cada; não houve uma dedicação pessoal na formação; foi muito boa, muito válida ou muito rica – 7,55% cada; dentre outros elementos, como mostra a Tabela 21 a seguir. Percebe-se que 24,53% apresentaram uma opinião satisfatória sobre a formação profissional recebida , onde colocam que a mesma foi boa , muito boa, rica e o curso tem bons professores. Os demais se reportaram às deficiências da formação; alguns apresentando sugestões de como deveria ser a formação. 201 Os profissionais se inserirem no mercado de trabalho 8,33 Realizar um trabalho ultrapassando o imediatismo 8,33 Não respondeu 16,67 Desvendar novas demandas e espaços 25,00 41,67 Reconhecimento da profissão 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 % Gráfico 21 – Os principais desafios do Serviço Social na opinião dos assistentes sociais que já exerceram a profissão Tabela 21 - Opinião dos assistentes sociais sobre a formação recebida na graduação em serviço social OPINIÃO SOBRE A FORMAÇÃO RECEBIDA Deveria ter mais experiência de estágio( Maior tempo e diversidade de áreas) Foi boa Ter mais leituras completas, eram muito fragmentadas Houve dificuldades na realização do estágio Não me dediquei ao curso como gostaria Muito boa, muito válida, muito rica Os professores deixaram a desejar O curso tem bons professores O curso é muito genérico Havia desarticulação entre as disciplinas Faltaram disciplinas importantes para a nossa prática TOTAL Nota: Mais de uma resposta por pessoa N°. 17 7 5 5 4 4 3 2 2 2 2 53 % 32,08 13,21 9,43 9,43 7,55 7,55 5,66 3,77 3,77 3,77 3,77 100 No que se refere aos pontos positivos apresentados, foram citados: a formação formou um pensamento crítico da realidade, tem-se um conhecimento amplo da realidade. De acordo 202 com esses profissionais, a formação em Serviço Social dá condições para que se faça uma boa leitura da realidade. Conforme o depoimento abaixo, a entrevistada afirma que todos os cursos deveriam ver um pouco do Serviço Social: Realmente deixa uma condição crítica muito melhor, não tenha dúvida, é tanto que eu acho que esse curso deveria ser uma disciplina de todos os cursos. Todos os cursos ter uma disciplina que orientasse, tem muita coisa do social que muita gente desconhece, isso realmente a gente vê . ( 17 – T) As análises dos entrevistados que apontam os pontos negativos da formação se referem aos seguintes aspectos: quanto ao próprio curso de Serviço Social alguns apontam que é um curso muito longo, é muito genérico; quanto ao estágio curricular obrigatório: acham que o estágio em apenas um campo de trabalho não é suficiente, o período de realização de um ano é pequeno e se referem também às dificuldades institucionais para a realização do estágio; as leituras realizadas nas aulas do curso: fragmentação, ausência dos clássicos, e direcionamento de uma linha teórica; aspectos pessoais: falta de um investimento adequado na formação por motivos de trabalho, filhos e etc. quanto às disciplinas: desarticulação entre as disciplinas e ausência de algumas que seriam importantes para o profissional, citam como exemplo Português e Estatística. O estágio curricular obrigatório foi o elemento mais citado pelos entrevistados quando colocam a opinião de que o mesmo deveria acontecer em maior quantidade, tanto no que se refere ao aumento do período de realização, como também que seja realizado não apenas em uma área. Há o pensamento entre os profissionais que se o estágio é realizado em apenas uma área (Saúde, Educação, Empresa, Criança e Adolescente etc.) o profissional não sai preparado para trabalhar em outra área. Uma afirmação que se fez muito presente nas análises dos assistentes sociais sobre a formação recebida na graduação em Serviço Social foi que ao terminarem o curso ficaram 203 sem saber o que fazer, como fazer (referindo-se ao trabalho profissional). Atribuem essa dificuldade ao fato do curso ser generalista e a realização do estágio ser apenas em uma área. Percebe-se que se coloca uma dependência entre a prática vivenciada em um estágio e a capacitação para o exercício profissional, como se a experiência fosse dar um modelo para o profissional colocar em prática. Se o estágio é vivenciado na área de saúde o profissional pensa ter um modelo para trabalhar na área da saúde, enquanto que nas outra áreas ele não saberá como atuar. Isso é colocado claramente em algumas entrevistas. Essa é uma visão que vai de encontro à perspectiva de estágio proposto no Projeto Pedagógico da profissão onde se coloca que: a experiência profissional e o próprio estágio não pode ser pautado por “modelos previamente concebidos de atuação.” Nota-se que há entre os profissionais uma visão de estágio voltada para uma perspectiva de treinamento preparatório para o exercício profissional. No entanto, há uma diferença entre treinamento e aprendizado, ou seja, não é o momento do estágio em si mesmo que capacita para o exercício profissional, mas todo o processo de formação durante e após o curso de graduação. Concordamos com Battini (2004, p. 214) quando afirma que “treinamento está no âmbito da repetição e ensino revela a processualidade do acúmulo do conhecimento.” Com isso, a perspectiva de estágio e da atividade profissional que deve ser adotada é uma perspectiva de algo que a cada momento se inventa e se cria. Portanto, acredita-se que não é a quantidade do tempo de estágio ou a experiência em várias instituições que vão garantir o conhecimento e o domínio do profissional sobre a realidade na qual venha a intervir. Os assistentes sociais entrevistados também se referem às dificuldades enfrentadas na realização do estágio curricular, e apontam as conseqüências que tem no comprometimento da qualidade da sua formação. As dificuldades apresentadas foram: poucas opções de campo de 204 estágio, falta de orientação para a escolha do campo de estágio, a falta de articulação da universidade com a instituição (supervisor de campo/ supervisor de ensino). Portanto, as dificuldades apresentadas realmente existem, porém devem ser reportadas aos aspectos estruturais nas quais estão inseridas a universidade e as instituições campo de estágio do Serviço Social, tais como: o número reduzido de assistentes sociais nas instituições e a sobrecarga de trabalho o que os impede de se disponibilizar para receber estagiários. Com isso, a quantidade de campos de estágios se tornam bem menor do que o número de alunos, fazendo com que esses, muitas vezes, tenham que realizar o estágio em instituições que não desejavam. No entanto, a escolha do campo de estágio não deve ser tão dependente da identificação do aluno com determinada área ou instituição porque quando se forma o assistente social está se formando um profissional generalista apto a trabalhar em quaisquer das áreas que o assistente social atua. Outras dificuldades apresentadas são determinadas pelo contexto da crise estrutural pela qual passa a universidade, provocando a redução do quadro de pessoal, onde o número de professores é insuficiente para a demanda de trabalho, devido a não-contratação de pessoal efetivo e a freqüente contratação de pessoal temporário concomitante com o aumento das aposentadorias, conseqüência de medidas implementadas pelo governo. Isso tudo tem provocado a sobrecarga de trabalho para os professores e, muitas vezes, o comprometimento da qualidade do trabalho realizado. Daí a existência de problemas na articulação universidade/instituição campo de estágio a que os entrevistados se referiram. Alguns depoimentos mostram a análise que os assistentes fazem da formação levando em consideração aspectos como a importância dos professores na formação e o papel do próprio aluno, conforme registra os depoimentos a seguir: Acho que devia ter mais professores, quando saí já começaram a entrar professores mais qualificados, com mestrado doutorado, acho que...também 205 vai pelo interesse do aluno....mas não tinha professor que lhe motivasse mesmo, aquela paixão pela profissão, não achei não. Eram professores perto de se aposentar. Deixou a desejar quanto a isso, mas minha articulação de Encontros, essas coisas, no curso fui bastante atuante, nesse sentido de ir para Congresso, não para viajar, para fazer turismo não mas, que em todos os cursos você ouve dizer que só vão pra Encontros fazer turismo, mas Serviço Social a gente via mesmo gente nas palestras. (30 – T) Ela foi também complicada assim de analisar, eu fui uma das alunas que... vou ver como é que eu posso lhe dizer... o curso todo muito tumultuado né, trabalho, casamento, filhos, mas eu acho o curso muito rico em termos de teoria, o que é passado pra gente teoricamente é de uma riqueza muito profunda. (44 – T) A formação... ela ..é muito boa, agora a minha formação porque eu não era uma estudante que vivia pra estudar, eu tinha que dividir o meu tempo em vária outras coisas, digamos que eu não me sinta exatamente uma aluna exemplar. Então o curso em sí deu tudo que tinha pra oferecer, muito bom o curso, mas eu não dei a minha contribuição. (45 –T) Percebe-se que as análises feitas pelos assistentes sociais sobre a formação recebida se reportam a três elementos: o curso (disciplinas, carga horária, estágio, direcionamento teórico,etc), os professores (bons professores, professores que não incentivavam, etc.) e eles próprios (não-investimento no curso por falta de tempo ou por não identificar-se com o curso etc ). Estando assim, de acordo com os elementos utilizados na avaliação feita pelos organismos oficiais que avaliam a universidade. Segundo Pilati (2001), para se fazer uma avaliação de um curso deve-se levar em consideração três fatores básicos: a instituição e sua infra-estrutura, o corpo docente e o aluno. No entanto, ao utilizar-se esses elementos para avaliar um curso esquece-se que todos esses elementos são influenciados e condicionados por elementos mais gerais da conjuntura na qual estão inseridos. A análise da formação acadêmica não pode deixar de lado aspectos internos e externos da instituição de ensino, do curso e do pessoal (corpo docente e discente). Alguns profissionais criticam a formação afirmando que o curso é muito genérico e não prepara o profissional para atuar nas problemáticas específicas. Esse é um aspecto da 206 formação que vem sendo discutido há muito nas instituições de ensino dos cursos de Serviço Social e nos órgãos responsáveis pela elaboração da política de formação profissional do assistente social e entre estudiosos da área. Sobre essa discussão temos uma análise de Netto (1996) quando afirma que as exigências do mercado de trabalho na atualidade recolocam o problema da formação. Ele prevê que o perfil generalista da graduação em Serviço Social será insustentável para atender ao mercado de trabalho e aponta dois caminhos que poderão ser tomados: “afunilar a graduação dirigindo a formação, desde o início, para especializações... ou, manter o perfil generalista da graduação, institucionalizando a especialização como requisito para o exercício profissional.” (NETTO, op cit, p. 125) Esse mesmo autor alerta para as conseqüências que a profissão sofrerá a partir da implementação de um desses caminhos: se tomado o primeiro caminho citado haverá uma redução da formação ao nível puramente técnico-operativo, alijando da formação os “avanços teóricos e analíticos que garantem a compreensão do significado social do Serviço Social na rede das relações sociais”. Se tomado o segundo caminho “ assegurar-se-á o desenvolvimento da cultura profissional num sentido congruente com a direção social estratégica”, e também vai se “ assegurar a qualificação para a intervenção localizada à base de uma compreensão estrutural da problemática focalizada.” ( idem ) O tipo de formação a ser defendida e buscada deve se voltar para o tipo de profissional que se quer formar. Os próprios profissionais devem pensar sobre isso: que tipo de formação eu quero? uma formação que capacite para o exercício profissional no sentido apenas da capacitação técnica, ou seja, uma formação que atenda meramente aos interesses do mercado; ou uma formação que proporcione uma visão ampla da realidade social?. O desafio enfrentado nos dias atuais, imposto pelas dificuldades de acesso ao emprego com a multiplicação das exigências do mercado de trabalho para a inserção do trabalhador, é 207 um forte elemento que tem levado os profissionais à defesa de uma formação que lhes garanta o acesso ao mercado de trabalho, ainda que para isso se deixe de lado aspectos importantes da formação. Portanto, é necessário que durante o período da formação do assistente social, no curso de graduação e na pós-graduação, se faça essa discussão despertando nos alunos a análise sobre o tipo de profissional que se quer formar. Como afirma Netto (op cit, p.125) Um técnico treinado para intervir num campo de ação determinado com a máxima eficácia operativa ou um intelectual que habilitado para operar numa área particular, compreende o sentido social da operação e a significância da área no conjunto da problemática social. Em outras palavras, tem que se decidir se a formação vai acontecer na perspectiva do projeto profissional hegemônico ou na perspectiva do projeto societário hegemônico do capitalismo moderno pautado na ideologia neoliberal. Concordamos com a posição de Cassab (2001, p. 63) a qual representa a posição da Associação Brasileira Ensino e Pesquisa em Serviço Social : Não podemos integrar, nem entregar, a formação dos assistentes sociais às leis do mercado, nem às leis do nosso mercado de trabalho profissional específico, o que significa restringir a formação ao que o mercado de trabalho deseja, e nem tampouco, às chamadas leis do mercado em geral, na medida em que a educação vira um campo privilegiado de acumulação. 208 CONSIDERAÇÕES FINAIS A escolha do tema “a não-inserção do assistente social no mercado de trabalho” como objeto de estudo da pesquisa esteve respaldada em duas premissas básicas: primeiro, o entendimento de que o difícil acesso ao mercado de trabalho é uma realidade posta na sociedade atual, não só no Serviço Social, mas em qualquer outra profissão; e segundo, que o interesse da pesquisa volta-se não para medir o índice do desemprego no Serviço Social no período delimitado, mas sim, identificar a percepção que os assistentes sociais têm desse desemprego, visando contribuir para que a possível existência de uma visão pessimista de que o desemprego é culpa da profissão fosse desmistificada. Diante do objeto de estudo da pesquisa e do objetivo central da mesma - conhecer a relação que os assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN fazem entre a sua não-inserção no mercado e a sua formação profissional em Serviço Social – devem ser destacadas algumas considerações resultantes do estudo realizado. Quando os profissionais fazem uma análise sobre a formação recebida no curso de Serviço Social não se observa nenhuma relação dessa com a sua não-inserção no mercado de trabalho. Analisam a formação no sentido geral do curso, voltando-se para a questão da preparação para o exercício da profissão apontando algumas falhas que em sua opinião faz com que o profissional saia com algumas dificuldades para a atuação profissional. No entanto, não se referem diretamente a essas dificuldades como fator para a não-inserção no mercado de trabalho. Quando analisam a profissão e colocam a dificuldade que a mesma tem de se inserir no mercado trabalho atribuindo essa dificuldade ao não reconhecimento da profissão pelos empregadores e pela sociedade em geral, os profissionais relacionam a sua não-inserção no 209 mercado de trabalho à profissão; ou seja, a causa da não-inserção é atribuída à profissão por ela não ter o reconhecimento dos empregadores e da sociedade em geral e, com isso, o campo de atuação torna-se pequeno. Considera-se, pois, que há um desconhecimento sobre o campo de atuação do Serviço Social quando alguns colocam que o mesmo só tem tido espaço, ou só tem atuado em hospitais ou instituições governamentais. Além desses, outros motivos atribuídos para a não-inserção, também relacionados à profissão, estão: o apadrinhamento político como forma de acesso ao trabalho e as más condições de trabalho que são oferecidas tais como: baixos salários e a instabilidade dos vínculos trabalhistas. Alguns profissionais (20%) atribuem a sua não-inserção a motivos pessoais como a insuficiente procura pelo emprego e a opção pelo não-exercício da profissão. Quando os profissionais mencionaram os motivos da sua não-inserção no mercado de trabalho da profissão, como também quando fizeram uma análise sobre esse mercado vê-se que quase todos se referiram às dificuldades do mercado específico da profissão sem fazer uma relação com a realidade do mercado de trabalho em geral: em apenas duas entrevistas foram colocados aspectos mais gerais da conjuntura como determinantes da realidade do mercado de trabalho: se referiram à crise do país e a implementação do Estado mínimo. Diante disso, acredita-se que a formação profissional do assistente social precisa voltar-se mais enfaticamente para o conhecimento do mercado de trabalho da profissão em seus aspectos e desafios impostos pela conjuntura atual. Esclarecendo que essa preparação da formação para o mercado de trabalho deve se dá não no sentido dela voltar-se estritamente para o atendimento das exigências do mercado. A formação deve sim capacitar os alunos para uma análise mais profunda sobre o mercado de trabalho da profissão, numa perspectiva de totalidade articulando-o com as determinações das mudanças ocorridas no mundo do trabalho. Considera-se que há uma lacuna na formação profissional dos assistentes sociais nãoinseridos no mercado de trabalho a qual pode ser percebida não no fato deles não terem 210 conseguido se inserir no mercado, mas no fato deles atribuírem essa não-inserção à profissão em si e que a não-inserção tem levado os assistentes sociais a caírem no desânimo, passando então a não buscarem mais emprego na área e buscarem outras alternativas como: fazer outra graduação em um outro curso nas quais acreditam que têm mais oportunidades de emprego, investirem em estudos para concursos de outras áreas ou permanecer na atividade profissional que exercem atualmente. Entende-se que uma profissão, ou uma formação profissional universitária, não pode ser avaliada ou medida pelos índices de profissionais inseridos no mercado de trabalho.É evidente que a inserção no mercado é necessária, se não, não teria sentido a sua existência e ninguém iria procurar uma formação se não fosse para exercê-la. Pode-se tomar como exemplo o próprio discurso neoliberal que para justificar o desemprego afirma que hoje se forma não para o emprego, mas para a empregabilidade; forma-se para o não-emprego. Daí percebe-se que se uma formação profissional qualquer for medida pela garantia da inserção no mercado de trabalho, a maioria das profissões universitárias estariam fadadas ao fracasso. Entretanto, apesar de todas as dificuldades enfrentadas pelos assistentes sociais nãoinseridos no mercado de trabalho e da atribuição desses problemas à profissão, 84% (38) dos entrevistados afirmaram ter vontade de exercer a profissão e apenas 16% (07) afirmaram que não têm vontade de exercer a profissão de assistente social. Todas as críticas que eles fazem à profissão se referem a relação dessa com o mercado de trabalho. Considera-se ainda a importância da formação e do exercício profissional para a realização profissional. A formação e o exercício profissional são dimensões que se articulam e se complementam e com isso a não realização do exercício da profissão faz com que a formação torne-se algo frustrante para o profissional que deseja exercer a profissão. Nessa perspectiva, o desafio para a profissão do Serviço Social se torna maior do que para outras profissões que podem ser exercidas liberalmente, pois apesar de ser considerada 211 uma profissão liberal, o Serviço Social necessita de um empregador que contrate a mão-deobra de seus profissionais, para que assim, aconteça a prestação dos serviços sociais. Apesar de existir hoje a discussão da possibilidade do Serviço Social exercer atividades de forma liberal, e até já existirem algumas experiências sendo concretizadas nesse sentido, o que é predominante na profissão é a mão-de-obra assalariada. Portanto, o desafio para a profissão do Serviço Social não é dos mais fáceis: interpretar os elementos que se interpõem entre a formação e o exercício profissional; as complexas relações do mercado de trabalho em geral e do mercado específico da profissão que têm trazido enormes desafios tanto para os profissionais que estão inseridos nesse mercado, como para o acesso daqueles que ainda não conseguiram se inserir; e a luta pela inserção, uma vez que depende de um empregador que compre a sua força de trabalho. A pesquisa realizada, até mesmo pelo seu caráter exploratório, contribuiu em alguns aspectos os quais consideramos muito importantes para a profissão e para formação profissional. Dentre esses elementos podem-se destacar: a realização da pesquisa empírica serviu como ponto de contato com profissionais que estavam se considerando esquecidos, distantes da profissão e da universidade pelo fato de não estarem exercendo a profissão. A partir da pesquisa se sentiram mais próximos da profissão e motivados a voltar à universidade e a buscar informações sobre o curso, sobre possibilidades de cursos de pós-graduação. Na declaração dos próprios assistentes sociais, essa pesquisa é muito importante para contribuir com a formação do assistente social e para esclarecer sobre a opinião equivocada que alguns têm sobre os profissionais que não conseguem se inserir no mercado de trabalho. A partir das análises da problemáticas, apresentam-se algumas sugestões de ações que, ao serem adotadas, poderão contribuir para uma intervenção ao problema da não-inserção dos assistentes sociais no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN: 212 9 Durante o curso de graduação em Serviço Social haver uma ênfase maior nas análises sobre o mercado de trabalho em geral e do mercado específico da profissão, principalmente sobre os aspectos da realidade local: Natal e Rio Grande do Norte; 9 Criar mecanismos de discussão com os alunos que estão nos últimos períodos do curso a fim de preparar para esse momento da vida, onde aqueles que se formam e não começam a exercer a profissão, que se constitui de uma grande maioria, pois são poucos os profissionais que se formam hoje já com a oportunidade de um emprego lhe aguardando, passam por uma situação delicada de sentimento de não saber o que fazer agora que terminou o curso; 9 Divulgar os espaços profissionais existentes na cidade e no Estado para que os alunos tenham conhecimento de todos os locais de trabalho ocupados pelos assistentes sociais e assim tenha uma clara visão do amplo espaço da profissão; 9 Maior presença do CRESS nas salas de aula dos cursos de Serviço Social, pois é nesse espaço onde está garantida a presença do aluno e assim estaria garantido o conhecimento dos profissionais formados sobre o que é o CRESS e o que é a profissão; 9 Criar canais de participação para os profissionais não-inscritos no CRESS em cursos e eventos realizados pelo mesmo, facilitando assim, a formação continuada do profissional; 9 Facilitação do acesso de profissionais que não exercem a profissão nos cursos de pósgraduação através da realização de cursos mais rápidos - cursos de atualização e capacitação, etc. – e a garantia de vagas para alunos especiais nas disciplinas de pósgraduação. Tudo isso contribui, não só apenas com os profissionais que não exercem a profissão, mas para todos aqueles que não têm condições objetivas para realizarem um mestrado ou doutorado (a falta de tempo dos que trabalham ou a não-aprovação na seleção) não ficarem tão distantes da profissão, e cada vez mais difícil de conseguirem a qualificação exigida pelo mercado de trabalho. 213 Enfatiza-se a defesa de que a formação do assistente social não deve deixar de lado a formação expressa no projeto ético-político da profissão, o qual defende a formação de profissionais competentes no sentido ético-político e técnico; e não apenas um profissional competente no sentido da instrumentalidade técnica, ou seja, da capacidade que o mercado esteja demandando. Apesar de todas as dificuldades enfrentadas para a concretização do projeto profissional hegemônico, o qual tem um direcionamento em defesa de um novo tipo de sociedade, devido a hegemonia do projeto societário capitalista neoliberal, não se deve render-se à lógica mercadológica voltando a formação para os interesses desse projeto. . 214 REFERÊNCIAS ALVES, Giovanni. O novo (e precário) mundo do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2000. ALMEIDA, Ney Luiz T. e ALENCAR, Monica T.T. de. Transformações estruturais e desemprego no capitalismo contemporâneo. IN: SERRA, Rose (org) Trabalho e Reprodução – enfoques e abordagens. São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: PETRESFSS/UERJ,2001. ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 1995. __________________. Dimensão da crise e metamorfose do mundo do trabalho. IN: Serviço Social e Sociedade, n. 50. São Paulo: Cortez, abril/1996. __________________. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo: Cortez, 1999. __________________. O desenho multifacetado do trabalho hoje e sua nova morfologia. IN: Serviço Social e Sociedade, n. 69, ano XXIII, , São Paulo: Cortez, mar/2002. AQUINO, Renata. Marketing pessoal, redes sociais e o novo perfil profissional. Disponível em: www.universiabrasil.net Acesso em 23 out. 2004. ARGOLO, João Carlos Tenório. O impacto do desemprego no bem-estar psicológico dos trabalhadores da cidade de Natal. Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Administração da UFRN. Natal, 2001. 215 ARAÚJO, Maria Arlete Duarte e BORGES, Djalma Freire. Globalização e mercado de trabalho: educação e emprego. Revista Organização e Sociedade, v.7, n.17, janeiro/abril de 2000. ARAÚJO, Maria Arlete Duarte de. e MEDEIROS, Francilene Soares de. Formação Acadêmica e Mercado de Trabalho: percepção dos alunos do curso de Direito da UFRN. X Seminário de Pesquisa do CCSA: A Universidade e os desafios contemporâneos. 13 a 17 de setembro de 2004 a. _______________________ As transformações no mercado de trabalho e a Política de Educação das Instituições Públicas de Ensino Superior: o caso do curso de Serviço Social da UFRN. X Seminário de Pesquisa do CCSA: A Universidade e os desafios contemporâneos. 13 a 17 de setembro de 2004 b. ASSIS, J. Carlos de. Desemprego em uma Abordagem teórica: nota complementar à crítica de César Benjamim. Disponível em: www.desemprego.gov.br Acesso em 25 mar. 2004. AZEREDO, Beatriz. Políticas públicas de geração de emprego no Brasil: limites e possibilidades. IN: OLIVEIRA, Marco Antonio (org) Reforma do Estado & Políticas de emprego no Brasil contemporâneo. São Paulo: UNICAMP, 1998. BATTINI, Odária ett aii. Educação e Estágio: subsídios para o debate sobre o trabalho do assistente social. Caderno de Resumo do XI Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais. Fortaleza/CE, 17 a 22 de outubro de 2004. ( p. 214) BEHRING, Helaine Rossetti. Política social no capitalismo tardio. São Paulo: Cortez, 1998 BENJAMIN, Desemprego em uma abordagem teórica: Notas sobre neoclássicos, Keynes e Marx. Disponível em:www.desemprego.gov.br Acesso em 25 mar. 2004 216 CAMPOS, Lauro. O desemprego neoliberal: equilíbrio ou explosão? Disponível em:www.intelecto.net Acesso em: 16 out. 2003 CARDOSO, Adalberto M. Trabalhar, Verbo Transitivo: Trajetórias Ocupacionais de Trabalhadores da Indústria Automobilística. Dados, 1998, vol.41, no.4, p.701-750. Disponível em www.scielo.br Acesso em 04 nov. de 2004. CARDOSO, Franci Gomes. A pesquisa na formação profissional do assistente social: algumas exigências e desafios. Cadernos ABESS, n. 08, São Paulo: Cortez, 1998. CARDOSO, Miriam Limoeiro. Avaliação da Universidade: Legitimação e Lógica Mercantil. IN: TEMPORALIS, Revista da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS, ano II – Suplemento, outubro de 2001. CARMO, Paulo Sérgio do. A ideologia do trabalho. 9a ed. São Paulo: Moderna. Col. Polêmica, 1992. CARVALHO, Alba Maria P. de. A questão social e as transformações nas políticas sociais: as respostas do Estado e da sociedade civil. Oficina Regional da ABESS, Fortaleza/CE, out./1998. (mimeo) ______________________.O projeto de formação profissional do assistente social na conjuntura brasileira. Cadernos ABESS, n. 01. São Paulo: Cortez, 1993. CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social – uma crônica do salário.Petrópolis:Vozes,1998. CATTANI, Antonio David. Trabalho e Autonomia. 2a Ed. Petrópolis: Vozes, 2000. CFESS – Conselho Federal de Serviço Social. Serviço Social no Mundo – um panorama da profissão, Agenda 2005. 217 ________.Pesquisa: Perfil Profissional do Assistente Social no Brasil. Disponível em:www.cfess.org.br Acesso em : 13 jan. 2005. ________. Mercado de trabalho do Serviço Social. Documento produzido pela Comissão de Orientação do CFESS, abril/2001. Disponível em:www.cfess.org.br Acesso em: 17 jan 2005. CHAUÍ, Marilena. A universidade pública sob nova perspectiva. Conferência de abertura da ANPEd, Universidade de São Paulo: Poços de Caldas em 15/10/2003. Texto mimeografado. CORIAT, Benjamin. Pensar pelo avesso: o modelo japonês de trabalho e organização. Rio de janeiro: REVAN/UFRJ, 1994. CONVENÇÃO SOBRE A POLÍTICA DE EMPREGO. Biblioteca Virtual de Direitos Humanos da Universidade de São Paulo. Disponível em;[email protected] Acesso em 24 mar 2004. CRESS. 14ª Região O perfil dos(as) Assistentes Sociais frente as redefinições no mercado de trabalho na contemporaneidade: uma análise da realidade norte-riograndense. Cadernos de Comunicações do 9º CBAS, Goiânia, 1999. DEDECCA, Cláudio Salvadori. O que fazer para gerar emprego no Brasil? Disponível em:www.desemprego.gov.br Acesso em: 25 mar. 2004. ______________. Emprego e qualificação no Brasil nos anos 90. IN: OLIVEIRA, Marco Antonio (org) Reforma do Estado & Políticas de emprego no Brasil contemporâneo. São Paulo: UNICAMP, 1998. DELUIZ, Neise. O modelo das competências profissionais no mundo do trabalho e na educação: implicações para o currículo. Disponível em www.senac.nacional/informativo/BTS/273/boltec273.htm. Acesso em: 08 março de 2003. 218 DIEESE. Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos Radiografia do mercado de trabalho. Rio Grande do Norte: DIEESE, 2002. ______________. A situação do mercado de trabalho no Brasil. São Paulo: DIEESE, 2001 FALEIROS, Vicente de Paula. As reformas da seguridade social: o contexto mundial e o caso canadense. Ser Social, n.4, Brasília: UnB, janeiro a junho de 1999. FOGAÇA, Azuete. A educação e a reestruturação produtiva no Brasil. IN: OLIVEIRA, Marco Antonio (org) Reforma do Estado & Políticas de emprego no Brasil contemporâneo. São Paulo: UNICAMP, 1998. FOLHA ONLINE de 30 de dezembro de 2004. Disponível em www.folha.uol.com.br Acesso em: 30 dez. 2004. FRIGOTTO, Gaudêncio. Os delírios da razão: crise do capital e metamorfose conceitual no campo educacional. IN: GENTILI, Pablo (org) Pedagogia da exclusão – crítica ao neoliberalismo em educação. Petrópolis/RJ: Vozes, 1995. GALEAZZI, Irene. Precarização do mercado de trabalho. IN: Para compreender as transformações do trabalho. Seminário do Programa de pós-graduação em Sociologia da UFRGS, Porto Alegre: Museu de Comunicação Social, 2002. GORENDER, Jacob. Globalização, tecnologia e relações de trabalho. IN: Revista Estudos Avançados 11 (29),USP, São Paulo, 1997. GORZ, André. Adeus ao proletariado – para além do socialismo. Rio de Janeiro: Forenseuniversitária, 1987. GRANEMANN, Sara. Processos de Trabalho e Serviço Social. Capacitação em Serviço 219 Social e Política Social. Módulo 2: Reprodução Social, Trabalho e Serviço Social.Brasília: CFESS - ABEPSS - CEAD - UNB, 1999. HABERMAS, Jurgen. A teoria da ação comunicativa. Londres, 1991. HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Edições Loyola, 1989. HOUAISS, Antonio e VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Instituto Antonio Houaiss de Lexicografia e Banco de dados da Língua Portuguesa. S/C Ltda- Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. HORTA, Carlos Alberto. Desemprego e Cultura: uma leitura política da desconstrução da cidadania do trabalhador. IN: HORTA, Carlos Alberto e CARVALHO, Ricardo Augusto A.(org) Globalização, Trabalho e Desemprego. Belo Horizonte: C/Arte, 2001. IBGE –Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, PENAD – 2002, Disponível em: www.ibge.gov.br Acesso em 12 dez. 2004. IAMAMOTO, Marilda Villela O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 6a ed. São Paulo: Cortez, 2003. ______________.Projeto Profissional, espaços ocupacionais e trabalho do(a) Assistente Social na atualidade. Revista em questão - Atribuições privativas do(a) Assistente Social. CFESS, 2002. ______________.Transformações societárias, alterações no mundo do trabalho e Serviço Social. Ser Social n. 6, Brasília: UnB, janeiro a junho de 2000. ______________. O Serviço Social na Contemporaneidade: dimensões históricas, teóricas e ético-políticas. CRESS 3ª Região ( Gestão 96-99 ) Fortaleza, dez. 1997. 220 ______________. O Serviço Social na Contemporaneidade: Os fundamentos teóricometodológicos e técnico-operativos do trabalho profissional. Caderno Técnico do Serviço Social, 23. Brasília: SESI -DN, 1996. IAMAMOTO, Marilda Villela e CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil – esboço de uma interpretação histórico-metodológica. São Paulo: Cortez CELATS,1982. IANNI, Octávio. A Era do globalismo. 2a ed. Ed. Civilização Brasileira, 2001. _______O mundo do trabalho. IN: Revista São Paulo em Perspectiva. Vol. 8, n. 1, jan./mar. 1994. KAMEYAMA, Nobuco. Articulações da Política Social com o Desenvolvimento Econômico e o Serviço Social. Debates Sociais, n. 43, ano XXII, 2o Semestre, 1986 KOIKE, Marieta. As novas exigências teóricas, metodológicas e operacionais da formação profissional na contemporaneidade. IN: Capacitação em Serviço Social e Política Social, Módulo 2: Reprodução social, trabalho e serviço social. Brasília: CFESS-ABEPSS-CEADUNB. Brasília, 1999. KUENZER, Acácia Zeneide. As mudanças no mundo do trabalho e a educação: novos desafios para a gestão. IN: FERREIRA, Naura S. Carapeto (Org.) Gestão democrática da Educação: atuais tendências, novos desafios. São Paulo: Cortez, 1998. LARANGEIRA, Sonia Maria Guimarães. Realidade do trabalho no final do século XX. Ser Social, n.5, Brasília, UnB, julho a dezembro de 1999. LEI DO VOLUNTARIADO, no 9.608, de 18.02.1998. www.voluntarios.com.br/leis.htm Acesso em: 17 de nov. 2004. Disponível em 221 LEITE, Marcia de Paula. Trabalho e Sociedade em Transformação. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2003. LESSA, Sérgio. O processo de produção/reprodução social: trabalho e sociabilidade. IN: Capacitação em Serviço Social e Política Social, Módulo 2: Reprodução social,trabalho e serviço social. Brasília: CFESS-ABEPSS-CEAD-UNB, 1999. _______________.Contra-Revolução, Trabalho e Classes Sociais.Revista Temporalis.n.4. 2000. LOBO, Flávio. Vida e Morte no Trabalho. IN: Revista Carta Capital de 22 de outubro de 2003. (pp. 12-15) LUDKE, Menga e ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária - EPU,1986. MARCONI, Marina de A. e LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. São Paulo: Atlas S. A., 1988. MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço Social: Identidade e Alienação. 8a ed. São Paulo: Cortez, 2003. MARX, Karl. O capital: crítica da economia política, São Paulo: Nova Cultural, 1985. _______. A chamada acumulação primitiva. IN: O capital, 6a edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. MARX, Karl e ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. Tradução:.Pietro Nassetti, Coleção A obra-Prima de cada autor. São Paulo: Martin Claret, 2002. MATTOSO, Jorge. A desordem do trabalho. São Paulo: Scritta, 1995. 222 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA. 1o Emprego Acadêmico. Disponível em:www.ufrgs.br Acesso em: 18 jan. 2005. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Programa Primeiro Emprego. Disponível em: www.tem.gov.br Acesso em: 03 maio de 2004. MOTA, Ana Elizabete. A cultura da produtividade e da insegurança no novo mundo do trabalho. IN: Revista Inscrita, n. 3. São Paulo, ano II, nov./1998. MONTAÑO, Carlos Eduardo. O Serviço Social frente ao neoliberalismo. Mudança na sua base de sustentação funcional-ocupacional. IN: Revista Serviço Social e Sociedade, n.53, ano XVIII, São Paulo: Cortez, mar./1997 NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social – uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. 3a ed. São Paulo: Cortez, 1996a. _________. Transformações societárias e Serviço Social - Notas para uma análise prospectiva da profissão no Brasil. Revista Serviço Social e Sociedade, 50, ano XVII - abr. 1996b. _________. Teoria, método e história na formação profissional. Cadernos ABESS, n. 01. São Paulo: Cortez, 1993. _________.Capitalismo Monopolista e Serviço Social. São Paulo: Cortez,1992 NICOLAU, Maria Célia. O aprender do fazer (As Representações Sociais de assistentes sociais sobre o seu Saber –Fazer profissional):A dimensão educativa do trabalho. Tese de Doutoramento em Educação ,UFRN ,1999. NOSELLA, Paolo. Trabalho e Educação IN: GOMES, Carlos Minayo et al. Trabalho e Conhecimento: dilemas da educação do trabalhador. 2a ed. São Paulo: Cortez- Autores Associados, 1989. 223 OFFE, Claus. Capitalismo desorganizado. Editora Brasiliense,1985. _______. Trabalho e sociedade - Problemas estruturais e perspectivas para a sociedade do trabalho. Editora Tempo Brasileiro, 1989. OLIVEIRA, Ramon de. A (Des) Qualificação da Educação Profissional Brasileira. Coleção Questões da Nossa Época, v.101, São Paulo: Cortez, 2003. ORTIZ, Fátima Grave. Trabalho, desemprego e serviço social. IN: Revista Serviço Social e Sociedade, n.69, ano XXIII, São Paulo: Cortez, mar/ 2002. PEREIRA, Potyara A.P. Transição democrática e política social no Brasil. Tudo (ou nada) pelo social? [s.l. :s. n.]. [1989 ?] Mimeografado. Sem paginação. PETEROSSI, Helena Gemignani. Educação e Mercado de Trabalho –análise crítica dos cursos de Tecnologia. Col. Realidade Educacional – VII. São Paulo: Ed. Loyola, 1980. PILATI, Orlando. Contribuição do Exame Nacional dos Cursos e da Avaliação das condições de Ensino para a Avaliação Institucional de Cursos de Graduação. IN: TEMPORALIS, Revista da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS, ano II – Suplemento, outubro de 2001. PINTO, José Marcelino de Rezende. Administração e Liberdade: um estudo do Conselho de Escola à luz da teoria da Ação Comunicativa de Jürgen Habermas. Tempo Brasileiro. (s.d.) POCHMANN, Marcio. A realidade perversa do mercado de trabalho brasileiro Disponível em:www.desemprego.gov.br Acesso em: 25 mar. 2004a. ____________. A economia solidária no Brasil: possibilidades e limites. Disponível em: www.periodicos.capes.gov.br Acesso em: 04 de out. 2004b. 224 ____________. O emprego na globalização, São Paulo: Boitempo, 2001. ____________.O trabalho sob fogo cruzado. São Paulo: Contexto,1999. RAMOS, Maria da Conceição Pereira. Acção social na área do emprego e da formação profissional. Lisboa –Portugal: Universidade Aberta, 2003. RIFKIN, Jeremy. O fim dos empregos – o declínio inevitável dos níveis dos empregos e a redução da força global de trabalho. São Paulo: Makron Books, 1995. RODRIGUES, Alberto Tosi. Neoliberalismo: Gênese, Retórica e Prática. Disponível em www.politica.pro.br Acesso em 17 dez. de 2004. SALVADOR, Evilásio & BOSCHETTI, Ivanete. (Des)regulamentação dos direitos previdenciários e (des)estruturação do mercado de trabalho. IN:FERREIRA, Mário César e ROSSO, Sadi Dal (org.). A regulação social do trabalho. Brasília: Paralelo 15, 2003. SANTOS, Leila Lima. Textos de Serviço Social. São Paulo:Cortez,1999. SARMENTO, Helder Boska. Serviço Social: das tradicionais formas de regulação sociopolítica ao redimensionamento de suas funções sociais. Capacitação em Serviço Social. Módulo 4: O trabalho do assistente social e as políticas sociais. Brasília: CFESS - ABEPSS CEAD - UNB, 2000. SENNETT, Richard. A corrosão do caráter – conseqüências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Trad. Marcos Santarrita, 7a ed., Rio de Janeiro: Record, 2003. SERRA, Rose M. S. Crise de materialidade no serviço social. Repercussões no mercado de trabalho, São Paulo: Cortez, 2000. 225 SILVA e SILVA, Maria Ozanira da. Formação profissional do assistente social. São Paulo: Cortez, 1984. _______________. A Pós-Graduação na área do Serviço Social no Brasil: produção de conhecimentos e contribuições para a formação profissional. Caderno de Resumo do XI Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais. Fortaleza/CE. 17 a 22 de outubro de 2004. ( p. 211) SINGER, Paul. A Economia Solidária no Governo Federal. Mercado de TrabalhoConjuntura e análise, IPEA, 24 agosto de 2004. Disponível em:www.periodicos.capes.gov.br Acesso em 04 out. 2004. TEODORO, Mario. Mercado de trabalho, exclusão e ação do Estado: os limites do sistema público de emprego no Brasil. IN: Ser Social, n.3, Brasília: UnB, julho a dezembro de 1998. TORRES, Carlos Alberto. Estado, privatização e política educacional: elementos para uma crítica do neoliberalismo. IN: GENTILI, Pablo (org) Pedagogia da exclusão – crítica ao neoliberalismo em educação. Petrópolis/RJ: Vozes, 1995. TRINDADE, Rosa L. Prédes. A inserção do Serviço Social na divisão social e técnica do trabalho e a sua relação com outras profissões. Texto Mimeografado, 2003. ____________. Desvendando as determinações sócio-históricas do instrumental técnicooperativo do Serviço Social na articulação entre demandas sociais e projetos profissionais. IN: Temporalis, ano II, n. 4, Brasília: ABEPSS, Granfline, 2001. YACOUB, Leila B. Delgado. Inovações na gestão da mão-de-obra. IN: Revista Serviço Social e Sociedade, n. 57. São Paulo: Cortez, ano XIX, jul./1998. YASBEK, Maria Carmelita. As relações entre questão social e Serviço Social. Questão social na contemporaneidade. PUC - SP, 13 de junho de 2002 ( mimeo ) 226 WANDERLEY, Mariangela Belfiore. Formação profissional no contexto da reforma do sistema educacional. Cadernos ABESS, n. 08, São Paulo: Cortez, 1998. VIEIRA, Evaldo,. As Políticas Sociais e os Direitos Sociais no Brasil: avanços e retrocessos. Serviço Social e Sociedade, n. 53, São Paulo: Cortez, 1997. 227 ANEXO FORMULÁRIO PARA ENTREVISTA IDADE: SEXO: ESTADO CIVIL: NÚMERO DE FILHOS: 1- Em que período concluiu a graduação? ( ) 2000.1 ( )2001.1 ( )2002.1 ( ) 2000.2 ( ) 2001.2 ( )2002.2 2- Possui algum outro curso de graduação? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual ? 3- E de pós-graduação? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual (is)? 4- Realizado(s) em qual(is) Instituição de Ensino? 5- Possui outros cursos de qualificação profissional ? ( )Nenhum ( )Informática. Qual (is): Realizado(s) em : ( )Língua Estrangeira. Qual (is): Realizado(s) em: ( )Outros. Qual (is): Realizado(s) em: 6-Já exerceu a função de assistente social? ( ) Sim ( )Não OBS: SE A RESPOSTA FOR NÃO, IR PARA A QUESTÃO 12 7-Se sim, onde? 228 8- Que tipos de atividades desenvolvia? 9-Por quanto tempo exerceu a função? ( ( )1 a 6 meses )1 ano a 1 ano e meio ( )6 meses a 1 ano ( )1 ano e meio a 2 anos 10-Por que deixou de exercer a função? ( ) Término de contrato ( )A atividade, programa, projeto, acabou ( ) Demissão ( )Motivos pessoais ( ) Outros. Especificar: 11- Como conseguiu se inserir nessa atividade para exercer a profissão? 12-Em que ramo de atividade está inserido atualmente? ( ) Nenhum ( )Comércio ( )Indústria ( ) Saúde ( ) Serviços ( ) Segurança ( ) Outros. Especificar ( ) Educação OBS. SE A RESPOSTA FOR NENHUM IR PARA A QUESTÃO 21 13-Que função exerce? 14- Qual o tipo de vínculo profissional? ( ) Contrato temporário ( )Concurso ( ) Contrato fixo ( ) Outros 15- Como se deu a sua inserção nessa atividade? 16- Qual a faixa salarial ? ( ) Menos de 1 salário mínimo ( ( ) 2 salários e meio ( ) 1 salário mínimo ( ) 1 salário e meio ( ) 2 salários ) 3 salários mínimos ( )3 salários e 1/5 ( )4 salários ou mais 17- Que tipos de atividades desenvolve? 18- Quando concluiu a graduação já exercia essa função? ( )Sim ( )Não 19 –A que você atribui o fato de não estar exercendo a profissão e sim essa atividade? 229 20- Se surgisse a oportunidade de optar entre exercer a profissão de assistente social ou permanecer nessa atividade, o que faria? OBS. IR PARA A QUESTÃO 22 21 – A que você atribui o fato de não estar inserido no mercado de trabalho? 22- Tem vontade de exercer a profissão? ( ) Sim ( ) Não Se não, por que? 23 - Que tentativas já empreendeu para se inserir no mercado de trabalho profissional? ( ) Contatos com pessoas influentes de currículos ( )Participação em concursos ( ) Entrega ( )Participação em cursos de capacitação, treinamentos etc. ) Outros. Especificar: 24- Como você analisa o mercado de trabalho do Serviço Social ? 25 –Quais os principais desafios da profissão nos dias atuais ? 26- Como se deu o seu ingresso no curso de Serviço Social ? ( ) 1a Vestibular ( ) 2a Vestibular ( ) Reopção ( ) Reingresso ( ) 3o Vestibular 27- No vestibular a opção pelo curso foi: ( ) 1a opção ( ) 2a opção Se 2a opção, qual o curso escolhido na 1a opção? 28- Quais os motivos da sua escolha por esse curso? 29- Como você analisa a formação recebida durante o curso? 30-Se você fosse iniciar hoje a sua formação acadêmica que curso escolheria ? 31- Porque? 32 –Na sua opinião que critérios são exigidos dos trabalhadores para a sua inserção no mercado de trabalho? ( 230 33 – E no caso dos assistentes sociais quais critérios têm realmente sido utilizados para a sua inserção no mercado de trabalho: 34 – Qual a sua relação com a UFRN hoje? 35– E com o CRESS? 36- Qual a função dessas instituições junto a categoria profissional ? 37- Que sugestões você daria para essas instituições adotarem como forma de contribuição ao assistente social que não exerce a profissão?