O ROCK NACIONAL DOS ANOS 80 DÁ O SEU RECADO “Carta aos Missionários” - banda Uns e Outros SILVA, Roberta Ferreira dos Santos1 SILVA, Elizete Mello da2 RESUMO O presente artigo é resultado de um trabalho de pesquisa de conclusão de curso realizado em 2007 que teve por objetivo analisar a música como forma de expressão de movimentos sociais e políticos. Dessa forma, teve como objeto de estudo a canção “Carta aos Missionários”, composta por Marcelo Hayenna, Cal e Nilo Nunes, integrantes da banda de rock Uns e Outros. Nesta reflexão buscou-se analisar a música como forma de expressão de movimentos sociais e políticos, bem como seu caráter mercadológico e consumista. Para tanto, foram realizadas pesquisas bibliográficas teóricas e uma entrevista com os músicos da banda Uns e Outros, buscando analisar a história da música, do rock, do rock nacional, da indústria cultural e da própria representação da canção “Carta aos Missionários”, no final dos anos 80. Foi possível concluir que a música “Carta aos Missionários”, embora tenha em sua letra elementos que nos levaram a acreditar que poderia ser caracterizada como uma canção de protesto, como por exemplo, a representação de acontecimento político, não pode ser classificada como tal, tendo em vista que a intenção de seus compositores nunca foi de protestar e sim de homenagear o povo do Chile e fazer com que o povo brasileiro refletisse a respeito da importância de se ter liberdade. Palavras-chave: Música, Rock Nacional, Canção de Protesto. Introdução O presente trabalho de pesquisa tem por objetivo refletir sobre a canção “Carta aos Missionários”, sucesso em 1989. A música é fruto da aquisição de uma série de conhecimentos e habilidades e deve ter como ponto de partida permitir o acesso a todos. Conforme Arthur Schopenhauer, (filósofo idealista alemão, 1788-1860), é “na música que procuramos o significado geral e profundo que possa haver na relação da essência do universo com a nossa própria essência”. (apud SUZIGAN, 1990, p.9) 1 Aluna especial no Mestrado em Comunicação Midiática na UNESP – Bauru. Docente do UNIVEM – Centro Eurípedes Soares da Rocha de Marília. Especialista em Marketing, Comunicação e Negócios. Graduada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo e Graduada em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda. 2 Professora do Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis. Doutora em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2001) e Mestre em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1996). Bem como a apropriação de linguagens de expressão, a música é um instrumento competente de liberdade de um povo. Viabiliza o acesso ao acervo cultural, científico e religioso da humanidade. Além de ser a linguagem que mais viabiliza o consumo massificado. Ela aparece como pano de fundo em muitas atividades da comunicação de massa, como nas trilhas de novelas da televisão, onde as multinacionais distribuidoras de discos, que dominam o mercado brasileiro, a divulgam de forma subliminar, sem que o telespectador perceba claramente que tipo de música está recebendo e que acaba interiorizando como repertório do subconsciente. Devido ao seu forte poder de assimilação a música serve de instrumento não somente para o mercado, mas também para a política. Nesse sentido é necessário analisar o contexto histórico, social e político do período para entender essa relação da música com a política. Para a consecução dos objetivos, este trabalho buscou abordar a história da música, trazendo seus conceitos, definições, movimentos que marcaram época, bem como o surgimento da indústria cultural. O conceito de rock, a importância deste estilo musical e as bandas nacionais que fizeram e ainda fazem história. E a análise da música “Carta aos Missionários” embasada principalmente no depoimento dos próprios integrantes da banda incluindo dois de seus compositores. 1. A História da Música Popular Brasileira 1.1 O que é música? A música como qualquer outra linguagem é fruto da aquisição de uma série de conhecimentos e habilidades que devem ser apreendidos e desenvolvidos. A música consegue evocar sentimentos, expressar emoção, descrever fatos e até contar histórias. Ao escutar uma música, as pessoas se ocupam mentalmente e a canção se torna um estímulo a comportamentos; ou porque quem a executa quer nos induzir a fazer determinada coisa, ou porque nós mesmos a tomamos como estímulo. Em muitas culturas, utiliza-se conscientemente a música para estimular comportamentos, interiores ou manifestados: nas práticas religiosas, terapêuticas, nos quartéis, nas manifestações políticas e nas festas; outrem no campo, nas feiras, e hoje, nas fábricas e nas grandes lojas. Para Arnold Schoenberg (apud STEFANI, 1987, p.106), a música, afirma ele, é “a linguagem do mundo que talvez deva permanecer incompreensível e ser somente percebida”. Já a declaração de Varèse sobre o sentido da música explica que o papel da criação, em qualquer arte, é o de revelar um mundo novo, no entanto o ato criador em si escapa à análise. O compositor não sabe melhor do que os outros de onde lhe vem a substância de sua obra, e dela pode falar somente como artesão. (apud STEFANI, 1987, p. 110) Os manuais de música costumam defini-la como sendo a arte dos sons. E se ela é uma linguagem de sons, deve ser feita com materiais pré-selecionados, segmentados para os fins da comunicação, como os fonemas de uma língua, as letras do alfabeto, ou justamente, como as notas musicais. Para entender não só a importância lúdica da música, ou seja, o que ela representa para o povo como entretenimento e lazer, mas, principalmente, sua função social e política nos diferentes momentos históricos pelos quais passaram as sociedades é necessário analisar suas origens. No Brasil, em todos esses momentos, a música marcou sua presença, registrando fatos de importância sociológica, destacando tendências e transformações quanto aos ritmos e estilos musicais, permitindo inclusive conhecer melhor a sociedade da época. 1.2 A música como instrumento de poder No início do século XX, a história da música passa a ter as Américas como cenário principal de incorporação e propagação dos diversos estilos musicais. O rádio e a indústria fonográfica abrem um novo caminho na relação social, democratizando em alta velocidade as informações. No Brasil, uma nova classe social se forma a partir do modelo da substituição das importações em busca da industrialização. O segmento rural, os “coronéis” (como eram chamados os senhores das grandes propriedades rurais, os latifúndios), elegem a música européia como de sua preferência. Tanto a música de concerto, como e principalmente as óperas italianas, influenciam até a arquitetura dos teatros construídos no Brasil. Já os camponeses fazem música sertaneja, cantando suas tragédias, sonhos, pesadelos e amores. Há nessa música uma visão crítica da exploração social da relação trabalhista no campo, porém sem a pretensão de propor soluções reais de mudança. O Brasil, que até as primeiras quatro décadas do século XX trazia em sua produção as características da música dos séculos anteriores, começava a dar à luz uma música diferente, nascida de muitos e vários músicos e poetas que no início do século ficaram marginalizados pela cultura oficial, como Custódio Mesquita, Pixinguinha, Ernesto Nazaré, Noel Rosa etc. Essa música vem com força e vontade de se estabelecer na segunda metade da década de 50 e início da de 60, com as composições de Tom Jobim, Vinícius de Moraes, João Gilberto, Elis Regina, Caetano Veloso, Gilberto Gil entre outros. Cada país passou a gerar sua produção musical e as características regionais eram o ponto de partida para a obra mundial. O domínio econômico começou a ser viabilizado pelo domínio cultural. Os países economicamente mais fortes dedicavam-se à conquista dos mais fracos, subjulgando-os também culturalmente. A música foi, então, utilizada como arma de domínio e influência. Em 1940, a Rádio Nacional, líder de audiência na época, passou a ser propriedade do Governo Federal, e seus cantores e cantoras passaram a emprestar seu prestígio, fama e popularidade ao autoritarismo do governo Vargas. De acordo com Waldenyr Caldas, neste momento, a música popular brasileira e a política autoritária do Estado Novo estavam de mãos dadas, o DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda era o órgão responsável pela censura de toda a produção cultural da época, a proibição não era apenas no âmbito musical, se estendia ao cinema, teatro e literatura. 1.3 MPB e os Festivais Foi com o surgimento da Bossa Nova e dos grandes festivais de música veiculados pela televisão que a expressão MPB apareceu no mercado musical brasileiro. Classificada como MPB, essa vertente da música popular brasileira era apreciada por um público de classe média universitária e apesar de corresponder aos anseios da faixa de compositores anti-ditadura militar, esse segmento também conquistou seu mercado. A MPB apesar da aparente abrangência do significado da sigla, não se refere à música popular urbana brasileira como um todo, mas à expressão de um grupo de compositores, cantores e um público universitário, localizados especialmente no eixo Rio de Janeiro – São Paulo, aos quais corresponde também uma identidade política anti-ditatura militar. Para o sociólogo Gilberto Vasconcelos, “a MPB dos anos 60 criou uma base sólida de expressão da resistência, na medida em que seu movimento geral foi o de incorporação sofisticada da matéria política, sintetizado durante os Festivais da TV.” (apud EUGÊNIO, 1998, P. 10) A explosão da música popular brasileira, pós Bossa Nova, levou a TV Record, que desde a década de 50 já incorporava em sua programação shows de músicos internacionais, a substituir a importação, pelos musicais nacionais. O I Festival de Música Popular Brasileira, realizado no Guarujá, fez parte desta primeira tentativa de lançar um programa de música brasileira. Com o passar do tempo, os festivais foram denunciados como espaços quase institucionais de divulgação comercial, questionando-se seu caráter laboratorial e inovador. A partir deste momento o conceito de indústria cultural começa a fazer parte da realidade dos músicos brasileiros e a discussão sobre os benefícios e malefícios desta indústria, a fazer parte dos temas a serem abordados pelos estudiosos no assunto. 1.4 A Indústria Cultural A expressão “indústria cultural” foi empregada pela primeira vez pelos pensadores Adorno e Horkheimer na “Dialética do Iluminismo”, em 1947, para substituir o termo “cultura de massa”. Os avanços tecnológicos trazidos pela revolução industrial permitiram o aparecimento da indústria cultural e sua consolidação através de uma economia de mercado, baseada no consumo de bens, e o conseqüente surgimento de uma sociedade de consumo. A produção de bens culturais em nível industrial, em série, passa a ser vista não mais como um instrumento de crítica e de conhecimento, mas como um produto trocável por dinheiro e que deve ser consumido como se consome qualquer outro produto industrial. Para Adorno, “qualquer canção pode ser promovida e transformada em sucesso, se houver uma adequada conexão entre gravadoras, bandas famosas, estações de rádio e filmes”. (apud SILVA, 2001, p.38) Neste sentido, para a maioria dos estudiosos da transformação social, a música que se produz sob a indústria cultural significa o fim da verdadeira música popular. Porém, se por um lado o tratamento industrial capitalista dado à música tende a conferir à canção os traços da mercadoria produzida em série, por outro lado, não se pode esquecer o caráter de socialização trazido pela indústria cultural no que se refere à divulgação. Na década de 70 os meios de comunicação de massa passaram por profundas reformulações. Em nenhum outro período a mídia nacional modernizou-se tanto e tão rapidamente. Ao mesmo tempo as manifestações culturais e artísticas sofriam um golpe violento com a implantação do AI-5. O ano de 1968, "o ano que não acabou", ficou marcado na história mundial e na do Brasil como um momento de grande contestação da política e dos costumes. As emissoras de televisão e de radiodifusão correspondiam tanto aos interesses econômicos-comerciais de patrocinadores, como aos objetivos políticos. Na opinião de Alberto Mobby (1994, p.93) foi o rádio e, particularmente a televisão os instrumentos que mais se utilizaram do regime militar – não através de diretrizes rígidas, mas muito mais por uma relação de interesses mútuos – no sentido da consecução de um programa de propaganda político ideológica. Nessa época ocorre uma extraordinária expansão na área de produção, distribuição e consumo da cultura com a consolidação dos grandes conglomerados que controlam os meios de comunicação e da cultura popular de massa. A adesão e o crescimento do público movimentavam um mercado de bens simbólicos e o sucesso do artista estava condicionado à sua participação na mídia, levando a uma padronização de gostos, ideias, preferências e valores. 1.5 Os movimentos musicais na década de 60 A segunda grande fase da música popular brasileira começa com o surgimento da bossa nova, em 1958, e se estende ao final da era dos festivais em 1972, passando pelo tropicalismo e outras tendências. De acordo com Jairo Severino e Zuza Homem de Mello (1998, p.15), “é uma fase de renovação e modernização, que introduz novos estilos de composição, harmonização e interpretação, determinando uma apreciável mudança na linha evolutiva da nossa canção”. Em 1958, o Brasil vivia a euforia do desenvolvimento econômico do governo Kubitschek, ocorria a expansão dos veículos de comunicação de massa e a televisão era a grande sensação. Foi neste momento que surgiu a expressão Bossa Nova caracterizada pelas batidas sutis no violão e os arranjos sofisticados, que não só impressionavam muito bem, mas também satisfaziam plenamente o público mais jovem e mais informado das classes médias. Em 1962, o Brasil vivia um processo de intensa militância política e alguns universitários e artistas discordavam do perfil sofisticado da bossa nova. Ligados ao CPC – Centro Popular de Cultura – criado pela UNE – União Nacional dos Estudantes, no mesmo ano, entendiam que a música, além de manifestação cultual lúdica, deveria ser também arte conscientizadora, revolucionária, capaz de ajudar a preparar as massas para a revolução social e política. Neste momento, o movimento bossa nova foi dividido em dois grupos, o primeiro, dos “conservadores”, que falavam da zona sul, do mar, do céu azul e das belezas do Rio de Janeiro, como nas músicas Garota de Ipanema e O barquinho, onde o discurso ainda não se envolvia com as questões político-ideológicas do país. E um segundo, chamado de “engajados”, formado por universitários-artistas que desejavam que os movimento bossa nova apresentasse letras de conteúdo político e social, que abordasse as questões relativas ao subdesenvolvimento brasileiro, como a exploração no trabalho, a reforma agrária, o latifúndio, o desemprego etc. Iniciando assim, o período de Canções de Protesto. Em 1965, a música popular brasileira ingressa na fase dos festivais. Paralelamente ao sucesso dos empreendimentos anuais da TV Record, acontecia o movimento da Jovem Guarda, na esteira do ritmo internacional do momento, o rock’n’roll, de Elvis Presley e posteriormente do conjunto The Beatles. Considerada “apolítica”, a Jovem Guarda, trazia em suas canções parte do discurso universal sobre o amor, as paqueras, a praia, os brotos, os carros bonitos, o fascínio pela aventura, enfim, uma variedade razoável de temas sem maiores implicações políticas e suas músicas marcadas pela mesmice contribuíram para o desaparecimento do movimento. A história da música popular brasileira mudaria de rumo em 1967, quando Caetano Veloso, o irreverente baiano apareceria neste cenário. A partir daquele instante, estava oficialmente lançado o Tropicalismo. Na música nacional, nada mais seria com antes, a canção Alegria, alegria representava o divisor de águas, o marco inicial de uma era musical no Brasil, e sobretudo, a ruptura definitiva com os preconceitos musicais. Os tropicalistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Os Mutantes e Tom Zé, captaram o momento político e cultural do país e sem incorrer no panfletarismo da “música de protesto”, trabalharam a política e a estética mostrando as contradições do subdesenvolvimento. Tropicália, de Gilberto Gil e Caetano Veloso, é a música que melhor resume as idéias do movimento. No ano de 1968, o país sofreu o duro golpe do AI-5, e com ele, a produção cultural brasileira passou por reformulações nas suas temáticas e estilos, nascendo assim, a partir dos anos 80 o novo rock brasileiro. 2. O Movimento do Rock Nacional 2.1 O que é rock? Enquanto gênero musical, o rock detonou uma verdadeira revolução na música popular, projetando-se primeiramente nos Estados Unidos e influenciando a produção musical em todo o mundo. Este ritmo pressupõe a troca, ou melhor, a integração do conjunto com o público, procurando estimulá-lo a sair de sua convencional passividade. Segundo Daufouy e Sarton, esse é “o maior gênero na pop music, cuja origem data de 1965, com o Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan e Cream”, sendo que, a partir de 1967, tornou-se “sinônimo de música underground”. Já para Berendt, ele é o gênero “que chamamos de ‘estruturação’ da nova ‘liberdade’...” (apud CORRÊA, 1989, p.38). Neste sentido, podemos definir o rock como gênero de música pelo qual se estabelece um limite de confronto com os padrões sonoros convencionais, mediante o preenchimento de todas as extensões possíveis entre forma e conteúdo, pela proposta de ruptura do tradicional, do usual e daquilo que pode vir a ser estabelecido. O que, segundo Corrêa, significa dizer que o rock tem muito a ver com rebeldia: O rock, caracteriza-se por ser um gênero de periferia e tem, sobretudo, nos movimentos sociais de protesto seu principal veículo de difusão. (...) Movimentos sociais de protesto são manifestações ocorridas fora desse centro de criação e buscam como instrumento de ruptura dos padrões convencionais, os gêneros musicais de periferia. (CORRÊA, 1989, p. 39) O fato é que protesto e ruptura têm andado de mãos dadas há muito tempo. Após o surgimento do rock, na década de 1950, quase todas as formas de protesto passaram a estar associadas a ele. No rock, o protesto se evidencia nem tanto pela forma explícita das letras, evocando fatos ou episódios nefastos, mas principalmente pelo tema que elas indiretamente abordam, confrontando padrões ou agredindo costumes e convenções. As questões políticas e a arte e, em especial, o rock estão quase sempre ligados a um questionamento da superestrutura do sistema, ou seja, nos níveis do político, do cultural e do comportamento do sistema. Neste sentido pode-se dizer que o rock é muito mais que um gênero musical, ele se tornou um estilo de vida, uma forma de manifestação social de fatos e acontecimentos. Suas canções geralmente representam o momento em que foram escritas e buscam proporcionar ao público uma reflexão diante destes fatos. 2.2 Rock, Consumo e Contracultura Como já vimos nenhuma linguagem está mais próxima do jovem do que a música. Com ela, independente da nacionalidade, consegue-se dizer tudo aquilo que o outro pode facilmente entender. Por ser um argumento de reflexão, o rock representa uma conquista de si mesmo para quem se identifica com ele. Assim, toda a exploração comercial que se produz a partir dele passa a ser uma espécie de armadilha, pois se os elementos de identidade com ele se colocam como apelos de consumo, o mesmo acaba se transformando num artifício de indução. Quando um cantor de rock, lançado ao sucesso, passa a ser encarado como um símbolo de identidade pelos seguidores ou adeptos de seu estilo, transforma-se de igual modo em veículo de difusão não apenas das músicas que interpreta como também da maneira com que se veste e se apresenta. Neste contexto, toda a reprodução de modelos, enquanto manifestação do que expressam os diferentes estilos do rock, passa a ser um meio de oferecimento de novos produtos associados à música. Por essa razão, o disco, que anteriormente era apenas um produto necessário à difusão da música, converte-se em instrumento de aceleração do consumo, principalmente daquilo que o mercado coleta entre os astros da nova música, transformado em objeto de comércio paralelo. Apesar dos seus aspectos mercadológicos, obviamente não podemos esquecer a influência que o rock recebeu do movimento da contracultura. A contracultura foi um movimento dos anos 60, que tinha por objetivo a mobilização e a contestação social. Nos anos 50 surgiu nos Estados Unidos, o primeiro grande grupo de contracultura o Beat Generation (Geração Beat). Os Beatniks, como ficaram conhecidos, eram jovens intelectuais que protestavam contra o consumismo e o otimismo do pós-guerra americano, o anticomunismo e a falta de pensamento crítico da juventude. O mais influente movimento de contracultura foi o movimento Hippie. A contracultura era uma forma de contestação radical, pois rompia com praticamente todos os hábitos consagrados de pensamentos e comportamentos da cultura dominante, surgindo inicialmente na imprensa foi ganhando espaço no sentido de lançar rótulos ou modismos. Também teve representação no rock através de Elvis Presley e posteriormente no festival de “Woodstock”, onde os principais expoentes do rock estavam presentes. A contracultura teve grande expressão, não apenas pelo poder de mobilização, mas especialmente, pela identidade de idéias que colocou em circulação, pelo modo como as veiculou e pelo espaço de intervenção crítica que proporcionou. 2.3 O movimento do rock nacional No Brasil, a exibição do filme “No Balanço das horas” (“Rock around the clock”, de Fred. F. Sears), em 1957, detonou o movimento local do rock. Movimento que teve em Tony e Cely Campelo, além de Sérgio Murilo e outros menos famosos, seus intérpretes principais. Com eles, a juventude brasileira teve acesso aos hits americanos, que eram traduzidos para o português, iniciando a grande onda de versões: um tipo de música que, embora se apresentasse em língua nacional, era pura música estrangeira. Na segunda metade da década de 70 as bandas de rock no Brasil geralmente tendiam para o rock progressivo (movimento europeu com influências da música clássica e do jazz). Também estava presente nessa época o rock rural de Rodrix, Sá & Guarabira, o pré-punk do Joelho de Porco e as experimentações inclassificáveis de Tom Zé e Walter Franco. O começo da década de 80 não foi nada propício para o rock. A MPB de FM dominava o circuito musical e, apesar da relativa abertura política, a sombra da repressão e a censura ainda desanimavam os que tentavam ser tematicamente ousados. Em 1983, o rock começou a conquistar espaço na imprensa, e as gravadoras começaram a contratar bandas e lançar seus discos. Com a realização do Rock In Rio, o Brasil entrou na rota das turnês das bandas internacionais e os roqueiros brasileiros tiveram noções de profissionalismo com relação à produção dos shows. Era o início de uma nova era, pois durante o festival ocorreu a eleição de Tancredo Neves, eleito como o primeiro presidente civil no Brasil desde o golpe militar de 1964. Foi neste contexto que em 1986 surgiu no mercado nacional a banda Uns & Outros, formada na Ilha do Governador, RJ. Classificada em um concurso promovido pela danceteria Metrópolis para participar de um pau-de-sebo (disco que trazia músicas de várias bandas), o grupo conseguiu três sucessos radiofônicos, “Dias vermelhos”, “Canção em volta do fogo” e “Carta aos Missionários”, objeto de análise deste trabalho. 3. Uns e Outros e sua “Carta aos Missionários” 3.1 Anos 80: Um novo contexto político e cultural A década de 80 no Brasil foi marcada principalmente pelo fim do bipartidarismo, representado pela Arena e MDB, a queda da ditadura militar, o movimento "Diretas Já", (um movimento civil de reivindicação por eleições presidenciais diretas no Brasil, que ocorreu em 1984) e a transição para a democracia. O movimento das “Diretas Já” foi caracterizado pela mobilização popular e pelos grandes comícios que atraíam milhares de pessoas. Após a saída de João Baptista Figueiredo, último presidente do regime militar, foi eleito Tancredo Neves, o primeiro civil a ser presidente, que morreu antes de tomar posse. Em seu lugar, assumiu o vice José Sarney. Ao mesmo tempo em que o Brasil passava por essa mudança política uma canção, considerada um hino de fé e esperança na juventude, marcava aquele momento em que o país se livrava da ditadura, “Coração de Estudante”, de Milton Nascimento e Wagner Tiso, era ao mesmo tempo triste e esperançosa. Por representar este momento tão decisivo para a sociedade brasileira, “Coração de Estudante” passou a ser o tema da campanha pelas eleições direta. A canção tornou-se ainda o hino da campanha pelas eleições diretas, em 1984, e em seguida hino da chamada Nova República, com a eleição de Tancredo Neves pelo Congresso. Quando Trancredo morreu, em abril de 85 “Coração de Estudante” seria a música executada durante a transmissão do funeral pelas televisões. (SEVERINO, 1998, P. 305) A década de 80 também foi marcada pela eleição, em 1989, de Fernando Collor de Melo, o primeiro presidente da República eleito pelo voto direto após o regime militar. Seu governo foi marcado pelo Plano Collor, pela abertura do mercado nacional às importações e pelo início do Programa Nacional de Desestatização. Collor renunciou ao cargo em razão de um processo de impeachment fundamentado em acusações de corrupção, em 1992. Diante deste cenário peculiar surgem novas bandas de música nacional, muitas delas querendo dar o seu “recado”, como a banda “Uns e Outros”. A Banda Uns e Outros surgiu em 1983 tendo como formação original Marcelo Hayena nos vocais, Nilo Nunes na guitarra, Cal no baixo e Jonathas Nunes (irmão de Nilo) na bateria Atualmente a banda lançou seu quinto disco “Canções de Amor e Morte”, com doze músicas que trazem histórias que fazem referência e reverências ao amor, desde seu início até um fatídico adeus. 3.2 O “NÃO” que deu origem à canção A música “Carta aos Missionários”, objeto de estudo deste trabalho, foi composta em 1988, por Marcelo Hayenna, Cal e Nilo Nunes, em uma época em que a palavra “liberdade” começava a fazer parte da vida do povo brasileiro e que ainda era motivo de luta para outros povos. A ideia veio a partir do momento que em 88 a gente começou a lidar com uma coisa nova chamada Democracia, a gente tinha acabado de se livrar, a poucos anos da ditadura que durou 21 anos, mas o público, o povo, ainda não estava acostumado com aquilo, então com a abertura da censura, com a queda da censura, os jornais tinham mais liberdade e por isso todos os escândalos e problemas que o país tinha, começaram a vir à tona. Problemas financeiros, problemas de violência, problemas sociais graves, denúncias, que até então a gente não tinha conhecimento. Por quê? Não por que não aconteciam, é por que não chegavam até a gente. Os jornais eram vigiados, as televisões, revistas eram vigiadas e a gente não tinha acesso a isso, então a gente começou a ouvir um zum, zum, zum, de “olha, podia voltar a ditadura, porque nós não tínhamos tantos problemas na época da ditadura”. Aquilo começou a incomodar a gente, porque justamente quando depois de tantos anos a gente conseguiu liberdade, eu me lembro quando eu tinha 15, 16 anos, que eu estava ainda no segundo grau, meu pai falava pra mim, (..) tudo que a gente conversa aqui em casa sobre política, é aqui dentro de casa, você não converse isso com professor, não converse com colegas, pois você não sabe com quem você pode estar se abrindo. Eu cresci, e o Nilo deve ter crescido da mesma forma, pior até, porque ele é filho de militar, (...) nós crescemos achando que política era como sexo, era um assunto proibido, era um tabu, você não podia falar com os amigos, não podia discutir abertamente na rua sobre política, então a gente resolveu fazer “Carta aos Missionários”, e dedicamos ao povo do Chile, por que? Porque na época a única ditadura que ainda se mantinha em pé era o Pinochet, no Chile. E um pouco antes da gente completar a música, se propôs um plebiscito para saber se o povo do Chile estava ou não satisfeito com o governo do Pinochet e o povo do Chile deu um grande “Não” ao Pinochet. (HAYENNA, Entrevista, 2007) O plebiscito convocado pela ditadura chilena era um mecanismo de sucessão, estabelecido pela Constituição de 1980, no qual os eleitores, com um simples SIM ou NÃO, prorrogariam ou não aceitariam o mandato do ditador Augusto Pinochet. No caso da recusa à continuidade do mandato, seriam realizadas eleições abertas para presidente da República. O Plebiscito aconteceu em 1988 e o resultado surpreendeu os militares, que acreditavam na permanência de Pinochet no poder. Assistindo a esse acontecimento os músicos da banda Uns e Outros viram a possibilidade de mostrar para o Brasil a importância da democracia, da liberdade e do fim da ditadura, e assim, com esta intenção, finalizaram “Carta aos Missionários”. O ‘não’ dado pelo povo do Chile foi um grande incentivo pra gente continuar com o processo democrático no país, continuar acreditando naquilo, apesar de todos os problemas. E com o exemplo do Chile, dar um exemplo pra nós aqui no Brasil, pro povo brasileiro. Então, nós fizemos a música, que fala sim sobre a ditadura militar, tanto de esquerda quanto de direita, porque eu não acredito nessa coisa de que uma ditadura de esquerda é melhor que uma de direita, pra mim, ditadura é ditadura, então a gente dedicou a música ao povo do Chile pelo ‘não’ que deu ao Pinochet, mas querendo que esses ecos viessem para o Brasil e as pessoas começassem a pensar diferente no assunto. (HAYENNA, Entrevista, 2007) A música “Carta aos Missionários” já foi regravada pela banda em versão acústica e também gravada, ao vivo, pela Banda “Biquíni Cavadão”, a letra transmite o pensamento da banda sobre o momento em que viviam e permite uma reflexão sobre questões bem atuais, como as guerras e a violência que ainda tomam conta dos noticiários. Apesar de já ter dezenove anos, a canção é bem atual. “Missionários de um mundo pagão, proliferando ódio e destruição Vêm dos quatro cantos da terra A morte, a discórdia, a ganância e a guerra... e a guerra. Missionários e missões suicidas Crianças matando crianças inimigas Generais de todas as nações, fardas bonitas, condecorações Documentam na nossa história O seu rastro sujo de sangue e glória. Vindo de todas as partes, indo pra lugar algum Assim caminha a raça humana, se devorando um a um Gritei para o horizonte, e ele não me respondeu E então fechei os olhos, sua voz Assim me bateu...” “Carta aos Missionários”, assim como outras músicas do grupo comprovam que para uma banda fazer sucesso, e ter sua música executada e cantada por várias gerações, ela não precisa se tornar escrava da indústria cultural, o que é extremamente necessário é que essa banda, e essa música, tenham, acima de tudo, qualidade. 3.3 “Carta aos Missionários”: Canção de protesto? A canção “Carta aos Missionários” como vimos, não se trata de uma música ligada ao que foi o movimento das “Canções de Protesto”, este movimento, que se tornou conhecido como arte engajada, usava artifícios da língua portuguesa como as figuras de linguagem e a subjetividade para driblar a censura e dessa forma levar sua música ao conhecimento do público. Os músicos do movimento de protesto, das décadas de 1960 e 1970, se especializaram no uso da metáfora e na composição de canções com duplo sentido, tentando alertar aos mais atentos e despistar a atenção dos militares. Esse esforço de driblar a censura era para muitos artistas a tentativa de preservação não apenas do direito de expressão, mas a própria garantia de sobrevivência no mercado fonográfico. Há uma enorme produção musical metaforizada. Autores como Chico Buarque e Paulo César Pinheiro, por exemplo, tornaram-se exímios cultores da metáfora. O que o verso literalmente expressava não era exatamente o que a canção trazia como mensagem na sua construção lingüística. “Quando o carnaval chegar”, “Cálice”, e, “Tô voltando” são canções que se utilizam destes recursos metafóricos. A música “Carta aos missionários” diferentemente das músicas do movimento das canções de protesto, não traz em sua letra estes artifícios da língua portuguesa. Com uma letra mais simples e rimas fáceis, pode-se presumir que a canção tornou-se sucesso devido ao seu ritmo forte e contagiante, típico do estilo rock nacional. 3.4 Canções com intenções Além de “Carta aos Missionários”, a banda tem várias outras canções cujo ponto de sua criação foi acontecimentos históricos, problemas sociais, ambientais, ou até mesmo pessoais. Todas, com a finalidade de fazer com que o público refletisse a respeito. Essa sempre foi uma das preocupações da banda. As canções da banda reafirmam a preocupação dos músicos em fazer com que quem as ouça e as cante, também possa refletir e analisar sobre o que acontece a sua volta, deixando de ser um agente passivo para se tornar um agente ativo da situação. Isso comprova a intenção da banda de passar ao seu público alguma informação, alguma emoção, e descarta a possibilidade de que suas músicas sejam classificadas como canções de protesto, pois segundo declarações dos próprios entrevistados, a intenção deles nunca foi de protestar e sim de fazer canções que fizessem pensar e refletir. 4. Considerações finais De acordo com os elementos apresentados ao longo deste trabalho é possível concluir que a música “Carta aos Missionários”, embora tenha em sua letra elementos que nos levaram a acreditar que poderia ser caracterizada como uma canção de protesto, como por exemplo, a representação de acontecimento político, não pode ser classificada como tal, tendo em vista que a intenção de seus compositores nunca foi de protestar e sim de homenagear o povo do Chile e fazer com que o povo brasileiro refletisse a respeito da importância de se ter “liberdade”. Embora a música e a banda não representem uma extensão do movimento das canções de protesto, ocorrido nas décadas de 60 e 70, foi possível perceber a preocupação e a importância que o grupo Uns e Outros dá a esses acontecimentos, buscando sempre trazê-los nas letras de suas canções, demonstrando que a música é uma forma de expressão de pensamentos e convicções. Outra conclusão possível é de que a banda, nos seus vinte anos de carreira, sempre procurou manter seus princípios e convicções ao gravar seus discos, não se deixando manipular pelos exclusivos desejos da indústria cultural, tão dominante, por colocar limitações aos artistas que dependem do mercado para divulgar sua música. Esta opção da banda fez com que ela ficasse fora do mercado por algum tempo, porém, confirmou mais uma vez que é possível sobreviver aos caprichos dessa indústria, sem se deixar dominar por ela. Neste sentido, é possível concluir que para ter sucesso uma música precisa, acima de tudo, de qualidade, demonstração disso é que a canção analisada, ainda hoje, dezenove anos após ter sido escrita, é sucesso quando tocada nos shows da banda. 5. Referências ALEXANDRE, Ricardo. Dias de Luta – O Rock e o Brasil dos anos 80. São Paulo: DBA Artes Gráficas, 2002. ARAUJO, Maria Celina D’. Ato Institucional nº 5. Disponível em http://www.cpdoc.fgv.br/nav_fatos_imagens/htm/fatos/AI5.htm. Acesso em: 06 maio 2007. BRITO, Juliana Batista; GARCIA, Mariana Pante; PEDROSO, Patrícia Ferraz. A indústria cultural e a obra As crônicas de Nárnia: análise crítica da adaptação para o cinema de “O leão, a feiticeira e o guarda-roupa”. Assis/SP, 2006. 116p. Monografia de Conclusão do Curso de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo – Fundação Educacional do Município de Assis – FEMA. CALDAS, Waldenyr. Iniciação à Música Popular Brasileira. Série Princípios. 2 edição. São Paulo: Editora Ática S.A., 1989. CASTRO, Ruy. Ela é carioca: uma enciclopédia de Ipanema. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. CATANELI, Mariana. A imprensa no governo Collor: ascensão e queda do caçador de marajás. Assis/SP, 2006. 48p. Monografia de Conclusão do Curso de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo – Fundação Educacional do Município de Assis – FEMA. CHACON, Paulo. O que é Rock. São Paulo: Nova Cultural: Brasiliense, 1985 (Coleção Primeiros Passos; 66) CORRÊA, Tupã Gomes, 1948. Rock, nos passos da moda: mídia, consumo X mercado. Campinas, SP: Papirus, 1989. DAPIEVE, Arthur. BRock: o rock brasileiro dos anos 80. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995 224p. (Coleção Ouvido Musical). EUGÊNIO, Marcos Francisco Napolitano. “Seguindo a Canção”: Engajamento Político e Indústria Cultural na Trajetória da Música Popular Brasileira (1959-1969). São Paulo/SP, 1998. 329p. Tese (Doutorado em História Social) – Faculdade Filosofia., Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – USP. ESSINGER, Silvio. Rock Brasil 1. Disponível em http://cliquemusic.uol.com.br. Acesso em 30 abril 2007. ESSINGER, Silvio. Rock Brasil 2. Disponível em http://cliquemusic.uol.com.br. Acesso em 30 abril 2007. GALVÃO, Walnice Nogueira. Saco de gatos. São Paulo, Duas Cidades, 1970. GASPARI, Elio; Hollanda, Heloisa Buarque de; Ventura, Zuenir. Cultura em trânsito: da repressão à abertura. – Rio de Janeiro: Aeroplano Editora, 2000. HAYENNA, Marcelo; MAINIERI, André; MAINIERI, Zarmo; NUNES, Nilo; Banda Uns e Outros. Entrevista gravada em vídeo. São Paulo, em 19 abril 2007. Hotel Pan Americano. MARTINS, Lucas Scombatti. MPB – Uma arte popular da música brasileira?,Assis/SP, 2005. 78p. Monografia de Conclusão do Curso de Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda – Fundação Educacional do Município de Assis – FEMA. MOBY, Alberto. Sinal Fechado – A música Popular Brasileira sob Censura (193745/1969-78), Rio de Janeiro: Obra Aberta, 1994. PEREZ, Líbio. Como a ditadura de Pinochet suportou o Não e prepara o recuo. 1989. Disponível em http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=470, acessado em 19 maio 2007. SEVERINO, Jairo. A Canção no Tempo: 85 anos de músicas brasileiras, vol. 2: 1958-1958 / Jairo Severino e Zuza Homem de Mello. – São Paulo: Ed. 34, 1998 368p. (Coleção Ouvido Musical). SILVA, Elizete Mello da. Indústria cultural e música popular brasileiro dos anos 70 (século XX). Assis/SP, 2001. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Ciências e Letras de Assis, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. STEFANI, Gino. Para entender a música. Gino Stefani; tradução Maria Bethânia Amoroso; revisão técnica Luis Reyes Gil; prefácio J. Jota de Moraes. Rio de Janeiro: Globo, 1987. SUZIGAN, Geraldo. O que é Música Brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1990 (Coleção Primeiros Passos; 238) UNS E OUTROS, Web site oficial. Disponível em http://unseoutros.com/ Acesso em dezembro 2006. WIKIPEDIA, a enciclopédia livre. Década de 80. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9cada_de_1980. Acesso em 01 maio 2007. WIKIPEDIA, a enciclopédia livre. Contracultura. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Contracultura. Acesso em 30 abril 2007.