a razão - Educacional

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Filosofia - 2011
Turma -2211
Campos de investigação da Filosofia
- Os períodos da Filosofia gregaA Filosofia terá, no correr dos séculos, um conjunto de preocupações, indagações
e interesses que lhe vieram de seu nascimento na Grécia.
Assim, antes de vermos que campos são esses, examinemos brevemente os
conteúdos que a Filosofia possuía na Grécia. Para isso, de vemos, primeiro, conhecer
os períodos principais da Filosofia grega, pois tais períodos definiram os campos da
investigação filosófica na Antigüidade.
A história da Grécia costuma ser dividida pelos historiadores em quatro grandes
fases ou épocas:
1. a da Grécia homérica, correspondente aos 400 anos narrados pelo poeta Homero,
em seus dois grandes poemas, Ilíada e Odisséia;
2. a da Grécia arcaica ou dos sete sábios, do século VII ao século V antes de Cristo,
quando os gregos criam cidades como Atenas, Esparta, Tebas, Megara, Samos, etc.,
e predomina a economia urbana, baseada no artesanato e no comércio;
3. a da Grécia clássica, nos séculos V e IV antes de Cristo, quando a democracia se
desenvolve, a vida intelectual e artística entra no apogeu e Atenas domina a Grécia
com seu império comercial e militar;
4. e, finalmente, a época helenística, a partir do final do século IV antes de Cristo,
quando a Grécia passa para o poderio do império de Alexandre da Macedônia, e,
depois, para as mãos do Império Romano, terminando a história de sua existência
independente.
Os períodos da Filosofia não correspondem exatamente a essas épocas, já que ela
não existe na Grécia homérica e só aparece nos meados da Grécia arcaica.
Entretanto, o apogeu da Filosofia acontece durante o apogeu da cultura e da
sociedade gregas; portanto, durante a Grécia clássica. Os quatro grandes períodos da
Filosofia grega, nos quais seu conteúdo muda e se enriquece, são:
1. Período pré-socrático ou cosmológico, do final do século VII ao final do século
V a.C., quando a Filosofia se ocupa fundamentalmente com a origem do mundo e as
causas das transformações na Natureza.
2. Período socrático ou antropológico, do final do século V e todo o século IV a.C.,
quando a Filosofia investiga as questões humanas, isto é, a ética, a política e as
técnicas (em grego, ântropos quer dizer homem; por isso o período recebeu o nome
de antropológico).
3. Período sistemático, do final do século IV ao final do século III a.C., quando a
Filosofia busca reunir e sistematizar tudo quanto foi pensado sobre a cosmologia e a
antropologia, interessando-se, sobretudo em mostrar que tudo pode ser objeto do
conhecimento filosófico, desde que as leis do pensamento e de suas demonstrações
estejam firmemente estabelecidas para oferecer os critérios da verdade e da ciência.
4. Período helenístico ou greco-romano, do final do século III a.C. até o século VI
depois de Cristo. Nesse longo período, que já alcança Roma e o pensamento dos
primeiros Padres da Igreja, a Filosofia se ocupa, sobretudo com as questões da ética,
do conhecimento humano e das relações entre o homem e a Natureza e de ambos
com Deus.
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Filosofia Grega
Pode-se perceber que os dois primeiros períodos da Filosofia grega têm como
referência o filósofo Sócrates de Atenas, donde a divisão em Filosofia pré-socrática e
socrática.
Período pré-socrático ou cosmológico
Os principais filósofos pré-socráticos foram:
* da Escola Jônica: Tales de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Anaximandro de Mileto
e Heráclito de Éfeso;
* da Escola Itálica: Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona e Árquitas de Tarento;
* da Escola Eleata: Parmênides de Eléia e Zenão de Eléia;
* da Escola da Pluralidade: Empédocles de Agrigento, Anaxágoras de Clazômena,
Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera.
As principais características da cosmologia são:
* É uma explicação racional e sistemática sobre a origem, ordem e transformação da
Natureza, da qual os seres humanos fazem parte, de modo que, ao explicar a
Natureza, a Filosofia também explica a origem e as mudanças dos seres humanos.
* Afirma que não existe criação do mundo, isto é, nega que o mundo tenha surgido
do nada (como é o caso, por exemplo, na religião judaico-cristã, na qual Deus cria o
mundo do nada).
* O fundo eterno, perene, imortal, de onde tudo nasce e para onde tudo volta é
invisível para os olhos do corpo e visível somente para o olho do espírito, isto é, para
o pensamento.
* O fundo eterno, perene, imortal e imperecível de onde tudo brota e para onde tudo
retorna é o elemento primordial da Natureza e chama-se physis- em grego, que é a
Natureza eterna e em perene transformação.
* Afirma que, embora a physis seja imperecível, ela dá origem a todos os seres
infinitamente variados e diferentes do mundo, seres que, ao contrário do princípio
gerador, são perecíveis ou mortais.
*Afirma que todos os seres, além de serem gerados e de serem mortais, são seres em
contínua transformação, mudando de qualidade - por exemplo, ; o novo envelhece; o
quente esfria; o frio esquenta; Portanto o mundo está em mudança contínua, sem
por isso perder sua forma, sua ordem e sua estabilidade.
Os diferentes filósofos escolheram diferentes physis, isto é, cada filósofo
encontrou motivos e razões para dizer qual era o princípio eterno e imutável que está
na origem da Natureza e de suas transformações. Assim, Tales dizia que o princípio
era a água ou o úmido; Anaximandro considerava que era o ilimitado sem qualidades
definidas; Anaxímenes, que era o ar ou o frio; Heráclito afirmou que era o fogo;
Leucipo e Demócrito disseram que eram os átomos. E assim por diante.
Período socrático ou antropológico
Com o desenvolvimento das cidades, do comércio, do artesanato e das artes
militares, Atenas tornou-se o centro da vida social, política e cultural da Grécia,
vivendo seu período de esplendor, conhecido como o Século de Péricles.
É a época de maior florescimento da democracia. A democracia grega possuía,
entre outras, duas características de grande importância para o futuro da Filosofia.
 a democracia afirmava a igualdade de todos os homens adultos perante as leis
e o direito de todos de participar diretamente do governo da cidade, da polis.
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
e como conseqüência, a democracia, sendo direta e não por eleição de
representantes, garantia a todos a participação no governo, e os que dele
participavam tinham o direito de exprimir, discutir e defender em público
suas opiniões sobre as decisões que a cidade deveria tomar. Surgia, assim, a
figura política do cidadão. (estavam excluídos da cidadania o que os gregos
chamavam de dependentes: mulheres, escravos, crianças e velhos. Também
estavam excluídos os estrangeiros.)
O momento em que o cidadão mais aparece e mais exerce sua cidadania é quando
opina, discute, delibera e vota nas assembléias. Assim a nova educação estabelece
como padrão ideal a formação do bom orador, isto é, aquele que saiba falar em
público e persuadir os outros na política.
Para dar aos jovens essa educação, substituindo a educação antiga dos poetas
surgiram, na Grécia, os sofistas, que são os primeiros filósofos do período socrático.
Os sofistas mais importantes foram: Protágoras de Abdera, Górgias de Leontini e
Isócrates de Atenas.
Que diziam e faziam os sofistas? Diziam que os ensinamentos dos filósofos
cosmologistas estavam repletos de erros e contradições e que não tinham utilidade
para a vida da polis. Apresentavam-se como mestres de oratória ou de retórica,
afirmando ser possível ensinar aos jovens tal arte para que fossem bons cidadãos.
Que arte era esta? A arte da persuasão. Os sofistas ensinavam técnicas de persuasão
para os jovens, que aprendiam a defender a posição ou opinião A, depois a posição
ou opinião contrária, não-A, de modo que, numa assembléia, soubessem ter fortes
argumentos a favor ou contra uma opinião e ganhassem a discussão.
O filósofo Sócrates, considerado o patrono da Filosofia, rebelou-se contra os
sofistas, dizendo que não eram filósofos, pois não tinham amor pela sabedoria nem
respeito pela verdade, defendendo qualquer idéia, se isso fosse vantajoso.
Corrompiam o espírito dos jovens, pois faziam o erro e a mentira valer tanto quanto a
verdade. Como homem de seu tempo, Sócrates concordava com os sofistas em um
ponto: por um lado, a educação antiga do guerreiro belo e bom já não atendia às
exigências da sociedade grega, e, por outro lado, os filósofos cosmologistas
defendiam idéias tão contrárias entre si que também não eram uma fonte segura para
o conhecimento verdadeiro.
São características gerais do período socrático:
- A Filosofia se volta para as questões humanas no plano da ação, dos
comportamentos, das idéias, das crenças, dos valores e, portanto, se preocupa com as
questões morais e políticas.
- O ponto de partida da Filosofia é a confiança no pensamento ou no homem como
um ser racional, capaz de conhecer-se a si mesmo e, portanto, capaz de reflexão.
Reflexão é a volta que o pensamento faz sobre si mesmo para se conhecer; é a
consciência conhecendo-se a si mesma como capacidade para conhecer as coisas,
alcançando o conceito ou a essência delas.
- Como se trata de conhecer a capacidade de conhecimento do homem, a
preocupação se volta para estabelecer procedimentos que nos garantam que
encontramos a verdade, isto é, o pensamento deve oferecer a si mesmo caminhos
próprios, critérios próprios e meios próprios para saber o que é o verdadeiro e como
alcançá-lo em tudo o que investiguemos.
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- A Filosofia está voltada para a definição das virtudes morais e das virtudes
políticas, tendo como objeto central de suas investigações a moral e a política, isto é,
as idéias e práticas que norteiam os comportamentos dos seres humanos tanto como
indivíduos quanto como cidadãos.
- Cabe à Filosofia, portanto, encontrar a definição, o conceito ou a essência dessas
virtudes, para além da variedade das opiniões, para além da multiplicidade das
opiniões contrárias e diferentes.
- É feita, pela primeira vez, uma separação radical entre, de um lado a opinião e as
imagens das coisas, trazidas pelos nossos órgãos dos sentidos, nossos hábitos, pelas
tradições, pelos interesses, e, de outro lado, as idéias.
-A reflexão e o trabalho do pensamento são tomados como uma purificação
intelectual, que permite ao espírito humano conhecer a verdade invisível, imutável,
universal e necessária.
- A opinião, as percepções e imagens sensoriais são consideradas falsas, mentirosas,
mutáveis, inconsistentes, contraditórias, devendo ser abandonadas para que o
pensamento siga seu caminho próprio no conhecimento verdadeiro.
- A diferença entre os sofistas, de um lado, e Sócrates e Platão, de outro, é dada pelo
fato de que os sofistas aceitam a validade das opiniões e das percepções sensoriais e
trabalham com elas para produzir argumentos de persuasão, enquanto Sócrates e
Platão consideram as opiniões e as percepções sensoriais, ou imagens das coisas,
como fonte de erro, mentira e falsidade, formas imperfeitas do conhecimento que
nunca alcançam a verdade plena da realidade.
Período sistemático
Este período tem como principal nome o filósofo Aristóteles de Estagira,
discípulo de Platão. Passados quase quatro séculos de Filosofia, Aristóteles
apresenta, nesse período, uma verdadeira enciclopédia de todo o saber que foi
produzido e acumulado pelos gregos em todos os ramos do pensamento e da prática
considerando essa totalidade de saberes como sendo a Filosofia. Esta, portanto, não é
um saber específico sobre algum assunto, mas uma forma de conhecer todas as
coisas, possuindo procedimentos diferentes para cada campo de coisas que conhece.
Cada saber, no campo que lhe é próprio, possui seu objeto específico,
procedimentos específicos para sua aquisição e exposição, formas próprias de
demonstração e prova. Cada campo do conhecimento é uma ciência (ciência, em
grego, é episteme).
Aristóteles afirma que, antes de um conhecimento constituir seu objeto e seu
campo próprios, seus procedimentos próprios de aquisição e exposição, de
demonstração e de prova, deve, primeiro, conhecer as leis gerais que governam o
pensamento, independentemente do conteúdo que possa vir a ter.
O estudo das formas gerais do pensamento, sem preocupação com seu conteúdo,
chama-se lógica, e Aristóteles foi o criador da lógica como instrumento do
conhecimento em qualquer campo do saber.
A lógica não é uma ciência, mas o instrumento para a ciência e, por isso, na
classificação das ciências feita por Aristóteles, a lógica não aparece, embora ela seja
indispensável para a Filosofia e, mais tarde, tenha se tornado um dos ramos
específicos dela.
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Os campos do conhecimento filosófico
Classificação aristotélica
*Ciências produtivas: ciências que estudam as práticas produtivas ou as técnicas,
isto é, as ações humanas cuja finalidade está para além da própria ação, pois a
finalidade é a produção de um objeto, de uma obra. São elas: arquitetura (cujo fim é
a edificação de alguma coisa), economia (cujo fim é a produção agrícola, o
artesanato e o comércio, isto é, produtos para a sobrevivência e para o acúmulo de
riquezas), medicina (cujo fim é produzir a saúde ou a cura), pintura, escultura,
poesia, teatro, oratória, arte da guerra, da caça, da navegação, etc. Em suma, todas as
atividades humanas técnicas e artísticas que resultam num produto ou numa obra.
*Ciências práticas: ciências que estudam as práticas humanas enquanto ações que
têm nelas mesmas seu próprio fim, isto é, a finalidade da ação se realiza nela mesma,
é o próprio ato realizado. São elas: ética, em que a ação é realizada pela vontade
guiada pela razão para alcançar o bem do indivíduo, sendo este bem as virtudes
morais (coragem, generosidade, fidelidade, lealdade, clemência, prudência, amizade,
justiça, modéstia, honradez, temperança, etc.); e política, em que a ação é realizada
pela vontade guiada pela razão para ter como fim o bem da comunidade ou o bem
comum. Para Aristóteles, como para todo grego da época clássica, a política é
superior à ética, pois a verdadeira liberdade, sem a qual não pode haver vida virtuosa,
só é conseguida na polis. Por isso, a finalidade da política é a vida justa, a vida boa e
bela, a vida livre.
* Ciências teoréticas, contemplativas ou teóricas: são aquelas que estudam coisas
que existem independentemente dos homens e de suas ações e que, não tendo sido
feitas pelos homens, só podem ser contempladas por eles. Theoria, em grego,
significa contemplação da verdade. O que são as coisas que existem por si mesmas e
em si mesmas, independentes de nossa ação fabricadora (técnica) e de nossa ação
moral e política? São as coisas da Natureza e as coisas divinas.
A partir da classificação aristotélica, definiu-se, no correr dos séculos, o grande
campo da investigação filosófica, campo que só seria desfeito no século XIX da
nossa era, quando as ciências particulares se foram separando do tronco geral da
Filosofia. Assim, podemos dizer que os campos da investigação filosófica são três:
1º. O do conhecimento da realidade última de todos os seres, ou da essência de
toda a realidade.
2º. O do conhecimento das ações humanas ou dos valores e das finalidades da
ação humana: das ações que têm em si mesmas sua finalidade, a ética e a política,
ou a vida moral (valores morais) e a vida política (valores políticos); e das ações que
têm sua finalidade num produto ou numa obra: as técnicas e as artes e seus valores
(utilidade, beleza, etc.).
3º. O do conhecimento da capacidade humana de conhecer, isto é, o
conhecimento do próprio pensamento em exercício. Aqui, distinguem-se: a lógica,
que oferece as leis gerais do pensamento; a teoria do conhecimento, que oferece os
procedimentos pelos quais conhecemos; as ciências propriamente ditas e o
conhecimento do conhecimento científico, isto é, a epistemologia.
Período helenístico
Trata-se do último período da Filosofia antiga, quando a polis grega desapareceu
como centro político, deixando de ser referência principal dos filósofos, uma vez que
a Grécia encontrava-se sob o poderio do Império Romano. Os filósofos dizem, agora,
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que o mundo é sua cidade e que são cidadãos do mundo. Em grego, mundo se diz
cosmos e esse período é chamado o da Filosofia cosmopolita.
Essa época da Filosofia é constituída por grandes sistemas ou doutrinas, isto é,
explicações totalizantes sobre a Natureza, o homem, as relações entre ambos e deles
com a divindade (esta, em geral, pensada como Providência divina que instaura e
conserva a ordem universal). Predominam preocupações com a ética - pois os
filósofos já não podem ocupar-se diretamente com a política -, a física, a teologia e a
religião.
Datam desse período quatro grandes sistemas cuja influência será sentida pelo
pensamento cristão, que começa a formar-se nessa época: estoicismo, epicurismo,
ceticismo e neoplatonismo.
ASPECTOS DA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
As questões discutidas pela Filosofia contemporânea
A Filosofia contemporânea vai dos meados do século XIX até nossos dias e que,
por estar próxima de nós, é mais difícil de ser vista em sua generalidade, pois os
problemas e as diferentes respostas dadas a eles parecem impossibilitar uma visão de
conjunto.
Em outras palavras, não temos distância suficiente para perceber os traços mais
gerais e marcantes deste período da Filosofia. Apesar disso, é possível assinalar quais
têm sido as principais questões e os principais temas que interessaram à Filosofia
neste século e meio.
Campos filosóficos
A Filosofia existe há 25 séculos. Durante uma história tão longa e de tantos
períodos diferentes, surgiram temas, disciplinas e campos de investigação filosóficos
enquanto outros desapareceram. Desapareceu também a idéia de Aristóteles de que a
Filosofia era a totalidade dos conhecimentos teóricos e práticos da humanidade.
Também desapareceu uma imagem, que durou muitos séculos, na qual a Filosofia
era representada como uma grande árvore frondosa, cujas raízes eram a metafísica e
a teologia, cujo tronco era a lógica, cujos ramos principais eram a filosofia da
Natureza, a ética e a política e cujos galhos extremos eram as técnicas, as artes e as
invenções. A Filosofia, vista como uma totalidade orgânica ou viva, era chamada de
“rainha das ciências”. Isso desapareceu.
Pouco a pouco, as várias ciências particulares foram definindo seus objetivos,
seus métodos e seus resultados próprios, e se desligaram da grande árvore. Cada
ciência, ao se desligar, levou consigo os conhecimentos práticos ou aplicados de seu
campo de investigação, isto é, as artes e as técnicas a ele ligadas. As últimas ciências
a aparecer e a se desligar da árvore da Filosofia foram as ciências humanas
(psicologia, sociologia, antropologia, história, lingüística, geografia, etc.). Outros
campos de conhecimento e de ação abriram-se para a Filosofia, mas a idéia de uma
totalidade de saberes que conteria em si todos os conhecimentos nunca mais
reapareceu.
No século XX, a Filosofia foi submetida a uma grande limitação quanto à esfera
de seus conhecimentos. Isso pode ser atribuído a dois motivos principais:
1. Desde o final do século XVIII, com o filósofo alemão Immanuel Kant, passou se a
considerar que a Filosofia, durante todos os séculos anteriores, tivera uma pretensão
irrealizável. Que pretensão fora essa? A de que nossa razão pode conhecer as coisas
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tais como são em si mesmas. Esse conhecimento da realidade em si, dos primeiros
princípios e das primeiras causas de todas as coisas chama-se metafísica.
Kant negou que a razão humana tivesse tal poder de conhecimento e afirmou que
só conhecemos as coisas tais como são organizadas pela estrutura interna e universal
de nossa razão, mas nunca saberemos se tal organização corresponde ou não à
organização em si da própria realidade. Deixando de ser metafísica, a Filosofia se
tornou o conhecimento das condições de possibilidade do conhecimento verdadeiro
enquanto conhecimento possível para os seres humanos racionais.
A Filosofia tornou-se uma teoria do conhecimento, ou uma teoria sobre a
capacidade e a possibilidade humana de conhecer, e uma ética, ou estudo das
condições de possibilidade da ação moral enquanto realizada por liberdade e por
dever. Com isso, a Filosofia deixava de ser conhecimento do mundo em si e tornavase apenas conhecimento do homem enquanto ser racional e moral.
2. Desde meados do século XIX, como conseqüência da filosofia de Augusto Comte
- chamada de positivismo -, foi feita uma separação entre Filosofia e ciências
positivas (matemática, física, química, biologia, astronomia, sociologia). As ciências,
dizia Comte, estudam a realidade natural, social, psicológica e moral e são
propriamente o conhecimento. Para ele, a Filosofia seria apenas uma reflexão sobre o
significado do trabalho científico, isto é, uma análise e uma interpretação dos
procedimentos ou das metodologias usadas pelas ciências e uma avaliação dos
resultados científicos. A Filosofia tornou-se, assim, uma teoria das ciências ou
epistemologia (episteme, em grego, quer dizer ciência). A Filosofia reduziu-se,
portanto, à teoria do conhecimento, à ética e à epistemologia.
O interesse pela consciência reflexiva ou pelo sujeito do conhecimento deu
surgimento a uma corrente filosófica conhecida como fenomenologia, iniciada pelo
filósofo alemão Edmund Husserl. Já o interesse pelas formas e pelos modos de
funcionamento da linguagem corresponde a uma corrente filosófica conhecida como
filosofia analítica cujo início é atribuído ao filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein.
Atualmente, um movimento filosófico conhecido como desconstrutivismo ou
pós-modernismo, vem ganhando preponderância. Seu alvo principal é a crítica de
todos os conceitos e valores que, até hoje, sustentaram a Filosofia e o pensamento
dito ocidental: razão, saber, sujeito, objeto, História, espaço, tempo, liberdade,
necessidade, acaso, Natureza, homem, etc.
Os campos próprios em que se desenvolve a reflexão filosófica nestes 25 séculos
- Ontologia ou metafísica: conhecimento dos princípios e fundamentos últimos de
toda a realidade, de todos os seres;
- Lógica: conhecimento das formas gerais e regras gerais do pensamento correto e
verdadeiro, independentemente dos conteúdos pensados; regras para a demonstração
científica verdadeira; regras para pensamentos não-científicos;
regras sobre o modo de expor os conhecimentos; regras para a verificação da verdade
ou falsidade de um pensamento, etc.;
- Epistemologia: análise crítica das ciências, tanto as ciências exatas ou
matemáticas, quanto as naturais e as humanas; avaliação dos métodos e dos
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resultados das ciências; compatibilidades e incompatibilidades entre as ciências;
formas de relações entre as ciências, etc.;
- Teoria do conhecimento ou estudo das diferentes modalidades de conhecimento
humano: o conhecimento sensorial ou sensação e percepção; a memória e a
imaginação; o conhecimento intelectual; a idéia de verdade e falsidade; a idéia de
ilusão e realidade; formas de conhecer o espaço e o tempo; formas de conhecer
relações; conhecimento ingênuo e conhecimento científico; diferença entre
conhecimento científico e filosófico, etc.;
- Ética: estudo dos valores morais (as virtudes), da relação entre vontade e paixão,
vontade e razão; finalidades e valores da ação moral; idéias de liberdade,
responsabilidade, dever, obrigação, etc.;
- Filosofia política: estudo sobre a natureza do poder e da autoridade; idéia de
direito, lei, justiça, dominação, violência; formas dos regimes políticos e suas
fundamentações; nascimento e formas do Estado; idéias autoritárias, conservadoras,
revolucionárias e libertárias; teorias da revolução e da reforma; análise e crítica das
ideologias;
- Filosofia da História: estudo sobre a dimensão temporal da existência humana
como existência sociopolítica e cultural; teorias do progresso, da evolução e teorias
da descontinuidade histórica; significado das diferenças culturais e históricas, suas
razões e conseqüências;
- Filosofia da arte ou estética: estudo das formas de arte, do trabalho artístico; idéia
de obra de arte e de criação; relação entre matéria e forma nas artes; relação entre
arte e sociedade, arte e política, arte e ética;
- Filosofia da linguagem: a linguagem como manifestação da humanidade do
homem; signos, significações; a comunicação; passagem da linguagem oral à escrita,
da linguagem cotidiana à filosófica, à literária, à científica; diferentes modalidades de
linguagem como diferentes formas de expressão e de comunicação;
- História da Filosofia: estudo dos diferentes períodos da Filosofia; de grupos de
filósofos segundo os temas e problemas que abordam; de relações entre o
pensamento filosófico e as condições econômicas, políticas, sociais e culturais de
uma sociedade; mudanças ou transformações de conceitos filosóficos em diferentes
épocas; mudanças na concepção do que seja a Filosofia e de seu papel ou finalidade.
falar numa orientalização da Filosofia, sobretudo nos aspectos místicos e religiosos.
Os principais períodos da Filosofia
Filosofia antiga (do século VI a.C. ao século VI d.C.)
Compreende os quatro grandes períodos da Filosofia greco-romana, indo dos présocráticos aos grandes sistemas do período helenístico.
Filosofia patrística (do século I ao século VII)
Inicia-se com as Epístolas de São Paulo e o Evangelho de São João e termina no
século VIII, quando teve início a Filosofia medieval. A patrística resultou do esforço
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feito pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e João) e pelos primeiros Padres da
Igreja para conciliar a nova religião – o Cristianismo - com o pensamento filosófico
dos gregos e romanos, pois somente com tal conciliação seria possível convencer os
pagãos da nova verdade e convertê-los a ela. A Filosofia patrística liga-se, portanto, à
tarefa religiosa da evangelização e à defesa da religião cristã contra os ataques
teóricos e morais que recebia dos antigos.
Divide-se em patrística grega (ligada à Igreja de Bizâncio) e patrística latina
(ligada à Igreja de Roma) e seus nomes mais importantes foram: Justino, Tertuliano,
Atenágoras, Orígenes, Clemente, Eusébio, Santo Ambrósio, São Gregório Nazianzo,
São João Crisóstomo, Isidoro de Sevilha, Santo Agostinho, Beda e Boécio.
Filosofia medieval (do século VIII ao século XIV)
Abrange pensadores europeus, árabes e judeus. É o período em que a Igreja
Romana dominava a Europa, ungia e coroava reis, organizava Cruzadas à Terra
Santa e criava, à volta das catedrais, às primeiras universidades ou escolas. E, a partir
do século XII, por ter sido ensinada nas escolas, a Filosofia medieval também é
conhecida com o nome de Escolástica.
A Filosofia medieval teve como influências principais Platão e Aristóteles,
embora o Platão que os medievais conhecessem fosse o neoplatônico (vindo da
Filosofia de Plotino, do século VI d.C.), e o Aristóteles que conhecessem fosse
aquele conservado e traduzido pelos árabes, particularmente Avicena e Averróis.
Conservando e discutindo os mesmos problemas que a patrística, a Filosofia
medieval acrescentou outros - particularmente um conhecido com o nome de
Problema dos Universais - e, além de Platão e Aristóteles, sofreu uma grande
influência das idéias de Santo Agostinho. Durante esse período surge propriamente a
Filosofia cristã, que é, na verdade, a teologia. Um de seus temas mais constantes são
as provas da existência de Deus e da alma, isto é, demonstrações racionais da
existência do infinito criador e do espírito humano imortal.
A diferença e separação entre infinito (Deus) e finito (homem, mundo), a
diferença entre razão e fé (a primeira deve subordinar-se à segunda), a diferença e
separação entre corpo (matéria) e alma (espírito), O Universo como uma hierarquia
de seres, onde os superiores dominam e governam os inferiores (Deus, arcanjos,
anjos, alma, corpo, animais, vegetais, minerais), a subordinação do poder temporal
dos reis e barões ao poder espiritual de papas e bispos, são os grandes temas da
Filosofia medieval.
Outra característica marcante da Escolástica foi o método por ela inventado para
expor as idéias filosóficas, conhecida como disputa: apresentava-se uma tese e esta
devia ser ou refutada ou defendida por argumentos tirados da Bíblia, de Aristóteles,
de Platão ou de outros Padres da Igreja.
Os teólogos medievais mais importantes foram: Abelardo, Duns Scoto, Escoto
Erígena, Santo Anselmo, Santo Tomás de Aquino, Santo Alberto Magno, Guilherme
de Ockham, Roger Bacon, São Boaventura. Do lado árabe: Avicena, Averróis,
Alfarabi e Algazáli. Do lado judaico: Maimônides, Nahmanides, Yeudah bem Levi.
Filosofia da Renascença (do século XIV ao século XVI)
É marcada pela descoberta de obras de Platão desconhecidas na Idade Média, de
novas obras de Aristóteles, bem como pela recuperação das obras dos grandes
autores e artistas gregos e romanos.
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São três as grandes linhas de pensamento que predominavam na Renascença:
1. Aquela proveniente de Platão, do neoplatonismo e da descoberta dos livros do
Hermetismo; nela se destacava a idéia da Natureza como um grande ser vivo; o
homem faz parte da Natureza como um microcosmo (como espelho do Universo
inteiro) e pode agir sobre ela através da magia natural, da alquimia e da astrologia,
pois o mundo é constituído por vínculos e ligações secretas (a simpatia) entre as
coisas; o homem pode, também, conhecer esses vínculos e criar outros, como um
deus.
2. Aquela originária dos pensadores florentinos, que valorizava a vida ativa, isto
é, a política, e defendia os ideais republicanos das cidades italianas contra o Império
Romano-Germânico, isto é, contra o poderio dos papas e dos imperadores. Na defesa
do ideal republicano, os escritores resgataram autores políticos da Antigüidade,
historiadores e juristas, e propuseram a “imitação dos antigos” ou o renascimento da
liberdade política, anterior ao surgimento do império eclesiástico.
3. Aquela que propunha o ideal do homem como artífice de seu próprio destino,
tanto através dos conhecimentos (astrologia, magia, alquimia), quanto através da
política (o ideal republicano), das técnicas (medicina, arquitetura, engenharia,
navegação) e das artes (pintura, escultura, literatura, teatro).
Os nomes mais importantes desse período são: Dante, Marcílio Ficino,
Giordano Bruno, Campannella, Maquiavel, Montaigne, Erasmo, Tomás Morus, Jean
Bodin, Kepler e Nicolau de Cusa.
Filosofia moderna (do século XVII a meados do século XVIII)
Esse período, conhecido como o Grande Racionalismo Clássico, é marcado por
três grandes mudanças intelectuais:
1. Aquela conhecida como o “surgimento do sujeito do conhecimento”, isto é, a
Filosofia, em lugar de começar seu trabalho conhecendo a Natureza e Deus, para
depois referir-se ao homem, começa indagando qual é a capacidade do intelecto
humano para conhecer e demonstrar a verdade dos conhecimentos. Em outras
palavras, a Filosofia começa pela reflexão, isto é, pela volta do pensamento sobre si
mesmo para conhecer sua capacidade de conhecer.
O ponto de partida é o sujeito do conhecimento como consciência de si reflexiva,
isto é, como consciência que conhece sua capacidade de conhecer. O sujeito do
conhecimento é um intelecto no interior de uma alma, cuja natureza ou substância é
completamente diferente da natureza ou substância de seu corpo e dos demais corpos
exteriores.
Por isso, a segunda pergunta da Filosofia, depois de respondida a pergunta sobre a
capacidade de conhecer, é: Como o espírito ou intelecto pode conhecer o que é
diferente dele? Como pode conhecer os corpos da Natureza?
2. A resposta à pergunta acima constituiu a segunda grande mudança intelectual dos
modernos, e essa mudança diz respeito ao objeto do conhecimento. Para os
modernos, as coisas exteriores (a Natureza, a vida social e política) podem ser
conhecidas desde que sejam consideradas representações, ou seja, idéias ou conceitos
formulados pelo sujeito do conhecimento. Isso significa, por um lado, que tudo o que
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pode ser conhecido deve poder ser transformado num conceito ou numa idéia clara e
distinta, demonstrável e necessária, formulada pelo intelecto; e, por outro lado, que a
Natureza e a sociedade ou política podem ser inteiramente conhecidas pelo sujeito,
porque elas são inteligíveis em si mesmas, isto é, são racionais em si mesmas e
propensas a serem representadas pelas idéias do sujeito do conhecimento.
3. Essa concepção da realidade como intrinsecamente racional e que pode ser
plenamente captada pelas idéias e conceitos preparou a terceira grande mudança
intelectual moderna. A realidade, a partir de Galileu, é concebida como um sistema
racional de mecanismos físicos, cuja estrutura profunda e invisível é matemática.
Predomina, assim, nesse período, a ideia de conquista científica e técnica de toda a
realidade, a partir da explicação mecânica e matemática do Universo e da invenção
das máquinas, graças às experiências físicas e químicas. Existe também a convicção
de que a razão humana é capaz de conhecer a origem, as causas e os efeitos das
paixões e das emoções e, pela vontade orientada pelo intelecto, é capaz de governálas e dominá-las, de sorte que a vida ética pode ser plenamente racional.
A mesma convicção orienta o racionalismo político, isto é, a idéia de que a razão
é capaz de definir para cada sociedade qual o melhor regime político e como mantêlo racionalmente. Nunca mais, na história da Filosofia, haverá igual confiança nas
capacidades e nos poderes da razão humana como houve no Grande Racionalismo
Clássico. Os principais pensadores desse período foram: Francis Bacon, Descartes,
Galileu, Pascal, Hobbes, Espinosa, Leibniz, Malebranche, Locke, Berkeley, Newton,
Gassendi.
Filosofia da Ilustração ou Iluminismo (meados do século XVIII ao começo do século XIX)
Esse período também crê nos poderes da razão, chamada de As Luzes (por isso, o
nome Iluminismo). O Iluminismo afirma que:
- pela razão, o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade social e política (a
Filosofia da Ilustração foi decisiva para as idéias da Revolução Francesa de 1789);
- a razão é capaz de evolução e progresso, e o homem é um ser perfectível. A
perfectibilidade consiste em liberar-se dos preconceitos religiosos, sociais e morais,
em libertar-se da superstição e do medo, graças as conhecimento, às ciências, às artes
e à moral;
- o aperfeiçoamento da razão se realiza pelo progresso das civilizações, que vão das
mais atrasadas (também chamadas de “primitivas” ou “selvagens”) às mais
adiantadas e perfeitas (as da Europa Ocidental);
-há diferença entre Natureza e civilização, isto é, a Natureza é o reino das relações
necessárias de causa e efeito ou das leis naturais universais e imutáveis, enquanto a
civilização é o reino da liberdade e da finalidade proposta pela vontade livre dos
próprios homens, em seu aperfeiçoamento moral, técnico e político.
Nesse período há grande interesse pelas ciências que se relacionam com a idéia de
evolução e, por isso, a biologia terá um lugar central no pensamento ilustrado,
pertencendo ao campo da filosofia da vida. Há igualmente grande interesse e
preocupação com as artes, na medida em que elas são as expressões por excelência
do grau de progresso de uma civilização. Data também desse período o interesse pela
compreensão das bases econômicas da vida social e política, surgindo uma reflexão
sobre a origem e a forma das riquezas das nações, com uma controvérsia sobre a
importância maior ou menor da agricultura e do comércio, controvérsia que se
exprime em duas correntes do pensamento econômico: a corrente fisiocrata (a
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agricultura é a fonte principal das riquezas) e a mercantilista (o comércio é a fonte
principal da riqueza das nações).
Os principais pensadores do período foram: Hume, Voltaire, D’Alembert,
Diderot, Rousseau, Kant, Fichte e Schelling (embora este último costume ser
colocado como filósofo do Romantismo).
Filosofia contemporânea
Abrange o pensamento filosófico que vai de meados do século XIX e chega aos
nossos dias. Esse período, por ser o mais próximo de nós, parece ser o mais complexo e o
mais difícil de definir, pois as diferenças entre as várias filosofias ou posições filosóficas
nos parecem muito grandes porque as estamos vendo surgir diante de nós.
A RAZÃO
Os filósofos racionalistas opõem a razão à imaginação.
Enquanto empregar a imaginação é representar os objetos
segundo as qualidadessecundárias - aquelas que são dadas aos
sentidos – empregar a razão é representar os objetos segundo
as qualidades primárias – aquelas que são dadas à razão.
A etimologia do termo vem do latim rationem, que significa
cálculo, conta,medida, regra, derivado de ratus,
particípio,
passado de reor, ou seja, determino, estabeleço, e portanto julgo,
estimo. É a faculdade do homem de julgar, de raciocinar,
compreender, ponderar.
"O Sonho da Razão
produz monstros",
Empregada em filosofia, a palavra razão comporta vários
de Francisco Goya.
significados:
A razão como característica da condição humana, quando se define o homem,
por exemplo, como animal racional, ou se diz que alguém está no uso da razão ou
a perdeu; Princípio ou fundamento, a razão pela qual as coisas são como são ou
ocorrem os fatos desta ou daquela maneira.
A razão não é uma instância transcendente, dada de uma vez por todas, mas um
processo que se desdobra ou realiza ao longo do tempo. Dir-se-ia que, assim como o
homem é a história do homem, a razão é a história da razão.
Zenão de Eléia, identificando a razão com o ser e admitindo que o princípio de
identidade, formalmente entendido, é o princípio fundamental da razão, argumenta
para provar que o movimento e a pluralidade, envolvendo contradição, são
irracionais e, portanto, irreais, meras ilusões dos sentidos.
A razão, entendida como diálogo, não tem um conteúdo eventual, mas
permanente, o conhecimento de si mesma e das essências das coisas, do universal. A
razão socrática é o método que permite, pelo diálogo, proposição da tese, crítica da
tese ou antítese, chegar à síntese, a essência descoberta em comum, ao termo da
controvérsia.
Há quem acredite que a razão se subordina totalmente à fé, pois o critério
supremo da verdade é o dogma, a revelação divina. A razão abdica de suas
exigências próprias em favor de uma instância meta-racional, cuja autoridade não se
discute. A razão é tida, por alguns, como instrumento não de demonstração, mas de
afirmação da fé.
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É na filosofia de Hegel que se encontra a primeira tentativa de introduzir a razão
na história. Para ele, a razão rege o mundo, a história universal transcorre
racionalmente, mas a razão que se manifesta ou revela na história é a razão divina,
absoluta. É a razão que constitui a história.
A razão vital, a razão histórica, nada aceita como simples fato, mas tudo fluidifica
no in fieri de que provém e ao qual se dirige, procurando ver não o fato cristalizado
ou feito, mas fazendo-se ou como se faz.
A ATIVIDADE RACIONAL E SUAS MODALIDADES
A Filosofia distingue duas grandes modalidades da
atividade
racional, realizadas pela razão
subjetiva ou pelo sujeito do conhecimento: a intuição
(ou razão intuitiva) e o raciocínio (ou razão discursiva).
A atividade racional discursiva, como a própria palavra
indica, discorre, percorre uma realidade ou um objeto para
chegar a conhecê-lo, isto é, realiza vários atos de
conhecimento até conseguir captá-lo. A razão discursiva ou o
pensamento discursivo chega ao objeto
passando por
etapas sucessivas
de conhecimento, realizando esforços sucessivos de
aproximação para chegar ao conceito ou à definição do objeto.
A razão intuitiva ou intuição, ao contrário, consiste num único ato do espírito,
que, de uma só vez, capta por inteiro e completamente o objeto. Em latim, intuitos
significa: ver. A intuição é uma visão direta e imediata do objeto do conhecimento,
um contato direto e imediato com ele, sem necessidade de provas ou demonstrações
para
saber
o
que
conhece.
A intuição
A intuição é uma compreensão global e instantânea de uma verdade, de um
objeto, de um fato. Nela, de uma só vez, a razão capta todas as relações que
constituem a realidade e a verdade da coisa intuída. É um ato intelectual de
discernimento e compreensão, como, por exemplo, tem um médico quando faz um
diagnóstico e apreende de uma só vez a doença, sua causa e o modo de tratá-la. Os
psicólogos se referem à intuição usando o termo insight, para referirem-se ao
momento em que temos uma compreensão total, direta e imediata de alguma coisa,
ou o momento em que percebemos, num só lance, um caminho para a solução de um
problema científico, filosófico ou vital.
A razão intuitiva pode ser de dois tipos:
1. A intuição sensível ou empírica (do grego, empeiria: experiência sensorial) é o
conhecimento que temos a todo o momento de nossa vida. Assim, com um só olhar
ou num só ato de visão percebemos uma casa, um homem, uma mulher, uma flor,
uma mesa. Num só ato, por exemplo, capto que isto é uma flor: vejo sua cor e suas
pétalas, sinto a maciez de sua textura, aspiro seu perfume, tenho-a por inteiro e de
uma só vez diante de mim.
A intuição empírica é o conhecimento direto e imediato das qualidades sensíveis
do objeto externo: cores, sabores, odores, paladares, texturas, dimensões, distâncias.
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É também o conhecimento direto e imediato de estados internos ou mentais:
lembranças,
desejos,
sentimentos,
imagens.
Ela é psicológica, isto é, refere-se aos estados do sujeito do conhecimento
enquanto um ser corporal e psíquico individual - sensações, lembranças, imagens,
sentimentos, desejos e percepções são exclusivamente pessoais.
2. A intuição intelectual difere da sensível justamente por sua universalidade e
necessidade. Quando penso: “Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo”,
sei, sem necessidade de provas ou demonstrações, que isto é verdade. Ou seja, tenho
conhecimento intuitivo do princípio da contradição. Quando digo: “O amarelo é
diferente do azul”, sei, sem necessidade de provas e demonstrações, que há
diferenças. Vejo, na intuição sensível, a cor amarela e a cor azul, mas vejo, na
intuição intelectual, a diferença entre cores. Quando afirmo: “O todo é maior do que
as partes” sei, sem necessidade de provas e demonstrações, que isto é verdade,
porque intuo uma forma necessária de relação entre as coisas.
A intuição intelectual é o conhecimento direto e imediato dos princípios da razão
(identidade, contradição, terceiro excluído, razão suficiente), das relações necessárias
entre os seres ou entre as idéias, da
verdade de uma idéia ou de um ser.
### Fala-se também de uma intuição emotiva ou valorativa. Trata-se daquela
intuição na qual, juntamente com o sentido ou significação de alguma coisa,
captamos também seu valor, isto é, com a idéia intuímos também se a coisa ou
essência é verdadeira ou falsa, bela ou feia, boa ou má, justa ou injusta, possível ou
impossível, etc. Ou seja, a intuição intelectual capta a essência do objeto (o que ele é)
e a intuição emotiva ou valorativa capta essa essência pelo que o objeto vale.
A razão discursiva: dedução, indução e abdução
A intuição pode ser o ponto de chegada, a conclusão de um processo de
conhecimento, e pode também ser o ponto de partida de um processo cognitivo. O
processo de conhecimento, seja o que chega a uma intuição, seja o que parte dela,
constitui
a
razão
discursiva
ou
o
raciocínio.
Ao contrário da intuição, o raciocínio é o conhecimento que exige provas e
demonstrações e se realiza igualmente por meio de provas e demonstrações das
verdades que estão sendo conhecidas ou investigadas. Não é um ato intelectual, mas
são vários atos intelectuais internamente ligados ou conectados, formando um
processo de conhecimento.
Quando, porém, um raciocínio se realiza em condições tais que a individualidade
psicológica do sujeito e a singularidade do objeto são substituídas por critérios de
generalidade e universalidade, temos a dedução, a indução e a abdução.
Dedução e indução são procedimentos racionais que nos levam do já conhecido ao
ainda não conhecido, isto é, permitem que adquiramos conhecimentos novos graças a
conhecimentos já adquiridos. Por isso, se costuma dizer que, no raciocínio, o
intelecto opera seguindo cadeias de razões ou os nexos e conexões internas e
necessárias
entre
as
ideias
ou
entre
os
fatos.
* Dedução - consiste em partir de uma verdade já conhecida (seja por intuição, seja
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por uma demonstração anterior) e que funciona como um princípio geral ao qual se
subordinam todos os casos que serão demonstrados a partir dela. Em outras palavras,
na dedução parte-se de uma verdade já conhecida para demonstrar que ela se aplica a
todos os casos particulares iguais. Por isso também se diz que a dedução vai do geral
ao particular ou do universal ao individual. O ponto de partida de uma dedução é
ou
uma
idéia
verdadeira
ou
uma
teoria
verdadeira.
A
indução
*Indução - realiza um caminho exatamente contrário ao da dedução. Com a
indução, partimos de casos particulares iguais ou semelhantes e procuramos a lei
geral, a definição geral ou a teoria geral que explica e subordina todos esses casos
particulares. A definição ou a teoria são obtidas no ponto final do percurso. E a razão
também oferece um conjunto de regras precisas para guiar a indução; se tais regras
não
forem
respeitadas,
a
indução
será
considerada
falsa.
*A abdução - é uma espécie de intuição, mas que não se dá de uma só vez, indo
passo a passo para chegar a uma conclusão. A abdução é a busca de uma conclusão
pela interpretação racional de sinais, de indícios, de signos.
Segundo o filósofo inglês Peirce, a abdução é a forma que a razão possui quando
inicia o estudo de um novo campo científico que ainda não havia sido abordado. Ela
se aproxima da intuição do artista e da adivinhação do detetive, que, antes de
iniciarem seus trabalhos, só contam com alguns sinais que indicam pistas a seguir.
Os historiadores costumam usar a abdução.
Diz-se que a indução e a abdução são procedimentos racionais que empregamos para
a aquisição de conhecimentos, enquanto a dedução é o procedimento racional que
empregamos para verificar ou comprovar a verdade de um conhecimento já
adquirido.
Realismo e idealismo
Falar numa razão objetiva significa afirmar que a realidade externa ao nosso
pensamento é racional em si e por si mesma e que podemos conhecê-la justamente
por ser racional. Significa dizer, por exemplo, que o espaço e o tempo existem em si
e por si mesmos, que as relações matemáticas e de causa-efeito existem nas próprias
coisas,
que
o
acaso
existe
na
própria
realidade,
etc.
Chama-se realismo a posição filosófica que afirma a existência objetiva ou em si
da realidade externa como uma realidade racional em si e por si mesma e, portanto,
que
afirma
a
existência
da
razão
objetiva.
Há filósofos, porém, que estabelecem uma diferença entre a realidade e o
conhecimento racional que dela temos. Dizem eles que, embora a realidade externa
exista em si e por si mesma, só podemos conhecê-la tal como nossas idéias a
formulam e a organizam e não tal como ela seria em si mesma. Não podemos saber
nem dizer se a realidade exterior é racional em si, pois só podemos saber e dizer que
ela é racional para nós,
isto é, por meio de nossas ideias.
Essa posição filosófica é conhecida com o nome de idealismo e afirma apenas a
existência da razão subjetiva. A razão subjetiva possui princípios e modalidades de
conhecimento que são universais e necessários, isto é, válidos para todos os seres
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humanos em todos os tempos e lugares. O que chamamos realidade, portanto, é
apenas o que podemos conhecer por meio das ideias de nossa razão.
RAZÃO: INATA OU ADQUIRIDA?
De onde vieram os princípios racionais? De onde veio a capacidade para a
intuição (razão intuitiva) e para o raciocínio (razão discursiva)? Nascemos com eles?
Ou nos seriam dados pela educação e pelo costume? Seriam algo próprio dos seres
humanos, constituindo a natureza deles, ou seriam adquiridos através da experiência?
Durante séculos, a Filosofia ofereceu duas respostas a essas perguntas. A
primeira ficou conhecida como inatismo e a segunda como empirismo.
O inatismo afirma que nascemos trazendo em nossa inteligência não só os
princípios racionais, mas também algumas idéias verdadeiras, que, por isso, são
idéias inatas.
O empirismo, ao contrário, afirma que a razão, como a razão rege o mundo, a
história universal transcorre racionalmente, mas a razão que se manifesta ou revela
na história é a razão divina, absoluta. É a razão que constitui a história, seus
princípios, seus procedimentos e suas idéias, é adquirida por nós através da
experiência. Em grego, experiência se diz: empeiria – donde, empirismo,
conhecimento empírico, isto é, conhecimento adquirido por meio da experiência.
*Idéias inatas: são aquelas que não poderiam vir de nossa experiência sensorial
porque não há objetos sensoriais ou sensíveis para elas, nem poderiam vir de nossa
fantasia, pois não tivemos experiência sensorial para compô-las a partir de nossa
memória. São inteiramente racionais e só podem existir porque já nascemos com
elas.
O empirismo
Contrariamente aos defensores do inatismo, os defensores do empirismo
afirmam que a razão, a verdade e as idéias racionais são adquiridas por nós através
da experiência. Antes da experiência, dizem eles, nossa razão é como uma “folha em
branco”, onde nada foi escrito; uma “tábula rasa”, onde nada foi gravado. Somos
como uma cera sem forma e sem nada impresso nela, até que a experiência venha
escrever na folha, gravar na tábula, dar forma à cera.
Problemas do inatismo e do empirismo
Do lado do inatismo, o problema pode ser formulado da seguinte maneira: como são
inatos, as idéias e os princípios da razão são verdades intemporais que nenhuma
experiência
nova
poderá
modificar.
Do lado do empirismo, o problema pode ser formulado da seguinte maneira: a
racionalidade ocidental só foi possível porque a Filosofia e as ciências demonstraram
que a razão é capaz de alcançar a universalidade e a necessidade que governam a
própria realidade, isto é, as leis racionais que governam a Natureza, a
sociedade, a moral, a política.
A RAZÃO NA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
Chamamos de filosofia contemporânea aquela que teve início no século 19,
atravessou o século 20 e chegou até os dias de hoje.
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A filosofia contemporânea fundamenta-se em alguns conceitos que foram
elaborados no século 19. Um desses conceitos é o conceito de história, que foi
formulado pelo filósofo G.W.F. Hegel. A filosofia de Hegel relaciona-se com as
ideias de totalidade e de processo. Passamos a entender o homem como um ser
histórico, assim como a sociedade.
Uma das conseqüências dessa percepção é a ideia de progresso. O filósofo
Auguste Comte foi um dos principais teóricos a pensar essa questão. As utopias
políticas elaboradas no século 19, como o anarquismo, o socialismo e o comunismo,
também devem muito à idéia de desenvolvimento e progresso, como caminho para
uma sociedade justa e feliz.
O triunfo da razão
A ideia de que a razão, ciência e o conhecimento são capazes de dar conta de
todos os aspectos da vida humana também foi pensada criticamente por dois grandes
filósofos: Karl Marx e Sigmund Freud.
No campo político, Marx tornou relativa a ideia de uma razão livre e autônoma ao
formular a noção de ideologia - o poder social e invisível que nos faz pensar como
pensamos e agir como agimos.
No campo da psique, Freud abalou o edifício das ciências psicológicas ao
descobrir a noção de inconsciente - como poder que atua sem o controle da
consciência.
Referências Bibliográficas:
- CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia.13ª edição. São Paulo, Editora Ática, 2004.
- SÁTIRO, Angélica & WUENSCH, Ana Miriam. Pensando Melhor - Uma iniciação ao
filosofar. 3ª ed.. São Paulo, Ed. Saraiva 1999.
- WWW.portaleducacional.com.br
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