Problema de Combinatória Prof. Lúcio Fassarella D M A /C EU N ES/U FES Problema: Alguém escreve n cartas para destinatários diferentes e escreve os respectivos endereços em n envelopes. Quantas maneiras diferentes existem de colocar todas as cartas em envelopes errados? Comentários A resolução deste problema pode apresentar alguns obstáculos para quem não está familiarizado com as técnicas de combinatória, dentre eles: identi…cação do conjunto de eventos; de…nição de variáveis adequadas; de…nição de uma notação conveniente; elaboração de uma estratégia; organização e sistematização da resolução; generalização do problema geral a partir de problemas particulares. Algumas abordagens preliminares podem indicar uma estratégia de resolução, tais como: resolver problemas simpli…cados similares;1 calcular o número de elementos do conjunto complementar de eventos, num conjunto universo com número de elementos fácil de calcular.2 A primeira abordagem, me indicou usar o Princípio da Inclusão-Exclusão para resolver o problema; a segunda abordagem, me indicou determinar uma Fórmula de Recorrência. Ambas são desenvolvidas adiante. 1 Exemplos: - Alguém escreve n cartas e escreve os respectivos endereços em n envelopes. Quantas maneiras diferentes existem de colocar as cartas nos envelopes? - Alguém escreve 3 cartas e escreve os respectivos endereços em 3 envelopes. Quantas maneiras diferentes existem de colocar todas as cartas nos envelopes errados? 2 Exemplo: - Alguém escreve n cartas e escreve os respectivos endereços em n envelopes. Quantas maneiras diferentes existem de colocar as cartas de modo que pelo menos delas seja colocada no envelope correto? 1 Resolução por Fórmula de Recorrência. O conjunto das possíveis envelopagens (distribuições de cartas nos envelopes) pode ser dividido numa família exaustiva de subconjuntos conveniente: An : conjunto de todas as envelopagens de n cartas; Rn : conjunto das envelopagens de n cartas nas quais todas as cartas …cam em envelopes errados; Anj1 :::jk : conjunto das envelopagens de n cartas nas quais as cartas j1 ; :::; jk …cam nos envelopes corretos e as demais n k cartas …cam em envelopes errados, onde k = 1; :::; n e j1 < ::: < jk 2 f1; :::; ng. Com essas de…nições, temos que fRn g[ Anj1 :::jk ; j1 < ::: < jk ; k = 1; :::; n constitui uma exaustão de A por subconjuntos disjuntos. Pelo Princípio Aditivo, segue: #An = #Rn + n X X #Anj1 :::jk : (0.1) k=1 j1 <:::<jk Duas observações: 1. #Anj1 :::jk é igual a #Rn k , pois é exatamente o número de envelopagens das “n cartas diferentes das cartas j1 ; :::; jk ”nas quais todas …cam em envelopes errados: #Anj1 :::jk = #Rn k ; 8k = 1; :::; n; 8j1 < ::: < jk 2 f1; :::; ng ; k (0.2) com a convenção de que R0 = 1: P 2. o número de parcelas na somatória nj1 <:::<jk =1 é igual ao número de subconjuntos com k elementos de um conjunto de n elementos, i.e., n X X número de parcelas de #Anj1 :::jk = k=1 j1 <:::<jk n! : (n k)!k! (0.3) Combinando #An = n! com as identidades (0.1), (0.2) e (0.3), segue: n! = #Rn + n X k=1 n! #Rn k : (n k)!k! Portanto, obtemos a seguinte fórmula de recorrência, que é uma solução do problema: #Rn = n! n X k=1 n! #Rn (n k)!k! k (R0 = 1) : (0.4) Veri…cação da solução Veri…camos a solução comparando as respostas que ela indica em casos particulares, cuja resposta pode ser obtida por enumeração explícita ou por outro método: 2 Caso n = 1. Quando há somente uma carta (e um envelope), não há envelopagem errada, portanto R1 = ; e #R1 = 0; aplicando a fórmula (0.4) com n = 1, obtemos: #R1 = 1! 1 = 0: Caso n = 2. Quando há duas cartas (e dois envelopes), há somente uma envelopagem errada, portanto #R = 1; aplicando a fórmula (0.4) com n = 2, obtemos: #R2 = 2! 2! #R1 (2 1)!1! 2! #R0 = 2 (2 2)!2! 0 1 = 1: Caso n = 3. Quando há três cartas (e três envelopes), há duas envelopagens erradas (a primeira carta …ca no envelope da segunda carta ou no envelope da terceira carta), portanto #R = 2; aplicando a fórmula (0.4) com n = 2, obtemos: #R = 3! = 6 = 2: 3! 3! #R2 #R1 (3 1)!1! (3 2)!2! 3 1 3 0 1 3 3! #R0 (3 3)!3! Resolução pelo Princípio da Inclusão-Exclusão. O conjunto das possíveis envelopagens (distribuições de cartas nos envelopes) pode ser dividido numa família exaustiva de subconjuntos conveniente: A: conjunto de todas as envelopagens; R: conjunto das envelopagens nas quais todas as cartas …cam em envelopes errados; Ak : conjunto das envelopagens nas quais a carta k …ca no envelope correto, k = 1; :::; m; Então: A = R [ A1 [ ::: [ An e R \ Ak = ; ; 8k = 1; :::; n: Pelo Princípio da Inclusão-Exclusão, segue: #A = #R + n X n X k=1 j1 <:::<jk =1 ( 1)k+1 # (Aj1 \ ::: \ Ajk ) : (0.5) Duas observações: 1. o número de elementos da interseção (Aj1 \ ::: \ Ajk ) independe dos índices j1 < ::: < jk 2 f1; :::; ng e é igual ao número de permutações das n k cartas restantes: # (Aj1 \ ::: \ Ajk ) = (n k)! P 2. o número de parcelas na somatória nj1 <:::<jk =1 é igual ao número de subconjuntos com k elementos de um conjunto de n elementos, i.e., número de parcelas de n X j1 <:::<jk =1 Combinando (1) e (2), segue: n X n X k=1 j1 <:::<jk =1 k+1 ( 1) # (Aj1 \ ::: \ Ajk ) = # (Aj1 \ ::: \ Ajk ) = n X k=1 n! : (n k)!k! ( 1)k+1 n! : k! (0.6) Finalmente, combinando #A = n! com a identidade (0.5) e com a identidade (0.6), obtemos a solução do problema: #R = n! n X k=1 ( 1)k+1 n! : k! (0.7) Veri…cação da solução Veri…camos a solução comparando as respostas que ela indica em casos particulares, cuja resposta pode ser obtida por enumeração explícita ou por outro método: 4 Caso n = 1. Quando há somente uma carta (e um envelope), não há envelopagem errada, portanto R = ; e #R = 0; aplicando a fórmula (0.7) com n = 1, obtemos: 1 X #R = 1! ( 1)k+1 k=1 1! =1 k! 1 = 0: Caso n = 2. Quando há duas cartas (e dois envelopes), há somente uma envelopagem errada, portanto #R = 1; aplicando a fórmula (0.7) com n = 2, obtemos: #R = 2! 1 X ( 1)k+1 k=1 2! =2 k! 2 2 + = 1: 1 2 Caso n = 3. Quando há três cartas (e três envelopes), há duas envelopagens erradas (a primeira carta …ca no envelope da segunda carta ou no envelope da terceira carta), portanto #R = 2; aplicando a fórmula (0.7) com n = 3, obtemos: #R = 3! 1 X ( 1)k+1 k=1 5 3! =6 k! 6 6 + 1 2 6 = 2: 6