"A prática da escrita de alunos no ensino superior: em busca de

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A PRÁTICA DA ESCRITA DE ALUNOS NO ENSINO SUPERIOR: EM BUSCA
DE SOLUÇÕES
Autor(a): Adrijane Alves De Amorim
Coautor(es): Betânia Cunha de Serpa Brandão
Email: [email protected]
Introdução
A educação de qualidade em nosso país é ainda considerada um privilégio de poucos.
Mesmo nessa parcela, o ato de escrever não se constitui um hábito para a maioria. Em
linhas gerais, os avanços na escrita dos estudantes não acompanham as exigências
naturais à construção de textos, conforme avançam em escolaridade; de forma que, no
Ensino Superior, essa é uma realidade facilmente constatada, especificamente falando
de instituições da rede privada, alvo de nossa vivência.
Percebe-se, desde o primeiro contato com os alunos ingressos, a fragilidade e a
insegurança em realizar atividades escritas. O simples fato de ter que escrever um
resumo, traz-lhes à tona a dúvida quanto à forma ideal de produzi-lo.
Como salienta Raposo (2010), os candidatos à escrita acadêmica devem primar pela
organização, sequenciação, coerência e coesão lógica das ideias nos parágrafos às
prerrogativas para a construção de uma linguagem textual enxuta, culta e em obediência
à norma padrão da língua; de preferência, utilizando-se da forma impessoal. Considera,
assim, aspectos sintáticos, morfológicos e semânticos significativos àquela produção.
No entanto, essas recomendações que deveriam ser apenas um reforço a quem chega a
um curso do ensino superior, assim não se apresentam aos professores, quando na rotina
de seus trabalhos com seus alunos. Isto se constitui motivo de preocupação,
principalmente diante do rigor técnico-científico, próprio a essa modalidade de ensino,
que parece mais colaborar para o aprisionamento das ideias, pelo simples fato do temor
do aluno em errar ou pelo aumento do grau de dificuldade da tarefa proposta.
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Dessa forma, este trabalho, de natureza bibliográfica, tem como objetivo refletir sobre
possíveis fatores que limitam e não incentivam a prática da escrita de alunos do Ensino
Superior, entendendo-se que quanto menos se escreve mais difícil se torna essa
atividade de se manejar. Para tanto, utilizar-se-ão, principalmente, os estudos de Bagno
(2009), Chauí (2000), Mattos (2011), Pimenta e Anastasiou (2010) e Theobal (2005).
Fundamentação teórica
Segundo Mattos (2011), muitas pessoas estremecem ao se depararem com a tarefa de
redigir um trabalho científico, uma vez que aplicar as metodologias científicas lhes
parece algo muito peculiar, quase que inalcançável. Diante delas, vive-se a síndrome do
horror metodológico, caracterizada pela insegurança e temor.
Além das questões metodológicas implicadas, há de se reconhecer que elementos de
coesão, coerência e correção gramatical são essenciais à escrita acadêmica.
Contudo em relação à gramaticalidade da língua, Bagno (2009) considera um mito a
declaração de que para escrever bem é preciso saber gramática, pois se assim fosse,
“todos os gramáticos seriam grandes escritores (o que está longe de ser verdade), e os
bons escritores seriam especialistas em gramática” (idem: 78). Acrescenta que o ensino
tradicional, considerando o período de aquisição e desenvolvimento da leitura e escrita,
só dá conta de analisar a frase solta e, não, o texto em toda a sua complexidade, não
contribuindo para a assimilação do ato de ler e escrever pelos sujeitos, de forma
eficiente, criativa e segura.
Dessa forma, conforme o autor (op. cit.) a educação contemporânea tem como grande
tarefa inserir os cidadãos, desde cedo, na cultura de letramento em que vivem; o que
significa dizer que para ler e escrever bem as pessoas devem “ler e escrever, ler e
escrever, reler e reescrever, re-reler e re-reescrever”, ao invés de decorar em vão e
cansativamente a estrutura gramatical, com exercícios de análise morfológica/sintática,
tal como ainda é na prática. O importante, assim, é ler e escrever textos variáveis, de
todos os tipos e gêneros circulantes para se ter condições mínimas para atender as
demandas de leitura e escrita, cada vez mais densas na sociedade contemporânea.
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Somente após muita leitura, o indivíduo deveria ser levado a refletir e observar sobre o
funcionamento linguístico e suas regras.
De acordo com Theobal (2005), os estudos revelam que a origem da deficiência do
povo brasileiro para escrever textos ou trabalhos acadêmicos é histórico-cultural. Isso
porque as raízes nas culturas não letradas, tais como a africana, indígena e latina, tinham
na oralidade o instrumento tradicional de transmissão de conhecimentos de geração a
geração, refletindo-se na atualidade, de modo que as exigências de trabalhos científicos,
na graduação, constituem-se ainda um desafio para os discentes.
Por outro lado, Chauí (2000) discute a mesma dificuldade na redação científica,
apoiando-se no fato de como o ensino é estruturado na atualidade. Nesse sentido,
acredita que a ciência é apresentada aos alunos como concluída, à espera apenas de ser
colocada na prática. Dessa forma, a atividade de pensar é substituída pelo fazer,
caracterizado por uma aplicação mecânica de modelos abstratos repetidos.
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Nesse contexto, refere o autor (op. cit.), lamentavelmente, perde-se não só o exercício
do pensar como fica mais distante a noção do que realmente deve ser buscado ao se
ingressar no ensino superior. Nesse caso, o pensar passa a ser meramente mais uma
técnica a ser seguida, o que prende os alunos ao campo da previsibilidade.
Dirigindo-se a atenção dessa discussão para o ponto de origem dessa realidade, Pimenta
e Anastasiou (2010) observam que a maioria das instituições que oferecem o ensino
médio em nosso país reforça essa condição de meros repetidores ou reprodutores de
fórmulas e técnicas, quando os esforços dessas instituições estão concentrados no que
aparenta ser o objetivo final de todas elas: o vestibular.
Dessa forma, o quantitativo de aprovados é estandarte a ser apresentado num mercado
crescentemente aético, e grande parte dessas instituições abre mão do que divulgam
como suas missões organizacionais em favor do sucesso na mídia e do incremento de
novos alunos. Para isso, utilizam-se das mais variadas técnicas de memorização, para
quaisquer que sejam as áreas de conhecimento. Essa prática predominante nos três
últimos anos escolares apenas corrobora para um comportamento baseado na lógica da
exclusão, com grau reduzido de pensamento crítico, valorizando mais o produto
pretendido: passar no vestibular, do que a apreensão do conhecimento em si.
(PIMENTA E ANASTASIOU, 2010).
Entretanto, apesar de todos os entraves, Barreto (2012) reforça que a sociedade exige
que o profissional, de qualquer aérea de atuação, seja capaz de transcrever as suas ideias
para o papel. Para isso, exige-se dele, além de conhecimentos específicos para esta
redação, muita leitura. No mais, traz como alerta a seguinte máxima: “escrever significa
comunicar-se e, todos sabem que, nas empresas e instituições a comunicação se faz,
muito
mais,
através
da
modalidade
escrita
do
que
da
oral”
(http://www.cintiabarreto.com.br/artigos/aimportanciadoatodeescrever.shtml).
Metodologia
Este trabalho trata-se de uma pesquisa exploratória, de natureza bibliográfica, tendo
como princípio o levantamento de referenciais teóricos pré-existentes que respondam o
objetivo proposto.
Considerações Finais
Com base nos estudos levantados, pode-se constatar que a deficiência da escrita de
alunos é uma preocupação de muitos em qualquer que seja o nível de escolaridade.
Dentro disso, os estudiosos apresentam olhares diferenciados, no sentido de procurar
entender a origem do problema que se estende ao Ensino Superior, de modo a
configurar-se como a “síndrome do horror metodológico”.
Assim sendo, especificamente nesta pesquisa, foram encontradas as seguintes
abordagens: o ensino tradicional, desde a fase de desenvolvimento da leitura e escrita,
não contribui para o ato de ler e escrever, de forma eficiente, criativa e segura; as
deficiências na escrita são o resultado de um processo histórico-cultural; ou oriundas de
um sistema que privilegia, nos três anos do ensino médio, a repetição e reprodução de
fórmulas e técnicas de memorização que se superpõem ao desenvolvimento do
pensamento crítico.
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Diante desse cenário, abstrai-se que uma proposição não invalida as outras, mas se
complementam para iluminar o caminho de quem deseja se debruçar em busca de
soluções. Para isso, sugere-se que pesquisas sejam realizadas também para ouvir os
maiores interessados sobre as suas dificuldades: os próprios discentes.
Referências Bibliográficas
BAGNO, M. Preconceito Linguístico - o que é, como se faz. 52ª. edição. São Paulo:
Loyola, 2009.
BARRETO, C. A importância do escrever no ensino de língua portuguesa.
Disponível
em:
<http://www.cintiabarreto.com.br/artigos/aimportanciadoatodeescrever.shtml>
Acesso
em: 26 mar.2012.
CHAUÍ, M. Convite a filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
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MATTOS, R. A. Ciência, Metodologia e Trabalho Científico (ou Tentando escapar dos
horrores metodológicos). In MATTOS, R. A.; BAPTISTA, T. W. F. (Orgs.) Caminhos
para
análise
das
políticas
de
saúde,
2011.
Disponível
<http://www.ims.uerj.br/ccaps/wp-content/uploads/2011/09/Capitulo-1.pdf>
em
Acesso
em: 27 mar. 2012.
PIMENTA, S.G.; ANASTASIOU, L.G. Docência no ensino superior. 4ª edição. São
Paulo: Cortez, 2010.
RAPOSO, D.M.S.P.(Org.). Metodologia da Pesquisa e da Produção Científica.
Brasília: AVM Instituto, 2010
THEOBALD, I.M. Produzir a monografia final: um desafio ou uma obrigação. São
Paulo, out. 2005. Revista Partes. Disponível em:< http://www.partes.com.br/educacao/
produzirmonografia.asp> Acesso em: 26 mar. 2012.
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