Discurso do Superintendente

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DISCURSO DE ABERTURA DO FÓRUM NORDESTE 2030
VISÃO ESTRATÉGICA DE LOMGO PRAZO
LUIZ GONZAGA PAES LANDIM
SUPERINTENDENTE DA SUDENE
Este é um evento emblemático, pois resultou de desafio
proposto ao Ministro Reis Velloso, no sentido de trazer ao
Nordeste um pouco de sua visão e de sua experiência ao
longo de vinte e cinco anos à frente do Fórum Nacional e do
Instituto Nacional de Altos Estudos, no Rio de Janeiro.
Sem nenhum xenofobismo, entendo que cabe a nós
nordestinos a proeminência no ato de pensar o Nordeste. E o
locus ideal para tal reflexão é aqui mesmo, sob as bênçãos
do sol do Equador, onde usufruímos do imenso acervo social,
cultural e político de nossos maiores e do qual somos
herdeiros e guardiões naturais.
Emblemático, porque a palestra magna do Seminário é
desse piauiense de boa cepa e, mais que isso, testemunha
de seu tempo, combatente do bom combate, perseguidor da
esperança.
Ao longo de vinte cinco anos do Fórum Nacional, lutando
contra os preconceitos e a acomodação no campo das ideias
políticas, econômicas e sociais, ele teve o Brasil e o universo
como seu campo de discussão e ação.
Emblemático esse evento porque hoje, mais do que
nunca, o Nordeste precisa do testemunho de nordestinidade
de seus filhos e da força do exemplo, mais que do fulgor das
palavras. Exemplos de um Josué de Castro, Apolônio Salles,
Celso Furtado; de um Visconde de Cairu, de um Delmiro
Gouveia e tantos outros nordestinos ilustres dos quais
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podemos extrair múltiplas lições do passado.
Lições
importantes, nas palavras de Reis Velloso, “pois só assim
poderemos nos reconciliar com aquela consciência íntima do
tempo que nos fala Santo Agostinho” e de cuja consciência
resulta um tríplice presente: o presente do passado, a
memória; o presente do presente, a vivencia, o aqui e o
agora; e o presente do futuro, a esperança.
E foi nos braços da esperança que SUDENE veio a ser
criada. Entregue, na concepção e implantação, aos cuidados
de Celso Furtado, encarnação viva do melhor sentimento de
nordestinidade, a SUDENE, como toda instituição humana,
pode ter cometido erros de percurso, não erros conceituais,
mas tem ao seu favor o testemunho vivo de haver
transformado uma área estagnada e sem rumo definido no
final dos anos cinquenta, em região de acelerado crescimento
industrial, integrado ao modelo de desenvolvimento em curso
no País. Em outras palavras, o auge da economia brasileira,
nos tempos modernos, correspondeu à integração do
Nordeste à economia nacional.
De 1959 a 1975 a região alcançou o período de
industrialização mais intenso de toda a sua historia,
coincidindo em grande parte com a época em que Velloso foi
Ministro do Planejamento.
Meus Senhores, Minhas Senhoras, a política e a história
econômica recente do País e do Nordeste trazem a marca
desse perseguidor da esperança.
“Na área do planejamento – dizia ele nos idos de 1975,
em reunião do Condel - principalmente a partir 1963, o
Nordeste tem estado no primeiro plano das prioridades.
Possivelmente nenhum outro Órgão – à exceção,
obviamente, do Ministério do Interior – tem cuidado tão de
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perto do Nordeste, no Programa Estratégico, no I PDN, no II
PDN; não de forma eventual, mas num trabalho sistemático,
em aliança permanente com o Ministério do Interior e a
SUDENE, trabalho de apoiar a Região e os seus Órgãos, de
dotar sempre a área de novos programas, de expandir,
continuamente, as suas fontes de recursos”.
Datam desta época, senhores, a criação do FINOR, do
Polonordeste, da Codevasf, do Programa de Industrialização
do Nordeste, dentre outras tantas ações que dinamizaram a
região, o que me faz indagar: não é muito mais fácil reeditar o
que deu certo, sem precisar reinventar a roda ou adorná-la
com uma infinidade de teses e diagnósticos?
Verdade é que, de uns anos a esta parte, a realidade do
Nordeste é outra, com a elevação dos níveis de renda da
população e a melhoria da qualidade de vida de vastos
segmentos sociais, principalmente a partir do governo Lula.
Digno de nota também é a tecnologia de ponta, já
adotada na fruticultura irrigada e no agronegócio dos
cerrados do Piauí, do Maranhão e da Bahia, responsáveis,
em grande parte, pelo crescimento econômico regional.
Mas há muito que ser feito. A Política Nacional de
Desenvolvimento Regional não foi ainda internalizada por
vastos segmentos políticos, sociais e intelectuais do País e,
na maioria das vezes, a voz do Superintendente da SUDENE
e a do próprio Ministro da Integração Nacional soam solitárias
ante a frigidez burocrática de Brasília.
Na contramão da história, temos dificuldade de pactuar
e fixar com a sociedade os objetivos nacionais permanentes,
dentro de uma visão de Estado e não nos limites temporais
de um governo.
Apesar de todos os avanços, continua a luta por um país
menos desigual.
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A SUDENE entende que um dos caminhos a seguir
nessa luta é o de unificar o Nordeste, mediante eixos de
integração de transportes, energia e comunicação, para
conferir-lhe competitividade sistêmica, na feliz expressão de
Roberto Cavalcante. Segue-se-lhe um choque de ciência e
tecnologia. A inserção definitiva do Nordeste na economia do
conhecimento e da velocidade do conhecer. Em outras
palavras, na Revolução pela Educação.
Vejo com alegria que um movimento partido da brava
gente do Ceará procura articulares os estados nordestinos,
na busca do fortalecimento da economia regional e
consequente diminuição das desigualdades.
Fico mais feliz ainda ao tomar conhecimento que a
bancada do Nordeste na Câmara Federal resolveu hipotecar
apoio à agenda do Integra Brasil, movimento liderado pelo
Centro Industrial do Ceará, na luta contra os indicadores
sociais e econômicos que nos penalizam.
A SUDENE, detentora de um acervo considerável –
tangível e intangível – em favor do Nordeste (e aqui presto
homenagem a Leonides Alves da Silva Filho, memória viva
desse acervo e que fez do amor à SUDENE, ao Nordeste e a
Pernambuco sua razão de vida) no gozo pleno de suas
atribuições institucionais, espera ser o desaguadouro
operacional natural das aspirações do Movimento e de toda a
sociedade nordestina, aspirações que eu condensaria em
quatro grandes decisões:
1.ª - Fortalecimento das Fontes e dos Mecanismos de
Financiamento do Desenvolvimento Regional;
2.ª - Regionalização dos Grandes Programas Nacionais;
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3.ª - Explorar as vantagens competitivas de proximidade do
Nordeste dos Estados Unidos, da Europa e também do
Oriente, via Canal do Panamá, ora em ampliação; e
4.ª - Discutir um novo pacto federativo nacional.
E não sem razão assim me posiciono. A nossa
problemática não pode ser confundida com a de outras
regiões pobres, no Brasil, que são pobres porque ainda não
foram ocupadas economicamente, segundo o magistério de
Reis Velloso. O Nordeste está ocupado, talvez super
ocupado, se levarmos em conta a disponibilidade de recursos
naturais face o número de habitantes e outras limitações
decorrentes do nosso processo de colonização e formação
econômica.
Os problemas do Nordeste tem pois suas peculiaridades.
E na tentativa de melhor conhecê-las e prospectá-las é que
promovemos este Fórum, cujas conclusões nos ajudarão a
encontrar caminhos, a definir objetivos e estratégias de ação
ou, quando não, que nos ajude a içar velas para a travessia
de mares, encapelados ou não, e nos leve com tranquilidade
a um porto seguro.
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