Capital de risco vira 'reality show' Douglas MacMillan | Bloomberg Businessweek; Chris Ratcliffe/Bloomberg 01/08/2011 Companhia de Eric Schmidt usa técnicas incomuns para selecionar candidatos. Em 16 de dezembro, aspirantes a empresários de tecnologia foram selecionados para concorrer pela chance de criar uma empresa no Vale do Silício. Depois de intensa sessão de 48 horas de reuniões de debate livre e de exercícios em equipe, escolheu-se um grupo de três pessoas, que não se conheciam anteriormente, para fundar uma empresa: Charles Wang, de 36 anos, psiquiatra; Monisha Perkash, 37 anos, fundadora de um serviço de financiamento universitário; e Andrew Chang, 27 anos, ex-analista do setor de energia na organização sem fins lucrativos de Al Gore para mudanças climáticas. Com US$ 150 mil, espaço à vontade em um prédio do centro de Palo Alto, na Califórnia, e uma série de veteranos do setor como mentores, o trio testou dezenas de diferentes ideias nos cinco meses seguintes. As ideias incluíram negócios na área de abastecimento de alimentos, redes elétricas inteligentes e muitas outras. No fim das contas, decidiram produzir um medicamento de alta tecnologia para dores nas costas. Não se trata do roteiro de algum "reality show". É uma nova forma de desenvolver empresas idealizada pela Innovation Endeavors, uma empresa de investimentos em tecnologia criada há um ano e financiada inteiramente por Eric Schmidt, presidente do conselho e ex-executivo-chefe do Google. O fundo já fez pequenos investimentos em 16 empresas, o que contribuiu para que duas delas fossem adquiridas, além de quase ter completado a rodada-piloto do Runway, nome do projeto de lançamento de empresas ao estilo do programa de TV "Survivor". Enquanto Schmidt entra com o financiamento e a seriedade de um grande nome no mundo da administração, o comando da Innovation Endeavors está com Dror Berman, de 33 anos, um especialista israelense em tecnologia sem experiência formal em investimentos. "Há o fantástico casamento de Eric Schmidt, que é uma das grandes luzes da internet, e Dror, que é jovem e impetuoso", diz Travis Katz, fundador do Gogobot, um site de viagens que recebeu dinheiro da Innovation Endeavors em 2010. Nos próximos quatro anos, Berman espera investir até US$ 40 milhões de Schmidt em até 40 empresas ou projetos iniciantes. A quantia pouco representa para um sujeito multibilionário, que abriu o capital do Google e doa dezenas de milhões para projetos beneficentes a cada ano. Ainda assim, Schmidt faz uma grande aposta em Berman, que foi aluno destacado em um curso sobre empreendedorismo que o executivo deu na Stanford Graduate School of Business, em 2009. Logo depois do curso, Berman estabeleceu um fundo de investimento voltado ao desenvolvimento empresarial. Schmidt concordou em financiar a Innovation Endeavors e deu controle total a Berman. A Innovation Endeavors é o segundo fundo de Schmidt. A TomorrowVentures, lançada em 2009, sob direção do "empreendedor serial" Court Coursey, realizou mais de 50 investimentos. A empresa pode deixar de ser um monólogo. Neste ano, Schmidt avisou a Coursey para buscar novos investidores, segundo uma fonte a par da situação. "Embora não tenhamos discutido quem são nossos sócios limitados [LPs na sigla em inglês]... não estamos atualmente recebendo novos LPs no momento", disse Brad Holden, assessor de investimentos da TomorrowVentures. Berman projetou seu pequeno escritório em Palo Alto para que ele se parecesse com o escritório de uma empresa de internet recém-formada com pouquíssimo dinheiro em caixa. Praticamente todos os móveis movem-se sobre rodas, de modo que o lugar pode ser modificado para acomodar uma reunião de qualquer tamanho. O acesso à única sala de conferências é através de uma porta de garagem. "Essa é minha primeira startup", diz Berman, que antes serviu nas Forças de Defesa de Israel e como engenheiro na empresa de segurança Nice Systems. Empresas de capital de risco geralmente concentram-se em alguns poucos setores testados e conhecidos. "Cerca de 90% dos empresários do mundo estão trabalhando na solução de 10% dos problemas do mundo", diz Berman. "Estamos tentando encontrar empresários que queiram solucionar os outros 90%". Ele já deu apoio a jovens empresas que vão do Slice Project, um serviço que permite organizar recibos de compras em uma caixa de entradas de e-mail, ao ReBloom (reflorescer), um refrigerante que induz ao sono. Devido ao apoio financeiro sério de Schmidt, Berman não precisa gastar tempo cortejando investidores. "Isso permite dar mais atenção a outros aspectos da atividade de capital de risco, especialmente como mentores de empresários", diz Mark V. Cannice, professor da Escola de Administração da Universidade de San Francisco. Berman também pode recorrer a Schmidt para descobrir investimentos "quentes" e encontrar mentores para jovens empresas. Uma noite em julho, Schmidt encontrou-se com mais de 30 fundadores de empresas novatas apoiadas pela Innovation para compartilhar lições sobre empreendedorismo. "Foi inspirador", diz Scott Brady, diretorexecutivo da Slice Project. "Ele poderia pegar o dinheiro dele e ir comprar um barco ou algo assim, mas prefere fazer isso”.