03 DEBATE NACIONAL Não à reeleição

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DEBATE NACIONAL
Não à reeleição - Se correr o bicho pega
Orestes Quércia
A aprovação do projcto dc. TeeIcição significa hoje um a am eaça, na
m edida cm que abre perspectivas de
continuidade a um governo que vem
prejudicando o País. O câm bio fixo.
essa determ inação de que o Real fica
mais ou m enos equiparado ao Dó­
lar, a qualquer custo, por im posição
d a v o n ta d e do g o v e r n o , in d e ­
pendente das leis naturais do m erca­
do, prom ove um a fantasia que en­
feitiça ainda grande núm ero de pes­
soas. Esse m edida ajuda a segurar a
inflação e deixa com o saldo a ilusão
de que a nossa m oeda é forte.
E evidente que isso provoca o
desem prego, arruina a agricultura e
coloca o nosso parque industrial em
poder das m ultinacionais. M as isso
não fere a sensibilidade de um go­
verno desesperado pela reeleição e
que. com a ajuda dc grandes grupos
económ icos, prossegue m istifican­
do a opinião pública, torrando cen­
tenas de m ilhões de dólares em pro­
paganda, sobretudo na televisão.
Porém , o que é artificial e con­
trário à natureza das coisas acaba
espantando a fum aça das ilusões. E
no Planalto C entral, os tecnocratas
que m andam e desm andam , fazem e
desfazem a ficar nervosos. E possí­
vel que as luzes artificiais dos gabi­
netes de Brasília não perm itam ao
Presidente perceber a m udança de
cor no rosto de seus bons cam ara­
"O México teve
de entregar até
a alma aos
americanos"
das. No ano que passou, esses téc­
nicos haviam previsto um déficit na
balança com ercial de mais ou m enos
US$ 4,2 bilhões. Pelo jeito, essas
pessoas só passaram pela escola,
pois o déficit foi parar em US$ 5,5
bilhões.
Para este ano, as previsões des­
ses m esm os ases da aritm ética m os­
tram um déficit na balança com er­
cial em torno de US$ 8 bilhões. Sem
dúvida, e dada a grande capacidade
técnica p ara previsões do Banco
Central, o déficit real poderá chegar
a 12 ou m ais bilhões de dólares. Os
bancos já trabalham com a hipótese
de 12. E assim , as reservas cambiais
que vêm sendo acum uladas desde o
governo anterior vão escapando pe­
los vãos dos dedos.
No M éxico, aconteceu exatamente igual. Os déficit foram sendo
acumulados até que as reservas atin­
giram um limite perigoso e os inves­
tidores estrangeiros de curto prazo,
cujos dólares garantiram essas re­
servas, pularam fora, retirando o
tapete de sob os pés do bravo povo
mexicano. O M éxico teve de entre­
gar até a alm a aos am ericanos, como
todos os países quebrados acabam
fazendo para resolver problem as
criados pela im previsão e incom pe­
tência dos seus dirigentes. O exem ­
plo do M éxico fez com que o gover­
no argentino se precavesse. Segurou
"na m arra" a balança com ercial,
m anteve o câm bio fixo e, com a
firm eza própria dos suicidas, está
destruindo o que resta da econom ia
argentina.
O presidente C arlos M enem pro­
move o último tango em Buenos
Aires. O povo argentino que reele­
geu o presidente, nunca sofreu tan­
to. Os investimentos estrangeiros
engolem o que existe de viável na
indústria argentina, a serviço dos
grandes oligopólios internacionais.
Esses querem dom inar o m ercado de
bens, que no m undo m oderno são
essenciais, sem a m ínim a preocupa^
ção com o futuro de cada país. E
exatam ente o que acontece aqui com
os festejados investim entos estran­
geiros, que as nossas autoridades
chamam , com cinism o incom um , de
investimentos produtivos. Aos lu­
minares brasileiros da economia globalizante restam portanto duas alter­
nativas. Ou deixam as águas rolarem
como fez o México ou mudam a
economia de rumo, drasticamente,
como fez a Argentina. A política eco­
nómica do governo que pretende a
todo custo se reeleger nos levou à
ggrnde encruzilhada: se correr o bi­
cho pega. se ficar o bicho come. Nós
vivemos num momento muito espe­
cial da vida do País. Espero que os
nossos senadores e deputados reava­
liem profundamente e impeçam a
aventura irresponsável da reeleição.
Orestes Quércia é ex-governador de São Paulo
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