OS DESAFIOS DA ECONOMIA BRASILEIRA EM 2015 Francisco José Gouveia de Castro* * Economista, diretor do Centro Estadual de Estatística do IPARDES. Os indicadores de atividade econômica em 2014 evidenciam a trajetória descendente da economia brasileira e a perspectiva negativa em relação aos resultados do exercício de 2015, transferindo para o longo prazo a possível retomada de um novo ciclo de expansão sustentada dos negócios realizados no território nacional. Segundo o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central do Brasil (BACEN), a média das expectativas de mercado para a variação do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é de 0,50%, em 2015, o que torna mais difícil implementar os ajustes necessários na economia nacional. Não há dúvida de que as medidas são custosas em curto prazo, exigindo, essencialmente, a retomada da credibilidade fiscal, a recondução da inflação para o centro da meta, o realinhamento dos preços administrados e a diminuição do déficit externo. Na verdade, o maior desafio para a equipe econômica da atual gestão federal está na combinação de medidas que, do ponto de vista teórico, não são possíveis de ocorrer simultaneamente. De fato, a retomada da credibilidade fiscal requer aumento da poupança pública – ou seja, corte de despesas ou aumento dos impostos –, realinhamento no sentido do realismo tarifário e a melhora nas contas externas com uma taxa de câmbio mais depreciada. Ou seja, um conjunto de medidas que, por certo, devem elevar a inflação acima do teto da meta. Tais considerações são facilmente compreensíveis quando observado o relatório dos resultados fiscais do BACEN, que apontou a dívida bruta do governo federal em 63,5% do PIB e a necessidade de financiamento do setor público atingindo o déficit nominal de 6,7%, em dezembro de 2014, tornando necessária a rápida recuperação da credibilidade fiscal, evitando assim a perda do grau de investimento. Essas condições refletem o péssimo crescimento da receita, que está relacionado com a estagnação da economia brasileira e com a elevada desoneração tributária executada no primeiro mandato da presidente Dilma. A título de ilustração, a renúncia fiscal com desonerações ficou em R$ 104 bilhões em 2014, contra R$ 78,6 bilhões em 2013. Além disso, o baixo crescimento da economia brasileira em 2014 reduziu a lucratividade das empresas. Com isso, a arrecadação do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) caiu 4,58% no ano passado, em comparação com 2013, com uma perspectiva de piora para 2015, uma vez que a arrecadação destes tributos irá refletir a baixa lucratividade e os prejuízos das empresas em 2014. Não por acaso, dados compilados pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) registraram queda do faturamento bruto de 13,7% e do consumo aparente de bens de capitais (soma da produção local com as importações menos as exportações) de 15%, na passagem de 2013 para 2014, retratando a contenção de investimentos em áreas essenciais, como infraestrutura, e a ampliação da capacidade produtiva. Além disso, a amplificação da volatilidade dos mercados cambiais, com novas desvalorizações das moedas dos principais emergentes, aumenta as expectativas de que a escalada recente de endividamento das empresas desses países, entre eles o Brasil, possa provocar inadimplência do setor produtivo, principalmente da indústria. Na verdade, o cenário externo aponta que os países desenvolvidos continuem dependentes de gigantescos estímulos monetários, com um crescimento medíocre e incerto, com exceção dos EUA. Aliás, dados recentes sobre o desempenho da economia americana tendem a reforçar a previsão de que a elevação de juros pelo Federal Reserve virá antes de meados do ano. O avanço de 5% do PIB no terceiro trimestre e o aumento acima do esperado da criação de postos de trabalho vão nesta direção. Por outro lado, a China, principal parceiro comercial do Brasil, deve desacelerar em 2015, após fechar o ano de 2014 com expansão de 7,4%. Em relação às contas externas brasileiras, a forte valorização do dólar, de 21,1% no acumulado de doze meses, ainda não trouxe o alívio esperado, pressupondo a necessidade de uma alta adicional desta moeda para que o déficit em transações correntes caminhe para um nível mais sustentável. ANÁLISE CONJUNTURAL, v.37, n.1-2/jan./fev. 2015 1 O déficit em conta corrente ficou em US$ 10,6 bilhões em janeiro, e em doze meses até janeiro representou 4,2% do PIB, mantendo a deterioração registrada em 2014. Além disso, segundo analistas de mercado, há uma piora na qualidade do financiamento do déficit em transações correntes do Brasil em 2015. De acordo com estimativas da Tendência Consultoria, o volume de déficit financiado subiria de 103% em 2014 para 121% em 2015, considerando as entradas de recursos via Investimento Estrangeiro Direto (IED), ações totais e títulos negociados no país. O ingresso de recursos para portfólio, especialmente para o mercado de renda fixa em função das altas de juros, tem ajudado a financiar o déficit em conte corrente. Não por acaso, até meados do mês de fevereiro, os investimentos em ações somavam ingresso líquido de US$ 118 milhões, enquanto as aplicações em renda fixa totalizaram US$ 2,423 bilhões no período, apontando para uma piora na qualidade do financiamento, devido à sua alta volatilidade. Por conta disso, é imprescindível a programação de medidas fiscais para fortalecer a expectativa de uma diminuição do ritmo de inflação, o que possibilita ao Banco Central do Brasil cortar a taxa básica de juros. Diante do cenário econômico atual, é válido afirmar que o País não conseguiu capitalizar a oportunidade histórica que se abriu na década passada, para dar um salto na competitividade microeconômica, mais especificamente, no desenvolvimento industrial atrelado à inovação e produtividade, optando, num momento de estagnação da economia, pela busca de competitividade pela via macroeconômica, através da combinação entre juros mais baixos e câmbio mais desvalorizado, o que se mostrou pouco sustentável. De fato, as intervenções excessivas, que levaram à redução da eficiência geral da economia e do funcionamento de mercados específicos nos últimos doze anos, como o caso das agências reguladoras, bem como as medidas protecionistas que isolaram o País das correntes de comércio internacional, as maiores tarifas de importação, as proteções não tarifárias por meio de requerimentos de componentes nacionais e o crescimento de medidas antidumping, são exemplos de ações que não obtiveram resultados efetivos. Realmente, o aumento da produtividade está atrelado ao conjunto de reformas microeconômicas, com destaque para a reforma tributária, trabalhista, redução do protecionismo que dificulta a modernização das empresas brasileiras, acordos comerciais com países desenvolvidos e inserção da indústria nacional na cadeia de produção global. A título de conclusão, pode-se eleger como maior desafio para a economia brasileira, em 2015, a implementação dos ajustes necessários, tanto fiscal como monetário, num momento em que a economia nacional se encontra em situação de fragilidade. 2