A CARA CTERIZAÇÃO DO VITILIGO E O USO DE CARACTERIZAÇÃO PL ANT AS P ARA O SEU TRA TAMENTO PLANT ANTAS PARA TRAT Elizabete Viana1 Reginaldo Geremias2 Resumo Dentre as principais doenças dermatológicas, encontra-se o vitiligo, com uma prevalência significativa entre os diferentes grupos étnicos. A busca por uma terapia mais efetiva desse quadro patológico tem sido um dos grandes desafios da atualidade, para o qual vêm sendo desenvolvidas pesquisas com plantas de uso tradicional como alternativa terapêutica. O presente trabalho se propõe a apresentar os pressupostos teóricos básicos sobre essa doença, bem como o uso de plantas para o seu tratamento. Palavras-chave: vitiligo, plantas. 1 2 Acadêmica do Curso de Farmácia da UNESC - Fase 7 Professor do Departamento de Farmácia da UNESC. E-mail: [email protected] 9 odução Intr Introdução O vitiligo é uma das principais doenças dermatológicas existentes, a qual apresenta características peculiares, possuindo uma significativa prevalência na população, o que tem suscitado um grande interesse por seu estudo. A busca por uma terapia mais efetiva que altere esse quadro patológico tem sido um dos grandes desafios atuais e, para enfrentá-lo, vêm sendo desenvolvidas pesquisas com plantas de uso tradicional. Para tanto, faz-se necessário que os profissionais da saúde estejam completamente envolvidos no processo, contribuindo para um melhor entendimento da temática em questão. Nesse sentido, a proposta contida no presente trabalho consiste em apresentar os pressupostos teóricos básicos acerca da caracterização do vitiligo, bem como o uso de plantas para o seu tratamento. Caracterização do vitiligo O vitiligo é uma doença pigmentar que afeta o sistema melanocítico, sendo definido clinicamente como: máculas acrômicas, em geral bilaterais e simétricas; doença adquirida, progressiva e caracterizada pela despigmentação da epiderme (leucoderma) ou, com menor freqüência, pela perda parcial da melanina (hipopigmentação), com tendência a aumentar centrifugamente de tamanho (AZULAY; AZULAY, 1997; GIORDANO, 1992; HERANE, 2003). O vitiligo atinge de 0,5 a 4% da população mundial e sua prevalência varia consideravelmente entre os diferentes grupos étnicos. No Brasil, ainda não existem dados consistentes sobre a sua incidência, mas a literatura aponta que ela é de relativa freqüência (AZULAY; AZULAY, 1997; GIORDANO, 1992; HERANE, 2003). Aproximadamente 30% das pessoas adquirem a doença antes dos 20 anos de idade e 14% antes dos 10 anos; a incidência diminui em uma faixa etária mais elevada, e menos de 10% desenvolvem o vitiligo após os 40 anos de idade. Há relatos que indicam a presença de vitiligo já em indivíduos com seis meses de idade (HERANE, 2003; MORELLI, 2000). Vários fatores têm sido associados à etiopatogenia da doença, dentre os quais se encontram a hereditariedade, a auto-imunidade e fatores ambientais. Em relação ao fator genético, tem sido proposto que ele seria autossômico, dominante ou recessivo e multifatorial, e que aproximadamente 20% dos pacientes com vitiligo têm pelo menos um parente de primeiro grau com a doença. A autoimunidade do vitiligo dar-se-ia em razão da associação positiva com algumas doenças, como tireoidites, diabetes mellitus e alopecia areata, bem como com diferentes tipos de HLA (Human Leukocyte Antigen). Em relação aos fatores 10 ambientais, tem-se sugerido que o estresse, a exposição solar intensa e a exposição a alguns pesticidas atuem como desencadeantes da doença em indivíduos geneticamente predispostos, o que representaria de 10 a 76% dos pacientes (FOLEY et al., 1983; SAMPAIO; EVANDRO, 2001). De acordo com Steiner e colaboradores (2004), várias teorias têm sido propostas para tentar explicar o processo de despigmentação que o vitiligo provoca. Essas teorias sugerem que a despigmentação poderia ser decorrente da presença de auto-anticorpos, da participação de células T citotóxicas, da “autodestruição” dos melanócitos por produtos intermediários da melanogênese, defeitos intrínsecos e extrínsecos dos próprios melanócitos ou da unidade epidermo-melânica, além de prováveis alterações nas terminações nervosas. Clinicamente, o vitiligo caracteriza-se por manchas inicialmente hipocrômicas e posteriormente acrômicas, marfínicas, com crescimento centrífugo de limites nítidos, geralmente com bordas hiperpigmentadas, de forma e extensão variáveis. Tais despigmentações se evidenciam nas áreas como maléolos, punhos, face antero-lateral das pernas, dorso das mãos, dedos, axilas, pescoço e genitália, sendo comum também em torno das aberturas corporais como olhos, narinas, boca, mamilos, umbigo e ânus. Os pêlos podem ser acometidos, incluindo-se as sobrancelhas, cílios, pêlos pubianos e cabelos. O prurido ou a inflamação raramente estão presentes e as manchas são assintomáticas (HABIF et al., 2002; SAMPAIO; EVANDRO, 2001). Muito embora a doença seja assintomática e não afete adversamente a sobrevivência, ela pode causar expressivo dano estético e conduzir o indivíduo ao estresse psicológico, à aflição emocional, bem como interferir negativamente na sua vida profissional (FIROOZ et al., 2004). A evolução do vitiligo é imprevisível, não havendo nenhum critério clínico ou laboratorial que oriente a prognose, sendo sua evolução natural normalmente de progressão lenta, mas podendo exacerbar rapidamente. A repigmentação espontânea das lesões é observada geralmente em proporção que varia de 10 a 20% dos pacientes, mais freqüentemente nas áreas fotoexpostas e pequenas em extensão (AZULAY; AZULAY, 1997; SAMPAIO; EVANDRO, 2001; STEINER et al., 2004). O vitiligo é classificado de acordo com a extensão e forma de distribuição da despigmentação da pele, podendo ser do tipo localizado ou generalizado, com alguns subtipos. O vitiligo localizado subdivide-se em: focal, quando ocorre a presença de uma ou mais máculas acrômicas em uma determinada área, sem distribuição específica; e segmentar, caracterizado pela presença de uma ou mais máculas acrômicas envolvendo um segmento unilateral do corpo, freqüentemente 11 seguindo a distribuição de um dermátomo. O vitiligo generalizado se subdivide em: acrofacial (caracterizado pela presença de lesões típicas na parte distal das extremidades e face); vulgar (caso em que são encontradas máculas acrômicas de distribuição aleatória); e misto (acrofacial e vulgar, segmentar e acrofacial e/ou vulgar). Quando a despigmentação acomete mais de 50% da pele e/ou mucosa, esse tipo de vitiligo tem sido classificado como universal (STEINER et al., 2004). O diagnóstico do vitiligo é essencialmente clínico, com máculas acrômicas e pele normal coexistindo em um mesmo indivíduo. A luz de Wood é uma lâmpada de 351 mm que ressalta uma fluorescência branco-azulada na pele lesada, decorrente do acúmulo de 6-biopterina e 7-biopterina, e pode ser utilizada como um artifício bastante importante para permitir o diagnóstico das lesões pouco visíveis a olho nu e o acompanhamento terapêutico do paciente (STEINER et al., 2004). A avaliação laboratorial da tireóide faz-se relevante nos portadores de vitiligo, uma vez que tem sido observada maior prevalência de alterações tireoidianas naqueles com vitiligo do que nos indivíduos normais. A biópsia é pouco utilizada para diagnóstico da doença, uma vez que as alterações histopatológicas são pouco significativas (PAL, 1995; STEINER et al., 2004). A cultura de melanócitos de pacientes com vitiligo também tem sido proposta para o seu diagnóstico, já que vários estudos mostram que esses têm um comportamento anormal, demonstrando que tais células estão intrinsecamente alteradas (YU et al., 2003). O tratamento do vitiligo ainda é um grande desafio, uma vez que há muitas teorias que tentam explicar a doença e muitas ainda a serem propostas. A principal estratégia para a sua terapia consiste em estimular a produção de pigmento nas áreas de pele lesadas. Para tanto, tem-se proposto o uso de esteróides, psoralenos associados à radiação ultravioleta A (PUVA), terapia combinada, intervenção cirúrgica, micropigmentação, além de outras terapias, tais como a pseudocatalase, a helioterapia, a radiação ultravioleta B (UVB), o extrato de placenta humana, o Kellin associado à radiação ultravioleta A (KUVA), a fenilalanina tópica e sistêmica, os antioxidantes, imunomoduladores e a despigmentação (STEINER et al., 2004). Embora estejam disponíveis diversos métodos terapêuticos para o vitiligo, eles não têm dado conta da enfermidade. A escolha do método depende da extensão da doença, da cor da pele e da avaliação do estado psicológico do paciente (AZULAY; AZULAY, 1997). 12 O uso de plantas para o tratamento do vitiligo Diversas modalidades de tratamento do vitiligo estão disponíveis, incluindo o uso de fitomedicamentos e fitocosméticos, também descrito na literatura. No Egito Antigo, para o tratamento das lesões do vitiligo, eram utilizados extratos da planta de Ammim maius, seguida pela exposição ao sol, o qual também serviu como base para a posterior utilização do princípio da fotoquimioterapia para o vitiligo. Entretanto, é relatado na literatura que essa planta é capaz de provocar dermatite fototóxica (ROELANDTS, 2003). Em trabalho descrito por Azambuja (1981), no qual se empregou um medicamento produzido a partir das raízes de Brosimum guadichaudii, foram obtidos resultados significativos em termos de repigmentação e até mesmo a cura completa em mais de um quarto dos pacientes tratados. Kavli e colaboradores (1983) estudaram o efeito fotoprotetor das furocumarinas bergapten, pimpinellin, angelicin e sphondin, extraídas da planta Heracleum laciniatum. Foi observado que a aplicação das furocumarinas foi capaz de reduzir a incidência de eritemas em pacientes submetidos à fototerapia, principalmente nas regiões de 330-350 mm. Pacientes com vitiligo foram submetidos ao tratamento com uma formulação denominada de Vitiliklu, composta por quatro plantas da flora brasileira (Echinodorus grandijorus, Anchietea salutaris, Boerhaavia hissuta e Baccaris trimera) ricas em flavonóides, alcalóides e compostos tanínicos. Durante o período de tratamento (cinco anos), os pacientes também foram submetidos à exposição solar por, aproximadamente, 23 vezes por semana. Foi observada uma repigmentação completa nas regiões afetadas, sugerindo-se que essa formulação poderia ser utilizada para o tratamento do vitiligo (DA SILVA; FONTES, 1997). A literatura tem descrito o uso oral ou tópico de extrato de Polypodium leucotomos para o tratamento do vitiligo, uma vez que essa planta tem apresentado propriedades antioxidantes, antiinflamatórias e imunomodulatórias in vitro. No referido estudo, pacientes foram submetidos ao tratamento PUVA associado ao uso do extrato em questão, com vistas a diminuir a incidência de afecções cutâneas advindas da fototerapia e fotoquimioterapia. Os resultados obtidos permitiram demonstrar que a planta foi capaz de provocar um melhor efeito fotoprotetor contra eritemas, sugerindo que ela poderia ser utilizada como coadjuvante no tratamento do vitiligo (GONZÁLEZ et al., 1997). Em estudo de seleção de plantas para encontrar agentes com potencial repigmentante para o tratamento do vitiligo, foi observado que o extrato da Piper Nigrum L. apresentou atividade proliferativa em cultivo de melanócitos de ratos. 13 Após oito dias de tratamento do extrato aquoso, constatou-se um crescimento de 800% de melanócitos, sugerindo-se que esse crescimento tenha sido decorrente da presença do alcolóide piperina (LIN; HOULT; RAMAN, 1999). Parsad e colaboradores (2003) demonstraram que o extrato do Ginkgo biloba foi capaz de diminuir, significativamente, a progressão da despigmentação de áreas vitiliginosas. Os autores sugerem que o efeito da planta estaria associado às suas propriedades antioxidante e imunomodulatória, uma vez que na etiologia da doença estão envolvidos fatores imunológicos e quadros de estresse oxidativo. Dessa forma, os autores entendem que o extrato do Ginkgo biloba parece ser uma terapia simples, potente e razoavelmente eficaz para o combate à progressão da doença. Uma prescrição complexa usada tradicionalmente para o tratamento do vitiligo foi preparada a partir de extrato aquoso de oito tipos de plantas, com o objetivo de estudar seu possível efeito na expressão de genes em células de melanoma. Observou-se que a prescrição foi capaz de ativar a expressão do gene da ATP sintase-6, cujo efeito poderia ser o de contribuir para o tratamento do vitiligo, necessitando, entretanto, de um melhor estudo do mecanismo de ação proposto (LI et al., 2004). Em um estudo de avaliação do efeito da fruta de Malytea scurfpea na adesão e na migração de melanócitos, foi possível constatar que houve maior migração e adesão dos melanócitos tratados com a planta, quando comparado ao controle negativo, sugerindo ser esse o possível efeito da mesma sobre o tratamento do vitiligo (MOU et al., 2004). Extratos aquosos da raiz de Angelica sinensi, uma planta utilizada na medicina chinesa tradicional para o tratamento do vitiligo, tiveram sua atividade testada em cultura de melanócito de ratos, com o intuito de avaliar o efeito proliferativo. Foi observado que esses extratos não foram capazes de estimular a proliferação dos melanócitos, além de provocar citotoxicidade (RAMAN et al., 1996). O uso popular de plantas para fins medicinais também tem sido uma prática comum, muito embora esteja pautada em conhecimento empírico. Dentre as plantas descritas na literatura, as quais são utilizadas para o tratamento do vitiligo, pode-se citar a popular espirradeira ou leandro, que pode ser administrada na forma de chá ou de uso tópico sobre a região vitiliginosa (ZATTA, 1996). Ferrer (2004) descreve o uso popular de uma mistura de pavoca, picão, uva, cenoura, serralha e óleo de amêndoa para o tratamento do vitiligo. A casca da raiz do Brosimum guadichaudii Trécul (Moraceae) também tem sido popularmente utilizada em portadores de vitiligo (VARANDA et al., 2002). 14 De acordo com Rodrigues e Carvalho (2001), a raiz e a casca do caule de Brosimum gaudichaudii são utilizadas pela população nas manchas do vitiligo, fórmula preparada por decocção ou infusão. O uso tópico e oral de extratos das flores de Pyrostegia venusta Miers também tem sido descrito enquanto uso popular para o tratamento, conforme relatado por Ferreira e Álvares (1997). Assim, pode-se constatar que o uso de plantas para o tratamento do vitiligo tem sido pesquisado e utilizado como uma das opções terapêuticas, apesar de haver ainda a necessidade de maiores estudos para comprovação de sua eficácia e segurança. Considerações finais Muito embora o vitiligo seja uma doença de bastante incidência, seus aspectos etiológicos não estão bem estabelecidos e as opções terapêuticas ainda não são efetivas. Mesmo que existam estudos com bases científicas sobre a utilização de plantas para o seu tratamento, há a necessidade de se avaliar a eficácia e a segurança do seu uso, a fim de serem legalmente indicadas enquanto alternativas terapêuticas. Abstract Amongst the main dermatological illnesses, vitiligo has a significant prevalence among different ethnic groups. Currently, the search for a more effective therapy for this pathology has been one of the greatest challenges faced by scientists and many researches on plants of traditional use as alternative therapy have been developed. The present work intends to present the theoretical basis for the research on vitiligo, as well as the use of plants for its treatment. Keywor ds: vitiligo, plants. eywords: 15 Referências bibliográficas AZAMBUJA, R. The treatment of vitiligo. Braslia Méd, v. 18, n. 3-4, p. 69-72, 1981. AZULAY; AZULAY. Dermatologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997. DA SILVA, M. C.; FONTES, H. A. ‘Natural’ treatment for vitiligo: results of an open study on 789 patients. Junior Journal of the European Academy of Dermatology and Dendrology, v. 8, p. 149-166, 1997. FERREIRA, D. T.; ÁLVARES, P. S. Constituintes químicos das raízes de Pyrostegia Venusta e considerações sobre a sua importância medicinal. Química Nova, v. 23, n. 1, jan./fev. 2000. FERRER, J. 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