Força Cortante Estado Limite Último 306 FORÇA CORTANTE Força cortante O comportamento estrutural face à força cortante para vigas de alvenaria, é, de um modo geral, similar aos das vigas de concreto armado. As fissuras de flexão surgem primeiro, e depois de se expandirem em forma de leque, se inclinam em direção aos apoios. Com o incremento do carregamento as fissuras inclinadas em seções próximas aos apoios tendem a se desenvolver, e levam à ruptura da viga por tração diagonal. 307 FORÇA CORTANTE Vigas sem armadura transversal F F 1 2 3 F F 1 Fissura de flexão: ortogonal ao eixo da viga σ1 2σ 2 σ2 σ1 Fissura devida à tração diagonal: inclinação de cerca de 450 em relação ao eixo da viga 308 FORÇA CORTANTE Estado de tensões Cisalhamento puro σ1 τ σ2 τ Estado plano de tensões σc τ MÁ X σ1 σ2 τ τ 450 σ1 σ2 σ2 σ1 σ 0 τ MÁ X σc 450 τ σ2 σ1 309 FORÇA CORTANTE Tipos de rupturas de vigas de alvenaria Tração diagonal: ruptura dos blocos σ1 Tração diagonal: ruptura das juntas Tração diagonal e ancoragem inadequada σ1 A armadura σ1 σ1 σ1 longitudinal σ1 se desloca 310 FORÇA CORTANTE A zona de compressão funciona como um engaste para os consoles formadas pelas partes situadas entre duas fissuras. Vext Vm h C d Aswfsw s Reação de apoio Vd T Mecanismos interno Vm + ∑A sw fsw + Vd = Vext n Vd – encavilhamento da armadura (EFEITO DE PINO) x A , f – área da armadura sw sw transversal e tensão no aço transversal, respectivamente; Vm – força cortante resistida pela zona de compressão; Vext – força cortante atuante. 311 Força cortante Modelo da treliça clássica 1) A viga tem um banzo comprimido formado pela zona comprimida situada acima da linha neutra. 2) O banzo tracionado é formado pela armadura de flexão. 3) A união dessas duas regiões é realizada por tirantes verticais ou inclinados, que formam a armadura transversal da viga. 4) Entre as fissuras inclinadas de θ=450 tem-se uma região de concreto comprimida, formando as bielas de compressão. 5) Admite-se que a alvenaria (grout) não resista à tração. 312 Força cortante Tração na armadura transversal Biela Fissura Banzo comprimido Se num espaçamento s há uma barra transversal, num comprimento horizontal z(1+cotg α) tem-se n= (1+cotg α)z/s barras. Banzo tracionado 313 Força cortante Equilíbrio vertical ∑F = 0 VSd − (nVα )senα = 0 z VSd = (1 + cotgα)A α σ α senα s Essa fórmula permite calcular a armadura transversal inclinada de um ângulo α para resistir à força cortante de projeto VSd. Entretanto, a armadura só será efetiva se as bielas comprimidas (grout) resistirem à força cortante atuante. 314 Força cortante Compressão na biela A análise da tensão na biela é realizada considerando-se um plano inclinado que passa por uma barra transversal. Biela comprimida 315 Força cortante Relações geométricas z cosψ AB = senα π 2 + sen (α - ϕ ) = π ∴ ψ = α - π 4 cosψ = cos (α - ϕ ) = cos α sen π 4 + sen α cos π 4 2 (cos α + sen α) 2 z 2 (cos α + sen α) AB = senα 2 cosψ = 316 Força cortante Equilíbrio vertical: ∑F = 0 VSd = σ c .AB.sen σc = VSd b.AB.sen π π 4 =0 σc = 4 cos α + sen α = 1 + cotg α VSd σc = zb(1 + cotg α) VSd zb(cos α + sen α) Tensão de compressão na biela 317 Força cortante Parâmetros para dimensionamento CALV kx h d B σc 450 B σc Z=kxd α Asfs s As normas brasileiras adotam a treliça clássica de Ritter-Mörsch para o dimensionamento á força cortante, e prescrevem uma tensão cisalhante admissível convencional. 318 Força cortante Tensão cisalhante característica Vd τ vd = ≤ fv k bd fv k − tensão cisalhante característica (Tabela). Para vigas de seção retangular: b=largura da seção; d=altura útil Para viga T: b=largura da alma; d=altura útil. 319 Força cortante Tensão de cisalhamento Paredes: τ v d < fv k γm neste caso não é preciso usar armadura Vigas (flexão simples): τ v d ≥ 0,35 + 17,5ρ usar armadura γm Limite da tensão de cisalhamento: τ v d ≤ 0,7 MPa O coeficiente de ponderação para a alvenaria (combinações normais) é 2,0. 320 Força cortante Armaduras Força cortante resistida pela alvenaria: Va = fv d bd Armadura transversal: A sw ( Vd − Va ) s = 0,5f y dd OBS.: as normas brasileiras consideram uma tensão para o aço igual a 50% da tensão de escoamento de cálculo; o aço está em regime elástico linear. O Eurocode 6 considera fyd. 321 Força cortante Espaçamento da armadura Para vigas o espaçamento da armadura transversal deve ser: s≤0,5d ou 30 cm. Para paredes o espaçamento da armadura trnasversal deve ser: s≤60 cm. Forças próximas aos apoios Para av≤2d (efeito de arco), sendo a distância da força aplicada até o apoio considera-se a tensão cisalhante 2d característica: * fv k = f v k a ≤ 0,7 MPa A força concentrada é considerada principal quando contribui com pelo menos 70% da força cortante junto ao apoio. 322 FORÇA CORTANTE Formulação teórica Tensão cisalhante x ≅ ns Fissura d 450 h n=número de estribos que costuram a fissura h h tg45 = ≅ ≅1 x ns o s x Vd ≅ 0 h d n= ≅ s s desprezando-se o encavilhamento da armadura Vext = Vm + nA sw fsw = Vm + A sw fsw d s 323 FORÇA CORTANTE Vext − Vm = A sw fsw d s {÷ bd Vext − Vm = τ − τm bd Desprezando-se a força cortante resistida pela zona de compressão, tem-se a favor da segurança: τm = 0 Espaçamento dos estribos verticais A sw fsw s= bτ 324 FORÇA CORTANTE Tensão cisalhante Vigas sem armadura transversal τ(b.dx ) kd CALV Kzd M Z d M+dM Z+dZ dx As b O braço de alavanca Kzd é considerado constante no trecho analisado. ∑F x = 0 ⇒ τ(b ⋅ dx ) + Z = Z + dZ 325 FORÇA CORTANTE Com as fórmulas: dM M + dM M V = Z + dZ = Z= dx k zd k zd tem-se V 1 dM τ = τ= b(k z d) bk z d dx Sendo k z d = z o braço de alavanca resulta para a tensão de cisalhamento: V τ= bz A adoção dessa tensão de cisalhamento é uma maneira convencional de efetuar o dimensionamento, pois as rupturas ocorrem por tração diagonal devido à tensão principal de tração σ1. 326 FORÇA CORTANTE T= M M + dM dM ; T + dT = ; =V z z dx Tensão cisalhante devida à flexão 1 dM V τ= ⋅ ∴ τ= bz dx bz PAREDES: V τ= tL V V Tensão cisalhante t L 327 FORÇA CORTANTE Roteiro: I) tensão cisalhante: d d DFC V V τ= bd NOTA: a força cortante a ser adotada nos cálculos será a da seção afastada de d (altura útil) da face do apoio. 328 FORÇA CORTANTE Distribuição da armadura transversal d Estribos para resistir à força cortante Não é necessário o uso de armadura transversal V Estribos para resistir à força cortante s/2 Vm DFC s/2 d/2 d/2 329 FORÇA CORTANTE ii) verificar: τ vd < fv k γm Não é necessário usar armadura transversal. iii) verificar: τ vd ≥ 0,35 + 1,75ρ γm Neste caso, calcular a armadura transversal. τ v d ≤ 0,7 MPa iv) armadura transversal: Va = fv d bd A sw ( Vd − Va ) s = ⇒a 0,5fsw d sw A sw (Vd − Va )×103 mm2 = = s 0,5fsw d m 330 FORÇA CORTANTE v) espaçamento dos estribos verticais: Normas ⇒ s deve ser tal que pelo menos um estribo costure a fissura, logo smáx < d. d s Fissura OBS.: ao se adotar ⇒ s ≤ 0,5d certamente se terá pelo menos um estribo costurando a fissura. 331 FORÇA CORTANTE Armadura transversal (estribos) 10,0mm; 12,5mm; 16,0mm φt usuais → 6,3mm; 5,0mm; 4,0mm 1 TRAMO 2 TRAMOS (ABERTO) 2 TRAMOS (FECHADO) 332 FORÇA CORTANTE NOTAS: barras dobradas. a) uma barra dobrada: α α A sw Vd − Va = 0,5fsw ⋅ senα estribos inclinados b) barras paralelas dobradas ou estribos inclinados: α s ( Vd − Va ) s A sw = 0,5fsw d(senα + cos α) 333 Força cortante Exemplo Dimensionar à força cortante a seção transversal de blocos de concreto com dimensões 190 mm x 400 mm, com altura útil d=360 mm, adotando-se os coeficientes de ponderação 2,0 e 1,15 para o grout e para o aço, respectivamente. Dados de projeto: aço CA – 50A; Vk=30 kN; AS=7,0 cm2 VSd=1,4x30=42 kN Tensão cisalhante de cálculo: 42 × 103 τ vd = ≅ 0,61 < 0,7 MPa 190 × 360 334 Força cortante Tensão cisalhante característica: ρ v d = As 7,0 = ≅ 1,02% bd 19 × 36 fv k = 0,35 + 17,5ρ = 0,35 + 17,5 × 1,02% ≅ 0,53 MPa Calcular a armadura 0,53 τ v d = 0,61 > = ≅ 0,27 MPa transversal. γ m 2,0 A sw Vd − Va = a sw = Armadura transversal: s 0,5f y dd fv k Va = fv dbd = 0,27 × 190 × 360 × 10 -3 ≅ 18,47 kN 4 ( ) 42 − 18,47 × 10 fy k 2 a = ≅ 3,01 cm /m fy d = = 435 MPa sw 0,5 × 435 × 360 γm 2 × 0,32 ≅ 21 m φ 6,3 c20 Estribos 3,01 335 Força cortante Exemplo Usar os dados do exemplo anterior, mas com Vk=38 kN. VSd=1,4x38=53,2 kN 53,2 × 103 τ vd = ≅ 0,78 > 0,7 MPa 190 × 360 Aumentar a seção transversal. Notas: O limite 0,7 MPa é muito baixo. A resistência da biela dessa viga atende as prescrições do Eurocode 6. 336 Força cortante Exemplo (Eurocode 6) Dimensionar à força cortante a seção transversal de blocos vazados de concreto com dimensões 140 mm x 400 mm, com altura útil d=360 mm, adotando-se os coeficientes de segurança 2,5 para o grout C12 e 1,15 para o aço. DADOS DE PROJETO: aço CA – 50A; Vk=38 kN. VSd=1,4x38=53,2 kN VRd1 = fv bbd γm VSd > VRd1 = fvb=0,27 MPa (tabela EC6) 0,27 × 140 × 360 = 5443N ≅ 5,4 kN 2,5 Calcular a armadura transversal 337 Força cortante Armadura transversal: α = 900 asw VSd − VRd1 A sw = = s 0,9d fy k (1 + cot α)sen α γs ( 53,4 - 5,4 )× 103 = = 339 mm2 / m 500 (1 + 0 )×1 0,9 × 360 × 1,15 s= 2 × 32 = 0,19 m ∴ φ 6,3c19 cm 339 338 Força cortante Compressão na biela: VRd2 VRd2 fy k (1 + cot α)sen α γs 500 = 0,9 × 360 × 339 × × (1 + 0 )× 1 = 47,8 kN 1,15 A = 0,9d sw s Verificação: VSd≤VRd1+VRd2≤0,3fkbd/ γ m 5,4+47,8=53,2 kN<0,3X10X140X360/(2,5x1000)=60,5 kN OK!!!! 339 FORÇA CORTANTE Exemplo Determinar a tensão de cisalhamento na seção ilustrada. Fatores de ponderação: 2,0 e 1,15. 600 500 500 ρs=0,5% 500 190 (mm) 17 kN V DFC 2.100 mm 340 FORÇA CORTANTE V = 12,95 kN 1,4V 1,4 × 12,9 × 103 τ vd = = ≅ 0,19 MPa < 0,7 MPa bd 190 × 500 fv k = 0,35 + 17,5ρ = 0,35 + 17,5 × 0,5% ≅ 0,44 MPa fv k Adotar armadura τ v d = 0,19 MPa < = 0,22MPa mínima γm A sw ,mín = 0,05%bd = 0,05%× 19 × 50 = 0,475 cm 2 ∴2φ 5 mm Espaçamento dos estribos s=0,5d=25 cm. Adotar estribos ϕ=5 mm cada 25 cm. 341 FORÇA CORTANTE Exemplo 300 400 Detalhar a armadura calculada para resistir à força cortante. A sw mm2 = 182 asw = s m 1a OPÇÃO: φt = 5 mm Aφ = 20 mm2 20 d s= ≅ 0,11 m < = 15 cm OK! 182 2 Um tramo 140 (mm) 2a OPÇÃO: φt = 5 mm 1 φ 5 c 11 2 × 0,20 d s= ≅ 0,22 m > = 15 cm 1,82 2 Adotar s = 15 cm ∴φ 5 c 15 Dois tramos ou 342 ADERÊNCIA Aderência A força de tração na armadura varia em função da variação do momento de flexão. Formulação teórica M T= z Força de tração Tensão de aderência τ dx T + dT = M + dM z Equilíbrio τ ⋅ dx = (T + dT ) − T = dT 343 ADERÊNCIA τ= dT d M 1 dM V = = = ⋅ dx dx z z dx z Resistência de aderência característica Tipo de aderência Barras corrugadas Barras lisas Entre aço e argamassa 0,10 0,00 Entre aço e grout 2,20 1,50 Nos cálculos, em geral, adota-se z=0,9d . 344 ADERÊNCIA Exemplo 600 500 200 Verificar a tensão de aderência nas barras corrugadas da seção ilustrada. V = 60 kN Tensão de aderência: 1,4V τ bd = (∑ p ).z ∑ p = π ×12,5 × 3 ≅ 118 mm z = 0,9d = 0,9 × 50 = 45 cm 1,4 × 60 × 103 2,20 Não atende = = 1,58 MPa > = 1,10 MPa 118 × 450 γm 3 φ 12,5 (mm) τ bd Força cortante atuante: 345 ADERÊNCIA Bitolar com 3ϕ10 + 3ϕ8 para aumentar o perímetro da armadura. ∑ p = π (10 × 3 + 8 × 3) ≅ 170 mm Tensão de aderência: τ bd 1,4 × 60 × 103 2,20 = = 1,10 MPa = = 1,10 MPa 170 × 450 γm Atende. 346