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Fisioterapia no pré e pós-operatório de idosos submetidos à
revascularização do miocárdio: uma revisão bibliográfica
Daniela Luiza SILVA1
Jacqueline Rodrigues de Freitas VIANNA2
Resumo: As doenças cardiovasculares são uma das principais causas de mortalidade, tornando assim a cirurgia de revascularização do miocárdio uma das mais comuns na medicina cardiovascular. A fisioterapia cardiorrespiratória deverá ser iniciada
no pré-operatório, analisando as capacidades e limitações de cada indivíduo, baseando-se na avaliação clínica e funcional,
planejando orientações para a cirurgia, estratégias terapêuticas e acompanhamento durante pós-operatório, melhorando a
capacidade clínico-funcional, a aptidão cardiovascular e a autoconfiança, promovendo adaptações e tornando o paciente
apto a retornar às suas atividades de vida diária. Estudo de revisão bibliográfica sobre a fisioterapia no pré e pós-operatório
de cirurgia de revascularização do miocárdio, realizada a partir da base de dados PubMed, LILACS e SciELO, no período
de 2002 a 2012. Por meio dele, verificou-se que a fisioterapia cardiorrespiratória minimiza os efeitos cirúrgicos e diminui o
tempo de imobilização e tempo de internação.
Palavras-chave: Idoso. Revascularização do Miocárdio. Reabilitação Cardíaca. Prevenção. Fisioterapia.
Daniela Luiza Silva. Especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.
Jacqueline Rodrigues de Freitas Vianna. Doutora em Fisioterapia – Processos de Avaliação e Intervenção em Fisioterapia Respiratória pela Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar). Mestre em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto (SP). Docente do Claretiano
– Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.
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Physioterapy in pre-and post-operative of elderly subjected to
myocardial revascularization: a literature review
Daniela Luiza SILVA
Jacqueline Rodrigues de Freitas VIANNA
Abstract: Cardiovascular diseases are a major cause of mortality, thus making coronary artery bypass grafting in one of the
most common procedures in cardiovascular medicine. Cardiorespiratory physiotherapy should be initiated preoperatively,
analyzing the capabilities and limitations of each individual, based on clinical and functional assessment, planning guidelines
for surgery, therapeutic strategies and monitoring at all times postoperatively, improving the clinical-functional capabilities,
the cardiovascular fitness, and self-confidence, as well as promoting adaptations, making the patient able to return to his
activities of daily living. This study consists of a literature review on therapy in pre- and postoperative coronary artery bypass
surgery, performed through research in PubMed, LILACS and SciELO, in the period 2002-2012. Through this, it appears that
cardiorespiratory physiotherapy minimizes surgical effects and downtime and significantly decreases the time of admission.
Keywords: Elderly CABG. Cardiac Rehabilitation. Prevention. Therapy.
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1.  INTRODUÇÃO
As doenças cardiovasculares são uma das principais causas de mortalidade nos países desenvolvidos. No Brasil, essas doenças ocupam a liderança das causas de morte e de internação hospitalar. Sendo
assim, a cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM), ou cirurgia de “ponte de safena”, é uma das
cirurgias mais comuns entre os procedimentos realizados na medicina cardiovascular, sendo uma das
opções mais precisas e com bons resultados a médio e longo prazos, tendo como objetivo oferecer maior
aporte sanguíneo às áreas com aterosclerose, podendo ser feitas de uma a seis pontes, com uma média
de três ou quatro por paciente (CAVENAGHI et al., 2011).
Segundo Vargas, Dantas e Gois (2005), assim como outras formas de tratamento, a CRM não é
curativa, devendo assim ser acompanhada com o uso de medicamentos e mudanças no estilo de vida,
para o controle ou ainda a progressão da doença. Foi realizada pela primeira vez em 1968, nos Estados
Unidos e cada vez mais a fisioterapia tem contribuído para a preparação da cirurgia, assim como para a
recuperação dos indivíduos submetidos ao procedimento (ALMEIDA et al., 2002)
A mortalidade de pacientes idosos submetidos a esse procedimento cirúrgico tem sido de aproximadamente 22% (ALMEIDA et al., 2002). As complicações pulmonares no pós-operatório estão vinculadas principalmente à anestesia, devido ao seu tipo e ao tempo cirúrgico; ao ato operatório, pela circulação extracorpórea e a colocação de drenos intercostais; e à condição clínica do paciente. Sendo assim,
a espirometria e a manovacuometria são procedimentos de baixo custo que podem ser realizados antes
da cirurgia para verificar os riscos relacionados às alterações pulmonares e à força muscular respiratória
e ainda fatores de risco para a doença cardiovascular (SCHNAIDER et al., 2010).
A fisioterapia cardiorrespiratória, juntamente com o uso de broncodilatadores, antibióticos, tratamento da insuficiência cardíaca e interrupção do fumo podem evitar complicações no pós-operatório. A
fisioterapia deverá ser iniciada no pré-operatório para avaliar e orientar os pacientes e, no pós-operatório, o tratamento basicamente consiste em exercícios ventilatórios e estímulo de tosse (LEGUISAMO;
KALIL; FURLANI, 2005).
A importância da fisioterapia no pré-operatório de cirurgia cardíaca se dá pela análise das capacidades e limitações do paciente, baseando-se na avaliação clínica e funcional e, assim, há o planejamento
de orientações para a cirurgia e para estratégias terapêuticas no pós-operatório, quando a reabilitação
cardíaca tem como objetivo melhorar as capacidades clínico-funcionais, visando à melhora da aptidão
cardiovascular, aumentando a autoconfiança e promovendo adaptações, tornando esse paciente apto a
retornar às suas atividades de vida diária.
Tendo em vista o enorme número de CRM que são realizadas entre a população idosa, este estudo
tem como objetivo fazer uma revisão bibliográfica, verificando as ações e efetividade da fisioterapia em
pacientes idosos submetidos a esse tipo de cirurgia, evidenciando o que está sendo realizado durante
a avaliação funcional, as orientações dadas no pré-operatório e no pós-operatório, os procedimentos
terapêuticos em função das principais complicações respiratórias e para a recuperação da capacidade
funcional cardiorrespiratória.
2.  MATERIAIS E MÉTODOS
Para este estudo foi realizado um levantamento bibliográfico na base de dados PubMed (U.S.
National Institutes of Health’s Natinal Library of Medicine) LILACS (Literatura Latino-Americana e
do Caribe em Ciências da Saúde), e SciELO (Scientific Eletronic Library Online), com os descritores:
Idosos, revascularização do miocárdio, reabilitação cardíaca, prevenção e fisioterapia e seus respectivos
descritores em inglês.
Foram selecionados 18 artigos científicos encontrados e classificados como relevantes para este
estudo a partir dos seguintes critérios de inclusão: publicação entre 2002 e 2012, em idioma inglês ou
português, sem nenhum critério de exclusão quanto ao tipo de estudo, sendo realizado em conformidade
com o assunto proposto.
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3.  RESULTADOS E DISCUSSÃO
A fisioterapia cardiorrespiratória é indicada para minimizar os efeitos adversos da cirurgia cardíaca e imobilização ao longo do tempo de internação hospitalar, sendo a fisioterapia respiratória convencional os exercícios respiratórios e mobilização precoce os principais componentes. Intervenções
pré-operatórias também fazem parte da abordagem das CRM, assim como a utilização da ventilação
não invasiva que tem se tornado cada vez mais frequente nesses casos (CARVALHO; JATENE, 2012).
Nota-se também que o treinamento muscular respiratório realizado com threshold no período matutino
– sendo 3 séries de 10 repetições durante todos os dias de pós-operatório com intervalo de 2 minutos
entre as séries e 40% da carga do valor inicial de PImáx – é eficaz para recuperar os valores normais das
pressões inspiratória e expiratória máximas, do volume corrente e pico de fluxo expiratório (BARROS
et al., 2010).
O Quadro 1 mostra os principais estudos realizados abordando a fisioterapia no pré e pós-operatório de CRM e, na sequência, discutiremos os estudos encontrados abordando o tema deste estudo.
Quadro 1. Recursos terapêuticos e resultados de estudos nacionais abordando fisioterapia na
revascularização do miocárdio.
ARTIGO
AUTOR
A efetividade de
uma proposta
fisioterapêutica préLeguisamo et al.
operatória para cirurgia
de revascularização do
Miocárdio
Aspectos da função
pulmonar após
revascularização do
Ambrozin;
miocárdio relacionados Cataneo
com risco préoperatório
Pré-operatório
intensivo com
treinamento muscular
inspiratório para
prevenir complicações
pulmonares pósoperatórias em
pacientes de alto risco
submetidos a cirurgia
de revascularização
miocárdica: um ensaio
clínico randomizado
Estudo comparativo
entre pressão
intermitente e contínua
no pós-operatório
de cirurgia de
revascularização do
miocárdio
Hulzebos et al.
Muller et al.
ANO
TÉCNICA UTILIZADA
RESULTADOS
2005
Exercícios com padrões
ventilatórios diafragmáticos,
com inspiração fracionada
em dois tempos e em três
tempos com 10 repetições,
posicionamento no leito,
manobras de vibração,
compressão torácica e
orientação de tosse duas vezes
ao dia
Redução no tempo de internação
2005
Ventilação mecânica em
modalidade controlada,
ciclada a volume, volume
corrente igual a 8ml/Kg,
fluxo inspiratório e 0,81/s,
frequência respiratória de
16rpm, relação inspiração/
expiração maior de 1:2, PEEP
de 0 e posteriormente 5cmH20
e fração inspirada de O2 a
100%
Complacências dinâmica e
estática no pós estavam abaixo
do normal, variáveis maiores nos
homens, a troca gasosa reduzida
em 47,14% dos pacientes, sem
diferença nos grupos com/sem
antecedentes pulmonares, com/
sem sintomas respiratórios,
não fumantes/ex/fumantes e
grupos com/sem comorbidades
apresentam diferença no índice
PaO2/FiO2
2006
Treinamento muscular
respiratório e tratamento usual
No grupo que recebeu o
treinamento muscular o tempo
de internação foi menor, teve
significativa diminuição de
pneumonias e complicações
pulmonares
2006
Manobras de pressão aérea
positiva de dois níveis,
pressão expiratória, respiração
intermitente com pressão
positiva e incentivador
respiratório
Prevenção das complicações
pulmonares, reexpansão
pulmonar, higiene brônquica e
melhora da capacidade funcional
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Os efeitos da pressão
positiva intermitente
e espirometria de
incentivo no pósoperatório de cirurgia
de revascularização do
miocárdio
Fisioterapia
respiratória na
disfunção pulmonar
pós-cirurgia cardíaca
Romanini et al.
Renault et al.
2007
Manobras de pressão aérea
positiva de dois níveis,
pressão expiratória, respiração
intermitente com pressão
positiva e incentivador
respiratório
Prevenção das complicações
pulmonares, reexpansão
pulmonar, higiene brônquica e
melhora da capacidade funcional
2008
Pós-operatório: espirometria
de incentivo, exercícios
de respiração profunda,
exercícios de respiração
profunda associados à
pressão expiratória positiva,
pressão expiratória acrescida
de resistência inspiratória,
respiração com pressão
positiva intermitente, pressão
positiva contínua nas vias
aéreas, pressão positiva em
dois níveis
Melhora da mecânica respiratória,
reexpansão pulmonar e higiene
brônquica
Eficaz para diminuir a
morbimortalidade
Efeitos de um
programa de
reabilitação da
musculatura
inspiratória no pósoperatório de cirurgia
cardíaca
Ferreira et al.
2009
Treinamento muscular
inspiratório utilizando um
dispositivo com carga de 40%
da pressão inspiratória máxima
Efeitos de orientações
fisioterapêuticas
sobre a ansiedade em
pacientes submetidos
a revascularização do
miocárdio
Garbossa et al.
2009
Orientações no pré-operatório
avaliadas quanto ao nível de
ansiedade e escala de dor
Redução do nível de ansiedade
e nível de complicações
pulmonares após a cirurgia
Melhora da mecânica respiratória,
reexpansão pulmonar e higiene
brônquica
Perfil ventilatório
dos pacientes
submetidos a cirurgia
de revascularização do
miocárdio
Morsh et al.
2009
Exercícios ventilatórios,
posicionamento no leito,
manobra de vibração e
compressão torácica, estímulo
de tosse e deambulação
Influência da força
muscular respiratória
pré-operatória na
evolução clínica
após cirurgia de
revascularização do
miocárdio
Schnaider et al.
2010
Não relatado
Não relatado
Alterações na
capacidade funcional
de pacientes após dois
anos de cirurgia de
revascularização do
miocárdio
Nery et al.
2010
Teste de caminhada de 6
minutos
Melhora da capacidade funcional
2011
Pré-operatório: espirometria
de incentivo, exercícios
de respiração profunda,
tosse, treinamento muscular
inspiratório, deambulação
precoce e orientações
fisioterapêuticas
Pós-operatório: manobras de
pressão aérea positiva de dois
níveis, pressão expiratória,
respiração intermitente com
pressão positiva e incentivador
respiratório
Prevenção das complicações
pulmonares, reexpansão
pulmonar, higiene brônquica e
melhora da capacidade funcional
Fisioterapia
respiratória no pré
e pós-operatório
de cirurgia de
revascularização do
miocárdio
Cavenaghi et al.
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Condicionamento
físico e redução do
stress mental: um
estudo randomizado
em pacientes
submetidos à cirurgia
cardíaca
Rosenfeldt et al.
Avaliação da
ventilação não invasiva
com dois níveis de
pressão positiva
Franco et al.
nas vias aéreas em
pacientes após cirurgia
cardíaca
2011
Primeira sessão: alongamento,
15 minutos de bicicleta
estacionária, 10-15 minutos de
caminhada em esteira
Nas outras sessões: 40
minutos de um circuito de
exercícios de resistência
(bicicleta ergométrica, esteira e
ergometria de braço)
Pacientes com doença cardíaca
Além dessas sessões, os
avançada são capazes de realizar
pacientes foram encorajados a exercícios de forma segura
completar de 30-60 minutos de
exercício aeróbico 2 vezes por
semana
Após o término do programa:
orientado a continuar o
exercício físico regular por 30
minutos, a 4 vezes por semana
até a cirurgia
2011
Fisioterapia convencional:
exercícios de respiração
diafragmática associados com
a mobilização dos membros
inferiores e superiores,
manobras de apuramento,
alívio de cought e técnicas de
reexpansão pulmonar
Ventilação não invasiva com
uso de BiPAP
Pacientes que foram submetidos
a ventilação não invasiva
mostraram maior função
respiratória com frequência
respiratória, a pontuação da
pressão arterial diastólica,
atelectasias, frequência cardíaca,
pressão arterial sistólica menores
comparados ao outro grupo
Leguisamo, Kalil e Furlani (2005) realizaram uma pesquisa com 86 indivíduos com idade acima
de 65 anos, submetidos a CRM com anastomose coronariana e pontes de safena aorto-coronarianas que
permaneceram em ventilação mecânica por um período máximo de 24 horas. O grupo foi orientado e
avaliado 15 dias antes da cirurgia, para controle e orientação dos exercícios ventilatórios: padrões ventilatórios diafragmáticos, com inspiração fracionada em dois tempos e em três tempos com 10 repetições,
posicionamento no leito, manobras de vibração, compressão torácica e orientação de tosse duas vezes
ao dia. Foi avaliado o laudo radiológico, sendo verificadas as áreas com atelectasia e/ou consolidação e
com derrame pleural. Foi realizada também a espirometria e a manovacuometria, no pré-operatório, 1º
dia e no 6º dia de pós-operatório, todos colhidos com a cabeceira elevada de 45-60º. Quarenta e quatro
pacientes faziam parte do grupo controle, sendo 34 homens e 10 mulheres, e 42 do grupo intervenção,
com 31 homens e 11 mulheres. Todos fizeram uso de dreno de mediastino, 72 com dreno pleural à esquerda e 1 com dreno pleural bilateral e pode-se observar a redução no tempo de internação entre os
pacientes dos dois grupos, com uma média de diferença de 3 dias, entre aqueles que fizeram fisioterapia.
Verificou-se também que os pacientes do grupo controle desenvolveram em 11,1% algum tipo de alteração radiológica a mais em comparação aos pacientes do grupo intervenção.
A pesquisa de Ambrozin e Cataneo (2005) teve como objetivo comparar as variáveis de mecânica
respiratória e o índice de troca gasosa no pós-operatório em 70 pacientes com ventilação mecânica em
modalidade controlada, ciclada a volume, volume corrente igual a 8ml/Kg, fluxo inspiratório de 0,83l/s,
frequência respiratória de 16rpm, relação inspiração/expiração maior que 1:2, PEEP de 0 e posteriormente 5cmH20 e fração inspirada de O2 a 100%. Verificaram que as complicações pulmonares no pós-operatório foram responsáveis por 40% dos óbitos e, comparando as variáveis no pré e pós-operatório,
os valores obtidos nas complacências dinâmica e estática no pós estavam abaixo do normal, sendo as
variáveis maiores nos homens; a troca gasosa estava reduzida em 47,14% dos pacientes e não houve diferença nos grupos com/sem antecedentes pulmonares, com/sem sintomas respiratórios, não fumantes/
ex/fumantes. Já os grupos com/sem comorbidades apresentaram diferença no índice PaO2/FiO2.
Hulzebos et al. (2006) relatam que a fisioterapia respiratória no pré-operatório utilizando o treinamento muscular inspiratório é capaz de reduzir as complicações pulmonares, melhorando a endurance
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e a força muscular respiratória. A pesquisa foi realizada em um centro médico na Holanda, onde participaram 279 pacientes divididos em 2 grupos, com treinamento muscular respiratório e tratamento usual.
Os resultados apontam que, no grupo que recebeu o treinamento muscular, o tempo de internação foi
menor, houve significativa diminuição de pneumonias e complicações pulmonares.
Morsch et al. (2009), com uma amostra de 108 indivíduos submetidos a CRM com uso de circulação extracorpórea, avaliaram os volumes e as capacidades pulmonares, presença de distúrbio ventilatório por meio da espirometria e força muscular respiratória por meio da manovacuometria. A espirometria
foi realizada no pré-operatório e no 6º dia após a cirurgia, quando foram avaliados a capacidade vital
forçada, volume expiratório forçado no primeiro minuto e valores absolutos e percentuais previstos. A
avaliação da força muscular ventilatória foi verificada no mesmo período por meio da pressão inspiratória máxima e pressão expiratória máxima. Todos os pacientes fizeram fisioterapia no pré e pós-operatório, sendo no pré-operatório composta por orientações, exercícios ventilatórios e tosse e pós-operatório a
monitorização da ventilação mecânica, desmame e extubação, exercícios ventilatórios, posicionamento
no leito, manobra de vibração e compressão torácica, estímulo de tosse e deambulação. Segundo os
resultados da espirometria e da manovacuometria, houve prejuízo significativo da função pulmonar, porém os pacientes que realizaram fisioterapia no pós-operatório tiveram melhora da mecânica respiratória
e da expansão pulmonar e ainda a remoção de muco/secreção retido nas vias aéreas.
Schnaider et al. (2010) estudaram uma amostra de conveniência, com homens sem idade específica e mulheres pós-menopausa, internados para a CRM, via esternotomia. No pós-operatório foram registrados duração da cirurgia, utilização de circulação extracorpórea, número e tipos de enxertos, número
de drenos, tempo de ventilação mecânica e de internação. Foram realizados no pré-operatório e no 7º
dia pós-operatório exames de espirometria e a manovacuometria. Trinta pacientes foram submetidos a
CRM, dentre os quais 6 foram excluídos do estudo, totalizando uma amostra de 24 pacientes que foram
avaliados e monitorados. A espirometria, no pré-operatório, identificou 5 pacientes com distúrbios ventilatórios prévios e a manovacuometria apontou que 11 pacientes apresentaram PImáx menor que 70% e,
destes, 5 indivíduos também apresentaram PEmáx 70% menor que o previsto, mostrando a importância
da fisioterapia no pré e pós-operatório.
Cavenaghi et al. (2011) listam a fisioterapia pré-operatória com a espirometria de incentivo,
exercícios de respiração profunda, tosse, treinamento muscular inspiratório, deambulação precoce e
orientações e, no pós-operatório, o tratamento das complicações pulmonares por meio de manobras e
dispositivos não invasivos. Após revisarem a eficácia da fisioterapia no pré e pós-operatório, algumas
técnicas relatadas foram: manobras de pressão aérea positiva de dois níveis, pressão expiratória, respiração intermitente com pressão positiva e incentivador respiratório (MÜLLER et al., 2006; ROMANINI
et al., 2007). Em outro achado, foram utilizados no pós-operatório os exercícios de respiração profunda
associados à pressão expiratória positiva, pressão expiratória acrescida de resistência inspiratória, respiração com pressão positiva intermitente, pressão positiva contínua nas vias aéreas, pressão positiva em
dois níveis. Porém, quando comparadas, não há superioridade em nenhuma das técnicas (RENAULT et
al., 2008). O treinamento muscular inspiratório utilizando um dispositivo com carga de 40% da pressão
inspiratória máxima foi eficaz para diminuir a morbimortalidade (FERREIRA; RODRIGUES; ÉVORA,
2009). Os efeitos das orientações no pré-operatório sobre a fisioterapia ventilatória foram avaliados
quanto ao nível de ansiedade por meio do questionário Beck Anxiety Scale e uma escala de dor para mensuração de algias. Foi verificada redução do nível de ansiedade em relação ao grupo controle, e redução
do nível de complicações pulmonares após a cirurgia (GARBOSSA et al., 2009). Foram verificadas também a presença de alterações nas capacidades funcionais, por meio do teste de caminhada de 6min, no
pré-operatório e 2 anos após. Nos indivíduos sedentários as distâncias respectivas foram de 255-376m
e nos sedentários que passaram a ser ativos 289-380m e nos ativos que viraram sedentários 221-384m
(NERY et al., 2010) A fisioterapia contribui com a prevenção das complicações pulmonares, reexpansão
pulmonar, higiene brônquica e melhora da capacidade funcional (CAVENAGHI et al., 2011).
Rosenfeldt et al. (2011) estudaram 117 pacientes do hospital de Melbourne, na Austrália, na fase
de pré-operatório para revascularização do miocárdio e/ou cirurgia valvar. Destes, 60 receberam terapia
holística e 57 receberam cuidado usual. O programa de exercícios foi baseado no American College of
Sports Medicine e era composto de 2 sessões de 60 minutos de exercício por semana, sendo a primeira
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60
sessão com alongamento, 15 minutos de bicicleta estacionária, de 10 a 15 minutos de caminhada em
esteira. Nas outras sessões foram realizados 40 minutos de um circuito de exercícios de resistência,
sendo eles: bicicleta ergométrica, esteira e ergometria de braço. Além dessas sessões, os pacientes foram encorajados a completar de 30 a 60 minutos de exercício aeróbio, 2 vezes por semana, em que eles
também utilizavam monitores de frequência cardíaca para medir o nível de atividade necessário para
atingir a meta. Após o término do programa, foi orientada a continuidade do exercício físico regular por
30 minutos, 4 vezes por semana até a cirurgia. Concluem que pacientes com doença cardíaca avançada
são capazes de realizar exercícios de forma segura.
No estudo de Franco et al. (2011), um grupo de pacientes realizou fisioterapia convencional com
exercícios de respiração diafragmática associados com a mobilização dos membros inferiores e superiores, manobras de depuração mucociliar, tosse e técnicas de reexpansão pulmonar; e o outro grupo
utilizou somente a ventilação não invasiva com uso de BiPAP, modo espontâneo por 30 minutos, 2 vezes
por dia, com pressão inspiratória de 8 a 12cmH2O e expiratória de 6cmH2O. Após 48h da cirurgia, aqueles pacientes que foram submetidos à ventilação não invasiva mostraram maior função respiratória e a
frequência respiratória, níveis da pressão arterial sistólica e diastólica, atelectasia e frequência cardíaca
foram menores comparados ao grupo de fisioterapia convencional.
4.  CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com esse estudo de revisão, pode-se dizer que a CRM acarreta importante prejuízo nas funções
pulmonares, sendo a circulação extracorpórea a principal responsável por esses problemas, uma vez que
altera a mecânica respiratória, volumes pulmonares e trocas gasosas. Algumas pesquisas ainda estão sendo realizadas e alguns artigos demonstram as vantagens da CRM sem circulação extracorpórea quando
são comparados casos de pacientes submetidos a cirurgia com circulação extracorpórea em relação à redução do tempo de intubação, complicações respiratórias e taxas de morbimortalidade. Pode-se verificar
também que os pacientes submetidos a ventilação não invasiva pós-CRM com circulação extracorpórea
possuem maior função respiratória e frequência respiratória e cardíaca, pressão arterial e diminuição do
número de atelectasias em relação àqueles que não foram submetidos a esse procedimento.
A prescrição dos exercícios deve ser individualizada e as atividades devem ser aeróbicas, com
intensidade moderada, mantendo entre 50 e 80% da frequência máxima cardíaca e realizadas de 3 a 5
vezes por semana. As atividades devem ter duração de, no máximo, 1 hora e 30 minutos, com de 10 a
15 minutos para aquecimento com exercícios para melhorar o alongamento e a flexibilidade; logo após,
exercícios de 20 a 60 minutos; e, por fim, o desaquecimento de 10 a 15 minutos. Esses indivíduos devem
ser reavaliados sempre a cada 6 ou 8 semanas. Estudos também mostram que a intervenção da fisioterapia cardiorrespiratória com exercícios ativos e passivos e mobilização precoce minimiza os efeitos cirúrgicos e tempo de imobilização e diminui significativamente o tempo de internação de 3 a 4 dias quando
se comparam casos de pacientes que não realizaram nenhum tipo de intervenção. Contudo, mais estudos
controlados e randomizados ainda são necessários, abordando o tratamento mais detalhado, constando
como foi realizada a avaliação funcional, quais exercícios foram executados e como foram prescritos,
as orientações feitas no pré e pós-operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio, constituindo
estudos mais padronizados para resultados de comparação significativos, contribuindo, assim, para uma
melhor abordagem terapêutica desses indivíduos.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, R. M. S. et al. Revascularização do miocárdio em pacientes após a oitava década de vida. Rev. Bras. Cir.
Cardiovasc., São Paulo, v. 17, n. 2, p. 8-14, abr./jun. 2002. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/rbccv/v17n2/10813.
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AMBROZIN, A. R. P.; CATANEO, A. J. M. Aspectos da função pulmonar após revascularização do miocárdio relacionados
com risco pré-operatório. Braz J. Cardiovasc. Surg., v. 20, n. 4, p. 408-415, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/
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Ling. Acadêmica, Batatais, v. 7, n. 1, p. 53-61, jan./jun. 2017
61
BARROS, G. F. et al. Treinamento muscular respiratório na revascularização do miocárdio. Arquivos Brasileiros de
Cardiologia, v. 25, n. 4, p. 483-490, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbccv/v25n4/v25n4a11.pdf>. Acesso
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CARVALHO, V. C.; JATENE, M. B. Physiotherapy in cardiac surgery. Rev. Bras. Cir. Cardiovasc., v. 27, n. 1, p. 171-174,
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CAVENAGHI, S. et al. Fisioterapia respiratória no pré e pós-operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio. Rev.
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