PBL NA ESCOLA DE ECONOMIA DE SÃO PAULO Rua Itapeva, 474 - Bela Vista, São Paulo CEP: 013332-000 www.fgv.br/eesp “Quem ouve, esquece; quem lê, aprende; quem faz, sabe.” Pensamento chinês INTRODUÇÃO Desde seu início, a FGV/EESP tem como missão proporcionar um ambiente de aprendizagem, onde o aluno não deve ser um receptor passivo de preleções do professor, memorizando-as, mas um elemento ativo, retendo conhecimento de forma substantiva, incorporando o conhecimento de forma definitiva. Significa ser capaz de transpor este conhecimento para novos contextos, situações específicas ou na solução de problemas do mundo real. Para isso, as disciplinas do curso de graduação da FGV/EESP partem de problemas reais e brasileiros para proporcionar a aprendizagem teórica. Neste processo de aprendizagem, o aluno ativamente “reinventa conceitos modelos e teorias”, sempre gerais e abstratos, de forma que possam ser aplicados à realidade, sempre específica. Com esse modelo pedagógico é que a FGV/EESP vem se aprimorando e se preparando ao longo do tempo para, a partir de 2013, implantar no nosso curso de graduação o “Método de Aprendizado Baseado na Solução de Problemas e Desenvolvimento de Projetos”, PBL. O PBL é um método ativo de aprendizagem, no qual o aluno parte de problemas reais, casos, situações específicos e desenvolve projetos, para entender a teoria e os modelos econômicos. O PBL incorpora nos seus fundamentos os mais recentes avanços na pedagogia, psicologia, neurociência e ciência da cognição. Na verdade, o PBL é uma pedagogia que foi reinventada recentemente, é o método socrático da Grécia antiga. A utilização do PBL na FGV/EESP, teve, portanto, um longo período de maturação e adaptação ao nosso contexto. Na verdade, os fundamentos do PBL são sempre os mesmos, mas a sua aplicação é flexível, com diferentes abordagens, como de fato ocorre em diversas universidades no mundo. Na atual operacionalização estamos recorrendo aos modelos formalizados e sistematizados na Universidade de Maastricht (Holanda) e na Universidade de Aalborg (Dinamarca), de maneira a contemplar tanto o uso de problemas, quanto o de projetos, no processo de aprendizagem. O PBL O PBL é uma das maneiras mais estruturadas para proporcionar um aprendizado ativo, fazendo com que o aluno seja o centro e principal agente desse processo. PBL, sigla que pode ser usada tanto para Problem Based Learning quanto para Project Based Learning (Aprendizagem Baseada em Problemas e Aprendizagem Baseada em Projetos), é um modelo educacional que promove o aprendizado construtivo dos alunos, baseando-se para isso nos conhecimentos prévios dos mesmos, na discussão cooperativa e colaborativa entre eles e no estudo em grupo. O PBL parte do princípio que o aprendizado é um processo que sempre se inicia com um conhecimento prévio ou do senso comum e este pode ser aprimorado, diversificado e ampliado a partir da discussão de um problema específico com outras pessoas, submetendo-os aos crivos críticos, construindo uma base para processo de pesquisa dos conceitos, modelos e teorias abstratas, que dão respostas genéricas, assim tornando necessário “reinventá-los” de forma a poder aplicar ao problema específico, o nosso ponto de partida. Com base neste processo, o aprendizado de modelos e teorias ocorre mais eficientemente, e torna-se substantivo e permanente. Assim, o aprendizado é um processo que, para ser bem sucedido, deve ser Construtivo, Cooperativo/Colaborativo e Contextualizado; são os chamados 3 C’s do aprendizado. Para contemplar tais necessidades do processo de aprendizagem, a FGV/EESP baseará seu método educacional no uso do PBL com resolução de problemas e desenvolvimento de projetos. PROBLEMAS Para que o aprendizado de novos conceitos seja um processo efetivo e também para que o aluno saiba aplicar o conteúdo estudado para problemas reais, os encontros das disciplinas do curso de graduação da FGV/EESP serão divididos entre aulas expositivas e tutoriais. Para os tutoriais, a turma será dividida em grupos de até 15 alunos, e cada um desses grupos será novamente dividido em grupos menores de auto-aprendizagem. Nas aulas, cuja abordagem é distinta das tradicionais, os professores apresentarão o contexto e a origem do assunto, interpretações, relações entre conteúdos e aplicações não contempladas e que vão além da bibliografia básica dos cursos. O professor não vai ser um repetidor dos livros - textos, que por definição são textos preparados para os alunos estudarem por si e debaterem com colegas e professores. O objetivo é o aprendizado substantivo e não memorizar para passar na prova. Nos grupos tutoriais, os alunos serão expostos a problemas e os discutirão, sob a supervisão de um professor (o professor supervisor), para iniciar o processo de aprendizagem. Com isso, inicialmente, os alunos são expostos a um problema e, a partir dele, têm a oportunidade de compartilhar seu conhecimento prévio entre si, discutir as principais questões que o problema levanta, analisá-las criticamente e a partir disso, formular o que eles ainda precisam saber, pesquisar. Esse contato inicial em grupo com o problema é chamado de prédiscussão do problema. Com esses objetivos de aprendizagem, bem definidos, os alunos partem para o estudo em grupos menores, promovendo uma aprendizagem ativa e desenvolvendo autonomia intelectual, além de aprender a cooperar e trabalhar em grupo. Os encontros dos estudos em grupo, serão auto-avaliados pelos alunos e pelo supervisor no grupo tutorial, valem créditos no currículo a ser cumprido pelos alunos para se graduarem, e, portanto, serão registrados e a participação dos membros será usada como presença para obtenção dos créditos. Após o estudo em grupo, os alunos se reúnem novamente no mesmo grupo do tutorial com o mesmo supervisor, para discutir e compartilhar o que estudaram, avaliar possíveis dúvidas, entenderem melhor os conceitos e, com isso, chegarem a uma conclusão para o problema inicial, aplicando e utilizando o que foi estudado. Esse encontro final em grupo é chamado de pósdiscussão do problema. Para um melhor aproveitamento dos encontros nos tutoriais, cada um deles começa com a pós-discussão de um problema (tomando aproximadamente 80% do tempo do tutorial) e termina com a pré-discussão de um novo problema; com exceção do primeiro tutorial, quando acontece apenas a pré-discussão, e do último, quando acontece apenas a pós-discussão. Para organizar o aprendizado e a discussão dos problemas nos tutoriais e nos estudos em grupo, esclarecendo e estruturando os problemas, será usada a abordagem dos 7 passos para resolução de um problema. Os passos de 1 a 5 ocorrem durante a prédiscussão, o passo 7, na pós-discussão e o passo 6 entre as duas. Passo 1: ler o problema e esclarecer os termos e conceitos, precisando os seus significados exatos, para evitar confusões e permitir que todos os participantes do grupo comecem do mesmo ponto de partida; os alunos questionam termos e conceitos desconhecidos e eles mesmos dão explicações; Passo 2: definir o problema, analisando-o e limitando-o em relação aos temas envolvidos e tornando-o concreto e levantando perguntas a serem respondidas para solucioná-lo; Passo 3: brainstorming, ativando conhecimento prévio do grupo sobre o problema definido e dando resoluções, explicações e alternativas possíveis para ele; Passo 4: classificar soluções para o problema entre as levantadas durante o brainstorm, indicando relações entre elas; Passo 5: formular objetivos de aprendizagem, baseados no conhecimento de conteúdos e/ou conceitos que ainda faltam para a resolução do problema; Passo 6: estudo em grupos menores dos conteúdos e/ ou conceitos levantados nos objetivos de aprendizagem, a partir de bibliografias iniciais indicadas pelo professor e em outras a serem pesquisadas pelo grupo, fazendo relação com os conhecimentos prévios levantados durante o brainstorm, tomando notas e preparando pequenos relatórios a serem usados durante a pós-discussão; Passo 7: relatar no grupo de tutorial o que foi estudado e qual(is) solução(ões) levantada(s), tirando possíveis dúvidas, relacionando conteúdos e garantindo que o conteúdo foi estudado e discutido em profundidade suficiente para solucionar o problema. Garantir que todos os participantes tenham compreendido os conceitos e conteúdos e consigam explicá-los. O professor responsável pelo curso é quem formula os problemas a serem discutidos nos tutoriais e os objetivos de aprendizagem de cada um deles. Além dos problemas, o sucesso do tutorial é de responsabilidade de todos os participantes: alunos e professor-supervisor. O professor-supervisor é responsável por incentivar todos os alunos a participarem das discussões, atribuindo notas a essas participações, e garantindo que todos os objetivos de aprendizagem sejam cumpridos. Os alunos desempenham diferentes papéis durante as discussões: líder da discussão, secretário (relator) e membro participante. Nos tutoriais todos os alunos têm obrigatoriamente que participar ativamente e contribuir com a discussão do problema, caso contrário, não terá adquirido os conhecimentos necessários, além de não atingir os critérios para completar os créditos da disciplina. Além de membros participantes, pelo menos uma vez em cada disciplina, todos os alunos serão líderes e secretários (relatores) da discussão. O líder da discussão deve aprender a conduzir uma reunião, motivar e cobrar a participação de todos os alunos, formulando perguntas quando necessário, garantir que os 7 passos sejam cumpridos e que o tempo seja usado adequadamente para cumprir todos os objetivos de aprendizagem levantados. Além disso, deve ajudar a estruturar a ordem em que o problema é discutido, resumir, reformular e concluir os conteúdos e conceitos levantados durantes as discussões. Inicialmente, muitas vezes o professor-supervisor serve de modelo de líder, mas com o passar do tempo, cada vez mais os alunos líderes assumem melhor tais atividades. O secretário da discussão é o relator da reunião. Deve anotar o que foi levantado durante a pré-discussão, desde o conhecimento prévio até os objetivos de aprendizagem, sintetizar a pósdiscussão e então disponibilizar tais informações para todos os participantes, de maneira que todos tenham um guia para o estudo em grupo. Nesta etapa do processo de aprendizagem, baseada na discussão de problemas, os alunos são avaliados de maneira formal e individual, por meio de provas e de notas de participação nos tutoriais. As provas são realizadas de maneira rigorosa e a avaliação da participação é baseada na contribuição que o aluno efetivamente dá para a discussão, levantando conhecimentos prévios, formulando perguntas, trazendo informações estudadas e tirando dúvidas. Passo 1: ler o problema e esclarecer os termos e conceitos, precisando os seus significados exatos, para evitar confusões e permitir que todos os participantes do grupo comecem do mesmo ponto de partida; os alunos questionam termos e conceitos desconhecidos e eles mesmos dão explicações; Passo 7: relatar no grupo de tutorial o que foi estudado e qual(is) solução(ões) levantada(s), tirando possíveis dúvidas, relacionando conteúdos e garantindo que o conteúdo foi estudado e discutido em profundidade suficiente para solucionar o problema. Garantir que todos os participantes tenham compreendido os conceitos e conteúdos e consigam explicá-los. Passo 2: definir o problema, analisando-o e limitando-o em relação aos temas envolvidos e tornando-o concreto e levantando perguntas a serem respondidas para solucioná-lo; PASSO 1 PASSO 7 Passo 6: estudo em grupos menores dos conteúdos e/ou conceitos levantados nos objetivos de aprendizagem, a partir de bibliografias iniciais indicadas pelo professor e em outras a serem pesquisadas pelo grupo, fazendo relação com os conhecimentos prévios levantados durante o brainstorm, tomando notas e preparando pequenos relatórios a serem usados durante a pós-discussão; PASSO 2 Passo 3: brainstorming, ativando conhecimento prévio do grupo sobre o problema definido e dando resoluções, explicações e alternativas possíveis para ele; PBL PASSO 6 PASSO 3 PASSO 5 Passo 5: formular objetivos de aprendizagem, baseados no conhecimento de conteúdos e/ou conceitos que ainda faltam para a resolução do problema; PASSO 4 Passo 4: classificar soluções para o problema entre as levantadas durante o brainstorm, indicando relações entre elas; PROJETOS Um projeto é uma tarefa complexa, que aborda conteúdos de mais de uma disciplina curricular, contextualizada, nova e relacionada a problemas reais. Para ser resolvido, envolve definir e analisar, em grupo, os objetivos do mesmo, gerenciar o tempo necessário para cumprir todos os pontos levantados, e estudar conhecimentos além dos tradicionalmente vistos em bibliografias básicas de cursos. A responsabilidade das decisões para desenvolver o projeto é compartilhada por todos os membros do grupo. O grande objetivo dos projetos é integrar a teoria (estudada através dos problemas) com a prática, tornando os alunos capazes de entender como elas se relacionam. Durante o segundo, quarto e sexto semestres do curso, os alunos irão desenvolver projetos, em grupo, relacionados a grandes temas definidos. Eles serão divididos em grupos menores do que os 15 dos tutoriais. No segundo semestre, cada aluno individualmente irá desenvolver e apresentar o seu Projeto de Carreira, deverá explicitar as suas ambições, definindo onde pretende chegar daqui a 20/25 anos. Deve sonhar grande, discutindo quais conhecimentos, qualificações e competências serão necessários para realizar este sonho. Deve conversar, entrevistar pessoas bem sucedidas que possam servir de modelo. Inicialmente deve traçar passo a passo do fim (o que pretende ser) para o começo (o curso de economia na FGV/EESP), as etapas necessárias para alcançar o objetivo final. Desta forma, o aluno deve lembrar que o atual curso faz parte do seu projeto de carreira, é na verdade, o primeiro passo para realizar o seu sonho. No quarto e sexto semestres, os alunos irão em busca de situações e problemas reais a serem resolvidos nas duas grandes áreas da teoria econômica: de microeconomia e macroeconomia, respectivamente. Em cada projeto, os alunos irão definir o tema específico a ser trabalhado, assim como o cronograma de atividades e os fatores críticos de sucesso, relevantes para o êxito do projeto. Cada grupo terá um supervisor, com o qual marcará reuniões regulares para avaliar o andamento do projeto e esclarecer dúvidas. Além disso, durante os 3 projetos, os alunos terão contato com conteúdos e conceitos de metodologia e técnicas de pesquisa para dar suporte ao desenvolvimento dos mesmos. Por fim, no último ano do curso, cada aluno fará sua monografia de conclusão de curso, quando resolverá um problema da área de maior interesse com a supervisão de um orientador. RESULTADOS O PBL, por ser um método de proporcionar um ambiente de aprendizagem ativa, tem como objetivo principal colocar o aluno como o agente do aprendizado, tirando-o da posição passiva de apenas receber conhecimento. Os alunos aprendem a identificar problemas e a traduzi-los em perguntas, para então, serem capazes de resolvê-los com modelos e teorias fornecidos pela ciência econômica. Com os tutoriais, o estudo em grupo e o desenvolvimento de projetos, o PBL também promove uma sólida formação dos alunos, criando autonomia na busca do conhecimento, que deve ser crítica e permanente no mundo contemporâneo. Além disso, o aluno adquirirá e desenvolverá competências pessoais como: liderança, capacidade de comunicação, expressão de ideias, argumentação crítica, trabalhar em grupo aprendendo a lidar com diferente tipos de pessoas, além de desenvolver a capacidade de gerenciamento do tempo. Como a base do processo de aprendizado é feita em grupos, o PBL também proporciona o desenvolvimento de habilidades de comunicação e apresentação, como compartilhar informações, ouvir e ajudar com dúvidas de colegas, ser capaz de explicar conteúdos e conceitos com suas próprias palavras, negociar e trabalhar colaborativamente, gerenciar conflitos, avaliar reuniões em grupo, e dar e receber feedback. Por fim, outro efeito do PBL é incentivar os alunos a manter o conteúdo a ser estudado em dia, minimizando o estudo pouco efetivo feito apenas às vésperas de provas. Resumindo, o PBL desenvolve nos alunos a habilidade de aprender a aprender. A partir de 3 pilotos feitos em 2012, e do primeiro ano de curso da turma de ingressantes em 2013, os alunos mesmos avaliaram os efeitos do PBL na formação deles: • obriga a manter a matéria em dia, incentivando a estudar antecipadamente e em grupos, discutindo os conteúdos e conceitos; • melhora a habilidade em trabalhar em grupo, e o entrosamento entre os alunos; • o aluno se torna mais independente no estudo, aprendendo por conta própria, desenvolvendo maturidade e confiança e excedendo o que é proposto nos livros; • proporciona maior fixação da matéria, por aprender sozinho e não com alguém dando tudo pronto; • aumenta a motivação em estudar tópicos através do uso dos problemas mais práticos; • acaba com as aulas maçantes e/ou monótonas, já que elas dão intuições que não estão no livro; • aumenta a proximidade entre alunos e professores; • facilita a exposição de dúvidas, diminuindo a inibição e timidez em fazer perguntas; • ensina logo no começo do semestre a perceber as dificuldades e tempo necessário para estudar. RECURSOS FÍSICOS E HUMANOS A partir de 2013, a FGV/EESP desenvolveu recursos físicos e humanos necessários ao PBL. No que diz respeito aos recursos físicos, os alunos usarão a biblioteca, os laboratórios de informática e o sistema blackboard, já usados desde o início da escola. Além desses recursos que sempre existiram, foram criadas salas PBL para estudo em grupo, com lousas e mesas; além de salas menores para os tutoriais, com carteiras organizadas em círculo para proporcionar a discussão e participação de todos, e com recursos audiovisuais e lousas para facilitar as apresentações do que foi estudado pelos alunos e da solução dos problemas. No que diz respeito a recursos humanos, a coordenação e os professores receberam treinamento de professores das Universidades de Maastricht (Holanda), Aalborg (Dinamarca) e de Delaware (Estados Unidos), para aderirem ao PBL, escreverem problemas adequados aos conteúdos e conceitos das diferentes disciplinas, e atuarem como supervisores. Fotos: Patricia Fiuza “Não basta ser o melhor, sendo o melhor é preciso inovar” Yoshiaki Nakano O PBL adotado pela FGV/EESP segue os princípios de uma nova era no ensino e aprendizagem, na qual o conhecimento está na “nuvem”, na rede, e apenas aqueles preparados poderão selecionar o que é relevante e darão respostas inéditas para os problemas. Segue também os princípios propostos para a UNESCO no Relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, cuja ênfase centra-se no aprender a aprender como a habilidade fundamental para a constante atualização de conhecimentos necessária para a vida moderna.