Tatiana dos Santos Nascimento - grupo

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Escola de Comunicações e Artes
As Redes Sociais Digitais Como Ferramentas de Transformação Social
Tatiana dos Santos Nascimento
São Paulo
2012
TATIANA DOS SANTOS NASCIMENTO
As Redes Sociais Digitais como Ferramentas de Transformação Social
Monografia apresentada à Escola de Comunicações e
Artes da Universidade de São Paulo em cumprimento
parcial às exigências para obtenção do título de
especialista em Gestão Integrada da Comunicação Digital,
sob orientação da Profa. Ms. Else Lemos.
São Paulo
2012
TATIANA DOS SANTOS NASCIMENTO
AS REDES SOCIAIS DIGITAIS COMO FERRAMENTAS DE
TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
Monografia apresentada à Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo em cumprimento parcial às exigências
para obtenção do título de especialista em Gestão Integrada da
Comunicação Digital.
Orientadora: Profa. Else Lemos
COMISSÃO EXAMINADORA
_______________________________________________
Assinatura: _____________________________________
_______________________________________________
Assinatura: _____________________________________
_______________________________________________
Assinatura: _____________________________________
São Paulo
2012
Dedicatória
Às pessoas que, como eu, vieram da periferia,
enfrentaram dificuldades e encontraram na web uma
ferramenta para transformar suas próprias vidas.
Agradecimentos
Agradeço à professora Else pela orientação, sem a qual esse trabalho não seria possível.
Também aos meus amigos de curso, Daygo, Dani e Rogério, pelo apoio nessa jornada e por
terem se tornado amigos para a vida. E, finalmente, meus agradecimentos especiais ao meu
namorado e melhor amigo, Cacá, pela força que me deu para concluir esse trabalho.
Resumo
Este trabalho faz uma análise sobre o papel das redes sociais digitais no processo de
transformação social dos cidadãos de baixa renda. Esta análise foi feita por meio de um
estudo sobre o que é transformação social e a definição do papel do ser social, além de
definições e constatações sobre a influência das redes sociais digitais na sociedade. Com base
neste estudo, foi possível demonstrar como essas ferramentas podem auxiliar na promoção da
cidadania e, consequentemente, da transformação social, que é facilitada pela ação dos
movimentos sociais e da educação comunitária.
.
Palavras-chave: transformação social, redes sociais digitais, cidadania, movimentos sociais,
educação comunitária.
Abstract
This paper performs an analysis of the role of the digital social networks in the process of
social transformation for low-income citizens. This analysis was conducted through a study
on what is social transformation and the defining of the role of the social being, and also
definitions and verifications on the influence of digital social networks on society. Based on
this study, it was possible to demonstrate how these tools may help on the promotion of
citizenship and, consequently, the promotion of social transformation, which is facilitated by
the action of social movements and community education.
.
Keywords: social transformation, digital social networks, citizenship, social movements,
community education.
Lista de Figuras
Figura 1– Orkutização (A)
... 34
Figura 2 – Orkutização (B)
... 34
Figura 3 – Fanpage da Rede Mocambos no Facebook
... 40
Figura 4 – Perfil no Twitter da Rede Mocambos
... 40
Figura 5 – Fanpage DoLadoDeCá no Facebook
... 42
Figura 6 – Perfil DoLadoDeCá no Twitter
... 42
Sumário
Introdução
1. Transformação Social
1.1 O Ser Social
…10
... 15
... 20
2. As Redes Sociais Digitais
... 25
3. Desigualdade na web
... 30
4. Redes Sociais Digitais Construindo Uma Sociedade Mais Igualitária
... 36
4.1 Rede Mocambos
... 38
4.2 Do Lado de Cá
... 41
Considerações finais
… 44
Referências
… 46
10
Introdução
A moderna sociedade burguesa, saída do declínio da sociedade feudal, não aboliu as
oposições de classes. Apenas pôs novas classes, novas condições de opressão, novas
configurações de luta, no lugar das antigas. A nossa época, a época da burguesia,
distingue-se, contudo, por ter simplificado as oposições de classes. A sociedade toda
cinde-se, cada vez mais, em dois grandes campos inimigos, em duas grandes classes
que diretamente se enfrentam: burguesia e proletariado.(MARX e ENGELS, 2001,
p.24)
O interesse pelo tema deste projeto de pesquisa originou-se a partir de uma palestra
que assisti no evento Info Trends, organizado pela revista Info do Grupo Abril, realizado no
dia 01/09/2011 no Hotel Unique em São Paulo. O tema da palestra era “A comunidade cai na
rede e ganha voz”, e Leandro HBL (cineasta do projeto Guetos Digitais), Renato Barreiros
(roteirista e pesquisador), Renato Meirelles (CEO do Instituto Data Popular) e Toddy Ivon
(direto de clipes de rap) debateram sobre a chamada “nova classe C”, que chegou à web como
consumidora e produtora de conteúdo.
Como venho de família de baixa renda, e a internet teve papel determinante na minha
formação, essa era uma inquietação pessoal. Decidi desenvolver esse trabalho sobre como as
redes sociais digitais podem ser importantes ferramentas de transformação social, não apenas
do aspecto de divulgação de programas sociais, já muito tratado, mas do pertencimento do
indivíduo nesse novo cenário, da interação entre as pessoas, da quebra de hierarquias.
Para tanto, pretendo apoiar a pesquisa, além da fundamentação teórica, em casos reais.
Selecionei dois que, acredito, retratam bem a ideia do pertencimento e da quebra de barreiras.
Um deles é o projeto Rede Mocambo, uma rede solidária de comunidades na qual o objetivo
principal é compartilhar ideias e oferecer apoio recíproco, conectando, por meio das redes
sociais digitais, comunidades quilombolas rurais e urbanas. O outro caso selecionado é o
projeto DoLadoDeCá, um portal idealizado pela jornalista Tatiana Ivanovici, onde são
divulgados os talentos e iniciativas culturais que são frutos do celeiro que a periferia se
tornou, além de assuntos que dizem respeito ao cotidiano e ao universo do entretenimento
popular.
O pressuposto deste trabalho é de que as redes sociais digitais podem atuar como
agente de transformação social, quebrando a barreira histórica entre ricos e pobres. Dessa
forma, podem ajudar a construir uma sociedade mais igualitária e favorecer o sentimento de
pertencimento desses sujeitos antes excluídos, com a formação do ser na web.
11
Durante o evento Info Trends, já mencionado, Renato Meirelles disse que, de acordo
com dados do Instituto Data Popular, a Classe C já responde por 56% dos domicílios com
acesso à internet no país. A inclusão cada vez maior desses indivíduos na internet, e em
especial, nas redes sociais, levanta a questão do pertencimento dos indivíduos nessa nova
mídia.
Além disso, uma pesquisa da agência WMcCann1 apontou que o aumento do uso do
meio digital promove igualdade social de forma mais rápida do que o aumento da renda e da
qualidade da educação, uma vez que promover a inclusão digital mias é simples do que
realizar um reforma completa no sistema econômico e educacional do país.
Por inclusão digital, entende-se não apenas ―alfabetizar‖ digitalmente um sujeito,
ensiná-lo a usar o computador e acessar a internet, mas fazer com que ele saiba aplicar esse
conhecimento de forma a transformar a sua realidade e a dos que o cercam. Inclusão digital
significa, dessa forma, melhorar as condições de vida de uma determinada região ou
comunidade com ajuda da tecnologia.
Assim, para atingir os objetivos da inclusão digital, é necessário pensar muito além do
simples acesso ou conhecimento técnico. É preciso entender como são construídas as relações
dos incluídos (nativos e imigrantes digitais) com a rede e com seus papéis dentro do
ecossistema social.
Segundo Castells (2008), desenvolvimento sem Internet na era da participação seria o
equivalente à industrialização sem eletricidade na era industrial. Ele reforça ainda, que sem
uma economia e gestão baseados na Internet, qualquer país tem pouca chance de gerar os
recursos necessários para cobrir suas necessidades de desenvolvimento num terreno
sustentável sob todos os aspectos.
Dessa forma, a ideia do indivíduo ativo na sociedade atual não pode ser desvinculada
da Internet. Assim, o ser social na web, em especial nas redes sociais, faz parte da construção
social, do pertencimento.
Dessa forma, no espaço da cidadania estaremos reforçando o novo elemento da
matriz de força que constitui os poderes da democracia. Não podemos mais nos
restringir a apenas três poderes do Estado e às corporações como o quarto poder;
hoje temos claramente a construção de um quinto poder que é a sociedade
organizada e conectada (e-cidadania), ou seja, os e-cidadãos.(CARIBÉ, 2011, p.
186)
1
SIMON, Cris para Revista Exame Online. Disponível em http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/8verdades-sobre-a-classe-c-digital. Acessado em 18/09/2012.
12
A dominação por meio do domínio sobre os meios de comunicação é histórica. A
parcela da população que antes não fazia parte do mundo virtual, quando finalmente pôde ter
acesso às ferramentas de mídias digitais, fez delas seu próprio uso, não apenas como meio de
comunicação, mas de integração e ação social, buscando melhoras coletivas.
Quando a Rede desliga o Ser, o Ser, individual ou coletivo, constrói seu significado
sem a referência instrumental global: o processo de desconexão torna-se recíproco
após a recusa, pelos excluídos, da lógica unilateral de dominação estrutural e
exclusão social.(CASTELLS, 2008, p. 60)
Nessa mesma obra, o autor ressalta que a tecnologia não é o agente propulsor das
transformações sociais, mas propicia que elas se dêem mais rapidamente e com maior alcance.
Dominar o uso das ferramentas tecnológicas permite que uma parcela, antes excluída, possa
se articular e se fazer ouvir.
Sem dúvida, a habilidade ou inabilidade de as sociedades dominarem a tecnologia e,
em especial, aquelas tecnologias que são estrategicamente decisivas em cada período
histórico, traça seu destino a ponto de podermos dizer que, embora não determine a
evolução histórica e a transformação social, a tecnologia (ou sua falta) incorpora a
capacidade de transformação das sociedades, bem como os usos que as sociedades,
sempre em um processo conflituoso, decidem dar ao seu potencial
tecnológico.(CASTELLS, 2008, p. 44)
Dessa forma, é claro que a tecnologia não determina a sociedade. Nem a sociedade
escreve o curso da transformação tecnológica, uma vez que muitos fatores, inclusive
criatividade e iniciativa empreendedora, interferem nesse processo de forma que o resultado
final depende de muitos fatores. Mas com certeza as ferramentas tecnológicas são
fundamentais na transformação social.
A socialização do acesso à internet e, consequentemente, das ferramentas de mídias
digitais, propiciou que uma parcela da população, antes sem voz, pudesse se articular. Não
que as ferramentas fossem determinantes para as mobilizações: elas sempre existiram, apenas
se aperfeiçoaram por esses meios. Esse acesso permite que todos passem de espectadores a
produtores de seus próprios conteúdos, propiciando articulações sociais bem maiores.
Se uma mudança na sociedade fosse facilmente compreendida de imediato, não seria
uma revolução. E a revolução está, hoje, centrada no choque da inclusão de
amadores como produtores, em que não precisamos mais pedir ajuda ou permissão a
profissionais para dizer as coisas em público. (...) Esses efeitos foram criados por
cidadãos que queriam mudar a maneira como se desenrolava o diálogo público e
descobriram que tinham a oportunidade de fazê-lo.(SHIRKY, 2011, p. 50)
Em sua obra, Shirky (2011) ressalta a capacidade que a web e as mídias digitais têm
de distribuir o poder entre os cidadãos. Quando alguém compra uma TV, o número de
consumidores aumenta, mas o número de produtores permanece o mesmo. Por outro lado,
quando alguém compra um computador ou um telefone celular, tanto o número de
13
consumidores quanto o de produtores aumentam. O conhecimento das ferramentas para
produção de conteúdo continua desigual, mas a capacidade bruta de criar e compartilhar é
agora amplamente distribuída.
A motivação para essa mudança, passar a produzir e não só a consumir, surgiu da
facilidade trazida com essas ferramentas digitais. A articulação por meio de web tornou as
ações de grupos, antes pequenos e isolados, pública, propiciando a identificação de outros
indivíduos. Eles podem, com mais facilidade, tornar públicos os seus interesses, e os grupos
podem equilibrar, também com mais facilidades, tanto motivações individuais como grandes
ações coordenadas.
Esse acesso às mídias digitais de forma mais global permitiu o fim das hierarquias dos
produtores de conteúdo. A parcela da população, antes excluída, hoje não apenas pode fazer
parte desse contexto, mas faz uma reinvenção dessas ferramentas, adaptando-as a suas
necessidades e características, gerando algo único.
Algumas das melhores respostas para as crises globais estão nascendo localmente,
nas periferias dos países em desenvolvimento. (...) Como previsto por Milton
Santos, em Por Uma Outra Globalização, as periferias de todo o mundo se
apropriariam das novas tecnologias e dariam respostas locais e questões globais,
organizando-se através de redes. O autor aponta ―a possibilidade cada vez mais
frequente, de uma revanche da cultura popular sobre a cultura de massa (...).
(LEMOS,2008, p. 196)
A presente pesquisa se propõe a fazer uma análise do ser social na internet, em
especial nas redes sociais, e de que forma essas ferramentas auxiliam na transformação social
dessas pessoas, pela queda de antigas hierarquias.
Essa análise será feita a partir do ambiente macro, definindo transformação social e o
ser social, partindo para uma conceituação de redes sociais e finalmente para uma descrição
da desigualdade social que existe na web, para provar o pressuposto de que as redes sociais
digitais podem ser ferramentas para a transformação social desses sujeitos excluídos na
sociedade offline.
Raquel Recuero, uma das autoras selecionadas para essa pesquisa, refere-se a esse
universo como ―Redes Sociais na Internet‖, porém, usarei o termo ―redes sociais digitais‖, por
julgar que, apesar de se basearem na Internet, esse modelo de redes sociais tem efeitos muito
além do ambiente web, sendo ―digital‖ uma forma de classificá-lo quando a sua origem, mas
sem restringir propriamente seu campo de ação.
14
1. Transformação Social
“Já que sou, o jeito é ser”. (Clarice Lispector, em A Hora da Estrela)
As filosofias deterministas tendem a ver a vida de cada homem como se ela fosse
determinada total ou parcialmente por forças maiores que ele. Há religiões que enfatizam um
conceito peculiar de providência divina, segundo o qual o homem está ligado a um karma
predestinado, o que tende a gerar uma atitude conformista diante da vida. De maneira similar,
algumas vertentes das ciências sociais expõem sua versão do conceito determinista do homem
ao propor que o indivíduo é um produto de forças sociais, ou seja, que diferentes fatores
atuam em sua vida.
No trecho que abre este capítulo, da conhecida obra de Clarice Lispector, a
personagem Macabéa apresenta a falta de questionamento sobre sua vida. Ela desconhece
qualquer reflexão sobre as coisas que a cercam e se satisfaz com a rotina proporcionada pelas
pessoas, o que a tornava cada vez mais um ser manipulável. Ela não se enxerga como parte da
sociedade que a cerca e não se questiona sobre isso.
Mais do que apenas passividade ou ignorância, esse comportamento é uma repetição
do que sempre foi ensinado, que advém de raízes culturais. Pierre Bourdieu (2011) concebeu
uma teoria sobre isso, o habitus, um instrumento conceitual que auxilia a pensar as relações
sociais, a mediação entre os condicionamentos sociais exteriores e a subjetividade dos
sujeitos. Habitus, portanto, é diferente de apenas destino, é uma noção que auxilia a pensar as
características de uma identidade social, de um sistema de orientação ora consciente ora
inconsciente. Assim, habitus é uma matriz cultural que predispõe os indivíduos a fazerem suas
escolhas.
Para isso, convém retornar ao princípio gerador e unificador das práticas, ou seja, ao
habitus de classe como forma incorporada da condição de classe e dos
condicionamentos que ela impõe; portanto, construir a classe objetiva, como um
conjunto de agentes situados em condições homogêneas de existência, impondo
condicionamentos homogêneos.(BOURDIEU, 2011, p.97)
O habitus está apoiado no conceito de classes sociais estabelecidas, que para Karl
Marx é definido como o ―conjunto dos agentes sociais colocados nas mesmas condições no
processo de produção e que têm afinidades ideológicas e políticas‖ (MARX, 1971, p.56).
Assim, para Marx, a divisão da sociedade em classes é consequência dos diferentes
papéis que os grupos sociais têm no processo de produção. É do papel ocupado por cada
classe que depende o nível de fortuna, rendimento e outras características culturais das
15
diferentes classes. Em resumo, as classes são caracterizadas pela ideologia de cada classe, ou
seja, o conjunto de traços culturais, englobando doutrinas, crenças, princípios morais, ideais,
etc.
Ainda na definição marxista de classe, elas se constroem nas relações de produção, ou
seja, no âmbito econômico. Para o autor, as relações de produção constituem as relações de
classe, marcadas fortemente pelo antagonismo entre os detentores dos meios de produção e os
portadores da força de trabalho, representados em burguesia e proletariado. O fator
econômico é a característica central desta definição de classe.
Para Bourdieu, porém, a definição de classes sociais não é construída apenas pela
simples detenção de capital ou pela origem social (etnia e sexo), mas por uma soma desses
fatores.
(...) implica, portanto, levar em consideração de modo consciente – na própria
construção dessas classes e na interpretação das variações, segundo essas classes (...)
trata-se também de apreender a origem das divisões objetivas, com base nas quais os
agentes têm mais possibilidades de se dividirem e de voltarem a agrupar-se
realmente em suas práticas habituais (...). (BOURDIEU, 2011, p. 101)
Essa definição deixa claro que, ao contrário do determinismo religioso, e apenas da
conformidade, as classes sociais são passíveis de mutação: um indivíduo pode, sim, migrar de
classe social com base em uma série de fatores como a aceitação e a posse de bens. Porém,
essa migração é individual e pontual, e não há uma mudança na estrutura, portanto, a ascensão
de um sempre se dá em detrimento dos demais. É a forma como se moldam as classes sociais:
poucos ricos e muitos pobres.
Para o sociólogo Max Weber, o homem sempre viveu em um Estado de acumulação e
conspiração do outro. Ou seja, nas sociedades humanas, os sujeitos sempre viveram em um
ambiente de competição onde cada um busca melhores condições para si, transcendendo
socialmente, em uma eterna luta pelo poder.
Weber considerava que a sociedade era composta por várias camadas, não apenas
burguesia e proletariado como dizia Marx, e que havia outros fatores importantes, além do
acúmulo material. Para o ele, classe social possui as seguintes características: ―(1) Conceito
de classe é relacional: só se pode definir suas características em relação com outra classe e
não isoladamente; (2) A delimitação de classes sociais,ou seja, qual é mais favorecida e qual é
menos favorecida depende do sistema de produção e sua evolução ao longo da história; (3) As
relações entre classes são sempre de conflito; (4) Há sempre uma classe explorada e uma
exploradora, ou seja,está baseado no sistema de produção, quem tem os meios de produção e
16
quem vende mão-de-obra‖ (SOUTO, 2008). Assim, a estrutura de classe resulta das relações
sociais entre as classes, e por meio dessas relações são estabelecidos os limites de classe.
Assim, além do acúmulo de capital, Weber considera o prestígio, ou seja, os juízos de
valor que as pessoas fazem umas das outras e que contribuem para o seu posicionamento nas
respectivas classes sociais como condição para que essa ascensão social ocorra.
Em algumas sociedades a questão da mobilidade social é inexistente, principalmente
nos casos em que a posição social de um indivíduo é mantida ao longo da vida, como é ocaso
das estratificações existentes na sociedade indiana, ou como era no sistema feudal, por
exemplo.
A situação das sociedades estratificadas mudou por causa das revoluções e do
desenvolvimento econômico e tecnológico que culminaram com um novo significado para a
hierarquia social. Atualmente a mobilidade social parece ganhar uma nova perspectiva, uma
vez que se torna uma meta política para nações guiadas por princípios democráticos, ou seja,
ela se torna uma forma de minimizar a desigualdade social.
O conceito de mobilidade social é dinâmico, já que se baseia nas condições materiais
que uma pessoa tem ao longo da vida, e a posição social de um sujeito pode estar ligada a sua
ascendência familiar ou alguma posição política ou religiosa.
Mais do que isso, aqueles que conseguem transpor as barreiras preestabelecidas entre
as classes sociais têm a tarefa de se moldar a essa nova classe, aculturar-se. Bauman (2001),
em Modernidade Líquida, dá o exemplo dessa transposição na antiga modernidade:
Enquanto os estamentos eram uma questão de atribuição, o pertencimento às classes
era em grande maneira uma realização; diferentemente dos estamentos, o
pertencimento às classes deveria ser buscado, e continuamente renovado,
reconfirmado e testado na conduta diária. (BAUMAN, 2001, p.41)
De modo geral, o resultado é uma renúncia de responsabilidade. Não se considera que
o indivíduo é responsável por sua conduta, e, sim, uma vítima de forças maiores que ele (o
determinismo, as classes sociais, etc.). Já que o homem se considera como uma vítima das
circunstâncias, há pouca motivação para que ele assuma a responsabilidade de mudar. Há
ainda uma tendência de culpar a outros pelos seus problemas. Os proponentes desse conceito
põem ênfase na necessidade de mudar a sociedade, sem se dar conta da necessidade de
transformação pessoal como uma parte vital desse processo.
Na maioria das sociedades globalizadas atuais, o conhecimento parece ter se tornado a
peça-chave para o entendimento das diferenças entre classes sociais. O capital intelectual se
tornou a moeda corrente para a troca.
17
Esse capital intelectual é muito valorizado atualmente, como é o caso dos diplomas
universitários. Então, a educação, a posse do conhecimento, se tornou um instrumento para a
mudança de classe social. Nas sociedades industriais o conhecimento técnico-prático era o
mais importante para ascensão social. Já em nossa sociedade de informação, o conhecimento
teórico e geral é o mais importante.
Por outro lado, a ação coletiva é a expressão da classe social. É por meio dela que
podemos enxergar a classe social, pois a ação seria a conjunção de interesses de uma
determinada classe. Esses interesses podem ser imediatos, aqueles traduzidos em
reivindicação salarial, melhores condições de trabalho, baixa no custo de vida, etc.; ou de
longo prazo, interesses que regem a vida de todos os trabalhadores, independentemente da sua
posição na produção. Ambos são interesses que unem um determinado grupo de indivíduos.
A partir do momento que esse grupo passa a refletir sobre suas condições de vida,
trabalho, social e que a sua relação com o grupo detentor dos meios de produção é de
explorado, os interesses passam a ser conduzidos para ações maiores. Esses são considerados
interesses em longo prazo e podem ser vistos como frutos da consciência de classe. São esses
interesses que movem as classes sociais, no caso marxista, o proletariado, a uma ação coletiva
que visa ao fim do regime capitalista. Sendo assim, a consciência de classe é que gera a ação
coletiva.
Weber chama isso de ação social, uma característica que sempre esteve interiorizada
em cada indivíduo, onde os agentes de conduta eram os grandes influenciadores da sociedade.
―Ação Social significa uma ação que, quanto ao sentido visado pelo agente ou os agentes, se
refere ao comportamento de outros, orientando-se por este em seu curso.‖ (WEBER, 1991,
p.198).
Dessa forma, ação social é um sistema de possibilidade para que exista uma
transformação das sociedades. Só existe uma ação social quando o indivíduo estabelece uma
comunicação com os outros.
O sociólogo Piotr Sztompka, em seu livro A Sociologia da Mudança Social, definiu
que a transformação social envolve três ideias básicas: (1) a diferença; (2) ocorre em instantes
diversos; (3) entre estados de um mesmo sistema. Dessa forma, o autor busca esclarecer que
quando falamos de mudança, temos em mente o que se concretiza depois de passado algum
tempo; ou seja, estamos lidando com o cenário observado antes e depois das ações de
mudança. Para ele, a transformação social ocorre de fato quando se estabelece uma mudança
não apenas na sociedade, mas uma mudança da sociedade: ―A estrutura social é uma espécie
18
de esqueleto sobre o qual a sociedade e suas e suas operações estão fundamentadas. Quando o
esqueleto muda, todo o resto tende a mudar.” (SZTOMPKA, 2005, p.30).
Se os intentos de transformação social não vêm acompanhados pela transformação
pessoal, o máximo que se pode alcançar é uma mudança estrutural limitada e essas mudanças
não podem produzir uma sociedade justa, unida e em paz se os protagonistas da mudança não
estão engajados em um processo de desenvolver e praticar mudanças em suas próprias vidas.
A verdadeira transformação social necessita de indivíduos que estejam ativamente
comprometidos com o processo da transformação pessoal e que estejam trabalhando para
alcançá-lo, porque uma sociedade justa precisa de indivíduos que lutam para colocar em
prática a justiça em suas vidas e ações pessoais.
Em termos práticos, isso significa que é mais fácil que a transformação ocorra quando
um grupo de pessoas, não importa quantas, trabalham juntas em prol das metas da
transformação pessoal e social.
Para que se possa trabalhar pela transformação social, é necessário ainda ter uma visão
da sociedade desejada e um compromisso consciente com os princípios sobre os quais ela
estará baseada. Com base nessa visão, podem ser tomados passos concretos para a criação
dessa sociedade melhor. Sem essa visão, o complexo processo da transformação social
geralmente se resume a protestos ou lutas contra os males da sociedade atual. Esses protestos
e lutas têm certo efeito, mas acabam sendo ações pontuais, que não necessariamente mantêm
os ativistas engajados ou deixam resultados duradouros.
Dessa forma, podemos entender que os movimentos de massa e os conflitos que os
motivam são os agentes primários para a transformação social. Sztompka definiu os
movimentos sociais como:
Uma coletividade de indivíduos atuando juntos; o objetivo comum da ação é uma
certa mudança na sociedade, definida pelos participantes de maneira similar; a
coletividade é relativamente difusa, com um baixo nível de organização formal; as
ações têm um grau relativamente alto de espontaneidade, assumindo formas nãoinstitucionalizadas e não-convencionais. Em resumo, por movimentos sociais
referimo-nos a coletivos francamente organizados que atuam juntos de maneira nãoinstitucionalizada para produzir alguma mudança na sociedade. (SZTOMPKA,
2005, p. 465)
Os movimentos sociais são, com toda certeza, um fenômeno histórico universal. Em
todas as sociedades, as pessoas tiveram suas próprias motivações para se unir e lutar por seus
objetivos coletivos. Porém, isso só foi possível com o amadurecimento das sociedades
modernas, com essa noção de pertencimento individual e coletivo.
19
Nos séculos XIX e XX, os movimentos sociais se tornaram numerosos, massivos,
notáveis e plenos de consequências para o curso das mudanças nas sociedades. Esse foi um
fenômeno fundamental para o cenário que vivemos hoje, as sociedades altamente
modernizadas têm tendência a se tornarem sociedades em movimento.
A mera concentração física, decorrente da urbanização e da industrialização, de
enormes massas humanas em um espaço limitado, produzindo uma grande "densidade moral"
da população, ou seja, comportamentos tidos como padrão e compartilhados entre os sujeitos.
Isso propiciou melhores oportunidades de contato e interação, de elaboração de pontos de
vista comuns, assim como a articulação de ideologias compartilhadas e o recrutamento de
apoiadores. Em resumo, as chances de mobilização de movimentos sociais são
significativamente aumentadas quando os indivíduos estão articulados para um bem comum.
1.1 O Ser Social
Em sua obra Sociedade em Rede, Manuel Castells (2008) diz que a sociedade
contemporânea estaria sendo moldada por tendências conflitantes do processo de globalização
e das identidades locais. Então, nestes tempos de sociedade em rede, seria fundamental a
análise da construção social das identidades, entendidas pelo autor como ―(...) o processo pelo
qual um ator social se reconhece e constrói significado principalmente em determinado
atributo cultural ou conjunto de atributos, a ponto de excluir uma referência mais ampla a
outras estruturas sociais‖. (CASTELLS, 2008, p. 39).
Assim, as identidades são criadas com base em significações resgatadas ou produzidas
e embasadas em questões culturais, visando o sentimento de pertencimento. Tendo como
ponto de partida a necessidade do ser humano de conviver coletivamente ou mesmo pertencer
a um grupo social, o sentimento de pertencimento torna-se de fundamental importância. Se o
sujeito perceber que está inserido no sistema, ele irá se sentir mais capacitado e produtivo,
mais bem sucedido, no entanto, somente quando esse sentimento de pertencimento é
efetivado.
O sentimento de pertencimento é a maior razão pela qual se formam grupos,
comunidades, sociedades. Todas as pessoas, por meio da identificação, sentem a necessidade
de fazer parte, de pertencer. O que observamos em nossa sociedade é um enorme abismo entre
ricos e pobres. Isso determina a formação do ser social, uma vez que exclui muitos do acesso
20
à educação, à cultura, à informação, a uma vida saudável, etc. Historicamente, os menos
favorecidos são considerados subcidadãos, à margem dessa sociedade.
Parece haver uma lógica de excluir os agentes da exclusão, de redefinição dos
critérios de valor e significado em um mundo em que há pouco espaço para os nãoiniciados em computadores, para os grupos que consomem menos e para os
territórios não atualizados com a comunicação. (CASTELLS, 2008, p. 60)
Em uma sociedade de excluídos, aqueles que estão à margem normalmente não
conseguem ter uma percepção social, se enxergarem como parte dessa sociedade. Eles
precisam lutar diariamente para não se sentirem tão à margem e isso muitas vezes faz com
que eles pensem de forma individualista, focados apenas em resolver suas questões mais
básicas, como fome, moradia, educação para seus filhos, entre tantas outras.
A progressiva ênfase nos problemas específicos de certos grupos pode levar a uma
fragmentação da luta contra a desigualdade social, que é colonizada crescentemente
por grupos de pressão particularistas, que podem distorcer as políticas públicas e,
com isso, limitar a definição de estratégias compreensivas para o conjunto da
sociedade. (SORJ, 2003, p.34)
Esses fatores são ainda mais evidentes na chamada ―Sociedade da Informação‖, que é
a denominação mais usual para indicar o conjunto de impactos e consequências das novas
tecnologias e da comunicação na sociedade, uma vez que quem não tem acesso a essas
tecnologias e a informação está ainda mais à margem, além das questões econômicas.
A expressão ―Sociedade da Informação‖ passou a ser utilizada, nos últimos anos desse
século, como substituto para o conceito complexo de ―sociedade pós-industrial‖ e como forma
de transmitir o conteúdo específico do ―novo paradigma técnico-econômico‖. A realidade que
os conceitos das ciências sociais procuram expressar refere-se às transformações técnicas,
organizacionais e administrativas que têm como ―fator-chave‖ não mais os insumos baratos
de energia, como na sociedade industrial, mas os insumos baratos de informação propiciados
pelos avanços tecnológicos na microeletrônica e telecomunicações.
Em sua obra A Sociedade em Rede, Manuel Castells prefere usar o termo ―sociedade
informacional‖ no lugar de ―Sociedade da Informação‖. Ele destaca que, embora o
conhecimento e a informação sejam elementos decisivos em todos os modos de
desenvolvimento:
(...) o termo informacional indica o atributo de uma forma específica de organização
social na qual a geração, o processamento e a transmissão de informação se
convertem nas fontes fundamentais da produtividade e do poder por conta das novas
condições tecnológicas surgidas neste período histórico. (CASTELLS, 2008, p.
567).
Na prática, o conceito de Sociedade da Informação se refere ao conhecimento obtido
com essa informação, a partir do qual se desenvolve a capacidade de inovação tecnológica,
21
principal motor para o desenvolvimento econômico e, consequentemente, social do indivíduo.
Dessa forma, a Sociedade da Informação coloca a ênfase no conteúdo do trabalho (o processo
de captar, processar e comunicar as informações necessárias).
A Sociedade da Informação está firmada em um tripé composto pelo comportamento
social, inovação industrial e crescimento econômico, fatores que devem caminhar juntos para
que efetivamente haja uma mudança social. Além desses, o acesso à informação acaba sendo
fator determinante de inclusão ou exclusão nesse processo.
As novas tecnologias, em especial a web, impuseram esse novo desenvolvimento da
sociedade mundial, em que os grupos sociais não são mais marcados por fronteiras
geográficas, mas, agrupados por fatores como o conhecimento e o domínio sobre as
ferramentas.
Em Modernidade Líquida, Bauman se apoia em Castells para justificar essa mudança
de preceitos sociais. A sociedade informatizada é marcada por uma crescente polarização e
uma ruptura de comunicação entre duas camadas distintas da sociedade: os que detêm e os
que não detêm esse domínio sobre as novas ferramentas de comunicação.
A imagem que emerge dessa descrição é de dois mundos segregados e distintos. Só
o segundo deles é territorialmente circunscrito e pode ser capturado nas malhas das
noções geográficas ortodoxas, mundanas e terra a terra. Os que vivem no primeiro
desses dois mundos podem estar, como os outros, "no lugar", mas não são "do lugar"
— decerto não espiritualmente, mas com muita freqüência tampouco fisicamente,
quando é seu desejo. (BAUMAN, 2008, p. 119)
Desse modo, segundo Bauman, se antes o sujeito oriundo das classes mais abastadas
era diretamente ligado a sua terra, pois dela provinha seu capital e formação, hoje, com as
novas tecnologias, esse ser socialmente favorecido é cada vez mais influenciado por fatores
externos, os quais acessa via Internet. Com a web abriu-se um mundo de possibilidades e
essas novidades acabam se tornando o principal interesse desse sujeito: conectar-se com o
mundo, fazer parte dele.
Por outro lado, ao cidadão de classe social baixa, à margem desse processo, restou o
reconhecimento cada vez maior do seu lugar de origem. As questões locais se tornam cada
vez mais valorizadas e a ele resta se fazer perceber dentro do seu universo, restrito a sua
condição social.
Muito se fala do mundo globalizado após a Internet, mas o fato é que ela gerou
sujeitos ainda mais individualistas e competitivos. Agora o mundo está conectado e é preciso
fazer parte dele, se destacar. Os sujeitos sociais estão cada vez mais focados em seus próprios
interesses e ignorando o outro. Perdeu-se muito da humanidade.
22
Bauman (2001) assume uma postura rígida ao caracterizar a individualidade
contemporânea, do estágio leve e fluido da modernidade, como uma fatalidade, não uma
escolha, da mesma forma que no estágio sólido e pesado. Isso se deve, segundo o autor,
justamente ao cenário da liberdade individual de escolher, onde não existe a opção de escapar
à individualização.
A nossa cultura cotidiana, da mídia, do consumo e da publicidade, é amplamente
dominada pelo bem-estar individual, pelo lazer, o interesse pelo corpo, os valores
individualistas do sucesso pessoal e do dinheiro.
Em um mundo abarrotado de mercadorias, o exagero de ofertas tentadoras tende a
esgotar rapidamente o potencial gerador de prazeres de qualquer mercadoria. Aqueles que têm
recursos estão protegidos contra a efemeridade dos desejos e de suas satisfações, uma vez que
sempre podem consumir novamente. No entanto, Bauman aponta para uma particularidade da
classe que sustenta tal vantagem: ter recursos implica a liberdade de escolher, mas também a
liberdade em relação às consequências da escolha errada, e, dessa forma, a liberdade dos
atributos menos atraentes da vida de escolhas.
Dessa forma, o ser social hoje ou vive esse conflito de escolhas, diante das mais
variadas crises de valores, ou vive à margem disso, tendo que lidar com o sentimento de nãopertencimento ao mesmo tempo em que deve se preocupar em suprir suas necessidades mais
básicas, como alimentação e moradia.
Nessa lógica, o filósofo inglês e idealizador do conceito de liberalismo, John Locke,
defende que a delimitação da sociabilidade envolveria dois planos: no primeiro pelo
individualismo e no segundo plano, pelo contrato social, cujo foco seria a preservação da
propriedade. Assim, o individualismo marcaria o modo de vida dos homens e mulheres, sendo
a base do equilíbrio social e do funcionamento de toda a sociedade.
Dessa forma, podermos dizer que a sociabilidade neoliberal abrange três aspectos
essenciais que são diariamente repercutidos: o individualismo como valor moral, o
empreendedorismo e a competitividade. Essas características individuais do cidadão-modelo
ficaram ainda mais evidentes com o advento da Internet.
O que caracterizou o século XX não foi a ciência, mas o domínio da ciência pelo
homem. As máquinas não agem por si mesmas, sempre necessitam da programação ou do
controle humano. A revolução industrial criou uma forma de operário que, ao trabalhar na
máquina da fábrica, opera sobre uma racionalidade que não é a dele.
23
A revolução tecnológica, por outro lado, com o advento da web, fez surgir um novo
contexto em que não é preciso apenas operar a máquina, mas programá-la, com base em
conhecimentos específicos.
A Internet surgiu em um momento em que o capitalismo passava por uma profunda
transformação social, caracterizada pela reordenação dos espaços sociais, com grande
mobilidade, na qual ela funciona como catalisador, acelerando e potencializando essa
reordenação. Mas é importante lembrar que a Internet em si não foi o motor propulsor dessas
mudanças, mas a ferramenta para que elas se difundissem.
De modo geral, essas questões formaram um cenário onde o cidadão, de fato, é aquele
que, além de consumir, está presente na Internet, faz uso dessas novas ferramentas, e com elas
consegue absorver conhecimentos, que são aplicados no seu desenvolvimento pessoal e da
sociedade como um todo. Os que não fazem parte desse processo têm que, diariamente,
encontrar formas de se incluir, fazer parte.
24
2. As Redes Sociais Digitais
Rede social é uma das formas de representação dos relacionamentos afetivos ou
profissionais dos seres entre si, em forma de rede ou comunidade. Elas podem ser
responsáveis pelo compartilhamento de ideias, informações e interesses. Na internet, as redes
sociais digitais são as relações interpessoais mediadas pelo computador, e acontecem por
meio da interação social em busca da comunicação.
As redes sociais digitais representam hoje um fator determinante para a compreensão
da ampliação de capital social em nossa sociedade. Raquel Recuero define esse capital social
como ―um valor constituído a partir das interações entre os atores sociais‖ (RECUERO, 2010,
P. 45), relacionado a fatores como pertencimento, reconhecimento mútuo, reciprocidade e
confiança.
A percepção que temos dessas ferramentas comprova que a sinergia entre as pessoas
via web, dependendo do projeto em que estejam envolvidas, pode ser multiplicada com
enorme sucesso. As diversas formas de comunidades virtuais, a estratégia P2P, as
comunidades móveis, a explosão dos blogs e wikis, são prova de que o ciberespaço constitui
fator crucial no incremento do capital social e cultural disponíveis.
Essa compreensão vem se consolidando gradativamente desde o início da década de
1990. O pesquisador Howrad Rheingold, em seu livro Comunidade Virtual, percebia já
naquele momento que as comunidades virtuais não eram apenas lugares onde as pessoas se
encontravam, mas também um meio para se atingir diversos fins. Ele antecipou que ―as
mentes coletivas populares e seu impacto no mundo material podem tornar-se uma das
questões tecnológicas mais surpreendentes da próxima década‖ (RHEINGOLD, 1996, p.142).
Rheingold não só constatou a emergência das comunidades virtuais, como também
viu nelas uma relação mais profunda, motivado em especial pela questão do excesso de
informação que já caracterizava a recém-criada web.
Um dos problemas da rede era o da ―oferta demasiada de informação e poucos filtros
efetivos passíveis de reterem os dados essenciais, úteis e do interesse de cada um‖
(RHEINGOLD, 1996, p.77). Mas enquanto os programadores se esforçavam para desenvolver
agentes inteligentes que realizassem a busca e filtragem de toneladas de informações que se
acumulavam na rede, Rheingold já detectava a existência de ―contratos sociais entre grupos
humanos – imensamente mais sofisticados, embora informais – que nos permitem agir como
agentes inteligentes uns para os outros‖ (RHEINGOLD, 1996, p.82).
25
Começava a se consolidar uma ideia de mente coletiva, ou de inteligência coletiva,
como cunhou Pierre Levy, que poderia não apenas resolver problemas em conjunto, em
grupo, coletivamente, mas igualmente trabalhar em função de um indivíduo, do seu benefício.
Rheingold lembra que as comunidades virtuais abrigam um grande número de profissionais,
que lidam diretamente com o conhecimento, o que faz delas um instrumento prático potencial.
Após o surgimento da internet, logo em seguida na década de 90 a web seria
idealizada por Tim Berners-Lee, que tinha como propósito inicial o compartilhamento de
arquivos com seus amigos. Com o advento da web, os e-mails apareciam como a primeira
forma de relacionamento na Internet. A troca de mensagens por e-mail era a única forma de
comunicação e troca de arquivos disponíveis para os usuários. Também conhecida como
correio eletrônico (tradução da palavra e-mail para português), essa forma de interação entre
os usuários é mantida até os dias de hoje.
Com o passar dos anos e o aumento considerável no número de internautas, foi
sentida a necessidade da criação de uma ferramenta de comunicação mais abrangente e que
permitisse uma ampliação nas redes de contatos. Haja vista que as mensagens eram limitadas
somente a usuários dos quais se tinha o endereço eletrônico, por esse motivo as mensagens
recebidas não poderiam ser repassadas com facilidade.
Um dos primeiros provedores de internet, a América Online foi uma das pioneiras na
categoria bate-papo, com o AOL Messenger2as primeiras mensagens instantâneas começavam
a ser enviadas pela Internet no ano de 1997. Mesmo com o acesso limitado aos assinantes do
provedor, o AOL Messenger teve um papel importante na popularização das mensagens
instantâneas.
As primeiras redes sociais digitais, de fato, surgiram também em meados de 1997
com o lançamento do Sixdegrees. Ele foi o primeiro site que possibilitava criar um perfil
virtual e publicação de contatos. Apesar dos inúmeros usuários que conseguiu na época, dadas
as proporções do número de usuários em comparação aos dias de hoje, uma vez que em 1997
a Internet não era tão difundida, o Sixdegrees não conseguiu sustentação financeira, o que
resultou na interrupção do serviço três anos mais tarde.
A partir de 2000 surgiram vários outros serviços de rede social digital, como
LiveJournal, Asianevenue, Fotolog eFriendster. O Friendster, em especial, fez muito sucesso
entre os norte-americanos em meados de 2002, aumentando vertiginosamente o número de
2
AIM em Wikipédia. Disponível em pt.wikipedia.org/wiki/AIM. Acessado em 19/09/2012.
26
usuários. O site, porém, não suportou essa demanda e se viu obrigado a limitar suas
funcionalidades, frustrando os usuários.
No ano seguinte, em 2003, surgiu o MySpace, uma rede social digital baseada em
bandas e seus fãs que, em pouco tempo, viria a ser a herdeira dos milhões de usuários do
Friendster. Essa rede acabou se firmando também por conta das inovações que apresentava
nas funcionalidades, como a personalização da página pessoal.
A partir de então, novas redes sociais digitais foram lançadas, como o Ning e Orkut,
que foi a primeira rede social digital que, de fato, se popularizou pelo mundo todo,
especialmente no Brasil e na Índia. A grande quantidade de estrangeiros no Orkut, aliás, foi o
que fez com que a rede perdesse com o tempo o interesse dos usuários norte-americanos,
abrindo espaço para outro sucesso, o Facebook.
O Facebook foi lançado em 2004 pelo norte-americano Mark Zuckerberg e por seus
colegas de quarto na faculdade: Eduardo Saverin, Dustin Moskovitz e Chris Hughes.
Inicialmente era exclusivamente para uso dos universitários de Harvard. Somente em 2006,
percebendo seu potencial como negócio, Zuckerberg, já sócio majoritário da empresa que
idealizou com os amigos, abriu o Facebook ao grande público.
Os números das redes sociais digitais revelam a dimensão alcançada por esses
serviços no contexto da Internet. Hoje, estima-se que o número de usuários de Internet em
todo o mundo seja da ordem de 2,2bilhões3; destes, mais de 1 bilhão estão nas redes sociais
digitais, sendo 90% desse número no Facebook4.
Em seu livro Redes Sociais na Internet, a pesquisadora Raquel Recuero define as
redes sociais como:
(...) um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos; os nós
da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais) (...) Uma rede social, assim, é
uma metáfora para observar os padrões de conexão de um grupo social, a partir das
conexões estabelecidas entre os diversos atores. (RECUERO, 2010, p. 24).
Essa definição de rede social da autora fica ainda mais evidente quando falamos de
redes sociais digitais. Elas são uma representação das nossas relações offline, onde a estrutura
social é definida na relação com o outro e, dessa forma, os sujeitos acabam por moldar essa
sociedade em rede, são os chamados atores sociais.
Os atores são o primeiro elemento da rede social, representados pelos nós (ou
nódulos). Trata-se das pessoas envolvidas na rede que se analisa. Como partes do
sistema, os atores atuam de forma a moldar as estruturas sociais, através da interação
e da constituição de laços sociais. (RECUERO, 2010, p. 25)
3
www.internetworldstats.com/stats.htm. Acessado em 18/09/2012.
techcrunch.com/2012/05/14/itu-there-are-now-over-1-billion-users-of-social-media-worldwide-most-onmobile/. Acessado em 18/09/2012.
4
27
Essa relação entre os atores sociais nas redes sociais, seja on ou offline, é baseada no
chamado capital social, o valor constituído a partir das interações entre os atores sociais, que
por sua vez advém do reconhecimento mútuo, da reciprocidade e da confiança.
Esses fatores é que determinam o sentimento de pertencimento do ator social dentro
da rede social. No caso das redes sociais digitais, se trata de uma construção coletiva do eu
por meio de perfis nas redes, feita tanto pela imagem que o ator social deseja transmitir
quanto do entendimento que os demais nós da rede têm desse sujeito.
A interação nas redes sociais digitais também pode ser compreendida como uma
forma de conectar os atores sociais e de demonstrar que tipo de relação eles possuem. Ela
pode ser diretamente relacionada a esses laços sociais. ―(...) os atores no ciberespaço podem
ser compreendidos como indivíduos que agem através de representações performáticas de si
mesmos, como seus fotologs, weblogs e páginas pessoais, bem como através de seus
nicknames.‖ (RECUERO, 2010, p. 28)
O fato é que as redes sociais digitais afetaram diretamente a forma com que os atores
sociais convivem em sociedade, nas relações interpessoais. Para muitos, é difícil imaginar a
vida hoje sem essas ferramentas e é quase impossível encontrar um usuário de Internet que
não esteja nelas.
Essa ascensão das redes sociais digitais fez surgir questões que afetam diretamente a
vida em sociedade, como a contradição de que o mundo nunca esteve tão conectado, mas
que,por outro lado, os atores sociais estão cada vez mais isolados, as relações sociais estão
perdendo a qualidade, cada vez mais efêmeras. Há ainda a questão da privacidade, uma vez
que cada vez mais pessoas estão expondo suas vidas nas redes sociais digitais, sem saber
exatamente o que está sendo feito com seus dados pessoais.
Apesar das críticas, não é possível determinar se o impacto geral das redes sociais
digitais em nossa sociedade é positivo ou negativo. Estamos imersos nesse processo,
irreversível, de evolução da web e não só podemos como devemos fazer dela o melhor uso
possível.
Alguns importantes acontecimentos mundiais tiveram uma intensa participação das
redes sociais e parte da solução dos problemas foi derivada das atuações nelas. Um exemplo
foi o caso da tragédia na região serrana do Rio de Janeiro5. Aos poucos, foram surgindo
comunidades e grupos no Orkut e no Facebook e perfis no Twitter. Os sujeitos que se
5
Vargem News. Disponível em jornaldasvargens.com.br/2011/01/22/a-internet-auxilia-na-tragedia-da-regiaoserrana/. Acessado em 18/09/2012.
28
engajaram nessas causas conseguiram junto aos órgãos públicos grandes conquistas para as
comunidades sofridas, agilizando os processos de doações de remédios a coletas de sangue,
divulgou a situação de varias áreas por meio de fotos e dicas de acesso, dados de meteorologia
e mapas.
Muito do sucesso dessas ações deve-se, sem dúvida, à participação de inúmeras
pessoas nas redes sociais, tudo sem estrelismos ou competições, apenas pelo puro sentimento
de ajuda ao próximo, um verdadeiro trabalho altruísta.
As redes sociais digitais mostraram a sua importância, deixando de lado tempo e
espaço, influenciando o destino de dezenas de pessoas, pela rápida disponibilização de
informações relevantes, de forma que muitos puderam usufruir deste ambiente e agir junto aos
necessitados.
29
3 Desigualdade na Web
Nas sociedades modernas, pessoas conectadas e desconectadas se referem à
desigualdade de acesso aos mais diversos meios de comunicação: livros, jornais, rádio,
telefone, televisão e, em especial, à Internet, uma vez que ela converge com todas as demais
mídias. A exclusão digital possui forte correlação com as outras formas de desigualdade
social, e, como consequência da exclusão social-econômica, as taxas mais altas de exclusão
digital encontram-se nos setores de menor renda.
Perpetuar essa exclusão é condição fundamental para que se sustente o nosso modelo
de sociedade, onde a informação, e consequentemente a renda, se concentram nas mãos de
poucos. Disseminar o acesso dos menos favorecidos à informação por meio da Internet é dar
oportunidade para que eles se desenvolvam, e isso é uma ameaça à hegemonia da classe
dominante.
Assim, a luta contra a exclusão digital não é tanto uma luta para diminuir a
desigualdade social, mas um esforço para não permitir que a desigualdade
cresça ainda mais com as vantagens que os grupos da população com mais
recursos e educação podem obter pelo acesso exclusivo a este instrumento.
(SORJ, 2003, p.62)
Sendo assim, a desigualdade social não se expressa somente no acesso aos bens
materiais, como rádio, telefone, televisão e computador, mas também na capacidade do
usuário de obter, a partir de sua formação intelectual e profissional, o máximo proveito do
conhecimento oferecido por cada um desses instrumentos de comunicação e informação.
Nesse sentido, a inclusão digital tem papel fundamental para que cada vez mais
pessoas possam fazer o melhor uso possível dessa informação. Hoje, a depender do contexto,
é comum ler expressões similares como democratização da informação, universalização da
tecnologia e outras variantes parecidas e politicamente corretas para definir esse acesso. Dessa
forma, convém fazer uma definição do que é inclusão digital.
Como dito no início desse trabalho, incluir digitalmente não é apenas ―alfabetizar‖ a
pessoa em informática, mas também melhorar os quadros sociais a partir do manuseio dos
computadores. Esse erro de interpretação é comum, porque muitos acreditam que incluir
digitalmente é entregar computadores para as pessoas e apenas ensiná–las a operar os
programas, manusear o mouse, etc. Essa interpretação errada ajuda a propagar tentativas
frustradas de inclusão digital, como é o caso de comunidades ou escolas que recebem
computadores novos, mas que nunca são utilizados porque não há telefone para conectar à
internet e professores qualificados para repassar o conhecimento necessário.
30
Acadêmicos e especialistas em tecnologia da informação (TI), como o autor José
Carlos Vaz6, têm abordado constantemente esse tema e deram início a uma série de debates
sobre um quadro preocupante e que pouco mudou: os países subdesenvolvidos e em
desenvolvimento, sobretudo os mais pobres, não estão acompanhando a evolução da
informação. Sem os meios necessários (computadores e laboratórios) e recursos apropriados
(Internet rápida, conhecimento tecnológico), esses países deixam para trás grandes
possibilidades de aquecer a economia e melhorar os baixos índices sociais.
Um estudo publicado em 2011 pela consultoria McKinsey7concluiu que a Internet
responde por 21 por cento do crescimento econômico nas economias maduras, e que quase
oito trilhões de dólares mudam de mãos a cada ano por meio do comércio eletrônico. Assim,
investir nesse segmento seria de vital importância para que os países em desenvolvimento
pudessem amadurecer suas economias.
Um caminho possível para que isso ocorra aponta ser o investimento em redes de
telefonia celular, pelo baixo custo em comparação a um computador, o que poderia gerar
maior disseminação do acesso a Internet entre populações mais carentes.
Com a crescente implantação de redes 3G e a popularização dos smartphones esperase que parte da população brasileira tenha acesso a Internet pela primeira vez a partir de um
celular. Segundo a Anatel, existem atualmente mais de 250 milhões de linhas de celular ativas
no Brasil. Essa inclusão digital, além de possuir grande impacto social, expande o mercado de
conteúdo e força as empresas envolvidas a reverem seus modelos de oferta e comercialização.
Porém, uma vez vencida a barreira do acesso, o que se observa nas relações entre os
sujeitos online é um reflexo da divisão de classes offline. E isso fica ainda mais evidente no
caso das redes sociais digitais. De um lado estão do early adopters, usuários que estão na
Internet desde o início e, consequentemente nas redes sociais. Esses usuários criaram seus
códigos de conduta em rede, posturas que consideram certas erradas. Do outro lado estão os
novos usuários de Internet, que, uma vez superada a barreira da exclusão digital, agora
chegaram às redes sociais digitais e estão fazendo delas seu próprio uso.
Os autores Steven Engler e Mark Q. Gardiner, em um de seus estudos, usam os termos
Insiders e Outsiders para designar essas duas categorias sociais distintas. Na definição dos
autores, Insiders seriam os membros de grupos específicos e coletividades, com um status
social específico. Outsiders, por sua vez, são os não membros. Mais do que estar fora do
6
Uso da internet pelos governos e promoção da cidadania. Disponível em josecarlosvaz.pbworks.com/f/art-vazunicsul.pdf. Acessado em 18/09/2012.
7
Blog Link do Estadão. Disponível em blogs.estadao.com.br/link/internet-pode-tirar-paises-da-pobreza/.
Acessado em 18/09/2012.
31
grupo dos Insiders, os Outsiders não possuem os mesmos privilégios desses integrantes,
ficando à margem do processo, como no caso dos early adopters com relação aos novos
usuários, que não conseguem compartilhar do mesmo conhecimento. "A distinção
insider/outsider é ao mesmo tempo óbvia e útil: é inegável que os membros de certos grupos
possuem acesso privilegiado ao conhecimento, recursos e autoridade." (ENGLER e
GARDINER, 2010)
Apesar dessa relação conflitante, os autores ressaltam a relação de interdependência
entre Insiders e Outsiders, uma vez que um grupo se sobressai em detrimento do outro. O que
faz dos Insiders superiores socialmente aos Outsiders é justamente o fato de estes estarem à
margem do processo social.
As categorias, estabelecidos e outsiders, se definem na relação que as nega e que as
constitui como identidades sociais. Os indivíduos que fazem parte dessas
comunidades estão ao mesmo tempo unidos, mas também separados por uma
relação de interdependência grupal. (ELIAS e SCOTSON, 2000, p.224)
Da mesma forma que ocorre nas lutas de classe em sociedade, nas redes sociais
digitais se observa a resistência de alguns early adopters em aceitar esses novos usuários por
infringirem seu código de conduta em rede com comportamentos que não consideram
adequados.
Mesmo se a afluência de recém-chegados por vezes a dilui, os participantes das
comunidades virtuais desenvolveram uma forte moral social, um conjunto de leis
consuetudinárias – não escritas – que regem suas relações. Essa ―netqueta‖ diz
respeito, antes de mais nada, à pertinência das informações. (LÉVY, 2000, p. 128).
O que Pierre Lévy chamava de ―netqueta‖, justificada como um organizador das
relações em redes sociais digitais é posta em prática por alguns usuários como uma forma de
discriminar os recém-chegados às redes sociais digitais.
Bourdieu (2011) trata da discriminação como uma forma de se diferenciar do ser tido
como inferior hierárquica ou economicamente, e ela é feita por meio de juízo de valor, no
caso, considerando o uso da ferramenta por parte desses novos usuários como errado.
Tudo se passa como se o público popular apreendesse confusamente o que está
implicado no fato de dar formas e de colocar formas, tanto na arte quanto na vida, ou
seja, uma espécie de censura do conteúdo expressivo, aquele que explode na
expressividade do falar popular e, ao mesmo tempo, um distanciamento, inerente à
frieza calculada de qualquer experimentação formal, um recusa de comunicação
escondida no âmago da própria comunicação em uma arte que dissimula e recusa o
que ela parece manifestar tão bem quanto na cortesia burguesa, cujo impecável
formalismo é uma permanente advertência contra a tentação da familiaridade.
(BOURDIEU, 2011, p. 37)
32
Um termo muito usado atualmente no Brasil que explica bem essa questão é a
chamada ―orkutização‖, uma referência clara ao Orkut, rede social digital que perdeu espaço
no país para o Facebook. Esse termo está carregado de significado, uma vez que expressa a
ideia discriminatória de que os early adopters teriam migrado do Orkut para o Facebook
justamente fugindo desses novos usuários que ―quebram‖ as regras de boas condutas em redes
sociais digitais, em sua maioria, grupo composto por pessoas de baixa renda que chegaram à
Internet. Agora, esses novos usuários estariam chegando ao Facebook, ―orkutizando-o‖. O
termo é empregado mesmo fora do contexto das redes sociais digitais, para designar, de forma
pejorativa, algo considerado típico de pessoas de baixa renda.
33
Figura 1–Orkutização (A)
Fonte: Twitter
Figura 2–Orkutização (B)
Fonte: Facebok
34
Podemos aqui fazer uma comparação desse comportamento discriminatório dos early
adopters com os novos usuários com a sociedade moderna. Os que detêm o poder não querem
dividi-lo com os demais, pois isso poria em risco sua hegemonia na sociedade. Hoje, mais do
que possuir bens materiais, o poder está na informação e, para as classes dominantes, não é
interessante que esses novos usuários detenham o poder da informação.
(...) é muito mais difícil executar manipulações em um espaço onde todos
podem emitir mensagens e onde informações contraditórias podem
confrontar-se do que em um sistema onde os centros emissores são
controlados por uma minoria. (LÉVY, 2000, p. 225)
35
4. Redes Sociais Digitais Construindo Uma Sociedade Mais Igualitária
As redes sociais digitais não mudam em nada o fato de que há relações de poder e
desigualdade econômica entre os atores sociais, mas podem minimizar esse abismo social.
A principal característica da ação das redes sociais digitais na sociedade foi a queda
das hierarquias no que diz respeito ao poder da informação. Se antes a capacidade de emitir, e
dessa forma manipular, a informação era privilégio dos grandes meios de comunicação, com o
advento das redes sociais digitais, esse poder de gerar e compartilhar informação de tornou
acessível a todos que detêm essas ferramentas. É claro que essa disseminação da capacidade
de informar não tirou totalmente o poder dos grandes meios, mas deu a mais pessoas a
oportunidade de fazer tal uso deles que isso pode se refletir em ações reais.
Com relação especificamente às pessoas de baixa renda, o uso das ferramentas de
redes sociais digitais tem ainda outro aspecto importante, que é o do pertencimento. Se esse
grupo é excluído no mundo offline, por questões sociais e econômicas, nas redes sociais
digitais o sujeito pertencente a esse grupo pode ser igual aos demais, com a mesma
capacidade de acesso à informação. A formação desse ser virtual, por meio de perfis nas redes
sociais digitais, dá a ele o sentimento de pertencimento. Diferentemente do que ocorre no seu
cotidiano, na web ele pode ter voz de maneira bem mais rápida e acessível.
É importante salientar que, para que essa parcela da população consiga se fazer ouvir
pelo resto da sociedade, é importante primeiro que haja de fato uma boa comunicação e
articulação entre esse grupo. A ideia de exercício de cidadania, conceito amplamente estudado
na área de Comunicação Comunitária, reforça a importância de fortalecer a voz entre os iguais
para que a sociedade possa reconhecer essa voz.
Em seu estudo sobre comunicação e educação comunitária, a professor Cecilia
Krohling Peruzzo ressalta a importância dessa articulação entre as comunidades para uma
mobilização social eficaz.
Está aí o âmago da questão da educação para cidadania nos movimentos sociais: na
inserção das pessoas num processo de comunicação, onde ela pode tornar-se sujeito
do seu processo de conhecimento, onde ela pode educar-se através de seu
engajamento em atividades concretas no seio de novas relações de sociabilidade que
tal ambiente permite que sejam construídas. (PERUZZO, 2002, p.7)
Nesse sentido, os movimentos sociais têm papel fundamental no trabalho de
mobilização das comunidades. O principal conceito que deve ser trabalho com a população de
baixa renda é o da cidadania, para que cada um possa de fato se reconhecer como parte da
36
sociedade, como parte da sua comunidade, que por sua faz, está inserida na cidade, no país e
no mundo.
Estes movimentos, pequenos, em sua maioria inarticulados, à medida que se
articulem e articulem a escola, e os meios de comunicação municipais, comunitários,
irão criando redes de formação de cidadãos que vão ser muito eficazes, para fazer
com que essas vozes dispersas comecem a tomar corpo no espaço regional e,
inclusive, no espaço nacional.(MARTÍN-BARBERO, 1999, p.78-79 apud
PERUZZO, 2002, p. 7).
Assim, o trabalho dos movimentos sociais estimula a comunicação nas comunidades,
não apenas para que seus moradores possam absorver a informação que vem de fora, mas para
que possam desenvolver seus próprios meios de comunicação, totalmente voltados e
adaptados para os interesses da comunidade.
A participação do sujeito na comunicação é uma forma de estimular a cidadania, uma
vez que possibilita que ele atue em atividades em sua própria comunidade, com suas próprias
ferramentas de comunicação ali. Essa vivência proporciona um tipo de educação além da
educação formal, é a formação cultural, que abre a percepção do sujeito com relação ao
mundo que cerca.
Dessa forma, as redes sociais digitais são ferramentas fundamentais para a
disseminação da comunicação comunitária. Elas permitem a rápida mobilização e o
compartilhamento dos conteúdos gerados através de barreiras intransponíveis de outra forma.
Mais do que esperar seu desenvolvimento por ações governamentais e outros fatores externos,
por meio das redes sociais digitais os cidadãos podem exercer mais facilmente sua cidadania.
Essas ferramentas proporcionam a horizontalização das hierarquias de poder e acesso à
informação do mundo offline, refletindo até mesmo em ações que ultrapassam os meios
online.
Para exemplificar como as redes sociais podem atuar na transformação social, foram
selecionados dois casos que serão explorados a seguir: a Rede Mocambos e o portal
DoLadoDeCá, por representarem redes sociais próprias, criadas com o intuito de promover a
transformação social dos atores envolvidos por meio da promoção da cidadania e do
pertencimento, e além disso, por adotarem o uso de redes sociais externas em paralelo a esse
trabalho de maneiras distintas.
37
4.1 Rede Mocambos
A Rede Mocambos é uma rede social digital nacional que conecta comunidades
quilombolas rurais e urbanas. Esse trabalho é feito buscando parcerias de ações voltadas para
o desenvolvimento humano, social, econômico, cultural, ambiental e preservação do
patrimônio histórico dessas comunidades.
Dessa forma, a Rede Mocambos age como uma rede solidária de comunidades, com o
objetivo de mobilizá-las para o compartilhamento de ideias, ações e apoio recíproco. Os eixos
principais são a identidade cultural, o desenvolvimento local, apropriação tecnológica e a
inclusão social.
As comunidades dos quilombos urbanos buscam o reconhecimento de sua identidade e
a segurança jurídica de seu direito à propriedade, para romper o ciclo da segregação espacial,
prática que nega aos setores socialmente diferenciados como negros, índios e pobres, o direito
de viver em determinados espaços urbanos, principalmente aqueles bem localizados e dotados
de infraestrutura.
Assim, é necessário entender a força da cultura dessas comunidades, valorizar os
conhecimentos construídos em sua vivência e estimular que seus participantes enxerguem sua
cultura e direitos. Romper com a lógica da submissão aos grandes emissores de conteúdos é
estratégico para que essas comunidades assumam seu papel histórico de enfrentamento da
informação globalizada e do sistema opressor e concentrador de riqueza que restringe seu
desenvolvimento.
A Internet tem papel fundamental no trabalho realizado pela Rede Mocambos, uma
vez que a articulação se dá por meio de seu site, uma rede social digital própria, totalmente
voltada para essa ação. Além disso, o trabalho é feito com o uso e o desenvolvimento de
softwares livres, que permitem a criação e o compartilhamento conjunto, possibilitando trocas
internas e externas à Rede Mocambos, chegando a uma inclusão social autodeterminada.
Os levantamentos apontam que hoje 3146 famílias são diretamente atingidas pelas
ações realizadas pela Rede Mocambos, voltadas para a promoção da cidadania, do
autorreconhecimento desses sujeitos como cidadãos, para que esses sujeitos possam
transformar suas próprias realidades.
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Entre os inúmeros projetos da Rede Mocambos, destaca-se o Telecentros.BR, que com
o apoio do governo federal, articula a instalação de telecentros em comunidades carentes de
todo o país, afim de promover a inclusão digital. O programa oferece ainda treinamento para
capacitação de monitores oriundos das próprias comunidades, que compartilham os
conhecimentos adquiridos com os demais moradores. No portal da Rede Mocambos é
possível que comunidades interessadas encontrem toda a informação necessária para a
instalação de novas telecentros, além da possibilidade de conhecer e entrar em contato com os
já existentes, formando uma grande rede de trocas de experiência online.
A Rede Mocambos conta ainda com um espaço wiki, onde informações referentes aos
projetos e temas como mobilização social são reunidas e ficam disponível para consulta e
edição, formando um grande espaço de colaboração coletiva online, pressuposto básico das
redes sociais digitais.
Apesar dos esforços dos atores envolvidos nos projetos da Rede Mocambos e da
configuração dela como uma rede social digital própria, é visível que falta articulação além do
seu campo de ação. Como bem frisou a professor Cecilia Krohling Peruzzo em seu estudo, de
nada adianta uma ação comunitária que não se faz ouvir além da comunidade. No caso da
Rede Mocambos, parece haver poucas ações no sentido de prover seus projetos e dar
visibilidade maior a eles.
Nesse sentido, as redes sociais digitais seriam um caminho lógico para essa promoção,
por ser mais acessível e por já ser um conhecimento dos membros envolvidos na rede
Mocambos. Porém, analisando seu Facebook, verifica-se que existem apenas 45 fãs e no
Twitter apenas 50 seguidores, muitos desses, pessoas que trabalham ou são atingidas pelos
projetos. Além disso, essas redes sociais digitais estão sem atualização.
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Figura 3 – Fanpage da Rede Mocambos no Facebook
Fonte: Facebook
Figura 4 – Perfil no Twitter da Rede Mocambos
Fonte: Twitter
Assim, seria interessante que a Rede Mocambos investisse mais nas redes sociais
digitais mais atrativas entre o público externo (Facebook e Twitter), a fim de propagar seu
trabalho para além dos atores diretamente envolvidos. Isso poderia agregar mais pessoas
interessadas, fazendo com que as ações crescessem ainda mais.
Ainda que não faça o pleno uso de todas as ferramentas de redes sociais digitais
disponíveis, a Rede Mocambos atua de forma enfática na transformação social das
comunidades atingidas por seus projetos, promovendo o senso de cidadania e igualdade social
à medida que os atores envolvidos são incluídos digitalmente, têm acesso a educação, saúde e
tantos outros fatores fundamentais que permitem que eles possam transformas suas realidades.
Nesse caso, as redes sociais digitais se mostram como ferramentas importantes para
integração dos agentes envolvidos e divulgação do trabalho e, por isso, poderiam ser melhor
utilizadas.
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4.2 DoLadodeCá
O site DoLadodeCá é uma rede social digital que atua como uma plataforma de
comunicação popular onde são divulgadas informações sobre diversos assuntos como
música, futebol de várzea, comportamento e literatura. O portal tem parceria com o site
Catraca Livre, do jornalista Gilberto Dimenstein, e conta com o rapper Mano Brown, do
Racionais MC’s, no conselho editorial.O objetivo é levar entretenimento para a massa, da
periferia para a periferia, além de divulgar esses talentos, antes restritos a esses locais, para o
restante da sociedade.
O site exibe diversas matérias que mostram os talentos e articulações comunitárias
que movimentam a cultura nos bairros populares, além de apresentar personagens reais do
cotidiano que quebraram barreiras sociais e culturais, cruzaram os abismos sociais existentes
em nossa sociedade, sendo exemplos para que outros atores sociais também utilizem da
cultura como forma de transformar suas realidades.
Segundo o próprio site do projeto, sua missão é promover o Progresso
Compartilhado, ou seja, viabilizar o diálogo entre empresas, poder público e articulações
comunitárias com a finalidade de gerar renda e oportunidades. Realizando diversas ações
como eventos, promoções, projetos de comunicação e aproximação de marca, redes de
empreendedorismo, consultoria, tudo com o objetivo de gerar negócios para as empresas e as
comunidades.
O Progresso Compartilhado nada mais é do que um novo modelo de negócio e de
comportamento coletivo, onde uma relação onde os dois lados ganham se mostra possível,
gerando renda e benefícios para as pessoas.
Essa é uma tendência que temos visto muito na web, com iniciativas como
crowdsourcing, crowdfunding e crowdlearning, exemplos reais de como o Progresso
Compartilhado atua pensando em caminhos colaborativos e soluções compartilhadas nas
esferas comerciais e humanas. O Progresso Compartilhado significa viabilizar o diálogo entre
empresas, poder público e articulações comunitárias com a finalidade de gerar renda e
oportunidades de negócios numa lógica de capitalismo social, onde todos os envolvidos na
negociação saem ganhando.
Desse modo, o site DoLadodeCá age como um catalisador desse movimento social
das periferias. E as outras redes sociais digitais, como Twitter e Facebook, têm papel
41
fundamental nesse trabalho, servindo como apoio ao site nessa divulgação e engajando cada
vez mais pessoas nessa rede.
Diferente do que vimos no caso da Rede Mocambos, que possui grande articulação
interna, mas que não consegue fazer a ponte com os atores externos à sua rede, o
DoLadodeCá é muito atuante nas redes externa, angariando mais participantes para o seu
processo. Seu Facebook possui mais de 2600 fãs e o Twitter, mais de 1500 seguidores. Uma
análise sobre esse público permite afirmar que ele é formado tanto por pessoas já participantes
da rede DoLadodeCá quanto de pessoas simpáticas às ações, que fazem divulgação
espontânea.
Figura 5 – Fanpagede DoLadoDeCá no Facebook
Fonte: https://www.facebook.com/doladodeca1
Figura 6 – Perfil de DoLadoDeCá no Twitter
Fonte: https://twitter.com/DoLadoDeCa_
Com base nessa análise, fica evidente o papel fundamental que as redes sociais
digitais têm no trabalho de transformação social feito pelo DoLadoDeCá. O trabalho
desenvolvido enfatiza o pertencimento desses cidadãos, antes excluídos, por meio da
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divulgação da sua cultura e do contato com outros agentes e outras culturas. As redes sociais
digitais, nesse caso, têm o poder de enganar os atores sociais e divulgar o trabalho realizado,
permitindo que mais pessoas façam parte dessa rede de promoção social.
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Considerações Finais
Com base nos dados analisados neste trabalho, é possível constatar que as redes
sociais digitais podem ser, de fato, ferramentas fundamentais para promover a transformação
social das pessoas de baixa renda por meio da queda das hierarquias sociais no ambiente
online.
Esse resultado confirma os pressupostos propostos no início desse trabalho, de que as
redes sociais digitais podem atuar como agente de transformação social, quebrando a barreira
histórica entre ricos e pobres; e que dessa forma, podem ajudar a construir uma sociedade
mais igualitária e favorecer o sentimento de pertencimento desses sujeitos antes excluídos,
com a formação do ser na web.
A constatação revela a necessidade de se promover a inclusão digital em cada vez
mais comunidades para que seus moradores possam fazer pleno uso das ferramentas de redes
sociais digitais. Ressalta ainda, a importância do estar presente nas redes sociais digitais para
o exercício do sentimento de pertencimento no mundo globalizado.
Dessa forma, não basta apenas apresentar as pessoas às ferramentas, ou mesmo,
apenas criar perfis; é vital que haja um trabalho de educação comunitária para que o processo
de transformação social de fato ocorra.
Os casos apresentados, Rede Mocambos e DoLadoDeCá, são bons exemplos, entre
tantos existentes em nosso país e no mundo, de ações sociais por meio das redes sociais
digitais e mostram a importância da articulação entre redes. Enquanto a Rede Mocambos se
limitou a desenvolver e alimentar sua própria rede social digital, focando o trabalho apenas ao
âmbito interno, o DoLadoDeCá não apenas se apresenta como uma rede social digital de
sucesso entre seus participantes, como se integrou às redes externas, ampliando seu espectro
de atuação.
Diante desse cenário, podemos afirmar que a Rede Mocambos foi um caso
interessante a ser estudado, no sentido de exemplificar seu potencial de trabalho, que poderia
ser muito mais amplo com a articulação com redes sociais digitais externas, mais
popularizadas entre o público geral.
O DoLadoDeCá, por sua vez, enfatiza ainda que é preciso ocupar espaços que dêem
visibilidade à produção cultural da periferia, não apenas expor as inúmeras mazelas que
existem nas favelas. Enfatizar a resistência cultural que se encontra nesses espaços é parte do
processo de cidadania. Se as autoridades não apoiam tais projetos é preciso que as próprias
comunidades mostrem que eles continuam apesar da indiferença que os condena ao abandono
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oficial. A ação popular organizada é capaz de mudar a realidade triste em que se encontram as
populações de baixa renda.
Assim, a presente pesquisa contribui para evidenciar a importância não apenas da
articulação social por meio de redes sociais digitais próprias, mas da integração dessas redes
com outras, de maior alcance, para promoção do trabalho realizado por elas, no caminho da
transformação social, e da relação de seus integrantes com sujeitos fora da rede, de modo a
criar experiências sociais mais ricas por meio da troca.
Isso implica em investimentos não apenas em telecentros, para a inclusão digital, mas
de um trabalho mais amplo, apoiado na educação comunitária. Nesse sentido, a ação dos
grupos de movimentos sociais é a base para mobilizar e articular os agentes sociais.
Podemos, por fim, concluir que as redes sociais digitais, por si só, não têm o poder de
promover a transformação social, mas são elementos fundamentais para que os agentes sociais
façam essa transformação acontecer.
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