Embraer diz que real desvalorizado ajuda, mas é preciso cuidado Por Sergio Lamucci A desvalorização do real ajuda, mas não há uma panaceia para a Embraer, afirmou ontem o presidente da companhia, Frederico Curado, observando que uma volatilidade excessiva do câmbio pode ter efeitos nocivos sobre os balanços das companhias, como produzir lucros ou prejuízos exagerados em determinados trimestres. Ao falar das perspectivas para 2015, o executivo disse esperar receita líquida em dólares próxima à registrada no ano passado, que ficou em US$ 6,3 bilhões. “Talvez estabilidade seja a melhor palavra para definir este ano”, resumiu Curado, apontando como um fator de preocupação o negócio de defesa. No Brasil, o grande cliente da área é o governo, e a companhia tem “contas a receber” da administração. “Há uma apreensão, mas acho que, com a aprovação do orçamento, as coisas vão se esclarecer.” Com cerca de 85% da receita em dólares e base importante de custos em reais, a desvalorização do câmbio ajuda a Embraer, ao melhorar a competitividade das exportações, disse Curado. A volatilidade exagerada da moeda, porém, pode ter efeitos artificiais sobre os balanços, segundo ele. “Mas uma economia que tem um câmbio um pouco desvalorizado tende a ter mais competitividade e pode exportar mais, sem dúvida nenhuma”, disse Curado ao Valor, em rápida entrevista após participar de um painel da cúpula SelectUSA, evento do governo americano voltado para atrair investimentos estrangeiros diretos para os EUA. Mesmo assim, o executivo relativizou o impacto do real mais depreciado para a companhia. “Da mesma maneira que o câmbio valorizado não nos destruiu, o câmbio agora não vai resolver a nossa vida. Ele não é uma panaceia para nós.” De acordo com Curado, não é possível basear as decisões de investimento de longo prazo no câmbio, no Brasil ou fora do país. Ele lembrou que o câmbio desvalorizado também pode trazer problemas para a economia, como uma potencial inflação e alguma indexação. “Muito mais importante do que ter uma moeda desvalorizada, é ter um conjunto macroeconômico bem arranjado, com a inflação sob controle, o país crescendo e o câmbio num bom lugar. Essa combinação é muito mais importante do que uma variável específica.” Ao comentar a combinação de baixo crescimento e inflação alta no Brasil, Curado disse que a própria diretriz econômica do governo indica a necessidade de ajuste nas contas públicas e nas contas externas. “O país passa por um momento de uma necessidade de inflexão na economia, e o governo está sinalizando isso de modo bem forte, tentando perseguir todos os elementos do ajuste. Acho que a direção está correta”, afirmou ele. Segundo Curado, a Embraer manteve o seu programa de investimentos e não fez demissões. Para 2015, o executivo vê um ano de estabilidade, com receitas em dólares “mais ou menos na mesma faixa de 2014”. Ao divulgar o balanço do quarto trimestre do ano passado, a empresa estimou que a receita líquida neste ano ficará entre US$ 6,1 bilhões e US$ 6,6 bilhões. Nos segmentos de aviação comercial e executiva, que concentram os principais contratos de exportação, Curado afirmou não ver nenhum risco iminente. Os EUA, um mercado fundamental para a Embraer, estão crescendo com força, devendo registrar uma expansão na casa de 3%, o ritmo mais elevado entre os países desenvolvidos. O setor de defesa é que causa alguma preocupação. “Nós temos contas a receber acumuladas com o governo desde o fim do ano passado”, disse Curado. “O governo brasileiro é o nosso cliente mais importante no setor de defesa e segurança, e nós estamos esperando para ver qual será o impacto do ajuste fiscal.” Para ele, a aprovação do orçamento pelo Congresso na semana passada pode ajudar a esclarecer as coisas. “Nossa esperança é que não soframos cortes, reduções ou atrasos de pagamento porque os nossos programas estão rigorosamente em dia, dentro do orçamento, dentro dos valores acordados.” A expectativa da companhia é que, em 2015, o setor de defesa e segurança responda por 18% da receita. A principal fatia deve vir da aviação comercial, com 52%, seguido pela aviação executiva, com 18%. Outros negócios devem responder por 2%. Segundo Curado, os principais projetos desenvolvidos hoje pela Embraer são o do cargueiro KC-390, que envolve mais de mil engenheiros e técnicos; a certificação do Legacy 450, que deve ocorrer neste ano; e a nova geração dos jatos comerciais, o E2, com três modelos que devem entrar no mercado em 2018, 2019 e 2020. FONTE: Valor