Clique aqui e veja na íntegra

Propaganda
O papel do professor aposentado da universidade pública
A recente greve nas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), nesse ano de 2012, fez vir à
tona uma velha polêmica sobre a participação do aposentado nas lutas dos professores por
melhores condições salariais e de trabalho. A polêmica, quando bem estabelecida é saudável,
principalmente entre intelectuais, que são pagos para pensar e respeitar as divergências. Não
foi o que ocorreu em várias manifestações de alguns professores da ativa da UFPR , diga-se de
passagem, posição minoritária,que questiona de forma equivocada a participação dos
aposentados nas mobilizações dos professores. Há uma visão distorcida de que o professor ao
se aposentar é excluído dos quadros da universidade. O que acorre, por força da
aposentadoria, é o seu desligamento dos respectivos departamentos, quando vão para o
quadro de aposentados da instituição, não mais exercendo as atividades de ensino, pesquisa e
extensão. Há que se ressaltar que muitos professores aposentados, permanecem na
universidade como professor sênior nos programas de pós-graduação.Se os aposentados
permanecem no quadro da instituição, continuam recebendo seus vencimentos mensais.Logo,
isto implica que sua existência como de todos os assalariados do setor público ou privado,
advém dos seus salários.
Numa situação de perda do poder aquisitivo dos salários, principalmente dos aposentados,
pela inflação e por mudanças constantes na carreira docente, quando por medidas do governo
cria-se novos cargos e níveis de remuneração, os aposentados por não estarem no exercício
da função perdem esses ganhos. Foi o que ocorreu com a criação do cargo de professor
associado recentemente. Então, se o aposentado vive de salário onde ele deve ir buscar a
recomposição das perdas salariais? Nas Igrejas, nos campos de futebol? Não, no sindicato
logicamente, que é a instituição dos trabalhadores que luta por salários e melhores condições
de vida. Diferentemente da universidade, quando se aposenta o professor permanece ativo
nos quadros do sindicato, com plenos direitos como todo sindicalizado. O que garante sua
participação nas greves e mobilizações da categoria é a sua condição de sindicalizado. Mesmo
que ele não fosse sindicalizado, permaneceria com os mesmos direitos porque o sindicato
quando entra em campanha salarial, os ganhos são extensivos a toda a categoria. Não há como
negar este direito legítimo dos professores aposentados. Na universidade sim, ele não tem
poder de voto por estar afastado da atividade docente. Outro argumento usado por essa
minoria contra os professores aposentados, é que eles continuam trabalhando em instituições
privadas de ensino superior, logo não devem mais se envolver com a universidade pública.
Outro grande equivoco, à medida em que estando aposentado ele é obrigado a continuar
trabalhando em decorrência da queda do seu poder aquisitivo. Este fato hoje é comum em
todo o mundo, quando cada vez mais os aposentados são obrigados a continuar trabalhando
devido a perda de direitos com as reformas neoliberais que destruíram muitos direitos
conquistados nos Estados de Bem Estar Social, no pós guerra.No Brasil, ocorre o mesmo, com
as perdas de direitos com as reformas da previdência. E tem mais, quando os professores vão
trabalhar em instituições privadas de ensino superior eles são superexplorados, recebendo por
hora aula uma verdadeira miséria, com um piso salarial muito baixo, de R$20,70 por hora aula,
sendo obrigados a buscar aulas em várias instituições de ensino. Vivem sob o regime do medo
e da repressão, caso tentem esboçar qualquer mobilização. Muitas dessas instituições privadas
inclusive com denúncias veiculadas pela própria mídia pagam com atraso, quando não pagam
com “cheques voadores”. A grande questão que se coloca para o conjunto dos professores das
IFES é que não podemos jogar um segmento contra o outro, já que ambos dependem da
mesma fonte, o tesouro nacional e todos serão um dia aposentados. Temos sim que superar
essa falsa polêmica para fortalecer a categoria em suas mobilizações, até porque o professor
aposentado dispõe de maior tempo parar se incorporar as lutas, as tarefas postas pelas
mobilizações e greves e assim fortalecer toda a categoria nas suas reivindicações.
Esta posição minoritária contra os professores aposentados é uma discriminação que tem que
ser combatida, por ser retrógrada e antidemocrática, que poderá se não for enfrentada
descambar para uma posição totalitária.
Lafaiete Neves, Doutor em Desenvolvimento Econômico, é professor aposentado do
departamento de economia da UFPR, pesquisador do IPEA/Capes,ex-presidente da APUFPR/S.
Sind. do Andes/SN, ex-dirigente do Andes/SN.
Download