III Reunião Científica da Rede CTPetro Amazônia - Manaus, 4-5/11/2010. Potencial hídrico, transpiração, condutância estomática e concentrações de ácido Abscísico em plantas jovens de jatobá (Hymenaea courbaril L.) submetidas ao alagamento e à deficiência hídrica. Benedito Gomes dos Santos Filho (1); Cândido Ferreira de Oliveira Neto(1); Gustavo Antonio Ruffeil Alves(1); Allan Klynger da Silva Lobato(1); Roberto Cezar Lobo da Costa(1) (1) Professores e pesquisadores da Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA, Belém, [email protected] RESUMO – O objetivo do trabalho foi avaliar o comportamento do potencial hídrico, transpiração, condutância estomática e concentrações de ácido abscísico em plantas jovens de jatobá submetidas ao alagamento e deficiência hídrica, durante trinta dias. O experimento foi conduzido em casa-de-vegetação localizada no Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), em Belém, PA. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com três regimes hídricos: controle, deficiência hídrica e alagamento, com 15 repetições, totalizando 45 unidades experimentais, no qual cada unidade experimental foi composta de uma planta/vaso. Foi feita a análise de variância dos dados coletados e a significância das médias das variáveis estudadas foi comparada, usando-se o teste de Tukey a 5% de probabilidade. As plantas submetidas ao déficit hídrico e ao alagamento promoveram uma redução do potencial hídrico foliar. Essa diminuição de água na planta promoveu uma diminuição na transpiração e condutância estomática das folhas, no qual pode ter sido influenciado pelo aumento das concentrações de ácido abscísico nas raízes e nas folhas. Esses resultados mostram que plantas jovens de jatobá desenvolvem mecanismos para suportar tanto a falta como o excesso de água no solo. Palavras-chave: Hymenaea courbaril, alagamento, déficit hídrico, áreas degradadas. INTRODUÇÃO –As espécies arbóreas brasileiras apresentam diferentes estratégias adaptativas que potencializam suas utilizações em diversas áreas da ciência. Nas ciências florestais, as mesmas possuem importante papel no equilíbrio ecológico dos habitats e grupos ecológicos à que pertencem, nas comunidades florestais, sendo muitas dessas indicadas a fazer parte de programas de recuperação de áreas degradadas ou sujeitas à degradação. Dentre essas, o jatobá (Hymenaea courbaril L.) tem sido alvo de muitos estudos, devido sua ampla distribuição geográfica e vasta adaptação a ambientes com diferentes características edafoclimáticas (CARVALHO, 1994; PAIVA & VITAL, 2003). Para qualquer ser vivo a água é o fator mais importante, sendo crucial para sua existência, sobrevivência e perpetuação de todas as formas de vida. Lee & Langenheim (1975) afirmam que o jatobá é pouco exigente em fertilidade e umidade no solo, sendo encontrado em solos bem drenados, fato corroborado por Lorenzi (1998) que ressaltou ainda que esta espécie apresenta uma melhor adaptação à formações florestais secas do que às formações úmidas. De maneira geral, o estresse é um desvio significativo das condições ótimas para a vida, e induz modificações e respostas em todos os níveis funcionais do organismo, as quais são reversíveis a princípio, mas podem tornar-se permanente (LARCHER, 2006) e, essas mudanças dependem da severidade e da duração do estresse, da espécie, do estádio de desenvolvimento, da natureza do estresse, além dos fatores edafoclimáticos. De maneira geral, as plantas lenhosas empregam grande quantidade de assimilados na construção dos tecidos de sustentação e condutores. No primeiro ano de vida, dependendo da espécie, a fitomassa pode representar a metade do total de massa seca da planta, quando for adulta (LARCHER, 2006). Dessa forma torna-se extremamente importante o estudo ecofisiológico de espécies, como o jatobá, em sua fase inicial de crescimento, principalmente por auxiliar no estabelecimento de parâmetros fisiológicos indicativos de tolerância a estresses abióticos . Parâmetros esses que, bem manejados, podem melhorar a produção e estabelecimento de mudas, além de facilitar na seleção de material genético mais resistente as condições edafoclimáticas desejadas. Por esta razão, torna-se relevante o estudo do comportamento ecofisiológico do jatobá em resposta à deficiência ou excesso de água no solo, uma vez que sendo uma espécie clímax, passa grande parte de seu ciclo de vida crescendo, fazem-se necessários mais estudos sobre o crescimento inicial, o comportamento estomático e as relações hídricas, os quais auxiliarão na recuperação de áreas degradadas, sujeitas a estresses hídricos . Diante do exposto, o objetivo desse estudo foi de avaliar o comportamento do potencial hídrico foliar, comportamento estomático e concentrações de ácido abscísico em plantas jovens de jatobá submetidas ao alagamento e deficiência hídrica. MATERIAL E MÉTODOS – O experimento foi conduzido em casa-de-vegetação localizada no Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), em Belém, PA, Brasil. Foram utilizadas mudas de Jatobá (H. courbaril L.), com 4 meses de idade, provenientes de sementes coletadas na Província Petrolífera do Rio Urucu, Base Operacional Geólogo ‘Pedro de Moura em Urucu’, município de Coari, AM, distando cerca de 650 km, em linha reta, de Manaus. As sementes foram coletadas em novembro de 2008, em áreas de 20 clareiras ou jazidas: RUC06, RUC10, JAZ5, JAZ16, RUC 31; RUC 25; JAZ 97; JAZ 06; JAZ 16; JAZ 21; CL 10; CL 33; CL 11; CL 05; CL 04; SUC 03; SUC 02; SUC 01; LUC 29; LUC 39. Após a coleta, as sementes foram acondicionadas em sacos de papel hermeticamente fechados e transportados para o laboratório de Fisiologia Vegetal da UFRA, Belém, PA. Os vasos utilizados tinham 0,30 m de altura por 0,30 m de diâmetro, com capacidade de 28 Kg de substrato. Cada vaso foi completamente cheio com substrato (mistura de 3:1:1, de terra preta, esterco de galinha e húmus de minhoca, respectivamente), sobre uma camada de 0,02 m de pedras britadas para facilitar a drenagem do solo. Além disso, foram etiquetados para a identificação de cada tratamento e tempo ao longo do experimento. Após o período de aclimatação na casa-de-vegetação (três meses), as plantas foram submetidas a três regimes hídricos [irrigado (controle), deficiência hídrica (suspensão da irrigação) e alagamento (presença de uma lãmina d’água de ± 5 cm acima do solo)], durante trinta dias. O potencial hídrico foliar foi determinado utilizando-se uma Bomba de Pressão de Scholander (mod. Pms Instrument Co, Corvalles, USA), conforme descrito por DaMatta et al., (1993) A transpiração e a condutância estomática ao vapor d’água foram determinadas por meio de um porômetro portátil de equilíbrio dinâmico (modelo. LI 1600, Licor, Nebraska, USA), sob luz e CO2 ambiente. As concentrações de ácido abscísico foram determinadas utilizando-se o protocolo descrito por Ross et al. (2004), com algumas modificações O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado com três regimes hídricos: controle, deficiência hídrica e alagamento, com 15 repetições, totalizando 45 unidades experimentais, no qual cada unidade experimental foi composta de uma planta/vaso. Foi aplicada a análise de variância nos dados coletados e às médias foram comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância. Além disso, foram calculados os desvios-padrões para cada tratamento, sendo os resultados analisados usando-se o programa SAS- institute (1996) e embasadas nas teorias estatísticas preconizadas por GOMES & GARCIA (2000). RESULTADOS E DISCUSSÃO –– O diminuiu potencial hídrico foliar (ψf) significativamente tanto nas plantas sob alagamento como nas sob deficiência hídrica, quando comparadas com as plantas controle (Figura 1). Os valores do (ψf) foram de: -0,6 MPa; -1,1 MPa e -2,8 MPa para as plantas controle, alagadas e deficiência hídrica, respectivamente, caracterizando um decréscimo de 83% (plantas alagadas) e 367% (plantas sob deficiência hídrica), em relação as plantas controle’ Esses resultados mostram que o tempo de estresse ao qual as plantas foram submetidas (trinta dias) foi suficiente para alterar os mecanismos bioquímicos e fisiológicos das plantas. A condutância estomática ao vapor d’água e a transpiração revelaram uma diferença significativa entre os tratamentos controle, deficiência hídrica e alagamento (Figura 2A e B) . Os valores obtidos da condutância estomática foram de 0,49, 0,12 e 0,28 mol.m-2.s-1, para as plantas controle, sob deficiência hídrica e sob alagamento, respectivamente. As plantas controle, sob deficiência hídrica e sob alagamento apresentaram taxas de transpiração de 3,49, 2,81 e 0,3 mol.m-2.s-1, respectivamente. As concentrações de Ácido Abscísico (ABA) presentes nas folhas das plantas controle, sob deficiência hídrica e sob alagamento variaram significativamente, apresentando valores de 43,34, 243,72 e 157,82 ng g-1 MS, respectivamente. Nas raízes os valores encontrados foram de 80,45, 342,91 e 202,84 ng g-1 MS ´nas plantas do tratamento controle, sob deficiência hídrica e sob alagamento, respectivamente (Figura 2-C). Esses resultados mostram que tanto a deficiência hídrica como o alagamento do solo, diminuíram a condutância estomática e, por conseguinte, a transpiração e, esse efeito, está relacionado a diminuição do potencial hídrico foliar (Figura 1) e ao aumento das concentrações de ABA (Figura 2C). Outra causa pode ser devido ao decréscimo da condutividade hidráulica das raízes ou pela morte de raízes, causando queda do potencial hídrico foliar, causando fechamento estomático. Outros processos podem ser atribuídos ao fechamento dos estômatos, tais como o efluxo de potássio nas folhas de plantas sob estresse, causando perda de turgor; altas concentrações de etileno e aumento na produção de ABA nas folhas, como observado neste estudo. Os resultados obtidos neste trabalho também é corroborado por Cordeiro (2007) e Reis et al., (2007) que obtiveram resultados semelhantes com plantas jovens de mogno e curauá submetidas a déficit hídrico e alagamento, respectivamente e por Gomes et al. (2004), quando trabalhando com plantas de laranjeira submetidas à deficiência hídrica. CONCLUSÃO – Plantas jovens de jatobá possuem mecanismos de tolerar estresse hídrico no solo, indicando boa adaptação em regiões sujeitas a deficiência hídrica e/ou alagamento do solo. REFERÊNCIAS: Carvalho, P.E.R. 1994. Espécies florestais brasileiras: recomendações silviculturais, potencialidades e uso da madeira. EMBRAPA-CNPF; Brasília-DF, p. 640. Cordeiro, Y.E.M. 2007. Aspectos biofísicos e bioquímicos de plantas jovens de Mogno brasileiro (Swietenia macrophylla King R.A) sob dois regimes hídricos. Tese (Mestrado em Agronomia/Biologia Vegetal Tropical) – Universidade Federal Rural da Amazônia, 44f: DAMatta, F.M.; Maestri, M.; Barros, R.S.; Regazzi, A.J. 1993. Walter relations of coffee leaves (Coffea arabica and C. canephora) in response to drought. Journal of Horticultural Science v.68, p.741-746, Fonseca, E.P.; Valéri. S. V.; Miglioranza, E.; Fonseca N. A. N.; Couto, L. 2002. Padrão de qualidade de mudas de Trema micrantha (L.) Blume, produzidassob diferentes períodos de sombreamento. R. Àrvore, Viçosa-MG, v.26, n. 4, p.515- 523, Gomes, F. P; Garcia, C. H. 2000. Estatística aplicada a experimentos agronômicos e florestais exposição com exemplos e orientações para uso de aplicativos. FEALQ, Piracicaba, SP. 309 p. Gomes, M.M.A; Lagôa, A.M.M.A; Medina, C. L; Machado, E. C; Machado, M. A. 2004. 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Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade. As barras representam os desvios padrões das médias. A Figura 2. Condutância estomática (A), transpiração (B) e concentrações de ácido abscísico (C) em folhas e raízes de plantas de jatobá (Hymenaea courbaril L.) submetidas durante 30 dias à deficiência hídrica e ao alagamento. Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade. As barras representam os desvios padrões das médias.