FLG 356 – BIOGEOGRAFIA Glaciações e a Teoria dos Refúgios Florestais do Quaternário QUATERNÁRIO Terciário PLEISTOCENO/ HOLOCENO: Maior quantidade de registros Inclusive registros humanos. Pulsação climática. Importante! Grande parte da biota que conhecemos já existia desde o cretáceo (+ou – 140 milhões de anos) Glaciações • Ignaz Venetz (1788 — 1859) , suiço, em 1821 observa evidências de glaciações nos Alpes (é desacreditado, pois acredita-se que suas evidências são na verdade prova do dilúvio de Noé). • Louis Agassiz (disciplulo de Venetz) em 1840 estabeleceu a “Teoria das Glaciações” (para a Europa) a partir de seu livro Étude sur les glaciers (Estudo sobre os glaciares). Agassiz foi um ictiologista e geólogo que trabalhou com as amostras de Martius e Spix. Em 1865 veio ao Brasil comandando a Expedição Thayer saindo de Nova York passando pelo RJ, MG, Nordeste e Amazônia. Aqui fez estudos sobre os mestiços brasileiros, ele julgava os negros inferiores e considerava a miscigenação um fator de degeneração da humanidade Ctenoid fish fossil, from Louis Agassiz, Recherches sur les poissons fossiles, 1833-43. Evidências: Relevo, fósseis, análises químicas Geleira em recuo na Patagônia Argentina Importância para a Biogeografia • Mudanças no nível dos oceanos. • Efeitos sobre a biota terrestre e marinha (migrações, competição, confinamentos, especiações). Por que elas acontecem? Movimentos tectônicos Posicionamento astronômico Relação entre a tectônica de placas e as glaciações Ciclos de Milankovitch A base astronômica das oscilações climáticas são os ciclos de Milankovitch, assim chamados em homenagem ao astrônomo e matemático Milankovitch que primeiro se ocupou do assunto em 1930. Esses ciclos têm operado continuamente durante pelo menos uma porção principal da história da Terra e não apenas durante a Época Glacial dos últimos dois milhões de anos (Quaternário). Foram os causadores das oscilações no nível do mar, alterações rítmicas de facies dos estratos sedimentares do Mesozoico e Cenozoico e mudanças climático-vegetacionais nos continentes. Fonte: Haffer, 1992, p. 16 Milankovitch, 1938 Insolação varia com a latitude Ângulo de incidência Distancia do Sol Ciclo da obliqüidade 41 mil anos Ciclo de precessão 22 mil anos Maior nos pólos Inclinação do eixo da terra varia Variação da distância entre a terra e o sol Excentricidade = posição da terra em relação ao sol na eclítica Os ciclos de Milankovitch são devidos a processos celestiais com periodicidades de aproximadamente 20.000, 44.000, 100.000 e 400.000 anos e resultam de: (1)a variação da distância Terra-Sol devido a interações gravitacionais da Terra com outros planetas e o Sol (ciclos de precessão; 23.000 e 19.000 anos); (2)o aumento e decréscimo da inclinação do equador na órbita da Terra ao redor do Sol (ciclos de obliqüidade; 41.000 e 54.000 anos) e (3)a variação na forma da órbita da Terra ao redor do Sol (ciclos de excentricidade; 95.000, 123.000 e 413.000 anos). Milankovitch, 1938 O verão começa no afélio – quando a distância da terra e o sol é a maior; A excentricidade é máxima – distância entre a terra e o sol no afélio é maior possível; Obliqüidade é baixa – diferença entre o verão e inverno é fraca e o controle latitudinal é maior. Afélio/periélio Milutin Milankovitch (1879-1958) foi professor de Física Teórica e Mecânica Celeste na Universidade de Belgrado Segundo André Berger (1980), a teoria de Milankovitch indica que as glaciações ocorrem quando: a-) o verão começa no afélio, ou seja, quando a distância entre a Terra e o Sol é maior; b-) a excentricidade é máxima, ou seja, a distância entre a Terra e o Sol no afélio é a maior possível. Isso afeta não só a intensidade relativa e a duração das estações nos diferentes hemisférios, mas também a diferença entre a insolação máxima e mínima recebida durante um ano; c-) a obliqüidade é baixa, significando que a diferença entre verão e inverno é fraca e o contraste latitudinal é maior. Efeito de Retorno Gelo Maior retenção de calor Maior Albedo Menor Albedo Menor retenção de calor Rápido degelo • Durante o Pleistoceno (últimos 2 milhões de anos) ocorreram cerca de 10 Glaciações. • Os períodos interglaciais correspondem a apenas 10% deste tempo. • As temperaturas foram entre 4 e 4,5ºC (na média global) mais frias do que no presente. Fonte: Brown e Lomolino, 2006, p. 182 Quaternário Devido aos eventos serem recentes bio geógrafos e paleoecólogos podem utilizar uma variedade de métodos que não estão disponíveis para períodos mais antigos: • • • • Análise de anéis de crescimento de árvores Depósitos de pólen Depósitos de recifes de coral Datações por radiocarbono Período Hipsitérmico Temp. de 0,5 a 1º.C mais elevadas do que no presente Queda de 2ºC em apenas 500 anos Pequena idade do gelo HOLOCENO Würm-Wisconsin a última glaciação • Considera-se que ela começou entre 100 e 50 mil anos AP e teria terminado entre 18 e12 mil anos AP. • Teria possibilitado a travessia do homem para a América do Norte por meio do estreito de Bering. • Seu fim marca o início do Holoceno e o predomínio humano na Terra. História da teoria dos Refúgios A teoria da especiação nos refúgios ecológicos foi desenvolvida originalmente por Edward Forbes em 1846 (conforme foi mencionado por Mayr & O’Hara, 1986) e foi depois aplicada por Stresemann (1919), Stresemann & Grote (1929) e diversos autores nos anos de 1930, que estudaram a origem de membros intimamente relacionados entre casais de espécies de aves do norte da zona temperada e da África tropical. O Quaternário um período pluvial??? • R.E. Moreau em 1933/1969 a partir da obra: Plaistocene climaic change and their distribuition of life in East Africa (Mudanças climáticas do Pleistoceno e a distribuição da vida no leste Africano) formula essas idéias como uma teoria: TEORIA DOS REFÚGIOS ECOLÓGICOS • Expedições de naturalistas dos séculos XIX e início do XX no paleotrópico trouxeram as primeiras evidências de que o clima havia mudado. • Equivocada correlação entre um período glacial na Europa corresponderia a um período pluvial nos trópicos. TEORIA DOS REFÚGIOS FLORESTAIS DO QUATERNÁRIO Base da Teoria: Durante o quaternário (glaciação Würm-Wisconsin) os trópicos teriam passado por uma expansão dos climas secos e um rebaixamento de temperaturas. TEORIA DOS REFÚGIOS FLORESTAIS DO QUATERNÁRIO Proposto inicialmente pelo zoólogo Paulo Emílio Vanzolini, mas formulado conceitualmente pelo alemão Jürgen Haffer em 1969 e aplicado à realidade brasileira pelo geógrafo Aziz Ab’Sáber, esse cenário – conhecido como Teoria dos Refúgios – representou durante pelo menos três décadas a visão mais aceita da porção sul do continente americano, incluindo o Brasil. TEORIA DOS REFÚGIOS FLORESTAIS DO QUATERNÁRIO • Importância do Congresso Internacional de Geografia, 1956, Rio de Janeiro • Importância dos trabalhos de campo de Tricart e Ab´Saber em 1957. • Sistematização , oral, da teoria em 1962 em Penedo-AL na Assembléia Geral da Associação dos Geógrafos Brasileiros. TEORIA DOS REFÚGIOS FLORESTAIS DO QUATERNÁRIO • J. Haffer (geológo e ornintólogo) é o primeiro a sistematizar a teoria para o neotrópico pesquisando a Amazônia “Speciation in Amazonian forest birds”(1969). • Posteriormente Vanzolini também contribuirá com a teoria “Zoologia sistemática, geografia e a origem das espécies”(1970). • Os trabalhos de Tricart, Cailleux, Ab´Saber datam de (1965, 1968, 1975, 1977, 1979). • Tricart 1974: Existence des périodes sèches au Quaternaire em Amazonie e dans le régions voisines. • Ab´Saber 1977: Espaços ocupados pela expansão dos climas secos na América do Sul, por ocasião dos períodos glaciais quaternários. Base da Teoria: Durante o quaternário (glaciação Wisconsin) os trópicos teriam passado por uma expansão dos climas secos e um rebaixamento de temperaturas. • Jurgen Haffer (1932- 2010) • Paul o Emílio Vanzoline (1924 -2013) • Aziz Ab’Saber (1924-2012) A favor de Darwin Com o isolamento das áreas florestais, as espécies passariam a evoluir em direções diversas, multiplicando a variedade biológica. Quando a floresta voltasse a se expandir para ocupar todo o território, formaria a enorme salada regional que se observa hoje Negação “Eduardo de Oliveira e o norte-americano Mark Bush, do Instituto de Tecnologia da Flórida, publicaram na edição de janeiro a abril de 2006 da revista Biota Neotropica um artigo que examina uma série de trabalhos que testam a validade da hipótese dos refúgios. As pesquisas sugerem, por exemplo, a existência de densas florestas no pé da cordilheira dos Andes, onde a temperatura teria resfriado cinco graus Celsius durante a última glaciação. Na mesma época, vegetação semelhante seria encontrada na porção oriental da Amazônia brasileira, enquanto na região amazônica central o clima de fato deve ter sido um pouco mais seco, mas não o suficiente para eliminar as formações florestais”. Problemas: • Em muitos casos as áreas estudadas por distintos pesquisadores não coincidiam. • Exagero nas proporções e efeitos. • Diferente das florestas temperadas as florestas tropicais são complexas. Contribuições: • Incentivou o debate acadêmico e fez avançar as pesquisas. • Mobilizou políticas públicas. • Na Geografia ajudou a fortalecer a necessidade do trabalho de campo para levantamento de dados fisiográficos. 1976, surgiu uma proposta, seus autores – Wetterberger, Jorge-Pádua, Castro e Vasconcellos – propuseram priorizar áreas com alta concentração de endemismo, identificadas segundo a teoria dos refúgios. Exemplo Parque Nacional de Anavilhanas (Amazonas), antiga Est. Ecol. Anavilhanas Conclusões • O quadro vegetacional encontrado pelo conquistador europeu foi conseqüente à retomada da umidade holocênica. • Para a Mata Atlântica e Amazônia a pulsação climática propiciou aumento da biodiversidade • Explica a presença de cerrados e caatingas longe de suas áreas de ocorrência atuais (encraves). • Expansão das araucárias. Para a Mata Atlântica: Pulsação também da vegetação Perda de continuidade base/topo Oportunidade para encraves Padrões e Processos “Paisagens são mosaicos gerados por processos de perturbação que variam em escala, extensão , intervalo e intensidade de recorrência” Haffer, 1992 Ciclos de tempo (Haffer) • Ciclos de Tempo • Indicadores de tempo As orbservações que revolucionaram o conhecimento paleoclimático e palioecológico da América Tropical tiveram início com a (re)interpretação de depósitos correlativos existentes na estrutura superficial do Brasil inter e subtropical, através de estudos pioneiros de André Cailleux (1957) e Jean Tricart (1957,1958) Prof. Dr. Aziz N. Ab’Saber OUTRAS EXPLICAÇÕES PARA AS STONE LINES “O termo linha de seixos corresponde a um horizonte de fragmentos grossos, resistentes à alteração química, freqüentemente encontrado no interior de coberturas pedológicas das zonas intertropicais” (HIRUMA, 2007, p. 53) é provável que a maior parte das linhas de seixos evolua a partir de vários estágios: (1) acumulação residual resultante da dissolução e remoção de materiais finos e intemperizáveis sob condições úmidas, (2) redistribuição e concentração de cascalhos por escoamento superficial e coluvionamento associado e (3) Modificação e recobrimento por bioturbação, rastejo, cavidades produzidas por árvores (tree throw) e, possivelmente, atividade antrópica. DOMÍNIOS INTERTROPICAIS, PERMEADOS POR ENCRAVES AMAZÔNIA : ENCRAVES – CAATINGAS CERRADOS MATA ATLÂNTICA : ENCRAVES DE CERRADOS E ARAUCÁRIA CAATINGAS : ENCRAVES DE MATAS E BREJOS GRANDES DESERTOS (Deserto Botucatu) CUIDADO!!! O continente também pode se deslocar ATENUAÇÃO DA ARIDEZ Do médio Terciário para o Quaternário devem ter se formado os estoques de vegetação próximos do atual EVENTOS: 1.ESTREITAMENTO DA FAIXA TROPICAL 2. REBAIXAMENTO DA TEMPERATURA 3. TRANSGRESSÕES/REGRESSÕES MARINHAS O avanço e a participação ativa das correntes das Malvinas (Falklands), até a altura do litoral sul – baiano, bloqueou a entrada de umidade no Planalto Brasileiro e setores da Amazônia. Prof. Dr. Aziz N. Ab’Saber CONSEQUÊNCIAS: DESLOCAMENTO DAS CORRENTES OCEÂNICAS EXPANSÃO DAS CAATINGAS E CERRADOS ARIDEZ COSTEIRA NUMA FAIXA MAIS AMPLA, POIS O MAR ESTAVA RECUADO MATA ATLÂNTICA PERDEU CONTINUIDADE (BASE-TOPO). CONCENTROU-SE NAS TESTADAS SUPERIORES – CHUVAS OROGRÁFICAS E PROVAVELMENTE NOS FUNDOS DE VALE MATA AMAZÔNICA SE REFUGIOU NAS PORÇÕES SULORIENTAIS OU NOS MORROTES E SERRINHAS. RIOS AMAZONAS MUITO ENCAIXADOS. Importância de Damuth e Fairbridge (1970) que formularam a teoria de que o nível mais baixo dos oceanos nos períodos glaciais contribuia fortemente para o clima mais seco. Fonte: Haffer, 1992 Revista Ciência Hoje, vol. 32 no. 191 EXTINÇÃO DA MEGAFAUNA HOMEM OU MUDANÇA CLIMÁTICA? Até o momento atual das pesquisas não foram encontrados no sudoeste do Piauí indícios de predação humana nos fósseis da Megafauna extinta, como ossos raspados, que implicassem a separação da carne para a alimentação, ossos com percurssão causados por lanças ou flechas ou qualquer tipo de fraturas que significassem um esforço humano para tanto. Os instrumentos de caça encontrados são muito rudimentares e ineficientes para predar animais robustos como eram os da Megafauna Pleistocênica. Estudos Geográficos, Rio Claro, 5(1): 87-100, 2007 (ISSN 1678—698X) http://cecemca.rc.unesp.br/ojs/index.php/estgeo Parque Estadual do Morro do Diabo Presença de relíctos de caatinga Alguns pesquisadores, como a brasileira Maria Lúcia Absy e o holandês Thomas van der Hammen, ainda defendem a hipótese de Haffer, Vanzolini e Ab'Sáber e rejeitam os resultados dos principais opositores da teoria. Outros preferem uma posição mais moderada. É o caso de Sandra Knapp, do Museu de História Natural de Londres, uma das convidadas para comentar o estudo de Peter Wilf et al na "Science". "O debate sobre os refúgios ainda é interessante, mas certamente não é quente. Evidências --boas, sólidas, indiscutíveis evidências, pró ou contra-- são muito esparsas", afirma a pesquisadora britânica. "A coisa sensata a fazer é não tentar apoiar uma teoria ou outra, mas apenas ir lá fora e descobrir o que vive nas florestas neotropicais e como está distribuído." BIBLIOGRAFIA AB´SABER, Aziz N. Espaços ocupados pela expansão dos climas secos na América do Sul, por ocasião dos períodos glaciais quaternários. In: Paleoclimas, são Paulo , IG-USP, no. 3, 1977. DAMUTH, J.E.; FAIRBRIDGE, R.W. Equatorial atlantic deep-sea arkosic sands and ice-age ariy in tropical South america. In: Geological Society of America Bulletin, no. 81, 1970. HAFFER, Jürgen ; PRANCE, G .T. Impulsos climáticos da evolução na Amazônia durante o Cenozóico:sobre a teoria dos Refúgios da diferenciação biótica. In: Estudos Avançados 16 (46), p.175-206,2002. HAFFER, Jürgen. Ciclos de tempo e indicadores de tempos na história da Amazônia. In: Estudos Avançados, vol.6 no.15, p.7-39. São Paulo May/Aug. 1992. HIRUMA, Silvio Takashi Revisão dos conhecimentos sobre o significado das linhas de seixos. Revista do Instituto Geológico, São Paulo, 27-28 (1/2), 53-64, 2007. MOREAU, R.E. Pleistonece climatic changes and ther distribuition of life in East Africa. In: Journal Ecologic, Londres, no. 2, 1933. 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