HIPNOSE ASSOCIADA À TCC: UMA FERRAMENTA TÃO ÚTIL E AINDA POUCO EXPLORADA Coordenação: Ms. Beatriz de Andrade Sant’Anna (Mestre em Ciências pelo Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo e Menbro da Comissão Científica do Centro de Terapia Cognitiva Veda, São Paulo – SP) Apresentação 1 Hipnose em psicoterapia, mitos e verdades. Benomy Silberfarb (Cognicci Psicologia e Psiquiatria, Porto Alegre – RS) Introdução. Os primeiros registros sobre a hipnose datam de 1500 AC no Egito. Apesar de sua longa história, seu uso clínico com frequência é confundido com o que os pesquisadores chamam de “hipnose de palco”, o que tem alimentado mitos e distorções sobre seu caráter terapêutico. Objetivos. Apresentar a hipnose como uma técnica dentro do contexto clínico, discutindo suas aplicações e os resultados empíricos, sendo abordadas as diferenças entre este uso particular e o que equivocadamente se divulga fora do contexto acadêmico. Método. Os dados foram obtidos através de levantamento da literatura a respeito da hipnose. Resultados. A hipnose é um processo que envolve extremo foco atencional em que, por meio da autoindução e técnicas diretivas de relaxamento, o paciente é levado a um estado de profundo relaxamento, chamado transe hipnótico. Este estado, com a atmosfera relaxada e facilitadora da introspecção pessoal, torna possível uma interação cooperativa para que responda às sugestões do hipnotizador, quando ocorre um rebaixamento da crítica que permite com que o paciente fique mais suscetível a comandos verbais para alcançar objetivos terapêuticos pré-estabelecidos. Assim, dentro da psicoterapia, a hipnose utiliza o estado hipnótico para atingir mudanças na percepção e na memória para o controle de várias funções fisiológicas normalmente involuntárias. Além disso, o estado hipnótico permite a exploração de pensamentos negativos dolorosos, sentimentos e memórias bastante profundos e a percepção vívida e emoções mais intensas, aguçando os sentidos. Suas aplicações englobam uma série de distúrbios e patologia, como por transtornos de ansiedade, controle da dor e insônia. Apesar de a hipnose poder estar associada a diversas abordagens psicoterápicas, ela tem alta compatibilidade com a terapia cognitivo-comportamental, principalmente porque possuem similaridades metodológicas, seus pressupostos subjacentes são compatíveis e ambas oferecem técnicas complementares. Discussão. Embora a hipnose tenha se tornado conhecida por causa de atos populares, nos quais as pessoas são solicitadas a realizarem ações comuns, esta técnica também tem sido clinicamente comprovada para proporcionar benefícios terapêuticos. Com a hipnose associada à TCC é possível potencializar as técnicas cognitivas e comportamentais, principalmente nos transtornos mentais nos quais a imagética é a matéria-prima da disfuncionalidade. Desta forma, a hipnose tem se mostrado uma ferramenta terapêutica coadjuvante útil e versátil, que pode aumentar a eficácia da terapia cognitivo-comportamental. Palavras-chave: hipnose, hipnoterapia cognitiva, terapia cognitico-comportamental. Apresentação 2 Evidências científicas sobre o uso da hipnose associada à TCC Beatriz de Andrade Sant’Anna (Universidade Federal de São Paulo e Centro de Terapia Cognitiva Veda, São Paulo – SP) Introdução. A hipnose teve seu uso indicado pelo consenso do National Institutes of Health (1995) e foi aprovada como um recurso auxiliar do trabalho do psicólogo pelo CFP (2000). No entanto, sua utilização permanece restrita e cercada de mitos. Objetivos. Levantar evidências científicas a respeito da integração entre TCC e hipnose através de uma revisão sistemática. Método. Foram selecionados estudos clínicos e de revisão nas bases Medline e Scielo (até C749 Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas (10. : 2015 : Porto de Galinhas) Programa e resumo do X Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas / Carmem Beatriz Neufeld, Aline Sardinha e Priscila de Camargo Palma (organizadoras). – Porto de Galinhas: Federação Brasileira de Terapias Cognitivas, 2015. ISBN 978-85-66867-01-5 dezembro de 2014). Foram analisados tipo, população investigada e desfecho clínico. Resultados. A revisão encontrou 44 artigos, sendo 32 incluídos: 18 revisões (uma sistemática e duas meta-análises) e 14 estudos clínicos (cinco relatos de caso e nove estudos clínicos controlados e randomizados). As populações estudadas foram bastante heterogêneas, sendo mais frequentes pessoas com diagnóstico de depressão (cinco estudos), para alívio da dor (quatro estudos), câncer de mama (quatro estudos) e síndrome do intestino irritável (três estudos). Outros estiveram relacionados à ansiedade, jogo patológico, transtornos alimentares, fobia de avião, TEPT, ATM, fibromialgia, insônia, TOC e distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho. A hipnose associada à TCC mostrou resultados positivos na maioria dos casos, especialmente na redução dos efeitos colaterais da radioterapia no tratamento do câncer de mama e para o controle e alívio da dor. Também se mostrou eficiente na diminuição de sintomas na síndrome do intestino irritável, sintomas depressivos, ansiosos, fóbicos e nos casos de TEPT. Bons resultados também foram observados no tratamento da insônia. No entanto, para o tratamento da bulimia os resultados foram menos consistentes e houve possível associação entre hipnose e episódio de mania em caso de depressão unipolar num relato de caso. A maioria dos estudos controlados compararam TCC associada à hipnose a grupo controle; outros três compararam a eficácia entre TCC padrão e TCC associada à hipnose, com efeito positivo para adição da hipnose. Discussão. Embora escassos, os resultados apontam que a adição da hipnose à TCC aumenta a eficácia terapêutica, sendo uma ferramenta auxiliar no tratamento de diversos distúrbios. Ainda assim, poucos estudos analisaram a hipnose como variável independente dentro da TCC. Igualmente, os estudos pouco se detiveram na análise mais profunda de características específicas da hipnose como suscetibilidade, fraseologias ou profundidade do transe, variáveis que podem interferir no desfecho clínico e auxiliariam o desenho de protocolos específicos. Com mais pesquisas esta ferramenta terapêutica poderá de fato sair do campo do misticismo e ser examinada à luz da terapia cognitivo-comportamental baseada em evidência. Palavras-chave: hipnose, hipnoterapia cognitiva, terapia cognitico-comportamental. Área de interesse: Intervenções na área da saúde. Apresentação 3 Hipnoterapia associada à TCC no tratamento da obesidade: um relato de caso. Vânia Maria do Amaral Calazans Lima Introdução. A Hipnoterapia Cognitiva, ao promover um estado alterado de consciência, pode causar mudanças nas percepções, sensações, pensamentos e comportamentos do paciente. Ela vem sendo utilizada no campo da saúde, incluindo o tratamento de transtornos alimentares como a obesidade, com propensão a tornar-se um método complementar de tratamento, associado a práticas clínicas tradicionais. Sua utilização diminui o tempo de tratamento, o uso de medicamentos e facilita a adesão ao processo psicoterápico. Objetivos. Este trabalho discute, a partir de um relato de caso, como a Hipnoterapia aplicada à Terapia Cognitivo Comportamental pode ser utilizada como ferramenta terapêutica complementar para o tratamento da obesidade. Método. Paciente de 35 anos, do sexo feminino, foi atendida em 10 sessões de psicoterapia e 10 sessões de follow up. As sessões contemplaram a aplicação de técnicas cognitivas comportamentais tradicionais como: psicoeducação, registro de pensamento disfuncional, descatastrofização, manejo da ansiedade, manejo do tempo e treino de habilidades sociais. Foram associadas ao tratamento as seguintes técnicas de hipnoterapia cognitiva: estímulo à prática de atividade física, técnicas de visualização da imagem corporal desejada e de capacitação de novas habilidades como resistência a alimentos prejudiciais à saúde, preferência por alimentos saudáveis e colocação do balão intragástrico imaginário; a paciente também foi ensinada a utilizar a auto-hipnose entre as sessões e também no período de follow-up. Resultados. O peso inicial da paciente era de 102 kg. Depois das 10 sessões, aderiu a um programa de reeducação C749 Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas (10. : 2015 : Porto de Galinhas) Programa e resumo do X Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas / Carmem Beatriz Neufeld, Aline Sardinha e Priscila de Camargo Palma (organizadoras). – Porto de Galinhas: Federação Brasileira de Terapias Cognitivas, 2015. ISBN 978-85-66867-01-5 alimentar, ao plano de exercícios, gerenciava o consumo de alimentos e manifestava interesse por alimentar-se de forma saudável. Após 16 meses de tratamento, a paciente estava pesando 64 kg e mantinha os hábitos saudáveis adquiridos. Ela também aprendeu a gerenciar sua ansiedade, monitorar seus pensamentos disfuncionais e praticar a auto-hipnose. Como benefícios secundários, no início do tratamento a paciente apresentava episódios frequentes de dermatite atópica. Com as práticas aprendidas essas manifestações tornaram-se escassas; a paciente não manifesta a doença há 8 meses. Discussão. Este relato de caso confirma os benefícios da utilização da Hipnoterapia como técnica coadjuvante no tratamento da obesidade e evidencia que essa forma de intervenção pode facilitar significativamente a adesão do paciente ao tratamento à medida que: possibilita a redução de sofrimento durante o processo de emagrecimento, favorece o desenvolvimento de ferramentas eficazes para gerenciamento da ansiedade e previne recaídas. Palavras-chave: hipnoterapia cognitiva, terapia cognitivo comportamental, emagrecimento. Área de interesse: Intervenções na área da saúde. Apresentação 4 Insônia e a possibilidade de reversão através da hipnoterapia cognitiva Patrícia Skolaude Dini (Centro de Terapia Cognitiva Veda, São Paulo - SP). Introdução: Tendo em vista que o sono é um estado regular, recorrente e facilmente reversível do organismo e que sua função fundamental de revitalização do corpo e da mente pode ser comprometida por eventos estressantes agudos e transitórios, a hipnoterapia cognitiva se constitui como uma ferramenta terapêutica disponível. Objetivos. Analisar a eficácia da hipnoterapia cognitiva para o tratamento de insônia de ajustamento por meio de um relato de caso. Método: Associada ao tratamento medicamentoso vigente com uso de sertralina 200mg/dia e à condução do tratamento pela terapia cognitiva comportamental, optou-se pelo treinamento semanal progressivo das habilidades em hipnose e auto-hipnose para a indução do sono e ampliação da sensação de revitalização independente das horas dormidas de uma paciente insone. O tratamento da insônia de ajustamento compreendeu sete sessões de hipnoterapia cognitiva, em que inicialmente foi escolhido o relaxamento corporal, aliado ao treinamento da respiração diafragmática durante a sessão. Em seguida, foi aplicado o repertório de preferências para a elaboração de cenários agradáveis e imaginários pela terapeuta, o que colaborou para a receptividade das fraseologias que envolviam crenças centrais da paciente, assim como para as sugestões previamente combinadas com ela para um sono revitalizador, independente das horas dormidas. A paciente foi estimulada a ouvir diariamente as gravações que haviam sido feitas durante as sessões assim que deitasse à noite e, desde a terceira sessão de hipnose foi desenvolvido o sinal hipnógeno o qual facilitou de forma relevante a auto-hipnose e o alcance de estágios mentais profundos rapidamente. Resultados: Percebeu-se uma melhora progressiva do quadro de ansiedade de base, além da intensificação dos resultados quanto à disposição e bem estar da paciente ao longo do treinamento em hipnose, com reversão total do quadro inicial e melhora importante do padrão de sono. Já na terceira sessão o grau de satisfação com o sono melhorou significativamente, apesar da permanência dos despertares noturnos, que rapidamente eram revertidos pelo uso do sinal hipnógeno; já na sétima sessão não havia mais despertares noturnos. Discussão: Considerando que o transtorno de ajustamento do sono, se não revertido em menos de 1-2 meses, pode desencadear um padrão crônico de transtorno do sono, a hipnoterapia cognitiva se mostrou neste caso uma opção terapêutica de amplo uso, tanto aguda quanto preventiva, inclusive na indução do sono e revitalização do corpo e da mente. Ganhos estes que se mantém e se generalizam, segundo a paciente, até os dias atuais. Palavras-chave: hipnose, hipnoterapia cognitiva, insônia. Área de interesse: Intervenções na área da saúde. C749 Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas (10. : 2015 : Porto de Galinhas) Programa e resumo do X Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas / Carmem Beatriz Neufeld, Aline Sardinha e Priscila de Camargo Palma (organizadoras). – Porto de Galinhas: Federação Brasileira de Terapias Cognitivas, 2015. ISBN 978-85-66867-01-5