Anorexia e Bulimia: o bullying do corpo

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Grupo de Trabalho: GTII: Políticas públicas, Cidadania e Direitos Humanos
Anorexia e Bulimia: o bullying do corpo
Nilda Beatriz Pinheiro
Bacharel em Serviço Social
PUCPR
Ângela de Fátima Ulrich Jeiss
Assistente social, mestre em Gestão Urbana
PUCPR
RESUMO
O presente artigo discorre sobre bullying, apresentando
seu conceito e entendimento ao longo do tempo. Em
seguida, trata dos transtornos alimentares, enquanto
consequências do bullying em adolescentes. Dentre as
concepções quanto ao ideal de modelo de corpo,
constatou-se que a influência advém de um paradigma
sustentado pela mídia, interferindo nos padrões normais
de beleza. Por meio dessa realidade captou-se a
necessidade de se investigar sobre tal temática, com o
objetivo de conhecer os riscos e incidências em casos de
transtornos alimentares entre adolescentes. Para tanto,
realizou-se uma pesquisa descritiva, bibliográfica e
qualitativa. Os principais resultados indicam que os
transtornos alimentares são causados pelo bullying,
intensificando-se pelas correntes em que os meios de
comunicação ditam um corpo perfeito. Nesse sentido, em
decorrência dessa mudança, aos novos conceitos de
corpos magérrimos, expôs-se a preocupação em
apresentar políticas públicas e legislações para que esta
imposição seja monitorada.
Palavras-chave: Bullying. Transtornos Alimentares.
Adolescência. Políticas Públicas.
ABSTRACT
This article discusses bullying, presenting its concept and
understanding over time. Then comes the eating
disorders as bullying consequences in teenagers. Among
the conceptions about the body model of ideal, it was
found that the influence comes from a paradigm
supported by the media, interfering with the normal
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standards of beauty. Through this reality it raised the
need to investigate this theme, in order to understand the
risks and implications in cases of eating disorders among
teenagers. Therefore, there was a descriptive,
bibliographical and qualitative research. The main results
indicate that eating disorders are caused by bullying,
intensifying the currents in the media dictate a perfect
body. In this sense, as a result of this change, the new
concepts of both skinny bodies exposed to concern for
creating public policies and laws that the charge is
monitored.
Keywords: Bullying. Eating Disorders. Teenager years.
Public Policies.
INTRODUÇÃO
Este artigo tem como tema o bullying e sua delimitação está nos transtornos
alimentares vivenciados pelos adolescentes.
Questiona-se a relação e as consequências entre bullying e transtornos
alimentares na adolescência, considerando que o período da adolescência é um
momento único em nossa vida, na qual desabrochamos para novas experiências e
aspirações. O bullying é um fator de risco antissocial, que afeta o comportamento
intelectual do indivíduo no decorrer do seu desenvolvimento.
A preocupação com esse fenômeno, segundo Lisboa, Braga e Ebert (2009)
indica uma mudança no modo como se analisam as atitudes agressivas entre
crianças e seus consequentes transtornos alimentares.
O estudo se justifica porque dá visibilidade aos transtornos alimentares dos
adolescentes, requerendo atenção do poder público via políticas públicas, bem
como de acompanhamento por profissionais competentes e encaminhamentos
devidos.
O objetivo é investigar sobre tal temática, a fim de conhecer os riscos e
incidências em casos de transtornos alimentares entre adolescentes. Para tanto,
realizou-se uma pesquisa descritiva e qualitativa.
Quanto à metodologia, utilizou-se de pesquisa bibliográfica, com busca em
livros, artigos científicos e sítios eletrônicos, centrando o estudo no bullying e
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transtornos alimentares em adolescentes, além das políticas de saúde e segurança
alimentar e nutricional.
BULLYING
O bullying é um ato caracterizado pela violência física ou psicológica, de
forma intencional e continuada, de um indivíduo ou grupo, contra outro indivíduo, ou
grupo, sem motivo claro. No Brasil, a palavra bullying é utilizada, principalmente, em
relação aos atos agressivos, seja de forma verbal ou física, entre grupos de alunos
nas escolas. O que hoje reconhecemos como bullying, até pouco tempo atrás era
visto
como
fatos
isolados,
“briguinhas
de
criança”
e
desentendimentos,
normalmente na família e na escola. Atualmente, o bullying é reconhecido como
problema crônico nas escolas, com consequências sérias, tanto para as vítimas,
quanto para os agressores.
Um dos tipos de bullying sofrido por adolescentes é, justamente, aquele que
os discrimina pela obesidade, fazendo-os reagir de qualquer forma para emagrecer,
a ponto de adoecer. A partir daí, os transtornos alimentares aparecem como uma
resposta para o bullying relacionado à obesidade.
No meio social contemporâneo, o fenômeno do bullying gera um novo
paradigma de violência. Em pesquisas elaboradas por alguns autores como Silva
(2010), pode-se dizer que o bullying aparece em pesquisas realizadas desde os
anos de 1970. O qual norteou-se pelo professor Dan Olweus, formado pela
Universidade de Bergen, na Noruega (BRITO, 2014, p.18):
Segundo a página de pesquisa do autor Olweus “Bullying Prevention
Programa, encontra a seguinte explicação: Bullying é um comportamento
agressivo que é intencional e que envolve um desequilíbrio de poder.
Frequentemente, isso é repetido ao longo do tempo”.
Dentre os profissionais brasileiros que realizam pesquisas sobre bullying e
estudos do autor Olweus, destacam-se Fante e Pedra, que relacionam os maus
tratos, como a forma mais comum de bullying, praticado pelo indivíduo.
Segundo Fante (2005, p. 28-29):
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[...] bullying é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas
que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos
contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento. Insultos, intimidações,
apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas,
atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de
outros alunos levando-os à exclusão, além de danos físicos, morais e
materiais, são algumas das manifestações do "comportamento bullying".
Com base nas conseqüências do bullying escolar, expõe Silva (2010),que
são as mais variadas possíveis e dependem muito de cada indivíduo, da sua
estrutura, de suas vivências, da predisposição genética, da forma e da intensidade
das agressões. No entanto, o bullying causa sofrimento a todas as vítimas, em maior
ou menor proporção. Muitas delas levarão marcas profundas provenientes das
agressões para a vida adulta, e necessitarão de apoio psicológico e/ou psiquiátrico
para superá-las (SILVA,2010 apud Souza e Almeida).
Silva (2010), alerta sobre casos relacionados ao bullying no qual
menciona também problemas psicossomáticos, transtorno de pânico,
depressão, anorexia e bulimia, fobia escolar, fobia social, ansiedade
generalizada, além de poder agravar problemas preexistentes, devido à
continuidade da exposição às situações estressoras a que a vítima é
submetida. Esta autora alerta que nos casos mais graves, podem ser
observados quadros de esquizofrenia, homicídio e suicídio (SILVA, 2010,
apud Souza e Almeida).
Fante (2005) ressalta as consequências do bullying sofrido pelas vítimas,
afirma que são graves. Pois, segundo a autora, as agressões podem levar a déficit
de concentração e diminuição na aprendizagem e, até mesmo, evasão escolar.
Entre as implicações, o bullying produz pessoas estressadas, interferindo em
comportamentos como baixa autoestima, depressão, estimula a delinquência e
outras formas de violência.
Nesse sentido, o bullying pode também afetar o comportamento e levar ao
desenvolvimento dos transtornos alimentares.
TRANSTORNOS ALIMENTARES
Transtornos alimentares dizem respeito às dificuldades relacionadas à
alimentação, como deixar de se alimentar, ou alimentar-se de alimentos não
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nutritivos, ou abortar alimentos ingeridos, podendo acarretar perda de peso, de
nutrientes e, consequentemente, desnutrição, desidratação e morte. Há vários tipos
de transtornos alimentares, dentre eles anorexia nervosa (AN) e bulimia nervosa
(BN).
Define-se anorexia nervosa (AN) como uma síndrome que afeta geralmente
as mulheres, adolescentes, mas também pré–púberes, mulheres mais
velhas e, sem menor medida, os homens, caracterizada por uma perda de
peso auto–induzida, por meio da restrição alimentar e ou pelo uso de
laxantes e diuréticos, provocação de vômitos ou excesso de exercitação
física: medo de gordura e amenorreia, na mulher ou perda de interesse
sexual, no homem (HERSCOVICI, 1997, p. 41).
Enquanto que bulimia nervosa, segundo Herscovici (1997, p. 137) é
Uma forma particular de ingestão excessiva, que é acompanhada do traço
essencial da anorexia nervosa, ou seja, medo de engordar. Neste caos, o
sofrimento dos pacientes não se deve aos medos suscitados pelos
empaturramentos imaginários, senão que estes são reais e terminam por
causa de um mal-estar físico ou por uma interrupção social.
Com base no Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA - Lei nº 8.069, de
13 de Julho de 1990, observa-se que
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze
anos de idade incompletos, e adolescentes aquela entre doze e dezoito
anos de idade. (BRASIL, 1990)
Alguns autores afirmam que, em estudos longitudinais, observou-se um grupo
de adolescentes, com idade entre 13 e 16 anos, que foi vítima de bullying,
encontrando evidências de que um grande número desses alunos apresentava a
probabilidade de virem a se tornar depressivos aos 23 anos, como consequência de
perdas na autoestima (OLWEUS apud FANTE, 2005).
Em relação à baixa autoestima, e inverçao de um conceito de corpo ideal, os
autores Abreu e Filho afirmam que “são os principais componentes que reforçam a
busca de um emagrecimento incessante, levando à prática de exercícios físicos,
jejum e uso de laxantes e diuréticos de uma forma ainda mais intensa”
(GARFINKEL; GARNER, 1982; HOLDEN, 1990 apud Abreu e Filho).
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Dentre os casos encontrados de anorexia nervosa, alguns pacientes que
exibem, “episódios bulímicos e alguma prática de purgação (vômitos, diuréticos,
enemas e laxantes), são mais impulsivas e apresentam aspectos de personalidade
diferentes de pacientes que usam apenas práticas restritivas e são mais
perfeccionistas e obsessivas” (GARNER et al., 1993; WONDERLICH e MITCHELL,
2001 apud Abreu e Filho).
Em analogia ao transtorno alimentar, caracterizado como “bulimia nervosa,
por sua vez, caracteriza-se por grande ingestão de alimentos de uma maneira muito
rápida e com a sensação de perda de controle, os chamados episódios bulímicos.
Estes são acompanhados de métodos compensatórios inadequados para o controle
de peso, como vômitos autoinduzidos (em mais de 90% dos casos), uso de
medicamentos (diuréticos, laxantes, inibidores de apetite), dietas e exercícios
físicos, abuso de cafeína ou uso de cocaína” (FAIRBURN, 1995 apud Abreu e
Filho).
A partir dos sintomas de Anorexia Nervosa, alguns dos critérios que
podem caracterizar transtornos alimentares estão diagnosticados na Classificação
Internacional de Doenças (CID-10) como:
Quadro 01 – Sintomas da anorexia nervosa
ANOREXIA NERVOSA- SINTOMAS
Redução de peso e sua manutenção abaixo do normal pelo uso de métodos inadequados de
controle de peso, como os chamados “métodos purgativos” (uso de laxantes ou purgantes);
Medo intenso de engordar;
Distorção na imagem corporal;
Distúrbios endócrinos: amenorreia e diminuição da libido (da potência sexual nos homens).
Fonte: (SOPHIA, p.4, 2010)
Enquanto que, em relação à Bulimia Nervosa, os critérios são:
Quadro 02 – Sintomas da bulimia nervosa
BULIMIA NERVOSA- SINTOMAS
Ingestão descontrolada de uma quantidade exagerada de alimentos (compulsão alimentar);
Tentativas de evitar o ganho de peso pelo uso de métodos compensatórios (abuso nos laxantes,
diuréticos, hormônios tireoidianos e drogas anorexígenas (que reduzem o apetite), jejuns e
exercícios físicos vigorosos);
Preocupação excessiva com o peso corporal.
Fonte: (SOPHIA, p.4, 2010). 
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Conforme os sintomas relacionados acima, observa-se que ambos os
transtornos alimentares agridem a integridade física e psíquica, acarretando em
graves consequências.
E, para que nossos estudos demonstrem sua importância em relação à
necessária intervenção junto às demandas que sofrem bullying e podem
desenvolver transtornos alimentares, vamos apresentar a política de segurança
alimentar, como direito conquistado, que prevê os mínimos necessários em termos
nutricionais, para garantir qualidade de vida.
POLÍTICA DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL
Das políticas públicas, a elencada para este estudo é a de Segurança
Alimentar e Nutricional, pois visa garantir o direito à alimentação adequada.
Criado em 2006, o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional –
SISAN, tem como objetivo implementar políticas que assegurem a alimentação
adequada como um direito fundamental, intitulada sob a Lei n° 11.346/2006, que
prevê:
Art. 2o A alimentação adequada é direito fundamental do ser humano,
inerente à dignidade da pessoa humana e indispensável à realização dos
direitos consagrados na Constituição Federal, devendo o poder público
adotar as políticas e ações que se façam necessárias para promover e
garantir a segurança alimentar e nutricional da população (BRASIL, 2006).
De acordo com a Lei de Segurança Alimentar e Nutricional, a parcela da
população que desenvolve transtornos alimentares não estaria acessando o direito
garantido em tela de uma alimentação com qualidade e adequada, sendo que
Art. 2º - § 2o É dever do poder público respeitar, proteger, promover,
prover, informar, monitorar, fiscalizar e avaliar a realização do direito
humano à alimentação adequada, bem como garantir os mecanismos para
sua exigibilidade (BRASIL, 2006).
Quanto à rede de equipamentos que abrange o Sistema de Segurança
Alimentar e Nutricional - SAN, a mesma conta com estruturas físicas que viabilizam
o acesso dos (as) usuários (as). Dentre os equipamentos disponíveis para o
incentivo a programas compostos pelo SAN destacam-se equipamentos de oferta de
alimentação adequada e saudável, como restaurantes populares e cozinhas
comunitárias; além de equipamentos de abastecimento e combate ao desperdício
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de alimentos: Unidades de Distribuição da Agricultura e Bancos de Alimentos
(CAISAN, 2012/2015).
Cabe à Politica Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional promover
meios para que usuários (as) sintam-se incluídos (as) de alguma forma em
programas que possam garantir-lhes o acesso à alimentação. Nesse sentido,
usuários que sofrem de transtornos alimentares requerem estímulos como, por
exemplo, a reeducação alimentar, para que se adquiram novos hábitos saudáveis
ao corpo.
Por meio dos planos e ações, elaborados pela Política de Segurança
Alimentar e Nutricional, tem-se como base o monitoramento de programas como o
Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional – SISVAN, que identifica grupos
populacionais vulneráveis em relação à desnutrição ou obesidade, visto realizarem
ações de pesagem em diversos espaços públicos, como escolas e unidades de
saúde. O SISVAN é considerado um instrumento importantíssimo na área da saúde,
pois com uma ferramenta dessa magnitude é possível prevenir futuros riscos e
agravos aos adolescentes, tanto em relação à obesidade, quanto em relação à
desnutrição, podendo esta última estar ou não associada a transtornos alimentares
(BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
O bullying entre adolescentes pode levar a diversas doenças, dentre elas os
transtornos alimentares, e, portanto, é um direito de seus portadores serem
atendidos pelas políticas públicas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do estudo bibliográfico desenvolvido sobre a polêmica do bullying e os
transtornos alimentares, no período da adolescência, concluiu-se que a relação
exposta entre a problemática do bullying e transtornos alimentares e o
monitoramento das políticas públicas contribui de forma explícita para a proteção
dos direitos da criança e do adolescente.
Nesse sentido, a pesquisa demonstrou que o bullying está relacionado como
um dos fatores preponderantes desencadeadores da síndrome dos transtornos
alimentares no período da adolescência.
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Em decorrência aos novos conceitos de corpos magérrimos, expôs-se a
preocupação em divulgar políticas e legislações para que esta imposição seja
monitorada.
Assim, quando o indivíduo apela para táticas agressivas, como indução de
vômitos e restrição na alimentação quase que total, para perder peso rapidamente,
sem seguir um acompanhamento clínico ou nutricional, este indivíduo somente se
preocupa com sua forma física esbelta, não dispende cuidados com o corpo,
adoecendo e necessitando atendimento e acompanhamento de profissionais
competentes, como médicos, assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras e
nutricionistas, por exemplo, inseridos nas redes de políticas públicas, como a de
segurança alimentar e nutricional e a de saúde, no sentido de contribuírem para a
sua reabilitação.
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