O ESTADO LIBERAL NA HISTÓRIA E A EDUCAÇÃO Marisete Lourdes Dal’Santo1 O Estado, se despótico ou político, sempre visa à manutenção do status quo. A sua concepção surgiu com os gregos, na Antiguidade Clássica. A lei era fruto da democracia direta: cidadãos (politikos) no espaço público (ágora). Com a modernidade e ascensão da burguesia, a igreja de Roma perde espaço. As teorias liberais que surgem, questionam a necessidade da submissão do homem ao Estado. Locke afirma que o direito à propriedade privada é natural. O Estado deve existir para garantir essa prerrogativa. O cerne do liberalismo é a distinção entre Estado e Sociedade. O liberalismo de Locke recrudescido é o que predomina no mundo de hoje: o neoliberalismo. Um período histórico em que o Estado não foi somente o fiel escudeiro do mercado, foi a época do Estado de Bem-Estar Social. A crise mundial do capitalismo culminada com a queda da bolsa de valores de Nova Iorque em 1929, fomenta os movimentos sociais reivindicatórios que culminariam no wellfare state cujo ápice ocorre depois da segunda guerra mundial o qual trouxe consideráveis avanços sociais. O capital sob a economia keynesiana viu-se obrigado a reduzir sua avidez pactuando com o trabalho garantindo, assim, o mínimo de bem-estar social. As garantias sociais passaram a ser vistas como direitos institucionalizados e não mero assistencialismo. Neste quadro, permite-se uma educação participativa, inclusiva. Muitos direitos sociais que o neoliberalismo está deteriorando, na atualidade, são conquistas de movimentos sociais daquela época. Sua meta fundamental é o Estado mínimo. Através de suas instituições, é guardião da propriedade privada. Disto advêm a onda das privatizações, a concentração de renda, a exclusão social. Neste panorama, a educação deve enquadrar-se e preparar mão-de-obra qualificada para o capital. A escola deve ser “eficiente” aos moldes de uma empresa. Com um mínimo de recursos, produzir muito, com “Qualidade Total”. O mercado faz a seleção do “melhor”. É a mão “invisível” que “lava as mãos” diante dos direitos elementares de todo o cidadão: saúde, segurança, habitação, educação. Para que a educação – encarada como despesa e não investimento – esteja a serviço do sistema, induz-se ao dogma de que a gestão educacional eficiente é originada na racionalização administrativa. 1Graduada e pós-graduada em Letras; especializanda em Gestão Educacional (UFSM). Professora do Ensino Básico do C. E. Dr. Liberato Salzano V. da Cunha www.agora.ceedo.com.br Ano 05 - Nº 09 – Dezembro de 2009. As práticas educacionais democráticas, a partir dos anos 90 retrocedem: vão se tornando técnicas, especializadas, fordistas. Com o pretexto da “neutralidade” científica, a política educacional inclusiva, coletiva, vai perdendo espaço. Planos de carreira são desmantelados sob a batuta de bancos internacionais, promovem fechamento de escolas para “conter gastos”, pedidos de demissão “voluntária”, terceirização, precarização das conquistas profissionais, “enturmação”, material pedagógico padronizado, programas como Amigos da Escola são exemplos gritantes das mazelas na educação sob um Estado neoliberal. Há a hegemonia da “minoria esmagadora” diante de uma sociedade desmobilizada. É justamente nesta situação que, paradoxalmente, a educação precisa ser o antídoto. Miguel Arroyo diz que o gestor deve estar atento e não reproduzir uma gestão capitalista na escola sob pena de reproduzir a sociedade excludente. Para isso não ocorrer, é fundamental priorizar o caráter político e pedagógico em detrimento ao tecnicismo. Encarar o campo educacional como um espaço de luta pela legitimação de diferentes e conflituosos projetos de sociedade, é conditio sine qua non para visar à cidadania. Referências FONTANA, Hugo. Fundamentos filosóficos, políticos e sociais da gestão educacional. Plataforma moodle, UFSM, 2009. http://educação.uol.com.br/sociologia/ult4264u30.1htm www.agora.ceedo.com.br Ano 05 - Nº 09 – Dezembro de 2009. Cerro Grande - RS