ECONOMIA | 27 QUINTA, 02 DE JUNHO DE 2016 PAÍS EM CRISE BRASIL COMPLETA DOIS ANOS DE CRISE Queda do PIB no primeiro trimestre foi de 0,3% DIVULGAÇÃO RIO O desempenho fraco da economia brasileira nos três primeiros meses de 2016 – com uma retração do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,3% – compõe o ciclo de dois anos de recessão no país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse resultado, no entanto, foi melhor do que previa o mercado financeiro, que esperava uma queda ainda maior, entre 0,8% e 1,4% no período. Em valores correntes, o PIB ficou em R$ 1,47 trilhão no primeiro trimestre deste ano. Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, explicou que, a manutenção das condições econômica ajuda a explicar a retração atual. “A conjuntura do primeiro trimestre deste ano está muito parecida com a do quarto trimestredoanoanterior.Algumas taxas vieram melhores, mas em termos do desempenho da economia não há grandes mudanças”. Na comparação com o mesmo período de 2015, a retração econômica brasileira foi de 5,4% nos três primeiros meses do ano – o oitavo recuo consecutivo desse indicador. E as perspectivas para o final do ano são desanimadoras: o relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvi- EM QUEDA DESEMPENHO “Em apenas dois anos, entre o segundo trimestre de 2014 e o primeiro de 2016, a queda no PIB real per capita se aproxima dos dois dígitos, superando o recuo de 7,6% acumulado na chamada ‘década perdida’ dos anos 1980” ALBERTO RAMOS, ECONOMISTA DO GOLDMAN SACHS Indústria registrou a menor retração em vários meses, com queda de 1,2% mento Econômico (OCDE) prevê um recuo do PIB brasileiro de 4,3% em 2016 e 1,7% em 2017. Para o economista-chefe para América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos, com o acúmulo de quedas, a contração já “adquiriu algumas das características de uma depressão econômica”. “Em apenas dois anos, entre o segundo trimestre de 2014 e o primeiro de 2016, a queda no PIB real per capita se aproxima dos doisdígitos,superandoorecuo de 7,6% acumulado na chamada ‘década perdida dos anos 1980’ (período que, na verdade, somou 12 anos, entre 1981 e 1992)”, compara o especialista. A alta do consumo do governo foi de 1,1% e, se- gundo o IBGE, é explicada por um corte menor nas despesas públicas, após quatro trimestres de reduções mais intensas. Na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, os gastos do governo caíram 1,4%. Já os investimentos foram reduzidos em 2,7% no início deste ano. Pela lado da demanda, o consumo das famílias foi destaque negativo, com uma queda de 1,7%. Na comparação com o primeiro trimestre de 2015, o consumo das famílias sofreu um tombo de 6,3%. O indicador também completou oito trimestres de queda nessa comparação. Mas a economia brasileira também apresentou sinais de melhora em alguns indicadores. Na indústria, por exemplo, aretração foia menor em vários meses. Com queda de 1,2%, o setor registrouomenorrecuodesde os três primeiros meses do ano passado, quando registrou o mesmo resultado. O setor de serviços também reagiu. A queda de 0,2% foi a menos intensa dos últimos cinco trimestres. ANÁLISE Mais uma década perdida A cada novo dado econômico, a crise brasileira parece mais e mais grave. Essa semana, dados sobre emprego apontam para mais de 11 milhões de desempregados, e estimativas de crescimento para esse ano ficam em torno de uma queda de 4% do PIB. Nossa situação atual é muito semelhante à vivida na década de 1980, a chamada década perdida. Depois de um período de grande crescimento, perdemos 10 anos patinando com a economia e, dessa vez, parece que será igual. Com a queda do PIB desse ano, estaremos no final de 2016 na mesma situação que estávamos em 2011. Assim, para que o tamanho da economia brasileira volte a ser como era em seu ápice, em 2013 e 2014, precisamos crescer aproximadamente 2% por ano nos próximos 4 anos, o que, diga-se de passagem, é muito difícil visto que as melhores previsões para crescimento em 2017 estão em torno de 1%. Portanto, não é difícil crer que estamos vivendo mais uma década perdida. O que precisamos fazer é tirar lições a partir disso, votar reformas estruturais (como a da Previdência) para que nosso crescimento seja sustentável no longo prazo”. — BRUNO FUNCHAL PROFESSOR DE ECONOMIA DA FUCAPE