Resenha: Livro – Corpo Afecto: O Psicólogo no Hospital Geral.* O livro de Marília A. Muylaert nos apresenta a prática psicológica no hospital geral de uma posição que passa pela escuta do sofrimento que ecoa nesta instituição. Já na apresentação do livro, Alfredo Naffah Neto escreve sobre a autora: “...uma pesquisadora que, recusando-se a meramente exercer a função habitualmente delegada ao psicólogo hospitalar, conseguiu usar o seu corpo como caixa de ressonância à dor e ao desejo dos doentes, transformando, então, estas intensidades em fontes de indagação e conhecimento”. Na introdução, Marilia escreve sobre seu lugar dentro do hospital. Lugar este que surge a partir de um convite para integrar a equipe da Enfermaria de Cirurgia Cardiovascular, dos movimentos necessários para que pudessem ir se abrindo brechas por onde se infiltrar, estabelecendo laços que possibilitem a sustentação deste lugar. No primeiro capítulo, a autora conta o caso de uma paciente da Enfermaria de Neurologia que sofria de uma paralisia progressiva. Esta paciente necessita de uma visitaconsulta ao leito, e daí desenvolve-se uma série de encontros entre psicóloga/paciente. Neste atendimento, a remissão dos sintomas da paciente movimentam então a prática na enfermaria do hospital, abre-se espaço de escuta, de partilha, o que dá maior suportabilidade ao trabalho cotidiano da Enfermaria. Passando ao segundo capítulo, a autora traz o percurso histórico da instituição, descrevendo também a entrada da psicologia na mesma desde as aulas ministradas aos alunos da faculdade de medicina até o trabalho institucional, fazendo a escuta dos doentes e dos profissionais. “(...) suportar que em seu oficio há dor morte” dando para estes profissionais suporte necessário para o exercício profissional. No decorrer do livro, já no terceiro capítulo, a autora na medida em que nos apresenta a instituição e o trabalho que lá se desenvolve descreve sua inserção, suas dificuldades e êxitos diante de um trabalho tão complexo. “Nós não temos um corpo; nós somos um corpo”. Com esta citação, a autora inicia o quarto capítulo, onde expõe o trabalho desde um lugar de receptáculo das dores que circulam nesta instituição. A partir deste lugar receptáculo é que a autora se permite avançar em seu trabalho, enquanto profissional da psicologia dentro desta equipe hospitalar. Ao trazer o trabalho em equipe, no quinto capítulo do livro, a autora nos descreve a institucionalização que perpassa os profissionais que ali trabalham, a tentativa destes profissionais em amenizar a angústia dos pacientes internados. Para finalizar, a autora faz um alinhavo das questões discutidas no decorrer de todo o livro, descreve a experimentação de lugares onde a psicologia ainda não havia trilhado, e do inevitável encontro com o incômodo de abandonar as esperanças de quietude ao se defrontar com o não saber. Enfim pode-se concluir que o livro Corpo Afecto nos traz a dimensão do que pode ser o trabalho da psicologia dentro do hospital. E podemos pensar, para além do hospital, que o trabalho da psicologia pode ser “inventado” em qualquer instituição em que se trabalha. Desde que o profissional esteja agindo de acordo com sua ética, nada o impede de trilhar caminhos novos para fazer sua escuta e possíveis intervenções. Outro ponto que nos faz pensar o livro é do lugar que o ouvido deve ter no hospital; não só o ouvido do psicólogo, mas de todos os profissionais que se envolvem com o paciente. Foi muitas vezes este o papel da autora, o de inaugurar um espaço de escuta da dor e do sofrimento pelos quais estão passando essas pessoas, doentes ou cuidadores. * Fransiele Luppi, extencionista da CPU e Patrícia Veridiana Fagundes da Silveira, estagiária da CPU.