0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL UNIDADE FIOCRUZ CERRADO PANTANAL SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DE MATO GROSSO DO SUL MÁRCIA REGINA BORTOLAZZI GAVIOLI PADRONIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO TRATAMENTO DE ÚLCERAS VENOSAS NA ATENÇÃO BÁSICA TACURU 2011 1 MÁRCIA REGINA BORTOLAZZI GAVIOLI PADRONIZAÇÃO DA ASSISTENCIA DE ENFERMAGEM NO TRATAMENTO DE ÚLCERAS VENOSAS NA ATENÇÃO BÁSICA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Unidade Fiocruz Cerrado Pantanal, como parte dos requisitos para obtenção do titulo de especialista em Atenção Básica em Saúde de da Família. Orientadora: Enfa. Michele Batiston Borsoi TACURU 2011 2 DEDICATÓRIA Este trabalho é dedicado ao meu esposo Aroldo e as minhas filhas Bárbara e Laura, que são o grande amor da minha vida 3 AGRADECIMENTOS Ao governo de Mato Grosso do Sul, a Secretaria Estadual de Saúde e a Unidade FIOCRUZ Cerrado Pantanal, por disponibilizarem o curso e dar oportunidade aos profissionais da saúde do estado de se especializarem. A Tutora Michele, meus sinceros agradecimentos, não apenas pela orientação firme e segura demonstrada na elaboração deste trabalho, mas também pelo incentivo, confiança e amizade neste tempo de convivência. Aos pacientes portadores de feridas crônicas atendidos no Centro de Saúde Nair Maria Bressan, que por seu sofrimento e esperança motivaram a ousadia do desenvolvimento desta experiência. A equipe de funcionários do Centro de Saúde Nair Maria Bressan, pela importante colaboração no desenvolvimento deste projeto. A minha família, pela paciência, suporte a carinho durante esta caminhada. Aos meus colegas Vitor e Adriano, pela amizade e suporte. 4 EPÍGRAFE [...] talvez não tenhamos conseguido fazer o melhor, mas lutamos para que o melhor fosse feito [...] Não somos o que deveríamos ser, mas somos o que iremos ser. Mas graças a Deus não somos o que éramos (Martin Luther King). 5 RESUMO Foi realizada uma investigação sobre a implantação de um protocolo de tratamento de úlceras venosas na atenção básica no município de Tacuru, estado de Mato Grosso do Sul, com o objetivo de descrever experiência de sistematização de tratamento de úlceras venosas crônicas atendidas na atenção básica. Optou-se pelo desenvolvimento de uma pesquisa de intervenção. Trata-se de um desenho de pesquisa individuado ou agregado em que o investigador introduz algum elemento crucial para a transformação do estado de saúde dos indivíduos ou grupos participantes do estudo, visando testar hipóteses etiológicas ou avaliar eficácia ou efetividade de procedimentos diagnósticos preventivos ou terapêuticos. O estudo foi aplicado a sete pacientes, sendo 3 do sexo feminino e 4 do sexo masculino, com média de idade de 53,8 anos. Os pacientes tiveram seus dados clínicos registrado na consulta de enfermagem e seguiram realizando o tratamento compressivo. Dos 7 pacientes, 3 receberam alta do tratamento após 3 meses. Nestes a ferida foi totalmente curada. Em dois destes pacientes que receberam alta após 3 meses de tratamento foi realizada cirurgia de varizes antes do tratamento com bota de Unna. Dois pacientes que se encontravam e fase final do tratamento após oitavo mês apresentaram recidiva. Nestes dois observamos que o fator principal para esta ocorrência foi o socioeconômico. O primeiro caso ocorreu quando da cura do paciente, o mesmo foi submetido a pericia do INSS e como o perito o informou que iria propor o corte do beneficio, o mesmo optou por abandonar o tratamento e vista de perder seu ganha pão. Outro paciente ficou viúvo durante o tratamento, o que resultou em uma piora significativa da adesão ao tratamento. Todos os pacientes referiram melhoria da qualidade de vida com o tratamento utilizando a Bota de Unna. O tratamento necessitou de uma mudança na abordagem dos curativos, o que possibilitou uma econômica da ordem de 1000% em relação ao tratamento destes pacientes. Concluímos que nestes pacientes é imperativo o uso dos recursos da Clínica Ampliada e do tratamento Holístico, bem como a necessidade de inclusão de profissional fisioterapeuta, psicólogo e assistente social à equipe de atendimento de portadores de úlceras venosos e por fim concluímos que são necessárias novas pesquisas acerca da abordagem e tratamento de feridas crônicas na atenção básica. Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde. Úlcera Venosa. Enfermagem. Curativos Oclusivos. 6 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACS – Agente Comunitário de Saúde CEAP – Avaliação Clínica Baseada em Sinais Clínicos, Etiologia, Anatomia e Fisiopatologia ESF – Estratégia Saúde da Família INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana ITB – Índice Tornozelo Braço IVC – Insuficiência Venosa Crônica mmHg – Milímetros de Mercúrio (medida de Pressão) MMII – Membros Inferiores MS – Sigla da Unidade Federativa do Estado de mato Grosso do Sul PSF – Programa Saúde da Família PVPI – Iodo-Polivinilpirrolidona 7 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Custo comparativo da limpeza diária e semanal.................................. 29 Quadro 2 - Custos comparativo da Bota de Unna – receita artesanal, e Bota de Unna industrializada marca Curatec.................................................... Quadro 3 - 30 Comparativo final de custo do tratamento com uso de cobertura tradicional (com troca diária) e uso de bota de Unna artesanal 31 (Troca Semanal)................................................................................... 8 SUMÁRIO 1 1.1 2 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.9.1 2.9.2 2.9.3 3 3.1 3.2 4 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 5 5.1 5.1.1 5.1.2 5.1.3 6 INTRODUÇÃO.................................................................................................. JUSTIFICATIVA............................................................................................... REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.......................................................................... ENFERMAGEM E O TRATAMENTO DE FERIDAS CRÔNICAS................. REVISÃO DE ANATOMIA E FISIOLOGIA..................................................... FATORES DE RISCO PARA A INSUFICIÊNCIA VENOSA CRÔNICA....... EPIDEMIOLOGIA.............................................................................................. TEORIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA DOENÇA VENOSA........... ASPECTOS CLÍNICOS...................................................................................... AVALIANDO O PACIENTE PORTADOR DE ÚLCERA VENOSA............... AVALIAÇÃO DE FATORES QUE PODEM IMPEDIR A CICATRIZAÇÃO DE FERIDAS....................................................................................................... TRATAMENTO.................................................................................................. Eliminação do Edema........................................................................................ Terapia de Compressão com Uso de Meias Elásticas e Bota de Unna.......... Educação do Paciente......................................................................................... OBJETIVOS....................................................................................................... OBJETIVO GERAL............................................................................................ OBJETIVO ESPECÍFICO................................................................................... METODOLOGIA.............................................................................................. TIPO DE ESTUDO.............................................................................................. LOCAL DO ESTUDO......................................................................................... POPULAÇÃO E AMOSTRA.............................................................................. INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS..................................................... PROCEDIMENTOS PARA A APLICAÇÃO DA BOTA DE UNNA............... PROCEDIMENTOS ÉTICOS............................................................................. RESULTADOS................................................................................................... PROCEDIMENTOS PARA OS CURATIVOS................................................... Procedimentos da Equipe de Tratamento de Feridas..................................... Comparativo de Custos..................................................................................... Evolução dos Pacientes...................................................................................... CONCLUSÕES.................................................................................................. REFERÊNCIAS................................................................................................. APÊNDICE......................................................................................................... APÊNDICE A – receita da bota de Unna artesanal........................................ APÊNDICE B – técnica de limpeza da Ferida................................................ APÊNDICE C – técnica de aplicação da bota de Unna.................................. APÊNDICE D – sistematização da consulta de enfermagem em pacientes com feridas crônicas .......................................................................................... APÊNDICE E – caso clínico.............................................................................. APÊNDICE F – registro fotográfico................................................................. APÊNDICE G – projeto de intervenção.......................................................... 09 09 11 11 12 14 14 14 15 17 21 22 22 22 24 25 25 25 26 26 26 27 27 27 27 28 28 28 29 32 34 35 36 37 38 40 42 44 49 50 9 1. INTRODUÇÃO 1.1 JUSTIFICATIVA Na prática dos enfermeiros das equipes de Saúde da Família, um dilema que se impõe é a dificuldade de tratar pacientes com feridas crônicas, e dentre estas, as que mais chamam a atenção pelas dificuldades de tratamento são as úlceras venosas. Muitas vezes o tratamento destas feridas gera angustia para a equipe de enfermagem, uma vez que o tratamento é dispendioso, a assistência dura anos e a cura parece ser impossível, não raro encontrar pacientes com feridas de mais de cinco anos de evolução. Os pacientes apresentavam graves problemas sociais e de saúde, e alguns deles apresentavam estas feridas por mais de 10 anos, o que causava custos elevados do tratamento e sua condição de saúde não era melhorada pelo tratamento. Como não haviam técnicas padronizadas, também não havia padronização de materiais e medicamentos. Geralmente o curativo era feito a partir da abrasão da ferida com escova ou gaze, a anti-sepsia com iodo-polividona e a cobertura seca, tratamento este que se mostrava ineficiente. Um dos motivos apontados para esta dificuldade foi à inexistência de padronização, ou seja, cada médico, ou mesmo cada enfermeiro ou auxiliar de enfermagem possuíam suas próprias técnicas de tratamento e curativo. E a inexistência de uma padronização, ou o uso de técnicas inadequadas não ajuda o paciente, podendo muitas vezes trazer mais prejuízos que benefícios. Os portadores de úlceras venosas, em associação, geralmente apresentam sérios problemas sociais e de saúde, que cooperam para a prolongada evolução deste problema de saúde, causando elevação dos custos de tratamento e uma baixa adesão ao tratamento. A inexistência de padronização dos curativos destes pacientes pode favorecer ao uso de técnicas inadequadas, uso de produtos inócuos ou prejudiciais. Geralmente o curativo é feito a partir da abrasão da ferida com escova ou gaze, a antisepsia com polivinilpirrolidona-iodo (PVPI) tópica e cobertura seca, tratamento este que se mostra ineficiente, prolongando o tratamento e piorando a qualidade de vidas destes pacientes. Outra dificuldade é a indisponibilidade de materiais adequados, uma vez que, por não serem utilizados, não fazem parte do arsenal terapêutico do tratamento de feridas das unidades da Estratégia Saúde da Família (ESF). Os produtos geralmente 10 disponibilizados são caros, ineficazes e tornam o tratamento mais dispendioso de tempo, de recursos humanos e exageradamente caro. O enfermeiro, que é o profissional responsável pela avaliação e prescrição do curativo, muitas vezes se depara com situações complicadas, como quando se observam profissionais que prescrevem tratamentos nocivos, tais como a abrasão da ferida com escovas, uso de água oxigenada, proscrita para este tipo de tratamento, uso de pomadas sem efeito, uso de açúcar e muitos outros tratamentos ineficazes. A qualidade de vida destes pacientes geralmente é seriamente prejudicada, pois as feridas levam ao isolamento, ao deterioro do estado de saúde, psicológico, causando até mesmo a morte do paciente devido à gravidade de seu estado de saúde e as complicações advindas desta doença. É necessária a capacitação da equipe da ESF para o tratamento de úlceras venosas e feridas crônicas, a padronização de materiais e técnicas para a assistência a estes pacientes, bem como a sistematização da assistência de enfermagem. Pois estas iniciativas podem promover um método eficaz e economicamente viável de tratamento. A proposta deste estudo seria a pesquisa bibliográfica e relato de experiência, visando o aperfeiçoamento de um protocolo para diagnóstico e tratamento de úlceras venosas, a ser apresentado aos profissionais da ESF e das unidades básicas de saúde (UBS) do município de Tacuru - MS, visando diminuir custos, tornar os tratamentos mais eficientes e ainda relatar a experiência da equipe de enfermagem da ESF, com o uso de tratamento compressivo por meio da Bota de Unna, de fabricação “artesanal” como uma alternativa mais eficaz ao tratamento destes pacientes. 11 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 ENFERMAGEM E O TRATAMENTO DE FERIDAS CRÔNICAS No Brasil, as feridas acometem a população de forma geral, independente de sexo, idade ou etnia, determinando um alto índice de pessoas com alterações na integridade da pele, constituindo assim, um sério problema de saúde pública. Porém não há qualidade nos dados estatísticos que comprovem este fato, devido aos registros desses atendimentos serem escassos. Contudo, o surgimento de feridas onera os gastos públicos e prejudica a qualidade de vida da população (BRASIL, 2002). Sabe-se que o profissional de enfermagem possui um papel fundamental no que se refere ao cuidado holístico do paciente, como também desempenha um trabalho de extrema relevância no tratamento de feridas, uma vez que tem maior contato com o mesmo, acompanha a evolução da lesão, orienta e executa o curativo, bem como detém maior domínio desta técnica, em virtude de ter na sua formação, componentes curriculares voltados para esta prática e da equipe de enfermagem desenvolvê-la como uma de suas atribuições (TUYAMA et al, 2004). O enfermeiro da ESF tem um papel de fundamental importância na assistência ao portador de feridas e ao portador de feridas crônicas, pois após a alta hospitalar deste paciente, ele retorna para a comunidade e apresenta uma necessidade maior de atenção, que será dada pela ESF. Dentre estes cuidados, os curativos em domicilio e a prevenção de ulceras de pressão são de grande importância para a melhora da qualidade de vida destes pacientes. No entanto o que geralmente se observa é que cada profissional realiza um tipo de curativo, geralmente sem um embasamento cientifico para a assistência, levando a complicações das feridas tais como a não cicatrização, a infecção, o retardo no processo de cura e o aumento de custos tais como gastos com materiais e insumos, muitas vezes desnecessários e inócuos para o problema de saúde apresentando. A enfermeira, juntamente com os outros profissionais da ESF participa da elaboração do plano de assistência a estes pacientes, no entanto, geralmente o médico é quem indica o tratamento, prescrevendo absurdos como uso de escovação de feridas, medicamentos de uso já proscritos tais como água oxigenada, sabidamente nocivos para o processo de cicatrização da ferida. 12 Como o profissional de enfermagem está diretamente relacionado ao tratamento de feridas, seja em serviços de atenção primária, secundária ou terciária, deve resgatar a responsabilidade de manter a observação intensiva com relação aos fatores locais, sistêmicos e externos que condicionam o surgimento da ferida ou interfiram no processo de cicatrização. Para tanto, é necessária uma visão clínica que relacione alguns pontos importantes que influenciam neste processo, como o controle da patologia de base (hipertensão, diabetes mellitus), aspectos nutricionais, infecciosos, medicamentosos e, sobretudo, o rigor e a qualidade do cuidado educativo (TENORIO & BRAZ, 2002). Por ser de suma importância para a saúde do paciente, a avaliação para cuidar de feridas é um processo dinâmico, complexo e que requer uma atenção especial principalmente quando se refere a uma lesão crônica. Deve-se levar em consideração que as feridas crônicas evoluem rapidamente, são refratárias a diversos tipos de tratamentos e decorrem de condições predisponentes que impossibilitam a normal cicatrização. Muitos enfermeiros não percebem a importância de avaliar o cliente que apresenta uma ferida para identificar os fatores que impedem ou retardam a cicatrização. Empenham-se em realizar infindáveis sessões de curativos em ferimentos que não cicatrizam, culpando este ou aquele produto, e não se apercebem que a causa está, muitas vezes, relacionada a um status nutricional inadequado, às infecções subjacentes, às doenças crônicas descompensadas e a muitos outros fatores que interferem neste complexo processo sistêmico da cicatrização (JORGE E DANTAS, 2003). É possível projetar um caminho clínico, pelo qual o profissional de enfermagem acompanhará a evolução das diversas etapas do tratamento da ferida, como também realizará um diagnostico e planejamento de tratamento adequados, através de métodos terapêuticos que poderão ser aplicados juntamente com uma equipe multidisciplinar que, por sua vez, utilizará procedimentos e materiais, com a finalidade de levar a cicatrização da ferida sem complicações, com a restauração das funções e prevenção das seqüelas (FERREIRA E PÉRICO, 2002). 2.2 REVISÃO DE ANATOMIA E FISIOLOGIA O sistema venoso das extremidades inferiores é semelhante a uma escada composta por três seções: sistema venoso profundo formado pelas veias femorais, 13 poplíteas e tibiais; o sistema venoso superficial formado pelas veias safenas magna ou interna e veias safenas parva ou externa e, por fim as veias perfurantes ou comunicantes, que ligam o sistema profundo e o superficial (BENFATI; CALIRI, 2010). As veias são tubos que podem se romper; seu formato e volume são determinados pela pressão transmural, sendo esta a diferença de pressão entre a força intraluminal, que age para expandir a veias, e as pressões externas, que as comprimem. Uma veia pode aumentar muito seu volume intraluminal a partir de elevações mínimas da pressão venosa. Assim, as veias podem agir como um reservatório para o volume intravascular. Quando um indivíduo encontra-se em pé, sua hemodinâmica é complexa. Forças hidrostáticas adicionais impostas pela gravidade precisam ser superadas para que o sangue retorne ao coração. A força de condução é fornecida pelo mecanismo de impulso músculo-venoso, que é semelhante a uma bomba, e a energia é provida pela contração dos músculos da perna. Quando o músculo da perna contrai em volta das veias profundas, o sangue é pressionado das veias em direção ao coração. Torr é a unidade usada para esta mensuração. Um torr é a pressão requerida para elevar em 1 mm a coluna de mercúrio quando este é de densidade padrão e é sujeito a aceleração padrão. Pressões acima de 200 torr podem ser geradas a partir da contração dos músculos da panturrilha da perna. A ativação funcional normal ocorre durante o movimento de caminhada com a flexão dorsal do calcanhar acima da posição 90 graus. Estes músculos enfraquecem rapidamente quando não são utilizados. As válvulas venosas exercem um papel essencial juntamente com a bomba músculo-venosa. Elas evitam o fluxo retrógrado e direcionam o fluxo sangüíneo centralmente em direção ao coração. As válvulas das veias perfurantes permitem que o sangue realize o fluxo das veias superficiais paras as profundas. Pressões venosas em indivíduos em pé e em repouso são de 80 a 90 torr. As pressões venosas durante o exercício são de 20 torr devido ao esvaziamento da circulação venosa. Válvulas venosas danificadas ou a ação ineficiente da bomba muscular da panturrilha da perna reduzirão a queda na pressão venosa durante a caminhada ou realização de exercícios. Com o indivíduo deitado, a pressão hidrostática imposta pela gravidade é eliminada. O fluxo venoso torna-se fásico e é principalmente ativado por alterações nas pressões abdominais e torácicas induzidas pelo esforço respiratório. 14 2.3 FATORES DE RISCO PARA A INSUFICIÊNCIA VENOSA CRÔNICA São considerados fatores de risco para o desenvolvimento de insuficiência venosa crônica e úlceras venosas a história de trombose venosa profunda, história de cirurgia de varizes, períodos longos na posição sentada ou em pé, neste caso o profissional de enfermagem deve explorar em relação à ocupação ou tipo de trabalho, obesidade, predominância nas pessoas do sexo feminino em aproximadamente 62 % dos casos, em pacientes com gestações múltiplas, história de trauma sério nas pernas, debilidade congênita nas válvulas das veias na parte inferior da perna, história de presença de veias varicosas, massa tumoral que obstrui o fluxo sangüíneo, história de radioterapia e história de condições relacionadas à trombose, como a Mutação Leiden do Fator V; aumenta a trombose venosa de 5 a 10 vezes com uma prevalência de insuficiência venosa crônica de (IVC) de 23%. 2.4 EPIDEMIOLOGIA A maioria dos estudos epidemiológicos concentra-se na doença venosa avançada com a presença de úlceras. O maior número de pesquisas sobre a doença venosa tem sido realizado no Reino Unido e na Suécia, nestes encontrou-se que as úlceras venosas são o tipo de úlcera mais comum encontrado nas extremidades inferiores e são responsáveis por aproximadamente 76% das úlceras nas pernas, sendo que na maioria das pessoas, a primeira úlcera venosa aparece por volta da idade de 60 anos. Com o envelhecimento da população, as úlceras se tornam mais comuns, são as úlceras venosas as que apresentam um alto índice de recorrência, em torno de 60 a 72% e atualmente estima-se que o custo para o tratamento de úlceras venosas seja de 1 bilhão de dólares americanos. 2.5 TEORIAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA DOENÇA VENOSA Quando a pressão venosa excede o nível crítico, a pressão capilar também excede a capacidade de resistência das paredes e ocorre o estiramento capilar. Duas das teorias mais citadas sobre a doença venosa são a teoria do “cuff” de fibrina e a teoria do “trapping” das células brancas do sangue. Na teoria do “Cuff” de fibrina, o diâmetro dos poros de filtragem também aumenta, permitindo o refluxo passivo de proteínas maiores 15 como o fibrinogênio e eritrócitos estes por sua vez se cumulam no espaço intersticial, o fibrinogênio se polimeriza em grandes complexos de fibrina que não são quebrados facilmente, então os garrotes de fibrina rodeiam, encobrem e selam a base capilar, o que leva o oxigênio e outros nutrientes a ficarem presos no vaso e não conseguir atingir o espaço intersticial, levando a cessação do metabolismo celular, que por sua vez leva ao rompimento do tecido e a necrose ocorre., por fim os eritrócitos liberam hemoglobina, que é convertida em hemosiderina, produzindo, dessa forma, uma descoloração de cor marrom na pele. Por outro lado, na teoria do “trapping” das células brancas do sangue, ocorre que os leucócitos ficam presos em áreas de fluxo venoso reduzido, que leva a oclusão capilar e a liberação de enzimas proteolíticas e metabólitos de oxigênio, fazendo com que a função capilar fica prejudicada e promovendo o vazamento de fibrinogênio. 2.6 ASPECTOS CLÍNICOS O edema é a queixa inicial da maioria dos pacientes e se desenvolve insidiosamente, agrava-se durante o dia após a permanência em pé, e retorna ao normal depois de uma noite de sono. Pode apresentar marcas (pitting) no início, mas com as mudanças crônicas relacionadas ao endurecimento e fibrose, as marcas desaparecem. Geralmente o paciente se queixa de peso nas pernas. O edema freqüentemente mole e depressível (cacifo) e não se recomenda o uso de diuréticos, exceto para tratar outros problemas apresentados pelo paciente. O aparecimento de varizes freqüentemente precede o edema e causa sensação de peso nas pernas, elas refletem o envolvimento do sistema venoso superficial, um dos primeiros sinais é o Ankle flare, ou seja, uma explosão de pequenas vênulas dilatadas na área do tornozelo. Uma queixa freqüente nestes pacientes é dor nas pernas, que pode ser uma dor leve e permanente cujo alívio de dá com a elevação ou caminhadas, pode ser severa e envolver o sistema venoso profundo – claudicação venosa, ruptura de tecido e liberação de enzimas. Freqüentemente aliviada ou reduzida com a elevação da perna; a dor piora quando a perna estiver pendente durante um período de tempo, e é mais forte no final do dia, principalmente após longos períodos de permanência em pé ou na posição sentada. A Síndrome do golpe no tornozelo é referida em casos de úlceras venosas doloridas que ocorrem próximas do maléolo medial. São geralmente múltiplas e 16 pequenas. São doloridas, pois minúsculas veias ingurgitadas em volta do tornozelo ligam-se diretamente ao sistema venoso profundo sem a interferência de uma veia perfurante de proteção. A ruptura dessas veias causa hemorragia e várias úlceras pequenas. A terapia de compressão geralmente alivia a dor. Os enfermeiros devem ficar atentos, pois úlceras dolorosas podem indicar a presença de infecção bacteriana e ainda deve ser diferenciada da dor relacionada à doença arterial, tal como na claudicação intermitente da panturrilha da perna ou constrição local ao caminhar. Outro sinal clínico característico é a hemosiderose, que é causada pelo derramamento de hemácias através dos poros capilares dilatados e, o depósito de hemosiderina e a promoção da deposição de melanina. Este eritema seguido por descoloração amarronzada mais profunda da pele, em pessoas de pele mais escura, pode ter a cor negra e os pacientes poderão perguntar se é gangrena. Geralmente observada na região do maléolo medial, mas pode aparecer em qualquer área abaixo do joelho. A lipodermatoesclerose é o endurecimento e aparência grosseira da pele, a descoloração da hemosiderose, que pode modificar o formato da perna, dando-lhe a aparência de uma garrafa de champagne invertida. Pode-se perceber ainda a dermatite estática, esta se evidencia por pele seca crônica (descascando em partículas finas até a ictiose com escamação), prurido e arranhões e escoriação. Geralmente este sintoma é acompanhado por perda de pêlos nas extremidades e atrofia branca, que é percebida na forma de zonas avasculares de pele esbranquiçada, rodeadas por pigmentação localizada no tornozelo ou no pé e que não é específico à doença venosa. O surgimento de úlceras espontaneamente ou a partir de traumas é secundário à infecção ou resultantes de aumento do edema e ocorre principalmente na região acima do maléolo medial. Mais da metade das úlceras que ocorrem nessa região são primariamente de origem venosa. Tipicamente não são profundas, mas podem ocasionar a perda da pele em sua espessura total, com bordas bem marcadas ou com aparência de mapa, que é seguida de exsudação intensa. Estas úlceras geralmente têm uma base avermelhada, a menos que exista a presença de tecido necrosado, são geralmente encontradas acima do maléolo medial, podendo estar localizadas em qualquer região abaixo do joelho, mas não na sola do pé. Os fatores relacionados a não-cicatrização de úlceras venosas incluem a história de ligadura ou excérese venosa, cirurgia do quadril ou do joelho, índice tornozelo-braço 17 (ITB) < 0,8, fibrina amarela em mais de 50% da base da ferida, grande área ulcerada, ocorrência durante longos períodos chegando a durar meses. O fechamento da úlcera não significa que a doença venosa esteja curada. A úlcera é somente uma manifestação clínica. A doença venosa permanece e 80% das úlceras venosas são recorrentes. Antes de iniciar o tratamento por compressão, é importante descartar a Doença Arterial, esta por sua vez tem uma apresentação clínica diferente da insuficiência venosa crônica. Se manifesta pela perda de pêlos nas extremidades, pele brilhante e atrófica, pulsos periféricos fracos/ausentes, tempo de enchimento capilar prolongado, palidez quando a perna é levantada, aumento da dor após exercícios (claudicação intermitente) ou à noite (dor de repouso) e diminuição da dor na posição pendente. O paciente pode referir a necessidade de dependurar as pernas fora da cama à noite, podendo mencionar a necessidade de sair da cama e colocar as pernas para baixo. Em pacientes com obstrução de artérias de grande calibre, um sintoma característico são as feridas causadas pela isquemia local relacionada à diminuição do fluxo sangüíneo. A intervenção cirúrgica para restabelecer o fluxo sangüíneo pode ajudá-los bastante. Pacientes apresentando doença arterial em artérias de pequeno e grande calibre, tal como no diabetes mellitus, não têm resultados tão bons com a cirurgia arterial, por fim é importante frisar que a terapia de compressão não é utilizada para o tratamento de feridas associadas com a doença arterial, pois a pressão poderá ocluir ainda mais o fluxo arterial. 2.7 AVALIANDO O PACIENTE PORTADOR DE ÚLCERAS VENOSAS É importante que os profissionais de saúde e dentre eles o enfermeiro verifique a história a fim de explorar riscos, causas para outros tipos e fatores que poderiam influenciar a cicatrização das feridas. No momento de coletar a história clínica considere a supressão do sistema imunológico devido ao câncer e ao Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), assim como a supressão da resposta inflamatória através da utilização de terapia por radiação, quimioterapia e outras drogas. Esses pacientes necessitam de maior proteção contra ferimentos. Eles podem apresentar cicatrização demorada ou prolongada. Considere distúrbios de transporte de oxigênio ou relacionados aos fatores de coagulação, tais como anemias, doença renal crônica, mau funcionamento crônico do fígado, problemas de coagulação, diabetes, vasculite, distúrbios da tireóide. Esses 18 fatores podem determinar se a terapia de compressão pode ser utilizada. Avalie a história de cirurgias, a história de edemas, considere as causas do edema a insuficiência cardíaca congestiva, o linfedema, a síndrome nefrótica, o uso de medicamentos, a história gestacional e obstétrica das pacientes, o uso de drogas – cigarros, outras drogas como a heroína e cocaína, álcool. O histórico nutricional e peso corporal, especialmente a obesidade. A nutrição deficiente pode retardar a cicatrização e não devemos esquecer que a cicatrização exige o consumo de água, calorias adequadas, vitamina A e C, proteína, ferro, cálcio e zinco. Com relação ao uso de medicação, as prescrições e medicamentos obtidos sem receita médica. Medicamentos como a prednisona e agentes imunossupressores podem exercer efeito negativo sobre a cicatrização. Muitos pacientes utilizam medicação tópica que é citotóxica à cicatrização Os profissionais devem obter uma rigorosa história familiar, com fins de verificar história de varizes e úlceras venosas e por fim avalie ainda Capacidade do paciente de seguir protocolos de tratamento, tais como: manter os curativos intactos durante o período entre as consultas, comparecer às consultas clínicas de acordo com as determinações e aprender a aplicar a compressão. Verifique a história da perna e suas alterações, informando-se de quando começaram as alterações na perna, quando foi a primeira ocorrência de úlceras na perna, como as úlceras foram tratadas anteriormente, como a pessoa está cuidando das úlceras atualmente e quais são os objetivos do paciente para o tratamento. Faz-se necessária o controle e a correção de outras condições clínicas. Neste caso encaminhe o paciente para o tratamento de problemas do coração, Hipertensão arterial, obesidade, diabetes mellitus e interrompa o uso de cigarros e outras drogas. O exame físico do paciente envolve a palpação para verificar o pulso pedioso e tibial posterior, verifique o índice Tornozelo-Braço (ITB) se houver equipamento disponível. Para verificação do ITB: coloque o paciente em posição supina, verifique a pressão sistólica no braço, coloque o manguito de pressão na parte inferior da perna acima do tornozelo, aplique gel acústico no local de pulso do pé. Segure a sonda do Doppler tocando a pele levemente nesse ponto. Recomenda-se segurar a sonda em um ângulo de 45 graus, infle o manguito de 20 a 30 mm Hg acima da pressão sistólica braquial, desinfle o manguito enquanto monitora o retorno do sinal de pulso, o ponto de retorno do ruído arterial é registrado como a pressão sangüínea sistólica do tornozelo, então divida a pressão sistólica do tornozelo pela pressão sistólica braquial, obtenha 19 assim o ITB: Valores comuns (os limites têm uma pequena variação de acordo com a referência): Valores acima de 1,2 podem representar possível calcificação arterial; observada com a diabetes mellitus. O ITB deve ser cuidadosamente interrompido em pessoas com diabetes. Valores entre 1 – 1.2 significam fluxo sangüíneo arterial periférico normal. Valores entre 0.8 – 1.0 são indicativos de doença arterial oclusiva periférica leve. Valores entre 0.5 – 0.8 são indicativos de doença arterial oclusiva periférica moderada. Pode estar associada à claudicação intermitente. A capacidade de cicatrização de feridas é geralmente mantida. Valores inferiores a 0.5 são indicativos de doença arterial oclusiva periférica severa. A cicatrização é improvável a menos que a revascularização possa ser realizada. A equipe deve avaliar as manifestações clínicas da doença venosa e classificá-las de acordo a Classificação Clínica da CEAP. A classificação CEAP identifica os aspectos clínicos, etiológicos, grupos venosos anatômicos envolvidos e fisiopatológicos e resulta em maior consistência e definição. A classificação clínica (que pode variar de 0 a 6) considera a gravidade dos sinais clínicos da insuficiência venosa crônica (IVC) como um parâmetro muito utilizado para quantificar a gravidade da doença (CABRAL, 2000). C- Clinical signs / Sinais clínicos E- Etiology / Etiológico A- Anatomy / Anatômico P- Physiopathology / Fisiopatológico a) Classe 0- Nenhuma evidência de doença venosa (sinal visível ou palpável). b) Classe 1 - Telangiectasias, veias reticulares, explosão maleolar. c) Classe 2 - Veias varicosas. d) Classe 3 - Edema sem alterações na pele. e) Classe 4 - Alterações na pele atribuídas à doença venosa (pigmentação aumentada, eczema venoso, lipodermatoesclerose). f) Classe 5 - Alterações na pele conforme as definições acima com ulceração cicatrizada. g) Classe 6- Alterações na pele conforme as definições acima com ulceração ativa. 20 É importante que a equipe avalie a úlcera em relação às manifestações clínicas de infecção, procurando sinais como eritema circundante, cor da base da ferida, cor e odor da secreção, queixa de dores cada vez maiores e maior calor na área. As feridas crônicas acumulam muitas bactérias, mas isso não significa que estejam infectadas. Antibióticos devem ser utilizados com cuidado. Eles não aceleram a cicatrização em uma ferida não-infectada. Ao serem utilizados, devem sê-lo por um curto período (10 a 14 dias), a não ser que outras razões tornem seu uso necessário. Substâncias antimicrobianas tópicas são bastante utilizadas. Um agente comum é a sulfadiazina de prata. Dois outros estão atualmente sendo observados: iodo de cadexomer e curativos de prata nanocristalina. Considera-se que estes favorecem o desbridamento autolítico, diminuem o número de bactérias de superfície e ajudam a atingir o equilíbrio de umidade sem toxidade excessiva para as células da base da ferida. A avaliação clinica da dor deve levar em conta que as pessoas com úlceras venosas podem sentir dor. Como qualquer outra condição, a percepção de dor varia de pessoa para pessoa. Geralmente as descrições de dor incluem sensação de queimado, espetadas e latejamento. Descrita como severa ao levantar-se de manhã e ao tentar dormir á noite. Medicações narcóticas (geralmente utilizadas por períodos curtos) e drogas antiinflamatórias não-esteróides podem ser utilizadas para tratar a dor. Analgésicos devem ser selecionados levando-se em consideração a dor e outros problemas médicos do paciente. A equipe de saúde deve definir quais exames laboratoriais são mais adequados, Comumente solicitados são: hemograma completo, glicose em jejum e albumina plasmática. Se houver infecção, o enfermeiro pode decidir fazer uma cultura através de biópsia ou da remoção da ferida. A cultura de feridas não faz parte da avaliação de feridas crônicas. Geralmente, as bactérias que habitam a superfície da úlcera não exercem nenhuma influência na cicatrização. Alguns clínicos podem tentar tratar os organismos em cultura, aumentando assim o risco de resistência bacteriana. Se a ferida não reagir à terapia, uma biópsia pode ser necessária a fim de avaliar o grau de malignidade. Isso deve ser feito se a ferida não apresentar nenhum sinal de cicatrização após um período de três meses sob condições ótimas de tratamento. A equipe de enfermagem e de saúde deve avaliar ainda outras preocupações de pacientes com Úlceras Venosas, tais como a imagem corporal prejudicada, a intranqüilidade com o odor; dificuldade de banhar-se uma vez que os curativos não 21 podem molhar-se, a secreção que atinge as roupas. Precisam usar sapatos maiores, curativos feios que aparecem sob as roupas, à depressão e frustração em relação à natureza crônica da doença venosa e das úlceras. Outro aspecto a ser avaliado para direcionar o tratamento é a verificação de renda diminuída como um resultado da incapacidade de conseguir trabalho por causa das úlceras. Algumas pessoas precisam aposentar-se por passarem muito tempo em pé no trabalho e devido ao inchaço produzido pelo tipo de atividade que realizam. A perda do trabalho incorre em uma mudança no estilo de vida. Por fim, é sabido que a qualidade de vida alterada devido a mudanças em sua mobilidade e atividade, levando aos pacientes a se sentirem impotentes e tendo a impressão de que ninguém se importa a presença constante da úlcera e a sensação de que estão sempre em um processo de recuperação. Podem sentir-se socialmente isolados e o sono pode ser prejudicado. 2.8 AVALIAÇÃO DE FATORES QUE PODEM IMPEDIR A CICATRIZAÇÃO DE FERIDAS A avaliação sistêmica deve incluir a idade, pois se sabe que o avanço da idade está associado com o retardamento na migração e proliferação de células, influenciando também a resposta metabólica e a resposta da matriz biosintética. A nutrição é um fator importantíssimo, uma vez que o metabolismo de glicose prejudicado, desnutrição protéica, deficiência de vitaminas como a de vitamina A e C e a deficiência de zinco podem também prejudicar a cicatrização de feridas. Doenças do colágeno podem afetar a cicatrização. Outro fator importante é o uso de drogas, pois se demonstrou que poucas drogas claramente prejudicam a cicatrização de feridas. No entanto, drogas como os glicocorticóides sistêmicos (a evidência mais forte) e quimioterápicas (evidência não esclarecida) devem ser verificadas em relação à sua influência no processo de cicatrização e utilizados com cautela. Os fatores locais que prejudicam a cicatrização de feridas incluem a doença arterial e a isquemia tecidual, a infecção bacteriana, uma vez que feridas clinicamente infectadas não cicatrizarão. O uso de agentes tópicos citotóxicos como a água oxigenada, hipoclorito de sódio, iodo (PVPI), ácido acético e a presença de tecido necrosado. 22 Não devemos nos esquecer dos fatores psicossociais, pois a ausência de redes sociais ou de sistemas de suporte, o isolamento, as dificuldades financeiras, a dor, o comportamento de não adesão em seguir os protocolos de tratamento, comparecer às consultas, não remoção de curativos, o abuso de substâncias (drogas), tem influencia negativa no processo de cicatrização. 2.9 TRATAMENTO 2.9.1 Eliminação do Edema As medidas terapêuticas para promover a cicatrização das ulceras venosas incluem a diminuição ou eliminação do edema, que é realizado pela elevação da perna na posição sentada, para tanto o enfermeiro deve orientar o paciente a manter um apoio para os pés, podendo-se utilizar outra cadeira, ou então fazer um apoio virando uma lata de lixo de cabeça para baixo ou ainda com uma caixa de papelão ou de madeira; encha-a com qualquer material disponível e coloque uma almofada sobre ela, e se possível, as pernas devem ser posicionadas acima do coração. De forma ideal, as pernas devem permanecer elevadas por 30 minutos de cada vez. O paciente deve tentar fazê-lo pelo menos 3 vezes por dia. Os pacientes não devem dormir com as pernas penduradas, pois o edema não é aliviado nessa posição pendente. Se for necessário elevá-las durante a noite, será melhor fazê-lo através da elevação (em uma altura adequada para uma posição confortável) dos pés da cama utilizando tijolos ao invés de usar travesseiros. É difícil tentar manter a perna de uma pessoa em posição elevada sobre um travesseiro durante toda a noite e isso poderá manter o paciente acordado. 2.9.2. Terapia de Compressão com Uso de Meias Elásticas e Bota de Unna Proporciona resistência ao tecido que evita a secreção de fluidos para o seu interior; eleva a pressão de tecidos moles para acima da pressão capilar, desta forma promove a compressão parcial das veias superficiais, reduzindo seu tamanho e aumentando o fluxo sangüíneo através do vaso. Auxilia na prevenção do processo proposto pela teoria do “trapping” das células brancas do sangue. 23 Os uso das meias elásticas pode ser encontradas com diferentes pressões e tipos. É importante determinar a necessidade de meias e conseqüentemente a pressão a ser indicada: a) 10 – 15 mmHg –Meia anti-embolia. Pode ser adquirida sem receita médica. b) 20 – 30 mmHg – Utilizada para insuficiência venosa inicial e varizes leves. Pode ser adquirida sem receita médica. c) 30 – 40 mmHG – A partir desta pressão, o paciente necessita de uma prescrição para adquirir a meia por causa do potencial de oclusão arterial no caso de a doença arterial existir. Meia de pressão mais freqüentemente prescrita para a doença venosa marcante e pessoas com úlceras venosas cicatrizadas. Para pessoas com úlceras venosas pequenas, ela pode ser usada como parte do protocolo de tratamento de feridas com um curativo protegendo a úlcera. d) 40 – 50 mmHg – Às vezes utilizada por pessoas com problemas de úlcera venosa crônica. Essas meias são extremamente apertadas e apresenta dificuldade de uso para a maioria das pessoas. Não devemos esquecer que a prescrição de meias feita pelo profissional de saúde, e este deve mencionar seu comprimento e a pressão, e quanto mais alta a pressão, mais difícil será a colocação da meia. O enfermeiro deve considerar a capacidade da pessoa para a utilização da meia. Ela tem força suficiente nas mãos para puxar e colocar a meia? Por exemplo, pacientes com artrite ou derrame podem ter dificuldade na colocação. O peso da pessoa permite que ela enxergue e alcance os pés para colocar a meia. A pessoa tem alguém em sua casa que poderá auxiliá-la na colocação e remoção da meia. A Bota de Unna é um método de compressão que envolve a utilização de gaze impregnada com uma mistura de gelatina/óxido de zinco, ela oferece suporte para o bombeamento muscular da região da panturrilha durante o caminhar e promove o retorno venoso e formada por uma camada de gaze coberta com uma faixa elástica ou bandagem auto-aderente. Os procedimentos envolvem a avaliação sistêmica do paciente para a sua utilização. Esta avaliação deve certificar que os pulsos sejam adequados. Se houver equipamento disponível para um Indice Tornozelo Braço (ITB), utilize-o para determinar o fluxo sangüíneo arterial. A bota de Unna e contra-indicada em casos de insuficiência arterial, insuficiência cardíaca descompensada. O edema diminuído resultante do curativo de compressão é devolvido à circulação; assim, coração deve ser capaz de lidar com ele. O 24 curativo de compressão também elimina a terceira área de espaço da perna, onde o fluido é armazenado se o coração não estiver funcionando. Pacientes com falha cardíaca devem ser orientados para observarem o estresse respiratório. Nesse caso, precisam consultar seu médico ou procurar um atendimento de emergência. São ainda contra-indicações os sinais e sintomas agudos de trombose das veias profundas e a alergia aos componentes da Bota de Unna. 2.9.3 A Educação do Paciente O enfermeiro deve promover a educação do paciente como forma de otimizar o tratamento. Este processo deve incluir aspectos relacionados a fisiopatologia da condição incluindo cronicidade, o protocolo de tratamento, através da educação relacionada ao tipo de curativo, em como cuidar do curativo e a freqüência de substituição do mesmo. Os cuidados da saúde da pessoa durante o tratamento das feridas, através da observação dos protocolos de tratamento para o controle de outros problemas de saúde e a manutenção do peso do corpo dentro de limites normais As pernas do paciente deverão ser protegidas para evitar bater ou lesar as pernas, manter os curativos limpos, comparecer ás consultas para tratamento das feridas, elevar as pernas quando estiver sentado, evitar permanecer em pé por períodos prolongados, o uso adequado de meias elásticas e a promoção do apoio emocional através de escutar as preocupações do paciente e dar aconselhamento. 25 3. OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Descrever experiência de sistematização de tratamento de úlceras venosas crônicas atendidas na atenção básica no município de Tacuru. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Implantar no município de Tacuru um protocolo de atenção a úlceras venosas crônicas atendidas na atenção básica; Construir um plano de intervenção assistencial de enfermagem para pacientes com úlcera venosa; 26 4. METODOLOGIA 4.1 TIPO DE ESTUDO Para o desenvolvimento deste estudo optou-se pela pesquisa de intervenção. Trata-se de um desenho de pesquisa individuado ou agregado em que o investigador introduz algum elemento crucial para a transformação do estado de saúde dos indivíduos ou grupos participantes do estudo, visando testar hipóteses etiológicas ou avaliar eficácia ou efetividade de procedimentos diagnósticos preventivos ou terapêuticos (ALMEIDA FILHO; ROUQUAYROL, 2006). Para a elaboração do protocolo de assistência ao paciente portador de úlcera venosa, bem como a padronização do uso de técnicas, materiais e medicamentos adequados, optou-se por uma pesquisa bibliográfica em bases de dados, onde foram levantados os tópicos: tratamento de feridas, tratamento de feridas crônicas, ulcera venosa, materiais para curativos e métodos de avaliação diagnostica de feridas. A partir deste levantamento, foi elaborado um protocolo para consulta de enfermagem, diagnóstico da ferida e tratamentos (curativos e coberturas) indicados. Tendo em vista a complexidade do tratamento de feridas, selecionou-se neste trabalho o tratamento das úlceras venosas, haja vista a dificuldade do tratamento destes pacientes, a demora na obtenção de resultados positivos, os custos e por fim, a manutenção do paciente após a cura da ferida, o que tem levado a uma mudança em relação à abordagem do paciente e a utilização dois princípios da clínica ampliada. Os tratamentos indicados e aqui apresentados são baseados em evidências clínicas e levam em conta a disponibilidade de recursos para a sua aquisição e aplicação. Após a elaboração do protocolo as equipes das unidades básicas de saúde do município de Tacuru, responsáveis pelos curativos foram capacitadas para a avaliação e o tratamento das úlceras venosas. 4.2 LOCAL DO ESTUDO Trata-se de uma discrição de experiência de tratamento de 7 pacientes com úlcera venosa crônica com o uso de tratamento compressivo com Bota de Unna de produção artesanal pela equipe de atenção básica no Município de Tacuru, estado de Mato Grosso do Sul. 27 4.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA A pesquisa foi desenvolvida através do tratamento aplicado de tratamento compressivo com bota de Unna em 7 pacientes com úlcera venosa crônica com mais de 5 anos de evolução. Os critérios de inclusão foram a maioridade e a aptidão em receber o tratamento. Os critérios de exclusão foram a recusa do pacientes. 4.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS Como instrumento utilizou-se a Sistematização da consulta de enfermagem em pacientes com feridas crônicas proposta por Jorge e Dantas (2003) (APÊNDICE D) e o registro fotográfico (APÊNDICE F) das feridas durante a aplicação do tratamento. 4.5 PROCEDIMENTOS PARA APLICAÇÃO DA BOTA DE UNNA O tratamento consistiu de um curativo com a finalidade de limpar o ferimento com uso de jatos de soro fisiológico a 0,9%, onde o leito da ferida não era tocado de maneira nenhuma, e o desbridamento era feito por jatos de soro (APÊNDICE B). Após o curativo aplicou-se a Bota de Unna de fabricação artesanal (APÊNDICE A) preconizada por Brasil (2002). A técnica de aplicação da Bota de Unna esta detalhada no APÊNDICE C. 4.6 PROCEDIMENTO ÉTICOS Os pacientes foram submetidos a tratamento já consagrado para as úlceras venosas. Durante o desenvolvimento da pesquisa operacionalizou-se um protocolo de curativos especiais na atenção básica de um pequeno município. O anonimato dos pacientes foi mantido e neste trabalho é apresentado o registro fotográfico de apenas um dos casos, com vistas a ilustrar o trabalho realizado. Esta pesquisa não teve projeto aprovado por Comitê de ética em Pesquisa por se tratar de experiência de trabalho diária de uma equipe de atenção básica. 28 5. RESULTADOS 5.1 PROCEDIMENTOS PARA OS CURATIVOS 5.1.1 Procedimentos da Equipe de Tratamento de Feridas O modelo de consulta de enfermagem (APÊNDICE D) desenvolvido para o atendimento dos pacientes levou em conta o que é proposto na bibliografia por Jorge e Dantas (2003) para a assistência de portadores de feridas. Os pacientes foram consultados pela enfermeira e classificados de acordo com o protocolo de tratamentos de feridas elaborado. Estes pacientes foram então encaminhados para consulta médica, e, quando houvesse necessidade, foram encaminhados para consulta com especialista em cirurgia vascular e para a realização de exames complementares. Os encaminhamentos para serviços de referência ocorreram através da central de regulação estadual, os pacientes aguardavam no domicilio a sua liberação para a realização das consultas. Para iniciar o tratamento por compressão com bota de Unna é necessária a realização dos seguintes exames complementares: hemograma completo, albumina sérica, glicemia em jejum e cultura com antibiograma de material da ferida. De posse destes exames, o paciente receberia o tratamento adequado para corrigir alterações no seu estado clinico. Já após esta fase, o tratamento com compressão era iniciado e o paciente era agendado para consulta com especialista em cirurgia vascular. O Doppler de membros inferiores era geralmente solicitado para estes pacientes e em casos de necessidade de cirurgia, o paciente era encaminhado para o agendamento. Em nossa experiência com 7 pacientes tratados com Bota de Unna, apenas dois realizaram tratamento cirúrgico. Os pacientes atendidos no serviço apresentavam sérios problemas de saúde, tais como: obesidade mórbida, diabetes, hipertensão arterial e não raro, abandonaram o tratamento após alguns meses. Num dos casos a paciente abandonou o tratamento por ter seu benefício do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) cortado em vista de estar bem próxima da cura da ferida. Portanto, observamos ser necessária uma abordagem mais ampliada. Os pacientes passavam por uma fase de adaptação, eram encaminhados para o serviço social, passaram a receber cestas básicas. Outro problema foi quando tiveram que usar meias compressivas, pois tratava-se de pessoas carentes, e a falta de recursos poderia colocar o tratamento em risco. Em alguns casos a equipe 29 auxiliou na arrecadação de recursos através de doações, visando a compra desses produtos. 5.1.2 Comparativo de Custos Os custos não puderam ser esquecidos na hora da implantação do protocolo. A primeira vista o projeto não foi aceito, pois os insumos utilizados (óxido de zinco, glicerina pura, gelatina especial e Bota de Unna) onerariam muito o atendimento. No entanto o custo menor, que a primeira vista se tem do tratamento convencional foi “desmentido” através da realização de comparativo dos custos, que resultou mais econômico com a aplicação da bota de Unna, alem é claro da sua eficácia em médio prazo. A limpeza da ferida, que era feita através de abrasão com gaze, soro fisiológico e iodo-polividona, também foi modificada, uma vez que o tratamento passou apenas a utilizar jatos de soro fisiológico, sem o menor toque no leito da ferida. Limpeza tradicional Limpeza atualizada Quantidade Custo Custo Material Quantidade Custo (R$) (R$) (R$) Diário Semanal Diário Soro 2 frascos 8,40 58,80 Soro 2 frascos fisiológico fisiológico 500 ml 250 ml Luvas de 02 pares 0,78 5,46 Luvas de 02 pares procedimento procedimento Pcte gaze 10 15 12,45 87,15 Pacote gaze 02 pacotes ** unidades pacotes 10 unidades PVPI Tópico 20 ml 0.26 1.84 Agulha 25X8 01 unidade PVPI 20 ml 0.32 2.26 degermante Pacote de 01 * * curativo unidade TOTAL 22,21 155,53 TOTAL Material Custo (R$) Semanal 8,40 0,78 1,60 0.14 10,92 Quadro 1. Custo comparativo da limpeza diária e semanal***. * não dispomos do dado. ** não realizado o custo diário, uma vez que não é necessária a troca diária do curativo *** Preço com base no buscador de compras Twenga acessado em http://www.twenga.com.br/dir-Saude-Beleza,Higiene-corporal. Em vista destas mudanças, realizou-se o compativo de custos de tratamento de um de nossos pacientes. Esta paciente apresentava a úlcera venosa há mais de cinco anos e realizava o curativo diariamente, usando a abrasão do leito da ferida com gaze, 30 soro fisiológico e Iodo-polividona tópica. Diariamente era usado um tubo de pomada Colagenase. Realizou-se então o comparativo de custos do curativo convencional versus o da limpeza atualizada que passamos a utilizar e da bota de Unna por nós produzida e daquelas comercializadas prontas, que é mostrado no Quadro 1. A análise do Quadro 1 demonstra que o custo da limpeza custa mais que o dobro da limpeza tradicional, isso se for realizada apenas 1 vez. No entanto se o paciente realiza o tratamento 7 dias por semana o custo deve ser multiplicado por 7. Por esta perspectiva o tratamento convencional de limpeza é mais de 1000% superior ao tratamento inovador, que além de mais em conta é mais eficaz na promoção da cicatrização da ferida. De posse destes dados realizou-se comparativo de custo com o uso do curativo compressivo da bota de Unna artesanal, com vistas à redução dos custos e viabilização do projeto de tratamento. Os valores da Bota de Unna por nós produzida e aquela industrializada são mostrados no quadro 2. Material para 4 unidades – 1 mês de Preço p/ 4 Quantidade tratamento unidades Produto Preço Quantidade preço de cada unidade Preço unitário 0,90 0,57 0,99 Oxido de zinco em pó – 100 gramas 3,59 25 gramas Glicerina pura 2,26 25 gramas Gelatina em pó sem sabor – 2 pacotes 12 3,95 Fração gramas Totais 9,84 2,46 Bota de Unna Curatec 7,6 cm X 9,1 m 35,23 Quadro 2 – Custos comparativo da Bota de Unna – receita artesanal , e Bota de Unna industrializada marca Curatec*. * Preço com base no buscador de compras Twenga acessado em http://www.twenga.com.br/dir-Saude-Beleza,Higiene-corporal. A análise do quadro 2 demonstra que a produção do produto de forma artesanal é bem mais barata, uma vez que o produto para o tratamento de 1 mês é mais barato que um único curativo industrializado. Obviamente que o curativo industrializado é mais adequado, pois possui garantia de esterilidade e o seu cumprimento é mais adequado ao tratamento. O gestor pode levar em conta a economia proporcionada pela mudança para uma limpeza mais inovadora e econômica e optar pela utilização da bota de Unna industrializada. 31 Curativo tradicional Materiais Quantidade Limpeza da ferida tradicional Pomada colagenase Atadura de crepe 12 x 4,5 Pcte gaze 10 unidades Esparadrapo Micropore 01 Custo (R$) Diário 22,21 Custo (R$) semanal 155,47 01 tubo 33,01 231,07 3 unidade 5,31 37,17 5 unidades 4,15 29,05 50 cm 2,05 14,35 Bota de Unna Materiais Limpeza da ferida atualizada Não se aplica Atadura de crepe 12 x 4,5 Pcte gaze 10 unidades Esparadrapo Micropore Bota de Unna caseira Totais Quantidade 01 Custo (R$) Diário * Custo (R$) Semanal 10,92 Não se aplica 4 unidades Não se aplica * Não se aplica 7,08 5 unidades * 4,15 50 cm * 2,05 02 * 4,92 Totais 66,73 467,11 29,12 Custo mensal 1868,44 116,48 Quadro 3. Comparativo final de custo do tratamento com uso de cobertura tradicional (com troca diária) e uso de bota de Unna artesanal (Troca Semanal)**. * não avaliado semanalmente por não ser necessário. ** Preço com base no buscador de compras Twenga acessado em http://www.twenga.com.br/dir-SaudeBeleza,Higiene-corporal. Os custos demonstrados acima não levaram em conta o transporte do paciente de casa para a unidade de saúde e da unidade de saúde para casa, as horas de trabalho da equipe de enfermagem, o custo da esterilização dos pacotes de materiais de curativo. Se estes custos forem computados, e sabemos que é possível fazer esta estimativa, o custo do curativo tradicional fica enormemente maior que aquele com uso de material mais atual e eficaz Além da avaliação dos custos. Outro fator importante seria a melhoria da qualidade de vida dos pacientes. A realização do curativo diário torna o usuário refém dos serviços de saúde, tendo que ser atendidos todos os dias, o que o impede de realizar uma viagem ou participar da vida social, além de não haver perspectiva de melhora, haja vista que os pacientes realizavam estes tratamentos a pelo menos 5 anos, e as feridas se encontravam em mal aspecto. A analise do quadro 3 demonstra que o preço mensal do tratamento do paciente com úlcera venosa com uso de curativos tradicionais é muito superior ao da utilização de limpeza mais moderna e curativo semanal com bota de Unna. A economia utilizando estes tratamentos seria da ordem de 1600%. A equipe de saúde necessita ousar propor novos tratamentos que sejam mais eficientes e que levem em consideração o que é melhor para o tratamento do paciente. Devem ainda transcender na questão dos custos. A primeira vista o tratamento parece 32 ser dispendioso, porém uma avaliação mais criteriosa revela que os benefícios e a eficiência do tratamento proposto são maiores que os custos dos tratamentos tradicionais. 5.1.3 Evolução dos Pacientes O procedimento foi aplicado a sete pacientes, sendo 3 do sexo feminino e 4 do sexo masculino. A média de idade foi de 53,8 anos, sendo a mais jovem, com 19 anos e o mais idoso com 71 anos. Após atendimento de enfermagem os pacientes foram encaminhados para o médico e foram submetidos a exames. Tentou-se que todos os pacientes fossem encaminhados para avaliação com cirurgião vascular, porem devido à demora, naqueles pacientes onde se afastava a hipótese de comprometimento arterial, iniciou-se o tratamento com uso de bota de Unna. Os pacientes tiveram seus dados clínicos registrados na consulta de enfermagem e seguiram realizando o tratamento compressivo. Dos 7 pacientes, 3 receberam alta do tratamento após 3 meses. Nestes as feridas foram totalmente curadas. Em dois destes pacientes que receberam alta após 3 meses de tratamento foi realizada cirurgia de varizes antes do tratamento com bota de Unna. Dois pacientes que se encontravam e fase final do tratamento após oitavo mês apresentaram recidiva. Nestes dois observamos que o fator principal para esta ocorrência foi o socioeconômico. O primeiro caso ocorreu quando da cura do paciente, o mesmo foi submetido a pericia do INSS e como o perito o informou que iria propor o corte do beneficio, o mesmo optou por abandonar o tratamento e vista de perder seu ganha pão. Outro paciente ficou viúvo durante o tratamento, o que resultou em uma piora significativa da adesão ao tratamento. Estes pacientes nos fizeram refletir sobre a importância de cuidados sociais e psicológicos, bem como em aplicar os métodos da clinica ampliada a estes pacientes. A princípio nós acreditamos que as feridas eram seus principais problemas, não levando em conta outras dimensões destas pessoas e que tinham peso no resultado de seu tratamento. Uma paciente recebeu alta do tratamento por volta do sétimo mês de tratamento, e passou a utilizar ataduras elásticas para a complementação do tratamento. E por fim um dos pacientes abandou o tratamento no sexto mês por não ter vislumbrado melhora em sua ferida. 33 Os sete pacientes relataram melhorias na qualidade de vida, com maior tempo livre, possibilidade de viagens e lazer, Melhor aspecto do curativo, ausência de exudato e odor depois do primeiro mês de tratamento, diminuição significativa da dor e maior comodidade para a deambulação, permitindo a reinserção social destas pessoas. 34 6. CONCLUSÕES Tendo em vista os objetivos deste trabalho, foi descrita a experiência na implantação de um protocolo de tratamento de feridas crônicas, especificamente de úlceras venosas na atenção básica de um pequeno município de Mato Grosso do Sul, e quanto a este, acredita-se que o trabalho foi bastante exitoso. Destaca-se a importância de apresentar aos gestores um comparativo de custos materiais e humanos que tornou nossa iniciativa exeqüível, transcendendo a visão de que seria mais custoso, conseguindo-se assim apresentar evidencias de que o tratamento mais eficaz nem sempre é o mais caro. Foi implantado o protocolo de tratamento de úlceras venosas nas unidades básicas no município e realizou-se o tratamento em sete pacientes, sendo observada a cicatrização e cura em 3 deles e melhoria da qualidade de vida relatada por todos eles. A Especialização em Saúde da Família nos proveu de meios para instrumentalizar nossa prática e permitir a construção de um plano de intervenção assistencial de enfermagem para pacientes com úlcera venosa. Os aspectos negativos da pesquisa, como a desistência de um paciente e a recidiva das úlceras em dois impôs aos profissionais um novo desafio. A visão do paciente como indivíduo, considerando-o em todas as suas potencialidades e dificuldades e também a aplicação do conceito de clínica ampliada, tendo em vista que em um caso específico, de nada adiantou a cura da ferida se, para tanto, o usuário deixaria de ter seu ganha pão pela suspensão do beneficio do INSS. Estes resultados sugerem a necessidade de participação dos profissionais fisioterapeuta, Assistente Social e Psicólogo como forma de melhorar a atenção aos portadores de feridas crônicas. Por fim acredita-se que novas pesquisas são necessárias para um melhor entendimento do fenômeno tratamento de feridas na atenção básica e suas implicações na vida dos indivíduos portadores deste problema de saúde e do enfrentamento deste problema pelos profissionais da Estratégia Saúde da Família. 35 REFERÊNCIAS ALMEIDA FILHO, N.; ROUQUAYROL, M. Z. Introdução a Epidemiologia. 4. Ed. rev. e ampliada. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. BENFATI, F. B. S.; CALIRI, M. H. L. Feridas crônicas: prevenção e tratamento. Ulceras venosas/ módulo de ensino. 2010, aceso em 10 de outubro de 2011 em <http://www2.eerp.usp.br/site/grupos/feridascronicas/index.php?option=com_content& view=frontpage&Itemid=1>. BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Departamento de Atenção Básica. Manual de condutas para úlceras neurotróficas e traumáticas. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. CABRAL, A. L. S. Insuficiência venosa crônica de membros inferiores: prevalência, sintomas e marcadores preditivos. 2000 (Doutorado em Angiologia e Cirurgia Vascular) – Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2000, 140p. CURTY, M. G.; CRUZ, A. C.; MENDES, M. T. R. Apresentação de trabalhos acadêmicos, dissertações e teses (NBR 14724/2002). 3a reimpressão. Maringá: Dental Press; 2005. FERREIRA, S.R.S., PÉRICO, L. A. D. Assistência de enfermagem à pacientes com feridas em serviços de atenção primária à saúde. Revista Técnico-científica Grupo Hospitalar Conceição. v. 15, n. 1, 2002. JORGE, S. A.; DANTAS, S. R. P. E. Abordagem multiprofissional do tratamento de feridas. São Paulo: Atheneu; 2003. TENÓRIO, E. B.; BRÁZ, M. A intervenção do enfermeiro como diferencial de qualidade no tratamento de feridas. Rev. Bras. Home Care. V. 10, n. 2, 2002. TUYAMA, L. Y.; ALVES, F. E.; FRAGOSO, M. P. V.; WATANABE, H. A. W. Feridas crônicas de membros inferiores: proposta de sistematização de assistência de enfermagem a nível ambulatorial. Nursing: rev. técnico-científica enferm. V.75, n. 7, 2004. TWENGA Buscador de Compras, acessado em http://www.twenga.com.br/search.php?q=de+crepe+10+cm&u=q&c=75506, acesso dia 06 de Maio de 2011 APÊNDICE 36 APÊNDICE 37 APÊNDICE A - Receita da Bota de Unna Artesanal 2 pacote de gelatina em pó sem sabor e sem cor (12 Gramas). 100 ml glicerina. 400 ml água. 100 grama de óxido de zinco. Ataduras de Crepe. Uma panela limpa e exclusiva para este fim. Fogão a gás. Procedimentos para o preparo. Aquecer levemente os 400 ml de água e hidratar a gelatina em pó ir colocando aos poucos e agitando para não formar pelotas. Adicionar a glicerina pura e dissolver, adicional o óxido de zinco e dissolver (agitar bem com espátula). Usando um medidor, separar em unidade de 100 ml cada. Rende em média quatro unidades. 38 APÊNDICE B - Técnica de Limpeza da Ferida Técnica de limpeza da ferida A técnica de limpeza ideal para a ferida é aquela que respeita o tecido de granulação, preserva o potencial de recuperação, minimiza o risco de trauma e/ou infecção. A melhor técnica de limpeza do leito da ferida é a irrigação com jatos de soro fisiológico a 0,9% morno. Não havendo disponibilidade de equipamento adequado para aquecimento (microondas) e controle da temperatura do frasco do soro fisiológico, utilizá-lo em temperatura ambiente. A seguir estão as etapas da técnica de limpeza do soro fisiológico em jato. Material necessário: - pacote de curativo; - luvas de procedimento; - bacia; - saco plástico de lixo (branco); - soro fisiológico 0,9% - 250 ml ou 500 ml; - agulha 40 x 12 mm (canhão rosa) para promover pressão adequada do jato; - lixeira; - óculos protetores; - cobertura, creme ou soluções indicadas; - ataduras de gaze estéril; Procedimentos: Os pés do paciente devem ser lavados e secados antes de iniciar o curativo. Utilizar os equipamentos de proteção individual (óculos, mascara e luvas), pois o curativo respinga. Retirar o curativo anterior com cuidado e se estiver aderido ao leito da ferida, umidecê-lo com soro fisiológico para facilitar. Descartar o curativo antigo na lixeira. 39 Não tocar no leito da ferida, com auxilio da agulha 40 x 12 realizar furos no frasco de soro fisiológico e então lavar a ferida com jatos de soro. Se estiver frio, aquecer o soro a temperatura de +/- 32o C (500 ml, no microondas por 45 segundos, testar na própria pele antes de usar). Secar ao redor da ferida e permitir que a ferida seque com o escoamento do soro por gravidade, não utilizar gaze par secar a ferida. Se houver necessidade de alguma aplicação tópica na pele ao redor da ferida, fazê-lo neste momento. Se houver ferimentos profundos no leito da ferida e se o mesmo for exudativo, preencher o espaço com alginato de cálcio em placa. Deixar o paciente descansar com os pés elevados por 30 minutos antes de aplicar nova bota de Unna. 40 APÊNDICE C - Técnica de Aplicação da Bota de Unna A técnica a seguir foi por nós utilizada, e se mostrou eficaz no tratamento de úlceras venosas Observe as seguintes recomendações antes de aplicar o curativo: Material necessário: pote com pasta de Unna, três ataduras de crepom de 12 a 15 cm (conforme o diâmetro da perna), ebulidor e recipiente para água quente. Antes de iniciar o procedimento colocar o paciente em repouso com os membros inferiores elevado por 30 minutos; Colocar o frasco com a pasta (quando manipulada) em banho Maria até liquefazê-la; Mergulhar duas bandagens de crepom no frasco até ficarem totalmente embebidas com a pasta. Observar a temperatura da pasta antes de aplicá-la; Durante o enfaixamento manter o pé em ângulo de 90º em relação à perna para favorecer a deambulação; Fazer pressão suficiente para manter o enfaixamento firme, porém sem garrotear o membro; Lave e seque a extremidade inferior; Avalie a ferida. Decida se um curativo deverá ser colocado sobre a ferida ou se somente a Bota de Unna deverá ser utilizada. Às vezes, um hidrocolóide, espuma, ou um curativo de alginato ajudam a diminuir a dor do paciente. Aplique loção hidratante ou vaselina à pele ressecada da perna. Peça ao paciente para manter o pé em um ângulo de 90 graus em relação à perna. Ele não deve manter o pé em posição de bailarina. O ângulo de 90 graus fará com que o curativo seja mais confortável durante o caminhar. Comece a enrolar a Bota de Unna logo acima dos dedos na região metatársica e continue até que chegar a 3 cm abaixo do joelho. Envolva com 75% de sobreposição em cada fileira. O curativo pode ser dobrado ou cortado para evitar rugas. Alise a cobertura conforme você avança. Não estique ou puxe a Bota de Unna. Ela se tornará rígida durante o processo de secagem. Se houver muita tensão na aplicação, ela ficará rígida demais após a secagem e o paciente sentirá desconforto. Quando os curativos estão muito apertados, os pacientes tendem a removê-los e podem não retornar ao atendimento. 41 Se houver sobras da atadura da Bota de Unna quando esta chegar ao joelho, a atadura poderá ser cortada e reaplicada do tornozelo para cima. Aplique um material para absorver a secreção ou exudato sobre a Bota de Unna e uma atadura elástica para fazer a compressão. A Bota de Unna é trocada semanalmente, porém trocas mais ou menos freqüentes podem ser feitas, principalmente no inicio do tratamento e dependendo da quantidade de secreção. Para pacientes com grande volume de secreção, pode ser necessário trocá-la 2 vezes por semana. O paciente precisa ser orientado em relação aos cuidados com a Bota de Unna. a) Oriente o paciente para elevar a perna quando estiver sentado. Ele deve ser estimulado a caminhar. Deve ser desencorajado a permanecer de pé em um único lugar ou sentado durante longos períodos com as pernas dependuradas. b) A Bota de Unna deve ser mantida seca. Para tomar banho, a perna deve ser embrulhada em plástico para que não haja contato com a água. O plástico que envolve o pé ficará escorregadio; a pessoa deverá tomar cuidado para não escorregar e cair no banheiro. c) Oriente o paciente para observar os sinais/sintomas de insuficiência arterial: dedos pálidos ou azulados; inchaço severo acima do curativo; dor ou falta de sensibilidade nos dedos dos pés. d) Instrua o paciente para observar os sinais/sintomas de infecção: dor crescente, vermelhidão se espalhando pelas pernas acima ou aos dedos dos pés, sensação de calor nas pernas ou aumento de temperatura ao toque, aumento de odor. Nestes casos procurar o centro de saúde e em caso de ser final de semana ou a noite, os pacientes devem procurar o hospital municipal. 42 APÊNDICE D - Sistematização da Consulta de Enfermagem em Pacientes com Feridas Crônicas IDENTIFICAÇÃO Enfermeiro: Etnia: Histórico de Feridas Data do levantamento ______/______/_____ Situação conjugal: Escolaridade: Endereço: Bairro/Área ESF: DADOS GERAIS DE SAÚDE Telefone: Doença existente: Cep: Tempo com as doenças: Cidade: Escolaridade: Antecedentes familiares: Cirurgias previas: Medicamentos em uso: Hábito intestinal anterior: Tabagismo/Tempo de uso: Hábito intestinal atual: Alergias: Drogas/Tempo de uso: Tipo sanguíneo e Fator Rh: Atividade/Mobilidade: Sono e Repouso: Como iniciou: Classificação: DADOS SOBRE A FERIDA Profissão/o cupação: Etilismo/Tempo de uso: Nº. de feridas: Tempo com as feridas: Estadiamento: Tratamento se evolução: Localização: Condições da pele/membro ao redor da ferida: □ integra □ macerada □ ressecada □ endurecida □ hipopigmentada □ edema □ outro □ qual? Condições dos pés e unhas □ calos □ dedo garra □ hálux em martelo □ neuropatia □ verruga □ queratose □ unha deformada □ fissura □ onicomicose □ calosidades □ unha infectada □ unha encravada Medidas do membro: MID: □ presente □ ausente □ □ dermatite ocre □ eczema □ ressecamen to □ corte inadequado □ outro _________ _______ Índice 43 Tornozelo D:______E:_____ Panturrilha: D_____E______ □ delimitada □ irregular □ regular diminuído MIE: □ presente □ ausente □ diminuído Condições das Bordas □ Macerada □ friável □ epitelizando □ □ outra espessada/queratose Condições do leito da ferida □ esfacelo □ escara Porcentagem envolvida: DADOS SOBRE A FERIDA Tornozelo/ Braço □ granulando □ descolada □ aderida □ misto Exudato □ seroso □ linfático □ nada □ grande □ □ sanguinolento serossanguinolento □ □ odor fétido purossanguinolento Quantidade □ escassa □ pequena □ esverdeado □ moderada Uso de Analgésico □ Sim □ Não Mensuração Área em Cm2 Profundidade em cm Observações: (anotar resultados de Tratamentos Propostos: exames) EVOLUÇÃO E TRATAMENTOS PROPOSTOS Dor Evolução □ Sim □ Não □ purulento 44 APÊNDICE E – Caso Clínico A seguir relataremos o caso da Paciente S.S.S. 36 anos que nos procurou em vista de ferida crônica em membro inferior esquerdo, de 8 anos de evolução. A paciente se encontrava muito deprimida em vista do aspecto da ferida. Iniciou tratamento em março de 2007. Evoluindo com cura clinica da ferida em setembro de 2007. Histórico de Feridas Enfermeiro: Data do levantamento Márcia Regina B. Gavioli 23/04/2007 Idade: Etnia: Situação conjugal: Escolaridade: 36 a negra Solteira Ensino Médio Completo Nome: S.S.S. Profissão/ocupação: Téc. de Enfermagem Endereço: Rua Izadora Vilhalva, SN – Próximo à Sanesul Bairro/Área ESF: Cep: 79975-000 Cidade: Tacuru Vila Operaria – área 3 Telefone: não possui Escolaridade:Curso técnico Profissionalizante Doença existente: Tempo com as Antecedentes familiares: Cirurgias previas: Obesidade doenças: mais de Mãe e avo materno Cesareana há 7 mórbida 10 anos portadores de anos Hanseniase Paucibacilar Medicamentos em uso: diclofenaco sódico 50 mg, 3 vezes ao dia. Dipirona sódica – 40 gotas quanto apresentar dor Hábito intestinal anterior: sem Hábito intestinal atual: sem alterações alterações Tabagismo/Tempo de uso: Etilismo/Tempo de uso: Drogas/Tempo de uso: 15 anos, 10 cigarros dia Nega Nega Alergias: nega Tipo sanguíneo e Fator Rh: O , positivo Atividade/Mobilidade: Sono e Repouso: Sem limitações, apenas as impostas Sem alterações pela ferida Como iniciou: Nº. de feridas: Tempo com as feridas: Tratamentos e Há +/- 8 anos, 1 ferida 8 anos evolução: espontaneamente, Curativo abrasivo após prurido diário intenso Classificação: úlcera Estadiamento:grau IV Localização: venosa região tibial anterior da perna esquerda DADOS SOBRE A FERIDA DADOS GERAIS DE SAÚDE IDENTIFICAÇÃO Consulta de enfermagem 45 Condições da pele/membro ao redor da ferida: (X) integra □ macerada (X) ressecada (X) endurecida □ hipopigmentada □ edema □ outro □ qual? Condições dos pés e unhas □ calos □ dedo garra □ hálux em martelo □ neuropatia □ verruga □ queratose □ unha deformada □ fissura □ onicomicose □ calosidades □ unha infectada □ unha encravada (X) dermatite ocre □ eczema □ ressecamento □ corte inadequado □ outro ________________ MID: (X)presente □ ausente □ Índice diminuído Tornozelo/Braço MIE: (X) presente □ ausente □ 1,0 diminuído Condições das Bordas □ Macerada □ Friável □ Descolada □ Epitelizando (X)Espessada/queratose □ Aderida □ Outra Condições do leito da ferida Medidas do membro: Tornozelo D: 26 E:32 Panturrilha: D: 56 E 62 (X) Delimitada (X) Irregular □ Regular (X) Granulando □ Misto Exudato (X) Seroso □ Linfático □ Nada (X) Grande Dor □ □ Sanguinolento Serossanguinolento □ (X) Odor fétido Piossanguinolento Quantidade □ Escassa □ Pequena □ Purulento (X) Sim □ Não (X) Sim □ Não Área em Cm2 = (21x17 cm) = 357 cm2 Observações: (anotar resultados de exames) Hemograma completo normal EVOLUÇÃO E TRATAMENTOS PROPOSTOS DADOS SOBRE A FERIDA □ Esfacelo □ Escara Porcentagem envolvida: Uso de Analgésico □ Esverdeado □ Moderada Mensuração Profundidade em cm 1,2 cm Tratamentos Propostos: Limpeza da ferida com soro Fisiológico Urina tipo 1 normal Tratamento compressivo com uso Doppler em 02/2007: insuficiência De bota de Unna 1 x na semana. Venoso grau moderado, ITB = 1 Cultura da ferida: normal Uso de analgésicos e AINES 46 Evolução 27/04 – inicio do tratamento com bota de Unna 02/05 – troca do curativo em vista do mal cheiro. 07/05 – troca do curativo, melhora do aspecto 11/05 – troca de bota,bom aspecto 18/05 – troca do curativo, bom aspecto 25/05 – presença de prurido ao redor da ferida, iniciado dexametosona tópica Descrição do caso: A paciente SSS, de 36 anos, procurou o serviço por apresentar ferida crônica em perna esquerda, de mais de 8 anos de evolução, que apresentava as seguintes dimensões: 17 cm longitudinalmente e 21 cm transversalmente, a ferida tinha 1,5 cm de profundidade, medidos com uma seringa de insulina, apresentava-se inflamada, exudativa em grande quantidade e com odor fétido. A paciente é técnica de enfermagem e se encontra percebendo benefício previdenciário de 1 salário mínimo há 3 anos, desde quando não mais pode trabalhar. É solteira e tem um filho de 7 anos. Antecedentes familiares: a mãe e o avô materno são portadores de hanseníase do tipo paucibacilar. Ambos realizaram a quimioterapia preconizada. Antecedentes pessoais: A paciente é obesa móbida desde os 25 anos, hoje se encontra com IMC: 52,9 (peso = 160 kg, altura = 1,74 cm). Apresenta varizes em membros inferiores. Histórico de ter trabalhado de técnica de enfermagem, com longas horas de permanência em pé ou sentada. Tabagismo: refere fumar de 15 a 20 cigarros por dia. 47 Exames solicitados: a equipe multiprofissional de saúde composta de Médico, enfermeira e técnicas de enfermagem decidiram pela solicitação dos seguintes exames: Hemograma completo, que resultou normal. Urina tipo 1, que resultou normal. Ecografia e Dopplerfluxometria de membros inferiores que resultou em insuficiência venosa de grau discreto a moderado, com Índice Tornozelo Braço (ITB) = 1, afastando hipótese de insuficiência arterial. Cultura de exudato da ferida, resultando em microbiota com perfil polimicrobiano heterogêneo, predomínio de bacilos Gram positivos e tendo em vista esta característica, os sinais inflamatórios e a exudação, optou-se por tratamento com cefalexina 500 mg, 4 vezes ao dia durante 7 dias. Realização de consulta com cirurgião vascular, que não opôs contra-indicação ao uso da Bota de Unna. Evolução e registro fotográfico Inicio do tratamento com Bota de Unna em 27/04/2007 Nas duas primeiras semanas de tratamento foi necessário a troca do curativo 2 vezes na semana. A paciente se incomodava com o odor forte da ferida. A partir da terceira semana, 1 curativo por semana foi suficiente, a paciente relata melhora na qualidade de vida e maior tempo disponível, bem como facilidade para deambular. A paciente cessou com o tabagismo no segundo mês de tratamento. Após 1 mês de tratamento a paciente começa a relatar prurido ao redor da ferida, após consulta médica, optou-se por uso tópico de dexametasona. Com um mês de tratamento a ferida torna-se brilhante, dolorida e sangrante, com neoangiogênese e tecido de granulação bastante desenvolvidos. Com dois meses de tratamento a ferida se encontra com metade do tamanho inicial, as áreas de recuperação tecidual se mostram despigmentadas. No 30 mês de tratamento a paciente encontra-se muito contente com a melhoria apresentada. Refere melhora da qualidade de vida e pensa em voltar a trabalhar para melhorar sua renda. No 40 mês de tratamento a ferida encontra-se reduzida a 42 cm (de uma área de 357 cm2). (foto 1 e 2). 48 No 50 mês de tratamento a ferida encontra-se reduzida a menos de 10 cm2, (foto 3). No sexto mês de tratamento a paciente encontra-se com a ferida praticamente cicatrizada. Iniciamos o preparo para a alta (foto 4). Optamos pela mudança de tratamento compressivo, em vista da melhora significativa da paciente. Iniciamos tratamento com uso de bandagem elástica (fotos 5 e 6). 49 APÊNCICE F - Registro Fotográfico da Paciente S.S.S. Foto 1: Infelizmente não dispúnhamos Foto 2: A foto do 4o mês de de fotos do inicio do tratamento tratamento mostra cicatrização da maior parte da ferida, com área de despigmentação. A ferida não possui profundidade. Presença de esfacelos e fibrina no leito da ferida. Foto 3: No 50 mês de tratamento a ferida tem área de 7,5 cm2. A equipe se preocupa com o fato do aparecimento de uma pequena ferida, logo acima da ferida principal. Foto 4: Neste estágio a ferida já se encontra praticamente toda cicatrizada. A equipe começa a discutir mecanismos para a alta da paciente. Foto 5: aspecto do membro inferior da Foto 6: uso de bandagem elástica – paciente ao termino do tratamento. preparo da paciente para alta. 50 APÊNDICE G – Projeto de Intervenção PROJETO DE INTERVENÇÃO – ÚLCERAS VENOSAS As úlceras de pernas estão relacionadas a varias doenças, tais como diabetes melito, doença vascular periférica, insuficiência venosa crônica e outras. A insuficiência venosa crônica (IVC) dos membros inferiores é uma doença com registro desde os papiros egípcios. Das doenças de etiologia venosa, é a que mais afeta o ser humano. A IVC é caracterizada por um conjunto de alterações físicas como o edema, a hiperpigmentação, o eczema, a erisipela, a lipodermatoesclerose, que ocorrem na pele e no subcutâneo, principalmente nos membros inferiores decorrentes da hipertensão venosa de longa duração e/ou obstrução venosa e que culminam com formação de úlceras. Essa doença, embora tenha mortalidade praticamente nula, apresenta morbidade significativa e constitui-se importante causa de desconforto e incapacidade com interferência em vários aspectos da vida das pessoas acometidas, tais como vida social, trabalho, qualidade de vida e outros. Em relação ao trabalho, estima-se que, em decorrência da morbidade da IVC, quinhentos mil dias de trabalhos são perdidos por ano na Inglaterra e País de Gales e dois milhões nos Estados Unidos. A IVC, de fato, apresenta significativa morbidade, especialmente em seu estágio mais severo, que é a formação de úlceras. Esse aspecto é explicitamente evidenciado na investigação e durante a convivência com as pessoas acometidas pela enfermidade, tornando-se um verdadeiro desafio aos profissionais envolvidos com esses clientes, em promover estratégias de melhoria da saúde e, principalmente, de qualidade de vida. Fatores que favorecem o surgimento das úlceras venosas: Hipertensão venosa (aumento da tensão arterial nas veias); Infecção; Diabetes mellitus; Patologia maligna; Distúrbios dos tecidos que revestem as veias; 51 Lesão por trombose das veias profundas ou estase venosa (estado no qual o fluxo do sangue presente nas veias, pára). É usual o desenvolvimento de úlceras venosas seguir um padrão: aumento da tensão do sangue que se encontra a circular nas veias e incompetência das válvulas que “empurram” o sangue que circula nas pernas de novo para o coração, o que leva a estase venosa, retorno venoso insuficiente, edema, e por fim formação de úlcera. As feridas com compromisso vascular têm associadas fatores de risco que podem representar um papel fundamental na prevenção e tratamento das mesmas. Os fatores de risco de aparecimento de úlceras incluem história familiar positiva, gravidez, obesidade, o tabagismo, a nutrição/hidratação, a idade e uma ocupação profissional que obrigue a estar de pé por períodos prolongados. As úlceras venosas distinguem-se das restantes, dado que têm características específicas. Habitualmente, localizam-se no tornozelo, ou próximo deste, sendo de evolução lenta. O edema pode estar presente, piorando ao fim do dia, mas melhorando com a elevação dos membros. A dor é variável, mas na maioria das vezes está associada a edema e a infecção. A prevenção das úlceras de perna representa, quer do ponto de vista social, familiar e profissional, a medida mais eficaz para combater os danos resultantes das feridas com compromisso vascular. Desta forma, as medidas específicas a ter em consideração para a sua prevenção passam pelo seguinte: Eliminar o uso de tabaco; Fazer exercício físico diariamente, principalmente realização de caminhadas; Ter uma alimentação equilibrada, e uma ingestão de líquidos adequada, o que promove a cicatrização da ferida; Evitar permanecer de pé ou sentado com os pés no chão mais que uma hora seguida; Fazer elevação das pernas intermitente durante o dia; se tiver de permanecer de pé, efetuar passeios curtos e freqüentes; Assegurar uma higiene adequada dos pés e proceder a uma observação diária dos mesmos; Não usar calçado nem apertado, nem demasiado largo; 52 Elevar os pés da cama 12 a 15 cm (de forma a promover o retorno do sangue nas veias e a diminuir o edema das pernas); Proteger as pernas de forma a evitar a exposição ao calor ou frio excessivo; Combater a obesidade; Utilização de uma adequada contenção elástica – após validação e / ou prescrição do seu médico/ enfermeiro de referência; Controle das doenças de base, que possam contribuir para o aparecimento deste tipo de úlceras (como por exemplo, as varizes), através de um acompanhamento regular de profissionais de saúde. OBJETIVOS Captação precoce dos portadores ou/aos indivíduos pré-dispostos a doença de úlcera venosa; Atividades educativas a serem realizados em grupo ou individualmente, com linguagem clara e compreensível, proporcionando respostas às indagações dos indivíduos que nos assistem as informações necessárias sobre úlcera venosa como preveni-la e tratá-la; Avaliação do estado nutricional do portador de úlcera venosa; Prevenção e tratamento dos distúrbios nutricionais; Tratamento das intercorrências das úlceras venosas; Atendimento e acompanhamento aos portadores de úlcera venosa conforme a classificação e tratamento, ou mesmo encaminhamento a esse paciente a exames especializados em um centro de referência do município; Registro em prontuário e ficha de evolução e tratamento da ulcera venosa, inclusive registro de intercorrências; Prevenir a população para não ocorrer o surgimento de úlceras venosas. População alvo A população em geral, portadora ou não de úlcera venosas. 53 Ações desenvolvidas para o sucesso do projeto: Capacitar a equipe de atenção básica do município de Tacuru, principalmente médicos e enfermeiros com vistas a torná-los aptos a detectar precocemente os casos de alterações em MMI para prevenção e tratamento de úlceras venosas; Realizar a detecção precoce e o encaminhamento ao tratamento adequado a úlcera venosa; Encaminhar precocemente para a atenção especializada os pacientes com alterações MMII com diagnostico feito pelo medico de úlcera venosa, para realização do tratamento adequado aquele tipo de úlcera, aumentando assim as chances de cura, diminuindo a quantidade de pacientes portadores de úlcera venosa; Sensibilizar os agentes comunitários de saúde com vistas a incentivar a população a procurar a ESF, quanto ao surgimento de alteração em MMII, para diagnostico precoce. Programar campanhas anuais de prevenção a úlceras venosas. Aumentar a adesão da população ao programa antitabagismo; Incentivar a população na pratica de exercício físico; Incentivar a população a manter uma alimentação saudável. Execução do projeto Realizaremos a sensibilização de todos os funcionários envolvidos no desenvolvimento e execução do projeto de intervenção, para que tenhamos os objetivos alcançados; Adesão de todos os funcionários envolvidos na execução do projeto de intervenção; Ótimo desempenho por parte não só dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), mas de toda a equipe envolvida, como na divulgação e adesão do projeto de intervenção de prevenção a úlcera venosa, captação dos portadores de úlcera venosa para a realização precoce do diagnostico e tratamento. Resultados esperados Todos os funcionários envolvidos no projeto estarem capacitados, médicos, enfermeiro, fisioterapeuta, educador físico, psicóloga, nutricionista, auxiliar e técnicos enfermagem e ACS; 54 Atendimento a toda população portadoras ou não de úlcera venosa, para tirar dúvidas ou mesmo encaminhar a consulta médica; Conscientização de toda a população da importância da realização de diagnostico precoce a úlcera venosa; Redução de casos de úlcera venosa; Aumento na procura de realização de exames e diagnostico a úlcera venosa; Aumento na procura dos serviços de saúde, para prevenção de úlcera venosa.