Macunaíma: o anti-herói da modernidade

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H.3.1 - Literatura;
Macunaíma: o anti-herói da modernidade
Karine Maria L. Lopes1, Antonio Cleonildo da Silva Costa2
1. Estudante do Curso Técnico Integrado em Informática do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do
Norte - IFRN; *[email protected]
2. M. Sc. Docente do IFRN, campus Pau dos Ferros
Palavras Chave: Macunaíma, modernidade, anti-herói.
Introdução
Este trabalho objetiva analisar a representação do
anti-herói por/em Macunaíma e, concomitantemente,
traçar um percurso histórico sobre o conceito de herói da
antiguidade, que vem se modificando até a modernidade.
A figura de Macunaíma é marcada por antagonismos,
antítese do perfil de valores morais e sociais adstritos à
concepção de herói clássico.
Aqui, o anti-herói da modernidade é descrito de
maneira surrealista por meio de elementos culturais
reinterpretados e readaptados por Mário de Andrade para
consolidar a busca da identidade brasileira, alvo de
constantes transformações.
Nesse ínterim, considerando que Macunaíma
levanta questões referentes à humanidade atual,
enveredaremos – ao longo desta discussão – pela
heterogeneidade cultural brasileira para dissertar sobre os
paradoxos do “herói sem nenhum caráter”, construído à
imagem e semelhança do povo brasileiro e de suas
múltiplas faces.
Resultados e Discussão
Ao contrário dos heróis clássicos, que procuram
demonstrar a “classe” dessa classe, Macunaíma
representa muito mais do que a idealização do herói das
virtudes nacionais. É uma síntese de opostos, um
personagem ímpar, imperador do mato-virgem, defensor
do cruzeiro do Sul, inteligente e desmedido. Ao mesmo
tempo, todavia, é egoísta, ingênuo, medroso, oportunista e
individualista. “[...] A etimologia dá Macunaíma como “o
grande mau”. Ademais, o herói é múltiplo. Quase poderia
escrever como Mário: ‘Eu sou trezentos’. Encarna uma
enorme variedade de personagens, ora boas, ora más, ora
ingênuas; quase sempre ingênuas” (PROENÇA, 1987,
p.9).
Macunaíma é um tipo nacional marcado pelo
surrealismo, evidenciado na estranheza de sua
representação física e criado pelo autor na perspectiva de
acalentar, nas suas façanhas, novos mecanismos de
compreensão dos heróis modernos. “Nos clássicos
modernos, os personagens de extração social alta tendem
cada vez mais a se mostrarem como baixos, enquanto,
para poder ser um herói elevado sem ser trivial, cada vez
mais o grande personagem tende a ser de extração social
baixa” (KOTHE, 1987, p.66).
Fugindo da massificação contemporânea que
oculta as especificidades dos sujeitos, se enaltece o
folclore, as crenças e a malandragem, para que não
sejamos “uns desterrados em nossa terra”, na figura de
Macunaíma. Este, por sua vez, tal como muitos heróis da
literatura popular, “[...] não tem preconceitos, não se cinge
à moral de uma época, e concentra em si próprio todas as
virtudes e defeitos que nunca se encontram reunidos em
um único indivíduo. Por isso é excepcional”
(PROENÇA,1987, p.9).
Na busca heroica pelo seu talismã – a muiraquitã,
única lembrança do seu grande amor Ci, Macunaíma foi
capaz de proezas de “sarapantar”, inclusive de matar a
própria mãe, bem verdade que por engano, o que ratifica
seu avesso identitário de herói atrapalhado, esperto e por
vez oscilante entre uma personalidade boa e má; de
caráter ora digno, ora desumano.
Macunaíma tem, desse modo, características
diferenciadas da clássica representação idílica do herói
das virtudes nacionais, porém suas atitudes e sentimentos
aproximam-no do homem comum. É herói da nossa gente
e anti-herói da modernidade, feito estrela, feito nada,
assim termina a saga de um sujeito sem caráter que
protagonizou uma vida avessa ao que a sociedade impõe.
Conclusões
O que, enfim, nos é permitido pressupor, é que o
anti-herói da modernidade não está morto, mas virou
estrela numa dada constelação que refrata o Brasil.
Define-se, portanto, como uma mera estrela de “brilho
inútil”, uma vez que “[...] tudo o que fora a existência dele
apesar de tantos casos tanta brincadeira tanta ilusão tanto
sofrimento tanto heroísmo, afinal não fora sinão um se
deixar viver” (ANDRADE, 1999, p.157).
Macunaíma não morre porque se acha revestido
nas peripécias do povo brasileiro; povo boêmio, esperto,
astuto
e
sábio.
Dentre
riquezas,
dificuldades,
religiosidades, crendices e provérbios que nos fazem
únicos, só entende a rapsódia de Mario de Andrade, quem
de fato, procura avessos da nossa realidade; quem
procura o anti-herói sem nenhum caráter que nos ensina a
buscar os nossos objetivos com persistência. Paradoxal e
enigmático, Macunaíma somos nós mesmos.
Agradecimentos
Ao IFRN – campus Pau dos Ferros e ao meu querido
orientador pela disponibilidade durante a pesquisa.
_______________________________________________
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