1ª GERAÇÃO MODERNISTA – FASE HEROICA Oswald de Andrade Manuel Bandeira Antônio de Alcântara Machado Mário de Andrade OSWALD DE ANDRADE • Teve contato direto com as vanguardas europeias: Cubismo, Futurismo e Dadaísmo; • Funda a revista O Pirralho em 1912, na qual divulga artigos esparsos sobre o que seria a Arte Moderna; • Escreveu manisfestos, poesias, teatro e romances; • Criticou com humor e linguagem coloquial a história, a cultura e a realidade brasileira. Era o poeta mais inovador dessa geração; • Romance: Memórias sentimentais de João Miramar Serafim Ponte Grande e Os condenados. • Poesias: Pau-Brasil, Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade, entre outras. • Teatro: O homem e o cavalo, A morta e O reio da vela. • Manifestos: Manifesto Pau-Brasil e Antropofágico. PAISAGEM O cafezal é um mar alinhavado Na aflição humorística dos passarinhos Nuvens constroem cidades nos horizontes dos carreadores E o fazendeiro olha os seus 800 000 pés coroados. O poema usa a técnica cubista para registrar o olhar do fazendeiro sobre sua plantação – como se fossem flashes do real; pontos de vistas simultâneos, marcando a multiplicidade e a diversidade do mundo; Com versos livres e algumas metáforas, o poeta mostra o café como responsável pelo sustento das cidades, das pessoas e, principalmente, pela riqueza de rei de fazendeiro o que lhe permitia olhar poeticamente o baile dos passarinhos sobre a plantação; AS MENINA DA GARE Eram três ou quatro moças Bem moças e bem gentis Com cabelos mui pretos pelas espáduas E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas Que de nós as muito bem olharmos Não tínhamos nenhuma vergonha • Oswald transforma o período original de Caminha em um poema de seis versos que assume o título “ As meninas da gare”. Enquanto a carta de Caminha refere-se às indígenas que os portugueses avistaram pela primeira vez no Brasil; esse poema fala das meretrizes que ficavam na estação de trem; • Temos o Dadaísmo na literatura por meio do ready-made, que consiste na transformação de objeto não artístico em arte ao ser inserido num novo contexto. CHAVES DE LEITURA • Sua poesia é fruto de uma inovação radical, pautada pelos movimentos de vanguarda; • O autor utiliza a liberdade composicional plena para propor uma reflexão sobre a nacionalidade, inclusive recorrendo a textos do descobrimento; • Presença de humor, expresso muitas vezes por meio da ironia, criticando um tipo de Brasil que insistia em copiar os costumes europeus; critica também, severamente, a sua própria classe social, com seu conservadorismo e limitações; • Uso de metáforas e metonímias; • Na prosa, a inovação é ainda mais radical: rompe com a estrutura narrativa ao utilizar as técnicas cubista e impressionista. Memórias sentimentais de João Miramar, por exemplo, narra a história de um representante da elite paulistana do café em meio a desventuras amorosas e dramas financeiros. VELEIRO "A tarde tardava, estendia-se nas cadeiras, ocultava-se no tombadilho quieto, cucava té uma escala de piano acordar o navio. Madame Rocambola mulatava um maxixe no dancing do mar. Esquecia-me olhando o céu e a estrela diurna que vinha me contar salgada do banho como estudara num colégio interno. Recordava-me dos noivados dormitórios de primas. Uma tarde beijei-a na língua." O livro é composto de fragmentos de memória, como blocos geométricos que se encaixam, porém sem nenhuma coesão explícita. A relação é feita pelo leitor, o qual infere aquilo que une e dá sentido as memorias de Miramar. A linguagem coloquial, repleta de neologismos, regista sensações e lembranças de um modo mais natural. APERITIVO A felicidade anda a pé Na Praça Antônio Prado São 10 horas azuis O café vai tão alto como a manhã de arranha-céus Cigarros Tietê Automóveis A cidade sem mitos Explique por que a composição desse poema é comparada a uma pintura cubista. Nesse poema, a composição de uma imagem do progresso de São Paulo se dá por meio de flashes que recuperam elementos próprios da cidade: uma praça do centro financeiro, os arranha-céus, automóveis, cigarro. Em um processo de construção metonímico, fala-se se uma “cidade sem mitos”, construída pela riqueza do café, que vai alto nas plantações e na cotação da Bolsa , o que garante “felicidade” e “horas azuis” A MULTIPLICIDADE DE MÁRIO DE ANDRADE • Teve um papel decisivo na implantação do Modernismo no Brasil; • Além de uma significativa obra literária, produziu estudos e registros sobre música, dança e artes plásticas, medicina popular, variações linguísticas, folclore, crítica literária e roteiros de viagem. Além disso, suas cartas, anotações de leitura compõem uma obra à parte. • Escreveu Macunaíma (1928) e Amar, verbo intransitivo (1927) - prosa; • Aceitava propostas do futurismo italiano, mas rejeitava a postura radical e destruidora. • Escreveu Paulicéia Desvairada (poemas) - antes da semana de arte moderna. • Criou o Departamento de Cultura de São Paulo e trabalhou no Ministério de Educação; • Deu aula de Estética na Universidade do distrito Federal (RJ); • Escreveu outros poemas. INSPIRAÇÃO São Paulo! Comoção de minha vida... Os meus amores são flores feitas de original... Arlequinal!... Traje de losangos... Cinza e ouro... Luz e bruma... Forno e inverno morno... Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes... Perfumes de Paris... Arys! Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!... São Paulo! Comoção de minha vida... Galicismo a berrar nos desertos da América! Nesse poema, a associação cubista de imagens simultâneas tece um panorama da cidade de São Paulo. As imagens articulam-se como em um traje de arlequim, cheios de losangos que se unem construindo a multiplicidade do tecido. O tecido multifacetado representa a diversidade de transformações pelas quais São Paulo passava, convivendo com resquícios de modernidade da Belle Époque e o conservadorismo da elite cafeeira. CHAVES DE LEITURA • Sua produção tem como base a investigação da cultura e da identidade brasileira; • Sua poesia, de versos concisos, é a representação do cruzamento de culturas que circulava em São Paulo e no Brasil: trata do conflito entre italianos, da modernidade, das fábricas que chegavam e das elites cafeeiras , ainda apegadas a um provincianismo bandeirante; • Registra também aspectos do folclore; • Na prosa, desenvolveu também uma obra múltipla. Em Amar, verbo intransitivo, utiliza recursos do Expressionismo para narrar os dramas de Fräulein, a professora do amor, e o turbilhão de emoções que tomam conta dela quando vê seus sonhos negados. • Contos novos apresenta com lirismo os dramas existenciais vividos em situações ordinárias , destacando a beleza do cotidiano; • Macunaíma, sua obra mais complexa, é um livro de gênero múltiplo que narra de forma alegórica a origem da raça e civilização a partir da figura do que seria o herói de nossa gente: o indígena negro, depois branco, Macunaíma. “No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia, tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma. Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro: passou mais de seis anos não falando. Sio incitavam a falar exclamava: - Ai! que preguiça!. . . - e não dizia mais nada." Macunaíma, o herói de nossa gente, é a condensação da cultura e miscigenação racial do Brasil. No trecho, sua atitude é a personificação do jeitinho brasileiro, da preguiça tropical, do homem primitivo que interpreta a realidade a partir de lendas e mitos.